Revista Violão Mais - Edição Nº 07
Revista Violão Mais - Edição Nº 07
Revista Violão Mais - Edição Nº 07
VIOLAO
Ano 2 - Número 7 - Março 2016
www.violaomais.com.br
Duofel
Não somos violonistas!
Exc lu s iv
v
o!
io lão
E mais:
d e
Curso ular Trêmulo flamenco
pop ulas “Tenho Sede” para cordas de aço
íd eo a
com v O pagode na viola caipira
Segredos da digitação
“Love Me Tender” para iniciantes
Luis Stelzer
Editor-técnico
4 20
Você na V+ Duofel
6 34
No Player História
38
Sete Cordas
41
Violão
Brasileiro
10 44 54
Retrato De Ouvido Siderurgia
16 47 58
Mundo Improvisação Viola Caipira
48 62 70
Flamenco Como Academia
Estudar
50 65 74
Em grupo Iniciantes Coda
4 • VIOLÃO+
você na violão+
FAVORITAS
O Duo Favoriti é formado por Patrícia
Nogueira e Dagma Eid, violonistas que
tocam juntas desde 1996 em diversas
da guitarra romântica Lacôte e de outros
instrumentos antigos como alaúde e guitarra
barroca. O Duo Favoriti tem se dedicado
formações camerísticas, se apresentando a um repertório de músicas inéditas de
em várias cidades do Brasil. O duo iniciou violonistas importantes em sua formação
suas atividades tendo como objetivo individual, prestando homenagem a seus
divulgar os compositores violonistas do mestres e aos principais duetos de violão
período clássico-romântico que utilizaram da história. Formado há já algum tempo,
a guitarra terza em suas obras. A expressão o duo apresenta suavidade, segurança e
“favoriti” surge em algumas publicações equilíbrio nas interpretações, bem como na
originais da época para identificar a pesquisa de repertório e nas sonoridades,
predileção por temas que fazem parte o que faz desse um grande trabalho que
do repertório do duo, que utiliza réplicas vale a pena ser ouvido com muita atenção.
VIOLÃO+ • 5
NO PLAYER Por Luis Stelzer
Friday Night in
San Franscisco
Uma noite que influencia violonistas do mundo inteiro
há mais de 35 anos
6 • VIOLÃO+
NO PLAYER
1970, formado por Cândido Penteado
(depois substituído por Ulisses Rocha),
Rui Saleme (depois substituído por
Mozart Melo) e André Geraissati.
O trabalho de unir três virtuoses de
carreiras e formações diferentes é o
grande barato do disco. McLaughlin,
guitarrista de jazz com influências
de música indiana, tocou com Miles
Davis, ícone mundial. Sua técnica e
velocidade, aliadas à versatilidade, a
um refinado gosto musical e ao talento
indiscutível para a improvisação, o torna
um dos mais respeitáveis músicos do
mundo. Além do trabalho citado aqui,
seus trabalhos solo, com banda e até
em duo com a pianista francesa Katia
Labèque, são apreciadíssimos, às ter sido escolhido da maneira mais
vezes beirando a devoção. Al Di Meola, desafiadora possível, procurando
também guitarrista de jazz, tocou com contemplar as influências dos três,
Chick Corea. Se notabilizou por sua puxando muito para as qualidades de
forte influência latina e pela incrível velocidade e improviso dos mesmos.
velocidade, sendo, até hoje, um dos Paco de Lucía, em várias entrevistas,
mais respeitados guitarristas do mundo. confessava seu desconforto ao
Paco de Lucía, o grande revolucionário improvisar fora das bases do flamenco:
da guitarra flamenca, modernizando era um grande esforço para ele,
sua linguagem e a lançando para o antes de tudo, entender a linguagem
mundo, virou um verdadeiro astro pop jazzística. É o único dos três que toca
do estilo. Seus shows eram sucesso somente com os dedos, com velocidade
certo de público e de crítica, embora, e limpeza impressionantes. Di Meola
na Espanha, parte da ala conservadora é o arrebatador: cada solo parece
do flamenco não o perdoava por essa uma cavalaria, sempre fortíssimo.
modernização. Apesar de não ler uma McLaughlin é o refinado: embora
nota sequer de partitura, foi aclamado rapidíssimo, é o mais original nos solos
por uma considerável parcela de e improvisos.
violonistas eruditos pela sua gravação, O show, originalmente, tem momentos
em 1991, do Concierto de Aranjuez, de de solo dos três, que não foram para
Joaquín Rodrigo, elogiadíssima pelo o disco. Na época, o LP não permitia
próprio autor. Infelizmente, Paco de gravações muito longas e não se optou
Lucía morreu em 2014, aos 66 anos. por um álbum duplo, provavelmente
Não há detalhes sobre o período de por razões comerciais. A gravação
ensaios do trio. O repertório parece da música “Guardian Angel”, de
VIOLÃO+ • 7
NO PLAYER
McLaughlin, não foi feita nesse show, com várias influências encontradas
nem em San Francisco. e grande virtuosismo (aliás, todas
A primeira faixa, um mix das músicas as faixas são virtuosas ao extremo).
“Mediterranean Sundance” (Meola) Efeitos percutidos no tampo e cordas
com “Rio Ancho” (de Lucía), é uma das fazem a alegria do público presente,
antológicas, copiada à exaustão por em uma conversa muito bem humorada
duos e trios de violões no mundo todo. entre os dois.
É tocada por di Meola e de Lucía. A Chegamos, na faixa 3, ao Brasil de
estrutura apresentada fica como marca Egberto Gismonti, considerado um
registrada: apresentação do tema e dos maiores músicos do mundo,
improvisos trocados constantemente, pianista, violonista, compositor e
como um duelo em que todos saem arranjador dividido em iguais partes de
ganhando. Muito tocada, também, por talento indiscutível. A música, “Frevo
ter sua base no flamenco, linguagem Rasgado”, é o primeiro movimento de
que excita os violonistas a tentarem uma música maior, chamada “Frevo”.
seus solos. De Lucía e MacLaughlin a tocam. Na
“Short Tales Of the Black Forest” (Chick verdade, praticamente a imortalizaram
Corea) é a segunda faixa, executada por (lembro-me que ela tocava nas rádios
MacLaughlin e Di Meola. Lindíssima, FM, algo inimaginável nos dias de
8 • VIOLÃO+
NO PLAYER
O prazer de
tocar passado
às próximas
gerações
Giacomo Bartoloni
10 • VIOLÃO+
RETRATO
Professor, violonista,
compositor, autor de livros,
Giacomo Bartoloni é um dos
grandes responsáveis pela
formação de várias gerações
de músicos de alta qualidade,
incluindo seus filhos
VIOLÃO+ • 11
RETRATO
Duo Bartoloni
VIOLÃO+ • 13
RETRATO
além de apresentar uma obra para Bartoloni, e temos um CD gravado, e
violão solo. No programa do recital, também no Quarteto Bartoloni, com
além das obras camerísticas, também meus outros dois filhos, Felipe e Bruno
apresentei uma obra solo. Isso foi em 8 Bartoloni. Há ainda, um duo com o
de novembro de 1973. Eu avaliaria essa violonista francês Frédéric Bernard, o
estreia como razoável, pois tinha apenas Duo Franco-Brasileiro, com cinco CDs
16 anos e estava bastante inseguro, gravados, além de participarmos de
mas foi o início de uma longa carreira de vários Festivais de Música pela França.
