Controle de Formigas Cortadeiras: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
Controle de Formigas Cortadeiras: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
Controle de Formigas Cortadeiras: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
CONTROLE DE
FORMIGAS
CORTADEIRAS
“O SENAR-AR/SP está permanentemente
empenhado no aprimoramento profissional e
na promoção social, destacando-se a saúde
do produtor e do trabalhador rural.”
FÁBIO MEIRELLES
Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP
FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Gestão 2020-2024
JAIR KACZINSKI
Gerente Técnico
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
CONTROLE DE FORMIGAS
CORTADEIRAS
SUPERVISÃO GERAL
Teodoro Miranda Neto
Chefe da Divisão de Formação Profissional Rural do SENAR-AR/SP
RESPONSÁVEL TÉCNICO
Marco Antonio de Oliveira
Técnico da Divisão de Formação Profissional Rural do SENAR-AR/SP
AUTORES
Odair Correa Bueno
Mestre Doutor em Biologia - Zoologia
Fabiana Correa Bueno
Mestre Doutor em Biologia - Zoologia
Sandra Verza da Silva
Mestre Doutor em Biologia - Zoologia
REVISÃO DO TEXTO
André Pomorski Lorente
DIAGRAMAÇÃO
Thais Junqueira Franco
Diagramadora do SENAR-AR/SP
Direitos Autorais: é proibida a reprodução total ou parcial desta cartilha, e por qualquer processo, sem a expressa
e prévia autorização do SENAR-AR/SP.
Material impresso no SENAR-AR/SP
Introdução.......................................................................................................................9
Bibliografia.................................................................................................................. 56
O
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR-AR/SP, criado em 23
de dezembro de 1991, pela Lei n° 8.315, e regulamentado em 10 de junho de 1992,
como Entidade de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, teve
a Administração Regional do Estado de São Paulo criada em 21 de maio de 1993.
Acreditamos que esta cartilha, além de ser um recurso de fundamental importância para os
trabalhadores e produtores, será também, sem sombra de dúvida, um importante instrumento
para o sucesso da aprendizagem a que se propõe esta Instituição.
Entre as formigas, encontra-se o grupo das cortadeiras, que diferem das demais pelo fato
de produzirem seu próprio alimento. Ao contrário do que muitos acreditam, as formigas
cortadeiras não se alimentam das folhas que cortam, mas utilizam esse material para o
cultivo de um jardim de fungo, que serve de alimento para toda a colônia.
A sociedade das formigas é formada por indivíduos permanentes e temporários (Figura 1).
INDIVÍDUOS TEMPORÁRIOS
BITU IÇÁ
ATENÇÃO!!!
No grupo das saúvas só existe uma rainha para cada formigueiro, mas
em alguns grupos de quenquéns pode haver mais de uma rainha por
colônia.
OVO
7 dias
(50 a 120 dias)
ADULTO LARVA
25 dias
20 dias
PUPA
Durante o ano todo e por toda a sua vida, a rainha produz ovos que dão origem a operárias
e, apenas em uma época do ano, produz ovos que originam os bitus e as içás (Figura 3).
Jardineira nutridora
Generalista
largura da cabeça 0,8 - 1,2 mm
1,3 - 2,1 mm
Cortadeiras escavadoras
2,2 - 2,9 mm
Soldados
>3,0 mm
A reprodução nas formigas cortadeiras inicia-se com o vôo nupcial ou revoada, caracterizado
pela liberação de grande quantidade de bitus e içás que saem para o vôo e se acasalam no
ar (Figura 4). A revoada ocorre depois de um período de chuvas, em dias claros, quentes e
úmidos, sendo que a época varia de acordo com a região do Brasil. Na região Sudeste, ocorre
durante o período de setembro a dezembro. Na região Sul, ocorre entre junho a dezembro
e, na região litorânea da Bahia, ocorre em abril.
A revoada é a única oportunidade que as fêmeas têm para se acasalar. Por este motivo, elas
copulam com vários machos e armazenam os espermatozóides em um órgão no interior do
abdômen, chamado espermateca. A partir desse momento, a nova rainha produzirá milhares
de formigas durante toda a vida do formigueiro.
Um dia após o início da escavação do ninho, a nova rainha regurgita a porção do fungo que
trouxe do formigueiro de origem, cultivando-o com suas próprias fezes e secreções. Nesse
momento, todas as atividades dependem da rainha, a postura dos ovos, os cuidados com
a cria, o cultivo do fungo e os cuidados com ela mesma.
