Impressao
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LITERATURA
AULA 1
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revisado ou, ainda, que acabou lhe despertado maior interesse. Nesta aula, por
exemplo, o conteúdo contará com a seguinte a proposta de seções:
1. Contextualizando;
2. Antes de literatura, littera;
3. Literatura para quê?;
4. A literatura está em perigo?;
5. Literatura, um direito;
6. Na prática;
7. Finalizando;
8. Referências.
TEMA 1 – CONTEXTUALIZANDO
É muito provável que você tenha ouvido falar em um certo filósofo grego
clássico chamado Sócrates, não é mesmo? O que ele tem a ver conosco, com
as letras e com a literatura? Basicamente, tudo. Em um momento apropriado,
em uma disciplina que verse sobre a literatura clássica, por exemplo, será
possível conhecer as contribuições socráticas para o desenvolvimento dos
estudos literários. Por enquanto, o que nos interessa aqui é retomar o nome de
Sócrates para demonstrar a importância de tomar a literatura não com uma
leitura ou interpretação pronta, decorada, mas sempre com uma boa
desconfiança, com o interesse de querer ler e perceber diferentes detalhes.
Com ajuda de muitas das reflexões socráticas, aprendemos que a única
certeza possível é a dúvida. O que isso quer dizer na prática? Significa que, ao
longo de toda a sua formação, você perceberá o quanto novas leituras podem
ajudar a problematizar o que é apresentado, criando novas perguntas e
possibilidades para se abordar um mesmo tópico. A partir das letras,
(re)escrevemos novos caminhos para o aprender e descobrimos, como diria o
escritor argentino Jorge Luís Borges, que um só jardim pode apresentar
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diferentes caminhos que se bifurcam. O estudo da literatura, assim, apresenta-
nos diferentes aspectos que podem ser estudados e esmiuçados, de acordo com
o nosso recorte de atenção ou objetivo.
Como vimos desde a apresentação desta disciplina, a literatura – seja a
partir de um romance, de um poema, de uma obra dramática, de um conto, de
uma crônica, de ensaio ou de qualquer outro dos seus gêneros e manifestações
possíveis – nos convida a pensar. Não é segredo algum que a melhor maneira
para se começar a falar sobre a literatura é por meio da própria literatura. Por
conta disso, antes de seguir com as nossas proposições, vale a pena nos
dedicarmos à leitura de um fragmento de um verdadeiro clássico da literatura
brasileira. A alusão aqui é para o romance Grande sertão: veredas, de João
Guimarães Rosa:
Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre
coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda
leitura e suma doutoração. Não é que eu esteja analfabeto. Soletrei,
anos e meio, meante cartilha, memória e palmatória. Tive mestre,
Mestre Lucas, no Curralinho, decorei gramática, as operações, regra-
de-três, até geografia e estudo pátrio. Em folhas grandes de papel, com
capricho tracei bonitos mapas. Ah, não é por falar: mas, desde do
começo, me achavam sofismado de ladino. E que eu merecia de ir para
cursar latim, em Aula Régia – que também diziam. Tempo saudoso!
Inda hoje, apreceio um bom livro, despaçado. (Rosa, 2010, p. 30)
O excerto que você acaba de ler foi retirado de uma das obras brasileiras
mais lidas até hoje e que, sem dúvida alguma, marcou novos caminhos para o
desenvolvimento do gênero romanesco não somente no Brasil. Publicada pela
primeira vez no ano de 1956, a obra Grande sertão: veredas nos apresenta a
realidade sertaneja a partir da perspectiva da personagem Riobaldo, que é
também o narrador de toda a trama. Sem nos preocuparmos em uma leitura mais
crítica e especializada, ou seja, apenas com o compromisso de ter a experiência
de ler o texto, o que será que este trecho nos provoca? Tente responder esta
pergunta voltando para a citação e relendo cada frase como se estivesse
buscando o sabor das palavras. Como você poderia descrever quem está
falando? Seria alguém novo? Viveria em qual parte do Brasil? Conhece outras
realidades? Este narrador está falando com alguém? Se sim, a pessoa com
quem ele fala é diferente? Existe algo que desperte o interesse deste narrador
chamado Riobaldo?