concertista, camerista e solista junto a
orquestras e corais. Por volta de 1987, Você também tem trabalhos lançados
vendo o professor Henrique Pinto um no exterior. Como isso se deu?
tanto quanto desaminado por não estar Tem feito concertos fora do Brasil
se apresentando em público, o convidei constantemente?
para formamos um conjunto de câmara, Tenho realizado vários recitais no Brasil,
um duo, trio, ou quarteto, e ele gostou principalmente nas Universidades, em
da ideia e sugeriu um trio. Então nasceu que além dos recitais, realizo cursos
o Violão-Câmara-Trio, em sua primeira e conferências. No exterior, tenho
formação: nós dois e Paulo de Tarso composições minhas editadas na
Salles. Posteriormente, a Ângela Muner Alemanha e na França, além dos cinco
entrou, com a saída do Paulo. Realizamos CDs com o Duo Franco-Brasileiro e
inúmeros concertos em vários cantos do participações em várias faixas de CDs de
país e, em 1989, gravamos o primeiro Festivais de Música.
disco, em uma produção independente.
Atualmente, além da carreira de solista, Também encontramos composições
atuo em Duo com o meu filho Fábio suas. Esse trabalho é constante?
Duo Franco-Brésilien
14 • VIOLÃO+
RETRATO
Minha produção de compositor não é tão
intensa. Tenho escrito algumas peças
curtas no decorrer dessas décadas. Até
que recebi uma encomenda do meu filho
Fábio, de escrever uma Sonata com quatro
movimentos. E, dia 2 de março último,
ele estreou a Sonata no Organ Hall, na
cidade de Tempe, Arizona, nos Estados
Unidos, com grande repercussão. Essa
Sonata fez parte do programa do seu
segundo recital do Curso de Doutorado
na Universidade de Phoenix.
Entre os céus
e os mares
Na maior dor dos nossos povos, as cordas foram
arrancadas no meio do caos, para dar à luz um
instrumento, o Charango, que, em espírito, cruzou os
mares e é o dono dos céus no topo dos Andes
16 • VIOLÃO+
mundo
Afinação
A afinação mais comum é a da “temple
natural”: Mi, Lá, Mi, Dó, Sol. O terceiro
par de cordas deve ter uma oitava de
distância entre elas. Mas existe uma
variedade de afinações bem grande,
dependendo do lugar e do tamanho do
instrumento. Veja o quadro ao lado.
VIOLÃO+ • 17
mundo
Um pouco de historia
Historiadores contam que o Charango tem origem nos
instrumentos de cordas feitos nas Ilhas Canárias, como a vihuela
de mão. No entanto, na antiga Potosi (hoje, Bolívia), na frente da
Igreja de San Lorenzo, construída entre 1547 e 1774, existem
imagens de duas sereias tocando Charango. Mesmo antes de
existirem as nações, o Charango fez parte da cultura dos povos
de Argentina, Bolívia, Chile, Equador e Peru, feito de cascas de
raiz, cascos de tatu e madeira laminada de caixas e embalagens,
com cordas de todo tipo. José Manuel Moreno o considera um
instrumento evangelizador. Isso, na verdade, não se sustenta: foi
uma troca que os incas fizeram pelo seu sangue e sua história
arrancados, revitalizada pelos intérpretes latino-americanos.
Curiosidade
Há diversos tipos de Charangos. Catalogados, pelo menos 12: Chango,
Walaycho, Chillador, Ronroco, Sonko charango, Charango mediano o mediana,
Charango vallegrandino, Charango ayacuchano, Charango pampeño,
Charango de Moquegua, Charango bajo, Hatun charango. Muitos, com grande
diferenças de tamanho e afinação!
18 • VIOLÃO+
matéria de capa
Não somos
Por Luis Stelzer
violonistas!
DUOFEL
Violão+: Como vocês iniciaram no com o Luiz, que tinha um grupo chamado
violão? Como começou o DuoFel? Boissucanga, para fazer um teste. Foi aí
Fernando Melo: Sou do interior de que a gente se conheceu. O Luiz tocava
Alagoas, de Arapiraca. Vim para São guitarra, era um grupo de rock progressivo.
Paulo aos 20 anos, como contrabaixista. E O primeiro encontro surgiu ali, em 1975.
aquela procura por lugares para tocar. De Luiz Bueno: Nesse primeiro encontro, o
repente, veio um amigo em comum e falou Fernando não veio sozinho. Ele trouxe
de uma banda que estava precisando de um amigo, que veio do Nordeste com ele.
um baixista, que ensaiava em uma casa. Lá em Maceió, ele tinha um trio de rock,
Ele fez esse contato a esse encontro mas esse amigo dele era cantor. E o meu
22 • VIOLÃO+
DUOFEL
grupo não era de canto. Lá pelas tantas, eu, 4 anos e meio, quase 5, então peguei
o baterista propôs uma pausa no ensaio, uma fase anterior ainda. O meu grande
para um lanche. Ele estava sempre com barato era música pop, era Beatles, era
fome (risos). E o rapaz que cantava isso. Eu sentia o som da guitarra. Quando
também estava morto de fome. Então os penso que estamos aqui, hoje, celebrando
dois saíram, o Fernando falou que não 38 anos de existência como duo, com os
estava com fome, eu também não quis violões, esse instrumento que a gente fala
comer. Enquanto eles foram comer, nós até hoje, de como é difícil de tocar... Como
dois começamos a trocar figurinhas , tocar ele não tem fim! A cada dia surge mais um
algumas coisas, acabamos compondo brilhante músico, que vem para te humilhar,
pequenos trechos de temas que depois né? (risos). Vem mostrar que você tem que
viraram músicas que o próprio grupo se renovar. É assim esse instrumento. Eu
tocou. Esse encontro, nessa pausa para fui apresentado a ele pela vida.
o lanche, acho que foi o mais importante, Fernando: Acho que, com todos os
porque ali veio à tona a nossa parceria grandes músicos, acontece algo parecido.
como compositores. O entendimento foi Vi uma entrevista com o Oscar Peterson,
assim (estala os dedos), muito rápido. O que tocava pra caramba, era um pianista
Fernando tem uma facilidade maior para incrível. O repórter perguntava a ele: poxa,
desenvolver harmonias, ele gosta de mas você ainda passa horas estudando?
encontrar novas harmonias. E eu sempre A resposta: olha o que está atrás de
fui um melodista, eu crio melodias, depois mim, não posso bobear, senão eles (os
é que eu vou ver que harmonia existe ali. pianistas mais jovens) passam por cima
Então, deu muito certo. Durante muitos anos, de mim! (risos) O meu som, pra mim, tem
o nosso release abria assim: “Fernando que ser perfeito. Sei que tem melhores do
na harmonia e Luiz nas melodias”. A gente que eu, mas tenho que manter a minha
até, às vezes, brigava por causa disso. O técnica e sempre melhorar. Então, acho
grupo de rock se desfez no final de 1976.
No ano seguinte, começamos a conversar
sobre a formação do duo, por conta dessa
cumplicidade das composições. Contamos
tudo isso para você para dizer que não
nascemos violonistas. Não tínhamos ideia
de nos tornarmos instrumentistas desse
instrumento.