As primeiras operárias adultas que surgem são muito pequenas e desempenham todas
as tarefas, até que nasçam as operárias maiores, especializadas nas diversas tarefas. O
tempo até o surgimento das primeiras operárias varia entre as espécies, mas é de 60 a 90
dias após a revoada.
Somente após 80 a 100 dias da fundação da colônia, as primeiras operárias retiram a terra
que estava fechando o olheiro e saem para o exterior, onde dão início ao corte de plantas
e também à organização e construção do novo ninho. O segundo olheiro é aberto em 17
meses e, após esse período, a colônia cresce rapidamente (Figura 6).
Cópula
Canal
Câmara 1
Ninho maduro com
mais de 3 meses
Rainha regurgita
o fungo
Câmara 1
Câmara 2 Câmara 1
Câmara 3
Câmara 2
Câmara 4
Abertura do 2º Abertura do 1º
Ninho com 8 meses
olheiro em 17 meses olheiro em 3 meses
Um ninho maduro de formigas cortadeiras é constituído por câmaras, que podem ser de 3
tipos: câmaras de fungo, onde são mantidos os jardins de fungo, câmaras de lixo, destinadas
ao depósito de formigas mortas, folhas e fungos velhos e, câmaras de terra, que possuem
terra solta em seu interior. Os canais interligam as câmaras entre si e com as aberturas
externas, denominadas de olheiros. Os olheiros de forrageamento são por onde as operárias
entram com as folhas cortadas, e olheiros de terra, por onde as operárias retiram a terra
que escavaram (Figura 7).
As formigas cortadeiras não se alimentam das folhas que cortam. Elas utilizam as folhas
para manter um jardim de fungo (Figura 8), que é a principal fonte alimentar da colônia. As
operárias adultas também se alimentam da seiva vegetal que é ingerida no momento do
corte das plantas, mas as larvas e a rainha alimentam-se exclusivamente do fungo (Figura 9).
Embora cortem diversos tipos de vegetais, essas formigas são capazes de selecionar as
plantas mais adequadas para o cultivo do fungo e é por isso que, em certas épocas do ano,
algumas espécies de plantas são mais atacadas que outras.
ALIMENTAÇÃO PRINCIPAL
cortam crescimento
FORMIGAS PLANTAS JARDIM DE FUNGO
ALIMENTAÇÃO DIRETA
seiva vegetal
Forma externa do ninho: Os ninhos de saúva apresentam grande quantidade de terra solta,
enquanto os ninhos de quenquém são formados por pequenas quantidades de terra solta
ou por montes de folhas e gravetos (Figura 11).
Ninho de Saúva Ninho de Quenquém
Saúva Quenquém
- Ninhos grandes (maiores que 50 m2) - Ninhos pequenos (menores que 5 m2)
Quatro espécies de saúvas ocorrem no Estado de São Paulo e elas podem ser divididas
em dois grupos: as que cortam plantas de folhas largas (dicotiledôneas) e as que cortam
plantas de folhas estreitas (monocotiledôneas).
Ninho: O monte de terra possui ondulações e é irregular, sendo formado pelo acúmulo de
terra de tamanhos diferentes. As aberturas dos olheiros na superfície parecem pequenos
vulcões (Figura 12).
Soldados: A cabeça e o corpo apresentam poucos pêlos e não têm brilho. A maneira mais
fácil de reconhecer essa formiga é pegar uma delas e espremer a cabeça entre os dedos;
sentir-se-á um forte cheiro de limão (Figura 13).
Plantas que cortam: Preferem as plantas de folhas largas, como citros, eucaliptos e as
frutíferas.
Atta laevigata
Ninho: O monte de terra solta é arredondado, com a superfície lisa e os olheiros se abrindo
sobre o monte (Figura 14).
Soldados: A cabeça é sem pêlos e muito brilhante, como se fosse envernizada (Figura 15).
Plantas que cortam: Tanto plantas de folhas largas como de folhas estreitas, como cana-
de-açúcar, milho e pastagem.
Atta bisphaerica
Ninho: O monte de terra solta é uniforme e pouco arredondado, sendo espalhado pelo solo.
Os olheiros abrem-se diretamente no nível da terra solta (Figura 16).
Soldados: A cabeça tem um grande sulco, formando duas protuberâncias laterais (Figura 17).
