Capitulo 3 - o Poder Oculto Da Validação - Completo Traduzido

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O poder oculto da validação

O que acontece quando você faz algo de bom para a pessoa que você ama com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL?

Uma mulher que conheço tentou de tudo para dar à filha o que ela necessitava para ser
bem sucedida no ambiente de trabalho, pois ela estava convencida de que se mantivesse
um bom trabalho, isto resolveria todos os problemas da sua vida. Em diferentes ocasiões,
a mãe proveu custos com matrícula escolar, um guarda roupas apresentável, ofereceu
levá-la de carro até o trabalho e tentou treiná-la em como se dar bem com os colegas de
trabalho. Mas a cada vez que ela tinha esses gestos generosos, sua filha caia em prantos
e a atacava com raivosas acusações ou simplesmente se afundava em uma silenciosa
depressão, o que fez com que a mãe eventualmente parasse de tentar.

Um homem que conheço tentou e tentou conseguir ajuda para o abuso de drogas de sua
irmã, a apresentou a pessoas que ele pensava serem amigos que realmente dariam apoio
em vez de amigos que ela conheceria num bar e ofereceu acompanhá-la em sessões de
terapia para que isso tornasse a experiência mais fácil. Ela ora ignorava suas sugestões,
ora dizia apenas “claro, obrigada” e então nunca dava continuidade. Após alguns anos o
irmão parou de perguntar.

Um outro homem que conheço vem atuando como uma espécie de “gestor” na vida de
sua esposa por anos. Ele organiza eventos sociais de uma maneira que as pessoas que a
incomodam não estejam lá. Ele deixa o trabalho e vai pra casa com o intuito de acalmá-
la quando ela mesma não consegue lidar com os próprios incômodos.
Ele lida com todas as questões financeiras para que ela não tenha que se preocupar com
o fato de que ela não consegue permanecer em um trabalho que daria conta das compras
por impulso que ela faz. Ela o agradece profundamente toda vez que ele “limpa a barra”
dela, assim ele acha que está no caminho certo e continua pensando em novas maneiras
de ajudá-la a cada a cada semana.

RESPOSTAS SÃO IMPORTANTES - ÀS VEZES MUITO


MAIS DO QUE IMAGINAMOS

Existe uma questão básica no comportamento humano: Nós somos afetados pelos
princípios de reforço; extinção e punição. No bom português, isto significa que se você
tenta fazer boas ações para aquele que você ama e este responde negativamente, você
eventualmente vai parar de fazê-lo (punição). Você, na verdade, vai evitar fazer essas
boas ações para poupar a si mesmo das reações do outro. Isto também significa que se
você tentar ajudar e ele(a) ignorar suas tentativas, você em algum momento vai parar de
tentar (extinção: Ele(a) não reage de uma maneira que reforça suas ações, logo extingue
seu ímpeto de ajudar). Você ainda pode querer ajudar, mas seu "comportamento
ajudador" irá fenecer. Se você intervir e tentar ajeitar tudo no mundo para que a pessoa
que você ama não fique chateada, e ela despeja gratidão em você (presumindo que você
é motivado por "obrigados"), você continuará intervindo e pode, na verdade, aumentar
suas intervenções (reforço).
As três pessoas que acabei de descrever pararam de fazer o que estavam fazendo
ou continuaram a fazer o que estavam fazendo, por conta da reação que obtiveram. As
reações de seus entes queridos com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL não
necessariamente faziam sentido, e não necessariamente tinham intenção de machucar
aqueles que estavam tentando incessantemente ajudá-los. Mas aquelas reações, por si só,
não conseguiam deixar de invocar reações: uma mãe e irmão pararam suas bem-
intencionadas tentativas de ajudar, um marido inadvertidamente encorajou sua esposa a
ficar refém de suas evasões emocionais ao invés de aprender a controlá-las. A lição da
qual não se pode fugir aqui é que quando lidamos com outros, realmente temos que
prestar atenção às respostas.
A realidade é que os comportamentos que você irá encontrar advindos das pessoas que
você ama com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL podem ser punitivos. Não que
eles estejam tentando punir você, mas as reações emocionais de pessoas com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL podem nos fazer sentir desanimados, com raiva, sem
esperança e desamparados entre outros sentimentos. Naturalmente, sendo seres humanos,
nós reagimos a essas emoções. Animais não dão continuidade a comportamentos que se
mostram punitivos. Tomemos como exemplo ratos em laboratório. Eles acionam uma
alavanca para conseguir comida, mas se ao tocarem na alavanca recebessem um choque?
Eles parariam de comer e, eventualmente, morreriam justamente por estarem evitando a
punição. Isto acontece em relacionamentos. Se o nosso comportamento em um
relacionamento é repreendido, nós vamos cessar com ele. Nós reagimos. Então a pessoa
com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL reage à nossa reação. Eu tenho certeza
que você consegue ver onde isso vai chegar, pois você já esteve lá antes por várias vezes.
Nós precisamos de uma maneira de começar do começo e controlar a cadeia de respostas.
A melhor maneira de fazê-lo é desarmar um pouco da emotividade que existe por si só
nas interações com aqueles que amamos. Isto significa regular nossas próprias emoções,
mas também ajudar a acalmar nossos entes queridos, que são tão suscetíveis a picos
emocionais. Se não conseguirmos dar cabo disso, nossas interações dificilmente irão para
onde se pretende. Pessoas não conseguem prestar atenção ou participar de conversas
quando estão emocionalmente desreguladas.

