Alecio, 1 - ANÁLISE LINGUÍSTICA EM LIVROS DIDÁTICOS
Alecio, 1 - ANÁLISE LINGUÍSTICA EM LIVROS DIDÁTICOS
Alecio, 1 - ANÁLISE LINGUÍSTICA EM LIVROS DIDÁTICOS
Resumo: Apresenta-se neste trabalho análise das coleções de livros didáticos de língua
portuguesa do Ensino Fundamental II, aprovadas no PNLD 2020, com o intuito de diagnosticar
as aproximações que vêm sendo travadas com relação a uma perspectiva de ensino coerente
com os pressupostos da análise linguística (cf. GERALDI, 1984; MENDONÇA, 2006; SUASSUNA,
2012). Para tanto, foram realizadas leitura e análise completa das obras e listados os gêneros e
as categorias em que há associação entre o uso de itens tradicionalmente gramaticais e sua
relevância nos gêneros e nos tipos textuais. Comparados aos dados obtidos em pesquisa anterior
(SIGILIANO; SILVA, 2017), os resultados desta análise apontam para avanços no que tange à
exploração dos itens gramaticais nos livros didáticos, com emprego de abordagens mais
atreladas às práticas de análise linguística. Além de contribuírem para um diagnóstico do estado
da arte no que concerne ao ensino contextualizado de gramática, análises do tipo das
desenvolvidas neste artigo têm o potencial de auxiliar o professor de ensino básico na busca de
um caminho para a elaboração de atividades didáticas pautadas por uma perspectiva de ensino
de questões gramaticais relacionadas aos gêneros textuais.
Palavras-Chave: Análise linguística. Gêneros textuais. Livros didáticos. Ensino de língua
portuguesa.
Abstract: This paper presents an analysis of the Portuguese Language text book collections
approved in the 2020 edition of the National Text Book Program (PNLD 2020) for the second
segment of basic school (6th to 9th grades). The purpose of such an analysis is to assess the
extent to which those instruction materials are grounded in the Linguistic Analysis framework
(see GERALDI, 1984; MENDONÇA, 2006; SUASSUNA, 2012). To achieve this goal, text books were
fully read and analyzed, being the textual genres and language structures that are presented as
relevant to their aprehension listed. Compared to data obtained in previous work (SIGILIANO;
SILVA, 2017), results show an increase in the number of grammar activities in textbooks that are
grounded in the Language Analysis framework. Besides contributing to map the state of the art
in which concerns contextualized grammar teaching, analyses such as the ones presented in this
paper have the potential to help school teachers find a way to propose teaching activities in
which grammar is taught in relation to the textual genres they are more relevant to.
Keywords: Linguistic Analysis, Textual Genres, Text books, Portuguese Language Teaching.
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CAMINHOS EM LINGUÍSTICA APLICADA
Universidade de Taubaté - UNITAU ISSN 2176-8625
Resumen: Este trabajo presenta un análisis de las colecciones de libros de texto en lengua
portuguesa de Educación Primaria II, aprobadas en el PNLD 2020, con el fin de diagnosticar las
semejanzas que se han tomado en relación con una perspectiva de enseñanza coherente con los
presupuestos del análisis lingüístico (cf. GERALDI, 1984; MENDONÇA, 2006; SUASSUNA, 2012).
Para ello, se realizaron la lectura y el análisis completo de los trabajos y se enumeraron los
géneros y categorías en los que hay una asociación entre el uso de elementos tradicionalmente
gramaticales y su relevancia en géneros y tipos textuales. En comparación con los datos
obtenidos en una investigación anterior (SIGILIANO; SILVA, 2017), los resultados de este análisis
apuntan a avances en la exploración de elementos gramaticales en los libros de texto, con el uso
de enfoques más vinculados a las prácticas de análisis lingüístico. Además de contribuir a un
diagnóstico del estado del arte con respecto a la enseñanza contextualizada de la gramática, los
análisis del tipo desarrollado en este artículo tienen el potencial de ayudar al maestro de
educación básica en la búsqueda de un camino para la elaboración de actividades didácticas
guiadas por una perspectiva de la enseñanza de cuestiones gramaticales relacionadas con los
géneros textuales.
