Cod Mar CV

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 106

Segunda-feira, 15 de Novembro de 2010

I Série
Número 44

BOLETIM OFICIAL
SUMÁRIO

CONSELHO DE MINISTROS:

Decreto-Legislativo n.º 14/2010:

Aprova o Código Marítimo de Cabo Verde.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1750 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

CONSELHO DE MINISTROS venção de Londres de 1976, sobre o mesmo tema, pelo


que os montantes são expressos em Direitos de Saque
–––––– Especiais – DSE ou “Special Drawing Rights – SDR”
do FMI e não em escudos de Cabo Verde, uma vez que
Decreto-Legislativo n.º 14/2010
essa limitação se aplica ao comércio marítimo, não só
de 15 de Novembro nacional como internacional, prática aliás idêntica ao
verificado no estabelecimento de limites de indemnização
O presente Código Marítimo de Cabo Verde decorre da no transporte aéreo.
necessidade premente sentida há vários anos de moder-
nizar e sistematizar a legislação marítima e portuária A publicação do Código Marítimo de Cabo Verde cons-
que pudesse suceder ao sistema normativo de direito titui um avanço notável no edifício jurídico da República,
marítimo herdado de Portugal, consubstanciado, funda- constituindo referência obrigatória para todos quantos
mentalmente, no Código Comercial Português, dos finais directa ou indirectamente se envolva em actividades
do século XIX (1888), ao qual se foi aditando diversos marítimas e portuárias em Cabo Verde.
outros diplomas avulsos, regulando matérias relaciona-
das com o sector marítimo e portuário não contempladas Nestes termos:
nesse código.
Ao abrigo da autorização legislativa conferida pela Lei
O presente Código Marítimo surge assim como co- n.º 68/VII/2010, de 9 de Agosto;
rolário da conveniência em recodificar o normativo de
No uso da faculdade conferida pela alínea b) do número
direito marítimo existente, integrando-o num único corpo
2, do artigo 204º da Constituição da República, o Governo
legislativo, ao mesmo tempo que se procura introduzir
decreta o seguinte:
algumas instituições, até agora carentes de regulação
mas, de indubitável interesse face às circunstâncias da Artigo 1º
navegação marítima contemporânea e ao direito marí-
Objecto
timo comparado.
É aprovado o Código Marítimo de Cabo Verde em anexo
O texto do Código Marítimo, integrando a normativa
ao presente diploma, que dele faz parte integrante.
privada e a normativa pública do sector, visa ser um ins-
trumento de mais fácil consulta, interpretação e aplicação Artigo 2º
por parte dos poderes judiciais e públicos, contribuindo,
Revisão dos montantes máximos de indemnização
assazmente, para um fácil manuseamento por parte de
todos os operadores relacionados com o tráfego marítimo. 1. O Governo deve rever periodicamente os montantes
máximos de indemnização estabelecidos nos LIVROS VII
O modelo de texto articulado do Código Marítimo
e IX do Código.
consta de um total de 841 artigos, estruturados em doze
Livros, que, por sua vez, se dividem em Títulos, estes em 2. As revisões previstas no número anterior devem
Capítulos, e, em ocasiões, tendo em atenção a extensão ser feitas sempre que necessárias com vista a adaptar
da matéria, os Capítulos se subdividem em Secções. os respectivos montantes às convenções internacionais
A fonte primordialmente utilizada para a preparação vigentes.
do presente texto foi a moderna e dispersa legislação Artigo 3º
marítima nacional, ora objecto de refundição.
Adaptação de legislação
No âmbito do direito comparado, foram fontes de ins-
piração na confecção do presente Código, o Projecto de A legislação a seguir indicada mantém-se em vigor,
Lei Geral da Navegação Marítima de Espanha, o Código enquanto não for modificada ou revogada pelo Governo,
Comunitário da Marinha Mercante – CEMAC-2001, o no cumprimento do estabelecido no presente Código:
Código Marítimo da Croácia, de 1994, e o Código Marí- a) Decreto-Lei nº. 34/98, de 31 de Agosto, que
timo da Suécia, também de 1994. aprova o Regulamento das Capitanias de
De igual modo, foram tidos em conta os princípios das Porto de Cabo Verde;
numerosas convenções marítimas internacionais exis-
b) Decreto-Lei nº. 37/98, de 31 de Agosto, que
tentes no sector, sejam elas das agências especializadas
estabelece a regulamentação do registo
das Nações Unidas, como a OMI (Organização Marítima
convencional de navios;
Internacional), a UNCTAD (Conferência das Nações Uni-
das para o Comércio e Desenvolvimento) e UNCITRAL c) Decreto-Lei nº. 41/98, de 7 de Setembro que
(Conferência das nações Unidas para o Direito Mercantil regula os documentos de bordo;
Internacional) ou de alguns organismos privados, como
a CMI (Comité Marítimo Internacional). d) Decreto-Lei nº 42/98, de 7 de Setembro, que
regulamenta os navios tomados a casco nu
A título de exemplo, atente-se que, relativamente por armadores nacionais;
aos limites de responsabilidade por créditos marítimos,
objecto do artigo 679.º do presente Código, actualizaram- e) Decreto-Lei nº 19/2003, de 16 de Junho que
se os montantes de limitação contidos na Convenção de regulamenta o registo de embarcações de
Bruxelas de 1957, através da fórmula recolhida da Con- pesca fretadas;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1751

f) Decreto-Lei nº 39/98, de 31 de Agosto, que j) Decreto-Lei nº. 11/2000, de 21 de Fevereiro, que


regulamenta a arqueação das embarcações; regula a abordagem de navios;

g) Decreto-Lei nº 38/98, de 31 de Agosto, que k) Decreto-Lei nº. 47/98, de 07 de Setembro, que


determina as entidades competentes para regula o salvamento marítimo;
as inspecções e fiscalização das condições de
segurança marítima das embarcações; l) Decreto-Lei nº. 6/2000, de 14 de Fevereiro, que
regula as avarias marítimas;
h) Decreto-Lei nº 26/93, de 10 de Maio, que define
m) Decreto-Lei nº. 7/2000, de 14 de Fevereiro, que
e regula o acesso à indústria de transporte
regula a arribada forçada;
marítimo;
n) Lei nº. 48/II/84, de 31 de Dezembro, que declara
i) Decreto-Lei nº 24/93, de 10 de Maio, que regula o
propriedade do Estado os despojos e achados
acesso às actividades de afretador marítimo;
submarinos; e
j) Decreto-Lei nº 45/98, de 07 de Setembro, que o) Decreto-Lei nº. 43/98, de 07 de Setembro, que
estabelece os requisitos a observar pelas aplica o regime geral de contra-ordenações
entidades que exercem as actividades de às infracções das disposições da legislação
agente marítimo; marítima e actualiza o valor das coimas;
k) Decreto-Lei nº 23/2000, de 05 de Junho, que define p) O Livro III do Código Comercial.
o regime jurídico das empresas transitárias;
Artigo 5º
l) Decreto-Lei nº 4/2000, de 14 de Fevereiro, que
Entrada em vigor
aprova o regulamento da inscrição marítima
e tripulação da marinha mercante e da pesca; O presente Código entra em vigor a 1 de Janeiro de
e 2011.
m) Decreto-Lei Nº 44/VI/2004, de 12 de Julho, que Visto e aprovado em Conselho de Ministros.
estabelece o Regime Jurídico dos bens do
domínio público do Estado. José Maria Pereira Neves - Manuel Inocêncio Sousa

Artigo 4º Promulgado em 4 de Novembro de 2010.

Legislação revogada Publique-se.

Fica revogada toda a legislação que contrarie o disposto O Presidente da República, PEDRO VERONA RO-
no presente Código e, em especial: DRIGUES PIRES

a) Lei nº. 60/IV/92, de 21 de Dezembro, que delimita Referendado em 4 de Novembro de 2010.


as áreas marítimas da República de Cabo O Primeiro-Ministro, José Maria Pereira Neves
Verde;
CÓDIGO MARÍTIMO DE CABO VERDE
b) Decreto-Lei nº. 44/98, de 07 de Setembro, que
estabelece o estatuto legal do navio; LIVRO I

c) Decreto-Lei nº 35/98, de 31 de Agosto, que regula DAS DISPOSIÇÕES GERAIS


a construção, modificação, compra e venda de
TÍTULO I
navios;
DO OBJECTO, ÂMBITO, FONTES
d) Decreto-Lei nº 46/98, de 07 de Setembro, que
E INTERPRETAÇÃO
regula os privilégios e as hipotecas marítimas;
CAPÍTULO I
e) Decreto-Lei nº 24/2000, de 05 de Junho, que
estabelece o estatuto do capitão; Do objecto e âmbito de aplicação

f) Decreto-Lei nº 21/2004, de 31 de Maio, que Artigo 1.º


regulamenta o serviço público de transporte Objecto
marítimo de carga e de passageiros;
O presente Código regula os espaços marítimos nacio-
g) Decreto-Lei nº 25/93, de 10 de Maio, que regula o nais, navios, embarcações e artefactos navais, bem como
contrato de fretamento de navios; as situações e relações jurídicas nascidas por ocasião da
navegação por mar e do transporte marítimo.
h) Decreto-Lei nº. 25/2000, de 31 de Agosto,
que regula o contrato de transporte de Artigo 2.º
mercadorias por mar; Âmbito de aplicação

i) Decreto-Lei nº 36/98, de 31 de Agosto, que regula o 1. Sem prejuízo do disposto em cada um dos seus
contrato de transporte de passageiros por mar; Livros, as disposições do presente Código se aplicam a

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1752 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

todos os navios, seja qual for a nacionalidade do navio 2. Consideram-se navios de Estado, os navios de guer-
ou a nacionalidade e residência dos seus proprietários ra, iates, navios de fiscalização, navios hospitais, navios
ou armadores. auxiliares, navios de reabastecimento e outros perten-
centes ao Estado ou por ele explorados e afectos exclu-
2. Os navios nacionais ficam sujeitos às disposições do sivamente a um serviço governamental e não comercial.
presente Código onde quer que se encontrem, sem prejuí-
zo das competências conferidas a outros Estados e portos 3. São navios de guerra, os de Estado adstritos às forças
por convenções internacionais vigentes em Cabo Verde. armadas, que trazem os símbolos exteriores distintivos
dos navios de guerra de sua nacionalidade e que se
3. As disposições do presente Código se aplicam igual- encontrem sob o comando de um oficial militar devida-
mente a navios estrangeiros, em particular as que regu- mente designado pelo Governo, cujo nome esteja inscrito
lam a navegação pelos espaços marítimos da República no escalão de oficiais ou num documento equivalente e
de Cabo Verde e estadia nos portos nacionais. cuja dotação esteja submetida à disciplina das forças
4. O disposto no número anterior, não prejudica as armadas regulares.
competências que possam corresponder ao Estado de CAPÍTULO II
pavilhão ou a outro Estado do porto, conforme as conven-
ções internacionais vigentes em Cabo Verde, assim como Da precedência de fontes
o estabelecido no Título VII do Livro II deste Código para Artigo 6.º
os navios estrangeiros de Estado.
Hierarquia de fontes
Artigo 3.º
1. O disposto no presente Código é de aplicação subsi-
Aplicação a embarcações, artefactos navais e aeronaves
diária em relação às matérias reguladas nas convenções
1. Salvo disposição em contrário, as normas do presente internacionais vigentes em Cabo Verde.
Código referidas a navios são aplicáveis às embarcações
2. Na falta de norma escrita aplicável às matérias
e aos artefactos navais, com as necessárias adaptações.
reguladas no presente Código, deve-se recorrer sucessiva-
2. As normas dos livros II e III, são igualmente apli- mente, aos usos da navegação marítima, aos princípios do
cáveis às aeronaves que se encontrem na água, salvo direito marítimo, aos princípios da legislação comercial,
disposição expressa em contrário. civil, laboral, administrativa ou processual, conforme a
natureza da matéria a regular.
3. O Governo pode, através de Regulamentos, isentar a
aplicação de algumas normas do presente Código a deter- Artigo 7.º
minadas classes de embarcações ou de artefactos navais. Interpretação uniforme

4. O regime dos engenhos flutuantes de cumprimento Na interpretação das normas das convenções maríti-
inferior a 2,5 (dois vírgula cinco) metros utilizados para mas internacionais vigentes em Cabo Verde e na inter-
o transporte por água é regulamentado pelo membro do pretação das disposições do presente Código referentes
Governo responsável pela administração marítima. a matérias reguladas por convenções marítimas inter-
Artigo 4.º
nacionais não vigentes em Cabo Verde, deve-se procurar
alcançar a uniformidade internacional.
Navegação de recreio
TÍTULO II
1. As embarcações de recreio e seu regime de navegação
estão sujeitos a legislação especial, sem prejuízo da apli- DA ADMINISTRAÇÃO MARÍTIMA
cação subsidiária das disposições do presente Código, na
CAPÍTULO I
medida em que estas estejam em conformidade com a
natureza das suas actividades. Das administrações marítimas e sua organização
territorial
2. Considera-se embarcação de recreio todo engenho ou
aparelho de qualquer natureza, com comprimento entre Artigo 8.º
2,5 (dois vírgula cinco ) metros e 24( vinte e quatro) me- Administrações marítimas
tros, utilizado ou susceptível de ser utilizado como meio
de deslocação na água, aplicado nos desportos náuticos, 1. Salvo disposição em contrário, cabe à administração
ou em simples lazer, sem fins lucrativos. marítima a competência administrativa sobre matérias
objecto do presente Código.
3. As motos de água, independentemente do seu com-
primento integram o conceito de embarcações de recreio 2. Para efeitos do disposto no presente Código, entende-
para efeitos de aplicação do presente Código. se por administração marítima, o Instituto Marítimo
Portuário abreviadamente, designado por IMP, ou outra
Artigo 5.º
autoridade, entidade ou serviço sob dependência ou tutela
Exclusão de navios de Estado do Governo que venha a dispor de atribuições e exerça
competências sobre matérias objecto do Código.
1. O disposto no presente Código, não se aplica aos
navios de Estado, salvo os casos expressamente nele 3. Sem prejuízo do disposto no presente Código, as com-
previstos. petências dos órgãos e serviços das entidades previstas

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1753

no número anterior, regulam-se pelas respectivas leis b) As águas arquipelágicas;


orgânicas, pelos seus estatutos e o demais previsto em
legislação especial. c) O mar territorial;

4. Para o exercício das suas atribuições e competências, d) A zona contígua;


a administração marítima dispõe de serviços territoriais,
e) A zona económica exclusiva; e
designados por capitanias de porto e delegações maríti-
mas, sujeitos a regulamentação especial f) A plataforma continental.
CAPÍTULO II
CAPÍTULO II
Das atribuições e competências de outros órgãos
Das águas arquipelágicas
Artigo 9.º
Artigo 14.º
Atribuições e competências
Delimitação das águas arquipelágicas
O disposto no presente Código não prejudica as atribui-
ções e competências das administrações pesqueira, mili- As águas arquipelágicas da República de Cabo Verde
tar ou outras que estejam sujeitas à legislação especial. compreendem toda a área marítima no interior das linhas
Artigo 10.º de base traçadas em conformidade com o artigo 28º.
Guarda costeira e policias Artigo 15.º
A guarda costeira, a polícia nacional e a polícia judi- Soberania sobre as águas arquipelágicas
ciária exercem nos espaços marítimos nacionais e nos
portos, as competências que se lhes são atribuídas pelo A República de Cabo Verde exerce soberania sobre as
presente Código e nas respectivas leis orgânicas, nos águas arquipelágicas, designadamente sobre:
seus estatutos e o demais previsto em legislação especial.
a) A respectiva coluna de água, qualquer que seja a
LIVRO II sua profundidade ou a sua largura;
DOS ESPAÇOS MARÍTIMOS E DO REGIME
b) O espaço aéreo sobrejacente, bem como o leito e
DE NAVEGAÇÃO
o subsolo do mar correspondentes;
TÍTULO I
c) Os recursos vivos e não -vivos nelas existentes.
DO DOMÍNIO PÚBLICO MARÍTIMO
DO ESTADO Artigo 16.º

Artigo 11.º Águas interiores

Princípios fundamentais
A República de Cabo Verde pode, no interior das suas
O regime jurídico dos bens do domínio público marí- águas arquipelágicas, traçar linhas de fecho para a de-
timo tem como base os princípios da inalienabilidade, limitação de águas interiores.
da imprescritibilidade, da impenhorabilidade e da de- Artigo 17.º
safectação.
Acordos internacionais
Artigo 12.º
Remissão Sem prejuízo do disposto no artigo 15.º, a República
de Cabo Verde respeita quaisquer acordos existentes
1. O regime jurídico da definição, delimitação de zonas
que se relacionem com actividades nas suas águas ar-
do domínio público marítimo, sua utilização, fiscalização
quipelágicas.
e registo está sujeito a legislação especial.
2. A extracção de areia, hidrocarbonetos, minerais ou CAPÍTULO III
quaisquer outros recursos não vivos nas zonas do domínio
Do mar territorial
público marítimo está igualmente sujeita a legislação
especial. Artigo 18.º

TÍTULO II Extensão do mar territorial

DOS ESPAÇOS MARÍTIMOS NACIONAIS O mar territorial de Cabo Verde tem a largura de 12
CAPÍTULO I (doze) milhas marítimas, medidas a partir das linhas de
base definidas no artigo 28º.
Das áreas marítimas
Artigo 19.º
Artigo 13.º
Águas marítimas Soberania sobre o mar territorial

De acordo com o direito internacional, as áreas maríti- No mar territorial, a República de Cabo Verde exerce
mas sujeitas à jurisdição da República de Cabo Verde são: soberania sobre:
a) As águas interiores; a) A coluna de água;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1754 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

b) O espaço aéreo sobrejacente; Artigo 24.º

c) O leito, solo e subsolo correspondentes; e Navegação pela zona económica exclusiva

d) Os recursos vivos e não -vivos. 1. Sem prejuízo do disposto no artigo 30º, na zona eco-
nómica exclusiva todos os Estados gozam:
CAPÍTULO IV
a) Da liberdade de navegação; e
Da zona contígua
b) Da liberdade de sobrevoo.
Artigo 20.º
2. O exercício das liberdades e dos direitos afins a que
Extensão da zona contígua
se refere o número anterior deve respeitar os direitos
A República de Cabo Verde estabelece uma zona contí- soberanos, bem como as leis e regulamentos da República
gua ao mar territorial, cujo limite exterior é de 24 (vinte de Cabo Verde.
e quatro) milhas marítimas contadas a partir das linhas
3. No exercício das liberdades a que se refere o número
de base a que se refere o artigo 28º.
um, é proibida qualquer actividade não autorizada de
Artigo 21.º pesca, ou de pesquisa, bem como qualquer actividade que
Jurisdição na zona contígua provoque poluição ou atente contra o meio marinho ou
seja prejudicial aos recursos naturais da zona económica
A República de Cabo Verde na sua zona contígua exerce exclusiva ou aos interesses económicos da República de
o controlo necessário para prevenir e punir infracções Cabo Verde.
cometidas no seu território terrestre, águas interiores,
águas arquipelágicas e mar territorial, às leis e regula- CAPÍTULO VI
mentos aduaneiros, fiscais, sanitários e de emigração. Da plataforma continental
CAPÍTULO V Artigo 25.º

Da zona económica exclusiva Extensão da plataforma continental

Artigo 22.º A plataforma continental da República de Cabo Verde


Extensão da zona económica exclusiva compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que
se estendem além do mar territorial, até a uma distância
A zona económica exclusiva da República de Cabo de 200 (duzentas) milhas marítimas das linhas de base
Verde compreende a zona marítima cujo limite interior a que se refere o artigo 28º.
corresponde ao limite exterior do mar territorial e cujo
Artigo 26.º
limite exterior corresponde a uma linha em que cada
ponto se encontra a uma distância de 200 (duzentas) Direitos de soberania
milhas do ponto mais próximo da linha de base a partir
1. Na sua plataforma continental, a República de Cabo
da qual se mede a largura do mar territorial.
Verde possui direitos soberanos para efeitos de explo-
Artigo 23.º ração e aproveitamento dos recursos naturais, vivos e
Direitos de soberania e jurisdição não-vivos.

Na zona definida no artigo anterior a República de 2. Os direitos a que se refere o número anterior são ex-
Cabo Verde possui: clusivos, no sentido de que se a República de Cabo Verde
não explora a plataforma continental ou não aproveita
a) Direitos de soberania para fins de exploração os recursos naturais da mesma, nenhum outro Estado
e aproveitamento, conservação e gestão ou entidade pode empreender estas actividades sem
dos recursos naturais vivos ou não-vivos consentimento expresso das autoridades cabo-verdianas
das aguas sobrejacentes ao leito do mar e competentes.
seu subsolo e direitos soberanos no que se
Artigo 27.º
refere a outras actividades de exploração e
aproveitamento da zona para fins económicos, Perfurações na plataforma continental
como a produção de energia a partir da água,
A República de Cabo Verde tem o direito exclusivo de
das correntes e dos ventos; e
autorizar e regulamentar as perfurações na sua plata-
b) Jurisdição exclusiva, no que se refere a: forma continental, quaisquer que sejam os fins.

i) Colocação e utilização de ilhas artificiais, Artigo 28.º


instalações e estruturas; Linha de base

ii) Investigação científica marinha; A linha de base a partir da qual se mede a largura
das águas arquipelágicas, do mar territorial, da zona
iii) Protecção e preservação do meio ambiente
contígua, da zona económica exclusiva e da plataforma
marinho; e
continental, é constituída pelas linhas rectas que unem os
iv) Quaisquer outros direitos não reconhecidos a pontos mais exteriores das ilhas e ilhéus mais exteriores,
terceiros Estados. determinadas pelas seguintes principais coordenadas:

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1755

Ponto Latitude N Longitude W Observações


A. 14º 48´ 43.17´´ 24º 43´ 48.85´´ I. Brava
C-P1 a Rainha 14º 49´ 59.10´´ 24º 45´ 33.11´´ -
C-P1 a Fajã 14º 51´ 52.19´´ 24º 45´ 09.19´´ -
D-P1 Vermelharia 16º 29´ 10.25´´ 24º 19´ 55.87´´ S. Nicolau
E. 16º 36´ 37.32´´ 24º 36´ 13.93´´ Ilhéu Raso
F- P1 a da Peça 16º 54´ 25.10’´ 25º 18´ 11.00´´ Santo Antão
F. 16º 54´ 40.00´´ 25º 18´ 32.00´´ -
G-P1 a Camarim 16º 55´ 32.98´´ 25º 19´ 10.76´´ -
H-P1 a Preta 17º 02´ 28.66´´ 25º 21´ 51.67´´ -
I-P1 a Mangrade 17º 03´ 21.06´´ 25º 21´ 54.44´´ -
J-P1 a Portinha 17º 05´ 33.10´´ 25º 20´ 29.91´´ -
K-P1 a do Sol 17º 12´ 25.21´´ 25º 05´ 56.15´´ -
L-P1 a Sinagoga 17º 10´ 41.58´´ 25º 01´ 38.24´´ -
M-Pta Espechim 16º 40´ 51.64´´ 24º 20´ 38.79´´ S. Nicolau
N-Pta Norte 16º 51´ 21.13´´ 22º 55´ 40.74´´ Sal
O-Pta Casaca 16º 50´ 01.69´´ 22º 53´ 50.14´´ -
P-Ilheu Cascalho 16º 11´ 31.04´´ 22º 40´ 52.44´´ I. Boa Vista
P1-Ilheu Baluarte 16º 09´ 05.00´´ 22º 39´ 45.00´´ -
Q-Pta de Roque 16º 05´ 09.83´´ 22º 40´ 26.06´´ -
R-Pta Flamengas 15º 10´ 03.89´´ 23º 05´ 47.90´´ I. Maio
S. 15º 09´ 02.21´´ 23º 06´ 24.98´´ Santiago
T. 14º 54´ 10.78´´ 23º 29´ 36.09´´ -
U-D.Maria Pia 14º 53´ 50.00´´ 23º 30´ 54.50´´ I. de Fogo
V-Pta Pesqueiro 14º 48´ 52.32´´ 24º 22´ 43.30´´ I. Brava
X-Pta Nho Martinho 14º 48´ 25.59´´ 24º 42´ 34.92´´ -
Y=A 14º 48´ 43.17´´ 24º 43´ 48.85´´

CAPÍTULO VII TÍTULO III


Das fronteiras marítimas e uso pacífico dos DO REGIME GERAL DA NAVEGAÇÃO
espaços marítimos MARÍTIMA
Artigo 29.º CAPÍTULO I
Fronteiras marítimas Das disposições gerais
Nos casos em que o limite exterior da zona económica Artigo 31.º
exclusiva ou da plataforma continetal, definidos de con-
Liberdade de navegação
formidade com o presente Código, se sobrepõe com parte
de uma zona económica exclusiva ou de uma plataforma Todos os navios podem navegar livremente pelos es-
continental de Estado limítrofe, a fronteira marítima paços marítimos de Cabo Verde, quer seja para os atra-
é fixada mediante acordo a negociar com o Estado em vessar em passagem lateral, quer para entrar ou sair dos
questão, de conformidade com o direito internacional portos nacionais, respeitando as restrições e requisitos
aplicável. estabelecidos no presente Código e em legislação especial,
designadamente, aduaneira, sanitária e de emigração.
Artigo 30.º
Artigo 32.º
Uso pacífico dos mares
Excepções ao regime de liberdade
Sem prejuízo do disposto no presente Código, todas
as actividades por parte de entidades ou navios estran- 1. A administração marítima, pode condicionar, res-
geiros nas áreas marítimas submetidas à soberania ou tringir ou proibir, por razões de segurança e protecção
jurisdição da República de Cabo Verde, devem respeitar marítima, a navegação por certos espaços marítimos na-
o princípio de utilização pacífica dos oceanos. cionais, em particular nos casos de exercícios e operações