Parar com a habitual cascata de reações significa não só regular suas próprias emoções,
mas também ajudar a pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL a fazer o
mesmo.

Como as coisas dão errado: algo ou alguém simplesmente não nos faz sentido. Pense
naquele que você ama. Você consegue determinar como ele processa as próprias
emoções? As emoções dele(a) se manifestam de maneiras que você normalmente não
compreende, como surgindo em resposta a algo que você não possui sentimentos sobre
ou durando longos períodos? Talvez seja útil escrever sobre o que você tem reparado em
relação às emoções daqueles que você ama agora mesmo. Aqui vai um exemplo do que
escrevi sobre um cliente:

1. Ela fica facilmente magoada com reações. Sinto que estou ajudando e ela pensa
que estou criticando.
2. Ela recorrentemente deixa as sessões com a impressão de que está bem
emocionalmente. Então ela liga algumas horas (ou dias) depois para dizer que me
odeia porque sou mau. Quando pergunto o que fiz, eu normalmente nem sequer
me lembro do que ela alega que eu disse, e quando nós ouvimos a gravação da
nossa sessão, eu geralmente não disse o que ela pensa que ouviu.
3. Se eu deixo algo passar (por exemplo, ela está tendo uma sensação que eu não
percebo), ela pensa que eu não ligo para ela e logo fica desanimada.
4. Ela fica chateada comigo por semanas, independentemente do quão duro eu tento
acertar as coisas entre nós.
5. Ela interpreta minhas reações a ela como se ela fosse “ idiota, inútil, uma pessoa
má”, dentre outros.

Se eu não possuísse meios para neutralizar emoções ou, de alguma maneira, mudar o tom
delas ainda no começo de nossas interações, o que você pensa que poderia acontecer entre
mim e este cliente? Nós poderíamos terminar em grandes discussões. Eu poderia concluir
que está pessoa fosse apenas “maluca” e começar o tratamento como se ela fosse “um
caso perdido”. Eu poderia acabar por ressentir-me já que coloquei todo um esforço e não
recebi nenhuma gratidão em retorno. Eu poderia deixar nosso relacionamento se esvair
por si só, aliviado ao não ter notícias dela por ela estar chateada comigo. Eu poderia
começar a colocar todo tipo de limites em nosso relacionamento a fim de proteger meu
próprio direito à privacidade e paz de uma maneira que poderia no fim das contas parecer
uma rejeição a ela. Eu poderia, por fim, desistir do cliente. Você também poderia acabar
desistindo do relacionamento que você tem com alguém com TPB / DESREGULAÇÃO
EMOCIONAL.

VALIDAÇÃO REDUZ INTENSIDADE EMOCIONAL

Eu sei que você não está preparado para desistir do seu relacionamento dessa vez, e por
isso estou dedicando um capitulo inteiro ao tema validação. É uma resposta que você
pode usar em qualquer interação com aquele que você ama, e você descobrirá que isso
tem um poder muito além do que você pode imaginar de trazer as emoções para um nível
muito mais administrável e sua interação num patamar mais frutífero. Este é o cerne da
questão para cada resposta útil a uma pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO
EMOCIONAL.
Em algumas vezes, apenas falando com outra pessoa sobre a situação e sobre suas
emoções você pode se sentir mais emotivo. Apenas pense nas vezes em que você foi
injustiçado, e talvez sua fúria tenha se acalmado um pouco e você tenha conseguido
chegar em casa e tido a chance de recontar o incidente a um membro da família. E de
repente você se vê com tanta raiva como quando do acontecido. Apenas o fato de falar
sobre isso pode fazer com que suas emoções se elevem.

Validação ajuda a acalmar emoções e as fazem ficar mais controláveis para todos, não
apenas para a pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL.

Agora imagine o membro de sua família dizendo “eu entendo o que você está dizendo”
ou “eu consigo ver de onde você quer chegar” ou “claro que você se sente dessa maneira.
Qualquer um se sentiria”. Quando você recebe esta resposta, você não sente as emoções
se acalmando um pouco? Mas se a outra pessoa diz “você não deveria se sentir assim” ou
de alguma maneira rejeita o que você diz? O que acontece com as suas emoções? Elas se
inflamam, e sua habilidade de ouvir o outro some.
A VALIDAÇÃO AUTENTICA ALGUMAS
PARTES DA EXPERIÊNCIA INTERNA DE UMA PESSOA

