649221-Arte Moderna - Apostila Prova
649221-Arte Moderna - Apostila Prova
649221-Arte Moderna - Apostila Prova
- Teorias da arte
- Precursores da arte
moderna
- vanguardas artísticas
europeias
Existem atualmente variadíssimas formas de manifestação artística que, por sua vez,
encerram em si correntes e formas de expressão muito diversas. Vários objetos com
formas, suportes e origens muito diferentes podem ser considerados obras de arte. As
teorias da arte têm por objetivo explicar a natureza da obra de arte em geral, mediante as
suas várias formas de composição.
Se as semelhanças não forem por algum critério limitadas, conceitos com semelhanças
de família tornam-se ilimitadamente aplicáveis, perdendo a sua função classificatória e
deixando de fazer qualquer sentido. Assim é preciso estabelecer paradigmas, para a
aplicação do conceito a partir do compartilhamento de elementos semelhantes.
Nessa perspectiva as teorias da arte voltam a fazer sentido, se não como teorias que
visam estabelecer condições necessárias e suficientes ou essências comuns, ao menos
como teorias que devem estabelecer o paradigma daquilo que chamamos de arte, além
das margens de similaridade entre os objetos. O importante passa a ser que essas teorias
sejam capazes de iluminar dimensões importantes da obra de arte. Um conceito com
aplicações muito diversificadas pode ser muitas vezes analisado como um conceito
formado por subconceitos variadamente assemelhados entre si.
Sendo assim, mesmo que um certo conceito geral não possua uma essência comum a
suas aplicações, isso não significa que os subconceitos que o constituem, se
considerados individualmente, não possuam essências comuns a suas aplicações ainda
mais específicas.
É uma das mais antigas concepção sobre a natureza da arte, sugerindo que a sua função
é a de representar alguma coisa. Platão e Aristóteles concebiam a arte como imitação
ou mímese, ou seja, uma representação naturalista da realidade. Assim, a pintura imita a
natureza, o drama imita a ação humana. Segundo esta teoria uma obra de arte só é arte
se for uma imitação de algo que é produzido pelo homem.
Esta teoria é baseada em imitações do real, como paisagens, pessoas, objetos, etc. e nos
oferece um critério de classificação bastante rigoroso que permite distinguir o que é do
que não é arte. Se imita é arte. Esta também oferece um critério de valoração do que
é um bom objeto de arte: aquele que mais se aproxima do objeto imitado.
Realismo Perverso ou Arte com cadáveres: Estilo criado pelo artista contemporâneo
Von Hagens. Suas "obras de arte" são feitas com cadáveres de verdade, que têm a pele
retirada para que se revelem em detalhes os órgãos, nervos, ossos, veias e artérias. Von
Hagens alcança tais efeitos graças a uma técnica de
conservação de cadáveres que inventou no fim dos
anos 70: a Plastinação. Ela consiste em substituir
todos os líquidos do organismo, como o sangue e a
gordura, por um tipo especial de silicone. Um
corpo "plastinizado" não só pode ser conservado
indefinidamente como também fica livre de odores
e tem as cores de seus tecidos realçadas.
Como saber, entre várias obras de arte, qual a que melhor imita o tema representado?
Mesmo que uma obra seja muito representativa, como saber que aquilo que é
representado se assemelha à realidade?
Como se enquadrar obras de artes musicais? O que é que elas imitam?
Objeções da teoria da arte como imitação: Ficam de fora desta teoria, todas as formas
de arte ou objetos artísticos não figurativos.
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NAS DÚVIDAS E INDAGAÇÕES DA TEORIA, SURGEM A NECESSIDADE
DE NOVAS FUNDAMENTAÇÕES.
Tese: Uma obra é arte se, e só se, exprime sentimentos e emoções do artista.
A principal objeção é a de que existem obras de arte que não expressam nenhuma
emoção. Alguns artistas recusam inclusivamente a ideia de que as suas obras expressam
qualquer emoção. Assim, este critério deixaria de fora muitos objetos que consideramos
obras de arte, mas que não suscitam qualquer sentimento.