Atta capiguara
Ninho: O monte de terra solta possui muitas ondulações e pequenos montes ao redor do
monte maior, porém não é muito alto e é muito esparramado (Figura 18).
Soldados: A cabeça apresenta escultura grosseira e sua coloração é parda e opaca (Figura
19).
Plantas que cortam: Plantas de folhas estreitas, como cana-de-açúcar, pastagem e milho.
Acromyrmex rugosus
Ninho: O monte de terra solta parece uma pequena cratera em forma de meia lua e o orifício
do ninho é irregular (Figura 20). Esta espécie geralmente constrói seu ninho subterrâneo em
espaços entre pedras, troncos de árvores e alicerces da construção civil.
Plantas que cortam: Plantas de folhas largas, como citros, eucaliptos e plantas cultivadas
em geral.
A B
Acromyrmex subterraneus
Plantas que cortam: Preferem plantas de folhas largas, como citros e eucalipto.
Acromyrmex crassispinus
Operárias Maiores: Cabeça pouco alargada e com saliências bem definidas, são foscas e
apresentam coloração castanho-escura ou negra (Figura 25).
Plantas que cortam: Plantas de folhas largas, como eucalipto e plantas cultivadas. Porém,
geralmente constroem seus ninhos na área de gramíneas.
Acromyrmex balzani
Ninho: É constituído por uma torre de fragmentos de palha e outros pedaços de vegetais
na superfície do solo. Além disso, possui um pequeno monte de terra solta distante
aproximadamente 50 cm do olheiro (Figura 26).
Plantas que cortam: Plantas de folhas estreitas, como gramíneas de pastagem, arroz e milho.
ATENÇÃO!!!
O controle cultural pode ser realizado através de métodos de aração e gradagem do solo
para formigueiros com até 4 meses de idade, pois, nesta fase, a única câmara da colônia
ainda está localizada a aproximadamente 25 centímetros de profundidade do solo e há
grande chance das lâminas do equipamento atingirem a rainha e matá-la. Entretanto, para
formigueiros adultos, o efeito pode ser prejudicial, uma vez que a mecanização do solo pode
desestruturar parcialmente a colônia, interrompendo temporariamente sua atividade, dando
a falsa impressão de que foi controlada e dificultando sua localização.
Outro método de controle cultural que tem sido empregado é o uso de culturas armadilhas
na borda da cultura principal. Estas plantas armadilhas podem ser atrativas ou provocarem
efeito tóxico ou repelente para as formigas cortadeiras, desviando-as da cultura principal
por algum tempo.
SALSINHA HORTELÃ
Localização
da rainha
O uso de barreiras para proteger a copa das plantas é um método de controle muito antigo e
um dos mais utilizados em pomares para se evitar o ataque das formigas. As barreiras mais
utilizadas são cones plásticos invertidos e tiras plásticas cobertas com graxa ou vaselina,
colocados nos troncos das árvores. Outro exemplo é o uso de recipientes contendo água e
detergente ao redor das plantas.
É um método eficiente, porém, vistorias e reparos constantes devem ser feitos para que a
proteção das árvores seja prolongada.
FOTOS
ATENÇÃO!!!
As iscas são constituídas por polpa cítrica desidratada misturada a um formicida, sendo
prensadas na forma de pellets. Os pellets são distribuídos próximos às trilhas de forrageamento
das formigas e, uma vez localizados, são transportados para o interior do ninho.
Os formicidas pós são formulados em veículos sólidos, como talco, para serem aplicados
com equipamentos manuais denominados de polvilhadeiras. A morte das formigas ocorre
Existem roupas e equipamentos específicos para o aplicador de agrotóxicos, que têm por
finalidade evitar o contato direto com o produto durante a aplicação.
a) proteção da pele - usar luvas, chapéu de abas largas e avental impermeáveis, camisa
com mangas longas e calça;
d) proteção quanto à inalação do produto - máscaras com filtros específicos, para a aplicação
de agrotóxicos.
ATENÇÃO!!!
Ao final de cada dia de trabalho, as roupas de proteção (E.P.I.) devem ser lavadas, de acordo
com as recomendações do fabricante.