Palabras llave: Análisis lingüístico. Géneros textuales. Libros de texto. Enseñanza de lengua
portuguesa.
INTRODUÇÃO
Nesse sentido, como uma forma de incentivar e promover renovação no ensino de língua
portuguesa (LP) no Brasil, os Parâmetros Curriculares (PCN) e a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) adotam:
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Ainda nesse contexto, editais do Programa Nacional do Livro didático (PNLD) e avaliações
constantes do Guia Nacional do Livro Didático vêm apoiar e interferir nesse movimento de
renovação, visto que se pautam no que “há de mais avançado em termos de teoria e prática de
ensino” (BAGNO, 2010, p.37), no que diz respeito à seleção dos materiais. Lajolo (1996), ao
tratar sobre a relevância do material didático e da importância de políticas educacionais com
relação à qualidade dos materiais didáticos, defende que tanto professores quanto alunos fazem
do livro um instrumento de aprendizagem. Assim, o livro didático (LD) pode ser tomado também
como ferramenta de formação continuada de professores.
O edital do PNLD estabelece relação direta com a BNCC e com a importância de que os
livros didáticos respeitem as conquistas científicas das distintas áreas. Além disso, o edital
considera a relevância do estímulo à manifestação do conhecimento prévio do aluno com o
intuito de embasar os novos conhecimentos, incentivando a reflexão. Deve-se destacar, ainda,
que o Guia do Livro Didático, disponibilizado pelo PNLD, apresenta, de forma detalhada, aspectos
positivos e negativos das obras, o que auxilia o professor na escolha do material. É essencial
considerar que todos esses fatores contribuem, também, para o direcionamento do trabalho do
autor de LD.
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Dessa forma, analisar os livros didáticos aprovados pelo PNLD no que tange ao ensino
de gramática auxiliaria no entendimento do status do processo de impulso de transformação da
sala de aula de LP.
Neste artigo, tal análise se restringirá à observação do trabalho com a análise linguística
(AL) em materiais aprovados pelo PNLD 2020, mais especificamente do 8º ano do Ensino
Fundamental, a fim de se verificar potenciais alterações na forma de tratamento de tópicos
tradicionalmente gramaticais nos materiais didáticos e de apresentar quais conteúdos
gramaticais vêm sendo associados a quais gêneros de forma a favorecer uma perspectiva de
ensino contextualizado e reflexivo da gramática. Pautando-se em análises de obras aprovadas
pelo PNLD anterior, realizada por Sigiliano e Silva (2017), esta pesquisa teve o recorte em livros
do 8º ano como forma de diagnóstico de potenciais mudanças conduzidas por uma renovação
na forma de tratamento da gramática.
Para tanto, todos os seis livros didáticos de 8º ano aprovados no PNLD foram lidos e
analisados e, independente da seção em que ocorreu, qualquer remissão a um conteúdo
tipicamente gramatical que poderia ser considerado como a serviço do estudo do gênero textual
foi listada. Assim, incluíram-se no escopo da pesquisa mesmo as instâncias de trabalho com
conteúdos gramaticais que se apresentaram menos sistematizadas, no intuito de observar a
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relevância da categoria gramatical à perspectiva da língua em uso, manifestada por meio dos
gêneros, averiguando sua aderência a uma abordagem de ensino de língua em que houvesse
associação direta entre categorias tradicionalmente gramaticais e gêneros. Foram considerados
conteúdos gramaticais dignos de análise aqueles conteúdos gramaticais característicos do
gênero ou tipo, os quais podem ser abordados na AL como forma de estudo do funcionamento
do gênero em particular.
Neste artigo, considera-se que análises, levantamentos e divulgação de dados desse tipo
podem não somente diagnosticar as alterações que vêm sendo implementadas no ensino de LP
por meio do LD, mas também auxiliar no desenvolvimento de novos materiais ou na consulta de
professores quanto a possíveis abordagens renovadoras que auxiliem no ensino de itens
gramaticais, associados, de fato, ao uso, ou seja, aos gêneros e aos tipos textuais, visto que se
assume a concepção de que “as escolhas linguístico-discursivas presentes num dado gênero não
são aleatórias, mas ali estão para permitirem que um gênero funcione socialmente”
(MENDONÇA, 2007, p.77).
