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Trindade

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A Doutrina da Trindade

por

Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior

Glória sempre seja dada ao Pai


Glória ao Filho e ao Santo Espírito.
Um só Deus, supremo e redentor,
Por todos os tempos sem fim. Amém.

Salmos e Hinos nº. 35

A doutrina da Trindade, é talvez, a doutrina mais misteriosa e


difícil que encontramos nas Escrituras. Por isto, é uma
insensatez afirmar que podemos dar uma explicação completa
sobre ela. Devido à natureza do assunto, só podemos saber, a
respeito de Deus, e da Trindade, o pouco que as Escrituras nos
revelam. A tripla personalidade de Deus é, exclusivamente, uma
verdade da Revelação.

Antes de toda e qualquer criação, Deus era completamente


auto-suficiente e todo-inclusivo. Tudo que existia era Deus; não
havia nada que não fosse Deus. Sem início, Deus existe para
sempre numa essência imutável, escolhendo eternamente ser a
si mesmo a partir de sua natureza [1]. Além disso, o Ser
supremo é infinito em cada uma de suas características, muitas
que talvez nunca foram reveladas e nem poderiam ser
entendidas pelos seres humanos. [2]

A razoabilidade da fé na Trindade transparece melhor quando


confrontada com o monoteísmo e o politeísmo, em diálogo como
a unidade e a pluralidade. No monoteísmo nos defrontamos
com a solidão do Uno. Por mais rico e pleno de vida, inteligência
e amor que ele seja, não terá jamais alguém do lado dele. Ele
estará eternamente só. Todos os demais seres lhe serão
subalternos e dependentes. Se comunhão houver, ela sempre
será desigual.
No politeísmo na compreensão comum, temos a ver com a
pluralidade de divindades, com hierarquias e diferenças de
natureza, benéfica ou maléfica. Esvai-se a unidade divina.

A base para entender-se a Trindade é a personalidade de Deus.


A Escritura apresenta-nos um Deus pessoal, Porque assim diz o
Alto e o Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é Santo:
habito num lugar alto e santo; mas habito também com o
contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito
do humilde e novo alento ao coração do contrito. Isaías
57:15.(NVI) Visto que o homem foi criado conforme a imagem de
Deus, podemos compreender algo da vida pessoal de Deus pela
observação da personalidade como a conhecemos no homem.
[3]

Evidentemente, pela natureza das coisas, a personalidade


divina é algo infinitamente superior à personalidade humana;
mas é a única alternativa para um Deus pessoal é, cremos, um
Deus impessoal. E quando afirmamos que Deus é impessoal,
passamos a defender o primeiro dogma do ateísmo. Loraine
Boettner, conhecido teólogo reformado, afirma que: se Deus
existe, tem que ser pessoal. Não podemos adorar o Princípio do
Absoluto, nem ter comunhão com um Poder Cósmico; e, afirmar
que Deus é superpessoal, é iludirmos, com uma frase
altissonante. [4]

Uma das objeções mais comuns alegadas contra a doutrina da


Trindade é que ela implica no triteísmo, ou seja, a crenças em
três Deuses. E como veremos adiante, a formalização histórica
da doutrina se deu nas controvérsias anti-trinitárias. Porém, o
fato é que, as Escrituras nos ensinam que há um só Ser, auto-
existente, eterno e supremo, em quem são inerentes todos os
atributos divinos. Tanto o Velho como o Novo Testamento
ensinam a unidade de Deus.

A doutrina de um só Deus – Pai e criador – , constitui o pano de


fundo e a premissa inquestionável da fé da igreja. Herdada do
judaísmo, ela foi sua proteção contra o politeísmo pagão, o
emanacionismo gnóstico [5] e o dualismo marcionita [6]. Para a
teologia, o problema era integrá-la no âmbito intelectual como
os novos dados da revelação especificamente cristã. Reduzimos
à sua formulação mais simples, tratavam-se das convicções de
que Deus Se havia dado a conhecer na Pessoa de Jesus, o
Messias, ressuscitando-o dos mortos e oferecendo salvação aos
homens por seu intermédio, e que Ele havia derramado Seu
Santo Espírito sobre a igreja. [7]

A TRINDADE E O VELHO TESTAMENTO

O Velho Testamento não contém a plena revelação da existência


trinitária de Deus, mas contém várias indicações dela. Esta
revelação vai tendo maior clareza, na medida em que a obre
redentora de Deus é revelada mais claramente, como na
encarnação do Filho, e no derramamento do Espírito.

Alguns teólogos divergem quanto às provas bíblicas da Trindade


no Velho Testamento. Berkohf não concorda que a distinção,
muito utilizada, entre Iavé e Elohim, e o plural Elohim, sejam
provas da doutrina. Segundo ele; é mais plausível entender que
as passagens em que Deus fala de si mesmo no plural, em Gn
1:26; 11:7, contém uma indicação de distinções pessoais em
Deus, conquanto não sugiram uma triplicidade, mas apenas
uma pluralidade de pessoas. [8]

Porém, Klaas Runia [9], professor do Seminário Teológico


Reformado Holandês, crê que Gn 1:26, indique a Trindade. A
fórmula plural de Gn 1:26, possui caráter trinitário; trata-se,
segundo ele, não de um plural majestático, como alguns
querem, ou de um plural deliberativo, como outros interpretam,
visto que isto era totalmente desconhecido dos hebreus. Tem
sido considerado no mesmo nível de palavras como “água” e
“céu”, que também aparecem no hebraico. A água pode ser
imaginada em gotas individuais de chuva ou em termos da
massa de água no oceano. O plural nesse caso aponta para a
“diversidade na unidade”. Alguns crêem que o mesmo acontece
com o plural Eloim que aparece em Gn 1:26. Runia segue o
pensamento dos Pais da Igreja, que sempre se referiam a esta
passagem como base para a elaboração dos conceitos
trinitários.

Os escritores do Velho Testamento afirmam o monoteísmo


divino. É a partir dele que se definiu a doutrina da Trindade.
Deus é uno tanto no Antigo como no novo Testamento: Dt 6:4
“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, é o único Senhor”, Mc
12:29 “Respondeu Jesus: o principal é : Ouve, ó Israel, o
Senhor nosso Deus é o único Senhor!”; Ef 4:6 “(Há) um só Deus
e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e
está em todos”.