24 • VIOLÃO+
ulisses rocha
DUOFEL
coisa de tocar o violão como uma guitarra,tudo plugado. Os efeitos fazem parte
comigo lá também, o violão tem as cordas, dos arranjos. O Luiz, com essa coisa
mas precisava amplificar. A história é mais
da guitarra, traz muito isso: pedaleira,
ou menos igual, até chegar ao ponto da delay, reverb, aquelas coisas todas. Eu,
gente assumir o nosso trabalho com o como baixista, não tenho muito essa
violão, não com a guitarra. Foi a descoberta
história. É mais um ambiente para solo,
do nosso caminho, diferentemente de um ambiente para outra coisa. E isso
outros músicos que vem da escola do também traz um equilíbrio, porque, se de
jazz, nós viemos do pop e do rock. Isso repente, ele tem um monte de efeito e eu
reflete nas nossas composições, na também, fica uma zorra. Então, cada um
música do Duofel. O jeito de tocarmos tem o seu lance com os equipamentos e
os violões, o uso de pedaleiras, a gente isso tudo a gente já traz. As músicas já
nunca tem o violão puramente acústico nascem com esses efeitos, até nos ajuda,
como referência. sugere o desenvolvimento. Antes, a gente
Luiz: Nós só temos um álbum, de dezoito tinha maneiras diferentes de compor. Eu
que gravamos, que foi totalmente gravado trazia um tema, mostrava, aí ele colocava
com violões acústicos. Todos os demais, a parte dele. Como a gente convive há
sempre plugados, conectados. tanto tempo, só nesse estúdio há mais de
vinte anos, a gente acaba fazendo tudo
O gosto pelo experimentar, que vocês junto, vem para cá, fica tocando, um vai
tem desde sempre, se relaciona com no banheiro, ouve uma frase do outro, sai
isso? correndo e diz: que legal isso (risos)... Isso
Luiz: Sim, varetas, arcos, liberdade para tudo é transformado aqui. Já há tempos,
criar e experimentar novos sons. a gente compõe juntos também. Lógico
Fernando: A gente ensaia e compõe com que, depois, cada um elabora mais a sua
VIOLÃO+ • 25
DUOFEL
VIOLÃO+ • 27
DUOFEL
gente quer, como o Luiz falou, fazer Duofel: violão de 12 cordas com violão
uma música que contemple as pessoas, de nylon. Já quebra com a história de
que elas fiquem felizes. Nós não somos um duo de violões.
improvisadores: nem temos técnica Luiz: Começou mesmo com os dois
para isso. Dentro da nossa música, a tocando violões de nylon. A coisa vai
gente deixa aberto para improvisar. Mas evoluindo: a busca é pelo som. Voltando
aquilo se torna, com o passar do tempo, um pouco para o rock progressivo. Como
parte da música, com algumas variações é que era o rock? Baixo, bateria e guitarra.
de humor: hoje estou mais feliz, vou O progressivo começa a ficar mais forte à
por mais umas notinhas (risos). Dá a medida em que o teclado começa a entrar
impressão de que improvisamos bem, na formação, possibilitando milhões de
“olha, os caras tocam”... E na verdade saídas. O progressivo muda de ritmo, de
não é nada disso. Estamos à procura tom, de andamento, de divisão. E nós,
de um som, e os violões trazem isso. com aquela formação sem teclado, o que
Com as afinações, a gente já dá uma a gente fazia? Tínhamos um baterista
quebrada. Quando partimos para os que também tocava violão. Daí, a música
violões, tivemos a preocupação de não evoluía e entrava nos violões. Eu tinha um
nos caracterizarmos como violonistas. violão 12 cordas, que a gente usava para
Aí, pintou a primeira sonoridade do fazer certos tipos de base, de palheta,
28 • VIOLÃO+
DUOFEL
ouviu, gostou e nos ajudou. Tocamos porque, minha mulher foi a produtora dele
em festivais internacionais, foi ótimo. durante 13 anos, nas grandes turnês
Mas nem só alegrias, fomos muito dele pela Europa e Estados Unidos, e
contestados, especialmente depois eu ia também. Então, pude responder a
que gravamos Beatles. Pelo próprio ele como conversávamos nas viagens:
Hermeto, inclusive! “Hermeto, você me falar isso eu acho
meio esquisito, porque você já sabia que
Como foi isso? queríamos gravar Beatles desde 1996,
Luiz: Foi num festival de música em conversamos a respeito disso”. Ele falou:
Curitiba, há alguns anos. Estávamos “é verdade”. Daí, eu falei: “então, eu quero
lá para um workshop. O Hermeto ia dar que você e todos esses músicos que estão
um show naquele dia, então, fomos ao falando mal do nosso trabalho sem ouvir,
camarim dele. Nos recebeu muito bem, vão pra aquele lugar! Eu não estou nem aí
em seguida, nos levou para outro camarim pra você, sabe por quê? Porque a gente
vazio, só nós três, e disparou: “o que estava a fim de fazer, somos livres, fizemos
vocês tem na cabeça? Gravar Beatles, tá e está bom pra caramba!”. Ele pegou e
todo mundo falando um monte!”. E encara fez assim: “Lulaço, é isso aí! Vocês estão
a gente, do tipo: “e aí?”. Bom, já deu pra com os violões aí? Podem ir buscar os
perceber que sou falante e, além do mais, violões, porque vocês vão tocar no meu
tenho uma amizade grande com o Hermeto show!”. Na metade do show, ele fala para
30 • VIOLÃO+
DUOFEL
a plateia, só músicos: “bom, agora vou foi um trabalho maravilhoso para a nossa
convidar dois caras pra tocar. Os caras vida, um sonho de dois garotos realizado,
não são novos, são cobras criadas, e eu nós temos essa energia de garotos. Só
vou falar um negócio pra vocês, ouçam para ter uma ideia, o Fernando teve uma
bem: vocês calem a boca quando falarem pedra no rim e tínhamos shows para fazer
desses caras, pensem bem. Eles podem. em Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.
Qualquer música que eles colocam a mão, Mesmo com muita dor e sofrendo, ele foi
vira uma música deles. Vou chamar aqui o e tocou. Quando muita gente desiste, nós
Duofel. Cala a boca, hein?”... vamos para o palco. Esse é o Duofel, não
tem por onde, a gente vive isso. Sabemos
Então, existe uma patrulha que cuida do da importância de levar a música às
repertório que os músicos escolhem? pessoas. Então, vivemos o nosso sonho
Luiz: Sim, existe. O Brasil foi feito muito de criança com muita propriedade. Essas
em cima dessas coisas. Uma valorização músicas dos Beatles fizeram as nossas
de patrulheiros, no começo da televisão, vidas de adolescentes. A gente sabe tocar
dizendo o que pode e o que não pode, sem ouvir. E elas saem já daquele jeito
essa coisa de polícia e ladrão... Acho que gravamos, elas vão saindo.
que tem muita coisa assim: a pessoa não Fernando: É assim mesmo. As pessoas
consegue fazer, mas vai fazer de tudo para perguntam se fizemos uma pesquisa para
pichar quem faz. Quando você traz uma escolher o repertório, preocupado em
verdade, ela é indestrutível. E, se ela for épocas... Não, preocupação nenhuma.
destruída hoje, vira amanhã novamente. A Os violões é que determinaram, olha, aqui
verdade emerge. Não tem por onde. Ela é pega o de 12, aqui faz desse jeito, acho
vencedora. Nós fizemos esse trabalho de que vai ficar bom com esse aqui, e já saía
Beatles e servimos não só para nós, porque a música. Então, quando a gente foi ver, o
VIOLÃO+ • 31
DUOFEL
E a disciplina para conseguir tudo isso?
