Escala de Vulnerabilidade Ao Stresse

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INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA

Escola Superior de Altos Estudos

RELAÇÃO ENTRE VULNERABILIDADE AO STRESS E


ESTRATÉGIAS DE COPING

Estudo de caso numa empresa de venda a retalho

da Região Centro do País

Anabela Carvalho Tomás

Dissertação de Mestrado em Gestão de Recursos Humanos e


Comportamento Organizacional

Coimbra

Setembro de 2012
RELAÇÃO ENTRE VULNERABILIDADE AO STRESS E
ESTRATÉGIAS DE COPING

Estudo de caso numa empresa de venda a retalho

da Região Centro do País

Anabela Carvalho Tomás

Dissertação Apresentada ao ISMT para Obtenção do Grau de


Mestre em Gestão de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional

Orientador: Professor Doutor Vasco Almeida

Coimbra

Setembro de 2012
Agradecimentos

Ao Dr. Vasco Almeida pela compreensão e orientação ao longo deste trabalho.

Aos meus pais e à minha irmã pelo carinho e apoio ao longo destes anos.

Às minhas amigas pelos momentos que compartilhamos.

ii
Resumo

As situações indutoras de stress são uma constante imutável no dia-a-dia do ser humano
e quando esta perturbação não é gerida de forma adequada, acarreta graves prejuízos na saúde
dos indivíduos refletindo-se em diversas áreas das suas vidas nomeadamente no trabalho.
O presente estudo tem como finalidade identificar a relação entre o stress e as estratégias
de coping e perceber se os indivíduos com vulnerabilidade ao stress diferem dos indivíduos
sem stress no que concerne às estratégias de coping utilizadas.
A vulnerabilidade ao stress foi medida pela escala 23QVS, enquanto as estratégias de
coping foram avaliadas pelo Inventário de Resolução de Problemas (IRP), tendo sido, ainda,
utilizado um questionário sociodemográfico. A amostra foi composta por 62 trabalhadores de
uma empresa de venda a retalho com idades compreendidas entre os 20 e os 44 anos
(M=32,02 DP=5,770).
Os resultados obtidos revelaram que a vulnerabilidade ao stress se correlaciona de forma
negativa e altamente significativa com as estratégias de coping e que indivíduos com e sem
vulnerabilidade ao stress não diferem quanto ao uso destas estratégias.
Palavras-chave: Stress, coping, empresa de venda a retalho, colaboradores

Abstract
The stress-induction situations are a constant unchanging in human being life, and if this
disturbance is not managed adequately can be harmful to the health of individuals and
reflected in many areas of their lives including their work.
The present study aims to analyze the relationship between stress and coping strategies,
and understand if individuals with stress vulnerability differs from individuals without stress
in respect to the use of coping strategies.
Stress vulnerability was measured by the 23QVS scale and coping strategies by the
Inventário de Resolução de Problemas – IRP (Inventory of Problem Solving), and we also
used a sociodemographic questionnaire. The sample consisted of 62 workers of a retailing
company with ages between 20 and 40 years old (M = 32,02; DP = 5,770).
Our research studies reveal that stress vulnerability correlates negatively and highly with
coping strategies, and individuals with and without stress vulnerability not differ in the use of
these strategies.
Key-words: Stress, coping, co-workers, retailing company

iii
Índice
Introdução ................................................................................................................................................................................... 5

I. Enquadramento conceptual......................................................................................................................................... 6

1. Vulnerabilidade............................................................................................................................................................... 6

2. Stress: desenvolvimento histórico e definição ................................................................................................ 7

2.1. Fatores indutores de stress ............................................................................................................................. 8

3. Coping: desenvolvimento histórico e definição.............................................................................................. 9

3.1. Estratégias de coping.......................................................................................................................................... 9

4. Modelo transacional de stress e coping............................................................................................................ 11

II. Objetivos ............................................................................................................................................................................. 12

III. Metodologia....................................................................................................................................................................... 15

1. Caracterização da amostra ..................................................................................................................................... 15

2. Instrumentos ................................................................................................................................................................. 17

3. Procedimentos de Investigação........................................................................................................................... 20

3.1.Recolha de dados ................................................................................................................................................. 20

3.2 Procedimentos estatísticos .......................................................................................................................... 21

IV. Resultados .......................................................................................................................................................................... 21

V. Discussão ............................................................................................................................................................................ 26

VI. Conclusão ........................................................................................................................................................................... 27

Bibliografia ............................................................................................................................................................................... 29

Apêndices .................................................................................................................................................................................. 32

iv
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Introdução
Numa conjuntura de crise financeira e de acérrima concorrência, o capital humano
representa um dos principais fatores que mais contribuem para a criação de valor
organizacional. Em empresas de venda a retalho, em que a interação entre colaboradores e
clientes é uma necessidade imutável, torna-se imprescindível que os recursos humanos
estejam disponíveis para atender a qualquer solicitação, e que se revelem capazes de
satisfazer o cliente propiciando uma imagem positiva da empresa para o exterior. Assim,
trabalhar com pessoas stressadas pode fazer a diferença quanto ao sucesso ou insucesso de
uma organização, já que o estado de saúde encontra-se diretamente relacionado com o
comportamento das pessoas. Vaz Serra (2000b), afirma que o stress pode motivar a
diminuição do rendimento pessoal do indivíduo ou revelar comportamentos e atitudes sem
lógica aparente.
Deste modo, para que um acontecimento indutor de stress não desencadeie um estado de
tensão e desequilíbrio que se perpetue no tempo, é fundamental que se faça um uso adequado
das estratégias de coping, de modo a reduzir a perturbação sentida a nível físico, emocional
ou psicológico, e assim se possa evitar que haja prejuízo para a saúde. Revela-se, então,
importante que as pessoas saibam utilizar e aplicar as estratégias de coping em diferentes
circunstâncias, já que o seu uso adequado tem a capacidade de reduzir de imediato a
perturbação sentida.
Atendendo à necessidade de melhor compreender e lidar com o stress, o objetivo desta
investigação recaiu sobre o estudo da relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de
coping. Neste sentido, pressupõe-se que a diminuição da vulnerabilidade ao stress esteja
relacionada com o uso das estratégias de coping. Pretende-se ainda, explorar a influência de
algumas variáveis sociodemográficas nestes dois constructos. Na verdade, de acordo com o
que refere Vaz Serra (2000b), o stress é uma área de investigação que, do ponto de vista
científico, se tem tornado extraordinariamente fecunda e que ajuda a compreender o limite
entre o normal e o patológico, e a interligação entre o biológico, o psicológico e o social.
A componente empírica desta investigação foi realizada a partir dos dados recolhidos
numa empresa de venda a retalho, da Região Centro de Portugal.
Este estudo comtempla duas grandes partes: a primeira relativa à revisão do estado da
arte, apresentando algumas considerações sobre a perspetiva histórica do stress e do coping.
Tentar-se-á perceber se existe uma relação entre estes dois constructos, e ainda, se existem
diferenças no uso das estratégias de coping entre indivíduos com e sem vulnerabilidade ao

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

stress. Num segundo momento, será apresentada a fundamentação do estudo e hipóteses


orientadoras, assim como a metodologia utilizada, os resultados obtidos e a respetiva
discussão. Posteriormente serão referenciadas as conclusões e limitações inerentes, bem
como sugestões para pesquisas futuras.