A Validação é um conceito prevalente em nossa cultura. Quando você para o seu


carro em um estacionamento de restaurante, você recebe um recibo que deve ser validado
no restaurante para a obtenção de um desconto no estacionamento. Quando o funcionário
carimba esse recibo, ele está confirmando sua presença no restaurante. O recibo validado
comprova que você usou o estacionamento quando foi ao restaurante. Esta é a função da
validação da DBT: autenticar alguns aspectos da experiência de uma pessoa.
O professor Bill Swan da Universidade do Texas investiga como as pessoas interagem.
Em sua Teoria ele afirma que todos nós temos uma " autoimagem ". A autoimagem é
como nos vemos. Existem fatores básicos nela: quem somos, para onde estamos nos
dirigindo, o que é difícil para a gente, o que é fácil. Pessoas com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL em geral tem uma autoimagem de que são
descontroladas, têm muita angústia, são intolerantes à angústia, incapazes de fazer coisas
que outros são capazes de fazer, ignorantes de quem são - em essência, uma representação
das cinco áreas de desregulação discutidas no Capítulo 1. Mesmo que sua autoimagem
seja negativa, é da natureza humana procurar a validação dessas características em outras
pessoas. Nós gravitamos em torno de pessoas que não desafiam nossas crenças em nós
mesmos. Eu sou uma pessoa bem branca e sardenta. Porém, como eu passei boa parte da
infância na praia, e meus familiares não são tão brancos, me parecia que eu era mais
bronzeada. Quando eu tinha 16 anos, um salva-vidas me aconselhou a usar um
bronzeador por eu ser branca. Não somente eu fiquei indignada, mas fiquei percorrendo
o Hawaii por uma semana perguntando pras pessoas se eu era tão branca assim. Eu vivia
procurando alguém que achasse que eu era bronzeada e virasse meu amigo. Eu procurava
uma validação da minha autoimagem de que eu tinha a pele bronzeada. E mais, eu me
desregulei tanto ao ser chamada de branca azeda que toda minha viagem para o Havaí foi
arruinada e estraguei a da minha família também.
Uma autoimagem não precisa ser "verdadeira" ou "real". É apenas a crença que temos em
nós mesmos e como vivenciamos o mundo. Portanto, se uma pessoa querida se identifica
como uma pessoa sem valor e desmerecedora de amor, e você (por amá-la) afirma pra ela
que está errada, que ela tem valor e merece ser amada, ela ficará mais agitada ao seu lado,
e se aproximará exatamente da pessoa ou da situação que confirma que ele não vale nada.
Ela tenderá a gravitar em torno das pessoas que confirmam o senso que ela faz dela
mesma, de onde ela se encontra, e de como ela é de forma geral.
Essa contradição cria uma encruzilhada para quem ama pessoas com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL. Nosso impulso é demonstrar para essas pessoas que
elas podem ficar bem, se controlar, que têm valor, porém, isso pode provocar uma série
de emoções contraditórias nas pessoas amadas.

Eventualmente em nossa sociedade nos utilizamos do termo validação no sentido de


“concordo”. O que eu quero dizer com validação é um pouco diferente: quero dizer
encontrar um (às vezes bem pequeno) fragmento de comportamento (e como behaviorista
incluo pensamentos, sentimentos e/ou ações no termo comportamento) que seja
verdadeiramente compreensível para você e comunicá-lo a outra pessoa que você
realmente o compreendeu. Você não necessariamente precisa concordar com o
comportamento; apenas deve estar apto a dizer honestamente que você o entende. Se você
não compreender não valide. Isto seria validar o invalidável e pode ser perigoso – pode
parecer uma atitude de reforço, através da sua própria reação, um comportamento que é
claramente nocivo.
Encontrar algo para validar pode ser muito difícil. Considere uma pessoa que pesa 30
quilos e se diz gorda. É bem verdade que ela realmente tenha construído uma autoimagem
como sendo uma pessoa gorda. Entretanto concordar que ela é gorda seria validar o
invalidável. Felizmente, existem coisas que podemos validar. Todos nós temos aqueles
dias que, independentemente do nosso peso, nos sentimos gordos, ou que comemos além
da conta ontem à noite ficando preocupados que estamos engordando. Verbalizar esses
aspectos – “eu sei que você se sente gorda” ou “se sentir inchado é horrível” ou “entendo
que você está preocupada em ganhar peso mesmo sabendo que você precisa” – é
validação. É a comunicação que faz com que algo do que a pessoa diga faça sentido e nos
seja compreensível.

• Validação não é o mesmo que concordar (apesar de poder ser).


• Nós nunca validamos o invalidável.

Agora pense no que acabei de dizer sobre validação e sobre o que eu disse antes sobre
autoimagem. Se você confronta a autoimagem das pessoas, elas podem ficar tão
desconcertadas que não vão ouvir mais nada do que você tem a dizer. Eu recentemente
estava treinando um grupo de terapeutas para conduzir DBT. Um grupo veio para o
treinamento e possuía a sigla DBT no nome de sua companhia. Eles acreditavam
completamente que proviam o tratamento (autoimagem). Eu comecei os arguindo ao
dizer, “isto não é DBT”. Por eu dizer que eles não eram o que pensavam ser, ficaram tão
desnorteados que não conseguiram processar nenhuma informação que eu queria passar
para eles. Eu tive que voltar atrás e dizer, “eu sei que vocês acreditam que estão fazendo
DBT e que vocês querem fazê-lo”. Então eu tive que assegurá-los que havia pedaços de
DBT naquilo que faziam. Suas emoções se acalmaram e eles puderam ouvir o feedback
que eu dei. Você pode não concordar com a autoimagem daquele que você ama em se
dizer inútil e não merecedor de amor, mas esta é a realidade dela. O que aconteceria se a
sua resposta fosse “você não é inútil e merece amor”, o que é argumentar contra a
autoimagem dela? Ela provavelmente ficaria mais chateada. Você se importa com ela e
não quer dizer “ Você está certa. Você é inútil e não merece amor”. Usando a validação,
você começaria dizendo, “Olha, eu sei que você se vê como inútil e indigna. A verdade é
que, você tem feito coisas que fizeram você se sentir desta maneira, e eu sei que seus
erros na vida fizeram você se sentir mal sobre você mesma. Mas na verdade o que eu sei
sobre você é...”
Aqui você aproveita para dizer todas as coisas que você realmente quer dizer sobre como
ela é basicamente um ser humano normal, que todos merecem amor e etc. Você consegue
ver que primeiramente você estaria validando a relação dela consigo mesma e então
passando para dizer o que você gostaria de dizer? A validação é como uma colher de
açúcar que ajuda a tirar o gosto amargo do remédio. Ela comunica compreensão e
reconhecimento sobre a experiência de uma pessoa de uma maneira que a mantem calma
permitindo que você conclua sua linha de raciocínio. A autoimagem das pessoas pode
mudar com o tempo e experiência. Esperamos que, conforme aquele que você ama
constrói uma vida com diferentes comportamentos, ele(a) mudará suas crenças sobre sua
inutilidade.