Por outro lado, o fato de uma obra suscitar em nós um sentimento tal, não significa que
as emoções tenham existido no criador.
Além disso, dificilmente podemos saber qual foi o sentimento que o artista procurou
expressar.
Por fim, nas obras musicais, quais os sentimentos a ter em conta, o do artista ou do
intérprete?
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3 - “TEORIA DA ARTE FORMALISTA ou FORMA SIGNIFICANTE”
Centrada no expectador.
Tese: Uma obra é arte se, e só se, provoca uma emoção estética.
4 - CONCEITO ABERTO
Tese: o conceito de obra de arte é um conceito aberto cujo significado vai sendo
alargado de forma a integrar novas características que incluam novas formas de
expressão artística que vão surgindo.
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Dario Escobar, Singular-Plural - Gallery
1600, Atlanta 2012
ARTE MODERNA
O trajeto da arte moderna no século XIX acompanha a curva, iniciada pelo primeiro
questionamento aos padrões acadêmicos, surgido no romantismo. Estes assumem uma
atitude crítica em relação às convenções artísticas e aos temas oficiais impostos
pelas academias de arte, produzindo pinturas históricas sobre temas da vida moderna
carregados de emoções - A Liberdade Guiando o Povo (1831), de Eugène Delacroix
(1798 - 1863), trata da história contemporânea em termos modernos. As figuras do
povo, na imagem embebidas de emoção, já apresentam uma leve recusa às normas
da arte acadêmica.
O centro das discussões sobre arte estava localizado na capital francesa Paris, onde sua
característica cosmopolita permitia aos artistas se alimentar das discussões da nova
sociedade que se mostrava em formação, e essa atmosfera inspira uma espécie de
empatia nos pensadores e poetas do período, que vão expressar um sentimento de
redescoberta da realidade de forma mais sensível, se tornando uma tônica a partir da
década de 1840. Em uma visão utópica acreditava-se que através da compreensão da
arte, era possível instrumentalizar o povo para a grande revolução. O movimento
Realista, vai se projetar na representação da realidade, em que ondas de protesto contra
a industrialização e sua técnica mecânica que afastava o trabalho artesanal, sua busca
exclusiva do lucro e a exploração do homem pelo homem, se transformou numa postura
socialista. Nas artes, Gustave Courbet (1819 - 1877), considerado o primeiro realista,
afirma que “arte não tem mais razão de ser se não for realista. Este não significa a
diligente imitação da natureza; pelo contrário, o próprio conceito de natureza deve
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desaparecer, enquanto resultante de escolhas idealistas no ilimitado mundo do real.” 1 A
propriedade maior do realismo estava na experiência da realidade concreta, encarando-a
de frente e despindo-se de qualquer preconceito religioso, moral ou estético.
São as pesquisas de Manet que dão origem ao primeiro movimento puramente moderno
da arte, identificado como impressionismo.
1. IMPRESSIONISMO -
Impressionismo é o termo usado para designar uma corrente pictórica que tem origem
na França, entre as décadas de 1860 e 1880. A origem do nome remonta a um texto
jornalístico que, inspirado na tela Impressão, Sol Nascente, 1872, de Claude Monet
(1840 - 1926), rotula de Exposição dos Impressionistas a primeira apresentação pública
dos novos artistas no estúdio do fotógrafo Nadar (1820 - 1910), em 1874. A essa
exposição seguem-se outras sete, de 1876 a 1886 que conhecem reações hostis por parte
do público e da crítica.
Principais artistas: Claude Monet (1840 - 1926), Pierre Auguste Renoir (1841 - 1919),
Edgar Degas (1834 - 1917), Camille Pissarro (1831 - 1903), Paul Cézanne (1839 -
1906), entre muitos outros.
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vezes não vão além de uma incorporação superficial das técnicas impressionistas,
adaptando-as a um olhar ainda comprometido com os padrões acadêmicos.