I. Enquadramento conceptual

1. Vulnerabilidade
O modo como determinado acontecimento é percecionado e encarado é variável de
pessoa para pessoa, e um dos fatores responsável por esta divergência é a vulnerabilidade.
A noção de vulnerabilidade para Vaz Serra (2000a), é estabelecida na ligação singular
que se estabelece entre o indivíduo e determinada circunstância assim, nesta ótica, a situação
representa o elemento objetivo e o indivíduo o elemento subjetivo.
Os investigadores Lazarus e Folkman (1984) definem este conceito como uma relação
que se estabelece entre os compromissos pessoais de cada indivíduo e os seus recursos para
afastar as ameaças que se interpõem na persecução desses mesmos compromissos. Estes
autores referem ainda que as diferenças individuais na vulnerabilidade residem no modo
como cada pessoa pensa e dá sentido a cada experiência, ou seja, é uma consequência das
avaliações dos sujeitos.
De acordo com Lazarus (1993a), a vulnerabilidade está intrinsecamente relacionada com
os fatores de personalidade, nomeadamente, o ego, a inteligência e as habilidades pessoais, e
também, com os fatores sociais, tais como o apoio da família, dos amigos ou as condições
económicas. Por outro lado, Vaz Serra (2000a) refere que a vulnerabilidade é diretamente
influenciada por inúmeros fatores, podendo estes ser de natureza biológica, psicológica ou
social. Por exemplo, de acordo com o autor, quando um indivíduo desenvolve a perceção,
mesmo que errada, de não ter controlo sobre determinada situação passa a sentir-se
vulnerável em relação a essa circunstância.
Para os investigadores Riskind e Alloy (2006), a vulnerabilidade resulta da aprendizagem
social ou de eventos que se demarcaram ao longo do desenvolvimento dos indivíduos,
consequência das cognições interiorizadas após o processamento de experiências stressantes.
O conceito de vulnerabilidade pode, ainda, ser entendido como uma propensão
individual para desenvolver diferentes formas de psicopatologia ou comportamentos
ineficazes ou mesmo propiciar resultados negativos no desenvolvimento (Pesce, Assis,
Santos & Oliveira, 2004).

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

2. Stress: desenvolvimento histórico e definição


A etimologia do termo stress provém do verbo latino stringo e existe na língua inglesa
desde o século XV significando “força”, “constrangimento”. O termo surgiu na área da física,
mais concretamente na mecânica e já no início do século XX o vocábulo passou a ser
utilizado na área da saúde. Presentemente encontra-se amplamente difundido e faz parte da
linguagem quotidiana.
Muitos foram os autores que contribuíram para o conhecimento e desenvolvimento do
conceito de stress. Dadas as limitações de espaço iremos cingir-nos apenas a alguns.
De acordo com a literatura o stress pode ser quantificado em dois tipos: stress positivo ou
eustress, quando apraz uma resposta dinamizadora positiva que é entendida como uma
oportunidade de desenvolvimento pessoal; por sua vez, o stress negativo ou distress
representa situações desgastantes, improdutivas características de uma resposta negativa e
com consequências potencialmente nefastas para a saúde do indivíduo (Vaz Serra, 1999).
Neste estudo, reportar-nos-emos ao termo stress que é definido como sendo avaliado pelo
indivíduo como excedendo os seus recursos, e que constitui um risco para o seu bem-estar.
Os dados bibliográficos indicam que o francês Claude Bernard, no século XIX, foi um
impulsionador do estudo do stress. Este fisiologista analisou as modificações efetuadas pelo
organismo, de forma a manter constante o meio interno, em virtude das alterações do meio
externo (Goldstein & Kopin, 2007). Mais tarde Cannon, deu seguimento aos estudos de
Bernard e considerou o stress como um distúrbio na homeostasia do corpo (Lazarus &
Folkman, 1984).
Já no século XX, Selye (1936) foi um pioneiro na definição do stress, identificando-o
como uma resposta não específica do organismo a qualquer exigência que lhe é feita.
Posteriormente, Lazarus e Folkman (1984) conceptualizam o stress como uma ameaça ao
equilíbrio e estabilidade, física e psicológica do indivíduo. Consideraram, ainda, que a sua
resolução está dependente da combinação das respostas comportamentais aprendidas que se
revelaram eficazes na redução do stress.
Para Vaz Serra (2000b), um indivíduo está em stress quando sente que não consegue
superar determinada circunstância que lhe é relevante, por falta de aptidões e recursos de
cariz pessoal ou social, já que percecionou a situação como estando fora do seu controlo.
Ainda de acordo com o autor, a perceção do indivíduo sobre a sua incapacidade de lidar com
a situação pode coincidir com a realidade ou pode corresponder apenas a uma crença.

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Por fim, à luz das diferentes perspetivas aqui enunciadas podemos concluir que os
sintomas de stress só se revelam perante situações que exijam um esforço acrescido ao sujeito
para lidar com as novas circunstâncias.

2.1. Fatores indutores de stress

Falar de stress implica uma análise aos estímulos que, eventualmente, poderão suscitar
uma reação de stress nos indivíduos. Estes estímulos a que nos referimos são denominados de
fatores indutores de stress ou stressores.
Para os investigadores Lazarus e Folkman (1984), as situações indutoras de stress provêm
de três categorias: ameaça, dano e desafio. A ameaça consiste na antecipação de uma situação
desagradável que ainda não ocorreu, mas que poderá surgir. O dano refere-se a uma condição
desagradável que já sucedeu e às suas consequências. Por último, o desafio caracteriza uma
situação em que o indivíduo acredita que é possível alcançar ou ultrapassar as dificuldades.
Por outro lado, Vaz Serra (1999) considera que os grandes propulsores de stress são sete:
traumas graves, acontecimentos significativos da vida, situações crónicas indutoras de stress,
micro indutores de stress, macro indutores de stress, acontecimentos desejados que não
ocorrem e, por último, traumas ocorridos no estádio de desenvolvimento.
Os acontecimentos traumáticos dizem respeito a circunstâncias dramáticas como
catástrofes naturais ou circunstâncias que tenham impacto na integridade física dos
indivíduos, transtornando-os emocionalmente. Os acontecimentos significativos da vida
correspondem a acontecimentos repentinos da vida do ser humano. São exemplo deste tipo de
acontecimento as situações de divórcio, o falecimento de familiares ou a perda de emprego.
As situações crónicas indutoras de stress equivalem a circunstâncias regulares decorrentes do
desempenho dos sujeitos, no seu papel social e nas suas atividades diárias, tendo um carácter
contínuo (Vaz Serra, 1999).
Os micro indutores de stress envolvem as situações decorrentes do dia-a-dia que, pelas
suas características, se vão tornando perturbadoras. São exemplo deste tipo de circunstância
perder uma chave, circular em lugares com muito trânsito ou mesmo o convívio com vizinhos
incomodativos. Por outro lado, os macro indutores decorrem das condições socioeconómicas
que interferem diretamente na vida dos indivíduos, nomeadamente, impostos demasiado
elevados e períodos de recessão económica (Vaz Serra, 1999).
No que respeita aos acontecimentos desejados que não ocorreram, expressam
acontecimentos ambicionados mas que não se concretizaram, por exemplo, um aumento
salarial prometido mas que ainda não foi concedido, ou uma promoção na carreira que tarda

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

em chegar. Por fim, os traumas ocorridos no estádio de desenvolvimento podem ser fruto de
um abuso sexual ou mesmo da coabitação com progenitores drogados ou alcoólicos (Vaz
Serra, 1999).