O QUE NÃO TENTAR AO INVÉS DE VALIDAÇÃO


Existem alguns erros básicos que nós todos fazemos quando as pessoas estão emotivas

• Nunca diga para uma pessoa querida para se acalmar

Falando sério, alguma vez isso funcionou? Quando você fala para alguém se acalmar,
você está invalidando a insatisfação daquela pessoa, o que aumenta a exasperação ao
invés de diminuir.

• Nunca tente solucionar um problema antes de estar bem interado na situação e


ter certeza de que a pessoa querida de fato quer que você o ajude a resolver.

Outro erro é tentar resolver o problema. Todos nós somos ótimos pra resolver problemas,
e assim que alguém expõe algo que está acontecendo em sua vida, oferecemos soluções
e nossas ideias sensacionais. Então a pessoa apenas fica mais chateada ainda. Eu sei, pois
isto costumava acontecer com meu marido e eu. Quando eu contava algo pra ele, o que
esperava era apenas ser ouvida e ter certeza que não estava fazendo nenhuma besteira.
Mal eu começava a contar o que estava acontecendo, ele dizia, “O que você tem que fazer
é o seguinte...” e “ Eu falaria pra essa pessoa o seguinte...” Isso me provocava uma
frustração imensa dentro de mim – e uma sensação de não ser compreendida. Acabava
chateada não somente pela situação em si, mas com ele por não ser capaz de me escutar.
Validação requer escutar sem tentar apresentar uma solução imediata para o problema.

É imperativo quando você validar alguém que você seja autêntico e verdadeiro no que
comunica.

• Nunca diga que você entende quando não entende de fato.

Ás vezes as pessoas tentam validar, mas acabam sendo condescendentes e paternalistas.


Já aconteceu de alguém te dizer “Entendo o que você quer dizer”, o que acaba fazendo
você pensar, “Não, não me entende; não tem a mínima ideia do que quero dizer”? E de
novo, a emoção cresce.

Como Fazer a Validação

Quero deixar bem claro o seguinte ponto: Validação não significa concordar com a
pessoa. Em geral não concordamos com o que uma pessoa com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL faz. Por exemplo, não aprovamos essa pessoa indo
para bares, se entregando para os homens, fazendo sexo sem proteção, pelo fato de ter
tido um aborrecimento com o chefe. Porém, se a pessoa querida aparece em casa e você
de pronto começa a apontar todos as besteiras que cometeu, e como inapropriado são seus
atos e quão problemática é a forma que ele está encarando as dificuldades da vida, você
não será ouvido e a pessoa querida ainda pode piorar. O segredo é a hora certa de opinar.
No momento que você percebe algo que seria importante validar, você pode adiar um
pouco pra expressar onde a pessoa querida precisa mudar para preservar a si mesmo e os
outros, e no momento oportuno poderá falar, e terá mais chance de ser ouvido.

Evidentemente que achar a hora mais oportuna para falar não é simples, especialmente
quando as emoções estão à flor da pele. Por isso que DBT divide a validação em seis
níveis que asseguram que você mantenha o foco no controle de suas próprias
intervenções, mesmo que a pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL pareça
e se sinta fora de controle.

COMPREENDENDO SEU ENTE QUERIDO E SEU RELACIONAMENTO

Como Validar

Me permita repetir aqui um ponto crítico: Validação não precisa significar concordar com
a outra pessoa. Frequentemente nós não concordamos com o que a pessoa com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL está fazendo. Por exemplo, nós não concordamos
com as saídas dele para bares, beber demais, se envolver com homens e praticar sexo
desprotegido porque ele teve um desentendimento com o chefe. Mas se seu ente querido
aparecer depois na sua casa e você imediatamente falar para ele quais foram seus erros,
como seu comportamento foi arriscado e como é problemática a maneira dele de lidar
com as situações, você não será ouvido e seu amado ficará ainda mais descontrolado. O
segredo é timing: falar na hora certa. Quando você encontra alguma coisa digna de ser
validada, você pode adiar sua própria agenda de apontar onde seu ente querido precisa
fazer alterações para proteger a si mesmo a aos outros, e quando você chegar nesse ponto,
ele poderá te ouvir.