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1756 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

navais das forças armadas ou sempre que a passagem dos Artigo 36.º
navios estrangeiros pelo mar territorial ou pelas águas Navegação de navios pesqueiros
arquipelágicas não seja inofensiva.
1. A navegação dos navios pesqueiros nacionais está
2. As medidas previstas no número anterior podem ser sujeita, para além das regras gerais do presente Código,
adoptadas também por razões de conservação da biodi- às prescrições especiais estabelecidas na legislação
versidade marinha, quando as autoridades competentes pesqueira.
assim o requeiram em aplicação da legislação pesqueira
ou ambiental vigente. 2. Salvo autorização expressa da administração ma-
rítima, é proibida a pesca por navios estrangeiros nas
3. As medidas previstas no número um podem ser águas interiores, nas águas arquipelágicas e no mar
adoptadas pelas administrações competentes, sem dis- territorial, não se considerando passagem inofensiva,
criminação de bandeira e em relação a determinadas qualquer actividade de pesca realizada por tais navios
categorias de navios, quando isso seja necessário para nos referidos espaços territoriais.
prevenir a realização de actividades ilícitas ou o exercício
3. Cabe à administração marítima ou entidade desig-
de qualquer tráfego proibido.
nada pelo Governo velar para que, no uso dos direitos e
Artigo 33.º cumprimento dos deveres, na zona económica exclusiva,
os navios estrangeiros respeitem os direitos do Estado e
Detenção e fundeio cumpram as disposições do presente Código e da legis-
lação pesqueira, com respeito pelo direito internacional.
1. O direito a navegar não inclui o de deter ou fundear
fora das zonas portuárias, salvo caso de força maior, 4. Salvo autorização da administração marítima, os
sem autorização expressa da administração marítima, navios estrangeiros de passagem pelos espaços marítimos
ou quando se trate de embarcações dedicadas exclusi- de Cabo Verde não podem ter seus apetrechos de pesca em
vamente ao recreio que se detenham com tal finalidade estado de funcionamento ou de operatividade imediata.
em angras ou lugares de banho e não ponham em perigo Artigo 37.º
a segurança da vida humana no mar ou da navegação.
Navegação de navios de investigação
2. Os navios obrigados a deter-se ou fundear-se em caso
1. A realização de actividades de investigação científica
de perigo ou de força maior devem avisar tais circuns-
a partir de navios estrangeiros nos espaços marítimos
tâncias, imediatamente e por todos os meios possíveis,
nacionais, assim como, as efectuadas por entidades es-
à administração marítima mais próxima.
trangeiras a bordo de navios cabo-verdianos nos referi-
Artigo 34.º dos espaços, fica sujeita a autorização da administração
marítima, a ser regulamentada por Portaria do membro
Exibição de marcas e bandeira
do Governo responsável pela administração marítima.
1.Os navios que naveguem pelos espaços marítimos 2. A autorização prevista no número anterior é condi-
nacionais devem estar embandeirados num só Estado e cionada a fins exclusivamente pacíficos da investigação
levar marcado seu nome e porto de matrícula. e informação dos resultados da mesma, bem como, a sua
contribuição para o progresso dos conhecimentos sobre
2. Os navios estrangeiros devem içar, obrigatoriamen- o meio marinho e não constitua perigo para a segurança
te, a bandeira da sua nacionalidade em lugar bem visível da navegação ou do meio ambiente nem obstáculo para o
quando naveguem pelas águas interiores ou se encontrem exercício dos direitos soberanos e da jurisdição do Estado.
em porto nacional e arvorar, igualmente, a bandeira de
Cabo Verde, conforme os usos marítimos internacionais. 3.A investigação não autorizada não pode ser conside-
rada incluída no direito de passagem inofensiva pelo mar
3. Mediante regulamento aprovado por Portaria mem- territorial ou pelas águas arquipelágicas.
bro do Governo responsável pela administração marítima
Artigo 38.º
podem estabelecer excepções às obrigações previstas nos
números anteriores. Término das actividades de investigação

Artigo 35.º A administração marítima pode ordenar, em qualquer


momento e sem direito de indemnização alguma para os
Submarinos investigadores, a suspensão ou o término das actividades
de investigação por incumprimento das condições esta-
1. Os navios submarinos estrangeiros e outros veículos belecidas na autorização concedida.
submergíveis navegam na superfície e com os respectivos
pavilhões desdobrados quando naveguem pelas águas Artigo 39.º
interiores, pelas águas arquipelágicas ou pelo mar ter- Seguro de responsabilidade civil
ritorial de Cabo Verde.
1. Sem prejuízo do disposto no presente Código, os
2. Os submarinos estrangeiros que naveguem sub- armadores, proprietários ou gestores de navios nacio-
mergidos são convidados e, se necessário, obrigados a nais são obrigados a possuir seguro de responsabilidade
emergir, salvo se a isso forem impedidos por avaria, que civil que cubra eventuais danos causados a terceiros em
tem de ser comunicada, por todos os meios possíveis. consequência de navegação dos seus navios.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1757

2. O seguro previsto no número anterior, deve ser regu- documentos e observar as medidas especiais de precaução
lamentado por Portaria conjunta dos membros do Gover- previstas nas convenções internacionais vigentes em
no responsáveis pelas áreas da administração marítima Cabo Verde.
e de investigação científica, tendo em consideração as
2. Os navios referidos no número anterior devem efec-
recomendações da Organização Marítima Internacional.
tuar sua passagem pelas vias, dispositivos e sistemas
3. Os membros do Governo, responsáveis pelas áreas estabelecidos conforme previsto no artigo 58º e seguir as
da administração marítima e de investigação científica, instruções especiais de navegação que, neste caso, possam
devem igualmente, por Portaria conjunta, regulamentar ser expedidas pela administração marítima.
o seguro de responsabilidade civil que os navios estran-
Artigo 44.º
geiros que naveguem pelos espaços marítimos nacionais
devem possuir, para cobrir eventuais danos causados a Isenção de impostos
terceiros em consequência de navegação, obedecendo o
disposto na parte final do número anterior. O direito de passagem inofensiva não está sujeito ao
pagamento de taxa ou imposto sendo, contudo, os navios
CAPÍTULO II estrangeiros obrigados ao pagamento dos serviços que
efectivamente possam ter-lhes sido prestados durante
Do direito de passagem inofensiva
sua passagem pelo mar territorial ou pelas águas ar-
Artigo 40.º quipelágicas.
Sujeição à passagem inofensiva
Artigo 45.º
1. A navegação pelo mar territorial e pelas águas arqui- Suspensão da passagem inofensiva
pelágicas de todos os navios estrangeiros, incluídos os de
Estado, está sujeita ao regime de passagem inofensiva. 1. Para a defesa dos interesses gerais e, em particu-
lar, para a segurança da navegação, o Governo pode
2. A passagem deve ser rápida e sem interrupção, sem
suspender, temporariamente e sem discriminação entre
atentar contra a paz, a ordem pública ou a segurança da
pavilhões, a passagem inofensiva em determinadas zonas
República de Cabo Verde.
do mar territorial.
3. A detenção e fundeio durante a passagem estão
sujeitos ao disposto no artigo 33º. 2. A suspensão prevista no número anterior deve me-
recer do Governo ampla publicidade internacional.
Artigo 41.º
Artigo 46.º
Cumprimento de leis e regulamentos
Exercício da jurisdição civil
Os navios que exerçam o direito de passagem inofen-
siva são obrigados a respeitar as disposições do presente 1. Os navios estrangeiros que passem pelo mar territo-
Código, das leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, sa- rial ou pelas águas arquipelágicas não podem ser detidos
nitários, emigração e navegação, bem como, os relativos ou desviados para se exercer a jurisdição civil em relação
à protecção do meio ambiente marinho. às pessoas que se encontrem a bordo dos mesmos.
Artigo 42.º
2. Podem adoptar-se medidas cautelares ou executivas
Proibições em relação aos navios estrangeiros, quando estes forem
1. Sem prejuízo do disposto em Convenções Interna- detidos ou tenham fundeado voluntariamente durante
cionais vigentes em Cabo Verde e salvo autorização da sua passagem, bem como em relação aos que naveguem
administração marítima, não se considera inofensiva e pelo mar territorial ou pelas águas arquipelágicas depois
são proibidas aos navios estrangeiros, na passagem pelo de terem abandonado as águas interiores do Estado.
mar territorial ou pelas águas arquipelágicas, a realiza- 3. Tais medidas podem ainda, ser adoptadas em relação
ção de actividades subaquáticas, bem como, aquelas que aos navios em passagem lateral, mas somente pelas
possam avariar os cabos, encanamentos submarinos ou obrigações adquiridas e pelas responsabilidades em que
instalações e equipamentos ao serviço da navegação ou tiverem incorrido durante sua passagem.
da exploração dos recursos marinhos.
Artigo 47.º
2. Durante a passagem fica ainda proibida a utilização
de botes salva-vidas ou outras embarcações auxiliares, Exercício da jurisdição penal
salvo em caso de sinistro ou para operações de busca e 1. A jurisdição penal de Cabo Verde não pode ser exer-
salvamento, a emissão de sinais sonoros ou luminosos, cida a bordo de um navio estrangeiro que passe pelo mar
que não sejam as previstas nas normas e regulamentos territorial ou pelas águas arquipelágicas, sem proceder
sobre segurança marítima e prevenção de abordagens e das águas interiores, para deter pessoas ou realizar in-
quaisquer outras actividades que não estejam directa- vestigações relacionadas com um delito cometido a bordo
mente relacionadas com a passagem. do navio durante sua passagem, salvo nos casos previstos
Artigo 43.º nas convenções internacionais vigentes em Cabo Verde.
Passagem de navios que comportam riscos especiais
2. Nos casos previstos no número anterior ou por
1. Os navios que transportem substâncias radioactivas solicitação do capitão do navio ou de um representante
ou outras perigosas, ou nocivas, devem ter a bordo os diplomático ou consular do Estado da bandeira, as auto-

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1758 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

ridades judiciais nacionais competentes podem proceder Artigo 52.º


a uma instrução preliminar e tomar medidas coercivas Prioridade de pilotagem aos navios em perigo
relativamente a delitos que tenham sido cometidos a
bordo de um navio estrangeiro. Salvo caso de força maior, o piloto deve, prestar com
prioridade assistência ao navio em perigo, ainda que este
Artigo 48.º
não a tenha solicitado, desde que tenha conhecimento
Notificação de agente diplomático da situação de risco, sem prejuízo dos direitos que lhe
pode corresponder no conceito de salvamento, nos termos
A autoridade judicial competente notifica um repre- previstos no Título III do Livro VIII do presente Código.
sentante diplomático ou consular do Estado da bandeira,
e caso possível, logo que receba a petição do capitão do Artigo 53.º
navio e antes do início das diligências e actuações neces- Regras de rumo e governo e navegação em zona de gelos
sárias ao exercício da jurisdição penal.
1. Todos os navios, sem excepção, devem ajustar sua
CAPÍTULO III navegação ao cumprimento das regras de luzes, sinais,
rumo e governo contidas nos regulamentos aplicáveis, em
Da segurança da navegação marítima particular no Regulamento Internacional para prevenir
Artigo 49.º as abordagens no mar.
Ajudas à navegação 2. O capitão de qualquer navio nacional que tenha sido
informado da presença de gelos na sua rota ou perto dela,
Compete à administração marítima estabelecer e man- é obrigado, durante a noite, a navegar a uma velocidade
ter em funcionamento a sinalização marítima, bem como moderada ou a modificar sua rota para distanciar-se da
prestar as ajudas necessárias à navegação de acordo com zona perigosa.
as exigências do volume do tráfego e o grau de risco, de
conformidade com as convenções internacionais vigentes Artigo 54.º
em Cabo Verde, assim como, colocar à disposição dos Publicidade dos perigos e ajudas à navegação
interessados a informação sobre as ajudas.
1. A administração marítima é obrigada a difundir
Artigo 50.º periodicamente avisos aos navegantes nos quais se dá
Serviço de pilotagem conta dos naufrágios produzidos, os objectos à deriva
conhecidos e quaisquer outras circunstâncias que afec-
1. Entende-se por pilotagem a assessoria aos capitães, tem a segurança da navegação nos espaços marítimos
prestada a bordo por pessoal devidamente qualificado nacionais.
para o efeito e dirigido à segurança da navegação e ma-
nobra dos navios nas entradas e saídas dos portos. 2. A administração marítima assegura a publicação
periódica de livros e documentos de faróis e sinais e
2. Compete à administração marítima organizar e cartas oficiais de navegação nas quais tem de constar os
assegurar a prestação do serviço de pilotagem. naufrágios, baixios e outros obstáculos que afectem de
Artigo 51.º forma duradoura a segurança da navegação.
Artigo 55.º
Obrigatoriedade do serviço de pilotagem
Avisos dos capitães
1. A pilotagem é obrigatória para todos os navios, nos
portos e locais assim considerados pela administração 1. Os capitães dos navios nacionais devem informar à
marítima. administração marítima as falhas ou deficiências verifica-
das nos sinais marítimos e em outras ajudas à navegação,
2.Antes de entrar nas zonas de pilotagem e com ante- assim como, dar aviso, da presença de objectos à deriva
cedência suficiente para prosseguir as operações de apro- que avistem na sua viagem e possam admitir um perigo
ximação e demais manobras requeridas com segurança, o imediato para a navegação.
capitão deve dirigir a solicitação do serviço, abstendo-se
de levar a cabo qualquer manobra que necessite de direc- 2. Os capitães dos navios nacionais devem também,
ção assistida, salvo em caso de necessidade e enquanto o dar aviso, no caso de se depararem com temporais extra-
piloto não estiver a bordo. ordinários e quaisquer outras causas que admitam um
perigo para a navegação.
3. Mediante regulamento aprovado pelo membro do Go-
Artigo 56.º
verno responsável pela administração marítima, pode-se
estabelecer isenções ao serviço de pilotagem, sem que as Sistemas de organização e serviços de tráfego marítimo
mesmas exonerem os capitães da obrigação de procurar a
informação precisa para navegar ou manobrar sem risco e 1. No interesse da segurança da navegação e em confor-
em geral a extremar a diligência que um bom marinheiro midade com as normas internacionais vigentes em Cabo
habitualmente utiliza no exercício de suas funções. Verde, o Governo estabelece o procedimento, segundo o
qual são designados, substituídos ou supridos, nos es-
4. O capitão de um navio sujeito à pilotagem obrigatória paços marítimos nacionais, os sistemas de organização
é obrigado a pagar este serviço mesmo quando realize as do tráfego, incluídas, se necessário, as vias marítimas
manobras sem piloto a bordo, sem prejuízo das sanções arquipelágicas, assim como, os sistemas de notificação
e responsabilidades em que incorrer. obrigatória para navios e os serviços de tráfego marítimo.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1759

2. Os referidos sistemas e serviços podem ser de utiliza- águas marítimas, no solo e subsolo marinhos ou na atmos-
ção obrigatória para todos os navios ou para determinada fera sobrejacente, de substâncias ou formas de energia
classe deles, sem discriminação de pavilhão e uma vez que constituam ou possam constituir um perigo para a
que tenham obtido a aprovação e publicação internacional saúde humana, que prejudiquem ou possam prejudicar os
que, se mostrar necessária. ecossistemas marinhos, recursos turísticos ou paisagís-
ticos, deteriorem a qualidade da água do mar e reduzam
3. Em qualquer caso, os serviços de tráfego marítimo na
ou possam reduzir as possibilidades de espairecimento
zona económica exclusiva apenas podem ser de emprego
ou causar obstáculo a outros usos legítimos dos mares
obrigatório quando tenham sido devidamente aprovados
ou das águas costeiras.
e publicados pela Organização Marítima Internacional.
Artigo 61.º
Artigo 57.º
Navegação em zonas de banho Poluição operacional

1. É proibida toda classe de navegação nas zonas de Entende-se por poluição operacional qualquer descarga
banho devidamente balizadas, devendo o lançamento proveniente da limpeza de tanques e sentinas, de águas
ou encalhe de embarcações, ser feita através de canais sujas ou de lastro, assim como de lixos ou de emanações
delimitados e assinalados para o efeito. de gases dos motores e, em geral, toda aquela produzida
2. Nos trechos da costa não balizados como zonas de pelas operações normais da vida ou actividade a bordo
banho, entende-se que esta ocupa uma franja de água dos navios.
contígua à costa de largura de 200 (duzentos) metros nas Artigo 62.º
praias e de 50 (cinquenta) metros no resto da costa ou
ribeiras, nas quais, não se pode navegar a uma velocidade Poluição por vertimento
superior a 3 (três) nós, devendo ser adoptadas as devidas 1. Entende-se por poluição por vertimento a procedente
precauções para evitar riscos à segurança humana. da evacuação deliberada de substâncias ou materiais a
Artigo 58.º partir de navios, quando recebidas a bordo com a finali-
Zonas de segurança dade de proceder à sua evacuação mediante prévia rea-
lização de um processo de tratamento ou transformação
Compete à administração marítima determinar as
a bordo.
zonas de segurança para os fundeadouros, canais de
navegação, zonas adjacentes aos portos, instalações e 2. Considera-se, ainda, poluição por vertimento, o
lugares de exploração de recursos naturais nos espaços naufrágio deliberado de navios, aeronaves, instalações
marítimos nacionais, com a finalidade de preservar a ou estruturas no mar.
segurança da navegação, assim como a entrada e saída
dos navios que nelas operem. Artigo 63.º

Artigo 59.º Poluição acidental


Colocação e retirada de artefactos navais
Entende-se por poluição acidental a derivada de um
1. A colocação de artefactos navais e plataformas ou acidente sofrido por um navio, que produza seu naufrá-
estruturas fixas artificiais nos espaços marítimos nacio- gio, afundamento ou incêndio ou o lançamento à água
nais deve ficar devidamente balizada e de acordo com ou incêndio de sua carga ou de outras substâncias ou
instruções da administração marítima. materiais que estejam ou tenham estado a bordo.
2. Em redor dos artefactos, plataformas ou estruturas CAPÍTULO II
devem ser estabelecidas zonas de segurança da navega-
ção, num raio que não exceda 500 (quinhentos) metros Dos actos ilícitos de poluição
a partir do seu bordo exterior, sem prejuízo de normas Artigo 64.º
internacionais, que possam ser aplicadas.
Poluição ilícita
3. As instalações que já não são utilizadas devem ser
desmontadas e retiradas pelo seu titular num prazo Consideram-se ilícitos, todos os actos intencionais ou
razoável, fixado pela administração marítima, garan- negligentes de poluição, incluída a incineração, nos es-
tindo sempre a segurança da navegação, sem prejuízo paços marítimos nacionais, assim como a causada fora
do disposto no Capítulo V do Título IV do Livro VIII do destes por navios cabo-verdianos.
presente Código.
Artigo 65.º
TÏTULO IV
Descargas ou vertimentos lícitos
DA PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO MARINHA
1. Consideram-se lícitas as descargas ou vertimentos
CAPÍTULO I
na medida autorizada pelas convenções internacionais
Do conceito e das classes de poluição marinha vigentes em Cabo Verde, quando efectuadas mediante
Artigo 60.º prévia permissão da administração marítima, concedida
Conceito de poluição em conformidade com as referidas convenções.

Para efeitos do presente Código entende-se por polui- 2. Consideram-se também lícitas as descargas ou ver-
ção, a introdução directa ou indirecta por navios, nas timentos realizados por força maior nas quais o acto de

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1760 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

poluição seja necessário para salvaguardar a segurança marinha para fazer frente com prontidão e eficácia aos
da vida humana ou dos navios, sempre que não pareça incidentes de poluição por hidrocarbonetos ou outras
existir outro meio para evitar a ameaça e que os possíveis substâncias nocivas ou potencialmente perigosas.
danos causados se mostrem, com toda a probabilidade,
inferiores aos que se produziriam como consequência de 2. Sem prejuízo do disposto nas convenções interna-
qualquer outra actuação. cionais vigentes em Cabo Verde, o plano previsto no
número anterior, deve estabelecer regras de coordenação
3. Em qualquer caso, as descargas ou vertimentos e interligação entre as distintas entidades e organismos
previstos neste artigo devem ser levados a cabo de forma públicos, chamadas a intervir.
a reduzir ao mínimo, a probabilidade de causar danos a
seres humanos ou aos ecossistemas das águas marítimas, 3. O plano nacional de preparação e luta contra a
sem prejuízo das responsabilidades civis que possam poluição e o plano nacional de salvamento previsto no
ocorrer conforme o previsto no Título V do Livro VIII. artigo 74.º do presente Código, devem ser elaborados em
estreita colaboração dos departamentos responsáveis
Artigo 66.º
pela elaboração dos mesmos.
Perda do direito de passagem inofensiva
Artigo 70.º
1. Não se considera inofensiva a passagem dos navios Planos de emergência a bordo
estrangeiros pelo mar territorial ou pelas águas arqui-
pelágicas quando realizem qualquer acto de poluição 1. Compete à administração marítima fiscalizar os
ilícita de forma intencional e com resultado grave para navios nacionais que transportem hidrocarbonetos ou
o meio ambiente. outras substâncias nocivas ou potencialmente perigosas
e exigir que tenham a bordo a relação completa da carga,
2. Não se considera igualmente inofensiva a passagem
assim como um plano de emergência para o caso de po-
de navios estrangeiros cujo estado de avaria ou cujas
luição ajustado às prescrições contidas na lei aplicável.
condições de navegabilidade constituam séria ameaça
para o meio ambiente. 2. O disposto no número anterior aplica-se igualmente
CAPÍTULO III aos navios estrangeiros atracados nas zonas portuárias,
podendo a administração marítima exigir a exibição do
Dos deveres gerais da administração marítima plano de emergência no quadro de suas competências
Artigo 67.º
inspectoras como Estado do porto.

Medidas de supervisão e de limpeza 3. As embarcações são isentas das obrigações previstas


nos números anteriores.
1. Compete à administração marítima fiscalizar o
cumprimento de todas as normas aplicáveis, perseguir CAPÍTULO V
e sancionar as contravenções, bem como, promover a
adopção das medidas técnicas e operativas que conduzam Dos deveres de notificação e cooperação
à preservação do meio ambiente marinho e à segurança internacional
da navegação. Artigo 71.º

2. Compete ainda à administração marítima, em caso Obrigação de notificar actos de poluição


de poluição consumada, adoptar as medidas que consi-
derar procedentes para a limpeza das águas marítimas e 1 Os capitães dos navios nacionais devem notificar a
para evitar ou prevenir danos aos ecossistemas marinhos administração marítima e à autoridade competente do
e ao litoral. Estado ribeirinho mais próximo, os actos de poluição por
hidrocarbonetos ou por substâncias nocivas ou poten-
Artigo 68.º
cialmente perigosas que tenham tomado conhecimento
Controlo das actividades de exploração de recursos naturais durante a navegação.
Durante as operações de perfuração, trabalhos de 2. A notificação referida no número anterior é extensiva
exploração ou outras actividades relacionadas com o aos capitães dos navios estrangeiros que naveguem nos
aproveitamento e a exploração dos recursos naturais nos espaços marítimos nacionais.
espaços marítimos nacionais, a administração marítima
fiscaliza o cumprimento dos requisitos e condições im- 3. A notificação referida neste artigo fica sujeita a
postas aos titulares da actividade para a prevenção da regulamentação pelo membro do Governo responsável
poluição, assim como para sua eliminação. pela administração marítima.