O ensino de gramática não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas
como um mecanismo para a mobilização de recursos úteis à
implementação de outras competências, como a interativa e a textual.
(BRASIL, 2000, p. 81)
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Da forma como a BNCC dispõe, fica a cargo do professor ou do autor de material didático
traçar estratégias de escolhas textuais que aliem de forma satisfatória aspectos das
materialidades dos textos aos gêneros apresentados, questão essa que recai sobre discussões
mais amplas que envolvem a formação de professores e o ensino de gramática.
Quanto a esse assunto, torna-se relevante considerar que, por vezes, o professor se
reconhece como alguém que ensina a gramática em uma perspectiva mais renovada e reflexiva.
Contudo, ao se observar a sua prática, pesquisas revelam uma não correspondência com suas
ações, visto que há pouca atividade reflexiva no que tange à abordagem da gramática em sala
de aula (NEVES, 2002; GUIMARÃES; BARTIKOSKI, 2019), deixando evidente o “conflito de
identidades docentes” (MENDONÇA, 2006, p. 221). Assim,
Em pesquisa sobre o tema, realizada por Sigiliano e Frascaroli (2016), cujos participantes
eram professores de escolas públicas brasileiras, constatou-se que os professores já
incorporaram aos próprios discursos um ensino renovado de gramática, atrelado à visão da AL.
No entanto, ao escolherem um material didático para sua prática em sala, o fazem de forma a
não refletir tal discurso, optando, por vezes, por materiais didáticos de cunho mais tradicional.
Além disso, a pesquisa mostrou haver ainda predomínio de abordagem normativa da gramática
nas salas de aula e pouca relação entre os eixos, ficando a gramática como conteúdo a ser tratado
de forma dissociada da leitura, oralidade e produção de texto. Nessa mesma linha, Guimarães e
Bartikoski (2019) verificaram a convivência de velhas e novas práticas no que tange à abordagem
da AL em aulas de LP de professores em formação continuada, destacando o apego à
metalinguagem nessas aulas em oposição ao forte desejo de aderência a novas práticas,
revelado pelos docentes em questionários escritos.
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Dessa forma, considera-se que a realidade da sala de aula ainda reflete uma visão
dicotômica entre teoria e prática, sendo aquela já mais absorvida pelos docentes e autores de
LD, e esta o maior desafio sendo enfrentado no que tange ao ensino de gramática na escola.
Torna-se essencial ressaltar que a perspectiva da AL não elimina a gramática das salas
de aula, visto que engloba os estudos gramaticais em um paradigma distinto (MENDONÇA, 2006).
Nesse contexto, assumir a perspectiva da AL não exime o professor do trabalho com categorias
e nomenclaturas tipicamente gramaticais, visto que, segundo Mendonça:
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Tal qual preconizado na apresentação da AL pelos PCN e pela BNCC, o acesso a esses
conhecimentos ocorre a partir da reflexão sobre o uso de forma contextualizada, sendo
associada ao gênero ou aos efeitos de sentido dele. Conforme entrevista concedida por Lousada:
No intuito de não apenas analisar como essas relações vêm sendo travadas nos materiais
didáticos de LP aprovados pelo PNLD 2020, mas também de auxiliar professores e pesquisadores
no reconhecimento de possíveis categorias tipicamente gramaticais relativamente cristalizadas
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nos gêneros textuais, serão apresentadas neste artigo a análise das obras do PNLD bem como a
listagem de categorias e os gêneros em que elas se revelaram proeminentes.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
i. classificação das seções de cada uma das obras didáticas em um dos seguintes
eixos: leitura, gramática e produção de texto;
ii. levantamento dos gêneros textuais distintos trabalhados em cada obra, para os
quais foi proposta ao menos uma questão, resposta, dica ou instrução em que
se propunha, de forma direta ou indireta, uma associação entre um
conhecimento gramatical e um aspecto relevante do gênero;
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3. ANÁLISE DE DADOS
Em análise de cunho qualitativo, a partir da leitura completa das obras, pode-se notar
que alguns materiais didáticos inovam bastante na proposição da prática de análise linguística,
enquanto outros permanecem arraigados em ensino de gramática descontextualizada ou
tradicional.