Claro que não é fácil se segurar até encontrar o momento perfeito, especialmente
quando emoções estão afloradas. É por isso que a DBT divide a validação em seis níveis
que podem mantê-lo focado em controlar sua própria resposta, mesmo quando a pessoa
com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL sente e demonstra estar fora de controle.

Os Seis Níveis de Validação (de Marsha Linehan)

Antes que eu comece a te ensinar os níveis de validação e como colocá-los em prática,


tenho algo a esclarecer. Vou passar a maior parte do tempo te dizendo como validar a
pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL, mas também é importante validar
a você mesmo e aos outros que amam a pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO
EMOCIONAL. De fato, quando alguém está desregulado, é uma boa ideia validar essa
pessoa antes que você faça qualquer outra coisa. Mesmo que seu parceiro não seja a
pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL na sua vida, se ele chegar em casa
estressado com alguma coisa que aconteceu no trabalho, validação se mostra como uma
maneira efetiva de evitar conflitos. Auto-validação é uma parte importante da regulação
das suas próprias emoções, então pratique validar suas próprias experiências tanto quanto
as de quem você ama. Falarei mais sobre auto-validaçāo no final do capítulo.

Nível 1: Ficar Acordado

Validar a pessoa que está emocionalmente excitada é uma habilidade. É bastante simples
validar alguém que não esteja aborrecido. Tudo que você precisa fazer é ouvir e
concordar. Quando a pessoa está aborrecida, ouvir e concordar pode funcionar. Isso já
funcionou para você? Você estava angustiado com alguma coisa e contou para alguém.
Talvez a outra pessoa não tenha tido nenhuma ideia brilhante, mas o fato de ela ter
simplesmente se sentado, dedicado tempo e ter escutado, de maneira objetiva, fazem suas
emoções se acalmaram de alguma forma. Isso é o que chamamos de primeiro nível de
validação, fique acordado.

Ficar acordado exige que você preste atenção e faça perguntas objetivas para
investigar – basicamente, que você demonstre que está prestando atenção ao que a pessoa
está falando. Aproxime-se, acene com a cabeça, faça perguntas que mostrem que você
está prestando atenção.

Uma grande parte de ficar acordado (e todos os níveis de validação, na verdade)


é não julgar o que a outra pessoa está te dizendo. Voltemos ao homem que fica bêbado e
faz sexo com homens que ele não conhece. Ele vem até você -mãe, amigo, pai-, quem
quer que você seja. Ele aparenta estar muito mal, de ressaca, olhos vermelhos e inchados.
Ele está claramente perturbado e começa a falar sobre a noite passada. Seria até natural
passar pela sua mente o pensamento “que coisa estúpida e descuidada a se fazer”. Mas é
importante não acolher tais julgamentos quando você os vê surgindo em sua cabeça,
porque pessoas com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL são muito sensíveis a
críticas e normalmente podem perceber as mudanças que refletem julgamentos nas nossas
expressões faciais.

Como você se separa dos pensamentos de julgamento? O primeiro passo é se


concentrar no que a outra pessoa está dizendo. Se você está prestando atenção plena
(chamamos de ser mindful), você não será capaz fazer julgamentos. O segundo passo é
manter o foco nos fatos da situação e não se permitir tecer opiniões ou avaliações. Note
que essa é uma habilidade difícil de dominar. Nossas mentes parecem ir direto ao
julgamento, e com frequência julgamentos saem de nossas bocas sem que pensemos sobre
eles. Pratique não julgar em situações que não sejam de crise. Observe os pensamentos
que passam na sua mente. São fatos ou avaliações? Comece a retirar do seu vocabulário
palavras como bom, mau, certo, errado, justo e injusto. Abandone palavras extremas
como sempre, nunca, ninguém e todo mundo. Esses são os princípios para a adoção de
uma postura não-julgadora. Perceba, também, que algumas vezes julgamos sem ter essa
intenção. Não julgue seus próprios julgamentos. Deixe de lado os julgamentos e preste
bastante atenção à pessoa, mostrando que você está ouvindo.

Nível 2: Reflexão Precisa

Reflexão precisa exige que você comunique que ouviu a pessoa com precisão. Algumas
vezes as pessoas vão simplesmente repetir, literalmente, o que a outra pessoa disse.
Terapeutas aprendem a fazer isso durante a graduação. A pessoa que está no papel de
cliente diz “foi muito difícil para mim, eu lutei muito com isso”. A pessoa que está
aprendendo a ser terapeuta responde “o que ouço você dizer é que foi muito difícil para
você e que você lutou muito com isso”. Essa simples técnica cumpre uma função com
alguém que esteja muito aborrecido ou que seja muito concreto em seus pensamentos.
Mas preciso dizer que, quando alguém faz isso comigo, isso se torna quase invalidante.
Sinto que estou falando com um papagaio.