Luiz: Mesmo quando estou de férias,
pelo menos dois instrumentos me
acompanham. Durante o ano todo,
estamos aqui, trabalhando. Todo dia,
como qualquer trabalhador.
Fernando: Quando as pessoas se referem
à sorte, que a sorte nos sorriu, respondemos
que estávamos trabalhando quando ela
passou. Por isso, aproveitamos.
VIOLÃO+ • 33
história Por Rosimary Parra
A arte da
canção
acompanhada
A figura do violonista que também é cantor, ou do cantor que se
acompanha ao violão, está muito presente em nossa cultura,
principalmente no universo da música popular brasileira: temos
referências míticas, como João Gilberto, Gilberto Gil, João Bosco
e o inesquecível Dorival Caymmi, que atuava cantando e se
acompanhando ao violão com grande maestria
“Isabel, Perdiste La Tu Faxa” - Libro tercero de “Si Me Llaman A Mi” - Libro tercero de musica em
musica em cifras y canto (1546), de Alonso Mudarra cifras y canto (1546), de Alonso Mudarra
Estevan Daça
Estevan Daça exerceu o papel de
compositor com um número importante
de Fantasias para vihuela solo. No
“Gritos Dava La Morenica” – El Parnasso (1576), de
entanto, as obras para canto e vihuela Estevan Daça
que encontramos no livro El Parnasso
são arranjos de canções espanholas,
uma versão literal de modelos polifônicos
com algumas pequenas modificações. O Referências bibliográficas
arranjo poderia ser tocado como uma peça ALCALDE, Antonio Corona. Texto dos encartes dos CDs: Luys Milan El
Maestro (1536) – Montserrat Figueras/Hopkinson Smith, Astrée, e Alonso
solo ou com o cantor executando uma das Mudarra Libro Terceiro de Musica em Cifras y Canto, 1546 – Montserrat
Figueras/Hopkinson Smith, Astrée.
vozes. Na notação dessas peças, a letra COELHO, Victor Anand. Performance on lute, guitar and vihuela. Cambridge
University Press, 1977.
da canção aparece abaixo da tablatura. GRIFFITHS, John. Texto do encarte do CD: Estevan Daça El parnasso/El
Cortesano – José Hernandez Pastor/ Ariel Abramovich, Arcana, 2002.
A melodia que deverá ser cantada fica
inserida na tablatura, indicada por alguns Rosimary Parra
pontos colocados sobre os números da Violonista com mestrado em Música pela Universidade
Estadual Paulista (UNESP). Professora de violão clássico na
representação instrumental. Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS).
36 • VIOLÃO+
classif icados
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VIOLÃO+ • 37
sete cordas
em tonalidades
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menores
Bem-vindos! Vamos seguir a ideia aplicada nas lições
já apresentadas, porém explorando a sonoridade das
“baixarias” em progressões harmônicas típicas das
tonalidades menores. Observem a aplicação de notas
cromáticas, notas das escalas e notas dos acordes. A
sugestão é estudar isoladamente as frases que compõem
os estudos, procurando transpô-las para a maior quantidade
possível de tonalidades.
No decorrer dos estudos, vocês perceberão que muitas
das frases apresentadas são verdadeiros “clichês” do
vocabulário do violão 7 cordas, podendo ser escutadas em
diversas gravações de grandes mestres do instrumento,
como Dino 7 Cordas, Luizinho 7 Cordas, Raphael Rabello.
Os estudos serão apresentados nos tons relativos das
tonalidades estudadas na lição anterior. Dessa forma, as
digitações das escalas utilizadas como referência serão
as mesmas. Um forte abraço e bons estudos!
Estudo 1 em Lá menor
38 • VIOLÃO+
sete cordas
Estudo 2 em Ré menor
VIOLÃO+ • 39
sete cordas
Estudo 3 em Si menor
40 • VIOLÃO+
VIOLAO BRASILEIRO
Bossa nova
Renato Candro
www.renatocandro.com
www.learningbrazilianguitar.com
O estudo que apresento hoje é um dos que tenho escrito
para ensinar meus alunos a tocar música brasileira
no formato violão solo. Acredito que um dos maiores
problemas para ensinar esse estilo é a falta de estudos
apropriados. Não me refiro a estudos de técnica – desses
podemos encontrar muitos, usados no ensino do violão
clássico e que são ótimos. Estou falando sobre estudos
específicos para o estilo, pequenas peças com o sotaque
do violão popular e que possam ser organizadas de
maneira progressiva para que o aluno amadureça seu
toque sem desafios descabidos.
É óbvio que o estudo aqui sugerido, criado para fins
didáticos, não possui o mesmo apelo musical das peças
de João Pernambuco, Garoto, Paulo Bellinati ou Marco
Pereira, mas do ponto de vista didático, é bastante
interessante, por possibilitar ao estudante um meio para
mergulhar no estilo de forma equilibrada – desde que
inserido no plano de estudos no momento correto, claro.
Espero que vocês o apreciem e aprendam. Bons estudos.
VIOLÃO+ • 41
Estudo 3 - Bossa Nova
“Estudo 3 - Bossa Nova” (violão solo)
(violão solo) Renato Candro
Renato Candro
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Ac. Gtr.
0
5 0 0 5 0 0
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15 16 17 18 19
42 • VIOLÃO+
VIOLAO
2 BRASILEIRO
Progressive Studies 3
C1
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3 3 2 2 1 1 0
0
36 37 38 39 40 41
VIOLÃO+ • 43
de ouvido
Ouvir
tonalmente
Reinaldo Garrido Russo
www.musikosofia.com.br
duemaestri@uol.com.br
DÓ RÉ MI FÁ SOL LÁ SI DÓ
I II III IV V VI VII VIII
tônica sobretônica mediante subdominante dominante sobredominante sensível tônica
Exercício de Percepção 1
Após ter feito várias vezes as duas experiências propostas,
ouça o Áudio 1 desta matéria. Nele, você vai ouvir 78 Áudio 1
grupos formados por uma nota Dó e outra qualquer da
escala. Anote em um papel a sequência com os respectivos
nomes. A gravação está lenta e é possível pausá-la para
facilitar a audição.
Neste exercício, do 1 ao 45, você ouvirá a primeira nota
do grupo sendo interrompida instantaneamente pela
segunda. Não existe respiração, uma separação entre elas.
Chamamos essa articulação de legato (ligado em italiano).
Na execução das notas consecutivas, esse espaço de
tempo pode ser preenchido por um minúsculo silêncio,
quase imperceptível, tornando-as non legato.
O esquema a seguir pode elucidar a dúvida:
DÓ MI
Veja na Figura 1 como isso é escrito
na pauta musical.