Após levantamento de dados, foi possível observar – vide Gráfico 1 – em que seções a
associação entre a abordagem de determinado conteúdo gramatical e os gêneros ou tipos
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textuais ocorreu de forma mais incisiva. Além disso, tornou-se possível a comparação entre as
distintas coleções aprovadas no que diz respeito ao critério de análise estabelecido.
No Gráfico 1, a faixa sombreada indica, por obra analisada, quantos gêneros diferentes
foram trabalhados em associação direta ou indireta com conteúdos gramaticais e em qual seção
isso se deu. Assim, para a Obra A, foram trabalhados, de forma associada, 7 gêneros distintos na
seção de leitura, nenhum na de gramática e 6 na de produção de texto. Já as barras indicam
quantos distintos itens gramaticais prototípicos do gênero textual foram abordados na seção.
Novamente para a Obra A, foram identificadas 12 ocorrências de exploração de itens gramaticais
relevantes para o gênero na seção de leitura, nenhuma na de gramática e 16 na de produção de
texto.
À primeira vista, os dados revelam clara discrepância no que diz respeito à forma de
abordagem de conteúdos gramaticais nas diferentes obras. Isso porque as obras B, C e D se
destacam consideravelmente, se comparadas às demais, quanto ao número de correlações entre
o ensino de conteúdos gramaticais e a proeminência ou a importância desses conteúdos nos
gêneros elencados pelo material. Na obra B, foram explorados 47 conteúdos gramaticais
relevantes em 13 gêneros. Na obra C, 38 itens gramaticais em 14 diferentes gêneros foram
abordados. Já na obra D, 32 conteúdos gramaticais relevantes foram explorados com base em
11 gêneros diferentes. Em outras palavras, três das seis coleções revelam maior aderência a uma
proposta de ensino contextualizado de conteúdo gramatical pautado em gêneros, ou seja, de
um esforço de adoção da perspectiva da AL nos materiais didáticos, visto que exploram com mais
frequência conteúdos gramaticais relevantes para os gêneros em questão.
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Deve-se ressaltar, entretanto, que a análise qualitativa mostrou ser ainda muito
frequente nas seções de compreensão textual a solicitação de localização de categorias
gramaticais no texto, de forma dissociada da função expressiva delas com relação ao gênero.
Dessa forma, os materiais chegam a revelar que os autores reconhecem a relevância de
determinado item gramatical para o gênero abordado, mas não necessariamente destacam a
sua função no gênero em si. Independentemente desse fato, como explicitado, os dados dessa
abordagem indireta ou não explícita também foram computados.
Torna-se crucial observar que essas correlações ficam bem marcadas principalmente na
exploração das seções de compreensão leitora dos textos, em detrimento de seções de
gramática, o que pode revelar a adoção de uma perspectiva mais contextualizada de trabalho
com conteúdos tipicamente gramaticais. Há que se ressaltar que os materiais didáticos
analisados têm sua maior parte dedicada à leitura e à compreensão de gêneros textuais. Dessa
forma, os dados mais expressivos nessa coluna reafirmariam a tendência dos materiais de
valorização de atividades de leitura.
Por outro lado, os dados revelam que as seções de gramática ainda são por vezes
descoladas de uma perspectiva de ensino contextualizado em gêneros textuais. A obra A, por
exemplo, não faz referência, em nenhuma de suas seções de trabalho com a gramática, a
conteúdos típicos dos gêneros abordados nessas subpartes. Nessa obra, selecionam-se trechos
de texto ou gêneros de forma aleatória com relação ao conteúdo gramatical abordado pela seção.
Sendo assim, o texto é usado como pretexto para a abordagem gramatical.
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determinada estrutura mostra-se mais prototípica e, quando da abordagem desses itens, com
frequência não há sequer relação com os efeitos de sentido dos textos.