De forma rápida e sem a preocupação de um rigor crítico, fica evidente
como um fragmento de um romance nos permite elencar diversas perguntas,
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aguçando a nossa criatividade, conectando-nos com informações e leituras
anteriores, provocando a nossa imaginação e curiosidade. Assim, fazendo
perguntas para nós mesmos, relacionando conhecimentos, dialogando com
demais leituras, fruindo o texto, ou seja, permitindo realmente ter prazer ao
ler é que nos aproximamos do que deve ser a literatura.
Entendidos tais compromissos iniciais, podemos nos dedicar a uma
pergunta pontual para o nosso primeiro encontro: caso tivéssemos lido aquele
mesmo trecho, mas sem saber que ele faz parte do romance Grande sertão:
veredas ou mesmo desconhecendo a informação de que se tratava de uma obra
de Guimarães Rosa, teríamos as mesmas impressões iniciais?
Embora pareça simples, a provocação feita agora é uma inquietude que
faz parte da vida de teóricos literários dispostos a refletir sobre a natureza da
literatura desde o século passado. Nomes como Terry Eagleton (1983), Tzvetan
Todorov (2009), Antoine Compagnon (2009) e, no Brasil, Antonio Candido (2004)
– este último, aliás, que será repetido nesta disciplina e na grande maioria das
que você vai cursar ao longo do curso – têm pensado na natureza e nas
propriedades que caracterizam a literatura há muitas décadas. Em uma de suas
reflexões, Todorov esclarece como “[a] literatura não nasce no vazio, mas no
centro de um conjunto de discursos vivos, compartilhando com eles numerosas
características; não é por acaso que, ao longo da história, suas fronteiras
foram inconstantes” (Todorov, 2009, p. 22, grifo nosso).
A ideia que temos a respeito da literatura, portanto, corresponde a um
determinado tempo, contexto e realidade discursiva. Para o crítico brasileiro
Antonio Candido, por exemplo, a literatura está ligada diretamente a um acordo
social:
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Diante do que foi evidenciado por Candido, fica mais fácil perceber como
a literatura passou a ser vislumbrada a partir de diversas facetas, valorizando o
quanto ela não se resume apenas a imitar ou transformar em ficção uma dada
realidade, já que ela é, também, uma das responsáveis por garantir tal
existência. À vista disso, literatura não é nunca um fim, uma resposta, mas,
essencialmente, um meio.
Se uma definição taxativa da literatura é inviável, por que grande parte de
nós insiste em simplificar a literatura em uma espécie de produção textual
específica? Em uma busca no dicionário eletrônico Michaelis, será possível
encontrar dez entradas diferentes. Vejamos as definições:
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quando falarmos da conexão entre a literatura e a língua e da instituição do que
chamamos como cânone literário. Por ora, é prudente apenas entender que esse
“alto valor estético” é um crivo estabelecido por um determinado grupo, mediante
interesses e expectativas de diversas instâncias.
Ainda no que diz respeito às entradas presentes no dicionário, vale
pontuar como a definição 10 nos ajuda a tomar a outra faceta relacionada à
literatura, a ideia equivocada de que à literatura competem os assuntos menos
importantes, já que não se trata de uma ciência. A acepção pejorativa fará parte
de discussões teóricas que vamos travar ao longo do curso, por isso vale sempre
a atenção e a leitura crítica sobre tal ponto.
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TEMA 3 – LITERATURA PARA QUÊ?
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Se insistirmos na mesma pergunta, na razão pela qual estudamos
literatura, será bastante oportuno considerar uma ponderação mais recente,
advinda da Argentina, a partir da escritora e crítica María Teresa Andruetto:
1 “[...] a literatura é ainda essa metáfora da vida que segue reunindo a quem disse e a quem
escuta em um espaço comum, para participar de um mistério, para fazer que nasça uma história
que, ao menos por um momento, nos cure da palavra, recolha os nossos pedaços, junte as
nossas partes dispersas, transpasse as nossas zonas mais inóspitas, para nos dizer que, no
escuro também há luz, para nos mostrar que tudo no mundo, até o mais miserável, tem o seu
brilho” (Tradução-livre).
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TEMA 5 – LITERATURA: UM DIREITO
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NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura” (Candido,
2004, p. 175).
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REFERÊNCIAS
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