Figura 01
figura 1
legato
VIOLÃO+ • 45
de ouvido
No mesmo exercício, do 46 ao 78, você ouvirá a primeira nota
se estendendo sobre a segunda. As duas soam juntamente
após o ataque da segunda. A isso chamamos de “ligadura
de frase”. O mesmo se dá quando fazemos um acorde ao
violão com as notas atacadas separadamente (arpejo). Os
sons se sobrepõem sem interferir na audição de cada corda.
Segue um esquema que pode ajudá-lo a entender melhor:
SOL
DÓ
revela dois sons independentes no mesmo pentagrama.
As diferentes melodias de um contraponto* são escritas
dessa maneira.
figura 2
Importante para ouvir bem
Podemos
classificar os instrumentos musicais quanto à
sustentação do som no tempo (sustain). A flauta tem a Áudio 2
sustentação controlada pela emissão do instrumentista; o
violino tem a sustentação controlada pelo ir e vir do arco
friccionando a corda ininterruptamente. O mesmo acontece
com a sustentação de um som emitido pela voz humana.
Há instrumentos que apresentam decaimento de
intensidade do som logo após o ataque – como o violão, o
piano, o xilofone e outros de percussão. É possível ouvir
o decaimento gradativo (decay) logo após o ataque das
notas ao piano de todo o exercício do Áudio 1.
figuraagora
Ouça 1 o Áudio 2 e tente perceber a diferença entre
esses dois tipos de instrumento. Você ouvirá sete grupos
tocados por um clarinete sintetizado na forma legato e
outros sete na forma arpejo. A articulação arpejada nos
prepara para ouvir com mais facilidade quando o acorde *Contraponto: é a arte polifônica (muitos
tem suas notas tocadas simultaneamente. sons, muitas linhas sonoras cantadas
ou tocadas ao mesmo tempo) na qual
Na próxima edição, vamos conferir os acertos do exercício as vozes independentes vão formando
acordes em perfeita sintaxe musical.
no Áudio 1 e defrontar-nos com exercícios tocados por Ouçam as Fugas do “Teclado Bem
Temperado” ou a “A Arte da Fuga”, de
instrumentos dos dois tipos de sustentação. Até a próxima! J. S. Bach.
46 • VIOLÃO+
fundamentos da improvisação
Acordes
menores
Alex Lameira
www.alexlameira.com.br
Estudo número 1
Ouvindo o acorde menor: cantar as tensões e conferir no
instrumento.
7a. menor
11a. justa
13 a. maior
VIOLÃO+ • 47
f lamenco
flamenco
www.flaviorodrigues-flamenco.eu
P I A M I
B7 E Am C7
*Acordes sem capotraste.
48 • VIOLÃO+
f lamenco
#FicaAdica
El Genio de la Guitarra
Flamenca (1923 - 1936)
Ramón Montoya
VIOLÃO+ • 49
em grupo
Oportunidades
para encaminhar
Thales Maestre
diretrizes
Na edição anterior tive a oportunidade de fazer algumas
considerações acerca da formação denominada camerata
de violões. O texto teve o propósito de contextualizar os
diversos aspectos relacionados aos trabalhos que venho
desenvolvendo com cameratas pedagógicas de violões.
Nesta coluna, tratarei de assuntos relacionados à pratica
coletiva do instrumento, ao ensino coletivo, à formação
de grupos pedagógicos e à importância da música de
câmara no processo de ensino. Pretendo compartilhar com
vocês, ao longo das próximas edições, uma explanação
detalhada de como foi estruturado um dos mais recentes
trabalhos que conduzi para uma camerata formada por
estudantes. Abordarei desde a estruturação básica da
definição do número de integrantes e disposição espacial
dos blocos de naipes, passando pela padronização de
notações, concepção de arranjos e pelas bases culturais.
Por isso, considero o texto da edição anterior introdutório
para esta coluna. Também pretendo compartilhar arranjos
de forma contextualizada, reflexões sobre minha prática
de ensino coletivo, sequências didáticas, arranjos para
grupos iniciantes. Espero que a coluna sirva para que
tenhamos boa interação com os educadores violonistas.
O programa
O trabalho em questão tem como parceiro o Programa
Guri Santa Marcelina. A camerata de violões figura entre
os diversos grupos infanto-juvenis do Guri. A coordenação
pedagógica e sua equipe ofereceram a oportunidade de
estruturarmos o trabalho dando-nos plena liberdade na
condução do mesmo. Era o momento certo para aplicar
50 • VIOLÃO+
em grupo
algumas concepções, pois estávamos diante de boas
condições institucionais, que nos davam o respaldo
necessário para planejar a estruturação do trabalho.
Definições
Um dos primeiros aspectos relacionados à estrutura do
grupo refere-se à definição do número de integrantes. A
proposta era de que teríamos um determinado número
de alunos para trabalhar durante todo o ano, sem a
rotatividade certas vezes presente em trabalhos coletivos.
Como a seleção de alunos para participação nos grupos
é feita anualmente, teríamos à disposição um nível
técnico aproximado do homogêneo. Essas condições
influenciaram o planejamento do trabalho.
A definição de um número de integrantes não poderia
ocorrer aleatoriamente. Tinha de estar relacionada
às concepções sonoras pensadas para o grupo, cujo
propósito principal era estabelecer uma identidade, uma
linguagem própria para esse tipo de agrupamento. Assim,
o foco estaria em explorar a “massa sonora” resultante
da reunião de um número de integrantes relativamente
grande diante do que os violonistas costumam considerar
“saudável” para trabalhar, pois, para muitos, a partir de
oito integrantes, a empreitada torna-se arriscada.
Era preciso, portanto, considerar experiências anteriores. O
que foi estabelecido teve influência da produção de outros
arranjos, anterior à prática efetiva com a camerata. Dessa
forma, podemos observar que o próprio arranjo tem relação
com as diretrizes da organização estrutural de um grupo como
esse. No caso de trabalhos com cameratas, tive experiências
anteriores com as cameratas dos polos de ensino.
A distribuição em blocos de cinco naipes já havia sido
experimentada por mim em grupos menores no Polo Pera
Marmelo (um dos polos de ensino do Guri). Transportar
a ideia para agrupamentos maiores, como a Camerata
Infanto-Juvenil, potencializou e aprimorou o trabalho.
A partir daí, essa referência, que envolve a noção de
orquestração com consciência da massa sonora que
se tem à disposição, foi adotada para a produção de
novos arranjos. Abordarei esses assuntos com maior
profundidade nas próximas colunas, quando tratarei
especificamente sobre os arranjos. Coube citá-los aqui
VIOLÃO+ • 51
em grupo
por não podermos dissociar a definição da quantidade de
integrantes e a disposição dos naipes da concepção dos
arranjos. Estão imbricados.
No ano de 2012, em nossa primeira temporada, chegamos a
uma configuração bem estruturada. Uma vez definido o número
de integrantes, foi preciso organizar a disposição espacial
em blocos de naipes e planejar o repertório, sabendo que
seria necessário construir arranjos para o grupo, levando em
conta a concepção estabelecida. Nessa primeira temporada,
ficou estabelecida a seguinte configuração:
• Quantidade de integrantes: 25;
• Quantidades de naipes: 5 blocos;
• Instrumentos: 25 violões de 6 cordas.
Podemos ser flexíveis em relação ao número de integrantes.