CAPÍTULO IV Artigo 72.º

Colaboração internacional
Da planificação de contingências
Artigo 69.º 1. Sempre que for solicitada assistência à administração
marítima por outro Estado ribeirinho em cujas águas se
Planos de preparação e luta contra a poluição
tenha produzido actos de poluição, deve colaborar com
1. Compete à administração marítima estabelecer um as autoridades do Estado solicitante se isso se mostrar
plano nacional de preparação e luta contra a poluição possível e razoável.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1761

2. A assistência referida no número anterior pode igual- cionais vigentes em Cabo Verde, bem como os acordos de
mente ser prestada a solicitação do Estado de pavilhão. colaboração e coordenação existentes com os serviços de
salvamento dos Estados vizinhos.
3. A assistência pode consistir na participação nas
operações de luta contra a poluição ou na intervenção Artigo 75.º
nas diligências de averiguação do sinistro e a inspecção
Facilitação do emprego de meios estrangeiros
de documentos ou do navio presumidamente responsável
pela poluição, quando este se encontre num porto ou nas 1. O Governo pode, através de regulamento, criar um
águas interiores nacionais. regime de facilitação da chegada, utilização e saída dos
4. Quando exista um perigo real de poluição nos espaços portos e aeroportos nacionais de navios e aeronaves
marítimos nacionais, que possa estender-se às águas de estrangeiros destinados a participar nas operações de
outro Estado, este último é imediatamente informado. luta contra a poluição ou de salvamento de pessoas nos
espaços marítimos nacionais.
5. A colaboração prevista nos números anteriores pode,
em todo caso, subordinar-se ao princípio de reciprocidade. 2. O regime previsto no número anterior pode igual-
mente abranger as facilidades necessárias para agilizar
TÍTULO V a entrada, saída e passagem rápida pelo território na-
cional do pessoal, mercadorias, materiais e equipamento
DA BUSCA, SALVAMENTO E INVESTIGAÇÃO destinados às referidas operações.
DE ACIDENTES
CAPÍTULO III
CAPÍTULO I
Da documentação de salvamento e emprego
Dos serviços públicos de busca e salvamento de sinais
marítimo
Artigo 76.º
Artigo 73.º
Documentação de salvamento a bordo
Conteúdo e alcance do serviço
1. Os navios nacionais devem ter a bordo um quadro
1. Compete à administração marítima dotar os serviços
orgânico de exercícios, missões e procedimentos em ma-
públicos de busca e salvamento de meios necessários
téria de emergência a bordo e evacuação do navio.
para garantir a prestação de auxílio a qualquer pessoa
em perigo no mar. 2. Os navios nacionais de passageiros que operem em
percursos fixos têm ainda a bordo, um plano de colabo-
2. Os serviços previstos no número anterior devem
ração com os serviços pertinentes de busca e salvamento
abranger todos os espaços marítimos nacionais e, se ne-
em caso de emergência.
cessário, à região de busca e salvamento que possa ser
atribuída a Cabo Verde nas convenções Internacionais 3. As embarcações são isentas das obrigações estabe-
vigentes, a qual deve ser devidamente delimitada nos lecidas nos números anteriores.
planos de salvamento e nas publicações e cartas náuticas
oficiais correspondentes. Artigo 77.º

3. A administração marítima deve prestar pronto e Emprego de sinais de socorro


eficaz auxílio independentemente da nacionalidade das
É proibido o emprego de sinais internacionais de so-
pessoas em perigo ou das circunstâncias em que estas se
corro, salvo para indicar que um navio, uma aeronave
encontrarem e das sanções que possam recair sobre os
ou uma pessoa estão em perigo, bem como o emprego de
capitães dos navios por acções ou omissões que ponham
qualquer sinal que possa ser confundido com um sinal
em perigo a segurança do navio ou da navegação.
internacional de socorro.
CAPÍTULO II
CAPÍTULO IV
Da planificação do salvamento
Da investigação de acidentes marítimos
Artigo 74.º
Artigo 78.º
Planos nacionais de salvamento
Dever de investigação
1. Mediante proposta da administração marítima, o
Governo deve aprovar periodicamente, um plano nacional A administração marítima deve investigar os acidentes
de salvamento, onde conste todos os meios disponíveis, os sofridos por qualquer navio de acordo com o procedimento
procedimentos essenciais, a coordenação e interligação previsto nas disposições sobre a matéria aprovadas pelo
entre distintas entidades e organismos públicos, chama- Governo e quando considere que a investigação possa
dos a intervir. contribuir para determinar mudanças que conviria in-
troduzir nas convenções internacionais vigentes em Cabo
2. Na elaboração do plano referido no número anterior Verde sobre segurança marítima, prevenção da poluição
deve ter-se em conta o disposto nas convenções interna- ou salvamento marítimo.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1762 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

TÍTULO VI 2. O cartão de identificação deve ser exibido quando


se exercem as correspondentes funções fiscalizadoras.
DOS PODERES EXECUTIVOS
DA ADMINISTRAÇÃO MARÍTIMA Artigo 81.º

Policiamento das áreas sob a jurisdição da administração marítima


CAPÍTULO I

Da natureza de autoridade e dos poderes gerais 1. O policiamento das áreas sob a jurisdição da admi-
nistração marítima compete à Polícia Nacional.
Artigo 79.º
2. O serviço de policiamento nas áreas referidas no
Poderes de autoridade
número anterior, tem por fim colaborar na prevenção e
1. O pessoal da administração marítima, quando em combate de actividades ilícitas, assegurar o cumprimento
exercício de funções de fiscalização, é equiparado aos das leis e regulamentos marítimos.
agentes da autoridade e tem as seguintes prerrogativas: Artigo 82.º

a) Aceder e inspeccionar, a qualquer hora e sem Colaboração com outros corpos policiais
necessidade de aviso prévio, as instalações,
equipamentos e serviços das empresas de No exercício das suas funções nas áreas definidas no
transporte marítimo, portos e navios; artigo anterior, o serviço da polícia nacional deve cola-
borar com as autoridades alfandegárias e com a polícia
b) Notificar todos os indivíduos que se encontrem judiciária na prevenção e combate da criminalidade,
em violação flagrante das normas cuja dando sempre conhecimento de suas actuações ao capitão
observância devem fazer respeitar, no caso do respectivo porto.
de não ser possível o recurso à autoridade
policial em tempo útil; CAPITULO II

c) Requisitar para análise equipamentos e Das medidas gerais de intervenção sobre navios
documentos; Artigo 83.º

d) Solicitar a colaboração das autoridades policiais, Medidas gerais de intervenção executiva


quando o julguem necessário ao desempenho
das suas funções; 1. Para a salvaguarda da segurança da navegação, da
prevenção da poluição das águas marítimas e da fiscali-
e) Determinar, a título preventivo e com efeitos zação do cumprimento das leis e regulamentos vigentes,
imediatos, mediante ordem escrita e pode a administração marítima interceptar, solicitar
fundamentada, a suspensão ou cessação de informação, visitar, inspeccionar, deter, conduzir a porto
actividades e encerramento de instalações, e adoptar quaisquer outras medidas que se considerarem
quando da não aplicação dessas medidas possa necessárias em relação aos navios nacionais que infrin-
resultar risco iminente para a segurança jam ou possam infringir os referidos bens jurídicos ou
marítima e segurança da navegação ou do atentar contra as referidas leis.
meio ambiente marinho; e
2. As actuações previstas no número anterior são ex-
f) Usar armas para a defesa própria, dos objectos do tensíveis aos navios estrangeiros que se encontrem nos
serviço e das instalações e valores confiados à espaços marítimos nacionais, sem prejuízo do previsto no
sua guarda quando devidamente autorizadas; presente Código para os navios de Estado estrangeiros e
em matéria de direito de perseguição.
2. O disposto nas alíneas a), c) e d) do número anterior é
igualmente aplicável às entidades e agentes credenciados 3. A actuação referida no número anterior é precedida
pela administração marítima para o exercício de funções de informação das medidas adoptadas e com a maior bre-
de fiscalização. vidade possível ao representante diplomático ou consular
do Estado de pavilhão.
3. Da suspensão, cessação ou encerramento a que se
refere a alínea e) do nº 1 é lavrado auto de notícia, o qual Artigo 84.º
é objecto de confirmação pelo Conselho de Administração Acesso a bordo e emprego da força
da Administração marítima, no prazo máximo de 10
(dez) dias, sob pena de caducidade da medida preventiva 1. Para prosseguir os fins previstos no artigo anterior,
determinada. o pessoal da administração marítima pode ordenar a
detenção e aceder a bordo dos navios em que tiverem de
Artigo 80.º
realizar as comprovações e actuações correspondentes.
Identificação
2. Sem prejuízo do recurso à autoridade policial sempre
1. Ao pessoal da administração marítima que desem- que possível, tornando-se necessário, pode o pessoal da
penhe funções de fiscalização é atribuído cartão de iden- administração marítima adoptar as medidas coercivas
tificação, cujo modelo e condições de emissão é objecto que se mostrarem úteis e forem proporcionais para im-
de Portaria do membro do Governo responsável pela pedir que o navio infractor fuja às obrigações, sanções e
administração marítima. responsabilidades incorridas.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1763

CAPÍTULO III 4. O previsto neste artigo não prejudica o disposto no


Livro III e no Capítulo V do Título IV do Livro VIII do
Das medidas especiais de intervenção sobre presente Código em matéria de remoções.
navios
Artigo 88.º
Artigo 85.º
Imposição de obrigações a armadores e capitães
Medidas especiais a adoptar na zona contígua
1. A administração marítima pode estabelecer obriga-
1. A administração marítima ou qualquer entidade ções a cargo dos armadores e capitães dos navios nacio-
pública competente em razão da matéria, tendo conhe- nais por motivos de salvamento, segurança marítima,
cimento de navio estrangeiro situado na zona contígua, luta contra a poluição, sanidades ou outras causas graves
que pretenda infringir, esteja a infringir ou tenha infrin- de utilidade pública ou interesse social.
gido as leis e regulamentos a que se refere o artigo 21.º
podem interceptá-lo, solicitar a informação ou realizar 2. Pode igualmente ordenar a participação em opera-
a inspecção apropriada. ções de salvamento de vidas e, em caso de grave risco
para a segurança da navegação ou do meio ambiente, a
2. Tornando-se necessária, devem adoptar as medidas colaboração em operações de salvamento de bens ou de
que se mostrarem úteis e proporcionais para prevenir ou luta contra a poluição.
sancionar a infracção, incluindo a detenção e condução
3. O disposto nos números anteriores é extensivo aos
a porto.
navios estrangeiros que estiverem nos portos, águas inte-
Artigo 86.º riores, águas arquipelágicas ou mar territorial e sempre
Medidas especiais em caso de poluição
que necessário para evitar a perda de vidas ou graves
incidentes de poluição do domínio público marítimo, sem
1. Em caso de poluição ou de perigo de poluição nos prejuízo do previsto no Título VII deste Livro para os
espaços marítimos nacionais, a administração maríti- navios de Estado estrangeiros.
ma deve adoptar todas as medidas razoáveis para sua
CAPÍTULO IV
limpeza ou para prevenir, reduzir ou eliminar o perigo e
solicitar se necessário, a colaboração de outras entidades Da indemnização de prejuízos indevidos
e organismos públicos.
Artigo 89.º
2. A administração marítima pode ainda, em caso de Detenções injustificadas e indemnização
urgência, acordar com terceiros a execução das medidas
preventivas ou de limpeza, devendo ressarcir directa- 1. A administração marítima deve tomar todas as me-
mente aos contratados utilizados e independentemente didas para evitar detenções ou demoras desnecessárias
de que o pagamento possa imputar o valor dos avales, de navios devido às medidas tomadas em conformidade
garantias e outros recursos obtidos dos responsáveis com o previsto neste Título.
conforme à legislação vigente. 2. As detenções ou demoras desnecessárias referidas
3. A administração marítima goza dos mesmos poderes no número anterior, quando devidamente comprovadas,
em caso de poluição por acidente produzido em alto mar, determinam o ressarcimento dos danos e prejuízos cau-
sempre que, no caso de navios estrangeiros, represente sados, pela entidade que as deu origem.
um perigo de graves danos nos espaços marítimos na- Artigo 90.º
cionais ou no litoral ou que atente contra os interesses Compensação pelo cumprimento das obrigações impostas
conexos.
Sem prejuízo do direito a indemnização pelos danos
Artigo 87.º
e prejuízos causados por terceiros, os armadores podem
Obstrução de vias navegáveis reclamar directamente à administração marítima o pa-
gamento das despesas incorridas e indemnização pelos
1. Em caso de um ou vários navios impedirem ou dificulta- danos sofridos em consequência do cumprimento das
rem o livre acesso a um porto ou à livre navegação por suas obrigações impostas ao abrigo do artigo 89.º.
águas, a administração marítima deve adoptar, de imediato,
todas as medidas que se mostrarem úteis e adequadas ao CAPÍTULO V
restabelecimento da livre navegação afectada.
Dos direitos de perseguição e de visita
2. Para o cumprimento do disposto no número anterior, Artigo 91.º
devem o capitão do navio e todos quantos estiverem a
Exercício dos direitos de perseguição e de visita
bordo, cumprir sem demora as ordens dadas sob pena de
responder às sanções procedentes, independentemente 1. Os direitos de perseguição e de visita são exercidos
do exercício de acções correspondentes conforme as leis, pelas causas e na forma estabelecida nas convenções
pelos lesados. internacionais vigentes em Cabo Verde.
3. Tornando-se necessário, a administração marítima 2. O exercício destes direitos compete à guarda cos-
pode proceder à transferência e detenção do navio em teira, sem prejuízo da colaboração necessária com a
lugar determinado e durante o tempo imprescindível administração marítima ou com outros departamentos
para o restabelecimento da normalidade. governamentais competentes em razão da matéria.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1764 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 92.º Artigo 96.º

Condução a porto nacional Actividades proibidas

Em conformidade com as disposições deste Título, o 1. Salvo autorização expressa do Ministério da Defesa,
navio detido pode ser conduzido ao porto nacional mais não se considera inofensiva e é proibida a passagem de
próximo, para fins de realização da pertinente instrução navios de Estado estrangeiros pelo mar territorial ou
para a averiguação dos factos, imposição da sanção e pelas águas arquipelágicas, quando comporte a realização
exigência das responsabilidades que, neste caso, corres- de manobras ou outros exercícios com armas de qual-
pondam. quer classe ou o lançamento, recepção ou embarque de
qualquer tipo de aeronaves ou de dispositivos militares.
TÍTULO VII
2. Na zona económica exclusiva é ainda proibida a
DOS NAVIOS DE ESTADO ESTRANGEIROS realização, sem autorização, das actividades a que se
refere o número anterior quando possam produzir con-
CAPÍTULO I taminação do meio marinho ou prejudicar os recursos
Das disposições gerais naturais da zona.
Artigo 97.º
Artigo 93.º
Submarinos de Estado
Imunidade
Nas águas interiores, no mar territorial e nas águas
Com as excepções previstas nas convenções interna- arquipelágicas, os submarinos de Estado estrangeiros
cionais vigentes em Cabo Verde e no presente Código, devem cumprir o previsto no artigo 35º.
os navios de Estado estrangeiros gozam de imunidade,
Artigo 98.º
estando sujeitos unicamente à jurisdição do Estado de
seu pavilhão. Medidas em caso de incumprimento

Artigo 94.º 1. Os navios de Estado estrangeiros que infrinjam


as disposições do presente Código são solicitados pela
Regulamentação especial
guarda costeira a mudar sua atitude e, se necessário,
Sem prejuízo do disposto no direito internacional e para abandonarem imediatamente os espaços marítimos
no presente Código, o Governo deve regular o regime de nacionais.
navegação, admissão e permanência de navios de Estado 2. Em conformidade ao direito internacional, o Estado
estrangeiros nos espaços marítimos nacionais. de pavilhão do navio estrangeiro é responsável por qual-
CAPÍTULO II quer perda ou dano em consequência do incumprimento
das leis e regulamentos nacionais, especialmente dos
Do regime de navegação e de entrada em porto relativos à passagem pelo mar territorial e à estadia nos
Artigo 95.º
portos e águas interiores.

Navegação por águas interiores e entrada em porto LIVRO III


DOS PORTOS
1. Os navios estrangeiros de guerra podem entrar nas
águas interiores e visitar os portos abertos, mediante TÍTULO I
prévia autorização, a ser concedida caso a caso, pelo Mi-
nistério da Defesa por via diplomática e de acordo com DA ORGANIZAÇÃO E DAS ACTIVIDADES
o estabelecido nas convenções vigentes em Cabo Verde. PORTUÁRIAS
CAPÍTULO I
2. Outros navios de Estado carecem apenas de autori-
zação concedida caso a caso pela administração marítima, Das disposições gerais
devendo ser requerida com antecedência à chegada do Artigo 99.º
navio.
Regime aplicável
3. Exceptuam-se as autorizações previstas nos núme-
O regime de domínio público e de organização dos
ros anteriores, em casos de avaria, mau tempo ou outra
portos nacionais, bem como o das operações portuárias,
causa urgente e determinante da necessidade de arribada
serviços portuários náuticos, demais actividades e usos
forçada por razões de segurança. Nestes casos, o capitão
dos portos, estão sujeitos a legislação especial, sem pre-
do navio deve informar imediatamente e por todos os
juízo da aplicação subsidiária das normas contidas no
meios possíveis, o órgão mais próximo da administração
presente Código.
marítima ou da guarda costeira se se tratar de navio de
guerra e seguir as instruções recebidas até obter a cor- Artigo 100.º
respondente autorização por via diplomática. Administração portuária e zona portuária

4. Navios ou submarinos de Estado que comportem 1. Entende-se por administração portuária a entidade
riscos nucleares estão sujeitos às autorizações previstas responsável pela gestão e exploração de um, vários ou
neste artigo, sem prejuízo da aplicação do disposto no todos os portos nacionais, em conformidade com o esta-
artigo 128º. belecido na legislação portuária.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1765

2. Entende-se por zona portuária toda a área marí- Artigo 104.º


tima destinada à entrada, estadia e saída de navios e Actuação das forças policiais
os fundeadouros adjacentes, assim como toda a área
terrestre onde se realizam as operações portuárias e de- 1. As forças policiais ocupam -se das operações de vigi-
mais actividades relativas ao movimento de passageiros lância, prevenção e repressão de quaisquer actos ilícitos
e mercadorias. intencionais nas zonas portuárias, conforme o previsto na
legislação em vigor, em coordenação com a administração
3. A administração portuária exerce suas funções em marítima e a portuária.
toda a zona portuária, sem prejuízo das competências da
administração marítima previstas no presente Código. 2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, as for-
ças policiais devem sujeitar-se à planificação e instruções
CAPÍTULO II emanadas da administração marítima em matéria de
protecção do transporte marítimo internacional.
Das operações portuárias e dos serviços
portuários náuticos CAPÍTULO II
Artigo 101.º DA REGULAÇÃO E PLANIFICAÇÃO
Operações portuárias Artigo 105.º

Regulação especial
1. Consideram-se operações portuárias todas as activi-
dades de carga e descarga, estiva e desestiva, transbordo, O Governo regula a organização, meios e alcance da
formação e decomposição de unidades de carga, recepção, protecção do transporte marítimo, dando cumprimento
transporte, armazenagem e entrega de mercadorias que às obrigações assumidas pela República de Cabo Verde
tenham lugar na zona portuária. nesta matéria em virtude das convenções internacionais
vigentes.
2. As operações portuárias apenas podem ser realiza-
das por sociedades ou outras pessoas jurídicas, de direito Artigo 106.º
público ou de direito privado, devidamente licenciadas Planificação
para o efeito.
A regulação referida no artigo anterior deve habilitar
Artigo 102.º
a administração marítima a adoptar um plano nacional
Serviços portuários náuticos de protecção do transporte marítimo, bem como emitir
circulares ou directivas com vista ao efectivo cumpri-
1. São serviços portuários náuticos os de pilotagem, mento dos instrumentos internacionais sobre a matéria.
reboque, amarração e desamarração de navios e outros
prestados na zona portuária para facilitação de manobras TÍTULO III
de atracação, desatracação, acostagem ou fundeio. DO REGIME DOS NAVIOS NOS PORTOS
2. O serviço de pilotagem pode ser obrigatório, nos CAPÍTULO I
termos previstos no artigo 51º do presente Código.
Da chegada e entrada no porto
3. O serviço de reboque e o de amarração e desamarra-
Artigo 107.º
ção é obrigatório em todos os portos para todos os navios
de arqueação bruta superior a 2.000 (dois mil) tons. Entrada no porto

TÍTULO II 1. Todos os navios podem entrar nos portos nacionais


abertos à navegação marítima nacional e internacional,
DA SEGURANÇA E PROTECÇÃO PORTUÁRIA ficando sujeitos às prescrições contidas no presente Có-
digo e na legislação especial, designadamente, portuária,
CAPÍTULO I
segurança, aduaneira, emigração e polícia.
Da prevenção e repressão de actos ilícitos 2. A autorização ou despacho para entrar no porto é
Artigo 103.º concedida pela administração portuária à solicitação
dos capitães, armadores ou agentes marítimos e fica su-
Protecção do transporte marítimo jeita ao cumprimento da legislação referida no número
1. Entende-se por protecção do transporte marítimo, anterior.
a combinação de medidas, meios humanos e materiais 3. O disposto neste artigo não prejudica os poderes
destinados a proteger os navios e as zonas portuárias da administração marítima nacional estabelecidos no
contra as ameaças de acções ilícitas intencionais, nos presente Código para recusar ou condicionar a entrada
termos previstos nas convenções internacionais vigentes dos navios nos portos nacionais.
em Cabo Verde.
Artigo 108.º
2. A administração marítima é a autoridade compe- Pré-aviso de chegada
tente em matéria de protecção do transporte marítimo
e como tal, responsável pela protecção dos navios e das 1. Os capitães, armadores ou agentes de navegação que
zonas portuárias nacionais. se dirijam aos portos nacionais devem dar conhecimento

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1766 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

à administração portuária e à administração marítima Artigo 111.º


local com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) Arribada forçada
horas quando procedem do estrangeiro, do dia e hora
estimada de chegada do navio, suas dimensões, calado à 1. No caso de arribada forçada de um navio, o capitão,
chegada, quantidade e natureza da mercadoria a carregar armador ou agente marítimo deve comunicar as suas
ou a descarregar e outras informações complementares. causas à administração marítima local, que verifica os
motivos que a justifiquem e indica as formalidades e
2. Os navios afectos à cabotagem nacional devem cum- requisitos especiais que, no caso, devam ser cumpridas.
prir o disposto no número anterior com uma antecedência
mínima de 12 (doze) horas. 2. Quando se trate de navios que comportem riscos
especiais aplica-se o disposto no Capítulo III deste Título.
3. O disposto nos números anteriores não se aplica aos
navios nacionais afectos ao serviço de linha regular e de CAPÍTULO II
pesca local ou costeira. Do regime geral de estadia no porto
4. A administração portuária informa pontualmente Artigo 112.º
a administração marítima local das escalas previstas e Regimes gerais de visita e de estadia
das autorizações de entrada concedidas, bem como, se
necessário, quaisquer circunstâncias que façam prever O regime de visita e de estadia dos navios nas zonas
se tratar de navios que comportam riscos especiais. portuárias está sujeito ao disposto no presente Código,
na legislação portuária e demais leis e regulamentos
Artigo 109.º
aplicáveis.
Documentos de despacho de entrada Artigo 113.º

1. O Governo regulamenta os documentos que devem Controlo por parte da administração marítima
ser apresentados para despacho de entrada de navios
1. Os navios fundeados no mar interior ou atraca-
nos portos nacionais.
dos nas zonas portuárias nacionais ficam sujeitos aos
2. Sem prejuízo do previsto na legislação pesqueira, no controles e outras medidas da administração marítima
Título anterior, e neste para os navios que comportem consideradas úteis e necessárias ao exercício das suas
riscos especiais, não se exige aos navios estrangeiros mais competências em matéria de segurança marítima, pro-
documentos que os seguintes: tecção do transporte marítimo e prevenção da poluição.

a) Cinco exemplares da declaração geral; 2. No exercício das actividades previstas no número


anterior, a administração marítima nacional pode exer-
b) Quatro exemplares da declaração de carga; cer as competências de intervenção, visita e inspecção
a bordo, detenção e aplicação das sanções previstas no
c) Quatro exemplares da declaração de provisões Título III do Livro IV deste Código.
a bordo;
Artigo 114.º
d) Dois exemplares da declaração para efeitos e Deveres dos capitães
mercadorias da tripulação;
Os capitães dos navios atracados nos portos nacionais
e) Quatro exemplares da lista da tripulação; são responsáveis pela segurança e protecção dos seus
navios e devem adoptar as precauções necessárias para
f) Quatro exemplares da lista de passageiros; e evitar riscos de qualquer natureza, incluindo as condi-
ções de tempo e de mar, a poluição marinha, o incêndio,
g) Um exemplar da declaração sanitária marítima.
a explosão ou os actos ilícitos intencionais a bordo, como
Artigo 110.º o roubo ou a sabotagem.
Fecho de portos Artigo 115.º

Tripulações de segurança e manobras obrigatórias


1. A administração marítima pode decidir, por razões
de necessidade ou interesse público, o encerramento 1. Durante a permanência na zona portuária, os na-
temporário, por tempo estritamente indispensável, de vios devem manter a bordo, a tripulação necessária para
determinadas zonas do mar interior, portos e terminais, executar qualquer movimento ou manobra que ordene a
à navegação de navios, bem como adoptar as medidas administração marítima ou a administração portuária ou
necessárias para dar às referidas decisões a devida pu- que seja necessária para a segurança do porto ou para
blicidade internacional. evitar os riscos a que se refere o artigo anterior.
2. As administrações marítimas podem proibir provi- 2. Quando razões de segurança assim o exijam, a
soriamente a navegação nos portos e nos seus canais de administração marítima ou a administração portuária
acesso, bem como, a entrada e saída de navios, quando o podem proceder, por conta do navio, a trocas de lugar do
aconselham as condições meteorológicas ou hidrográficas, posto de atracação ou fundeio ou a execução de qualquer
existam obstáculos para a navegação ou intervenham manobra, podendo chegar, em caso de urgência, ao corte
razões de ordem pública. de amarras ou correntes.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1767
Artigo 116.º 2. As autoridades judiciais podem ordenar a prática a
Uso de meios radioeléctricos a bordo
bordo de diligências, entrada e revista no navio, incluídos
os camarotes, devendo estas ser comunicadas ao cônsul
1. O uso de meios radioeléctricos a bordo dos navios do pavilhão, com a maior brevidade possível.
nos portos e nos espaços marítimos nacionais está sujeito
3. A jurisdição dos tribunais cabo-verdianos mantém-se
ao disposto neste artigo e nos regulamentos do serviço
depois dos navios estrangeiros abandonarem o mar inte-
radioeléctrico das embarcações.
rior e se encontrem a navegar pelas águas arquipelágicas
2. Salvo a imunidade prevista no presente Código para ou pelo mar territorial, bem como, quando detidos fora
os navios de Estado é proibido aos navios estrangeiros o deste último, no exercício do direito de perseguição.
uso de rádio navegação ou de radiocomunicação durante CAPÍTULO III
a estadia no mar interior e nos portos nacionais, salvo
se o mesmo for estritamente necessário para a seguran- Da entrada e estadia de navios em caso
ça da navegação ou para a realização de operações de de riscos especiais
salvamento marítimo, bem como, para comunicar com Artigo 120.º
os pilotos, a administração marítima ou com a adminis-
Proibição ou condicionamento da entrada
tração portuária.
Artigo 117.º
1. A administração marítima pode proibir ou condi-
cionar a entrada de navios nos portos nacionais e mar
Passageiros clandestinos a bordo interior por razões de emergência, ou riscos específicos
para a saúde pública, bem como, em relação aos navios
1. Entende-se por passageiro clandestino, qualquer que, por apresentarem graves deficiências de navegabili-
pessoa que se oculte no navio sem consentimento de seu dade, possam constituir um perigo para a segurança das
proprietário, armador ou capitão. pessoas, dos bens ou do meio ambiente marinho.
2. O capitão do navio que se dirige a porto nacional 2. A administração marítima pode ainda, proibir ou
deve informar à administração marítima nacional, com a condicionar a entrada nos portos e mar interior, dos na-
maior antecedência possível, da presença de passageiros vios cujo estado de avaria ou cujas instalações ou carga
clandestinos a bordo. não garantam o respeito das normas vigentes em matéria
de prevenção de poluição, de acordo com a convenções
3. O capitão do navio deve, igualmente, adoptar medi-
internacionais aplicáveis.
das para garantir aos passageiros clandestinos a bordo,
alimentação e alojamento em condições dignas até a che- Artigo 121.º
gada do navio a porto e entregá-los às autoridades com- Natureza dos requisitos de entrada
petentes, conforme a legislação de emigração em vigor.
1. As condições ou requisitos referidos nos artigos
4. O armador do navio que transportou o passageiro anteriores podem consistir, entre outros, no dever de
clandestino é solidariamente obrigado a assumir o custo entrar previamente num determinado lugar de refú-
de alimentação, alojamento, assistência jurídica e de in- gio, na realização de inspecções, reparações, lastrar e
térprete e de repatriamento, no caso de desembarque do deslastrar, transbordos, trocas de tanques ou re-estivas
passageiro clandestino, devido a situação desumana ou ou na prestação duma garantia suficiente por parte do
degradante no navio, por precisar de assistência médica proprietário, armador, agente, carregador ou fretador
ou humanitária ou para ser repatriado pelas autoridades do navio para responder aos possíveis danos que o navio
competentes. possa ocasionar.