3. Coping: desenvolvimento histórico e definição


A palavra coping tem origem anglo-saxónica e não tem tradução direta para o português
embora, apareça constantemente referida na literatura como “lidar” ou “confrontar”. No
geral, este termo está associado aos mecanismos utilizados na resolução das circunstâncias
indutoras de stress. De acordo com Lazarus (1993a), foi mesmo o crescente interesse no
stress que empolgou, nos anos 60, as pesquisas relativamente a este conceito.
Lazarus e Folkman (1984) consideram que o coping é um fator indispensável para lidar
com acontecimentos quotidianos, já que envolve ações que prosseguem fins adaptativos.
Estes investigadores referem, ainda, que qualquer tentativa para lidar com um stressor é
considerada coping, independentemente de ser ou não bem-sucedida. Posteriormente, Lazarus
(1993a) defini-o como um processo que utiliza estratégias emocionais, cognitivas e/ou
comportamentais com o objetivo de reduzir o impacto nocivo do stress na adaptação
psicológica.
Para Latack (1986), o coping é definido como uma resposta a situações classificadas
como incertas e com consequências relevantes para os indivíduos. Seguindo a mesma linha
de pensamento, Vaz Serra (1988) profere que o coping é um termo que se aplica às
estratégias que o indivíduo utiliza, quando tem pela frente situações para as quais não tem
resposta de rotina pronta e que envolvem perigo para a sua integridade física e/ou emocional.
De acordo com Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998) o coping tem vindo a ser
descrito como o conjunto das estratégias usadas pelos indivíduos para se adaptarem a
situações adversas ou stressantes.
Para concluir, segundo Lazarus e Delongis (1983), as pessoas raramente têm uma atitude
passiva perante acontecimentos indutores de stress. Quando têm capacidade procuram mudar
os acontecimentos, no entanto, quando não obtêm a mudança desejada usam o coping
cognitivo para alterar o significado da situação, e assim alcançar um sentimento de bem-estar.

3.1. Estratégias de coping


As estratégias de coping dizem respeito ao tipo de estratégia a que as pessoas recorrem na
resolução dos seus problemas e, de acordo com Latack (1986), estas divergem dependendo da
sua finalidade.

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Para os investigadores Lazarus e Folkman (1984), existem dois tipos principais de


estratégias de coping: o coping focado no problema e o coping focado na emoção. O coping
focado no problema pretende direcionar-se para a resolução direta do problema ou para a
procura de informações estratégicas que visem a solução; por outro lado, o coping focado na
emoção tem como intuito atenuar as emoções negativas associadas ao problema.
De acordo com Lever (2008), o estilo de coping de cada indivíduo é determinado pelos
recursos que cada um possui em termos de energia, saúde física, crenças, compromissos,
capacidade de resolver problemas, habilidades sociais, apoio social e recursos materiais.
As estratégias de coping são, ainda, utilizadas para mediar e/ou moderar a relação entre a
exposição ao stress e os seus efeitos na saúde mental (Braun-Lewensohn, Sagy & Roth,
2011).
Lazarus (1993b), a partir da análise de trabalhos anteriores, resumiu em sete itens os
resultados de maior relevo obtidos no estudo do coping e, consequentemente, das estratégias
de coping. No primeiro ponto, Lazarus (1993b) considera que as pessoas ou recorrem a
estratégias específicas para determinadas situações ou escolhem a estratégia que melhor se
adapta, utilizando o processo de tentativa e erro.
No segundo item, o investigador concluiu que o tipo de coping utilizado depende da
avaliação que é feita pelo sujeito. Se a avaliação é de que “alguma coisa pode ser feita”, então
as estratégias centradas no problema predominam; por outro lado, se a avaliação estima que
“nada pode ser feito”, então predominarão as estratégias centradas nas emoções.
Na terceira reflexão, o autor menciona, apesar de a literatura não ser consonante, que
quando expostos a mesma situação stressante como, por exemplo, relações familiares ou
situações de trabalho, homens e mulheres utilizam estratégias de coping semelhantes.
No quarto ponto, o pesquisador faz alusão a que algumas estratégias de coping são mais
estáveis, sendo recorrente a sua utilização, enquanto outras estão direcionadas apenas para
determinadas circunstâncias. Deste modo, as estratégias que dependem da personalidade do
sujeito, como o “pensar positivamente”, demonstram ser relativamente estáveis; por outro
lado, o fator suporte social é instável, já que se encontra dependente do contexto social.
No quinto ponto consta, que as estratégias de coping mudam consoante se dá a transação
de um acontecimento stressante para outro.
No sexto item é pressuposto que o coping atua como um mediador poderoso de resultados
emocionais.
Por fim, no sétimo ponto o investigador concluiu que a utilidade das estratégias de coping
varia de acordo com o tipo de situação stressante, com o tipo de personalidade do indivíduo

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

em stress e com o resultado esperado. O que é funcional num contexto pode não o ser noutro.
A pesquisa desenvolvida pelos investigadores Roesch, Aldridge, Vickers e Helvig (2009),
aponta no mesmo sentido, já que os resultados obtidos demonstraram que o coping está inter-
relacionado com os traços de personalidade dos indivíduos, isto é, pessoas com traços de
personalidade específicos estão mais orientadas para utilizarem determinados tipos de coping.
Para finalizar, Vaz Serra (1999) refere que a eficácia das estratégias de coping está
diretamente relacionada com a sua capacidade para reduzir de imediato a perturbação
percecionada. Por outro lado, Lazarus e Folkman (1984) consideram que a sua eficácia está,
também, dependente de fatores como as características pessoais, o acontecimento indutor de
stress e o momento da vida em que ocorre.

4. Modelo transacional de stress e coping


Na atualidade, o stress é abordado tendo em conta três perspetivas distintas. Na primeira
da autoria de Selye, o stress é conceptualizado como uma resposta do organismo face a uma
necessidade de adaptação, podendo manifestar-se tanto a nível psicológico como fisiológico.
De acordo com a segunda perspetiva, defendida por Holmes e Raye, o stress é encarado
como uma consequência de um estímulo proveniente do ambiente. Já para Lazarus e Folkman
o stress é percecionado como um modelo transacional.
É no modelo transacional de stress e coping de Lazarus e Folkman (1984) que o nosso
estudo se baseia, visto que este modelo concetualiza o stress como uma perturbação na
relação entre o indivíduo e o meio, onde a avaliação do sujeito determina se essa relação
excede ou não os seus recursos e a sua capacidade de resposta e se eventualmente coloca em
risco o seu bem-estar. Este modelo atribui, ainda, ao coping um papel preponderante visto
que é através deste que a pessoa vai determinar a estratégia que melhor se adequa às
exigências da situação, ocasionando uma mudança pois, quando a estratégia de coping
utilizada pelo indivíduo é a adequada a sua perceção de stress diminui (Lazarus & Folkman,
1984).
Neste modelo, evidenciam-se os processos de avaliação cognitiva e de coping,
pressupondo-se que são processos estritamente ligados e que se inter-relacionam, tendo
expressão no ajustamento físico e psicológico do indivíduo (Lazarus & Folkman, 1984).
Na relação dual que este modelo estabelece entre indivíduo e ambiente, é a avaliação
cognitiva que vai determinar o grau de importância da situação para o sujeito. Esta avaliação
tem inerentes as crenças e motivações do indivíduo e é preconizada em três fases distintas:

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

primeiro, ocorre a avaliação primária, posteriormente, a avaliação secundária e, por último, a


reavaliação (Lazarus & Folkman, 1984).
A avaliação primária tem como objetivo antever possíveis consequências da situação ou
do estímulo para o bem-estar do indivíduo. Nesta avaliação, os eventos podem ser
categorizados de três formas distintas: irrelevantes, ou seja, não têm qualquer efeito nas
emoções do sujeito; benigno-positivas, isto é, a situação vai ter repercussões positivas para o
indivíduo; e, por último, a situação pode ser definida como stressante, implicando perdas,
ameaças ou desafios para o sujeito, sendo esta apreciação que vai dar início aos processos de
stress e coping (Lazarus & Folkman, 1984).
A avaliação secundária é a próxima etapa, os indivíduos avaliam as suas capacidades para
lidar com a situação, procedendo à análise das estratégias de coping disponíveis, de forma a
selecionar a que será mais eficaz, tendo em vista o resultado pretendido (Lazarus & Folkman,
1984).
A última etapa da avaliação cognitiva é a reavaliação, surgindo esta como uma
necessidade, face à emergência de novas informações decorrentes do processo, remetendo
para uma nova avaliação primária e/ou secundária (Lazarus & Folkman, 1984).
Por último o coping aparece definido, neste modelo, como uma mudança cognitiva e
comportamental constante para lidar com as exigências internas e externas dos indivíduos,
face a situações avaliadas como stressantes. O sujeito utiliza as experiências de stress
anteriores para fazer frente a novas adversidades. Esta abordagem postula, ainda, que as
estratégias de coping, que regulam o stress podem ser de dois tipos: focadas na emoção ou
focadas no problema (Lazarus & Folkman, 1984).
Em síntese, de acordo com Lazarus e Folkman (1984), são as avaliações que fazemos dos
acontecimentos que determinam o carácter e magnitude das nossas reações psicológicas e,
consequentemente, desencadeiam uma resposta fisiológica.

II. Objetivos
Fundamentação do estudo e hipóteses orientadoras
Para Lever (2008), existem dois processos que atuam como mediadores cruciais do stress:
a avaliação cognitiva e o coping. De acordo com o autor, o coping tem como funções ajudar a
lidar com os problemas causadores de stress e regular as emoções por ele desencadeadas.
De acordo com Latack (1986), a relação entre as estratégias de coping e os sintomas de
stress é complexa, no entanto estudos têm demonstrado que o coping tem efeitos positivos na
diminuição da ansiedade e dos sintomas psicossomáticos. As pesquisas de Lazarus e

12
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Delongis (1983) vão na mesma direção, pois estes investigadores referem que o coping é uma
variável crucial na consecução de resultados adaptativos que proporcionam bem-estar às
pessoas.
Na verdade, o modo como um acontecimento stressante é apreendido e gerido por um
indivíduo está relacionada com os estilos de coping adotados (Lazarus & Folkman, 1984).
Segundo Lazarus (1993a), sempre que ocorre na vida das pessoas um acontecimento gerador
de stress, estas recorrem a maioria das estratégias de coping para lidar com a situação.
Para Thomas, Matherne, Buboltz e Doyle (2012), o esforço sentido por um indivíduo para
lidar com um acontecimento stressante vai depender tanto dos seus recursos pessoais, como
das estratégias de coping.
Ozer e Bandura (1990) mencionam que a expectativa da eficácia face ao coping e uma
maior percepção de controlo estão relacionadas com uma menor perceção de vulnerabilidade
a menos pensamentos intrusivos e a menores níveis de ansiedade.
Os investigadores Sasaki & Yamasaki (2007), num estudo realizado com caloiros
universitários, concluíram que o uso das capacidades de coping centradas no enfrentamento,
tais como reinterpretação cognitiva e resolução de problemas, tendem a beneficiar a saúde e a
adaptação.
De acordo com Vaz Serra, Firmino, Pocinho e Mesquita Figueiredo (1991), os indivíduos
qua possuem mecanismos de coping mais pobres têm propensão para evidenciar maior
número de problemas. Na verdade, tem sido demonstrado que níveis reduzidos de estratégias
de coping estão associados a consequências psicológicas negativas, como o stress (Matheny,
Roque-Tovar & Curlette, 2008).
Vaz Serra (2000a), verificou que a escala 23QVS se correlacionava de forma negativa e
altamente significativa com o IRP, ou seja, os indivíduos que apresentavam níveis elevados
de vulnerabilidade ao stress faziam um uso desadequado das estratégias de coping.
A influência das variáveis sociodemográficas na vulnerabilidade ao stress e nas
estratégias de coping têm vindo a ser indagadas ao longo dos anos. A variável género tem
sido analisada por diversos autores e os dados demonstram que as mulheres são mais
suscetíveis ao stress (Sandanger, Nygard, Sorensen, & Moun, 2004; Matheny, Ashy & Cupp,
2005). Estes dados poderão estar relacionados com o facto de os homens apresentarem
melhores estratégias de coping (Matheny et al., 2008).
Relativamente à idade, os estudos concluíram que a capacidade de lidar com o stress vai
diminuindo à medida que o indivíduo envelhece (Sandanger et al., 2004).

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Tendo em conta as considerações atrás referidas, tentamos agora perceber se existe


relação entre a vulnerabilidade ao stress e o uso das estratégias de coping e se existem
diferenças estatisticamente significativas no que respeita aos indivíduos “doentes” e “não
doentes” quanto ao uso das estratégias de coping.

Os objetivos foram operacionalizados, tendo em conta as seguintes hipóteses:

H1: Pressupõe-se que o uso das estratégias de coping diminua a vulnerabilidade ao stress.

H2: É expectável que os indivíduos que possuam vulnerabilidade ao stress tenham piores
estratégias de coping.

Por último, esta investigação teve como propósito contribuir para o desenvolvimento de
novos estudos, em Portugal, inerentes ao contributo da utilização das estratégias de coping na
diminuição do nível de stress.

Segue-se o Modelo Conceptual do estudo empírico:

Trabalhadores com Trabalhadores sem


vulnerabilidade ao stress vulnerabilidade ao stress

Variáveis sociodemográficas

Género Habilitações Idade


Literárias

Menor utilização das Maior utilização das

estratégias de coping estratégias de coping

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

III. Metodologia
Opções metodológicas
Com o intuito de alcançar os objetivos explanados, desenhou-se um estudo exploratório
(Pais Ribeiro, 1999), aplicando-se os diferentes instrumentos utilizados à globalidade da
amostra.
Os instrumentos de medida selecionados obedecem à medida pretendida, tendo sido
elaborados para a população portuguesa.

1. Caracterização da amostra
Para a realização da presente investigação foi constituída uma amostra de 62
trabalhadores, sendo 41 do género feminino e 21 do género masculino, com idades
compreendidas entre os 20 e os 44 anos (M=32,02; DP=5,770). No que concerne ao estado
civil a maioria (48,4%) encontra-se solteiro. Somente 43,5% da amostra diz ter filhos. No que
respeita às habilitações literárias, 51,6% dos inquiridos não possui formação superior. Na
nossa amostra é possível encontrar uma vasta gama de categorias profissionais, no entanto, a
maioria dos indivíduos (58,1%), desempenha as funções de operador de hipermercado 38,7%,
e de chefe de secção 19,4%, revelando as restantes categorias profissionais uma menor
expressividade. Em relação ao tipo de contrato de trabalho pudemos constatar que 100% da
amostra tem um contrato por prazo indeterminado. Ainda no âmbito das variáveis
sociodemográficas, constata-se que 43,6% exerce a função há mais de um ano e menos de
quatro, enquanto 3,2% a exerce há menos de um ano.
De modo a facilitar a leitura e análise dos dados da amostra em estudo, apresenta-se de,
seguida, uma tabela com informação mais relevante e detalhada (cf. Tabela 1).