2. FAUVISMO:
Ao contrário de outras vanguardas que povoam a cena européia entre fins do século
XIX e a 1ª Guerra Mundial, o fauvismo não é uma escola com teorias, manifestos ou
programa definido. Para boa parte dos artistas que adere ao novo estilo expressivo - com
forte presença na França entre 1905 e 1907 -, o fauvismo representa sobretudo uma fase
em suas obras. Falar em vida curta e em organização informal de pintores em torno de
questões semelhantes, não significa minimizar as inovações trazidas à luz
pelos fauves('feras'). O grupo, sob a liderança de Henri Matisse (1869-1954), tem como
eixo comum a exploração das amplas possibilidades colocadas pela utilização da cor. A
liberdade com que usam tons puros, nunca mesclados, manipulando-os arbitrariamente,
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longe de preocupações com verossimilhança, dá origem a superfícies planas, sem
claros-escuros ilusionistas. As pincelas nítidas constroem espaços que são, antes de
mais nada, zonas lisas, iluminadas pelos vermelhos, azuis e alaranjados. Como afirma
Matisse a respeito de A Dança (1910): "para o céu um belo azul, o mais azul dos azuis,
e o mesmo vale para o verde da terra, para o vermelhão vibrante dos corpos".
3. EXPRESSIONISMO
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A arte expressionista encontra sua fonte na problemática do isolamento do homem
frente à natureza, assim como na defesa de uma poética sensível à expressão do
irracional, dos impulsos e paixões individuais. Combina-se a essa matriz, o pós-
impressionismo de Vincent van Gogh (1853-1890) e Paul Gauguin (1848-1903).
4. CUBISMO:
O ano de 1914 remete ao fim da colaboração entre Picasso e Braque e à uma atenuação
das inovações cubistas, embora os procedimentos introduzidos pelo movimento estejam
na base de experimentos posteriores como os do futurismo, construtivismo, purismo e
vorticismo.
O cubismo pode ser considerado uma das principais fontes da arte abstrata e suas
pesquisas encontram adeptos no mundo todo. No Brasil, influências do cubismo podem
ser observadas em parte dos artistas reunidos no modernismo de 1922, em alguns
trabalhos de Vicente do Rego Monteiro, Antonio Gomide e sobretudo na obra de Tarsila
do Amaral, Léger e Candido Portinari.
5. FUTURISMO:
O futurismo enfraqueceu após a Primeira Guerra Mundial, mas seu espírito rumoroso e
inquieto refletiu no dadaísmo, no concretismo, na tipografia moderna e no design
gráfico pós-moderno. No Brasil Fernand Leger é um de seus representantes.
Artistas como Umberto Boccioni (1882 - 1916), Carlo Carrà (1881 - 1966), Luigi
Russolo (1885 - 1947), Giacomo Balla (1871 - 1958) e Gino Severini (1883 - 1966)
estão entre os principais nomes do primeiro futurismo, que conhece um refluxo em
1916, com a morte de Boccioni e com a crise social e política instaurada pela Primeira
Guerra Mundial (1914 - 1918).
6. DADAÍSMO:
Criado na Suíça durante a Primeira Guerra Mundial, o Dadaísmo surgiu como resposta
ao clima de instabilidade provocado pelo conflito bélico. Sua principal característica é a
linguagem peculiar, permeada pelo deboche e pelos ilogismos dos textos, além da
aversão a qualquer conceito racionalizado sobre a arte. Ao contrário de outras correntes
artísticas, o dadaísmo apresenta-se como um movimento de crítica cultural mais ampla,
que interpela não somente as artes, mas modelos culturais passados e presentes. Trata-
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se de um movimento radical de contestação de valores que utiliza variados canais
de expressão: revista, manifesto, exposição e outros.