No exemplo apresentado, contamos com cinco blocos de
naipes e cinco integrantes em cada bloco, totalizando 25
integrantes. Poderíamos pensar em: trinta integrantes,
distribuídos em cinco blocos, com seis alunos em cada
bloco; quinze integrantes, cinco blocos e três alunos em
cada bloco; dez alunos, distribuídos em cinco blocos, com
dois alunos em cada naipe.
Claro que, ao alterar a quantidade de integrantes para um
número menor, o resultado muda em relação à massa sonora,
e as concepções de orquestração ficam prejudicadas. No
52 • VIOLÃO+
em grupo
entanto, isso não inviabiliza o trabalho e oferece, numa
situação de análise, a oportunidade de identificar a concepção
de massa sonora, claramente presente em um agrupamento
grande, mesmo diante da sua ausência. Assim, os arranjos
serviriam até mesmo para um quinteto, para entrosar o
trabalho de um conjunto, para procedimentos referentes à
prática de estudo de uma camerata.
Diferenças
Observem o vídeo do Quinteto Novos Violões, formado
por alunos do programa Guri, orientados pelo professor
Alexandre Ribeiro. Eles tocam um arranjo meu da “Oitava
Valsa de Esquina”, de Francisco Mignone. Você poderá
constatar a diferença de massa sonora ao contrapor esse
vídeo com os sugeridos na edição anterior.
Quanto ao uso do violão de seis cordas, sabemos que
um dos caminhos possíveis é trabalhar com a ampliação
da tessitura, fazendo uso de violões construídos para
alcançar notas mais agudas ou mais graves, como ocorre
na família dos saxofones e das cordas. O leitor poderá
acompanhar um vídeo do trabalho de uma orquestra de
violões da Coreia do Sul, em que se encontram violões
com dimensões diferentes daquelas do violão padrão.
O trabalho dessa orquestra faz uso de obras sinfônicas,
buscando imitar uma orquestra. Em relação a esse tipo
de repertório, já fiz minhas ressalvas na edição anterior,
porém, a título de curiosidade, o exemplo é interessante
para verificarmos a obtenção de diferentes tessituras.
A ideia de estruturar o trabalho com a camerata do
Programa Guri apenas com as possibilidades do modelo
padrão de seis cordas está relacionada com a estrutura
oferecida pela instituição e o fato de o modelo ser popular
e acessível para os alunos, tornando as condições de
estudo mais viáveis e favorecendo a aplicação do trabalho
em outras instituições (justamente pela facilidade de
acesso ao modelo padrão).
Bem, caros leitores, tratei aqui dos aspectos mais
elementares que envolvem toda a estruturação de uma
camerata, com o propósito de situá-los para que entendam
como se deram as diretrizes sobre as quais abordarei nas
próximas edições. Na próxima, adianto que tratarei sobre
as padronizações de notações! Até lá!
VIOLÃO+ • 53
siderurgia
“Tenho Sede”
Eduardo Padovan
Olá amigos! Para nossa coluna pensei em compartilhar com
vocês um pouco do processo de estudo que me ajudou - e
ainda ajuda - todas as vezes que me deparo com qualquer
assunto teórico musical novo. Para mim, sempre foi muito
importante colocar a teoria em prática, ou seja, depois de
entender minimamente o assunto, ouço alguns exemplos
daquilo que me foi ensinado e, logo depois, crio algo
utilizando o novo material. Mais tarde, percebi que muitos
estudos e métodos publicados utilizaram esse mesmo
processo. Sendo assim, acho interessante que façamos
nossos próprios métodos.
Para a primeira coluna decidi falar sobre o estudo prático
de intervalos musicais no violão. É chamado de intervalo
a distância existente entre duas notas musicais (utilizando
tom e semitom como medida). Nesta coluna, abordarei
exclusivamente os intervalos de 6ª Maior e 6ª menor,
mas essa ideia poderá ser aplicada para todos os outros
intervalos musicais. Os intervalos de 6ª são aqueles em
que se tem uma distância de seis notas por grau conjunto
(ascendente ou descendente) entre as notas tocadas, tendo
a fundamental como primeira nota.
Exemplo: Entre a nota Dó, fundamental, até a nota Lá, existe
um intervalo de 6ª Maior ascendente, tendo 4 tons e meio
de distância (sendo a soma de Dó para Ré, 1 tom, de Ré
para Mi, 1 tom, de Mi para Fá, ½ tom, de Fá para Sol, 1 tom,
de Sol para Lá, 1 tom). A alteração de uma dessas notas
utilizando sinais de bemol ou sustenido modificará essa
distância e dará outra classificação para esse intervalo de
6ª. Podendo ser uma 6ª menor no caso entre as notas Dó#
e Lá, ou Dó e Láb, ambas com 4 tons entre elas. Existem
outras variações de intervalos de 6ª, mas vou me prender
apenas às duas acima (Maior e menor) em nosso exemplo.
Para colocar em prática a teoria acima, resolvi adicionar
6ªs descendentes (notas com a distância de seis graus
conjuntos descendentes partindo da fundamental) a uma
melodia do meu gosto e tocar harmonicamente as duas
vozes. Neste caso, a melodia da canção “Tenho Sede”, de
Dominguinhos e Anastácia.
54 • VIOLÃO+
siderurgia
Tenho sede
“Tenho
Tenho
Tenho
Tenho Sede”
sede
sede
sede
(Melodia)
(Melodia) Dominguinhos / Anastácia
(Melodia) Dominguinhos / Anastácia
(Melodia) Dominguinhos / Anastácia
Dominguinhos/Anastácia
4 EEE
Dominguinhos
E / D / Anastácia
G D Bm G D
G D Bm G D E/D
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G D Bm G D E
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G D Bm E G D C7
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11
C7 A
11
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11
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11
G D Bm G D
17
17
17
G
G
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D
Bm
Bm
E
G
G
D
D
“Tenho Sede”
Tenho
(com 6sede
as.
) Dominguinhos/Anastácia
(adicionando sextas) Dominguinhos / Anastácia
4
G D
Bm
E G D E/D
4
G Bm
D
E G D C7
6
C7
Em7 A
11
Bm
17
D
G E G D
56 • VIOLÃO+
siderurgia
“Tenho Sede”
(comTenho sede
mais detalhes) Dominguinhos/Anastácia
(com mais detalhes) Dominguinhos / Anastácia
G
D
Bm
4
E G D
4
G Bm
E G
E/D D
5 D
C7
10
Em7
14
D
A G D
Bm
18
E
G D
VIOLÃO+ • 57
VIOLA caipira
A majestade
pagodeira
Fábio Miranda
www.fabiomirandavioleiro.com
VIOLÃO+ • 59
VIOLA caipira
60 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
Bem! O uso de grau para acorde também é funcional. Dessa
forma, podemos fazer os acordes sem nos preocupar em qual
tonalidade está afinado o Cebolão da nossa viola. Seja em
Mi, Mi bemol ou Ré, o grau mostra o desenho que temos que
fazer no braço da viola.