5. Para garantir o cumprimento desta obrigação, a admi- 2. O Governo deve regulamentar os critérios, proce-
nistração marítima nacional pode ordenar a prestação de dimentos, garantias e outros elementos necessários ao
garantia suficiente sob pena de retenção do navio no porto. incremento do previsto neste artigo.
Artigo 118.º Artigo 122.º

Prevalência do dever de salvamento de vidas


Responsabilidade da tripulação
O disposto nos dois artigos precedentes não prejudica
Os capitães e membros da tripulação do navio, não o dever de proceder ao salvamento das pessoas que se
incorrem em responsabilidades penais ou administra- encontrem a bordo, que tem prioridade sobre quaisquer
tivas se houver conivência do armador no embarque de considerações de protecção dos bens materiais ou do
passageiros clandestinos ou quando não sejam adoptadas meio ambiente.
as medidas referidas no artigo anterior.
Artigo 123.º
Artigo 119.º
Navios que comportem riscos nucleares ou radioactivo
Jurisdição sobre navios estrangeiros em porto
1. Os navios de propulsão nuclear e quaisquer outros
1. Sem prejuízo do disposto para os navios de Estado, os que levem a bordo substâncias que comportem riscos
navios estrangeiros enquanto permanecerem nos portos radioactivos ou nucleares podem entrar no mar interior
nacionais ou no mar interior, estão sujeitos à jurisdição e visitar os portos abertos de acordo com as prescrições
civil e penal dos tribunais cabo-verdianos. técnicas e operativas estabelecidas pelo Governo.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1768 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. Antes da entrada do navio na zona portuária, os mudança do navio ou sua carga, ou ao encalhe, envio à
órgãos competentes da administração marítima devem sucata ou ao afundamento daquele num lugar autorizado
fazer o controlo dos documentos de segurança do navio, pelas convenções internacionais vigentes e onde não pre-
o controle dosimétrico e outros que se mostrarem ne- judique a navegação, a pesca ou o meio ambiente, sendo
cessários para a protecção do meio ambiente, podendo os gastos por conta do armador.
efectuar controlos complementares durante a estadia
do navio em porto. 3. O disposto nos números anteriores aplica-se igual-
mente nas situações em que o navio em perigo de naufrá-
3. Se na sequência do controle previsto no número an- gio se encontra fora da zona portuária, no mar interior
terior ou por qualquer outra razão, for considerada que ou noutros espaços marítimos nacionais.
a estadia do navio pode ter efeitos perigosos, os serviços
Artigo 127.º
da administração marítima podem ordenar ao navio o
abandono da zona portuária e mar interior num prazo Navios detidos por procedimentos judiciais
determinado, sem que deste facto derive alguma respon- ou administrativos
sabilidade patrimonial para a administração. 1. Quando por decisão judicial ou procedimento admi-
Artigo 124.º nistrativo tenha sido ordenada a detenção, conservação
ou depósito de um navio na zona portuária, a adminis-
Outras mercadorias perigosas
tração marítima pode requerer à autoridade correspon-
1. A movimentação e transporte de mercadorias peri- dente o afundamento do navio ou sua alienação em hasta
gosas devem obedecer ao prescrito no Código Marítimo pública, quando a estadia do navio no porto constitua um
Internacional de Mercadorias Perigosas. perigo real ou potencial às pessoas ou aos bens ou cause
grave prejuízo à exploração do porto.
2. O Governo regulamenta as condições especiais para
a entrada e estadia no porto dos navios que transportem 2. A autoridade judicial ou administrativa pode orde-
essas mercadorias, assim como para sua carga, descarga, nar o afundamento ou a venda conforme o procedimento
estiva e manipulação a bordo e em terra. legalmente previsto, salvo se considere imprescindível a
sua conservação para os fins da instrução do processo e
CAPÍTULO IV por tempo estritamente necessário.

Dos navios inactivos ou abandonados 3. A venda em hasta pública pode ser ainda requerida
e ordenada, nos casos em que pela previsível duração do
Artigo 125.º
processo judicial ou administrativo exista risco de consi-
Amarração de navios inactivos derável depreciação do navio, depositando-se o produto
da venda para efeitos do processo.
1. A administração portuária, em coordenação com
a administração marítima, autoriza a amarração ou 4. Nos casos de detenção judicial ou administrativa de
fundeio temporário de navios inactivos na zona portuá- navios, a administração portuária pode mudar a localiza-
ria, designando o lugar, período e demais condições de ção do navio na zona portuária, informando de seguida
permanência, sempre que não prejudique as operações a nova localização à autoridade competente.
ou serviços portuários ou constitua um perigo para as
Artigo 128.º
pessoas ou para os bens.
Propriedade dos navios abandonados em porto
2. Compete à administração marítima fixar a tripu-
lação de segurança referida no artigo 115º e pode exigir 1. Os navios abandonados na zona portuária passam
garantia suficiente para cobrir os danos ou prejuízos que a pertencer ao Estado.
possam surgir durante o tempo de amarração e despesas
2. Para feitos do disposto no presente Código, con-
necessárias para a manutenção e alojamento digno das
sideram-se abandonados, os navios que permaneçam
pessoas a bordo.
durante mais de 6 (seis) meses atracados, amarrados
3. Se o navio chegar a constituir em qualquer momen- ou fundeados no mesmo lugar na zona portuária sem
to, perigo para a zona portuária, aplica-se o disposto no actividade apreciável exteriormente, sem ter abonado as
artigo seguinte. correspondentes taxas e assim o declare a administração
marítima.
Artigo 126.º
3. A declaração de abandono referida no número ante-
Intervenção perante naufrágios potenciais
rior, é precedida de um processo administrativo simples,
1. Nos casos em que um navio apresente perigo de no qual se deve precisar a situação e o estado do navio, o
naufrágio na zona portuária ou constitua um risco grave montante das taxas em dívida, o perigo que representa o
para as pessoas ou bens, a administração marítima soli- navio para a actividade e exploração portuária, a notifi-
cita ao capitão, armador ou agente marítimo o abandono cação feita ao proprietário, armador ou agente marítimo
do porto ou adopção de medidas de reparação ou outras se conhecidos e decisão final de abandono.
no prazo fixado para o efeito.
4. Declarado abandonado o navio, a administração
2. O incumprimento do disposto no número anterior, marítima pode proceder a sua venda em hasta pública,
confere à administração marítima o poder de proceder à devendo reverter o produto da alienação ao Tesouro

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1769

Público, deduzidos os créditos vencidos sobre o navio, Artigo 133.º


incluindo as despesas com o processo referido no número Garantias e detenção do navio
anterior e as taxas portuárias
Artigo 129.º
1. A administração marítima pode exigir ao capitão,
armador ou agente marítimo a prestação imediata de
Naufrágios em porto garantia suficiente para a reparação dos danos a que se
referem os artigos anteriores.
Os naufrágios ocorridos na zona portuária são regula-
dos pelas disposições do Capítulo V do Título IV do Livro 2. O incumprimento do disposto no número anterior
VIII do presente Código. no prazo fixado para o efeito confere à administração
Artigo 130.º
marítima, o poder de reter no porto o navio causador do
dano ou quaisquer outros do mesmo armador, até que a
Desmantelamento de navios garantia seja prestada.
1. O desmantelamento de navios deve ser autorizado Artigo 134.º
pela administração marítima em lugar e por prazo deter-
Indemnização dos danos causados ao navio
minados na autorização, sempre e quando não prejudique
a navegação, o meio ambiente ou os serviços portuários. 1. O operador portuário deve indemnizar o armador
pelos danos causados ao navio, por negligência ou im-
2. A autorização do desmantelamento do navio é pre-
perícia dos trabalhadores portuários no exercício das
cedida de baixa prévia na matrícula, bem como da cons-
operações portuárias.
tituição de garantia suficiente para cobrir as despesas
que possam ocorrer por danos e prejuízos causados às 2. Para efectivar a responsabilidade referida no número
vias navegáveis, às instalações portuárias ou ao meio anterior, deve o capitão, armador ou agente marítimo co-
ambiente, pela remoção dos restos e limpeza da área municar de imediato e por escrito ao operador portuário,
onde se efectuam as operações. os danos ocorridos.
CAPÍTULO V 3. A não comunicação referida no número anterior exo-
nera o operador portuário de qualquer responsabilidade.
Da indemnização de danos
Artigo 131.º 4. Os prestadores dos serviços portuários náuticos
de pilotagem, reboque, amarração e desamarração e a
Danos causados pelas manobras do navio administração portuária correspondente devem ainda
indemnizar os danos causados aos navios por negligên-
1. O capitão ou o armador responde por quaisquer
cia ou imperícia dos seus trabalhadores, observados os
danos causados pelo navio, nomeadamente nos cabos,
requisitos de notificação previstos no número dois.
canos, correntes e amarras, cais, balizas, bóias, canais
navegáveis, recintos, instalações portuárias, provoca- CAPÍTULO VI
dos pelo exercício das manobras de navegação, fundeio,
atracação ou desatracação do navio na zona portuária. Do despacho de saída

2. A responsabilidade prevista no número anterior Artigo 135.º


cessa se o capitão ou armador provarem que o dano foi Despacho de navios
ocasionado por actos negligentes dos prestadores dos
serviços portuários náuticos ou por outras causas a eles 1. Para se fazer ao mar, todo o navio necessita da prévia
não imputáveis. autorização ou despacho de saída, outorgada pela admi-
nistração marítima e que serve para verificar se o navio
Artigo 132.º
se encontra em condições de navegabilidade conforme a
Danos causados pelas operações de carga e descarga legislação aplicável.

1. O capitão ou armador devem indemnizar a adminis- 2. O despacho é concedido, a requerimento do capitão,


tração portuária pelos danos causados aos cais, gruas ou armador ou agente marítimo, sempre que o navio apre-
outras instalações portuárias em consequência da queda sente e tenha em regra a documentação referida no artigo
ou derrame da carga, por rotura ou falha dos apetrechos, seguinte, podendo ser negado por razões legais, por ordem
estropos, eslingas ou canos de navio, bem como por ex- judicial ou por solicitação de autoridade competente.
plosões ou incêndios originados dentro do navio.
3. O regime de despacho de navios previsto neste artigo
2. A responsabilidade prevista no número anterior, deve ser objecto de regulamentação pelo Governo, sem
cessa se o capitão ou armador provarem que os referidos prejuízo da intervenção das autoridades aduaneira e sa-
danos foram ocasionados por actos negligentes ou falta nitária, bem como a administração pesqueira, tratando-se
de perícia dos trabalhadores portuários. de navios pesqueiros.
3. Os danos previstos no número um, são da responsa- 4. O regulamento a aprovar pelo Governo deve estabele-
bilidade do operador portuário, quando, ocasionados por cer um regime simplificado para os navios de pesca local ou
actos negligentes ou falta de perícia dos trabalhadores costeira ou de navegação local ou pesqueira e para todos os
portuários. que realizem trajectos curtos e de elevada rotação.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1770 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 136.º Artigo 139.º

Documentos exigíveis à saída Conceito de embarcação

1. O Governo regulamenta os documentos que devem Para efeitos do presente Código, embarcação é todo o
ser apresentados para o despacho de saída dos navios. engenho flutuante destinado à navegação por água, sem
coberta corrida, bem como, o que, tendo coberta corrida,
2. Em todo caso e sem prejuízo dos certificados de segu- o seu cumprimento é superior a 2,5 (dois virgula cinco)
rança e de competência dos marinheiros a que se referem metros e inferior a 24 (vinte e quatro) metros.
respectivamente o Título III do Livro IV e o Título VI do
Artigo 140.º
Livro V deste Código, não se exige aos navios estrangeiros
mais documentos que os seguintes: Artefacto naval

a) Cinco exemplares da declaração geral; 1. Para efeitos do presente Código, artefacto naval é
toda a construção flutuante não destinada à navegação,
b) Quatro exemplares da declaração de carga; com capacidade e estrutura para albergar pessoas ou
coisas e situada num ponto fixo das águas.
c) Três exemplares da declaração de provisões a
bordo; 2. Considera-se ainda artefacto naval, o navio que tendo
perdido essa condição por ter ficado amarrado, encalhado
d) Dois exemplares da lista da tripulação; e ou fundeado, num lugar fixo, é destinado com carácter
e) Dois exemplares da lista de passageiros. permanente, a actividades distintas da navegação.

Artigo 137.º CAPÍTULO II

Incumprimento das normas de despacho Da natureza e tráfego jurídico dos navios


Artigo 141.º
1. Quando um navio empreenda a navegação sem des-
pachar ou em incumprimento das normas de despacho, Natureza
a administração marítima nacional pode ordenar ao seu 1. O navio é um bem móvel sujeito a registo e publici-
armador e ao seu capitão a suspensão da navegação, o dade nos termos previstos no presente Código.
regresso ao porto de saída ou arribada ao porto mais pró-
ximo e conveniente, com objectivo de corrigir os defeitos 2. São partes integrantes do navio ou embarcação, além
e restituir à situação de legalidade. dos distintos elementos que integram suas estruturas, a
máquina principal e as máquinas auxiliares, os apetre-
2. Os armadores e capitães devem cumprir de imediato chos, âncoras, correntes, aparelhos, meios de salvamento
as ordens recebidas sem prejuízo do exercício de acções e demais objectos existentes a bordo e necessários para
correspondentes. sua operacionalidade.
3. Em caso de incumprimento, a administração maríti- 3. Consideram-se acessórios, as provisões, o combustível,
ma pode vir a ordenar a intercepção e detenção do navio os lubrificantes, as pinturas, ou outros bens fungíveis e
ou embarcação e aplicar as medidas coercivas previstas consumíveis existentes a bordo para seu consumo.
no presente Código, correndo por conta do armador as Artigo 142.º
despesas ocasionadas e podendo o navio ficar retido en- Tráfego jurídico dos navios
quanto não forem pagas ou garantidas.
1. Os navios podem ser objecto de transmissão, alienação
4. O incumprimento previsto no número anterior, pode e encargos por todos os meios admitidos em direito.
dar origem à aplicação de sanções administrativas e o
capitão, sendo cidadão cabo-verdiano, pode igualmente 2. Salvo acordo em contrário, os actos e contratos
ser sancionado com a suspensão temporária do título relativos aos direitos reais sobre o navio, bem como os
profissional por um período até 3 (três) anos. relativos ao fretamento e seguro marítimo são extensíveis
às partes integrantes.
LIVRO IV
3. Os contratos que impliquem constituição, modifi-
DOS NAVIOS, EMBARCAÇÕES E ARTEFACTOS cação, transmissão ou extinção de direitos reais sobre o
NAVAIS navio devem ser celebrados por documento escrito, com
reconhecimento notarial da assinatura dos outorgantes.
TÍTULO I
CAPÍTULO III
DOS CONCEITOS, NATUREZA E CLASSES
Da classificação dos navios nacionais
CAPÍTULO I Secção I
Dos conceitos Classificação em função das actividades a que se dedicam

Artigo 138.º Artigo 143.º

Navio Classes

Para efeitos do presente Código, navio é todo engenho 1. Os navios nacionais, em conformidade com as acti-
flutuante destinado à navegação por água, com coberta vidades a que se destinam, classificam-se em:
corrida e comprimento superior a 24 (vinte e quatro) metros. a) De comércio;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1771

b) De pesca; Artigo 148.º

Navios de investigação
c) De recreio;
Navios de investigação são os que, dotadas de meios de
d) Rebocadores; propulsão mecânica, se destinam, consoante a sua apti-
e) De investigação; dão técnica, à investigação científica, oceânica ou costeira.
Artigo 149.º
f) Auxiliares; e
Navios auxiliares
e) Outros do Estado.
Navios auxiliares são os que se empregam em serviços
2. Os navios referidos nas alíneas a), b), d) a f) do não abrangidos nos artigos anteriores, mesmo os despro-
número anterior, constituem a marinha mercante e vidos de meios próprios de propulsão, e cuja designação
designam-se por navios mercantes. lhes é dada conforme o serviço especial a que se destinam.
Secção II
3. Os navios referidos nas alíneas a), b) e c) do número
1 constituem, respectivamente, as marinhas de comércio, Classificação dos navios de comércio em função da área
de navegação
de pesca e de recreio.
Artigo 150.º
4. Os navios podem ser classificados de acordo com ou-
Classificação
tros critérios, bem como ser objecto de classificações adi-
cionais, de acordo com o disposto em legislação especial. Os navios de comércio, quanto à área em que podem
Artigo 144.º
operar, classificam-se em:

Navios de comércio a) De navegação costeira;


b) De cabotagem; e
Navios de comércio são os destinados ao transporte de
pessoas e de mercadorias, mesmo quando desprovidos de c) De longo curso.
meios de propulsão, considerando-se como tais os que só
Artigo 151.º
podem navegar por meio de rebocadores, sem prejuízo
do disposto nos artigos seguintes. Navios de navegação costeira

Artigo 145.º São navios de navegação costeira os que só podem


operar ao longo das costas nacionais, de um modo geral à
Navios de pesca
vista de terra, limitando-se a escalar em portos nacionais.
Navios de pesca são os equipados ou utilizados co- Artigo 152.º
mercialmente na indústria extractiva da pesca, para a
Navios de cabotagem
captura de espécies ictiológicas, plantas marinhas ou
outros recursos vivos do mar, ou para o transporte ou Navios de cabotagem são os que podem operar no alto
transformação das espécies capturadas pelos navios mar em zonas cujos limites são estabelecidos por Portaria
principais. do membro do Governo responsável pela administração
marítima.
Artigo 146.º
Artigo 153.º
Navios e embarcações de recreio
Navios de longo curso
1. Navios de recreio são os utilizados como meio de
deslocação por água, para o exercício dos desportos São navios ou embarcações de longo curso, os que po-
náuticos, ou da pesca desportiva ou ainda por simples dem operar sem limite de área de operação.
entretenimento, sem quaisquer fins lucrativos para seus Secção III
proprietários ou utentes.
Classificação dos navios de comércio em função da natureza
do transporte que efectuam
2. As embarcações de recreio são as definidas no artigo
4º do presente Código. Artigo 154.º

Artigo 147.º Navios ou embarcações de passageiros e de carga

Rebocadores 1. Quanto à natureza do transporte que efectuam os


navios de comércio nacionais classificam-se em:
1. Rebocadores são navios ou embarcações de propulsão
mecânica destinados a conduzir outros, por meio de cabos a) De passageiros, os destinados ao transporte de
ou outros meios não permanentes. mais de doze passageiros;
b) De carga, os que não são de passageiros; e
2. Os rebocadores especialmente preparados para o
salvamento de navios em perigo ou de suas tripulações e c) Mistos, os destinados ao transporte de carga e
passageiros são designados por rebocadores de salvamento. passageiros.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1772 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. Os navios de carga dividem-se, ainda em: b) Costeiros, os que operam ao longo das costas
nacionais, mantendo-se de um modo geral, à
a) De carga geral, os destinados ao transporte de vista da terra; e
mercadorias de diversa natureza; e
c) De largo, os que operam sem limitação de área.
b) Especializados, os que oferecem a totalidade da
sua capacidade de carga para transporte de 2. A classificação a que se refere o presente artigo
mercadorias com características uniformes pode ser alterada por Portaria do membro do Governo
em relação às necessidades do transporte responsável pela administração marítima.
marítimo.
TÍTULO II
3. A classificação a que se refere o presente artigo
DO REGISTO, NACIONALIDADE, MARCAS,
pode ser alterada por Portaria do membro do Governo
DOCUMENTAÇÃO E ARQUEAÇÃO
responsável pela administração marítima.
Secção IV CAPÍTULO I
Classificação dos navios de pesca em função da área de operação Do registo de navios
Artigo 155.º Secção I
Classes Disposições gerais

Os navios de pesca, quanto à área em que podem operar, Artigo 160.º


classificam-se em: Registo Convencional e Registo Internacional de Navios
a) De pesca local; 1. Os navios nacionais e os factos jurídicos estão
b) De pesca costeira; e sujeitos a registo nos termos previstos neste Código e
subsidiariamente, pelas disposições aplicáveis do registo
c) De pesca do largo. comercial.
Artigo 156.º
2. Os registos são efectuados no Registo Convencional
Navios de pesca local de Navios ou no Registo Internacional de Navios, abre-
viadamente, designado CVR.
1. Os navios de pesca local são os que, de uma maneira
geral, operam apenas dentro da área de jurisdição da 3. O Registo Internacional de Navios é regulamentado
respectiva administração marítima local e das áreas por legislação especial.
adjacentes.
4. Os navios não estão sujeitos a registo comercial.
2. As áreas de pesca local são definidas por Portaria
Artigo 161.º
do membro do Governo responsável pela administração
marítima. Embarcações dispensadas de registo

Artigo 157.º 1. Estão dispensadas de registo, as pequenas embar-


Navios de pesca costeira cações existentes a bordo, incluídos os botes ou balsas
salva-vidas, as embarcações auxiliares de pesca e as
1. São navios ou embarcações de pesca costeira os que pequenas embarcações de praia sem motor nem vela,
operam ao longo das costas nacionais, mantendo-se de tais como botes, charutos, canoas, balsas pneumáticas e
um modo geral, à vista de terra. gaivotas de pedais, para serem utilizadas até 300 (tre-
2. As áreas onde podem operar os navios de pesca cos- zentos) metros contados a partir da linha de baixa-mar.
teira são definidas por Portaria do membro do Governo 2. As embarcações a que se refere o número anterior,
responsável pela administração marítima. ficam não obstante, sujeitas à jurisdição das administra-
Artigo 158.º ções marítimas locais, a quem compete emitir licenças
para a sua exploração.
Navios de pesca do largo
Artigo 162.º
São navios de pesca do largo, os que podem operar sem
limitação de área. Registo de navios de Estado

Secção V O registo de navios do Estado fica sujeito ao disposto


Classificação dos navios de recreio, rebocadores e auxiliares
neste Capítulo, sendo porém, o requerimento inicial
em função da área de operação substituído por ofício autenticado com o respectivo selo
branco, do serviço a que pertence o navio, solicitando o
Artigo 159.º
registo e contendo as mesmas indicações.
Navios locais ou de porto, costeiros e de largo
Artigo 163.º
1. Quanto à área em que podem operar, os navios de Factos sujeitos a registo
recreio, os rebocadores e os navios auxiliares, classificam-
se em: 1. Estão sujeitos a registo, quando referentes a navios:
a) Locais ou de porto, os que operam dentro da zona a) Os factos jurídicos que importem reconhecimento,
portuária; aquisição ou divisão do direito de propriedade;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1773

b) Os factos jurídicos que importem reconhecimento, Artigo 164.º


constituição, aquisição, modificação ou Competência e organização
extinção do direito de usufruto;
1. O registo de navio é feito no Registo Convencional
c) Os contratos de construção;
de Navios, junto da administração marítima que é a
d) As hipotecas, sua modificação ou extinção, bem entidade competente para emitir o registo.
como a cessão da hipoteca ou do grau de
2. O requerimento e a documentação necessários ao
prioridade do respectivo registo;
registo são entregues no Registo Convencional de Navios
e) O penhor de créditos hipotecários; ou às administrações marítimas locais.

f) A penhora, o arresto e o arrolamento de navios ou 3. As administrações marítimas locais devem verificar


de créditos hipotecários, bem como quaisquer a regularidade dos documentos apresentados e, estando
outros actos ou providências que efectuem a em ordem, devem remetê-los, pela via mais rápida ao
livre posição deles; Registo Convencional de Navios.