Tabela 1: Caracterização dos sujeitos da amostra a nível sociodemográfico


Variáveis N %
Género
Feminino 41 66,1
Masculino 21 33,9
Total 62 100
Idade
20-24 7 11,3
25-29 16 25,8
30-34 20 32,3
35-39 10 16,1

15
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

40-44 9 14,5
Estado civil
Casado 24 38,7
Solteiro 30 48,4
Divorciado 6 9,7
Outros 2 3,2
Filhos
Sim 27 43,5
Não 35 56,5
Habilitações literárias
Com habilitações superiores 30 48,4
Sem habilitações superiores 32 51,6
Categoria profissional
Gerente de departamento 1 1,6
Chefe de secção 12 19,4
Subchefe de secção 4 6,5
Adjunto 1 1,6
Escriturário 3 4,8
Operador de caixa 5 8,1
Operador de hipermercado 24 38,7
Operador frente loja 2 3,2
Vigilante 4 6,5
Assistente de aprovisionamento 1 1,6
Comum Hipermercado 1 1,6
Eletricista 1 1,6
Pasteleiro 1 1,6
Oficial de carnes 1 1,6
Telefonista 1 1,6
Tipo de Contrato de trabalho
Prazo indeterminado 62 100
Antiguidade na função (anos)
<1 2 3,2
[1-4[ 27 43,6
[4-7[ 21 33,8
[7-10[ 9 14,6
≥10 3 4,8
Total 62 100

16
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

2. Instrumentos
O protocolo de avaliação foi constituído por três instrumentos: um questionário
sociodemográfico, a escala 23QVS e o Inventário de Resolução de Problemas.

Questionário sociodemográfico
Foi elaborado um questionário de caracterização sociodemográfica, tendo como propósito
comtemplar aspetos como o género, a idade, o estado civil, a existência de filhos, as
habilitações académicas, a categoria profissional, o tipo de contrato de trabalho e a
antiguidade na função. Associou-se a este questionário duas medidas de autorrelato que serão
apresentadas:

23 QVS (23 Questões para Avaliação da Vulnerabilidade ao Stress)


A 23QVS é uma escala de tipo Likert, desenvolvida por Vaz Serra (2000b) com o
objetivo de avaliar a vulnerabilidade de um indivíduo ao stress. Trata-se de um instrumento
de autoavaliação constituído por 23 questões, sendo que quanto mais elevada se revelar a
nota global, maior a probabilidade do indivíduo ser vulnerável ao stress. A nota global da
escala poderá variar entre 0 e 92, e uma classificação de 43 valores representa o ponto de
corte, ou seja, os indivíduos que obtenham uma pontuação igual ou superior a este valor são
considerados vulneráveis ao stress. Cada questão tem 5 possibilidades de resposta, assumindo
valores de 0 a 4, sendo que os aspetos mais negativos assumem o valor mais elevado. As
questões 1, 3, 4, 6, 7, 8 e 20 são classificadas da esquerda para a direita por ordem crescente;
as restantes são classificadas no sentido inverso, isto é, por ordem decrescente. (Vaz Serra,
2000b)
Para a construção desta escala o autor constituiu uma amostra de 368 elementos da
população em geral, tendo a correlação Par/Ímpar sido de 0,732 e o Coeficiente de Spearman
Brown de 0,845, os valores apurados revelaram, assim, uma boa consistência interna (Vaz
Serra, 2000b).
Importa, ainda, referir que o coeficiente Alpha de Cronbach revelou para todos os itens
um valor de 0,824, tendo este valor diminuído sempre que à escala se excluiu qualquer dos
itens selecionados. Este facto foi essencial para compreender a relevância de cada elemento
para alcançar uma boa homogeneidade (Vaz Serra, 2000b).
Segundo Vaz Serra (2000b), os resultados obtidos demonstraram que a correlação de cada
questão com a nota global foi positiva e altamente significativa, este resultado foi alcançado,
tanto quando, na nota global esteve incluído ou excluído o item em análise. Os factos

17
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

constatados demonstram que os itens agrupados compõem uma escala unidimensional apta a
definir um conceito (Vaz Serra, 2000b).
De acordo com o autor, a escala demonstrou que as correlações mais elevadas com a nota
global sugeriam que a pessoa vulnerável ao stress aparenta um perfil em que se evidenciam
as seguintes características: “pouca capacidade autoafirmativa”, “fraca tolerância à
frustração”, “dificuldade em confrontar e resolver os problemas”, “preocupação excessiva
com os problemas do dia-a-dia” e “marcada emocionalidade” (Vaz Serra, 2000b).
A capacidade discriminativa da escala foi comprovada, já que cada um dos itens que a
compõe demonstrou ser sensível a variações de grupos extremos.
A variância total pôde ser explicada em 57,5% por 7 fatores ortogonais; a extração destes
fatores foi efetuada através de uma análise fatorial dos componentes principais, seguida de
rotação varimax.
De seguida expomos o significado de cada fator, bem como a sua composição:
F1: “Perfeccionismo e intolerância à frustração”, composto pelos itens 23, 19, 16, 10, 18
e 05, corresponde a 10,7% da variância explicada.
F2: “Inibição e dependência funcional” fazem parte deste fator os itens 09, 22, 01, 02 e
12, traduzindo 10,5% da variância explicada
F3: “Carência de apoio social” na sua génese estão os itens 03 e 06, representando 7,6%
da variância explicada.
F4: “Condições de vida adversas” os itens 04 e 21 constituem este fator, traduzindo 7,6%
da variância explicada.
F5: “Dramatização da existência” representa 7,2% da variância explicada e é composto
pelos itens 20, 05 e 08
F6: “Subjugação”, este fator apraz na sua base os itens 14, 11, 13 e 15, exprimindo 7,2%
da variância explicada.
F7: “Deprivação de afeto e rejeição” é representado pelos itens 17, 13 e 07, significando
6,6% da variância explicada

IRP (Inventário de Resolução de Problemas)


O IRP foi desenvolvido em 1988, por Adriano Vaz Serra, com o objetivo de avaliar as
estratégias de coping que o indivíduo utiliza com regularidade para lidar com os problemas
que surgem na sua vida quotidiana. Esta escala foi assim designada “inventário” porque
permite não só alcançar uma nota global, como encontrar índices de igual valor informativo e