Agora peguemos, por exemplo, o pagode “A viola e o violeiro”
(Tião Carreiro/ Lourival dos Santos), que se utiliza desses
acordes. Vamos tentar encaixar o ritmo do rasgueado na letra,
montando os acordes de acordo com o grau (I, IV ou V7),
seguindo o caminho da canção:
VIOLÃO+ • 61
como estudar
Digitação:
prelúdios de
Breno Chaves
brechaves@gmail.com
Villa-lobos
Quando Villa-Lobos esteve em Paris pela primeira vez, em
1923, o pianista Arthur Rubinstein apresentou-o ao editor
Max Eschig, que, posteriormente, publicou e divulgou a
obra do compositor brasileiro na Europa. No processo
de edição, os manuscritos entregues por Villa-Lobos
continham algumas informações (em português) que os
editores ignoraram.
Em obras polifônicas, Villa-Lobos utilizava a notação
proporcional: o uso de diferentes tamanhos de notas para
ajudar a visualizar a textura com mais clareza. Na obra
editada, digitações importantes não foram especificadas,
há andamentos e marcas de expressão que divergem do
original e sinais de repetição não aparecem em alguns
trechos, além de seções serem simplesmente omitidas.
Vamos aos compassos iniciais do Prelúdio Nº I (trecho com
apenas a linha melódica nas cordas graves):
Compasso 15 Compasso 27
Harmônico do compasso 43
No compasso 43 (exemplo A), há uma nota Mi na primeira
linha, em harmônico com o número zero (0), o que não
deixa clara a altura que o compositor desejava, pois não é
uma notação correta e dá margem a outras possibilidades.
Provavelmente, esse é um dos casos em que o compositor
VIOLÃO+ • 63
como estudar
escreveu da maneira correta, mas publicaram outra coisa,
completamente equivocada. No exemplo B temos a escrita
correta.
Exemplo A Exemplo B
www.teclaseafins.com.br
Teclas & Afins é compatível com
& AFINS
Exercícios
Vamos aos novos exercícios, que devem ser incorporados
aos já dados e conhecidos por vocês.
VIOLÃO+ • 65
iniciantes
Mão esquerda
Trabalharemos com a posição da mão oblíqua em relação
ao braço do violão. Peço que toquem lentamente. A
velocidade só deve ser aumentada gradativamente e
depois da conquista de sons limpos. A cada conquista,
uma nova velocidade. Iniciaremos este exercício tocando
com o dedo 1 na casa 1 da corda 6, o 2 na casa 2 da
corda 5, o 3 na casa 3 da corda 4 e o dedo 4 na casa 4 da
corda 3. Depois, iniciaremos uma descida, partindo com
o dedo 1 na casa 1 da corda 5 e prosseguindo até o dedo
4 tocar a casa 4 da corda 2. Seguiremos descendo do
mesmo modo, agora partindo com o dedo 1 na casa 1 da
corda 4 até o dedo 5 chegar na casa 4 da corda 1. Então,
vamos inverter a posição da mão e do braço, iniciando a
subida com o dedo na 1 na casa 1 da corda 1, o 2 na casa
2 da corda 2, o 3 na casa 3 da corda 3 e o 4 na casa 4 da
corda 4. Vamos subir com o dedo 1 iniciando na casa 1 da
corda 2 (na subida seguinte, iniciará na corda 3). Quando
o dedo atingir a corda 6, devemos fazer um salto, uma
casa para frente – para a casa 5 dessa mesma corda – e
iniciar a descida ao contrário da primeira que fizemos, ou
seja, agora será do dedo 4 ao dedo 1. Sugiro iniciar com o
metrônomo a 60, igual a uma nota por batida. Aos poucos,
aumente para 64, 68, de quatro em quatro ou conforme o
seu metrônomo disponibilizar (alguns vêm com presets de
andamento). Quando Técnica Para
chegar a 120, Mão
volte para Esquerda
60 e toque
duas notas a cada batida. Assistam ao vídeo!
Movimemento oblíquo ao braço do instrumento; Manter os dedos presos o maior
tempo possível, procurando sempre o relaxamento; Tocar o mais rápido possível.
Movimento oblíquo ao braço do instrumento. Manter os dedos presos o
maior tempo possível, procurando sempre o relaxamento.
4 1
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6 5 2
Acordes
Vamos aprender alguns acordes com quatro dedos? Vou
apresentar uma sequência de acordes para executarmos
junto com a batida samba-canção/bossa (veja a Edição 6
de Violão+), com progressão II – V – I.
Aprenderemos alguns formatos de acordes maiores com
sétima menor e nona, maiores com sétima e maiores com
sétima maior e nona – e também alguns menores com
sétima. A descrição da montagem de cada acorde pode
ser escutada no vídeo. Vamos exercitar?
VIOLÃO+ • 67
iniciantes
Melodia
Que tal aprender a tocar a melodia de uma nova canção?
Escolhi a música “Love Me Tender”. Primeiro, vamos tocar
a melodia. Se tiverem dificuldade para achar as notas,
vejam a escala da primeira posição do braço do violão
(veja a Edição 3 de Violão+). Lembro que a melodia deve
ser tocada com os dedos I e M (indicador e médio) da
mão direita, e os baixos com o P (polegar).
Desafio
Agora, um desafio! O primeiro leitor que conseguir tocar
colocando os baixos vai ganhar um presente. Como fazer
para colocar os baixos? Veja a letra que denomina cada
acorde e procure a nota correspondente. Exemplo: C (Dó
Maior) – fazemos o baixo na nota dó tocada na corda 5,
casa 3. Todos os baixos devem estar entre as cordas 4, 5
e 6 e pertencerem ao mapa de notas da primeira posição.
Enviem o resultado por vídeo!
68 • VIOLÃO+
iniciantes
LOVE Me
“Love ME TENDER
Tender”
LOVE ME TENDER
Composer: Ken
KenDarby
Darby
LOVE
LOVE ME
ME TENDER
TENDER Recorder:
Composer:Elvis
KenPresley
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C D 7 G 7 CRecorder: Elvis Presley
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Composer: Ken Darby
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Recorder: Elvis Presley
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Love me ten - der love me long take me to your heart
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VIOLÃO+ • 69
academia Por João Kouyoumdjian
Embora não haja resposta para essa utilizado por Bach ao transcrever do violino
pergunta, poderíamos elaborar uma tese para o clavicórdio, ele provavelmente não
comparando, por exemplo, as partituras alteraria muito do original.
originais das suítes sem acompanhamento No entanto, discutir teses que estariam
para cello com as transcrições para alaúde. próximas a responder a recorrente questão
Em linhas gerais, essa tese nos diria que, “o que Bach faria?” não é o propósito deste
diferentemente do processo de adaptação artigo. O objetivo aqui é explorar uma
70 • VIOLÃO+
academia
maneira original, criativa e criteriosa de acompanhamento de Bach. No entanto,
abordar a música sem acompanhamento apenas recentemente desenvolvi uma
de Bach. Nas últimas décadas, observamos abordagem original o suficiente para
grande variedade de versões das suítes compartilhar por meio de gravações ,
para cello e sonatas para violino sem palestras e artigos. Tal abordagem, assim
acompanhamento, todas apresentando como as já citadas, é também criativa, mas
interessantes propostas. Uma vertente de maneira diferente: objetiva realçar, por
realiza versões que preservam a meio da escolha de certo tipo de digitação,
individualidade de cada arranjador, porém a beleza de cada linha melódica e suas
dentro do estilo Barroco. Um exemplo subdivisões polifônicas, assim como
recente dessa tendência foi a publicação descritas pelo teórico da música de J. S.