g) A cessão de créditos hipotecários e a sub-rogação Artigo 165.º


neles; e
Legitimidade
h) As acções e decisões judiciais que tenham como
1. Podem obter o registo de navios, as pessoas físicas
fim, principal ou acessório, declarar, fazer
ou colectivas que tenham domicílio permanente ou sede
reconhecer, constituir, modificar ou extinguir
em Cabo Verde.
qualquer dos direitos referidos nas alíneas
anteriores ou a reforma, a declaração de 2. Em condições de reciprocidade, podem ainda obter o
nulidade ou a anulação de um registo ou seu registo de navios, as pessoas físicas ou colectivas com re-
cancelamento. sidência permanente ou sede no estrangeiro, sempre que
2. São admitidos apenas como provisórios, os registos tenham um representante permanente em Cabo Verde.
dos seguintes factos referentes a navios: 3. O disposto nos números anteriores não prejudica
a) De acções judiciais; os requisitos exigíveis para a exploração dos navios de
comércio previstos no Livro VI, os requisitos de naciona-
b) De hipoteca convencional ou de transmissão lidade e outros que possam ser exigidos aos armadores
contratual antes de efectuados os respectivos em conformidade com a legislação pesqueira.
contratos;
Artigo 166.º
c) De hipoteca judicial ou de transmissão realizada
Requisitos dos representantes
em inventário judicial, antes de transitar em
julgado, a respectiva sentença; 1. O representante permanente previsto no artigo an-
terior pode ser pessoa física ou colectiva com domicílio
d) De tramitação por arrematação judicial antes de
ou sede em Cabo Verde, com poderes para representar o
passado o respectivo título de arrematação;
proprietário e ou armador do navio.
e) De penhora ou arresto ou do dinheiro do usufruto
sobre as quais subsista a inscrição de domínio 2. O representante responde subsidiariamente por seus
ou transmissão em nome de pessoas diversas representados pelo cumprimento das resoluções judiciais
do executado ou arrestado; e ou administrativas e das obrigações legais que incumbem
aos proprietários e armadores dos navios nacionais.
f) De contrato de construção de navio e de hipoteca
constituída sobre navio em construção. 3. A revogação dos poderes do representante não pro-
duz efeitos perante a administração nem às autoridades
3. Os registos provisórios referidos nas alíneas a), c) e judiciais, enquanto não for designado outro que substi-
f), se não forem também provisórios por dúvidas, subsis- tuta o anterior.
tem até serem convertidos em definitivo ou cancelados.
Artigo 167.º
4. Os registos provisórios referidos nas alíneas a) e c)
Matrícula e primeira inscrição
do nº 2 bem como o arresto só podem ser convertidos em
definitivos, no prazo de 60 (sessenta) dias, contados da 1. A matrícula destina-se a identificar o navio, corres-
data do trânsito em julgado, da respectiva decisão. pondendo a cada navio uma só matrícula.
5. O registo provisório referido na alínea f) do nº 2 ca- 2. A primeira inscrição dos navios é a da sua construção
duca automaticamente senão for convertido em definitivo ou aquisição.
no prazo de 30 (trinta) dias contados do termo do prazo
estipulado para o cumprimento do respectivo contrato 3. A hipoteca provisória de navios em construção a ou
de construção e uma vez, convertido em definitivo, vale, a construir, bem como a sua penhora, arresto ou arrola-
para todos os efeitos, como registo de aquisição do res- mento, pode, porém, ser registada, independentemente
pectivo navio. da prévia inscrição referida no número anterior.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1774 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 168.º Secção II

Registo temporário Registo de navios em construção

O registo temporário de navios afretados em casco nu, Artigo 172.º


por armadores nacionais é feito no Registo Convencional
de Navios, conforme legislação especial aplicável. Registo provisório

Artigo 169.º 1. O registo do contrato de construção do navio é


efectuado com base num exemplar do contrato com as
Resolução e auto de registo
assinaturas dos outorgantes devidamente reconhecida
1. O registo é concedido ou recusado por meio de reso- por notário.
lução da administração marítima nacional.
2. O registo tem carácter provisório, convertendo-se
2. Sendo concedido, o registo é efectuado por meio de em definitivo nos 30 (trinta) dias da data de entrega e
auto lavrado no Registo Convencional de Navios, o qual aceitação do navio.
deve conter: 3. Além dos elementos comuns, devem fazer constar no
registo do contrato de construção os seguintes:
a) Nome, número e demais elementos de
identificação do navio, assim como seu a) Data do contrato;
indicativo de chamada;
b) Prazo de entrega;
b) Classe de navio e características e dimensões
principais; c) Preço; e

c) Identificação e domicílio do proprietário ou, d) Forma de pagamento do preço.


sendo caso disso, comproprietários, com
individualização da respectiva quota-parte; Artigo 173.º

d) Identificação e domicílio do armador se este Registo a favor do construtor


for distinto do proprietário e, neste caso, do
gestor do armador; O registo do navio em construção a favor do próprio
construtor se efectua com base em simples declaração
e) Lugar e datas de vistorias do navio; e escrita e assinada com reconhecimento notarial.

f) Identificação do contrato de fretamento a casco nu Artigo 174.º


e tempo autorizado para ter a nacionalidade
Registo de navio adquirido por contrato de construção
cabo-verdiana, no caso de navio em regime
de troca temporária de pavilhão, segundo o O registo de aquisição do navio em estaleiro, por con-
disposto no Capítulo III deste Título. trato de construção, é efectuado com base em documento
passado pelo construtor, com assinatura reconhecida
3. A recusa de registo deve ser devidamente funda-
notarialmente, do qual conste a entrega do navio, o seu
mentada.
nome e características, o nome do encomendador, o preço
Artigo 170.º convencionado, a forma de pagamento e, quando não
integralmente pago, a quantia em dívida.
Certificado de registo
Artigo 175.º
Lavrado o registo, o Registo Convencional de Navios
emite um certificado de registo que, tratando-se de navio Navios construídos ou adquiridos no estrangeiro
de longo curso, deve constar obrigatoriamente do rol de
papéis de bordo. 1. Os navios adquiridos ou construídos no estrangeiro
são registados provisoriamente de forma sumária no
Artigo 171.º consulado cabo-verdiano do lugar de aquisição ou cons-
trução, mediante apresentação do título de propriedade.
Comunicação a outras entidades

2. Quem contratar a construção ou aquisição de na-


1. O Registo Convencional de Navios deve comunicar
vios que devem ser registados no registo convencional
em 5 (cinco) dias os registos de todos os navios e as res-
de navios, deve comunicar à administração marítima a
pectivas alterações às seguintes entidades:
celebração do contrato, no prazo de 10 (dez) dias úteis a
a) Administrações marítimas locais; contar da data de sua assinatura.

b) Administração pesqueira, no caso dos navios de 3. As condições para o registo provisório e definitivo
pesca; e dos navios referidos nos números anteriores devem ser
reguladas por Portaria do membro do Governo respon-
c) Associação de armadores. sável pela administração marítima.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1775
Secção III 2. A atribuição da nacionalidade cabo-verdiana confere
Modificação e cancelamento dos dados do registo ao navio o direito de uso da bandeira nacional, com os
inerentes direitos e obrigações.
Artigo 176.º
3. A prova da nacionalidade do navio é feita através
Regime regulamentar e modificação dos documentos
do certificado de registo e o passaporte do navio, quando
1. O regime de modificação e cancelamento do registo este realize viagens internacionais.
deve ser objecto de regulamentação por Portaria do Artigo 179.º
membro do Governo responsável pela administração
Uso da bandeira nacional e outros distintivos
marítima.
2. A modificação dos dados do registo pode levar à 1. A bandeira nacional é o símbolo de exibição externa
substituição ou alteração, dos documentos do navio. da nacionalidade cabo-verdiana.

Artigo 177.º 2. Os navios nacionais devem içar obrigatoriamente


a bandeira cabo-verdiana, quando se encontrem à vista
Abate do registo
de navios de guerra ou outros de Estado dedicados à vi-
1. O abate de registo de um navio é feito através de gilância das actividades marítimas, quaisquer que seja
resolução das administrações marítimas ou das autori- sua nacionalidade, assim como quando se encontrem nas
dades consulares, nos seguintes casos: águas interiores ou nos portos nacionais ou de qualquer
outro Estado.
a) Desmantelamento;
3. Nos portos e águas interiores estrangeiros, içam
b) Perda por naufrágio; também o pavilhão do Estado visitado conforme os cos-
tumes internacionais.
c) Presunção de perda por falta de notícias há mais
de 6 (seis) meses a contar da saída do último 4. Os navios de pesca local ou costeira, os rebocado-
porto ou das últimas notícias; e res e os auxiliares de navegação local ou costeira estão
isentos de exibir a bandeira nas águas interiores e nos
d) Perda da nacionalidade nos termos previstos na
portos nacionais.
lei.
5. Os navios nacionais podem içar também o distintivo
2. Se, no caso da alínea c) do número anterior, o navio
da empresa armadora sempre que este tenha sido apro-
reaparecer, o abate é declarado sem efeito, com base em
vado e registado pela administração marítima nacional.
certidão emitida pela administração marítima ou auto-
ridade consular, conforme o caso, fazendo-se no registo CAPÍTULO III
o necessário averbamento.
Da troca temporária de pavilhão
3. A inavegabilidade não é só por si, causa de abate
Artigo 180.º
de registo.
Condições de embandeiramento temporário
4. As autoridades consulares nacionais devem comu-
nicar, à administração marítima nacional, no prazo de 1. Os navios mercantes estrangeiros tomados de freta-
5 (cinco) dias úteis, os casos de condenação por inave- mento em casco nu por armadores nacionais ou residentes
gabilidade, de desmantelamento, de naufrágio e perda em Cabo Verde podem, mediante autorização da admi-
pelo mar ou venda de qualquer navio nacional na área nistração marítima, ser registados no registo convencio-
da respectiva jurisdição. nal de navios e adquirir a nacionalidade cabo-verdiana
durante o tempo de duração do contrato de fretamento.
5. O abate de registo previsto nas alíneas a), b), c), e
d) do número um é feito com base em certidão emitida 2. Reciprocamente, os navios mercantes nacionais
pelas administrações marítimas, nos termos da legislação fretados em casco nu por armadores residentes no es-
aplicável ou tratando-se de ocorrência no estrangeiro, trangeiro podem ser autorizados a adquirir a nacionali-
pela respectiva autoridade consular cabo-verdiana. dade do Estado de residência do fretador pelo tempo de
vigência do contrato.
6. Os proprietários dos navios nacionais estão obrigados
a comunicar à administração marítima nacional os con- 3. O regime de troca temporária de pavilhão previsto
tratos celebrados para alienação daqueles ao estrangeiro, neste Capítulo é ainda aplicável a outros contratos dis-
no prazo de 10 (dez) dias úteis a contar da data da sua tintos do fretamento em casco nu, quando impliquem a
assinatura. transmissão temporária da posse sobre o navio.

CAPÍTULO II 4. A autorização referida no número um, para navios


de pesca, é precedida de relatório favorável e vinculativo
Da nacionalidade e do uso da bandeira da administração pesqueira.
Artigo 178.º Artigo 181.º
Navios nacionais Medidas para evitar a dupla nacionalidade

1. Os navios registados em Cabo Verde consideram-se 1. O registo temporário previsto no artigo anterior,
de nacionalidade cabo-verdiana. não é lavrado pelos serviços de Registo Convencional de

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1776 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

Navios, enquanto não se certificar da suspensão da na- 2. A Lei aplicável às hipotecas e demais direitos reais
cionalidade e do direito de arvorar o pavilhão no registo inscritos continua a ser a da nacionalidade do navio
de procedência. antes da troca.
2. A administração marítima deve notificar o anterior Artigo 186.º
Estado de pavilhão da baixa do embandeiramento tem-
Garantias reais em caso de nacionalidade temporária cabo-verdiana
porário em Cabo Verde.
3. Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a A concessão temporária da nacionalidade cabo-verdia-
administração marítima deve notificar o novo Estado de na a navios estrangeiros fica condicionada à apresentação
pavilhão, a autorização concedida para o navio nacional por parte dos interessados perante a administração ma-
arvorar temporariamente pavilhão estrangeiro, com indi- rítima de certificação emitida pelo registo de procedência
cação da data do início e término da operação autorizada. da relação de hipotecas, ónus ou encargos existentes sobre
o navio, bem como do consentimento da troca temporária
Artigo 182.º
prestada pelos credores.
Prazos máximos do embandeiramento temporário
Artigo 187.º
1. A autorização concedida pela administração maríti-
ma estabelece o prazo de duração do embandeiramento Garantias reais no caso de nacionalidade temporária estrangeira
temporário, que não pode ser superior a 3 ( três) anos no
caso de navios de pesca e de 5 (cinco) anos nos demais. 1. A troca temporária de pavilhão de navios registados
em Cabo Verde, não é autorizada enquanto não forem
2. Os prazos máximos previstos no número anterior canceladas as hipotecas e encargos que pesem sobre o
podem ser prorrogados por prévia solicitação dos interes- navio ou apresentada declaração por escrito do consen-
sados e relatório vinculativo da administração pesqueira timento prestado pelos beneficiários das hipotecas ou
para navios de pesca. encargos.
Artigo 183.º
2. O nome do Estado cujo pavilhão o navio nacional
Término do embandeiramento temporário
foi autorizado a arvorar temporariamente, deve constar
1. Decorrido o prazo concedido para possuir tempora- obrigatoriamente do registo convencional de navios.
riamente a nacionalidade cabo-verdiana, bem como as
prorrogações, é cancelada automaticamente a inscrição 3. A administração marítima deve ainda, requerer à
no registo convencional de navios e o navio perde a autoridade encarregada do registo do Estado cujo pavi-
nacionalidade cabo-verdiana, devendo a administração lhão o navio foi autorizado a arvorar temporariamente,
marítima notificar a autoridade competente do Estado para se fazer constar no novo registo temporário, o registo
do registo de origem. anterior do navio no registo convencional de navios da
República de Cabo Verde.
2. Decorrido o prazo concedido para possuir tempora-
riamente a nacionalidade estrangeira, bem como as pror- Artigo 188.º
rogações, a administração marítima dá baixa definitiva Procedimentos e requisitos
ao registo do navio no registo convencional de navios e
notifica a autoridade competente do Estado de pavilhão. 1. O processo de solicitação, tramitação e autorização
Artigo 184.º das operações reguladas neste Capítulo, bem como a
documentação exigida, devem ser objecto de regulamen-
Efeitos da troca de nacionalidade
tação por Portaria do membro do Governo responsável
1. Os navios estrangeiros que adquiram temporaria- pela administração marítima.
mente a nacionalidade cabo-verdiana são registados no
registo convencional de navios, e têm direito a arvorar 2. A aquisição temporária da nacionalidade cabo-ver-
o pavilhão nacional, ficando sujeitos às disposições do diana para os navios de pesca, sem prejuízo das garantias
presente Código aplicáveis aos navios nacionais. previstas nos artigos anteriores, fica subordinada aos
seguintes requisitos:
2. Os navios nacionais autorizados a adquirir tem-
porariamente a nacionalidade de outro Estado perdem a) O fretador a casco nu deve ser um armador
temporariamente a nacionalidade cabo-verdiana e ficam nacional ou uma sociedade comercial em
sujeitos à legislação do pavilhão correspondente, devendo que, pelo menos, 51% (cinquenta e um por
averbar-se esse facto, no registo convencional de navios. cento) do capital social pertença a nacionais e
demonstrem possuir capacidade empresarial,
3. O disposto nos números anteriores não prejudica o
financeira e técnica em matéria de operações
previsto no artigo seguinte, sobre a matéria de lei apli-
pesqueiras;
cável aos direitos reais.
Artigo 185.º b) Não pode ser autorizada a troca temporária de
Lei aplicável aos direitos reais pavilhão de navios de arrastão de fundo; e

1. A troca temporária de pavilhão não afecta o direito c) A totalidade das capturas dos navios com
de propriedade nem outros direitos reais constituídos pavilhão temporário cabo-verdiano deve ser
sobre o navio. desembarcada em portos nacionais.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1777

CAPÍTULO IV c) Preferir nomes cabo-verdianos;


Da identificação dos navios nacionais d) Autorizar nomes próprios e apelidos de origem
estrangeira, que sejam usados por cidadãos
Artigo 189.º
cabo-verdianos.
Elementos de identificação
CAPÍTULO V
Os navios são identificados no registo pela seguinte
forma: Das marcas dos navios
Artigo 193.º
a) Os navios de pesca, rebocadores, auxiliares e os
navios propriedade do Estado pelo conjunto Inscrição a marcar nos navios
de identificação e pelo nome; e
1. Todos os navios nacionais, antes do seu registo,
b) Os restantes navios, pelo número de registo e devem ter marcado as inscrições fixadas neste Capítulo.
pelo nome.
2. A administração marítima pode autorizar a inscrição
Artigo 190.º do nome do armador ou de determinadas siglas, desde
Conjunto de identificação que não prejudiquem a identificação do navio.
Artigo 194.º
O conjunto de identificação dos navios compõe-se de:
Critérios das marcas
a) Nome do porto de registo;
1. As inscrições a marcar nos navios obedecem às se-
b) Número de registo; e guintes normas:
c) Letra ou letras indicativas da área em que o navio a) Devem ser mantidas de forma permanente e
pode operar, no caso de navios particulares, bem legíveis;
ou de que o navio é propriedade do Estado,
conforme estabelecido nos regulamentos b) Devem ser pintadas com cores que contrastem
aprovados pelo membro do Governo com o fundo onde sejam escritas; e
responsável pela administração marítima.
c) As letras e os números devem ter uma altura não
Artigo 191.º inferior a 10 (dez) centímetros e uma largura
Número de registo proporcional.

1. Os navios de arqueação bruta superior a 20 (vinte) 2. As escalas de calados, além das normas referidas no
toneladas são identificados por um número, exclusivo e número anterior, devem obedecer ao prescrito nos regula-
permanente para cada navio, atribuído pela administração mentos aprovados pelo membro do Governo responsável
marítima. pela administração marítima.
Artigo 195.º
2. Os navios de passageiros de arqueação bruta igual
ou superior a 100 (cem) toneladas e os navios de carga Embarcações isentas de usar marcas
de arqueação bruta igual ou superior a 300 (trezentas)
toneladas têm como número de identificação «Número As embarcações de pilotos e as de propriedade do Estado,
OMI», atribuído conforme o estabelecido nas convenções que não se destinam ao transporte de carga ou de passagei-
internacionais vigentes em Cabo Verde. ros e ainda todas as embarcações isentas de registo, estão
dispensadas das prescrições dos artigos anteriores.
3. Em todos os casos de cancelamento de um registo,
Artigo 196.º
o respectivo número não volta a ser usado em qualquer
navio do mesmo tipo, salvo quando o cancelamento seja Regime geral das marcas
devido a reforma e o navio mantenha a mesma classi-
ficação. 1. Salvo o disposto nos artigos seguintes, os navios
devem usar as seguintes inscrições:
Artigo 192.º
a) Número de registo, para os de navegação costeira,
Nome dos navios cabotagem, e de longo curso, ou o conjunto de
A administração marítima atribui um nome aos navios, identificação para os restantes;
preferencialmente o proposto pelo seu proprietário e deve b) Nome;
atender-se ao seguinte:
c) Porto de registo;
a) Evitar não só a sua repetição, como também
designações irreverentes, ridículas ou d) Escalas de calado; e
ridicularizantes;
e) Marca de bordo livre e linhas de carga, conforme
b) Não permitir os que apenas se distingam de o estabelecido nas convenções internacionais
outros por acrescentamento de um número vigentes em Cabo Verde e nos regulamentos
ordinal ou cardinal, escrito ou não por extenso; a que se refere o artigo 216.º.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1778 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. O número de registo ou o conjunto de identificação 2. Sem prejuízo do disposto no número anterior e das
são inscritos num lugar apropriado do interior do navio, disposições contidas no Título III deste Livro, os navios
excepto nos navios de pesca de largo, nos quais se ins- devem ter a bordo:
crevem nas amuras, de ambos os bordos, junto à borda.
a) Os certificados de segurança, protecção do
3. O número OMI é inscrito em conformidade com transporte marítimo e prevenção da poluição,
o previsto nas convenções internacionais vigentes em bem como o certificado de arqueação e os livros
Cabo Verde. exigidos pelas convenções internacionais
vigentes em Cabo Verde;
4. O nome é inscrito à proa, em ambos os bordos junto
à borda e à popa do navio. b) Os certificados e outros documentos previstos na
regulamentação internacional e nacional das
5. O porto de registo é inscrito à popa e por baixo do
radiocomunicações dos navios, nos casos em
nome.
que o navio possua estação radioeléctrica;
Artigo 197.º
c) Os certificados de identificação, de aptidão e de
Marcas nos navios de arqueação não superior a 20 toneladas
formação dos marinheiros, conforme o previsto
1. Os navios de navegação costeira que não sejam de no Título III do Livro V do presente Código,
passageiros, os rebocadores e os navios auxiliares, cuja bem como os certificados internacionais de
arqueação bruta seja igual ou inferior a 20 (vinte) tone- vacinação e outros exigidos pela legislação
ladas usam as seguintes inscrições: sanitária;
a) Número de registo, para os navios de navegação d) O certificado de registo, e o passaporte do navio
costeira, o conjunto de identificação para os quando este realize viagens internacionais;
rebocadores e navios auxiliares; e) Os documentos requeridos para o despacho de
b) Nome; e entrada ou de saída, segundo o previsto nos
artigos 109º e 136º do presente Código;
c) Porto de registo.
f) O diário de navegação e o diário de máquinas,
2. O número de registo ou o conjunto de identificação salvo nos casos de isenção previstos neste
são inscritos nas amuras, de ambos os bordos junto à Código; e
borda.
g) A licença de pesca e demais documentos exigidos
3. O nome é inscrito à popa do navio junto do número pela legislação pesqueira, a bordo dos navios
de registo ou conjunto de identificação por baixo destes. de pesca.
4. O porto de registo é inscrito à popa do navio por Artigo 200.º
baixo do nome. Passaporte do navio
Artigo 198.º
1. O passaporte do navio é o documento emitido pela
Marcas nos navios de pesca local ou costeira administração marítima que certifica a nacionalidade ca-
1. Os navios de pesca local ou costeira usam as seguintes bo-verdiana do navio destinado a viagens internacionais.
marcas: 2. Carece de passaporte provisório válido apenas para
a) Conjunto de identificação; a viagem do porto de aquisição, ou construção para o de
registo a embarcação que, não tendo passaporte nacional,
b) Nome; for adquirida no estrangeiro.
c) Porto de registo; e 3. O passaporte provisório é passado pela autoridade
d) Escalas de calado. consular cabo-verdiana.

2. O conjunto de identificação, o nome e o porto de 4. É condição indispensável para se emitir o passaporte,


registo são inscritos nos mesmos lugares previstos nos que o navio tenha sido inspeccionado e arqueado, segundo
números 2), 3) e 4) do artigo anterior. a legislação em vigor, e vistoriado para se apurar que
está em condições de empreender a viagem.
3. Os navios de pesca local ou costeira de arqueação Artigo 201.º
bruta igual ou inferior a 20 (vinte) toneladas usam apenas
a inscrição do nome e do porto de registo. Diário de navegação

CAPÍTULO VI 1. O diário de navegação é o livro de bordo onde se


registam obrigatoriamente todos os elementos e factos
Da documentação de bordo relativos à navegação do navio, bem como outros elemen-
Artigo 199.º tos, factos e ocorrências que, pela sua importância ou por
determinação legal, nele devam ser registados.
Livros e documentos a bordo
2. Não carecem de diário de navegação os navios:
1. Os livros e documentos que os navios nacionais
devem ter a bordo em função da classe e características a) De navegação costeira nacional, quando tenham
do navio, são determinados por Portaria do membro do uma arqueação bruta inferior a 20 (vinte)
Governo responsável pela administração marítima. toneladas;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1779

b) De pesca local e costeira; e Artigo 206.º

Guarda dos livros e documentos de bordo


c) Rebocadores e navios auxiliares locais ou costeiros,
quando sua actividade está limitada às áreas Os papéis de bordo estão na posse do capitão ou de
que correspondem à navegação costeira. quem desempenhe as correspondentes funções que é
Artigo 202.º
responsável pela sua segurança e conservação, salvo os
que, por determinação legal ou por necessidade de registo
Diário de máquinas e utilização, devem permanecer noutros locais do navio.