Vemos aqui afirmações claras e inequívocas de monoteísmo:


Deus é um só. Essa confissão de fé assinala Israel como uma
nação absolutamente dedicada ao monoteísmo. Separa
claramente a fé religiosa do Antigo Testamento de qualquer das
formas de politeísmo.

Os nomes de Deus no Velho Testamento são importantes para


entender a Trindade. Muito se escreveu desde o século passado
em relação a este tema, principalmente a escola teológica liberal
alemã, que baseou suas pesquisas nas diferenças no uso dos
nomes de Deus em todo o Velho Testamento, dando origem a
famosa teoria documental. [10]

No primeiro capítulo de Gênesis, verifica-se que os nomes de


Deus estão no plural, Elohim, e, também, Adonai; e a estes
plurais do nome divino, juntam-se em geral verbos e adjetivos
no singular. Um fenômeno singular extraordinário, dado que em
hebraico existe uma palavra singular El, para Deus. O texto de
Deuteronômio, afirma em hebraico, palavras no plural: “Iavé,
nosso Elohim, é um só Iavé”.

Isto mostra que Deus, o Senhor, na Sua maneira de ser e nos


pactos firmados por Ele com os homens, é mais do que um,
ainda que “um só Iavé”, quanto à essência do Seu ser.

Muito importante é o fato de que, começando no livro de


Gênesis, e prosseguindo, cada vez mais com nitidez, através de
outros livros do V. T., encontramos uma distinção entre Iavé e o
Anjo de Iavé, que se apresenta como um em essência com Iavé,
porém distinto d'Ele. Tal acontecimento, em que Deus toma a
forma de um anjo ou de um homem, para falar, visível e
audivelmente, ao homem é chamado de Teofania.

À medida que a revelação vai sendo desenvolvida, mediante


uma sucessão de profetas, verifica-se que títulos divinos, e
adoração divina, são dados a este Anjo, que Este os aceita; que
Ele se revela como um Ser eterno, o Deus Todo-Poderoso, o
Príncipe da Paz, o Adonai, o Senhor de Davi; que vai nascer de
uma virgem; que Ele será desprezado e rejeitado pelos homens.
Varão de dores e experimentado em trabalhos; que Ele levará
sobre Si o pecado de muitos e que, acima de tudo, estabelecerá
o reino de justiça, que aumentará até encher a terra.

Estas profecias, como o Novo Testamento mostra, foram


cumpridas em Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade.

Em geral, as referências, no Antigo Testamento, a respeito do


Espírito Santo, eram tão indistintas, que pareciam referir-se
apenas a uma energia ou influência, procedente de Deus. Em
parte alguma se chama ao Espírito, especificamente, uma
Pessoa; e, no entanto, quando se fala Dele, é em termos que
poderíamos aplicar muito bem a uma pessoa.

Lidos à luz do Novo Testamento, porém, há muitas passagens


em que se percebe que é uma Pessoa distinta. As Escrituras
usam pronomes pessoais para indicar o Espírito Santo, elas
revelam o Espírito não como uma força abstrata, um poder ou
uma coisa, mas como “ele”.

Por exemplo, aquilo que é dito sobre Deus Pai é dito também a
respeito do Espírito de Deus. A expressão “Deus disse” e “o
Espírito disse” são repetidamente intercaladas. E as obras do
Espírito Santo aparecem como obras de Deus.

Em Isaías 6:9, Deus diz: “Vai e diz a este povo”. No Novo


Testamento é citado da seguinte maneira, At 28:25, começando
com estas palavras, “Bem falou o Espírito Santo a vossos pais,
por intermédio do profeta Isaías...” Nesse caso o apóstolo
atribuiu o falar de Deus ao Espírito Santo.

A TRINDADE E O NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das


distinções da Divindade. Esta revelação foi feita na encarnação
de Cristo, e no derramamento do Espírito Santo. Segundo
Warfield, foi na vinda do Filho de Deus, na semelhança da
carne do pecado, para se oferecer a Si mesmo com um sacrifício
pelo pecado; e na vinda do Espírito Santo, para convencer o
mundo do pecado, da justiça e do juízo, que a Trindade de
Pessoas na Unidade da Divindade foi revelada, de uma vez para
sempre, aos homens. [11]

O texto básico para discutir-se a divindade do Filho é João 1:1-


2, 14.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus. Ele estava no princípio com Deus. E o Verbo se fez
carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória
do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (ARA)

O vocábulo Verbo, é traduzido por “Palavra” nas versões


modernas, como a NVI, BLH e Bíblia de Jerusalém. O vocábulo
original para Verbo é Logos. O termo indica que o Logos é uma
Pessoa divina, que estava no princípio da Criação. Interessante
notar que na Septuaginta, versão grega do A.T., a construção
poética de Gênesis 1 tem um paralelo formidável com este texto
de João.

A expressão de João que o Verbo era Deus, indica a divindade


do Verbo, e o verso 14, indica a sua humanidade, quando
afirma que ele habitou entre nós.

O Espírito Santo é apresentado como a terceira pessoa divina,


ligado ao Pai e ao Filho, mas distinto deles, da mesma forma
que o Pai e o Filho são distintos um do outro. A sua
individualidade está dentro da unidade de Deus. A própria
palavra santo sugere sua divindade. Jesus declara que o nome
de Deus, em que devem ser batizados aqueles que se tornam
seus discípulos, é tripessoal. [12]

CAMINHOS EQUIVOCADOS

Os servos da congregação que estão encarregados do Salão do


Reino dar-lhe-ão boas vindas com rostos sorridentes e braços
abertos. Eles falarão do amor que encontraram na Organização
de Deus, a Sociedade Torre de Vigia, a religião das
Testemunhas de Jeová. [13]

As palavras de David Reed, são um alerta para a Igreja. Apesar


do zelo, do cuidado, da postura quase cristã, as Testemunhas
de Jeová negam a autoridade das Escrituras, negam a
divindade de Cristo e do Espírito, bem como sua pessoalidade.
A Trindade para eles é uma forma de politeísmo pagão.

Para muitos crentes alheios à história da igreja, este discurso se


apresenta como novidade. E mesmo as Testemunhas de Jeová
desconheciam seus antecedentes históricos. Sua postura
teológica é ariana. De acordo com o bispo Ário do quarto século.
Que negava a preexistência de Cristo, afirmando que ele tinha
sido criado pelo Pai. Cristo era divino, mas não em igualdade
com o Pai.