18
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

“de resolução de problemas”, porque permite perceber o modo como as pessoas lidam com os
problemas que lhes são apresentados (Vaz Serra, 1988).
Trata-se de uma escala que tem como intuito confrontar os respondentes com três
situações diferentes – de ameaça, de dano e de desafio - que podem acontecer a qualquer
pessoa na sua vida quotidiana e que serão indutoras de stress (Vaz Serra, 1988).
Este inventário de autoavaliação tem a configuração de uma escala unidimensional do
tipo Likert, e é composto por 40 questões. Cada questão tem 5 hipóteses de resposta (“Não
concordo”, “Concordo pouco”, “Concordo moderadamente”, “Concordo muito” e Concordo
muitíssimo”), a que posteriormente se atribui uma cotação que poderá oscilar entre 1 e 5;
sendo a sua classificação umas vezes atribuída na ordem direta e outras na ordem inversa. O
Inventário tem uma pontuação mínima de quarenta pontos e um valor máximo de duzentos
pontos. À medida que a pontuação sobe, melhoram as estratégias de coping do indivíduo.
Importa referir que as questões foram formuladas de modo a que se pudesse avaliar
diversas modalidades de resposta, nomeadamente, no que diz respeito a um confronto ativo
do problema, ao controlo percetivo do significado ou das consequências da situação, ao
pedido de auxílio a familiares e a amigos, aos mecanismos redutores do estado de tensão
emocional e, ainda, a determinadas características de personalidade que se mostraram
importantes neste contexto (Vaz Serra, 1988).
Na construção desta escala foi utilizada uma amostra com 692 indivíduos e o resultado
obtido através do coeficiente de Spearman-Brown (0,860) augurou uma boa consistência
interna. A escala foi, também, reveladora de uma boa estabilidade temporal, com uma
correlação teste/reteste de 0,808 (N=102), com um mínimo de 4 semanas de intervalo (Vaz
Serra, 1988).
Cada um dos itens que compõe a escala demonstrou ser sensível a variações de grupos
extremos, o que comprovou a sua capacidade discriminativa. De salientar que os itens
demonstraram uma correlação altamente significativa com a nota global (Vaz Serra, 1988).
Por último, o autor realizou uma análise dos componentes principais, seguida de uma
rotação varimax, da qual extraiu 9 fatores subjacentes que explicaram 51,7% da variância
total (Vaz Serra, 1988).
Passamos a expor o significado e a constituição de cada fator:
F1: “Pedido de ajuda”, explica 7,230% da variância total e é constituído pelos itens 05,
11, 18, 20 e 26.
F2: “Confronto e resolução ativa dos problemas”, 9,399% da variância total é explicada
por este fator, tendo como base os itens 21, 31, 32, 33, 34, 36 e 40.

19
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

F3: “Abandono passivo perante a situação”, formado pelos itens 01, 02 e 07, expressa
4,854% da variância total.
F4: “Controlo interno/externo dos problemas”, na sua origem estão os itens 06, 12, 14,
30, 35, 37, 38 e 39; este fator explica 6,728% da variância total.
F5: “Estratégias de controlo das emoções”, composto pelos itens 23, 24, 25 e 29
representa 4,621% da variância total
F6: “Atitude ativa de não interferência na vida quotidiana pelas ocorrências”; na sua
génese estão itens 03, 08, 09 e 13 e explicam 5,390% da variância total
F7: “Agressividade internalizada/externalizada”, constituído pelos itens 27 e 28, esclarece
4,229% da variância total.
F8: “Autorresponsabilização e medo das consequências”, representado pelos itens 04, 10,
16 e 19, significando 5,529% da variância total.
F9: “Confronto com os problemas e planificação de estratégias”, clarifica 3,604% da
variância total e reúne os itens 15, 17 e 22.

3. Procedimentos de Investigação
Após a inicial revisão bibliográfica e opção metodológica, procedemos (a) à definição do
problema, variáveis e hipóteses; (b) apuramento das qualidades psicométricas dos
instrumentos a utilizar; (c) apresentação do estudo à organização e solicitação para proceder à
recolha de dados nas suas instalações; solicitação aos trabalhadores para a participação no
presente estudo; (d) administração das medidas, em regime de voluntariado; (e) tratamento
estatístico, análise e discussão dos resultados.

3.1. Recolha de dados


Para o presente estudo foi necessária a recolha de uma amostra, que decorreu nos meses
de Abril e Maio de 2012. Em relação à amostra, recorreu-se a uma amostra de conveniência
(Pais-Ribeiro, 1999), composta por sujeitos disponíveis numa empresa de venda a retalho da
Região Centro do País. Os critérios de inclusão requeridos foram: trabalhar na organização há
pelo menos 3 meses e ter idade compreendida entre os 20 e os 50 anos.
Reunidas as devidas autorizações e condições para iniciar a investigação prosseguiu-se
com a aplicação dos instrumentos de avaliação em sessões de grupo, sendo que em alguns
casos, os sujeitos ficaram com os instrumentos e entregaram posteriormente. A abordagem
aos sujeitos foi iniciada com uma pequena conversa, sendo explicitado o propósito do estudo.
Codificou-se cada protocolo com um número para eventual verificação póstuma.

20
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

3.2 Procedimentos estatísticos


Todos os procedimentos estatísticos apresentados de seguida foram elaborados a partir do
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences Versão 13.0 for Windows).
Na caracterização da amostra, optou-se por realizar uma análise descritiva (médias,
percentagens e desvios padrões). A fim de verificar a homogeneidade das variâncias
recorreu-se ao teste de Lévene. Foram, ainda, realizadas análises de consistência interna,
através do Alpha de Cronbach, relativas às duas escalas, de forma a verificar a capacidade
paramétrica destes instrumentos relativamente à nossa amostra. A normalidade da
distribuição das variáveis foi testada pelo Kolmogorov-Smirnov (K-S). Com a utilização do
teste K-S foi possível definir os procedimentos estatísticos a utilizar para testar o nosso
modelo conceptual. Atendendo a que os pressupostos da normalidade foram comprovados
pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, optou-se pela utilização de testes paramétricos (Teste t de
student para amostras independentes e o coeficiente de correlação de Pearson), já que a
generalidade dos autores refere que estes testes são mais robustos do que as suas alternativas
não paramétricas. O teste t de student é um teste paramétrico que testa a existência ou não de
uma diferença estatisticamente significativa entre as médias ajustadas de dois grupos
independentes (Maroco, 2007). Efetuou-se, ainda, o cálculo de coeficiente de correlação de
Pearson para aferir a natureza de associação entre variáveis, e assim demonstrar, de acordo
com Murteira (1993:144), “os fenómenos não estão indissoluvelmente ligados, mas sim, que
a intensidade de um é acompanhada tendencialmente pela intensidade do outro, no mesmo
sentido ou no sentido inverso”. Estes são os testes estatísticos utilizados neste estudo para as
nossas análises exploratórias e teste de hipóteses. Por último, o nível de significância
utilizado, como valor critério, foi de 5% (0,05), comumente utilizado nas Ciências Sociais e
Humanas.

IV. Resultados
1. Características psicométricas dos instrumentos: análise da
consistência interna
Iniciou-se a apresentação dos resultados pela determinação da consistência interna de
cada escala. A fidelidade dos resultados foi determinada através do estudo da consistência
interna dos itens que as constituem. A consistência interna corresponde à variabilidade das
respostas dadas pelos respondentes e o Alpha de Cronbach representa uma das medidas mais
usadas para verificar a consistência interna de um grupo de variáveis (Pestana & Gageiro,
2003).

21
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

De acordo com os valores obtidos, verificou-se que a escala 23QVS (cf. Tabela 2)
apresenta um bom índice de consistência interna (α=0,837). Foram calculados os valores de
consistência interna1 para as respostas dos sujeitos da amostra total. Importa referir que o
valor do Alpha de Cronbach apurado no estudo de Vaz Serra (2000), para a escala foi de
0,824. No que toca aos fatores, os fatores 2 (α=0,720) e 4 (α=0,727) revelaram valores
razoáveis. O fator 1 (α=0,686) mostrou uma fraca consistência interna e os fatores 3
(α=0,537), 5 (α=0,457), 6 (α=0,560) e 7 (α=0,491) evidenciaram valores mais baixos. Como
tal, optámos por excluir estes fatores da análise dos resultados.

Tabela 2: Consistência interna da 23QVS-Total e dos seus 7 fatores


α de Cronbach

23QVS-Total 0,837
F1- Perfecionismo e intolerância à frustração 0,686
F2- Inibição e dependência funcional 0,720
F3- Carência de apoio social 0,537
F4- Condições de vida adversas 0,727
F5- Dramatização da existência 0,457
F6- Subjugação 0,560
F7- Deprivação de afetos e rejeição 0,491

Através da análise da consistência interna do Inventário de Resolução de Problemas (cf.