Se o dadaísmo não professa um estilo específico nem defende novos modelos, aliás
coloca-se expressamente contra projetos predefinidos e recusa todas as experiências
formais anteriores, é possível localizar formas exemplares da expressão dada. Nas artes
visuais, os ready-made de Duchamp constituem manifestação cabal de um espírito que
caracteriza o dadaísmo. Ao transformar qualquer objeto escolhido ao acaso em obra
de arte, Duchamp realiza uma crítica radical ao sistema da arte. Assim, objetos
utilitários sem nenhum valor estético em si são retirados de seu contexto original e
elevados à condição de obra de arte ao ganhar uma assinatura e um espaço de
exposição, museu ou galeria. Por exemplo, a roda de bicicleta que encaixada num
banco vira Roda de Bicicleta, 1913, ou um mictório, que invertido se apresenta
como Fonte, 1917, ou ainda os bigodes colocados sobre a Mona Lisa, 1503/1506 de
Leonardo da Vinci, que fazem dela um ready-made retificado, o L.H.O.O.Q., 1919. Os
princípios de subversão mobilizados pelos ready-made podem ser também observados
nas máquinas antifuncionais de Picabia e nas imagens fotográficas de Man Ray.
Ainda que 1922 apareça como o ano do fim do dadaísmo, fortes ressonâncias do
movimento podem ser notadas em perspectivas artísticas posteriores. Na França, muitos
de seus protagonistas integram o surrealismo subsequente. Nos Estados Unidos, na
década de 1950, artistas como Robert Rauschenberg, Jasper Johns retomam certas
orientações do movimento no chamado neodada.
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Difícil localizar influências diretas do dadaísmo na produção brasileira, mas talvez seja
possível pensar que ecos do movimento dada cheguem pela leitura que dele fazem os
surrealistas, herdeiros legítimos do dadaísmo em solo francês. Por exemplo, em obras
variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias; nas fotomontagens de Jorge de Lima,
que podem ser aproximadas de trabalhos correlatos de Max Ernst; na produção
de Flávio de Carvalho.
7. SURREALISMO:
O termo, cunhado por André Breton com base na idéia de "estado de fantasia
supernaturalista" de Guillaume Apollinaire, traz um sentido de afastamento da realidade
comum que o movimento surrealista celebra desde o primeiro manifesto, de 1924. Nos
termos de Breton, autor do manifesto, trata-se de "resolver a contradição até agora
vigente entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma
supra-realidade". A importância do mundo onírico, do irracional e do inconsciente,
anunciada no texto, se relaciona diretamente ao uso livre que os artistas fazem da obra
de Sigmund Freud e da psicanálise, permitindo-lhes explorar nas artes o imaginário e os
impulsos ocultos da mente. O caráter anti-racionalista do surrealismo coloca-o em
posição diametralmente oposta das tendências construtivas e formalistas na arte que
florescem na Europa após a Primeira Guerra Mundial, 1914-1918, e das tendências
ligadas ao chamado retorno à ordem. Como vertente crítica de origem francesa, o
surrealismo aparece como alternativa ao cubismo, alimentado pela retomada das
matrizes românticas francesa e alemã, do simbolismo, da pintura metafísica italiana -
Giorgio de Chirico, principalmente - e do caráter irreverente e dessacralizador
do dadaísmo, do qual vem parte dos surrealistas.
Como o movimento dada, o surrealismo apresenta-se como crítica cultural mais ampla,
que interpela não somente as artes mas modelos culturais, passados e presentes. Na
contestação radical de valores que empreende, faz uso de variados canais de expressão -
revistas, manifestos, exposições e outros -, mobiliza diferentes modalidades artísticas
como escultura, literatura, pintura, fotografia, artes gráficas e cinema.