Segundo Gordon D. Fee, hoje eles se declaram arianos auto-


conscientes, em uma nota de seu livro, “Paulo, o Espírito e o
Povo de Deus” [14] , Fee afirma:

“Foram necessárias muitas décadas para as Testemunhas de


Jeová descobrissem que eram arianos. Desde aquele dia eles
cessaram de 'testemunhar' a respeito do assunto do 'reino',
como era sua praxe, e em vez disso adotaram seu arianismo
antitrinitário com total e intencional vigor”. [15]

Quais são as distorções da doutrina da Trindade? Pode-se


dividir didaticamente em três principais:

a) Pai, Filho e Espírito Santo, três modos de aparecer do mesmo


Deus.
O Modalismo.

O termo foi cunhado por Adolf Von Harnack, no século XIX. Diz
a doutrina: Deus é um e único. Ele funda uma monarquia
cósmica, pois somente Ele é senhor sobre todas as coisas. É por
Ele que os reis e governadores governam. Entretanto, em sua
comunicação com a história, este Deus único se mostrou sob
três modos. A mesma e única divindade aparece sob três rostos
e mora em nosso meio de três maneiras diferentes como Pai,
Filho e Espírito Santo. O mesmo Deus enquanto cria e nos
entrega a Lei se chama Pai; o mesmo Deus enquanto nos
redime se chama Filho; e o mesmo Deus enquanto nos santifica
e nos dá sempre a vida se chama Espírito Santo. O mesmo
Deus teria três pseudônimos. Deus é indivisível, não existe
comunhão de três pessoas nele; o que existe é a unicidade
divina projetando para nós mediante três modos diferentes.

O modalismo foi condenado insuficiente para expressar a fé


cristã na Trindade. No batismo de Jesus, foram manifestadas a
três pessoas distintas da Trindade - o Pai falando do céu, o
Filho saindo das águas, e o Espírito repousando sobre Ele (Mc
1:11). Nos evangelhos, encontramos Jesus, freqüentemente,
fazendo menção do Pai como outra Pessoa. Muitas vezes Ele se
dirigia ao Pai em oração (João 17).
b) O Pai é o único Deus, o Filho e o Espírito Santo são
criaturas subordinadas.
Subordinacionismo

Afirma-se também a unidade de Deus, em detrimento as outras


pessoas divinas. Deve-se tributar prudente veneração a Jesus
Cristo, mas não ao ponto de igualá-lo a Deus mesmo, pois tal
excesso destrói o sentido autêntico de Deus. Ele pode ser
semelhante (homoioúsios) a Deus, jamais porém igual
(homooúsios) a Ele. Ele é a primeira criatura, o protótipo de
todas as criaturas, mas não Deus.

Ário é o teólogo mais influente que defendeu esta tese. Ele e


seus discípulos enfatizavam o fato de que Jesus foi um ser
humano perfeitíssimo, porque ele estava cheio do Espírito.
Nota-se uma influência muito grande do pensamento filosófico
grego em Ário. Para ele o Logos de João não é Deus. Pois Deus
não pode se comunicar com o mundo, Ele é um mistério
indecifrável e transcendente. Sua natureza é incomunicável,
portanto, para ser conhecido Ele tem que se servir de um
mediador, o Logos. Este Logos não é Deus, mas pertence a
esfera divina. Jesus, cheio do Espírito, alcançou a perfeição a
ponto de merecer um nome divino. Foi adotado pelo Pai como
seu filho. O filho permanece sempre subordinado ao Pai, porque
foi criado ou gerado pelo Pai. Também é chamado de
subordinacionismo adocianista ou monarquismo dinâmico,
porque, para eles, Jesus mereceu ser adotado pelo Pai.

Ele é a criatura mais semelhante ao Pai que se possa conceber


(homoioúsios), sem entretanto chegar à igualdade de natureza
com o Pai (homooúsios). Os críticos sempre se deleitaram em
escarnecer a doutrina da Trindade, porque afirmavam que ela
era uma disputa de loucos, sem relevância, pois os teólogos se
digladiavam por um iota.

Esta corrente pretendia fazer justiça a duas doutrinas básicas


da fé. A unidade de Deus, pois não há ninguém igual a Ele e, ao
mesmo tempo, ele possui um Primogênito, perfeito, divino
porquanto foi adotado por Deus, e proposto como mediador,
salvador e caminho exclusivo de acesso ao Pai.
O Concílio de Nicéia (325) refutou a doutrina de Ário, e afirmou
que Jesus Cristo é o único Filho de Deus. “Cremos em um só
Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado desde a
eternidade do Pai: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de
Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubtancial ao Pai”.

Mas ao afirmar a divindade de Cristo, tem que se lembrar que


Ele optou esvaziar-se e tornar-se submisso ao Pai. Mantendo na
Trindade uma subordinação, mas não como afirmou Ário.

c)O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três deuses.


O Triteísmo

O triteísmo afirma as três Pessoas divinas. Acredita na


divindade do Filho, na Pessoa do Espírito como Deus em
igualdade. Mas são três substâncias independentes e
autônomas. Não se afirma a relação entre elas nem a comunhão
como constitutivo da Pessoa divina. A Trindade transforma-se
em três deuses. Somam-se os três divinos, como se atrás de
cada Pessoa não houvesse um Único. Existem então três
absolutos e não um, três seres eternos e não um, e três
criadores e não um.

A afirmação trinitária destaca a existência objetiva de três


Únicos, Pai, Filho e Espírito Santo. Mas não os vê separados e
não-relacionados. Crê que as Pessoas da Trindade estão
eternamente relacionadas em comunhão infinita. Pode-se dizer,
há três Pessoas de uma única comunhão.

O termo usado para explicar a comunhão das Pessoas da


Trindade é pericórese, (latim, circumincessio). O sentido seria o
fato de envolver - circum - e entrar numa profunda intimidade.
Cada membro da Trindade, em algum sentido, habita no outro,
sem diminuição da total pessoalidade de cada um.