Tabela 3), foi possível verificar que o instrumento apresenta um nível de consistência interna
razoável (α=0,791). Quando efetuamos a análise por fatores constatou-se um bom nível de
consistência interna nos fatores 2 (α=0,850) e 3 (α=0,801). No fator 4 (α=0,776), observou-se
um valor de consistência interna razoável. No que respeita aos restantes fatores, os níveis de
consistência interna encontrados são considerados inadmissíveis, pelo que se considerou
pertinente a sua exclusão da análise dos resultados.

1 No sentido de avaliar o índice de consistência interna, recorremos aos valores estipulados por Pestana e
Gageiro (2003). De acordo com estes autores, a consistência interna é inadmissível quando o alfa é inferior a
0,60, fraca quando o alfa se situa entre 0,60 e 0,70, razoável quando o alfa é compreendido entre 0,70 e 0,80,
boa quando o alfa pertence ao intervalo 0,80 e 0,90 e, por último, muito boa quando o alfa é superior a 0,90.

22
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Tabela 3: Consistência interna do IRP-Total e dos seus fatores


α de Cronbach

IRP-Total 0,791
F1- Pedido de ajuda 0,598
F2- Confronto e resolução ativa dos problemas 0,850
F3- Abandono passivo perante a situação 0,801
F4- Controlo interno/externo dos problemas 0,776
F5- Estratégias de controlo das emoções 0,583
F6- Atitude ativa de não interferência na vida quotidiana pelas ocorrências 0,683
F7- Agressividade internalizada/externalizada 0,383
F8- Autorresponsabilização e medo das consequências 0,514
F9- Confronto com os problemas e planificação de estratégias 0,549

Feitas estas considerações, procedeu-se à averiguação das nossas hipóteses.

H1: Pressupõe-se que o uso das estratégias de coping diminua a vulnerabilidade ao


stress.
Com o intuito de aferir a natureza da relação entre as variáveis, recorreu-se à aplicação do
coeficiente de correlação de Pearson. A análise do coeficiente de correlação de Pearson (cf.
Tabela 4) demonstrou uma correlação negativa e altamente significativa entre a escala
23QVS e o IRP (r= -0,613; p=0,000), ou seja, resultados mais elevados na primeira escala
correspondem a resultados mais baixos na segunda escala. Observou-se ainda, que também os
fatores confronto e resolução ativa dos problemas (r= -0,535; p=0,000) e controlo
interno/externo dos problemas (r=-0,569; p=0,000) revelaram valores negativos e
significativos com a escala 23QVS, assim como com os seus fatores, sendo que a correlação
entre os fatores condições de vida adversas e controlo interno/externo dos problemas não se
revelou significativa. A nossa hipótese foi confirmada.

Tabela 4: Correlação entre 23QVS, IRP e respetivos fatores


IRP-Total IRP-F2 IRP-F4
23QVS-Total -0,613** -0,535** -0,569**
23QVS-F2 -0,532** -0,672** -0,308*
23QVS-F4 -0,288* -0,257* -0,210NS
N=62 **=p<0,01 *p=<0,05 NS= Não Significativo

23
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

H2: É expectável que os indivíduos que possuam vulnerabilidade ao stress tenham


piores estratégias de coping.
Considerando os resultados obtidos (cf. Tabela 5), através do teste t de student, é possível
verificar que os indivíduos “doentes” demonstram piores estratégias de coping (M = 145,5)
do que os indivíduos “não doentes” (M = 154,174), sendo que a diferença encontrada entre os
grupos não se revelou estatisticamente significativa (t= -2,543; p= 0,371). Do mesmo modo,
os fatores revelaram que os indivíduos “doentes” fazem pior uso das estratégias aqui
analisadas. De um modo geral, não se verificam diferenças estatisticamente significativas
entre os resultados dos dois grupos, embora o grupo de indivíduos “doentes” tenha revelado
médias mais baixas. A nossa hipótese foi infirmada.

Tabela 5: Diferenças entre “Doentes” e “Não Doentes”


Doentes Não doentes
(N=16) - (25,8%) (N=46) - (74,2%)
Média D.P. Média D.P. p
IRP-Total 145,500 9,359 154,174 12,448 0,371
IRP-F2 25,125 4,031 27,391 3,986 0,947
IRP-F3 12,188 2,228 13,261 2,275 0,642
IRP-F4 27,875 3,284 31,435 4,712 0,089

Análise exploratória
Não fazendo parte de qualquer hipótese, considerou-se pertinente a introdução de uma
análise exploratória adicional.

Comparação do género e das habilitações literárias no que respeita à


vulnerabilidade ao stress.
Para aferir se a vulnerabilidade ao stress difere quanto ao género ou às habilitações
literárias, utilizou-se o teste t de student para amostras independentes. No que concerne ao
género, de uma forma geral, a análise efetuada revelou que o género masculino (M=34,857)
apresenta uma maior vulnerabilidade ao stress do que o género feminino (M=34,634), não
sendo estas diferenças estatisticamente significativas (t= -0,083, p=0,485). (cf. Tabela 6)
No que respeita às habilitações literárias, verifica-se que os indivíduos sem habilitações
superiores (M=35,031) demonstram maior vulnerabilidade ao stress do que os indivíduos
com habilitações superiores (M=34,367), embora estas diferenças não se revelem
estatisticamente significativas (t= -0,261; p=0,524). (cf. Tabela 6)

24
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Tabela 6: Resultados da escala 23QVS em função do género e das habilitações literárias.


N M DP t p

Masculino 21 34,857 9,018


Género -0,083 0,485
Feminino 41 34,634 10,478

Habilitações Com habilitações superiores 30 34,367 8,927


-0,261 0,524
literárias Sem habilitações superiores 32 35,031 10,926

Comparação do género e das habilitações literárias no que respeita ao uso das


estratégias de coping.
De acordo com os resultados, relativamente ao género constata-se que não existem
diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos (t= -0,705; p=0,227),
apresentando o sexo masculino um valor médio mais elevado. Podemos ainda concluir que
não existem diferenças estatisticamente significativas quanto às estratégias de coping em
função das habilitações literárias (t= -0,954; p=0,535). (cf. Tabela 7)

Tabela 7: Resultados do IRP em função do género e das habilitações literárias.


N M DP t p

Masculino 21 153,476 13,826


Género -0,705 0,227
Feminino 41 151,146 11,490

Habilitações Com habilitações superiores 30 150,400 11,734


-0,954 0,535
literárias Sem habilitações superiores 32 153,375 12,763

Correlação da idade com a vulnerabilidade ao stress e com as estratégias de


coping.
A análise efetuada através do coeficiente de correlação de Pearson, demonstrou a
inexistência de correlação entre a variável idade e a escala 23QVS (r=0,377;p=0,114), tendo-
se verificado a mesma situação quando correlacionámos a idade com o IRP (r=-
0,088;p=0,494). (cf. Tabela 8)

25
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Tabela 8: Correlação da idade com a escala 23QVS e com o IRP