Ainda assim, você pode usar esse nível de validação quando a precisão fizer parte
da validação. Apenas certifique-se de mudar o vocabulário, de forma que a pessoa perceba
que você entendeu a essência do que ela está dizendo. Digamos que ela fale “eu não
acredito que eu saí e bebi demais ontem à noite. Me preocupa o que pode vir a acontecer”.
Você pode então dizer algo como “hmm, você realmente está preocupado com as
consequências de ontem à noite e se sente mal por ter abusado”. Se você repetir
literalmente ou repetir a essência, o resultado é que você comunica para a pessoa (que
sente intensamente que suas respostas ao mundo são ilógicas e não fazem sentido) que o
que ela está passando é universal o suficiente para você entender.

Nível 3: Declarar o Desarticulado

Chamo isso de leitura da mente. Leitura da mente requer que você crie uma pequena
hipótese sobre o que a pessoa não está te contando. Geralmente é melhor apresentar essa
hipótese em forma de pergunta, ou perguntar se ela é precisa, especialmente quando a
pessoa estiver altamente desregulada. Então, com o exemplo acima, você poderia dizer
“aposto que você está preocupado com alguma DST da noite passada. É isso?”, ou “você
deve estar se punindo por ter feito algo que você tinha prometido não fazer mais, certo?”.
O segredo para a leitura da mente é que você tem que estar disposto a estar errado. A
pessoa talvez responda “não, não estou nem um pouco preocupado com DSTs. Conheço
pessoas que tiveram relacionamentos com aquele cara e ele está bem”. A melhor resposta
nesse caso é prosseguir com uma pergunta que seja mais do tipo Nível 1 (ficar acordado):
“Tudo bem. Então, o que realmente está te preocupando? Quais as consequências de que
você está falando?”.

(CAIXA DE TEXTO EM ITÁLICO: os níveis de validação são fluidos e geralmente


podem ser combinados uns com os outros)
Os dois próximos níveis de validação são muito poderosos. Eles são sobre a
normalização das respostas da pessoa.

Nível 4: Validação em Termos de História Pessoal ou Biologia

Porque em qualquer momento somos a soma total de todos os momentos de nossas vidas,
em algum nível, nosso comportamento faz sentido. Pode não ser funcional ou fazer
sentido no contexto de nossa sociedade mais ampla, mas faz sentido dado quem somos e
o que aconteceu em nossas vidas. Por exemplo, conheço uma pessoa que teve sua casa
incendiada durante uma tempestade, quando ela tinha cinco anos de idade. Sua família
perdeu tudo no incêndio. Ela vive num lugar onde ocorrem fortes tempestades de verão
com muitos raios. Quando há relâmpagos, ela fica muito ansiosa e se senta dentro de um
armário até que a tempestade acabe. Entretanto, sua profissão exige que ela cuide de
outras pessoas durante tempestades; portanto, no momento presente, se esconder no
armário é um comportamento inválido. Ao usar a validação do Nível 4, talvez eu diga
algo como “eu realmente entendo por que você quer se esconder em armários durante
tempestades. Sua casa incendiou durante uma tempestade. Faz total sentido que ao ver
relâmpagos você fique muito ansiosa. É parte da sua história”. Eu poderia então passar a
entender como o comportamento (se esconder no armário) não é mais útil, mas primeiro
gostaria de demonstrar minha compreensão de que ter tido uma história com tanta perda
e medo afeta quem ela é nesse momento.

Outra validação de Nível 4 se faz em termos da própria biologia da pessoa. Nossa


fisiologia, nossos problemas físicos e a maneira como nosso corpo responde ao mundo
afetam a nossa resposta comportamental ao mundo. Por exemplo, pessoas com transtorno
do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) têm dificuldade em manter a atenção
durante uma aula de 4 horas de duração. Pessoas com problemas na coluna têm
dificuldade em se manterem sentadas durante uma aula de 4 horas. Ambos exemplos são
de natureza biológica. A chave para usar esse tipo de validação é encontrar uma maneira
na qual o comportamento da pessoa faça sentido, sem patologizá-la ou fazer parecer que
ela está com algum defeito. Lembra da pessoa que foi para o bar? Eu poderia dizer para
ele: “eu entendo por que você foi para aquele bar. Quando você tem um dia ruim, sua
necessidade de álcool aumenta bastante. Foi isso que deu início a tudo”. Note que não
estou dizendo que ter ido ao bar foi uma boa ideia ou que ele deveria ter ido ao bar. Tenho
conhecimento suficiente dos efeitos do álcool no desejo fisiológico para entender por que
uma coisa levou a outra. Eu poderia ir adiante na conversa. Poderia apontar as
preocupações sobre o que aconteceu depois: “álcool realmente te deixa desinibido, então
é provável que você saia de bares com pessoas estranhas quando você bebe”.

Nível 5: Normalizar
O Nível 5 é tão importante porque comunica que outras pessoas (sem TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL) teriam a mesma postura. Pessoas com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL têm a experiência contínua de serem diferentes –
estranhos nos seus próprios mundos. Quando você normaliza, você encontra uma maneira
de comunicar que o que está se passando com a pessoa com TPB / DESREGULAÇÃO
EMOCIONAL é a experiência de ser humano, que qualquer pessoa na mesma situação
se sentiria da mesma forma. Isso é muito poderoso. Algumas frases chave que podem ser
usadas são:

“Todos temos momentos em que nos sentimos desse jeito”.

“Claro que você pensa assim; qualquer pessoa no seu lugar faria o mesmo”.

“Eu também me sentiria dessa forma”.

“Você sabe que essa é uma reação bastante normal”.