TRINDADE ONTOLÓGICA E TRINDADE ECONÔMICA

Ao discutir a doutrina da Trindade, temos que distinguir o que


é tecnicamente conhecido como Trindade Ontológica e Trindade
Econômica.
Por Trindade Ontológica, entende-se a Trindade que subsiste na
Divindade, desde toda eternidade. Na sua vida essencial e inata,
dizemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são os mesmos em
substância, possuindo atributos e poderes idênticos e, portanto,
são iguais em glória. Isto diz respeito à existência essencial de
Deus.

Por Trindade Econômica, significamos a Trindade tal como se


manifesta no mundo, especialmente na redenção do pecador.
Existem três obras adicionais, se assim podemos descrever, que
são atribuídas à Trindade, a saber, a Criação, a Redenção e a
Santificação.

Encontramos nas Escrituras que o plano da redenção toma a


forma de um pacto, não só entre Deus e o Seu povo, como
também entre as várias Pessoas dentro da Trindade, de maneira
que há, por assim dizer, uma divisão de tarefas, cada Pessoa
tomando, voluntariamente, determinada fase da obra.

Ao Pai atribui-se, em primeiro lugar, a obra da Criação, assim


como a eleição de certo número de indivíduos que Ele deu ao
Filho. Ao filho atribui-se a obra da Redenção, para o
cumprimento da qual se encarnou, tomando a natureza
humana, de forma que, como representante de seus eleitos,
assume a culpa do seu pecado, para resgatá-los da morte. Ao
Espírito Santo são atribuídas as obras de Regeneração e de
Santificação, ou a aplicação aos corações dos indivíduos, da
expiação objetiva que Cristo realizou. Ele faz isto renovando
espiritualmente os corações, operando neles a fé e o
arrependimento. E glorificando-os finalmente no céu.

A redenção, pois é um assunto da graça soberana, planejada


antes da fundação do mundo, apresentada na forma de um
pacto ou aliança. Não é um plano departamentalizado,
dispencionalizado ou repartido, mas é uma ação global que
envolve toda a Pessoa da Trindade. Ela é planejada pelo Pai,
comprada pelo Filho, e aplicada pelo Espírito Santo.

A TRINDADE E A JUSTIFICAÇÃO

Como um Deus perfeitamente santo pode prover perdão aos


pecadores? A análise tem que passar necessariamente pela
impossibilidade do Deus uno salvar e pela possibilidade lógica
da pluralidade divina salvar o pecador.

Para Scott Horrell, o Deus uno se comprometeria em sua


santidade para providenciar a salvação [16]. Se Deus fosse uma
só pessoa, ele poderia ser perfeitamente justo e santo, mas seria
incapaz de perdoar os nossos pecados sem comprometer sua
santidade. Por exemplo, no islamismo, Alá fica acima da ponte
da morte que passa da via terrestre para o paraíso. Embaixo da
ponte estreita fica o abismo do inferno. Um homem que teve
uma vida 70% boa e 30% má talvez tenha permissão de passar
para o paraíso e para a presença de Deus. mas um homem com
menos virtude seria empurrado por Alá para o abismo.
Pressupondo que nenhum homem é 100% bom ( e assim
moralmente igual a Alá), Alá deve comprometer sua santidade
ao permitir qualquer pessoa entrar no paraíso.

Como é que o Absoluto Moral do universo pode perdoar e Ter


comunhão com um pecador? Na Bíblia, Deus é justo mas
também o Justificador de nossos pecados (Rm 3:23-26),
precisamente porque ele é mais do que uma pessoa. Por causa
da pluralidade de pessoas, o Deus Triúno pode ser o Santo Juiz
sem se comprometer, o Cordeiro sacrificial que morreu em meu
lugar e o Espírito santificador que atua em mim.

NOTAS:

[1] — J. Scott Horrell. Uma Cosmovisão Trinitária, in Vox


Scripturae. 4 (março de 1994).

[2] — Vale destacar várias obras que discutem os atributos de


Deus, entre elas, Louis Berkof, Teologia Sistemática. - James I.
Packer. O Conhecimento de Deus. - João Calvino. As Institutas
da Religião Cristã.

[3] — Louis Berhof. Teologia Sistemática. Luz para o caminho.


1990.

[4] — BOETTNER, Loraine & WARFIELD, Benjamin. A Doutrina


da Trindade. Leira: Edições Vida Nova.

[5] — O Gnosticismo foi uma heresia refutada pela igreja


primitiva. Ele afirmava entre outras coisas, que o corpo de
Jesus Cristo não era real, era apenas uma emanação (ilusória)
da divindade.
[6] — Márcion (85-160 d.C.) Defendia que a matéria era má,
enquanto valorizavam o espírito, a salvação proposta por Cristo,
era só para o espírito, não incluía o corpo. Ele rejeitava o Deus
do Antigo Testamento, porque achava que este era um Deus
cruel.

[7] — J.N.D. Kelly. Doutrinas Centrais da Fé Cristã. São Paulo.


Edições Vida Nova.1994.

[8] — Louis Berkohf. Teologia Sistemática. Luz para o Caminho.


1990.

[8] — Trindade, in KEELEY, Robin. Fundamentos da Teologia


Cristã. Editora Vida, pp. 109-116.

[10] — Para maiores esclarecimentos veja. Gehard Von


Radd. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. ASTE. 1965,
para a defesa da posição liberal, e Gleason Archer. Merece
Confiança o Antigo Testamento? São Paulo. Edições Vida Nova.
1990, para a refutação conservadora.

[11] — Benjamin B. Warfield. A Doutrina da Trindade. Portugal.


Edições Vida Nova. pp 135.

[12] — Portanto vão e façam discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Mateus 28:19 (NVI).

[13] — David Reed. A Liberdade Religiosa versus o Domínio da


Torre de Vigia das Testemunhas de Jeová. In Defesa da Fé, nº. 5
julho/setembro 1997.

[14] — Gordon D. Fee é um erudito pentecostal, especializado


em estudos do Novo Testamento. Ele já lecionou no Seminário
Gordon-Conwell, em Boston, e hoje está no Regent College, em
Vancouver, Canadá. O livro citado foi publicado pela United
Press em 1997. Campinas, SP. Para Fee a experiência
carismática leva-nos a um entendimento mais profundo da
Trindade. Veja também, Tom Smail. A Pessoa do Espírito Santo.
São Paulo. Editora Loyola.

[15] — Gordon D. Fee. Paulo, o Espírito e o Povo de Deus.