23QVS IRP

Correlação de Pearson 0,114 -0,088


Idade
p 0,377 0,494

V. Discussão
Os resultados obtidos serão interpretados à luz do estado da arte, revista na parte inicial.
Estes dados devem, ainda, ser analisados tendo em consideração a caracterização geral da
amostra. Apesar de não termos corroborado uma das hipóteses do estudo, realça-se a
pertinência e o interesse dos resultados alcançados.
Relativamente à nossa primeira hipótese (“pressupõe-se que o uso das estratégias de
coping diminua a vulnerabilidade ao stress”) verificámos a sua corroboração. Os resultados
encontrados parecem ir ao encontro dos princípios do modelo transacional, já que este
modelo sustenta que quando o indivíduo utiliza estratégias de coping adequadas para fazer
frente às necessidades da situação, a sua perceção de stress diminui. Na verdade, a nossa
investigação demonstrou que existe uma correlação negativa e altamente significativa entre
as estratégias de coping (IRP) e a vulnerabilidade ao stress (23QVS). Assim, é de registar que
os nossos dados são consonantes com os resultados encontrados por Vaz Serra (2000a).
Resta-nos justificar a exclusão do fator 3 do IRP desta correlação. Optámos por excluir este
fator pois, de acordo com Vaz Serra, Ramalheira e Firmino (1988), os fatores 2 e 4 do mesmo
inventário, são os que distinguem os indivíduos sem psicopatologia dos indivíduos com
perturbações emocionais.
A nossa segunda hipótese de trabalho (“é expectável que os indivíduos que possuam
vulnerabilidade ao stress tenham piores estratégias de coping”) foi infirmada, isto é, apesar
da diferença entre os indivíduos, “doentes” e “não doentes”, não ser estatisticamente
significativa, os “doentes” revelaram resultados mais baixos, tanto na nota global do IRP
como nos fatores que o compõem. Assim sendo, os valores encontrados vão ao encontro do
que refere Vaz Serra et al. (1991) e Matheny et al. (2008). Importa ainda salientar que os
indivíduos “doentes” e “não doentes” recorrem ao mesmo tipo de estratégias, diferindo
apenas nas proporções em que as utilizam.

26
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Através de uma análise exploratória adicional, pretendeu-se compreender se o género ou


as habilitações literárias têm influência na vulnerabilidade ao stress. Os resultados
encontrados revelaram a inexistência de diferenças. Em relação à variável género, os
resultados contrariam os dados encontrados na literatura (Sandanger et al., 2004; Matheny et
al., 2005). Quanto às habilitações literárias, não foram encontrados dados na literatura que
fundamentem os nossos resultados. Procedeu-se à realização da mesma análise mas, desta
feita, em relação às estratégias coping os resultados evidenciaram mais uma vez a
inexistência de diferenças estatisticamente significativas. No entanto, a variável género
revelou valores médios mais elevados no sexo masculino o que vai ao encontro dos
resultados da literatura (Matheny et al., 2008). O facto de os homens terem revelado melhores
estratégias de coping do que as mulheres, ainda que a diferença não seja significativa, pode
dever-se ao processo de socialização, já que a nossa sociedade favorece o poder dos homens,
e isso pode influenciar a sua perceção sobre os seus recursos pessoais, como é referido no
estudo de Matheny et al. (2008).
Por fim, no que respeita à variável idade as análises efetuadas não revelaram correlações
estatisticamente significativas com nenhuma das duas escalas, o que contraria a investigação
de Sandanger et al. (2004).

VI. Conclusão
O modo como as pessoas lidam com o stress no dia-a-dia continua a ser uma questão
pertinente, já que este tem influência na saúde física e emocional dos indivíduos, chegando
mesmo a ser prejudicial para o seu funcionamento psicológico e social. Assim, identificar e
promover o crescimento das estratégias de coping urge como uma mais-valia, já que estas
têm-se insurgido como um auxílio de extrema importância na vida das pessoas no que toca à
gestão do stress.
Foi o objetivo principal deste estudo exploratório estudar a relação entre a vulnerabilidade
ao stress e as estratégias de coping, numa amostra composta por colaboradores de uma
empresa de venda a retalho. Os resultados alcançados permitem-nos concluir que a
vulnerabilidade ao stress se correlaciona de forma negativa e altamente significativa com as
estratégias de coping, ou seja, a utilização das estratégias de coping pressupõe uma
diminuição da vulnerabilidade ao stress, sendo que o oposto também se verifica. Por outro
lado, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre indivíduos com e

27
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

sem vulnerabilidade ao stress no que respeita ao uso das estratégias de coping. No entanto, os
primeiros demonstraram médias mais baixas.
Relativamente às análises exploratórias adicionais, quando testada a influência das
variáveis sociodemográficas género e habilitações literárias na vulnerabilidade ao stress e nas
estratégias de coping, ficou comprovada a inexistência de efeitos estatisticamente
significativos. Por fim, foi ainda testada a variável idade, tendo-se constatado que esta não
tem influência nem na vulnerabilidade ao stress, nem nas estratégias de coping. Os resultados
obtidos não nos permitem generalizações, pelo que devem ser encarados como um ponto de
partida para futuras investigações.
Não podemos deixar de sublevar as limitações que constrangem a nossa investigação. De
um modo geral, podemos apontar o número reduzido de participantes. Para além disso, o
facto de ser um corte transversal, de carácter quantitativo que abarca apenas uma parte dos
colaboradores da organização onde o estudo foi realizado. Podemos, ainda, apontar como
limitação o não controlo de variáveis concorrentes, uma vez que se reconhece a existência de
um vasto grau de inter-relações e retroações com constructos não examinados,
nomeadamente, a resiliência ou o suporte social, entre outros. Na realidade as estratégias de
coping não afetam isoladamente a adaptação, mediando também as interações de outras
medidas de ajustamento como o contexto social ou as variáveis individuais (Wang & Gan,
2011).
No que concerne a estudos futuros, considera-se pertinente realizar estudos longitudinais,
de forma a verificar que tipos de repercussões podem advir a longo prazo. Seria ainda,
importante, perceber o impacto de outras variáveis individuais e protetoras e, ainda, verificar
se a satisfação laboral está relacionada com os constructos aqui indagados.
Para concluir, pode-se afirmar que este tema é cada vez mais importante para as
organizações ser debatido já que a literatura tem demonstrado que o stress percebido e as
estratégias de coping influenciam a qualidade das relações que se estabelecem com os
clientes (Gnilka, Chang & Dew, 2012). Assim sendo, parece importante incentivar as
investigações nesta área.

28
Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Apêndices

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Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

Apêndice I – Autorização para administrar a escala 23QVS

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Apêndice II – Autorização para administrar a escala IRP

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Apêndice III – Questionário sociodemográfico

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Questionário Sociodemográfico

Por favor responda às questões que se seguem com a maior exactidão possível. Lembre-
se que as informações que der são estritamente confidenciais.

Os dados fornecidos serão utilizados de forma completamente anónima num estudo


académico.

A. Dados Pessoais

1. Nacionalidade

2. Idade (anos)

3. Sexo

Feminino

Masculino

4. Estado civil:

Casado

Solteiro

Divorciado

Viúvo

Outro

5. Filhos

Sim

Não

Se respondeu sim, indique quantos


Relação entre vulnerabilidade ao stress e estratégias de coping

B. Dados relativos à formação académica

1. Formação académica superior:

Sim

Não

2. Há quantos anos terminou o seu curso/formação? (anos)

C. Dados relativos à situação profissional

1. Categoria profissional atual:

2. Experiência profissional nesta área de atividade principal: (meses)

3. Nº médio de horas de trabalho por semana:

4. Tipo de contrato de trabalho

Por prazo determinado

Por prazo indeterminado

Experiência

Outro

D. Outras informações

1. Tempo médio de deslocação casa-trabalho?


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Apêndice IV –Escala 23QVS

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Apêndice V – Escala IRP

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