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As colagens e assemblages constituem mais uma expressão caraterística da lógica de
produção surrealista, ancorada na idéia de acaso e de escolha aleatória, princípio central
de criação para os dadaístas. A célebre frase de Lautréamont é tomada como inspiração
forte: '"Belo como o encontro casual entre uma máquina de costura e um guarda-chuva
numa mesa de dissecção". A sugestão do escritor se faz notar na justaposição de objetos
desconexos e nas associações à primeira vista impossíveis, que particularizam as
colagens e objetos surrealistas. Que dizer de um ferro de passar cheio de pregos, de uma
xícara de chá coberta de peles ou de uma bola suspensa por corda de violino? Dalí
radicaliza a idéia de libertação dos instintos e impulsos contra qualquer controle
racional pela defesa do método da "paranóia crítica", forma de tornar o delírio um
mecanismo produtivo, criador. A crítica cultural empreendida pelos surrealistas,
baseada nas articulações arte/inconsciente e arte/política, deixa entrever sua ambição
revolucionária e subversiva, amparada na psicanálise - contra a repressão dos instintos -
e na idéia de revolução oriunda do marxismo (contra a dominação burguesa). As
relações controversas do grupo com a política aparecem na adesão de alguns ao
trotskismo (Breton, por exemplo) e nas posições reacionárias de outros, como Dalí.
8. ABSTRACIONISMO
É possível notar duas vertentes a organizar a ampla gama de direções assumidas pela
arte abstrata. A primeira, inclinada ao percurso da emoção, ao ritmo da cor e à
expressão de impulsos individuais, encontra suas matrizes no expressionismo e
no fauvismo, descrita como abstracionismo informal. A segunda, mais afinada com
os fundamentos racionalistas das composições cubistas, o rigor matemático e a
depuração da forma, aparece descrita como abstracionismo geométrico.
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As vanguardas russas exemplificam as duas vertentes: Wassili Kandinsky (1866-1944),
representante da primeira, é considerado pioneiro na realização de pinturas não-
figurativas com Primeira Aquarela Abstrata (1910) e a
série Improvisações (1909/1914). Seu movimento em direção à abstração inspira-se na
música e na defesa de uma orientação espiritual da arte, apoiada na teosofia. Em torno
de Kandinsky e Franz Mac (1880-1916) organiza-se, na Alemanha, o Der Blaue
Reiter [O Cavaleiro Azul], 1911, grupo do qual participam August Macke (1887-1914)
e Paul Klee (1879-1940).
Suprematismo foi um Movimento russo de arte abstrata, o suprematismo surge por volta
de 1913, mas sua sistematização teórica data de 1925, do manifesto Do Cubismo ao
Futurismo ao Suprematismo: o Novo Realismo na Pintura, escrito por Kazimir
Malevich (1878-1935) em colaboração com o poeta Vladimir Maiakóvski (1894-1930).
O suprematismo está diretamente ligado ao seu criador, Malevich, e às pesquisas
formais levadas a cabo pelas vanguardas russas do começo do século XX,
o raionismo de Mikhail Larionov e Natalia Goncharova e o construtivismo de Vladimir
Evgrafovic Tatlin. Nesse contexto, o suprematismo defende uma arte livre de
finalidades práticas e comprometida com a pura visualidade plástica. Trata-se de romper
com a idéia de imitação da natureza, com as formas ilusionistas, com a luz e cor
naturalistas - experimentadas pelo impressionismo - e com qualquer referência ao
mundo objetivo que o cubismo de certa forma ainda alimenta. Malevich ainda fala em
"realismo", e o faz com base nas sugestões do místico e matemático russo P.D.
Ouspensky, que defende haver por trás do mundo visível um outro mundo, espécie de
quarta dimensão, além das três a que os sentidos humanos têm acesso. O suprematismo
representaria essa realidade, esse "mundo não objetivo", referido a uma ordem superior
de relação entre os fenômenos - espécie de "energia espiritual abstrata" -, que é
invisível, mas nem por isso menos real.
Se a arte de Malevich tem pretensão espiritual, ela não se confunde com a defesa do
espiritual na arte que faz Wassily Kandinsky (1866-1944), que o define como
"expressão da vida interior do artista". Malevich, ao contrário, se detém na pesquisa
metódica da estrutura da imagem, que coincide com a busca da "forma absoluta", da
molécula pictórica. Como ele mesmo afirma no manifesto de 1915: "Eu me transformei
no zero da forma e me puxei para fora do lodaçal sem valor da arte acadêmica. Eu
destruí o círculo do horizonte e fugi do círculo dos objetos, do anel do horizonte que
aprisionou o artista e as formas da natureza. O quadrado não é uma forma
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subconsciente. É a criação da razão intuitiva. O rosto da nova arte. O quadrado é o
infante real, vivo. É o primeiro passo da criação pura em arte".