Campinas. United Press. Pp 52

[16] — J. Scott Horrell. Uma Cosmovisão Trinitária. Op.cit.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARCHER, Gleason. Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas. Trad.


Oswaldo Ramos. São Paulo: Editora Vida,1997. 479 pp.

BARTH, Karl. The Holy Ghost and the Christian Life. Translated
by R. Birch Hoyle. London: Frederick Muller Limited, 1938. 86
pp.

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Trad. Odayr Olivetti.


Campinas: Luz para o Caminho Publicações, 1990. 791 pp.

BOETTNER, Loraine & WARFIELD, Benjamin. A Doutrina da


Trindade. Leira: Edições Vida Nova. 176 pp.

FEE, Gordon D. Paulo, o Espírito e o Povo de Deus. Trad.


Rubens Castilho. Campinas: Editora United Press, 1997. 222
pp.

HORRELL, John Scott. O Deus Trino que se dá, a Imago Dei e a


Natureza da Igreja Local. In Vox Scripturae. Revista Teológica
Latino-Americana: volume VI, número 2. Dezembro, 1996. 243-
262 pp.

HORRELL, John Scott. Uma Cosmovisão Trinitária. In Vox


Scripturae. Revista Teológica Latino-Americana: volume IV,
número 1. Dezembro, 1994. 55-77 pp.

JÜNGEL, Eberhard. La doctrina de la Trinidad. Trad. Arnoldo


Canclini. Miami: Editorial Caribe, 1976. 152 pp.

KEELEY, Robin.(org) Fundamentos da Teologia Cristã. Trad.


Yolanda Krievin. São Paulo. Editora Vida, 2000. 344 pp.

KELLY, J.N.D. Doutrinas Centrais da Fé Cristã. Origem e


Desenvolvimento. Trad. Márcio L. Redondo. São Paulo: Edições
Vida Nova, 1994. 390 pp.

SPROUL, R.C. O Mistério do Espírito Santo. Trad. Bentes


traduções. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997. 192 pp.
Um e Três: Trindade
por

Bíblia de Estudo de Genebra

Isaías 44:6: “Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, seu Redentor,


o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último,
e além de mim não há Deus”.

O Antigo Testamento insiste constantemente na afirmação de


que há somente um Deus, o Criador que se revela a si mesmo,
que deve ser cultuado e louvado com exclusividade (Dt 6.4-5; Is
44.6–45.25). O Novo Testamento concorda (Mc 12.29-30; 1Co
8.4; Ef 4.6; 1Tm 2.5), mas fala de três agentes pessoais, Pai,
Filho e Espírito Santo, que operam juntos para realizar a
salvação (Rm 8; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13-14; 1Pe 1.2). A formulação
histórica da Trindade (do latim trinitas , que significa “estado de
ser três”) não é uma tentativa de explicá-la, propósito que
estaria além da nossa capacidade. Apenas oferece limite e
salvaguarda aos nossos pensamentos a respeito desse mistério,
que nos confronta, talvez, com o mais difícil pensamento que a
mente humana pode elaborar. Não é fácil de entender, mas é
verdadeiro.

A doutrina surge dos fatos históricos da redenção registrados e


explicados no Novo Testamento, Jesus orou a seu Pai e ensinou
a seus discípulos a fazerem o mesmo. Contudo, Jesus os
convenceu de que era pessoalmente divino. Crer na sua
divindade e no seu direito de receber culto e orações é básico
para a fé no Novo Testamento (Jo 20.28-31; conforme 1.1-18; At
7.59; Rm 9.5; 10.9-13; 2Co 12.7-9; Fp 2.5-6; Cl 1.15-17; 2.9;
Hb 1.1-12; 1Pe 3.15). Jesus prometeu enviar outro
“Consolador” ou “Parácleto” (do grego; ver nota no texto de Jo
14.16, [abaixo]), para continuar sua obra como primeiro
Ajudador (Jo 14.16-17). Um “Parácleto” é um advogado,
ajudador, aliado e sustentador (Jo 14.26; 15.26-27; 16.7-15). O
Ajudador prometido é o Espírito Santo, que desceu no
pentecostes para cumprir o seu Ministério. Desde o início, ele
foi reconhecido como a terceira Pessoa divina; mentir a ele –
disse Pedro não muito depois do Pentecoste – é mentir a Deus
(At 5.3-4).

Cristo prescreveu o batismo “em nome (singular: um Deus, um


nome) do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” – três Pessoas que
são um único Deus a quem os cristãos se dedicam (Mt 28.19).
Do mesmo modo, encontramos as três Pessoas no relato do
próprio batismo de Jesus; o Pai reconheceu o Filho, e o Espírito
mostrou sua presença na vida e ministério do Filho (Mc 1.9-11).
A bênção de 2Co 13.14 é trinitariana, como o é a oração por
graça e paz do Pai, do Espírito, e de Jesus Cristo, em Ap 1.4-5.
João inclui o Espírito entre o Pai e o Filho só porque ele ensina
que o Espírito é divino no mesmo sentido em que o Pai e o Filho
o são. Estes são alguns dos mais notáveis exemplos do ensino
trinitariano no Novo Testamento. Embora a linguagem técnica
da teologia posterior não se encontre no Novo Testamento, a fé e
o pensamento trinitarianos estão presentes em todas as suas
páginas. Nesse sentido, a Trindade, é uma doutrina bíblica.

Basicamente, a doutrina é que a unidade do Deus único é


complexa. As três “substâncias” pessoais, como são chamadas,
são centros coiguais e coeternos de autoconsciência, sendo
cada um um “Eu” em relação aos outros dois, que são “Vós”,
cada um possuindo a plena essência divina de Deus, a
existência específica que pertence só a Deus. Deus não é uma
só pessoa que desempenha três papéis separados; este é o erro
denominado “modalismo”; nem são três deuses que apenas
parecem ser um por atuarem sempre juntos. Isso é “triteísmo”.
O teólogo B. B. Warfield coloca o problema de modo simples:
“Quando dizemos estas três coisas – que não há senão um só
Deus que o Pai, o Filho e o Espírito, cada um é Deus; que o Pai,
o Filho e o Espírito, cada um é uma pessoa distinta – então
enunciamos a doutrina da Trindade em sua inteireza”. Isso
sumariza o que foi revelado através das palavras e obras de
Jesus e é a realidade que subjaz à salvação do Novo
Testamento.