1. O diário de máquinas é o livro de bordo onde se Artigo 207.º


registam obrigatoriamente todos os elementos ou factos Dever de exibição
relativos ao funcionamento do aparelho de propulsão e
respectivos auxiliares, bem como outros elementos, factos O capitão ou quem desempenhe as correspondentes
e ocorrências a eles respeitantes que, pela sua impor- funções de um navio nacional é obrigado a apresentar a
tância ou por determinação legal, devam ser registados. documentação de bordo, sempre que lhe forem exigidos
por administrações marítimas nacionais ou consulares,
2. Não carecem de diário de máquinas os navios refe- pelos comandantes dos navios nacionais de guerra ou da
ridas no número 2 do artigo anterior. Guarda Costeira, autoridades policiais e ainda quando
tenha que provar a nacionalidade do seu navio perante
Artigo 203.º
as competentes autoridades estrangeiras.
Registos electrónicos Artigo 208.º

1. A administração marítima pode autorizar a substi- Modelos de livros e certificados


tuição do diário de navegação por um registo electrónico,
1. A administração marítima deve aprovar e publicar
quando se trate de navios cuja navegação seja controlada
os modelos dos livros e documentos que devem levar a
e registada por meio de computadores.
bordo os navios nacionais, de conformidade com os mo-
2. A substituição prevista no número anterior pode delos previstos nas convenções internacionais vigentes
ser autorizada em relação ao diário de máquinas, nos em Cabo Verde.
navios cujo funcionamento do aparelho de propulsão e 2. A administração marítima estabelece as condições
respectivos auxiliares é controlado e registado por meio e prazos para a troca dos modelos preexistentes que não
de computadores. se ajustem aos novos modelos regulamentares.
Artigo 204.º CAPÍTULO VII
Renovação dos livros e documentos Da arqueação de navios
O certificado de matrícula, o passaporte, o diário de Artigo 209.º
navegação, o diário de máquinas e demais livros e docu- Definição e classes de arqueação
mentos que o navio deva levar a bordo com carácter per-
manente serão renovados pela administração marítima 1. A arqueação bruta representa a medida do volume
nacional por solicitação dos interessados, nos seguintes total de um navio, determinada conforme as disposições
casos: deste Capítulo.

a) Quando se inutilizem ou se tornem ilegíveis; 2. A arqueação líquida representa a medida de capa-


cidade útil de um navio, determinada em conformidade
b) Em caso de perda ou extravio; com as disposições deste Capítulo.

c) Quando caduquem, no caso de terem data de Artigo 210.º


validade; Navios sujeitos a arqueação e competências

c) Em caso de troca de proprietário, nome, conjunto 1. Os navios mercantes nacionais devem ser objecto
de identificação, arqueação, classe ou de arqueação.
características principais do navio; e
2. As embarcações que careçam de coberta corrida não
d) Quando os livros ou documentos que sejam são objecto de arqueação.
objecto de anotações periódicas, não possam 3. Compete à administração marítima a determinação
conter mais alterações. da arqueação dos navios e a emissão dos correspondentes
Artigo 205.º certificados de arqueação.
Artigo 211.º
Legalização dos livros de bordo
Regras de arqueação
Os livros de bordo dos navios são numerados e legali-
zados por meio de termos de abertura e de encerramento 1. A arqueação dos navios que efectuem viagens inter-
e rubrica de todas as suas folhas pela administração nacionais é feita de acordo com as regras das Convenções
marítima. internacionais vigentes em Cabo Verde.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1780 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. Os navios não incluídos no número anterior e as e de habitabilidade estabelecidos nas convenções inter-
embarcações são arqueados segundo as regras prescritas nacionais vigentes em Cabo Verde, no presente Código
nos regulamentos aprovados pelo membro do Governo e nos regulamentos aprovados pelo Governo.
responsável pela administração marítima nacional.
2. Na regulamentação dos requisitos referidos no nú-
Artigo 212.º mero anterior, deve ter-se em atenção a classe do navio
Certificados de arqueação e viagens ou actividade a que se dedica.
1. O certificado de arqueação é o meio de prova que o Artigo 217.º
navio foi arqueado nos termos previstos na legislação Segurança dos equipamentos radioeléctricos
aplicável.
A segurança, vistoria e certificação dos equipamentos
2. Aos navios arqueados de acordo com o previsto no nú-
radioeléctricos a bordo dos navios, incluindo os processos
mero um do artigo anterior, é emitido um certificado inter-
para sua instalação, modificação, utilização e funciona-
nacional de arqueação, e aos arqueados conforme o número
mento e a licença de equipamento radioeléctrico regem-se
2 do mesmo artigo, um certificado nacional de arqueação.
pelos regulamentos especiais do serviço radioeléctrico
Artigo 213.º dos navios.
Certificados especiais de arqueação Artigo 218.º
1. A administração marítima nacional pode emitir Competências
certificados especiais de arqueação, em conformidade
com as regras estabelecidas pelas autoridades de outros Compete à administração marítima efectuar vistorias
Estados, quando assim se exija para a navegação em e proceder à certificação de navios, de acordo com planos
determinadas zonas. ou programas estabelecidos por Portaria do membro do
Governo responsável pela área marítima.
2. Os certificados de arqueação emitidos por adminis-
trações estrangeiras são considerados válidos para os Artigo 219.º
efeitos do registo provisório dos navios nacionais. Responsabilidade do armador, capitão e tripulação
Artigo 214.º
Os poderes da administração marítima quanto à vis-
Certificados emitidos com base em cálculos de terceiros
toria de navios não eximem o armador das suas respon-
Os certificados de arqueação dos navios nacionais po- sabilidades em assegurar a navegabilidade do seu navio
dem ser emitidos pela administração marítima tomando nem do capitão como primeiro responsável a bordo pela
como base os cálculos apresentados pelos interessados, segurança do navio sob seu comando, bem como da tri-
sempre que estes sejam homologados por se encontrarem pulação no cumprimento dos seus deveres em matéria de
devidamente elaborados. segurança, protecção e prevenção da poluição marinha.
Artigo 215.º CAPÍTULO II
Certificados de arqueação de navios estrangeiros
Da vistoria dos navios nacionais
1. A administração marítima reconhece os certificados
Artigo 220.º
de arqueação dos navios estrangeiros quando emitido, por
autoridades competentes dos Estados parte nas conven- Espécies de vistorias
ções internacionais vigentes em Cabo Verde.
1. A fiscalização das condições de segurança dos navios
2. O reconhecimento referido no número anterior pode se efectua normalmente por meio de vistorias.
ser igualmente em relação aos certificados de arqueação
dos navios excluídos do âmbito de aplicação das con- 2. As vistorias são das seguintes espécies:
venções internacionais, quando emitidos em virtude da a) Vistorias de construção;
legislação do Estado de pavilhão.
b) Vistorias de manutenção; e
3. A administração marítima pode reconhecer os cer-
tificados de arqueação dos navios estrangeiros quando c) Vistorias suplementares.
emitidos por uma sociedade de classificação em virtude
Artigo 221.º
de delegação efectuada pelo Estado de pavilhão.
Vistorias de construção
TÍTULO III
DA SEGURANÇA DOS NAVIOS E DAS 1. As vistorias de construção têm lugar durante os tra-
SOCIEDADES DE CLASSIFICAÇÃO balhos de construção ou modificação das embarcações ou
seguidamente à conclusão desses trabalhos, ou quando
CAPÍTULO I da aquisição de uma embarcação.
Das disposições gerais 2. As vistorias a que se refere o número anterior são
Artigo 216.º definidas por Portaria do membro do Governo responsá-
Requisitos de segurança dos navios vel pela área marítima.
1. Os navios nacionais devem cumprir os requisitos 3. No caso de construção ou modificações realizadas
técnicos, de segurança, de prevenção da poluição do mar no estrangeiro, pode o IMP delegar a fiscalização numa

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1781

sociedade de classificação reconhecida pelo Governo, que CAPÍTULO III


disponha de técnicos idóneos no local dos estaleiros ou
que para ali se possam deslocar com facilidade. Dos certificados de segurança

Artigo 222.º Artigo 226º

Certificados internacionais e nacionais


Vistorias de manutenção

1. As vistorias de manutenção são realizadas para 1. Efectuadas as vistorias exigidas e o navio julgado
comprovar que os navios cumprem os requisitos técnicos em boas condições, é emitido ao navio nacional os certi-
exigidos ao longo da sua vida útil. ficados, internacional ou nacional conforme o caso.

2. São certificados internacionais, os que certificam o


2. As vistorias técnicas são realizadas com a perio-
cumprimento dos requisitos técnicos previstos nas con-
dicidade definida por Portaria do membro do Governo
venções internacionais vigentes em Cabo Verde.
responsável pela área marítima
3. São certificados nacionais os que certificam o cumpri-
3. Na regulamentação das vistorias técnicas, deve ter-
mento dos requisitos técnicos estabelecidos na legislação
se em atenção a classe de navios e viagens ou actividade
nacional sobre a matéria.
a que se dedica
Artigo 227.º
Artigo 223.º
Lista de certificados
Vistorias suplementares
A lista de certificados internacionais e nacionais que
1. As vistorias suplementares dos navios nacionais
os navios nacionais, segundo a classe, características
têm lugar sempre que a administração marítima local
principais, actividade a que se dedicam e viagens que re-
tenha justificadas suspeitas, mesmo que resultantes de
alizam, é determinada através de regulamento aprovado
denúncia, acidente, manobras perigosas ou por outras
pelo membro do Governo responsável pela área marítima.
razões, de que algum navio nacional não reúne as devidas
condições de navegabilidade para realizar a viagem com Artigo 228.º
segurança e sem risco de poluição marinha.
Exibição dos certificados
2. As vistorias suplementares em portos estrangeiros
1. Os certificados de segurança e de prevenção da
são da competência das autoridades consulares cabo-
poluição dos navios são exibidos a bordo, em lugar bem
verdianas.
visível e de fácil acesso.
Artigo 224.º
2. O previsto no número anterior não se aplica às
Custo das vistorias embarcações.

1. As vistorias, qualquer que seja a classe do navio, Artigo 229.º


são efectuadas a cargo do armador, salvo o previsto nos Efeito dos certificados
números seguintes.
1. A emissão e vigência de certificados, presumem que
2. Tratando-se de vistorias suplementares, se efectuada o navio se encontra em perfeitas condições quanto ao
a vistoria, o navio for julgada em boas condições, o custo objecto da certificação, salvo prova em contrário.
da vistoria é paga:
2. A falta ou caducidade dos certificados proíbem o na-
a) Pelo Estado, se tiver sido ordenada oficiosamente; vio de navegar ou de prestar os serviços a que se destina,
e salvo circunstâncias especiais reguladas por Portaria do
membro do Governo responsável pela área marítima.
b) Pelo denunciante, se tiver sido realizada em
virtude de denúncia. Artigo 230.º

3. Havendo denúncia, a administração marítima ou Certificado de navegabilidade


autoridade consular pode exigir ao denunciante o depó-
1. O certificado de navegabilidade é o documento pas-
sito prévio da importância ou prestação de uma garantia
sado de acordo com as disposições da legislação nacional,
para cobrir os custos da vistoria.
que prova reunirem os navios as condições necessárias
Artigo 225.º para navegar.
Detenção do navio 2. Do certificado de navegabilidade dos rebocadores e
dos navios auxiliares locais ou costeiros, deve constar a
Se efectuada a vistoria, o navio for julgado em más lotação de tripulantes e, se for o caso, dos passageiros
condições de navegabilidade ou não cumpre as regras que estão autorizados a transportar.
de segurança e poluição, pode ser suspenso das suas
operações e detido no porto em que se encontrar até que 3. As embarcações de pesca local, e as de pesca costei-
o armador, capitão ou tripulação tenham corrigido os ra desprovidas de propulsão mecânica estão isentas do
defeitos. certificado de navegabilidade.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1782 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 231.º Artigo 235.º

Certificados de navegabilidade provisórios Detenção de navios estrangeiros

1. As autoridades consulares cabo-verdianas podem, 1. Se efectuada a vistoria, o navio for julgado em más
depois de verificar, mediante vistoria, que satisfazem as condições de navegabilidade ou seu serviço não puder
condições indispensáveis para a viagem, emitir certifica- ser feito nas devidas condições de segurança para as
dos de navegabilidade provisória aos seguintes navios: pessoas a bordo e para o meio ambiente, a administração
a) Adquiridos ou construídos no estrangeiro, para marítima pode suspender as suas operações e adoptar
sua viagem com passaporte provisório até ao as medidas necessárias até serem corrigidos os defeitos
porto nacional onde façam o seu registo; e encontrados.

b) Que se encontrarem no estrangeiro e estejam 2. Tomadas as medidas previstas no número anterior,


impossibilitados de renovar o certificado de são imediatamente comunicadas ao representante diplo-
navegabilidade dentro do prazo de validade mático ou autoridade consular mais próxima do Estado
indicado. de pavilhão.
2. Os certificados referidos no número anterior devem CAPÍTULO V
ser emitidos depois de efectuada a vistoria correspon-
dente e os emitidos para efeitos da alínea b) não podem Das sociedades de classificação
ter validade superior a 90 (noventa) dias contados da Artigo 236.º
data da vistoria.
Conceito
Artigo 232.º
Certificados de navegabilidade especiais Para feitos do presente Capítulo entende-se por socie-
dade de classificação, entidade ou organização privada
1. As administrações marítimas locais ou consulares dedicada profissionalmente à vistoria e peritagem de
cabo-verdianas, conforme os casos, podem emitir certi- navios e de seus equipamentos e procedimentos.
ficados de navegabilidade especiais, válidos para uma
determinada viagem, depois de vistoria que prove estar Artigo 237.º
o navio em condições de realizar a viagem. Delegação de funções estatutárias
2. Os navios de tráfego local que tenham que ir reparar
1. A administração marítima pode delegar determina-
a um porto diferente do de registo devem munir-se de
das funções ou actividades de vistoria e de certificação
certificado de navegabilidade especial.
de navios nas sociedades de classificação, especialmente
CAPÍTULO IV se os navios foram adquiridos, em construção ou em re-
paração no estrangeiro.
Da vistoria de navios estrangeiros
Artigo 233.º 2. A delegação prevista no número anterior, só é admi-
tida em relação a sociedades de classificação reconhecidas
Deveres e poderes do Estado do porto
pela administração marítima conforme os requisitos,
No cumprimento dos deveres e exercício das compe- procedimento e condições a serem aprovados por Portaria
tências da República de Cabo Verde enquanto Estado de do membro do Governo responsável pela área marítima.
controlo do porto, a administração marítima pode realizar
vistorias suplementares aos navios estrangeiros que se 3. A delegação nas sociedades de classificação não
encontrem nos portos nacionais. implica a renúncia ou exoneração da responsabilidade
da administração marítima dos seus deveres de controlo
Artigo 234.º
como Estado de pavilhão, em conformidade com o direito
Procedimento e custos das vistorias internacional.
1. As vistorias de controlo pelo Estado de controlo Artigo 238.º
do porto devem limitar-se ao exame dos certificados e
Certificados de classe
documentação a bordo, sem prejuízo do processo poder
ser regulamentado, por Portaria do membro do Governo 1. Pelo certificado de classe, emitido em virtude de um
responsável pela área marítima. contrato de classificação naval, uma sociedade de clas-
2. A decisão de se proceder a vistoria deve ser comuni- sificação certifica que um navio ou seus equipamentos
cada ao representante diplomático ou autoridade consu- cumpre com o estabelecido nas regras de classe.
lar mais próxima do Estado de pavilhão, convidando-o a 2. As sociedades de classificação respondem pelos danos
participar na vistoria pessoalmente ou por meio de um e prejuízos causados à entidade considerada parte no con-
representante. trato de classificação naval, mesmo a título de negligência
3. O armador do navio ou seu representante pode de- na vistoria do navio e emissão do certificado de classe.
signar, a expensas próprias, um perito para o representar
3. A responsabilidade das sociedades de classificação
no acto de vistoria.
pelos danos causados a terceiros em consequência de vis-
4. Quanto ao custo das vistorias, aplica-se o disposto torias e emissão de certificados de classe, é determinada
no artigo 224.º. nos termos do direito civil.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1783

TÍTULO IV 3. Nos casos previstos no número anterior, o construtor


deve notificar ao dono da construção os defeitos do pro-
DA PROPRIEDADE E DOS CONTRATOS jecto detectáveis por um técnico diligente e sugerir-lhe
DE CONSTRUÇÃO, REPARAÇÃO E COMPRA as necessárias alterações.
E VENDA DE NAVIOS
Artigo 245.º
CAPÍTULO I
Fiscalização
Da propriedade dos navios
1. O dono da construção pode inspeccionar sua execu-
Artigo 239.º ção, à sua custa, desde que não perturbe o andamento
Regime da propriedade normal da construção.

O direito de propriedade dos navios é regulado pelas 2. Durante a construção, o construtor concede ao dono
disposições no presente Código e, subsidiariamente, pelas da construção e aos seus representantes as facilidades
disposições do direito civil que regulam a propriedade necessárias à vistoria, dá e presta a assistência de que
dos bens móveis. razoavelmente careçam para o cabal desempenho da
mesma.
Artigo 240.º

Usucapião de navios
3. O previsto nos números anteriores é aplicável aos
subempreiteiros contratados que realizem trabalhos
1. Havendo título de aquisição e registo deste, a pro- destinados à construção.
priedade do navio pode ser adquirida, pelo exercício Artigo 246.º
contínuo da posse por 3 (três) anos, estando o possuidor
de boa-fé. Propriedade do navio em construção

2. Não havendo registo, quando a posse tiver durado 1. Salvo acordo em contrário, o navio é propriedade do
10 (dez) anos, independentemente da boa fé do possuidor construtor durante o processo de construção, exceptuados
e da existência de título os materiais fornecidos pelo dono da construção.
Artigo 241.º 2. A transferência da propriedade dá-se com a entrega
Compropriedade dos navios do navio pelo construtor e sua aceitação pelo dono da
construção.
A compropriedade do navio rege-se pelas disposições
Artigo 247.º
gerais de direito civil, salvo nos casos de compropriedade
destinada à exploração de navios mercantes, sujeitos às Alterações
disposições do Capítulo III do Título I do Livro V deste
Código. 1. Se, durante a construção, entrar em vigor normas
técnicas, regulamentos, convenções internacionais ou
CAPÍTULO II quaisquer outras normas legais que imponham modifica-
ções na construção, o construtor, no prazo de 30 (trinta)
Do contrato de construção de navio dias contados desde o início da respectiva vigência, avisa
Artigo 242.º ao dono da construção e apresentar-lhe-á uma proposta
do preço das modificações e, sendo caso disso, da nova
Forma
data de entrega do navio.
O contrato de construção de navio e suas modificações
2. Se as partes não chegarem a um acordo, o construtor
estão sujeitos à forma escrita.
procede às alterações impostas, competindo ao tribunal
Artigo 243.º fixar as correspondentes modificações do contrato quanto
Legislação subsidiária
ao preço e prazo de execução.
Artigo 248.º
O contrato de construção de navio é disciplinado, sub-
sidiariamente, pelas normas aplicáveis ao contrato de Preço das modificações
empreitada que não contrariem o disposto no presente
Salvo acordo das partes em contrário, o custo de
Código.
quaisquer alterações ao projecto de construção, legais
Artigo 244.º ou convencionais, deve ser pago nas mesmas condições
Projecto do preço inicial.
Artigo 249.º
1. O construtor deve executar a construção do navio em
conformidade com o projecto aprovado pelo dono e sem Experiências
vícios que excluam ou reduzam seu valor ou aptidão para
o uso previsto no contrato ou, na falta desta indicação, 1. Durante a construção, o navio e seus equipamentos
para o uso comum do tipo de navio em causa. devem ser submetidos às experiências previstas no con-
trato e na legislação aplicável, assim como às impostas
2. O construtor não responde pelo projecto elaborado pelos serviços da administração marítima encarregados
pelo dono da construção ou por terceiros. da inspecção das condições técnicas dos navios.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1784 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. O construtor deve, com antecedência de 30 (trinta) Artigo 255.º


dias, informar ao dono da construção do programa das Garantia
experiências
1. O construtor deve oferecer uma garantia dos defeitos
3. As despesas com as experiências a que se refere o de construção do navio durante o prazo de 1 (um) ano a
presente artigo correm por conta do construtor, excep- contar da aceitação.
tuadas as relativas à tripulação.
2. Em caso de avaria resultante de defeito ocorrido
Artigo 250.º durante o prazo de garantia, o construtor é obrigado a cor-
Defeitos detectados durante as experiências rigir o defeito ou a substituir o equipamento defeituoso.
3. Quando não for possível ao navio alcançar o estaleiro
O construtor deve corrigir os defeitos detectados du-
do construtor ou quando isso resulte manifestamente
rante a realização das provas e experiências e proceder
inconveniente, o constritor efectua a reparação ou subs-
às desmontagens e verificações que forem consideradas
tituição do equipamento, em local adequado.
necessárias.
Artigo 256.º
Artigo 251.º
Denúncia dos defeitos
Entrega e aceitação do navio
1. O dono da construção, sob pena de caducidade dos
1. A entrega do navio deve ser feita no estaleiro do direitos, conferidos nos artigos seguintes, deve denunciar
construtor, após a realização de todas as experiências e ao construtor os defeitos de construção, dentro dos 30
inspecções e a obtenção das aprovações dos competentes (trinta) dias posteriores ao seu conhecimento.
serviços administrativos
2. O reconhecimento por parte do construtor da exis-
2. No momento da entrega o navio deve estar provido tência dos defeitos equivale à denúncia.
dos aparelhos, aprestos, meios de salvação, acessórios e Artigo 257.º
sobressalentes, de acordo com o previsto no contrato de
construção. Eliminação dos defeitos

3. O dono da construção que não aceite o navio no Os resultados das provas e sua aprovação pelo dono
prazo devido incorre em mora creditória, nos termos do da construção e a aceitação sem reservas do navio não
direito civil. exoneram ao construtor da responsabilidade de corrigir
os defeitos.
Artigo 252.º
Artigo 258.º
Instruções e informação
Não eliminação dos defeitos
O construtor deve proporcionar ao dono da construção, Não sendo eliminados os defeitos, o dono da construção
na data de entrega do navio: pode exigir a redução do preço, segundo juízos de equi-
dade, ou a resolução do contrato, se aqueles tornarem o
a) Certificados do navio e dos equipamentos;
navio inadequado para o fim a que se destinava.
b) Livros de instruções e informação técnica; Artigo 259.º

c) Planos; Indemnização

d) Instruções e informações relativas à condução; O exercício dos direitos conferidos nos artigos antece-
dentes não exclui o direito a indemnização nos termos
e) Inventários e listas das partes integrantes do gerais.
navio; e
Artigo 260.º
f) Outros documentos eventualmente previstos no Caducidade
contrato de construção.
1. Os direitos concedidos nos artigos anteriores ca-
Artigo 253.º ducam se não forem exercidos dentro de 2 (dois) anos a
Retirada do navio do estaleiro contar da entrega do navio.
2. Em caso de vício oculto, o prazo fixado no número
O dono da construção deve retirar o navio do estaleiro
anterior conta-se a partir de seu conhecimento pelo dono
do construtor no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua
da construção.
aceitação, ou noutro prazo acordado, sendo aplicável,
em caso de incumprimento, o disposto no número 3 do Artigo 261.º
artigo 251º. Pluralidade de construtores
Artigo 254.º
As disposições deste Capítulo relativas ao contrato de
Direito de retenção construção se aplicam, com as necessárias adaptações,
no caso de, através de contratos autónomos, a obra ser
O construtor goza do direito de retenção sobre o navio adjudicada a diferentes construtores, assumindo cada
como garantia dos créditos nascidos de sua construção. um deles, o encargo de parte da construção.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1785

CAPÍTULO III TÍTULO V


Do contrato de reparação de navio DAS HIPOTECAS E DOS PRIVILÉGIOS
MARÍTIMOS
Artigo 262.º

Regime CAPÍTULO I

É aplicável ao contrato de reparação de navios, com Disposições gerais


as necessárias adaptações, o regime do contrato de Artigo 268.º
construção.
Regime aplicável
CAPÍTULO IV
1. Os privilégios marítimos e as hipotecas marítimas
Do contrato de compra e venda de navio sobre navios nacionais regem-se pelas disposições deste
Artigo 263.º Título e, subsidiariamente pelo previsto na legislação
civil.
Objecto da compra e venda
2. Os privilégios marítimos e as hipotecas marítimas
1. No contrato de compra e venda deve incluir-se um constituídas sobre navios estrangeiros se regem pela lei
inventário detalhado de todos os elementos objecto de do país de sua nacionalidade.
venda com o navio.
Artigo 269.º
2. Salvo acordo em contrário, a venda do navio com-
Extensão da hipoteca ou do privilégio
preende todas suas partes integrantes.
1. Salvo acordo em contrário, o privilégio marítimo ou
3. As diferenças surgidas quanto à determinação das
a hipoteca sobre o navio compreende todas suas partes
partes integrantes do navio devem ser resolvidas, se for
integrantes, ainda que temporariamente alguma não se
possível, conforme o conteúdo do seu registo.
encontre a bordo.
Artigo 264.º
2. Exceptuam os equipamentos que estiverem a bordo
Forma e eficácia perante terceiros
e que pertençam a outra pessoa distinta do proprietário
1. O contrato de compra e venda de navio deve ser do navio.
reduzido a escrito com as assinaturas reconhecidas por Artigo 270.º
notário ou autoridade consular cabo-verdiana
Direito de perseguição e de transmissão
2. O não reconhecimento notarial ou consular das assi-
naturas no contrato de compra e venda de navio torna-o 1. Enquanto não se extinguirem, os privilégios e as hi-
ineficaz perante terceiros potecas marítimas acompanham o navio mesmo que este
mude de propriedade ou nacionalidade.
Artigo 265.º
2. A transmissão de um título de crédito marítimo pri-
Transmissão da propriedade e do risco
vilegiado ou hipotecário transmite igualmente o privilégio
1. Salvo acordo em contrário, o comprador adquire a ou a hipoteca.
propriedade do navio no momento da entrega. Artigo 271.º

2. Salvo acordo em contrário, a perda e a deterioração Personalidade judiciária do navio


fortuitas sofridas pelo navio são suportados pelo vendedor
até ao momento da sua entrega. 1. O navio sobre o qual recai o privilégio ou a hipoteca
responde perante o credor nos mesmos termos em que
Artigo 266.º responderia o proprietário.
Reparação
2. Para efeito do disposto no número anterior, é atri-
1. O vendedor responde pela reparação por evicção e buído ao navio personalidade judiciária, cabendo a sua
por defeitos ocultos, sempre que estes sejam descobertos representação em juízo ao proprietário, ao Capitão ou
no prazo de 3 (três) meses a partir da entrega material seu substituto, ao armador ou seu gestor e ao agente
do navio e o comprador os notifique ao vendedor no prazo marítimo que requereu o despacho do navio.
de 5 (cinco) dias após a descoberta. Artigo 272.º
2. A acção de reparação por defeitos ocultos caduca no Competência dos tribunais cabo-verdianos
prazo de 6 (seis) meses a partir da denúncia.
Os tribunais de Cabo Verde são internacionalmente
Artigo 267.º
competentes para conhecer das questões relacionadas
Aplicação a outros negócios translativos do domínio com os privilégios e hipotecas marítimas nos seguintes
casos:
Com as necessárias adaptações, as disposições deste
Capítulo são aplicáveis a quaisquer outros negócios ju- a) Se uma das partes em juízo tiver a nacionalidade
rídicos translativos do domínio do navio. cabo-verdiana;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1786 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

b) Se o evento de que nasceu o crédito tiver ocorrido Artigo 274.º


em território nacional;
Grau de preferência dos créditos marítimos privilegiados
c) Se o navio sobre o qual recai o crédito se encontrar
1. A graduação dos créditos marítimos privilegiados é
em território nacional;
a determinada no artigo anterior, com as especialidades
d) Se o navio sobre que recai o crédito tiver sido previstas nos números seguintes.
objecto de providência cautelar decretada por
tribunal cabo-verdiano; e 2. A recompensa devida por salvamento prefere aos
demais créditos privilegiados a que se sujeita o navio, com
e) Se tiver sido prestada caução ou garantia em antecedência às operações de salvamento.
Cabo Verde.
3. Dentro de cada classe de créditos, os mais modernos
CAPÍTULO II têm preferência sobre os mais antigos.
Dos privilégios sobre o navio Artigo 275.º