Mesmo que o rótulo suprematismo se confunda com o nome de seu mentor, sua
influência sobre outros artistas russos é notável - por exemplo, a pintora Olga
Vladimirovna Rozanova -, assim como sua penetração na Europa, marcando as artes
visuais de modo geral a pintura, a arquitetura, o mobiliário, o design, a tipografia etc.
No Brasil, parte da obra de Malevich está presente na 22ª Bienal Internacional de São
Paulo, de 1994.
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representação, abolindo o espaço pictórico tridimensional. Rejeita ainda a linha curva, a
modelagem e as texturas. A cor pura se projeta no plano, encontrando seu oposto na
não-cor, no cinza, no branco e no preto. As oposições se desdobram no quadro: linha
negra/plano branco, linha espessa/linha fina, planos abertos/planos fechados, planos
retangulares/quadrado da tela, cor/não-cor. As composições se estruturam num jogo de
relações assimétricas entre linhas horizontais e verticais dispostas sobre um plano único.
A forma obtida a partir daí, indica Schapiro em ensaio clássico sobre o artista, é
totalidade sempre incompleta, que sugere sua continuidade além dos limites da tela. O
neoplasticismo de Mondrian dispensa os detalhes e a variedade da natureza, buscando o
princípio universal sob a aparência do mundo. Menos que expressar as coisas naturais,
sua arte visa, segundo ele, a "expressão pura da relação".
As idéias estéticas defendidas em De Stijl ressoam na cena européia mais ampla por
meio do ensaio escrito por Mondrian para o público francês, O neoplasticismo (1920), e
editado em alemão pela Bauhaus, em 1925. A exposição do grupo em Paris, em 1923, é
mais um fator a contribuir para a notoriedade da nova perspectiva artística, que
reverbera nos anos 30 nos grupos Abstraction-Création e Cercle et Carré, na França, e
no Circle, na Inglaterra. Não se pode esquecer a repercussão das teorias do
neoplasticismo na arquitetura moderna. O rompimento de Mondrian com Van Doesburg
data de 1924, quando assina sua última colaboração para a revista. Este último, em
1926, seria responsável por uma dissidência, que batiza como elementarismo. De
Stijl deixa de existir oficialmente em 1928.
9. EXPRESSIONISMO ABSTRATO
A noção de expressionismo abstrato, utilizada pela primeira vez em 1952 pelo crítico H.
Rosenberg, refere-se a um movimento artístico que tem lugar em Nova York, no
período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Trata-se do primeiro estilo
pictórico norte-americano a obter reconhecimento internacional. Os Estados Unidos
surgem como nova potência mundial e centro artístico emergente, beneficiado, em larga
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medida, pela emigração de intelectuais e artistas europeus. As diversas tendências do
modernismo europeu conhecem soluções novas em solo norte-americano, sobretudo o
jazz e o cinema de Hollywood. A combinação de todas essas fontes tem como
referência última o pós-guerra, e uma crítica a concepção triunfalista do capitalismo e
da civilização tecnológica. A recusa dos estilos e técnicas artísticas tradicionais, assim
como a postura crítica em relação à sociedade produzem técnicas inovadoras como por
exemplo, Pollock e sua "pintura de ação" [action painting]. Ele retira a tela do cavalete,
colocando-a no solo. Sobre ela, a tinta é gotejada e/ou atirada ao ritmo do gesto do
artista, que gira sobre o quadro ou se posta sobre ele. A nova atitude, física inclusive, do
artista diante da obra subverte a imagem do pintor contemplativo e mesmo a do técnico
ou desenhista industrial que realiza o trabalho de acordo com um projeto prévio.