“Faz sentido você ter agido assim. Todos nós temos esses momentos”.

Vamos comparar isso com o Nível 4 para a pessoa que tinha um problema com
tempestades. Eu validei os medos da mulher em relação a tempestades com base na
história pessoal dela ao dizer “eu realmente entendo por que você quer se esconder em
armários durante tempestades. Sua casa incendiou numa tempestade. Faz todo sentido
que ver relâmpagos te faça ficar muito ansiosa. É parte da sua história pessoal”. Se eu
fosse normalizar o comportamento dela, diria algo como “olha, tempestades são
assustadoras. Quase todo mundo quer fazer alguma coisa para escapar dos relâmpagos e
raios”. Note que não estou dizendo que essa seja uma reação particular para ela. É uma
reação perfeitamente normal ficar com medo de tempestades.

O mesmo pode ser feito para os exemplos de biologia no Nível 4. Para a pessoa
que tem TDAH, em vez de dizer “pessoas com TDAH têm dificuldade em manter a
atenção durante uma aula de 4 horas”, no Nível 5 de validação eu diria algo como “é
difícil prestar atenção ao mesmo assunto por quatro horas seguidas”. Para a pessoa com
problema nas costas, em vez de dizer “pessoas com problemas na coluna têm dificuldade
em permanecerem sentadas por 4 horas seguidas”, eu diria “essas cadeiras são duras para
as costas”. Percebe a diferença? A primeira é sobre a pessoa em particular; a segunda é
sobre humanos em geral.

Às vezes não é possível normalizar um comportamento. Não posso dizer para


alguém “as pessoas querem se suicidar quando seus sentimentos são feridos” ou “todos
temos vontade de nos cortar depois que tivemos um dia estressante”. Não normalize um
comportamento que não é normal – isso é validar o inválido. Se a pessoa com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL compreende que seu comportamento é inválido,
tentar normalizá-lo vai apenas provocar uma elevação das emoções. Nesses casos, é
melhor optar pela validação do Nível 4: “eu sei que você tem pensamentos suicidas
quando você tem dias como hoje. É sua resposta imediata” ou “entendo que quando você
tiver tido um dia ruim você só queira fazer algo para se sentir melhor, e se cortar tem sido
uma questão para você”.

Nível 6: Genuinidade Radical

A chave para todo tipo de validação é ser genuíno. Algumas vezes quando ouço pessoas
tentando validar outras, elas estão usando todas as palavras certas, mas seu tom de voz
soa como paternal ou paternalista. A validação Nível 6 é exatamente o que as palavras
significam: seja radicalmente genuíno com seu ente querido que tem TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL.

Não há dúvida de que isso pode ser bastante complicado. É difícil ser você mesmo
com uma bomba relógio. A ideia não é tratar seu ente querido de maneira diferente do
que você faria em qualquer outra circunstância. Muitas vezes, especialmente no campo
da saúde mental, tratamos as pessoas como se elas fossem mais frágeis do que realmente
são. Ser radicalmente genuíno é garantir que você não “fragilize”, paternalize ou diminua
a pessoa que você está tentando validar.

Isso pode ser feito diretamente com palavras ou com sua conduta. Por exemplo,
se uma amiga me liga e diz que teve o pior dia da sua vida –está prestes a perder o
emprego, chegou em casa e encontrou as paredes rabiscadas pelas crianças e tem certeza
que seu marido está tendo um caso-, eu digo “oh meu deus, que terrível. O que posso
fazer?”. Eu não pergunto se ela precisa ir para a emergência do hospital. Não falo com
ela como se ela fosse uma criança. Ela tem minha atenção e minha simpatia, e a estou
tratando como uma pessoa plenamente capaz.

Uma vez tive uma cliente que era muito pequena –aproximadamente 1,50m. Ela
era casada com um homem muito alto e seu psiquiatra era um ex-jogador de futebol bem
grande. Em muitas ocasiões, vi esses dois homens (com a melhor das intenções) falarem
com ela com “voz de bebê” quando ela estava aborrecida. Nunca vi os homens falarem
naquele mesmo tom com uma pessoa maior. Nesses momentos, eles estavam fragilizando
minha cliente. Quando eles falavam com ela com essas vozes infantis, ela não ficava mais
regulada. De fato, nas ocasiões em que presenciei as interações, minha cliente ficou mais
aborrecida quando os homens falavam com ela.

Validação Nível 6, em resumo, é falar com seu ente querido como você falaria
com qualquer outra pessoa. O problema, é claro, é que frequentemente seu amado não
parece ser (ou realmente não é) tão capaz quanto outros em sua vida. Você talvez tenha o
histórico de ter tido que cuidar de seu ente querido em função das circunstâncias da vida.
Ou talvez seja bastante fácil ser paternal com seu amado porque você é, no caso, um dos
pais. Entretanto, lembre-se que existem várias razões muito boas para mudar suas
respostas. Número um, suponho que elas não tenham funcionado. Número dois, a razão
para validação é amortecer a excitação emocional. Número três, existem boas evidências
de que as pessoas irão agir da forma como você espera que elas ajam. Então, se você tratar
a pessoa como frágil, ela será frágil. Se você tratar a pessoa como competente, ela se
tornará competente.