Artigo 273.º Preferência em relação a outros créditos

Créditos marítimos privilegiados


1. Tratando-se de navios objecto de remoção, nos ter-
1. Gozam de privilégio sobre o navio os seguintes cré- mos previstos no Capítulo V do Título IV do Livro VIII do
ditos, pela ordem indicada: presente Código, preferem aos demais créditos marítimos
privilegiados, as despesas incorridas pela administração
a) As despesas judiciais feitas no interesse comum marítima na realização das correspondentes operações.
dos credores para a conservação do navio ou
para executar a sua venda e a distribuição do 2. Os créditos marítimos privilegiados previstos nas
seu preço; alíneas a) a f) do número 1 do artigo 273.º preferem ao
crédito por hipoteca marítima.
b) Os direitos de tonelagem, farolagem e do porto
e outras taxas e impostos públicos da mesma 3. Todos os créditos marítimos privilegiados têm prefe-
natureza; rência em relação a qualquer outro crédito com privilégio
geral ou especial previsto noutras leis.
c) As despesas de pilotagem, reboque, guarda e
conservação do navio em porto; Artigo 276.º

d) Os créditos resultantes de contratos de trabalho Extinção dos privilégios


da tripulação;
Os privilégios sobre o navio extinguem-se:
e) Os salários de salvação;
a) Pela extinção do crédito privilegiado;
f) As indemnizações por abalroação ou outros
acidentes de navegação; por danos causados b) Pela venda judicial do navio, feita com as
nas instalações e equipamentos portuários, formalidades previstas no Título III do Livro
docas e vias navegáveis; por lesões corporais XI do presente Código, caso em que o preço
aos passageiros e às tripulações; obtido na venda fica afecto ao pagamento dos
credores privilegiados;
g) As hipotecas por ordem cronológica da sua
inscrição no registo; c) Transcorridos 3 (três) meses desde a venda
voluntária do navio, feita com citação dos
h) As indemnizações por perdas, avarias ou demora credores privilegiados e sem que estes tenham
na entrega da carga ou da bagagem; feito valer seus privilégios ou impugnado o
preço da venda;
i) Os créditos provenientes de contratos celebrados
ou operações efectuadas fora do porto de d) Pelo decurso do prazo de 1 (um) ano a contar da data
registo do navio para as necessidades da da constituição do crédito ou a contar da data em que
conservação do navio ou da continuação da terminou a relação laboral no caso dos salários e outras
viagem; quantias devidas ao capitão e à tripulação.
j) Os prémios do seguro do navio, seus aprestos e
CAPÍTULO III
aparelhos; e

k) Os custos de construção, reparação ou Das hipotecas marítimas


beneficiação do navio. Artigo 277.º

2. No caso da alínea e) do número anterior, o armador do Constituição de hipotecas sobre navios


navio, se não declarar avaria grossa, fica responsável pelo
pagamento das contribuições da carga, as quais passam a Podem constituir-se hipotecas voluntárias sobre navios
gozar igualmente de privilégios sobre o navio. ou sobre navios em construção ou a construir.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1787
Artigo 278.º Artigo 284.º

Forma Prescrição

1. As hipotecas sobre navios constituem-se por docu- 1. A acção hipotecária marítima prescreve decorridos
mento escrito, com reconhecimento notarial das assina- 3 (três) anos, a partir da data em que possa ser exercida.
turas dos outorgantes.
2. O proprietário do navio pode solicitar o cancelamento
2. A lei reguladora dos instrumentos referidos no nú- por caducidade da inscrição de hipoteca, decorridos 6
mero anterior é a lei do país onde os instrumentos forem (seis) anos desde o vencimento, se não consta que tenha
outorgados. sido renovada, interrompida a prescrição ou exercida a
Artigo 279.º acção hipotecária.
Hipoteca de navios em construção LIVRO V
Para a constituição de hipoteca sobre navios em DOS SUJEITOS DA NAVEGAÇÃO
construção ou a construir deve-se registar o contrato de
construção no registo convencional de navios mediante TÍTULO I
a apresentação do correspondente título constitutivo.
DOS PROPRIETÁRIOS E ARMADORES DE
Artigo 280.º
NAVIOS
Extensão da hipoteca a créditos acessórios
CAPÍTULO I
1. A hipoteca é extensiva aos seguintes créditos aces-
sórios: Das disposições gerais

a) As indemnizações devidas ao proprietário como Artigo 285.º


consequência da perda do navio ou de avarias Proprietário do navio
causadas ao mesmo;
1. Proprietário do navio é aquele que, nos termos da
b) As contribuições devidas ao proprietário no lei, goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso,
conceito de avaria grossa; e fruição e disposição do navio
c) As recompensas devidas ao proprietário por
2. Qualquer pessoa, singular ou colectiva, pode, dentro
salvamento marítimo, deduzida a parte da
dos limites do direito civil, ser titular do direito de pro-
tripulação.
priedade de um navio.
2. No caso de perda do navio hipotecado, os direitos Artigo 286.º
dos credores hipotecários podem ser exercidos sobre
seus restos. Definição de armador

Artigo 281.º 1. Armador é a pessoa singular ou colectiva que, sendo


Ordem de preferência entre hipotecas ou não seu proprietário, tem a posse de um navio, por si
ou através da tripulação, e o dedica à navegação em seu
1. Havendo diversas hipotecas sobre o mesmo navio, a nome e sua responsabilidade.
preferência dos credores hipotecários é determinada pela
ordem cronológica da inscrição no registo. 2. Quando o navio seja objecto de fretamento a casco
nu ou outro negócio jurídico que implique transferência
2. Concorrendo diversas hipotecas com a mesma data possessória do navio, o armador é o fretador a casco nu
de inscrição no registo, far-se-á rateio entre os credores ou pessoa cessionária de sua posse.
beneficiários.
Artigo 287.º
Artigo 282.º
Registo do armador
Preferência em relação a outros créditos

Com excepção do previsto no artigo 275.º, os créditos 1. O armador não proprietário pode inscrever essa
por hipoteca marítima preferem a quaisquer outros cré- condição no registo convencional de navios.
ditos com privilégio geral ou especial previsto noutras leis.
2. No requerimento e respectiva inscrição devem
Artigo 283.º constar:
Extinção da hipoteca a) O nome ou designação social do armador;
A hipoteca marítima extingue-se:
b) O título jurídico que legitima a posse do navio;
a) Pela extinção do crédito garantido;
c) A duração da situação jurídica; e
b) Pela perda total do navio e consequente
cancelamento do registo; e d) Outros requisitos determinados por Portaria
do membro do Governo responsável pela
c) Por prescrição. administração marítima.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1788 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 288.º Artigo 293.º

Presunção Deliberações

1. Sem prejuízo para terceiros de boa-fé, na falta de 1. As deliberações relativas à exploração do navio são
registo, presume-se armador, do navio, o proprietário tomadas pela maioria dos comproprietários que repre-
inscrito no registo convencional de navios, salvo prova sentam a maior parte do valor do navio.
em contrário.
2. O navio não pode ser desarmado nem hipotecado
2. Tratando-se de navio de recreio, na falta de registo, senão por deliberação tomada por maioria de 2/3 (dois
armador é o proprietário do navio. terços) dos comproprietários que representem 2/3 (dois
terços) do valor do navio.
3. Se o navio não for inscrito no registo, é armador seu
proprietário, sem possibilidade de prova em contrário. 3. As deliberações tomadas por maioria podem ser
impugnadas pelos comproprietários que tenham ficado
Artigo 289.º
vencidos, em acção de anulação proposta no tribunal do
Responsabilidade civil do armador porto de registo do navio, com fundamento em vício de
forma ou em que a deliberação impugnada é contrária a
1. O armador responde civilmente perante terceiros uma boa exploração do navio.
por actos ilícitos, seus ou dos auxiliares para a operação,
navegação e serviço do navio, realizados no exercício de Artigo 294.º
suas funções. Impossibilidade de acordos

2. Entende-se por auxiliares, os dependentes do ar- No caso de não ser possível formar maioria ou de anu-
mador empregados a bordo ou em terra, bem como seus lações sucessivas de deliberações maioritárias, o tribunal
mandatários. pode, a pedido de um dos comproprietários, nomear um
3. O disposto no número anterior, não prejudica o direi- gestor provisório ou ordenar a licitação do navio, ou tomar
to de se estabelecer limites à responsabilidade nos termos ambas providências.
do Livro IX e demais casos previstos no presente Código. Artigo 295.º

CAPÍTULO II Administração do navio

Das sociedades armadoras 1. A maioria dos co-proprietários que represente a


maior parte do valor do navio pode confiar a adminis-
Artigo 290.º
tração do navio a um ou vários gestores, que podem ser
Sociedades armadoras pessoas estranhas à compropriedade.

2. Os armadores de navios de comércio podem ser 2. O mandato dos gestores só é revogável com funda-
sociedades de armamento regularmente constituídas mento em faltas por estes cometidos que afectem a boa
conforme a legislação comercial. exploração do navio.

3. As sociedades previstas no número anterior ficam Artigo 296.º


submetidas, quanto a sua constituição, personalidade
Inscrição dos gestores no registo convencional
jurídica, funcionamento, modificação e dissolução às nor-
mas reguladoras do tipo de sociedade comercial adoptado. 1. A nomeação, demissão ou revogação do mandato dos
Artigo 291.º gestores apenas só produzem efeitos em relação a tercei-
ros depois de inscritas no registo convencional de navios.
Sociedades armadoras nacionais
2. A falta da inscrição referida no número anterior
A exploração dos navios de comércio é feita por so- faz com que todos os comproprietários do navio sejam
ciedades armadoras nacionais nos casos e nos termos reputados gestores.
estabelecidos no Livro VI do presente Código.
Artigo 297.º
CAPÍTULO III
Poderes dos gestores
Da exploração em regime de compropriedade
1. Os gestores têm todos os poderes para explorar o
Artigo 292.º navio em nome dos comproprietários.
Presunção de sociedade armadora 2. No caso de haver mais de um gerente, devem todos
agir de comum acordo.
Quando os comproprietários de um navio mercante o
explorem em comum entende-se, de pleno direito, consti- 3. Qualquer limitação contratual dos poderes dos ge-
tuída uma sociedade armadora, que, salvo acordo escrito rentes é ineficaz em relação a terceiros.
em contrário, se rege pelo previsto neste Capítulo e na
sua falta, pelas normas reguladoras das sociedades em 4. O capitão do navio deve seguir as instruções dadas
comandita e do contrato de conta em participação. pelos gestores, sem prejuízo do previsto no artigo 380º.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1789
Artigo 298.º comproprietários ou em condições diferentes das no-
Participação nos lucros e nas perdas tificadas, no prazo estabelecido no número anterior, a
contar da data que o comproprietário interessado teve
Os comproprietários participam nos lucros e nas perdas conhecimento da venda ou da sua inscrição no registo
derivadas da exploração do navio na proporção do valor convencional de navios.
das suas quotas-partes.
5. Para poder exercer o direito de averiguação e de
Artigo 299.º
anulação, deve o adquirente ou adquirentes consignar
Responsabilidade solidária judicialmente o preço da venda.
1. Os comproprietários são solidariamente responsá- Artigo 303.º
veis pelos actos ilícitos dos gestores, capitão e demais
Despedimento de comproprietários que sejam parte da tripulação
auxiliares ao serviço do navio, praticados no exercício
de suas funções. 1. Os comproprietários que formam parte da tripula-
2. Respondem ainda solidariamente para com terceiros ção do navio podem, em caso de despedimento, exigir a
pelas obrigações contraídas pelos gestores em nome da compra de suas quotas pelos demais comproprietários.
compropriedade. 2. O preço é fixado por acordo e, na sua falta, pela
Artigo 300.º autoridade judicial.
Direito de reembolso dos comproprietários Artigo 304.º

1. Os comproprietários têm direito ao reembolso das Dissolução e liquidação


quantias pagas em benefício da sociedade, salvo se os
pagamentos forem feitos contra decisão expressa dos 1. A sociedade de armamento dissolve-se pela extinção
demais comproprietários. do prazo convencionado para sua duração, pela decisão
de cessar a sua exploração ou sua alienação, tomada
2. Os comproprietários devem reembolsar as quantias por maioria prevista no número 2 do artigo 293º e pela
pagas a terceiros em virtude de sua responsabilidade so- perda do navio.
lidária na medida em que excedam da parte proporcional
correspondente à sua quota-parte. 2. A dissolução da sociedade também pode ser decreta-
da pela autoridade judicial do porto de registo do navio,
Artigo 301.º
por solicitação de comproprietários que representem, pelo
Alienação e encargos das quotas-partes menos, a metade do valor do navio, se essa autoridade a
considerar justificada.
1. Com excepção da hipoteca naval, que apenas pode
recair sobre a totalidade do navio, e salvo acordo em 3. A morte, incapacidade ou insolvência de um com-
contrário, os comproprietários podem alienar e tributar proprietário não determina a dissolução da sociedade de
livremente suas respectivas quotas na propriedade. armamento.
2. O comproprietário que transmita sua parte continua 4. Para a liquidação do património se aplicam, com as
sendo responsável pelas dívidas contraídas pela compro- necessárias adaptações, as disposições que regulam estas
priedade antes da transmissão. operações nas sociedades comerciais.
3. Os actos de alienação e encargos das quotas devem
TÍTULO II
constar de documento autêntico ou autenticado, sob
sanção de novidade, e apenas são oponíveis a terceiros DOS GESTORES, AGENTES MARÍTIMOS
depois de inscritos no registo convencional de navios. E TRANSITÁRIOS
Artigo 302.º
CAPÍTULO I
Direitos de averiguação e de anulação
Dos gestores do armador
1. No caso de venda de uma quota-parte a um estranho
à sociedade, os demais comproprietários têm o direito de Artigo 305.º
averiguar e de anular a venda. Conceito
2. Sendo vários comproprietários a exercer os direitos
1. Sem prejuízo do disposto no Capítulo III do Título
referidos no número anterior, a quota é por eles adquirida
precedente, todo o armador, seja pessoa física ou colec-
na proporção das respectivas quotas.
tiva, pode confiar a um gestor a administração de seus
3. O direito de averiguação pode ser exercido no prazo navios mercantes.
de 9 (nove) dias úteis a contar da data que o compro-
prietário interessado tomou conhecimento da venda, a 2. Entende-se por gestor naval ou gestor do armador,
identidade do comprador, o preço, a forma de pagamento o auxiliar que, em troca de uma remuneração, se com-
e as condições essenciais da venda. promete contratualmente com o armador a gerir, por
conta deste, todos ou alguns dos aspectos implicados na
4. O direito de anulação pode ser exercido quando exploração de um navio mercante, tais como, a gestão
a venda se tenha realizado sem prévia notificação aos comercial, náutica, laboral ou seguradora do navio.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1790 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 306.º 2. No caso dos navios de comércio o agente marítimo se
Exercício das obrigações do gestor ocupa ainda de promover a contratação dos transportes
marítimos e de receber as mercadorias dos carregadores
1. As relações entre o armador e seu gestor regem-se e de entregá-las aos destinatários no porto de estadia do
pelo estabelecido no contrato de gestão e, na sua falta, navio.
pelas normas reguladoras do contrato de mandato co-
mercial. 3. A actividade de agência marítima apenas pode ser
exercida nos portos onde aquela tenha sua sede ou uma
2. O gestor deve cumprir suas obrigações e cuidar dos
sucursal permanente.
interesses do armador com a diligência exigível a um
representante leal. Artigo 311.º
Artigo 307.º Obrigatoriedade
Representação perante terceiros
1. Todo o navio estrangeiro deve ter um agente ma-
1. Nas suas relações com terceiros, o gestor deve mani- rítimo nos portos nacionais, excepto as embarcações de
festar sua condição de mandatário do armador, fazendo recreio, que podem ser directamente representadas por
constar a identidade e domicílio deste último em quantos seu proprietário ou capitão.
contratos celebrar.
2. Nos regulamentos aprovados pelo membro do Go-
2. Se o gestor não celebrar os contratos nos termos
verno responsável pela administração marítima nacional
do número anterior, é solidariamente responsável com
pode-se estabelecer a mesma obrigação para determina-
o armador pelas obrigações assumidas por conta deste,
das classes de navios nacionais.
mas, salvo o previsto no artigo seguinte, os terceiros não
ficam obrigados perante o armador. 3. Todas as notificações ou citações, judiciais ou extra-
3. Para os actos de alienação ou hipoteca do navio deve judiciais, destinadas ao armador podem ser validamente
possuir e exibir poderes especiais. feitas na pessoa e domicílio do seu agente marítimo, inclu-
sive depois da partida do navio do porto de consignação.
Artigo 308.º
Regime especial de representação dos gestores notórios 4. Não obstante o previsto nos números anteriores,
as funções próprias das agências marítimas podem ser
1. Quem seja pública e notoriamente conhecido como directamente realizadas, em relação a seus navios, pe-
gestor permanente de um armador, nos portos ou nou- los armadores que tenham sua sede social ou sucursal
tros lugares onde tenha seu domicílio, obriga o armador permanente no porto de escala dos navios.
em todos seus actos relativos à navegação ou exploração
ordinária do navio. Secção II

2. Nenhuma limitação contratual de seus poderes é opo- Acesso à actividade e controlo administrativo
nível a terceiros que não a conheçam ou não a pudessem Artigo 312.º
conhecer, exercendo a diligência exigível.
Requisitos de acesso à actividade
3. Não obstante, os gestores notórios devem possuir e
exibir procuração com poderes especiais para os actos de 1. O acesso à actividade de agência marítima depende
alienação ou hipoteca do navio. da inscrição no registo de agências marítimas, a reque-
Artigo 309.º rimento do interessado e obtenção da correspondente
Responsabilidade extracontratual
licença de agente marítimo.

O gestor responde solidariamente com o armador pe- 2. O registo das agências marítimas, é um serviço da
los danos e prejuízos que causar extracontratualmente administração marítima nacional, a quem compete lavrar
a terceiros em consequência dos actos ilícitos seus ou a inscrição e emitir a licença de agente marítimo.
dos seus dependentes praticados no exercício de suas
3.A inscrição prevista no número anterior depende da
funções, sem prejuízo do direito de um e outro limitar a
verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
responsabilidade nos termos estabelecidos no Livro IX
do presente Código. a) Estar constituída como sociedade comercial e ter
CAPÍTULO II como objecto social exclusivo o exercício das
actividades próprias de agente marítimo;
Dos agentes marítimos
Secção I b) Ter como capital social mínimo o que for
estabelecido nos regulamentos aprovados
Disposições gerais
pelo membro do Governo responsável pela
Artigo 310.º administração marítima;
Conceito e funções
c) Dispor de pessoal, instalações e equipamentos
1. Agente marítimo, ou agente do navio, é aquele que apropriados; e
em representação do armador, se ocupa das gestões ma-
teriais e jurídicas necessárias para o despacho e demais d) Dispor de um responsável técnico com a adequada
obrigações dos navios em porto. experiência ou formação profissional.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1791

4. O requerimento a solicitar a inscrição é dirigido ao Secção III


serviço de registo das agências marítimas, acompanhado Direitos, deveres e responsabilidade do agente
dos documentos previstos nos regulamentos aprovados
por Portaria do membro do Governo responsável pela Artigo 317.º
administração marítima.
Relações com o armador
5. A administração marítima nacional deve pronunciar-se
no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data de recepção 1. As relações internas entre o agente marítimo e o
da documentação, sendo que, a falta de resposta no re- armador são reguladas pelo estabelecido no contrato de
ferido prazo, equivale a deferimento tácito. agência celebrado e, na sua falta nas normas reguladoras
do mandato comercial.
Artigo 313.º

Licença de agente marítimo


2. O agente deve cumprir as suas obrigações e cuidar
dos interesses do navio com a diligência exigível a um
1. Efectuada a inscrição no registo de agências maríti- representante leal.
mas, a administração marítima nacional emite a licença
Artigo 318.º
para o exercício das actividades próprias de agente ma-
rítimo e esta deve ser renovada anualmente. Deveres do agente marítimo

2. A emissão e a revalidação anual da licença ficam Além dos deveres assumidos perante o armador em
sujeitas ao pagamento de uma taxa fixada por Portaria virtude do contrato de agência, o agente marítimo tem
conjunta dos membros do Governo responsáveis pelas os seguintes deveres:
áreas das finanças e administração marítima.
Artigo 314.º a) Facilitar à administração marítima nacional e à
administração portuária os dados estatísticos
Coordenação e supervisão administrativa
e demais informações que lhe são solicitados
1. Compete à administração marítima nacional a co- de acordo com Portarias adoptadas pelo
ordenação e fiscalização administrativa das actividades membro do Governo responsável pela
próprias das agências marítimas, bem como, velar pelo administração marítima;
cumprimento das disposições legais aplicáveis.
b) Manter, dentro dos limites legais, o segredo
2. Os agentes marítimos devem comunicar à admi- profissional em relação aos factos que assim
nistração marítima nacional todas as alterações que se o justifiquem e dos quais tenha conhecimento
verifiquem em relação com os requisitos exigidos para a em virtude da sua actividade;
inscrição no registo e obtenção da licença.
c) Colaborar com a administração marítima local,
Artigo 315.º
com a administração portuária e com os
Tarifas máximas serviços públicos no cumprimento ou execução
do despacho de entrada e de saída e demais
O membro do Governo responsável pela administração formalidades relacionadas com a estadia no
marítima nacional pode fixar, por meio de Portaria e porto de navios de sua consignação;
prévia consulta dos agentes marítimos ou de suas associa-
ções, a tabela de tarifas máximas a aplicar na prestação d) Cumprir as normas de funcionamento do porto e
de seus serviços. informar aos armadores e capitães acerca das
Artigo 316.º mesmas; e
Cancelamento da inscrição e) Assumir, por todos os meios lícitos a defesa dos
1. A inscrição no registo de agências marítimas é interesses que lhe estejam confiados.
cancelada: Artigo 319.º

a) Quando se extinga, por qualquer causa, a Representação do armador


sociedade titular;
1. Em matéria de representação do armador são aplicá-
b) Quando a sociedade titular seja judicialmente veis ao agente marítimo as normas previstas nos artigos
declarada em situação de falência; e 307.º e 308.º para o gestor do armador.
c) Quando a sociedade deixe de reunir os requisitos
2. O consignatário pode assinar por conta do armador
exigidos no artigo 312.º e não regularize a sua
as cartas-partidas e os conhecimentos de embarque
situação no prazo de 6 (seis) meses.
correspondentes às mercadorias carregadas no navio,
2. O cancelamento da inscrição pode ser efectuado devendo fazer constar o nome e direcção daquele e, res-
oficiosamente, sendo obrigatória a prévia audição do ponde pelo transporte solidariamente com o armador
agente visado. sempre que omitir a indicação do nome e domicílio deste.
3. O cancelamento da inscrição no registo de agências 3. O disposto no número anterior é igualmente aplicável
marítimas determina automaticamente a caducidade da nos casos em que o agente marítimo assina os conhe-
licença para o exercício da actividade. cimentos de embarque por conta do portador fretador.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1792 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 320.º Artigo 326.º

Responsabilidade extracontratual Contratação com terceiros

O agente marítimo responde solidariamente com o 1. Nos contratos com terceiros para a prestação dos
armador pelos danos e prejuízos causados extracontra- seus serviços, o transitário pode contratar em seu nome
tualmente a terceiros em consequência de actos ilícitos próprio ou em nome e por conta de outrem, expressando-o
seus ou dos de seus dependentes no exercício de suas no contrato.
funções, sem prejuízo do direito de um e outro a limitar
a responsabilidade nos termos estabelecidos no Livro X 2. Quando o transitário faz constar no contrato a in-
do presente Código. dicação da pessoa em nome de quem contrata, é esta o
titular dos direitos e obrigações correspondentes.
Artigo 321.º
3. Nos casos em que o transitário declare que actua
Responsabilidade pelos danos às mercadorias em seu nome próprio ou omita declaração acerca de por
quem contrata, é o transitário, para todos os efeitos, o
O agente marítimo não é responsável, perante os
único titular perante a terceiros dos direitos e obrigações
destinatários da mercadoria desembarcada, das indem-
derivados do contrato.
nizações por danos, perdas ou atrasos sofridos durante o
transporte marítimo, salvo se estes forem causados por Artigo 327.º
culpa sua ou dos seus dependentes.
Âmbito do poder de representação do transitário
Artigo 322.º
1. O transitário pode praticar todos os actos necessários
Responsabilidade subsidiária pelas despesas portuárias ou convenientes para a normal prestação dos serviços a
que se refere o artigo 325.º, salvo aqueles expressamente
Na falta de pagamento por parte do armador ou ca- excluídos no contrato ou documento de delegação.
pitão, o agente marítimo responde pessoalmente pelo
pagamento dos serviços portuários náuticos e dos demais 2. Os terceiros têm direito a solicitar ao transitário a
direitos ou tarifas portuárias. exibição do contrato ou documento de delegação.
Artigo 323.º Artigo 328.º

Aplicação aos agentes dos fretadores e proprietários Direitos do transitário

Com a excepção da obrigatoriedade a que se referem os São direitos do transitário:


números 1 e 2 do artigo 311.º, as disposições do presente a) Praticar todos os actos correspondentes ao seu
Capítulo se aplicam também, com as adaptações necessá- poder de representação;
rias, aos agentes marítimos designados pelos fretadores
ou dos proprietários que não sejam armadores do navio. b) Exercer o direito de retenção sobre as
mercadorias ou bens que lhe sejam confiados,
CAPÍTULO III como garantia do pagamento de créditos de
que seja titular relativamente a serviços
Dos transitários
prestados ao dono desses bens, salvo expressa
Secção I estipulação em contrário prevista no contrato;