Os emaranhados de linhas e cores que explodem nas telas de Pollock afastam qualquer
idéia de mensagem a ser decifrada. Do mesmo modo apresenta-se o outro estilo
utilizado por alguns artistas dessa corrente, o chamado “Color FieldPainting” (Pintura
do campo de cor), que o contrário da técnica da “Action Painting”, o Color Field
privilegiava a objetividade das cores nas telas, ao utilizar padrões geométricos mais
simples. Sua maior representação esta nas obras de Rothko, com suas faixas de pouco
brilho e sutis passagens de tons, ou mesmo as soluções figurativas de De Kooning, não
querem oferecer uma chave de leitura. A ausência de modelos, a ideia de
espontaneidade relacionada ao trabalho artístico e o gesto explosivo do pintor que
desintegra a realidade não impedem a localização de problemáticas que pulsam nas
obras produzidas. A preocupação com um retorno às origens, interpretada como busca
de forças elementares e emoções primárias, é uma delas.
No Brasil, seria arriscado pensar em seguidores fiéis das pesquisas iniciadas pelo
expressionismo abstrato. Embora certos críticos aproximem as obras de Manabu Mabe
(1924 - 1997), Tomie Ohtake (1913) e Flavio-Shiró (1928) dessa vertente, elas parecem
se ligar, antes, ao tachismo ou ao abstracionismo lírico, que conheceu adesões variadas
entre nós, seja em Cicero Dias (1907 - 2003), seja em Antonio Bandeira (1922 - 1967).
Nos anos 80, observa-se uma apropriação tardia da obra de De Kooning na produção
de Jorge Guinle (1947-1987).
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10. POP ART
Na década de 1960, os artistas defendem uma arte popular (pop) que se comunique
diretamente com o público por meio de signos e símbolos retirados do imaginário que
cerca a cultura de massa e a vida cotidiana. A defesa do popular traduz uma atitude
artística contrária ao hermetismo da arte moderna. Nesse sentido, a arte pop se coloca na
cena artística que tem lugar em fins da década de 1950 como um dos movimentos que
recusam a separação arte/vida. E utiliza como traços característicos a incorporação das
histórias em quadrinhos, da publicidade, das imagens televisivas e do cinema.
Uma das primeiras, e mais famosas, imagens relacionadas ao que o crítico britânico
Lawrence Alloway (1926 - 1990) chamaria de arte pop é a colagem de Richard
Hamilton (1922), O que Exatamente Torna os Lares de Hoje Tão Diferentes, Tão
Atraentes?, de 1956. Concebido como pôster e ilustração para o catálogo da
exposição This Is Tomorrow [Este É o Amanhã] do Independent Group de Londres, o
quadro carrega temas e técnicas dominantes da nova expressão artística. A composição
de uma cena doméstica é feita com o auxílio de anúncios tirados de revistas de grande
circulação. Nela, um casal se exibe com (e como) os atraentes objetos da vida moderna:
televisão, aspirador de pó, enlatados, produtos em embalagens vistosas etc. Os anúncios
são descolados de seus contextos e transpostos para a obra de arte, mas guardam a
memória de seu locus original. Ao aproximar arte e design comercial, o artista borra,
propositadamente, as fronteiras entre arte erudita e arte popular, ou entre arte elevada e
cultura de massa.
No Brasil, sugestões da arte pop foram trabalhadas na década de 1960 por Antonio Dias
(1944) - Querida, Você Está Bem?, 1964, Nota Sobre a Morte Imprevista, 1965,
e Mamãe, Quebrei o Vidro, 1967 -, Rubens Gerchman (1942 - 2008) - Não Há Vagas,
1965, e O Rei do Mau Gosto, 1966 -, Claudio Tozzi (1944) - Eu Bebo Chop, Ela Pensa
em Casamento, 1968, entre outros. No entanto a incipiente proliferação no Brasil dos
meios de comunicação de massa, na década de 1960, leva, paradoxalmente, esses
artistas a aproximar técnicas da arte pop (silkscreen e alto-contraste) a temas engajados
politicamente.
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