Praticamente falando, a doutrina da Trindade exige que demos


honra ao igual a cada uma das três Pessoas na unidade do
Deus único. Além do mais, conhecer essa doutrina estabelece fé
pessoal e enriquece não menos o forte senso de unidade com
outros cristãos.

Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Nota Teológica, página 837.


A Divina Trindade
por

W. E. Best

(Deuteronômio 4:35; 6:4, 5; Isaías 46:9; 1 Coríntios 8:6)

“A ti te foi mostrado para que soubesses que o SENHOR é Deus;


nenhum outro há, senão ele” (Deuteronômio 4:35). “Ouve, Israel, o
SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu
Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
poder” (Deuteronômio 6:4,5). “Lembrai-vos das coisas passadas
desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há
outro semelhante a mim” (Isaías 46:9 NASB). “Todavia, para nós há
um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só
Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1
Coríntios 8:6).

A palavra “trindade” não é encontrada na Escritura, mas ela foi


usada desde o início do segundo século para expressar a doutrina
escriturística da unidade indivisa da natureza Divina da Deidade. Há
distinções pessoais entre o Pai, Filho e o Espírito Santo. Grandes
debates têm se levantado sobre a palavra “Pessoas” nas distinções do
Pai, Filho e Espírito Santo. Alguns têm argüido que a palavra
“pessoa” sugere a existe a existe de três Deuses. O argumento tem
lógica somente quando o termo “pessoa” é usado em seu sentido
costumeiro e moderno. Visto que as distinções não são aquelas de
essência, mas distinções pessoais dentro da, a palavra “Pessoa” não
deve ser censurada. Essa palavra, como aplicada às três subsistências
da Deidade, como a palavra “Trindade”, não é encontrada na
Escritura. Contudo, a idéia que ela expressa é escriturística.

Como todas as outras ciências, na ciência da teologia alguns termos


técnicos são necessários. A existência de três Pessoas distintas na
Deidade não significa que cada uma seja como que separada das
outras, assim como um ser humano é separado de outro. Embora os
pronomes singulares, Eu, Tu, e Ele sejam aplicados a cada uma das
três Pessoas, os mesmos pronomes singulares são aplicados ao Deus
Triuno. O Pai, Filho e o Espírito Santo podem ser distinguidos, mas
eles não podem ser separados, pois cada um possui a mesma
substância ou essência idêntica. Uma Pessoa da Deidade não existe
sem as outras duas. Algumas coisas predicada de uma Pessoa na
Deidade não são predicada das outras Pessoas. O Pai enviou o Filho,
mas o Filho não enviou o Pai. Ambos, o Pai e o Filho, enviaram o
Espírito Santo, mas o Espírito Santo nunca enviou o Pai, nem o Filho.
Ambos, o Pai e o Espírito Santo, estavam com o Filho na encarnação,
mas nenhum deles assumiu uma natureza humana. Deus o Pai é
Deidade invisível. Deus o Filho é Deidade manifesta. Deus o Espírito
Santo é Deidade comunicada.

A palavra “pessoa” na teologia é definida como um modo de


subsistência, a qual é marcada por inteligência, vontade e existência
individual. A mente humana não pode compreender o mistério da
Trindade pois o finito não pode compreender o Infinito. A palavra
“Pessoa”, estudada teologicamente, é usada num sentido diferente
dos seus outros usos. Por exemplo, a essência Divina não pode ser ao
mesmo tempo três Pessoas e uma Pessoa se “pessoa” é empregada
num único sentido. Contudo, ela pode ser ao mesmo tempo três
Pessoas e um ser pessoal. As características pessoais pelas quais as
Pessoas na Deidade se diferem uma das outras não podem ser as
características pessoais da Deidade inteira.

“Pessoa” é usada para expressar uma idéia de personalidade dentro


da Deidade. Isso evita, por um lado, a idéia de uma mera forma de
manifestação e, por outro lado, a idéia de personalidades
completamente independentes nos seres humanos. A verdade da
Trindade não assevera que há três Deus em um Deus (triteísmo). Ela
não afirma que Deus meramente se manifesta de três formas
diferentes (trindade de manifestações). Os Trinitarianos sustentam
que há três Pessoas eternas na substância da Deidade (monoteísmo).
O Pai, Filho e o Espírito Santo são um Deus. Cada Pessoa tem uma
qualidade distintiva. Nenhuma das Pessoas é Deus sem as outras.
Cada uma, com as outras, é Deus.

O Senhor nosso Deus é um Senhor. Deus é chamado o Deus vivo


porque Ele é a fonte da vida natural (Atos 17:28) e da vida espiritual
(João 17:2). Ele tem vida em Si mesmo (João 5:26) e dá vida à todas
as criaturas. Deus é chamado o Deus verdade para distingui-Lo de
todos os falsos deuses (1 Coríntios 8:6). Não pode haver dois infinitos.
Dois infinitos implica uma contradição. Como pode algo ser igual ao
Superior ou igualmente excelente ao mais Excelente? Visto que Deus,
o Deus da Sagrada Escritura, enche os céus e a terra, não há espaço
para outro deus.

A doutrina da Trindade e o Cristianismo estão inseparavelmente


unidas. A vida eterna está envolta no conhecimento “... [desta] vida
eterna: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus
Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Deus, pelo Seu Espírito, revelou
o conhecimento através do qual, no poder do Espírito regenerador,
uma pessoa é capaz de conhecer o Pai e o Filho: “Mas Deus no-las
revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas,
ainda as profundezas de Deus” (1 Coríntios 2:10). A eleição pelo Pai,
a redenção pelo Deus o Filho, e a regeneração pelo Deus o Espírito
Santo nunca podem ser separadas no Cristianismo (Efésios 1:3-14; 1
João 5:1-9).