Já no que diz respeito à seção de produção textual, surpreende o dado de que a coleção
A (de cunho notadamente mais tradicional de ensino de gramática) é aquela que dispõe de maior
correlação entre conteúdo gramatical e gênero nessa seção. Isso ocorre porque o material
apresenta, em sua seção de produção, nas orientações para o planejamento do texto, perguntas
ou dicas que dizem respeito à verificação, por parte do aluno, da presença de estruturas
linguísticas específicas relevantes para o gênero na composição dos textos. Uma possível
explicação para tal discrepância, a qual carece, entretanto, de confirmação, seria o fato de que
as coleções de obras didáticas são comumente escritas por grupos de autores, os quais podem
acabar se responsabilizando por seções específicas. A hipótese anterior pode justificar a
estranheza causada na leitura das obras devida ao distanciamento na abordagem de
características linguísticas próprias do gênero entre seções de compreensão, gramática e de
produção de texto. Por vezes, o destaque dado a determinada estrutura linguística proeminente
do gênero ocorre apenas na última seção da unidade, qual seja, a produção de texto, em itens
de planejamento ou análise dos rascunhos. A título de exemplificação, ocorrem dicas na seção
da produção de texto que não foram anteriormente trabalhadas em seções como de
compreensão do texto ou de gramática. Isso se nota, por exemplo, ao se solicitar a produção de
um verbete em que se insere a instrução “observe a pontuação adequada ao texto”, sem sequer
haver anteriormente exploração dessa característica estrutural relevante ao gênero na seção de
leitura em que esse gênero também fora abordado. Esse descolamento, em algumas coleções,
entre a abordagem da leitura, da gramática e da produção de texto parece indicar a
fragmentação do trabalho de produção do material e, até mesmo, a inconsistência entre
concepções de língua e linguagem subjacentes ao material.
Por outro lado, uma das coleções que se destacou na perspectiva de associação no
ensino de conteúdo gramatical de forma contextualizada no gênero apresentou um box voltado
para observação da relevância da linguagem no texto, o que aparecia de forma pertinente com
frequência na interpretação dos textos e em alguns momentos também na seção de produção
de texto. Esse box reforça a exploração dos aspectos gramaticais na obra, o que parece ter
motivado os autores a refletir sobre as relações entre gramática e gênero e que,
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consequentemente, guia o aluno a este tipo de reflexão sobre o papel de estruturas linguísticas
típicas e específicas em determinados gêneros textuais.
Outra tarefa a que se dedicou esta pesquisa foi a de levantamento e listagem de relações
entre gêneros textuais e conteúdos gramaticais para eles relevantes com o intuito de divulgação
não apenas do que já vem sendo sinalizado direta ou indiretamente pelos livros didáticos no que
diz respeito a essas correlações, mas na intenção também de fazer circular entre pesquisadores
e, principalmente, entre professores, tais associações.
Quadro 1. Conteúdos gramaticais prototípicos dos gêneros nos livros didáticos analisados
Gênero Textual Conteúdos Gramaticais
Abaixo-assinado Operador argumentativo (conjunções, verbos e pronomes
demarcadores de opinião)
Pronome de tratamento
Vocativo
Anúncio publicitário Imperativo
Artigo de divulgação Expressões explicativas
científica Modalização (verbo e advérbio)
Pessoa do discurso (1ª e 3ª pessoas)
Pontuação (uso frequente dos parênteses para explicações)
Impessoalidade: presença do verbo haver impessoal e voz passiva
Frases declarativas
Presente do indicativo e atemporalidade
Voz passiva
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Na seção de gramática, na grande maioria dos capítulos, ocorre associação com o nível
da textualidade, ou seja, de forma independente dos gêneros em que determinada estrutura se
mostra mais prototípica, e nem sempre há sequer relação com os efeitos de sentido dos textos.
Faz-se essencial destacar que, neste PNLD, há coleções que inovaram bastante quanto à
abordagem de conteúdos tipicamente gramaticais, ao proporem, de fato, um ensino de
gramática contextualizado em gêneros textuais. Em comparação com dados de pesquisas
anteriores e com análises empreendidas, pode-se afirmar que a prática de AL continua sob
processo de inserção em sala de aula, o que pode ser evidenciado por meio das transformações
dos materiais didáticos. Ressalta-se que, no último PNLD, mais materiais de Ensino Fundamental
II revelaram aderência a práticas atreladas ao ensino reflexivo e contextualizado de gramática.
Tais mudanças desvelam inovações positivas dos materiais didáticos de língua portuguesa no
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Brasil e ofertam aos estudantes, professores e pesquisadores boas perspectivas futuras quanto
ao trabalho com a análise linguística no ensino básico.
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