Juntando os Níveis de Validação

Vamos montar o cenário inicial. Chamaremos nosso ente querido com TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL de Ray. Ray te liga de manhã. Ele está muito
chateado, sua voz está elevada, ele parece estar prestes a chorar.

Ray: Não posso acreditar no que fiz noite passada. Eu tinha tido um dia ruim. Bob e eu
estamos tendo muitos problemas. Não consegui ir para casa, então fui ao bar.
(desregulação crescente).

Você: Tudo bem Ray. Você e Bob estavam numa situação ruim, então você foi ao bar e
não para casa (Nível 2). Me conte o que aconteceu. (Nível 1).

Ray: (mais alto) Estou te dizendo o que aconteceu. Bebi demais e fui para casa com
alguém que eu não conhecia. Tive um apagão e não me lembro do que aconteceu.

Você: Cara, isso é ruim (Nível 5). Você está preocupado com o que você fez na noite
passada, certo (Nível 3)? Você está preocupado com DSTs ou com o que o Bob acha? Eu
provavelmente estaria preocupado com as duas coisas (Nível 5).

Ray: Não quero mais falar sobre isso. Até falar nisso está me aborrecendo.

Você: Com certeza é difícil falar sobre isso (Nível 5). Aposto que você está com muitas
emoções nesse momento (Nível 3). Sei que foram duros com você antes e isso está
dificultando você a falar comigo (Nível4). Tem certeza de que não quer minha ajuda?

Validar a Você Mesmo e aos Outros

Todos nós precisamos de validação quando estamos angustiados. Membros da família de


pessoas com TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL provavelmente precisam de mais
validação uns dos outros do que os demais membros da família. Há diversos grupos de
cientistas que estão estudando validação nos relacionamentos e eles estão percebendo que
a arte da validação faz todos os relacionamentos funcionarem melhor. Para validar outros
membros da família que não tenham TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL, siga os
mesmos seis níveis de validação.

Também valide a si mesmo, especialmente no contexto do seu ente querido com


TPB / DESREGULAÇÃO EMOCIONAL. Quando você reconhecer que está ficando
desregulado, os primeiros três níveis (ficar acordado, reflexão precisa e leitura da mente)
não irão funcionar e seriam artificiais. Entretanto, você pode aplicar os Níveis 4 e 5 em
si mesmo. Olhe para sua reação e identifique como seu comportamento faz sentido
considerando a sua história, sua biologia ou as circunstâncias atuais. Dizer a si mesmo
“você está chateado com ele porque você se importa com ele. É isso que pais fazem” é
um exemplo de normalização do seu comportamento. Ter o cuidado de fazer isso vai
permitir que suas emoções permaneçam mais reguladas.

Praticando a Validação

Há diferentes maneiras de validar. Você pode validar:

Pensamentos: “Posso ver por que você está preocupado com isso. É realmente
preocupante”.

Emoções: “Claro que você está triste com o término do relacionamento. É


devastador”.

Ações: “Entendo por que você se afastou dele em vez de permanecer e brigar”.

Ponto de vista: “Claro que você não precisa falar sobre isso agora”.

Habilidades: “Sei que você pode fazer isso. Com certeza você tem o dom”.

Para te ajudar a aprender a reconhecer a necessidade de validação, pense em


experiências recentes com seu ente querido. Concentre-se em uma interação na qual a
excitação emocional dele/dela aumentou e a validação pode ter diminuído a emoção.

Em cada espaço em branco, descreva o suficiente da situação para lembrá-lo da


ocasião e, então, escreva uma declaração para cada tipo de validação que você poderia ter
usado na situação.

Descreva a situação:
_________________________________________________

Como eu soube que a excitação do meu ente querido estava aumentando? _______

Exemplos de validação. Eu poderia dizer:

Pensamentos:
______________________________________________________

Emoções:
__________________________________________________________
Ações:
____________________________________________________________

Ponto de vista:
______________________________________________________

Habilidades:
_________________________________________________________

Validação em Ação

Quando você responde de maneira diferente ao comportamento borderline, seu


ente querido reage de maneira diferente também, e esses padrões de comportamento
típicos têm muito menos probabilidade de entrarem em espiral nos comportamentos
geradores de crises, destrutivos e autodestrutivos que podem te machucar. Validação é
uma parte essencial da reação diferente para impedir que as emoções aumentem, e praticar
o exercício anterior é uma maneira de torná-la uma resposta quase automática. Mas
validação não é a única ferramenta que você tem à disposição.

No final do Capítulo 2 listei diversas coisas que você pode fazer para impedir que
as interações com seu ente querido se desintegrem numa tempestade de emoções. No
Capítulo 4 irei trabalhar mais nesses simples passos. Juntos, eles podem ajudá-lo a sentir
que finalmente há algo que você pode fazer quando receber outra ligação da sua irmã às
2h da manhã ou seu filho aparecer sem aviso prévio para exigir que você o tire da
confusão mais recente em que ele se meteu. Essas novas formas de responder baseiam-se
em tudo que você acabou de ler sobre as cinco áreas de desregulação na TPB /
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL e são eficazes não apenas em situações de crise, mas
também quando você desejar ter uma conversa produtiva sobre algum problema antigo
sem que emoções renegadas sejam lançadas contra uma parede de tijolos.

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