Uma trindade de Pessoas relacionadas a uma essência não contradiz


nenhuma verdade absoluta. Analogias não podem nada fazer nada,
senão estabelecer um princípio. Por exemplo, há no homem uma
combinação de unidade e pluralidade — os elementos materiais e
imateriais combinam para formar um indivíduo. Portanto, a Trindade
afirma não mais do que um Ser existindo num sentido singular e num
outro plural. As palavras “Triunidade”, “unidade” e “igualdade” se
aplicam à Trindade. A palavra “Triunidade” indica que na Deidade há
três centros pessoais de consciência pessoal compartilhando a mesma
igualdade básica de Ser. A palavra “unidade” significa que há um em
três, não três deuses. A palavra “igualdade” transmite o pensamento
de que cada membro da Deidade é co-igual e co-eterno com os
outros. Portanto, o Pai é Deus (Romanos 1:7), o Filho é Deus (Hebreus
1:8), e o Espírito Santo é Deus (Atos 5:3,4). O que Deus é agora Ele
foi e será. Visto que as três Pessoas na Deidade são atualmente
o um Deus, elas têm sido um desde a eternidade.

A Deidade habitando no Cristo encarnado não é por poder, como Sua


habitação no universo. Não é por graça, como Sua habitação nos
santos. Não é por dons, como ela habitou nos apóstolos. Não é por
símbolos, como ela habitou no tabernáculo. A habitação da Deidade
no Cristo encarnado é essencialmente e pessoalmente no Filho de
Deus que é o Filho do homem. Os cristãos adoram um Deus na
Trindade e a trindade na unidade, sem confundir as Pessoas na
Deidade ou dividindo a essência.

A menos que os cristãos aprendam a distinguir as obras do Pai, Filho


e Espírito Santo, a confissão da Trindade não tem sentido. O Pai é a
fonte de todas as coisas. O Filho é Aquele através de quem as coisas
são construídas. O Espírito Santo é Aquele através de quem todas as
coisas alcançam o seu destino final: “Ó profundidade das riquezas,
tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são
os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! PORQUE QUEM
COMPREENDEU O INTENTO DO SENHOR? OU QUEM FOI SEU
CONSELHEIRO? OU QUEM LHE DEU PRIMEIRO A ELE, PARA QUE LHE
SEJA RECOMPENSADO? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as
coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Romanos 11:33-36).
Se as Pessoas na Deidade existissem independentemente, tal
cooperação seria impossível. Portanto, o propósito do Pai, a redenção
do Filho e a regeneração do Espírito Santo são descritos na Escritura
(Efésios 1:3-14; 2 Tessalonicenses 2:13, 14; 1 Pedro 1:1-3).

Se não houvesse nenhuma trindade na natureza Divina, a Paternidade


em Deus teria um princípio e teria um fim. Além do mais, a Filiação
não seria uma perfeição, mas imperfeição, pois existiria somente
para um propósito temporário. O mesmo que é dito do Filho pode ser
dito do Espírito Santo. Visto que a paternidade e a filiação são
eternas em Deus, a lei de amor requer que os cristãos se conformem
a Deus em ambos aspectos, como a mais alta dignidade do ser deles.
A reciprocidade de afeição data além do tempo. Um pai humano
pode ser tanto pai como filho. Contudo, isso não pode ser verdade da
Pessoa Divina. Uma pessoa humana pode ser um filho e não um pai,
mas tornar-se um pai subseqüentemente. Tal mudança na Deidade
destruiria a imutabilidade. As três Pessoas na Deidade são co-
eternas. Elas existem lado a lado, mas não independentemente ou
separadamente.

O Pai é Deus. Se o Filho de Deus não tivesse pré-existência em Sua


divina natureza antes dEle nascer da Virgem Maria, não haveria
nenhum Deus o Pai há 2.000 anos atrás. Negar o Filho eterno é negar
o Pai eterno: “Qualquer que nega o Filho também não tem o Pai; e
aquele que confessa o Filho tem também o Pai” (1 João 2:23). “Todas
as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o
Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a
quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11:27). “ Deus nunca foi visto
por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez
conhecer” (João 1:18). “Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim
mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o
qual dizeis que é vosso Deus. E vós não o conheceis, mas eu conheço-
o; e, se disser que não o conheço, serei mentiroso como vós; mas
conheço-o e guardo a sua palavra” (João 8:54,55).

O Filho é Deus. Jesus Cristo é revelado nas Escrituras como Deus;


portanto, Ele deve ser adora, servido e obedecido como Deus. Suas
próprias excelências Divinas provam que Ele é Deus: (1) “O teu trono,
ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de
eqüidade” (Salmos 45:6) é aplicado à Jesus Cristo (Hebreus 1:8). (2)
“Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até
que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés” (Salmos 110:1)
é aplicado à Jesus Cristo (Mateus 22:44). (3) “ Desde a antiguidade
fundaste a terra; e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão,
mas tu permanecerás; todos eles, como uma veste, envelhecerão;
como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Mas tu és o mesmo, e os
teus anos nunca terão fim” (Salmos 102:25-27) é aplicado à Jesus
Cristo (Hebreus 1:10-12). (4) “No ano em que morreu o rei Uzias, eu
vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito
enchia o templo. Os serafins estavam acima dele; cada um tinha seis
asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com
duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo,
Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua
glória” (Isaías 6:1-3) é aplicado à Jesus Cristo (João 12:41).

A Escritura é clara que Jesus Cristo existia e agia antes da Sua


encarnação. A revelação objetiva de Deus é a obra do Filho de Deus.
A manifestação subjetiva de Deus é a obra do Espírito Santo. Assim
como a característica distintiva de Deus o Pai é que Ele não é gerado,
a característica distintiva é que Ele é gerado. A subordinação de
Cristo ao Filho é oficial e essencial. Como o filho humano não é
menos humano do que seu pai, o Filho Divino não é menos Deus do
que o Pai Divino. Cristo não somente dá o Espírito, mas Ele também
opera através do Espírito.

O Espírito Santo é Deus. Muitos cristãos professos não têm um


conceito maior do Espírito Santo do que o de uma influência
impessoal e sobrenatural de Deus. O Espírito Santo é uma Pessoa, e
Ele é Deus (Atos 5:3, 4; 1 Coríntios 12:6,11). O Espírito é chamado de
outro Consolador (João 15:26). Ele é mencionado com o Pai e o Filho
na comissão para batizar (Mateus 28:19). Ele é colocado num plano
de absoluta igualdade com o Pai e o Filho como a fonte de poder e
bênção (2 Coríntios 13:14). Como uma Pessoa, o Espírito Santo fala
(Atos 8:29), envia (Atos 10:19, 20), chama (Atos 13:2), guia (João
16:13, 14), conforta (João 14:16, 17), regenera (João 3:8), ensina (1
João 2:20-22), intercede (Romanos 8:26, 27), e pode ser
entristecido (Efésios 4:30).