do arranjo da Suíte No. 1 para Cello, Bach, Dr. Philip Lasser (n. 1963), em seu
por Manuel Barrueco (n. 1952). Em seu livro The Spiraling Tapestry: An Inquiry into
arranjo, observamos baixos adicionados, the Contrapuntal Fabric of Music (Rassel
ornamentações diversas e acordes Editions, New York) .
retrabalhados, sendo tais alterações Esse célebre compositor americano e
atentas ao estilo barroco. professor doutor da The Juilliard School
Outro exemplo é a impressionante versão (Nova York), apresenta um modo peculiar
dessa mesma obra apresentada pelo de repensar texturas polifônicas. Uma das
violonista, cellista e musicólogo alemão, fundações de seu pensamento é o conceito
Tilman Hoppstock (n. 1961). Uma das de vozes contrapontísticas (VCs ), que são
grandes referências na pesquisa e subdivisões de uma linha melódica cujas
performance da música barroca no violão, notas são distantes apenas por graus
Hoppstock expande a prática de arranjar conjuntos. Assim sendo, um salto entre
dentro do estilo da obra, revestindo duas notas (podendo ser tão curto quanto
a partitura original também com novo o de uma terça menor) é reinterpretado
contraponto de sua autoria, mas sensível como o término de uma VC e o início de
ao estilo de Bach. Ainda quanto à Suíte outra. Dessa maneira, quando duas notas
No. 1 para Cello, lembramos também o estiverem distantes para além de grau
arranjo feito pelo compositor, violonista conjunto, em vez de dizermos que existe
e escritor britânico, John Duarte (1919- um “salto” entre elas, diremos que há uma
2004). Embora existam críticas quanto à “lacuna” entre duas vozes contrapontísticas.
fidelidade desse arranjo ao estilo barroco, A fim de exemplificar essa teoria, vamos
o resultado é bastante idiomático. analisar o excerto abaixo (publicado no livro
Durante muitos anos, apresentei em de Dr. Lasser), que apresenta o primeiro
concertos transcrições de autoria tema do primeiro movimento da Sinfonia
própria de obras para cello e violino sem Inacabada D. 759, de Franz Schubert:
VIOLÃO+ • 71
academia
Notamos um único sistema e apenas considerarmos a teoria aqui exposta, esta
uma linha melódica. No entanto, se é a análise a que chegamos:
Nesse exemplo, podemos revelar três coloca a última nota da primeira VC (Sol)
vozes contrapontísticas no registro e a primeira e única nota da segunda
agudo, delimitadas por retângulos pretos. VC (Mi) na mesma corda, o que liquida
A digitação em azul indica cada VC em as possibilidades de sobreposição entre
uma corda diferente, tornando possível a essas duas camadas melódicas.
breve e sutil sobreposição entre o término Vejamos mais um caso (também extraído
de uma e o início da seguinte, o que do primeiro movimento da Suíte No. 1
resulta em uma versão mais ressonante, para Cello, de Bach) de como digitar
idiomática e polifônica da passagem. passagens respeitando o conceito de
A digitação em verde, por outro lado, vozes contrapontísticas,
72 • VIOLÃO+
academia
João Kouyoumdjian
Violonista, bacharel em Música pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Violão pela The Juilliard
School (Nova York). Está radicado nos EUA desde 2007, onde integra o corpo docente de violão e teoria da
Newark School of the Arts, em New Jersey. Estudioso da música de Bach, em 2015 lançou nos EUA o disco
“Kouyoumdjian Plays Bach: New Transcriptions for Guitar” (Pomegranate Music).
Para saber mais acesse www.jkguitar.info
VIOLÃO+ • 73
coda
Ponta-direita,
ponta-esquerda,
Luis Stelzer
meio-de-campo... eu
não sou laranja, não!
Tenho um grande amigo, o Paulo de Tarso, um dos melhores. Nem sempre
estamos juntos, o que é uma pena. Nos damos muito bem. Em várias épocas de
nossas vidas, estivemos bem próximos, ou porque estávamos tocando juntos,
ou estudando na mesma classe da faculdade de música, ou lecionando nas
mesmas escolas. Sempre bagunçando, sempre com bom humor.
Hoje, a vida e seus afazeres nos deixam graça para quem estava querendo
um pouco mais distantes. Quando nos dormir. Isso tirava também o nosso
encontramos, é uma festa, especialmente sono. Além do mais, também parecia
quando nos juntamos com a Norma e o que tínhamos o famoso “imã para atrair
com o Nelson. Aí, a farra está garantida! loucos”, aquelas criaturas da noite que
Essa passagem que deliram em voz alta
vou contar foi só com pelas ruas. Certa
o Paulo, na época em Filó Machado é um grande vez, pegamos um
que lecionávamos na músico da noite de São ônibus noturno para
Faculdade de Música chegarmos à casa
Santa Cecília, em
Paulo, violonista, cantor do Paulo, e sobe
Pindamonhangaba, e compositor de primeira. nele um cidadão,
interior de São Paulo.
Quando voltávamos
A cena, por si só, já era que começa a cantar
“Marcas do que se
de lá, chegávamos inacreditável... foi” batucando na
muito tarde e, muitas lataria do veículo e,
vezes, andávamos pela madrugada para ainda por cima, explicando cada frase
que o sono chegasse, pois vínhamos da música. Hilário.
rindo muito no ônibus até São Paulo, Voltando à cena que pretendo contar,
contando piadas velhas e inventando estávamos próximos ao apartamento
outras, provavelmente sem a menor do Paulo, andando calmamente pela
74 • VIOLÃO+
coda
rua, quando fomos abordados por um laranja, não! Oh, Filó Machado, Filó
jovem, que parecia realmente estar em Machado, oh!”. À vezes, acrescentava-
outro mundo. Ela falava mais ou menos se um “Boca da Noite”, provavelmente
assim: “ponta-direita, ponta-esquerda, referência a uma famosa casa de shows
meio-de-campo, eu não sou laranja, não! da noite paulistana.
Oh, Filó Machado, Filó Machado, oh!” Ficamos uns dez minutos, tentando
Fazendo uma mímica, como se estivesse desenrolar o novelo, ver se saía mais
tocando violão. A referencia é excelente, alguma coisa dali. Só isso, repetido
na verdade: Filó Machado é um grande como um mantra. Mais nada. Desistimos,
músico da noite de São Paulo, violonista, fomos embora.
cantor e compositor de primeira. Conversando sobre o por que de termos
A cena, por si só, já era inacreditável. sido “escolhidos” pelo garoto para a
Embora não tenha nada de engraçado inusitada conversa, comentamos: é
na loucura, esse rapaz provocou, porque estamos com nossos violões, daí
imediatamente, uma grande curiosidade, ele veio falar do Filó Machado. Fez todo
tanto em mim, como no Paulo. Decidimos o sentido. Exceto por uma coisa: não
ficar e ver onde esse papo iria chegar, estávamos com nossos violões! Ele nos
até onde se desenvolveria. Tentamos escolheu sem saber que tocávamos, pra
conversar com ele. Em vão. Repetia- falar de um violonista, misturando tudo
se o bordão: “ponta-direita, ponta- com futebol e outras coisas, ao mesmo
esquerda, meio-de-campo, eu não sou tempo. Cada uma, viu?...
VIOLÃO+ • 75