ATENÇÃO!!!
a) no preparo de calda, onde os produtos são mais concentrados, além dos E.P.I. básicos,
use avental impermeável;
d) na colocação da roupa e E.P.I. obedecer a seguinte ordem: calça, camisa, luvas, botas,
máscaras, óculos, capuz;
1. lave as luvas com sabão e água e seque com papel toalha ou pano, para remover o
excesso de contaminação;
2. retire os E.P.I. e roupa na seguinte ordem: capuz, óculos, máscaras, camisa, bota,
calça, luvas.
Ainda usando as luvas, coloque a roupa no local para lavagem e guarde cada equipamento
em sacos separados: luvas, máscara, óculos, botas.
ATENÇÃO!!!
Para retirar as luvas, puxe as pontas dos dedos das duas mãos até
folgar bem as luvas. Vá soltando até as luvas ficarem quase fora das
mãos. Em seguida retire a luva de uma das mãos e segure pela boca
do cano, acabe de retirar a luva da outra mão segurando pelo cano
junto com a que foi retirada da outra mão. Guarde as luvas em um saco
separado dos demais equipamentos.
O uso correto dos métodos químicos no controle de formigas cortadeiras pode reduzir muito
os riscos para o homem e, ainda, diminuir os efeitos maléficos ao meio ambiente (Tabela 4).
Tabela 4: Uso correto dos métodos e produtos químicos no controle de formigas cortadeiras.
Os EPIs devem ser usados de acordo com as recomendações feitas para cada metodologia
de aplicação. As responsabilidades podem ser distribuídas das seguintes formas:
ATENÇÃO!!!
Riscos
Formulação Impacto ao ambiente
Ao aplicador Outros animais
Uma vez observados os danos causados por formigas cortadeiras, é importante encontrar
o ninho, pois algumas quenquéns não formam monte de terra.
ATENÇÃO!!!
comprimento
Maior comprimento (m) X Maior largura (m) = Área de terra solta (m2)
10m X 6m = 60m2
ATENÇÃO!!!
Para Atta capiguara (saúva parda), o cálculo da área de terra solta deve
incluir, além do monte de terra solta, as rosetas e os discos existentes
ao seu redor.
comprimento
largura
EXEMPLO: Os fabricantes recomendam aplicar 10g de isca para cada 1 m2 de terra solta.
Para um sauveiro com 60 m2 de terra solta devem-se aplicar 600g de isca.
Área de terra solta (m2) X Quantidade de isca (g/m2) = Quantidade de isca a ser
aplicada (g)
ATENÇÃO!!!
ATENÇÃO!!!
Calça e camisa
(mangas longas)
Luvas de PVC
Botas
ATENÇÃO!!!
3.10. Verifique se toda a isca foi carregada (volte ao local no dia seguinte). Se houver
sobra de isca, recolha-a e armazene na área especial da propriedade.
Retorne ao local após uma semana da aplicação da isca para verificar a atividade do
formigueiro.
ATENÇÃO!!!
4-4 faça uma limpeza ao redor dos olheiros, retirando folhas e ramos, de forma a minimizar
o risco de fogo.
Capuz
Óculos
Protetor de ouvido
Máscara
Luvas de nitrila ou couro
Macacão de pernas e
mangas longas
Botas
ATENÇÃO!!!
Para sauveiros com área de terra solta de até 50m2, aplique em 2 ou 3 olheiros de
forrageamento ativos, em pontos extremos do ninho. Em sauveiros maiores, aplique em 4
ou mais olheiros.
Para Atta capiguara (saúva parda) selecione os olheiros de forrageamento que se encontram
fora do monte de terra solta e, para as demais formigas, selecione os olheiros sobre o monte
de terra solta.
ATENÇÃO!!!
5.3. Remova a terra solta dos olheiros no dia anterior à aplicação do pó.
Protetor de ouvido
Máscara
Luvas de nitrila ou couro
Macacão de pernas e
mangas longas
Botas
5.13. Se houver sobra de produto, aplique em outro olheiro, até esvaziar a polvilhadeira.
ALERTA ECOLÓGICO!!!
ATENÇÃO!!!
1. ANJOS, N.; DELLA LUCIA, T. M. C.; MAYHÉ-NUNES, A. J. Guia prático sobre formi-
gas cortadeiras em reflorestamentos. Ponte Nova: Graff Cor, 1998. 97p.
5. JUSTI Jr., J.; IMENES, S. L.; BERGMANN, E. C.; CAMPOS-FARINHA, A. E. C.; ZOR-
ZENON, F. J. Formigas Cortadeiras. Boletim técnico do Instituto Biológico, n.4, 1996.
31p.