A declaração de que “o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda
Jesus não ter sido glorificado” (João 7:39) é confusa para alguns.
Dizer que o Espírito “ainda não fora dado” é como dizer que antes de
Thomas Edison a eletricidade ainda não existia. Havia tanta
eletricidade no mundo antes de Edison como existe agora. Thomas
Edison ensinou a existência da eletricidade e como armarzená-la e
usá-la. Há muitas referências no Antigo Testamento com respeito à
existência e obra do Espírito Santo (Gênesis 1:2; Êxodo 28:3; 31:2, 3;
Jó 26:13; Salmo 139:7; Zacarias 4:6). O Espírito Santo veio em Sua
presença habitadora no dia de Pentecoste como o Cristo encarnado
veio em Seu primeiro advento quando Ele nasceu da Virgem Maria.
Assim como o Pai não foi claramente revelado até o nascimento de
Cristo, as coisas de Cristo não foram claramente reveladas até a
vinda do Espírito em Pentecoste. Ele não revelou as coisas de Cristo
até que elas estivessem prontas para serem feitas conhecidas. A
Escritura é clara que o Espírito Santo existia e agia antes de
Pentecoste. A manifestação subjetiva de Deus é a obra do Espírito
Santo. A revelação objetiva de Deus é a obra de Deus o Filho. O
Espírito Santo torna a revelação objetiva de Deus numa experiência
subjetiva no eleito.

Uma Breve Definição da Trindade

por

James White

Uma das perguntas mais frequentemente repetidas com a qual


tenho que tratar é: “Como alguém explica, ou até mesmo
entende, a doutrina da Trindade?”. Quando os cristãos são
confrontados com uma pergunta com respeito à Trindade, como
ela poderia ser mais bem explicada?

Para mim, eu sei que simplificar a doutrina aos seus elementos


mais básicos tem sido muito importante e muito útil. Quando
reduzimos a discussão aos três claros ensinos bíblicos que
fundamentam a Trindade, podemos mover nossa discussão da
informação bíblica abstrata para a concreta, e podemos ajudar
aqueles envolvidos em falsas religiões a reconhecer quais dos
ensinos bíblicos eles estão negando.

Devemos lembrar primeiramente que pouquíssimos têm uma


boa idéia do que a Trindade é em primeiro lugar – por
conseguinte, a precisão na definição será muito importante. A
doutrina da Trindade é simplesmente que há um ser eterno de
Deus – indivisível, infinito. Esse um ser de Deus é
compartilhado por três pessoas co-iguais e co-eternas, a saber,
o Pai, o Filho e o Espírito.

É necessário aqui distinguir entre os termos “ser” e “pessoa”.


Seria uma contradição, obviamente, dizer que há três seres
dentro de um ser, ou três pessoas dentro de uma pessoa.
Assim, qual é a diferença? Reconhecemos claramente a
diferença entre ser e pessoa todos os dias. Reconhecemos o
que algo é, todavia, reconhecemos também indivíduos dentro de
uma classificação. Por exemplo, falamos do “ser” do homem –
ser humano. Uma rocha tem um “ser” – o ser de uma rocha,
bem como de um gato, de um cachorro, etc. Todavia, nós
sabemos também que há atributos pessoais também. Isto é,
reconhecemos tanto “o que” como “quem” quando falamos sobre
uma pessoa.

A Bíblia nos diz que há três classificações de seres pessoais –


Deus, homens e anjos. O que é personalidade? A capacidade de
ter emoção, vontade, de se expressar. Uma rocha não pode
falar. Gatos não podem pensar sobre si mesmos com relação a
outros, e, digamos, trabalhar para o bem comum da “espécie
dos gatos”. Portanto, estamos dizendo que há um ser eterno e
infinito de Deus, compartilhado plena e completamente por três
pessoas, Pai, Filho e Espírito. Um o que, e três quem.

NOTA: Não estamos dizendo que o Pai é o Filho, ou o Filho o


Espírito, ou o Espírito o Pai. É muito comum as pessoas
compreenderem incorretamente a doutrina como significando
que estamos dizendo que Jesus é o Pai. A doutrina da Trindade
não diz isso de forma alguma!

As três doutrinas bíblicas que fluem diretamente para o rio que


é a Trindade são as seguintes:

1) Há um e somente um Deus, eterno e imutável.

2) Há três Pessoas eternas descritas na Escritura – o Pai, o


Filho e o Espírito. Essas Pessoas nunca são identificadas uma
com a outra – isto é, elas são cuidadosamente diferenciadas
como Pessoas.

3) O Pai, o Filho e o Espírito são identificados como sendo


plenamente Deus – isto é, a Bíblia ensina a divindade de Cristo
e a divindade do Espírito Santo.
Alguém poderia possivelmente representar isso da seguinte
forma:

Os três lados do triângulo representam as três doutrinas


bíblicas, como rotuladas. Quando alguém nega qualquer um
desses três ensinos, os outros dois lados apontam para o
resultado. Por conseguinte, se alguém nega que há Três
Pessoas, ela é deixada com os dois lados da Plena Igualdade e
do Um Deus, resultando no ensino “Oneness” (unidade,
unificação, união) da Igreja Pentecostal Unida e outras. Se
alguém nega a Plena Igualdade, ela é deixada com as Três
Pessoas e Um Deus, resultando no “subordinacionismo” como
visto nas Testemunhas de Jeová, o Caminho Internacional, etc.
(embora para ser perfeitamente preciso, as Testemunhas de
Jeová negam todos os três lados de alguma forma – elas negam
a Plena Igualdade (isto é, Jesus é o Arcanjo Miguel), as Três
Pessoas (o Espírito Santo é uma “força” ativa impessoal, como a
eletricidade) e o Um Deus (eles dizem que Jesus é “um deus” –
uma divindade menor do que Jeová; por conseguinte, eles não
são na realidade monoteístas, mas henoteístas). E, se alguém
nega o Um Deus, ela é deixada com o politeísmo, a crença em
muitos deuses, como claramente visto na Igreja Mórmon, a
religião mais politeísta que já encontrei.
Com esperança, esses três breves pensamentos serão de ajuda
para você “crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor
Jesus Cristo”.

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