Conceito, direitos, deveres e responsabilidade c) Assumir, em nome próprio ou em nome do


cliente ou destinatário dos bens sobre que
Artigo 324.º
incida a respectiva prestação de serviços,
Conceito e funções toda e qualquer forma legítima de defensa
dos interesses correspondentes; e
Considera-se transitário a pessoa que se dedica pro-
fissionalmente à prestação de serviços a terceiros no d) Exercer, em geral, quaisquer outras funções
âmbito da planificação, controle, coordenação e direcção inerentes à prestação de serviços de
das operações necessárias para a expedição, recepção, transitário.
circulação e transporte de bens ou mercadorias. Artigo 329.º

Artigo 325.º Deveres do transitário

Relação interna entre o transitário e seu cliente São deveres do transitário:


1. Os direitos e obrigações do transitário perante o a) Cumprir todas as obrigações legais,
titular da mercadoria ou bens com quem contrate seus nomeadamente as reguladoras do exercício
serviços são os que resultem do contrato celebrado, sem- de sua actividade;
pre que não se oponham às disposições deste Capítulo.
b) Aperfeiçoar continuamente os meios de prestação
2. Subsidiariamente e na falta de acordo, aplicam-se de seus serviços, de acordo com as técnicas e
as normas que regem o contrato de mandato comercial. conhecimentos mais adequados para o efeito;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1793

c) Guardar segredo profissional em relação aos c) Comprovem a idoneidade comercial e civil dos
factos de que tenha conhecimento como administradores, directores ou gerentes, não
consequência do exercício da sua actividade; sendo considerados comercial e civilmente
idóneos, os indivíduos que tenham sido
d) Abster-se de realizar actos de concorrência proibidos do exercido do comércio ou
desleal; judicialmente declarados insolventes; e
e) Assumir, por todos os meios lícitos, a defesa dos d) Possuam escritório devidamente identificado e
interesses que lhe sejam confiados; apropriado para o desenvolvimento de sua
d) Colaborar com os serviços públicos no actividade;
cumprimento e execução das formalidades Artigo 334.º
que incidem sobre os bens ou mercadorias
que lhe sejam confiados; e Pedido de licenciamento

e) Exercer, com zelo e diligência, todas as funções 1. Os pedidos para a concessão das licenças para a acti-
inerentes à prestação de serviços de vidade de transitário devem ser dirigidos à administração
transitário. marítima e deles deve constar:

Artigo 330.º a) Identificação da sociedade requerente;


Regime de responsabilidade b) Identificação dos administradores, directores ou
1. O transitário responde civilmente pelos danos cau- gerentes;
sados no exercício de suas actividades, nos termos gerais c) Identificação do director técnico;
de direito.
d) Indicação do capital social e da sua realização; e
2. As acções de indemnização contra o transitário de-
vem ser exercidas no prazo de 9 (nove) meses, a partir e) Localização do escritório, que deve ser
da data de prestação dos serviços. acompanhada de certidão do título de
propriedade ou de cópia do contrato de
Artigo 331.º
arrendamento relativo ao mesmo.
Actuação como transportadora
2. Os pedidos devem também ser instruídos com os
Quando das estipulações do contrato celebrado com seu seguintes documentos:
cliente, resulte que o transitário seja obrigado a realizar
por si mesmo um transporte por mar, seja empregando a) Certidão de escritura de constituição da
meios próprios ou subcontratando meios alheios, tem a sociedade;
condição jurídica de transportadora e responde como tal
b) Certidão de matrícula da sociedade na
directamente perante o seu cliente, sendo então aplicá-
Conservatória do Registo Comercial; e
veis à prestação de transporte assumida, as normas que
regem o contrato de transporte marítimo de mercadorias. c) Cópia da apólice do seguro de responsabilidade civil
Secção II emitida nos termos que vierem a ser fixadas
pela Portaria prevista no artigo seguinte.
Acesso ao mercado e controle administrativo
3. Os pedidos devem também relativamente aos admi-
Artigo 332.º
nistradores, directores ou gerentes, ser acompanhados de:
Licenciamento
a) Certidão de registo criminal; e
O exercício da actividade transitária carece de licença
concedida pela administração marítima nacional. b) Certidão do registo comercial comprovativa de
não estarem inibidos do exercício do comércio.
Artigo 333.º

Requisitos de licenciamento
4. A administração marítima nacional deve decidir
no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da apresentação
1. As licenças para o exercício da actividade de tran- do pedido.
sitário só podem ser concedidas a sociedades comerciais
regularmente constituídas, que reúnam cumulativamen- 5. As licenças são objecto de inscrição em livro próprio,
te os seguintes requisitos: cujos modelos devem ser estabelecidos por Portaria do
membro do Governo responsável pela administração
a) Possuam um capital social não inferior a marítima.
5,000,000 $00 (cinco milhões de escudos),
Artigo 335.º
integralmente realizado;
Taxa para emissão de licença
b) Disponham de um director técnico, que pode ou
não ser um dos administradores ou gerentes A emissão da licença de transitário fica sujeita ao
da sociedade, e que deve trabalhar em regime pagamento de uma taxa a ser fixada conjuntamente
de tempo completo e possuir a adequada pelos membros do Governo responsáveis pelas áreas das
experiência profissional na actividade; finanças e administração marítima.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1794 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 336.º 2. Em atenção à natureza de suas funções, os membros
Dever de comunicar modificações da tripulação integram os seguintes departamentos:

As alterações subsequentes ao licenciamento, relativas a) Convés ou ponte;


à sociedade, aos administradores, aos gerentes ou ao
b) Máquinas;
director técnico, devem ser comunicadas pelo titular à
administração marítima nacional, no prazo de 60 (ses- c) Radiocomunicações;
senta) dias após a data da sua ocorrência.
d) Administração e serviços; e
Artigo 337.º

Cancelamento da licença
e) Sanidade.
Artigo 341.º
1. As sociedades transitárias que deixem de reunir os
requisitos previstos no presente Código devem regulari- Regime laboral dos marítimos
zar sua situação no prazo de 180 (cento e oitenta) dias,
sob pena de serem canceladas as respectivas licenças. 1. Sem prejuízo do estabelecido no presente Código, as
relações laborais dos marítimos, que prestem seus ser-
2. O cancelamento previsto no número anterior é da viços em navios nacionais, regem-se pelas disposições a
competência da administração marítima nacional, o qual eles aplicáveis contidas no Código Laboral Cabo-verdiano.
deve ouvir, para o efeito, a sociedade transitária visada.
2. As condições de segurança e higiene no trabalho
TÍTULO III a bordo dos navios nacionais regem-se pela legislação
DOS MARINHEIROS nacional especial sobre a matéria.
Artigo 342.º
CAPÍTULO I
Condutas delituosas
Das disposições gerais
Secção I
Os actos delituosos cometidos pelos marítimos no de-
sempenho de suas funções a bordo dos navios, e as san-
Âmbito, conceitos, classificação e regime ções penais respectivas que por isso corresponda impor
Artigo 338.º regem-se pelo disposto no Código Penal de Cabo Verde.
Âmbito de aplicação Artigo 343.º

1. As disposições deste Título são aplicáveis aos navios Proibição de negócios próprios
mercantes.
Os membros da tripulação dos navios de comércio não
2. Através de Portaria conjunta dos membros do Gover- podem carregar mercadorias por sua conta própria, sem
no responsáveis pelas áreas da administração marítima consentimento dos armadores e sem pagar frete, salvo
e das pescas, pode-se estabelecer excepções às previsões se outra coisa for estipulada no seu contrato de trabalho.
deste Título, ou regular especialidades relativas à tripu-
Secção II
lação dos navios pesqueiros.
Requisitos gerais dos tripulantes
Artigo 339.º
Artigo 344.º
Conceito de marítimos e de tripulação
Idade mínima
1. Consideram-se marítimos, os trabalhadores que
prestam a sua actividade laboral a bordo dos navios de- 1. A idade mínima para fazer parte da tripulação dos
dicados à navegação marítima e sejam titulares de uma navios nacionais, incluindo o posto de patrão, é 16 (de-
cédula marítima. zasseis) anos.
2. O conjunto de marítimos, quando no exercício da sua 2. Para ser capitão de um navio nacional deve-se ter,
actividade a bordo, constitui sua tripulação. pelo menos, 21 (vinte e um) anos completos.
3. Os membros da tripulação consideram-se auxiliares Artigo 345.º
dependentes do armador e estão organizados hierarqui-
Aptidão física
camente a bordo sob a superior autoridade do capitão.
Artigo 340.º 1. Para poder fazer parte da tripulação de um navio
nacional o tripulante deve ter aptidão física necessária
Classificação dos membros da tripulação
para isso, em função da classe e características do navio,
1. Em atenção à sua categoria os membros da tripulação navegação que efectua e a categoria e departamento em
se classificam em: que vai prestar seus serviços.
a) Capitão; 2. A aptidão física é comprovada por certificado de ap-
tidão física, emitido pelas autoridades sanitárias e deve
b) Oficiais;
ser renovado periodicamente.
c) Mestrança; e
3. Os requisitos a cumprir para a emissão ou renovação
d) Marinhagem. do certificado de aptidão física, o correspondente quadro

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1795

de enfermidades ou defeitos que impeçam sua emissão Secção III


e as demais circunstâncias relativas à aptidão física são Tripulação mínima de segurança
objecto de regulamentação conjunta dos membros do
Artigo 350.º
Governo responsáveis pelas áreas da saúde e da admi-
nistração marítima. Conceito e certificação

Artigo 346.º 1. Por tripulação mínima de segurança, entende-se o


Nacionalidade dos membros da tripulação número mínimo de tripulantes, das distintas categorias
e departamentos e com os certificados de competência
1. Os tripulantes dos navios nacionais devem ter na-
profissional adequados, que se considera indispensável
cionalidade cabo-verdiana.
para que o navio possa navegar nas devidas condições
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, a de segurança e sem risco para o meio marinho, sem
administração marítima nacional pode autorizar o em- que os tripulantes tenham normalmente que realizar
barque de tripulantes estrangeiros, distintos do capitão, jornadas de trabalho cuja duração exceda o legalmente
quando o armador prove que não existem tripulantes estabelecido.
nacionais disponíveis com a aptidão e qualificação pro-
fissional requeridos, bem como, em casos especiais ou de 2. A administração marítima estabelece para cada
reconhecida necessidade. navio nacional, a tripulação mínima de segurança aten-
dendo a sua classe e características, à preparação poliva-
3. O exercício do cargo de capitão deve ser necessaria- lente dos tripulantes, ao grau de automatização e demais
mente desempenhado por nacionais cabo-verdianos, salvo circunstâncias de navegação, técnicas e de organização
no caso dos navios de pesca, nos quais se pode autorizar do trabalho a bordo.
o embarque de estrangeiros em situações excepcionais e
devidamente justificadas. 3. A administração marítima emite um “Certificado
de Tripulação Mínima de Segurança “, que deve estar
4. Em qualquer caso, os estrangeiros que pretendam a bordo e ser exibido perante as autoridades do Estado
realizar sua actividade a bordo de um navio nacional do porto visitado pelo navio, quando assim o solicitem.
devem obter o reconhecimento do seu certificado de
competência profissional que, no caso, seja exigível em 4. Salvo em casos excepcionais não se pode despachar
atenção à categoria, departamento e posto corresponden- a saída dos navios que careçam do referido certificado.
tes aquela actividade. Artigo 351.º
Artigo 347.º
Modificações e isenções
Contratação de não nacionais em portos estrangeiros
1. Sempre que as circunstâncias assim o justifiquem,
1. O capitão pode contratar tripulantes estrangeiros, pode a administração marítima modificar a tripulação
em número indispensável para completar a tripulação mínima de segurança, caso em que deve procede à subs-
mínima de segurança, quando se encontre em portos tituição do certificado correspondente.
estrangeiros e a tripulação se encontre reduzida por
motivos de doença ou outros de força maior. 2. Quando o armador prove que não existem marítimos
disponíveis nas categorias e departamentos necessários
2. A contratação a que se refere o número anterior ,só é para formar a tripulação mínima de segurança, a ad-
válida até que o navio chegue ao primeiro porto nacional, ministração marítima pode autorizar substituições por
onde os tripulantes estrangeiros possam ser substituídos marítimos de categoria inferior, sempre que a qualificação
por nacionais, sem prejuízo do disposto no artigo anterior. destes seja considerada suficiente para garantir a segu-
Artigo 348.º rança da navegação e a protecção do meio marinho.
Navios em que os marítimos podem prestar serviços
3. Nos casos previstos em convenções internacionais
1. Os marítimos podem exercer as funções de oficial ou vigentes em Cabo Verde, pode-se emitir certificado de
de mestrança nas classes de navios e nos departamentos isenção.
averbados nas respectivas cédulas marítimas, em função
Artigo 352.º
das atribuições a que correspondam os seus certificados
de competência profissional. Tripulação adicional

2. Os postos de marinhagem cujo desempenho não Os armadores podem formar suas tripulações com o
requer certificado de competência profissional, podem número e classe de tripulantes conforme seus interesses,
ser exercidos pelos marítimos em qualquer classe de sempre que respeitem a tripulação mínima de segurança
navios e departamentos e assim se faz constar nas suas estabelecida.
cédulas marítimas. Secção IV
Artigo 349.º
Recrutamento, embarque e desembarque
Documentos dos tripulantes disponíveis a bordo
Artigo 353.º
Os documentos relativos aos tripulantes, especialmente
Recrutamento
a cédula marítima, o certificado de aptidão física e os cer-
tificados de competência profissional devem estar dispo- 1. O recrutamento é o processo pelo qual um armador
níveis a bordo para efeitos de eventual controlo por parte selecciona e ou contrata um marítimo para exercer as
das autoridades nacionais ou estrangeiras competentes. funções a bordo integrado na tripulação de um navio.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1796 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. Sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes, o 3. O tripulante desembarcado tem o direito de solicitar
recrutamento é livre, podendo ser exercido directamente ao capitão que lhe entregue uma declaração escrita sobre
no mercado de trabalho ou através de agências de re- a qualidade de seu trabalho ou que indique, pelo menos,
crutamento e colocação ou dos agentes ou gestores dos que o mesmo satisfez as obrigações do contrato.
armadores. Artigo 358.º
3. Apenas podem ser recrutados marítimos titulares Pessoas alheias à tripulação
de cédula marítima válida e habilitados com as qualifi-
cações e respectivos certificados exigidos pela legislação 1. Podem também embarcar familiares acompanhan-
nacional e internacional para o exercício da actividade tes, técnicos ocasionais ou outras pessoas que não sejam
correspondente à categoria ou à função que vão exercer. marítimos nem formem parte da tripulação, sempre
e quando assim o permitam os meios de salvamento
Artigo 354.º
existentes a bordo e se comunique à autoridade local o
Gratuidade para os marítimos respectivo embarque e desembarque.
Nenhuma operação de recrutamento pode dar lugar a 2. As pessoas a que se refere o número anterior ficam
que os marítimos paguem uma remuneração, directa ou sob a autoridade do capitão quanto à ordem e disciplina
indirectamente, a uma agência, gestor ou qualquer outra a bordo e em tudo o que se refere ao exercício de suas
pessoa física ou colectiva por seus serviços de colocação funções públicas.
ou intermediação nos contratos de embarque.
CAPÍTULO II
Artigo 355.º
Deveres e responsabilidade dos recrutadores Do Capitão
1. Os agentes, gestores e demais recrutadores que Secção I
contratem em Cabo Verde marítimos nacionais para Disposições gerais
prestar serviços em navios estrangeiros são solidaria-
Artigo 359.º
mente responsáveis com o armador pelo cumprimento
do contrato celebrado. Capitão e patrão

2. As pessoas a que se refere o número anterior devem 1. O capitão é o marítimo que tem o comando da tri-
constituir seguro em quantia equivalente às estabe- pulação e se encarrega do governo e expedição no navio.
lecidas na legislação nacional para os casos de morte,
2. Patrão é o marítimo que tem, o comando de uma
incapacidade por acidente e repatriamento, sob pena de
embarcação e que rege pelas disposições do presente
terem de responder directamente pelo pagamento das
Capítulo com as necessárias adaptações, enquanto não
indemnizações que advenham.
for objecto de regulamentação própria pelo membro do
Artigo 356.º Governo responsável pela administração marítima.
Embarque e desembarque de marítimos Artigo 360.º
1. Por embarque de marítimos entende-se o processo Nomeação e despedimento
ou conjunto de formalidades destinadas a regularizar a
sua inscrição na lista da tripulação de um navio e por 1. O armador de um navio nacional pode nomear
desembarque a desvinculação temporária ou definitiva de livremente o capitão desde que a pessoa nomeada seja
um tripulante da lista de tripulação e do serviço a bordo. habilitada e possua os requisitos de idade, certificação,
aptidão física, experiência e nacionalidade exigidos no
2. Na lista de tripulação deve constar, como mínimo, presente Código e nos regulamentos aplicáveis.
o número e qualificação, dos tripulantes exigidos no
certificado de tripulação mínima de segurança, salvo em 2. A nomeação do capitão, para produzir efeitos, carece
situações excepcionais devidamente autorizadas. de homologação da administração marítima nos termos
previstos na Portaria aprovada pelo membro do Governo
3. A matéria relativa ao embarque e desembarque de responsável pela administração marítima.
marítimos, bem como, a lista de tripulantes, fica sujeita
a regulamentação especial, aprovada pelo membro do 3. A nomeação dos patrões não carece da homologação
Governo responsável pela administração marítima. prevista no número anterior.
Artigo 357.º 4. O armador pode despedir o Comandante a todo tem-
Bilhete de desembarque po, sem prejuízo dos direitos e obrigações decorrentes do
contrato de trabalho.
1. O bilhete de desembarque é documento oficial de
desvinculação de um ou mais tripulantes da lista de Artigo 361.º
tripulação, nele devendo ser mencionado, de forma ine- Substituição durante a navegação
quívoca, o motivo justificativo do desembarque, atentas
as incidências técnicas e jurídicas decorrentes. 1. O Capitão é, nas suas faltas e impedimentos, subs-
tituído pelo oficial náutico mais graduado da tripulação,
2. No bilhete de desembarque não se pode incluir ou na sua falta, pelo Chefe de máquinas.
menções relativas às qualidades e aptidão profissional
do tripulante ou sobre as sanções disciplinares eventu- 2. A pessoa que substituir o capitão tem os mesmos
almente aplicadas ao mesmo. direitos e deveres durante o tempo de exercício do cargo

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1797
Artigo 362.º Artigo 364.º

Funções Responsabilidade do capitão

1. O capitão responde pelos danos e prejuízos que cometer


O capitão exerce, desde a homologação da sua nomeação:
no exercício das suas funções, sejam por negligência,
a) Funções públicas; imperícia ou outros actos ilícitos, salvo caso fortuito ou
força maior.
b) Funções náuticas; e
2. Os membros da tripulação, o sobrecarga e o piloto
c) Funções comerciais. nãos são empregados do Capitão, pelo que este não é
civilmente responsável pelos danos que aqueles possam
Artigo 363.º causar ao navio ou a terceiros
Deveres gerais do capitão Secção II

Deveres relativos às funções públicas


Sem prejuízo dos demais deveres previstos nas dis-
posições do presente Código, são obrigações do capitão: Artigo 365.º

Segurança e disciplina a bordo


a) Fazer boa estiva, arrumação, guarda e entrega
da carga; 1. O capitão tem sobre as pessoas a bordo e durante a
viagem, os poderes necessários para garantir a seguran-
b) Empreender a viagem no primeiro ensejo ça das pessoas ou dos bens e o bom êxito da expedição
favorável, logo que tiver a bordo tudo o que marítima.
for preciso para a viagem;
2. O capitão mantém sempre, e especialmente em situ-
c) Levar o navio ao seu destino; ações de perigo, incêndio, colisão, encalhe, naufrágio ou
outro acidente, a maior serenidade e disciplina, evitando
d) Conservar-se a bordo todo o tempo da viagem, por todos os meios ao seu alcance que os tripulantes e
qualquer que for o perigo; passageiros procedam de forma a prejudicar as medidas
de salvamento ou quaisquer outras adequadas à situação.
e) Tomar piloto em todas as barras, costas e
paragens onde a lei, o uso e a prudência o 3. Os membros da tripulação e demais pessoas embar-
exigir, observando os regulamentos do porto; cadas devem acatar as ordens do capitão, sem prejuízo
do direito de fazerem as reclamações que considerem
f) Chamar a conselho os principais da tripulação, pertinentes perante a administração marítima ou judicial
armadores e carregadores que estiverem a competente, logo que o navio chegue a porto.
bordo, ou seus representantes, em qualquer Artigo 366.º
evento importante de onde puder vir prejuízo
Registo de actos praticados durante a navegação
ao navio ou embarcação ou à carga;
1. O capitão do navio é obrigado a registar no diário
g) Empregar toda a diligência para salvar e ter em de navegação os actos praticados a bordo, que entenda
boa guarda o dinheiro, mercadorias e objectos constituir crime ou infracção administrativa
de valor, e os despachos e papéis de bordo,
sempre que tiver que abandonar o navio; 2. O assento é assinado pelo capitão e pelo interes-
sado, ou, no caso de este negar, assinar, por 2 (duas)
h) Sacrificar de preferência, em caso de alijamento, testemunhas.
os objectos de menos valor, os menos
necessários para o navio, os mais pesados e, 3. Logo que o navio chegar a porto, deve entregar cópia
em geral, os que prejudiquem a segurança; autenticada do registo no diário de navegação, outros
elementos de prova e documentos, à administração marí-
i) Tomar as necessárias cautelas para a conservação tima local, sendo porto nacional, ou à autoridade consular
da embarcação ou da carga apresadas, ou diplomática cabo-verdiana, sendo porto estrangeiro.
arrestadas ou detidas, seja por que razão for; Artigo 367.º

j) Aproveitar, durante a viagem, todas as ocasiões O Capitão como oficial público


para dar aos armadores, ou aos seus 1. O capitão tem, durante a navegação e como oficial
representantes, nos portos de entrada ou público, os poderes que lhe são conferidos pela legislação
de arribada, notícias dos acontecimentos civil em matéria de nascimentos, casamentos, testamen-
da viagem, das despesas extraordinárias tos e óbitos ocorridos a bordo, devendo lavrar as respec-
em benefício da embarcação e de quaisquer tivas actas no diário de navegação.
fundos para esse fim levantados; e
2. No caso de desaparecimento de pessoas durante a
k) Exibir os livros de bordo aos interessados navegação, o capitão deve instruir a informação sumária
na expedição marítima que pretenderem do ocorrido, consignando no diário de navegação as cir-
examiná-los, consentindo que deles tirem cunstâncias principais do desaparecimento e as medidas
cópias ou extractos. de busca e salvamento adoptadas.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1798 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 368.º ou avaria causada ao navio, a sua carga ou passageiros,
Falecimentos a bordo o capitão deve, dentro do prazo de 48 (quarenta e oito)
horas desde sua chegada ao primeiro porto, apresentar o
1. Perante o falecimento de uma pessoa a bordo durante diário de navegação e sua declaração ou protesto de mar
a navegação e na ausência de pessoal do departamento perante a administração marítima local ou o represen-
de saúde, compete ao capitão a emissão do certificado tante diplomático ou consular mais próximo.
de óbito, mas não antes de decorridos 24 (vinte e qua-
tro) horas depois do momento em que, no seu entender, 2. O protesto ou declaração deve mencionar o porto
ocorreram os sinais inequívocos de morte. e o dia de saída, o navio, a rota percorrida, os perigos
suportados, os danos acontecidos ao navio ou à carga e,
2. O capitão faz o levantamento dos papéis e pertences
em geral, todas as circunstâncias importantes da viagem.
do falecido, devendo ser assistido por 2 (dois) oficiais do
navio e (duas) testemunhas, de preferência, passageiros. 3. A autoridade competente pode completar a decla-
Artigo 369.º ração ou protesto do capitão com informação sumária
prestada por alguns membros da tripulação e, se neces-
Destino dos cadáveres
sário, por alguns passageiros, carregadores ou outros
1. Emitido o certificado de óbito, o capitão toma as me- interessados, sempre que os considere útil para o escla-
didas adequadas à conservação do cadáver a bordo, até à recimento dos factos.
chegada do navio ao primeiro porto após o falecimento,
entregando-o às autoridades de saúde competentes, que 4. Os protestos ou declarações de mar confirmados
com a colaboração da administração marítima, adopta pela informação sumária constituem presunção ilidível
as medidas pertinentes. da veracidade dos factos neles relatados.

2. No caso de atracar em porto estrangeiro o capitão 5. A mesma presunção tem a declaração do capitão, se
comunica o óbito ao cônsul ou representante diplomático for ele o único salvo de naufrágio.
cabo-verdiano, que toma as medidas que as circunstân- Artigo 373.º
cias exigirem para o desembarque ou conservação a bordo
do cadáver. Ausência de autoridades competentes no estrangeiro

3. Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, 1. Em todos os casos em que, conforme o disposto no pre-
tornando-se impossível a adequada conservação a bordo, sente Código, o capitão deva realizar uma actuação perante
o capitão pode decidir pelo lançamento do cadáver ao mar. um cônsul ou representante diplomático de Cabo Verde e
não o faça no lugar, deve efectuá-la perante a autoridade
4. O lançamento do cadáver ao mar deve constar no
local e, não sendo possível, perante um notário público.
diário de navegação, indicando a data, hora, situação
geográfica e a presença de, pelo menos 2 (duas) testemu- 2. O capitão ratifica as actuações previstas no número
nhas, devidamente identificadas que assinam o diário. anterior, no primeiro porto de escala em que se encontrar
Artigo 370.º cônsul ou representante diplomático cabo-verdiano.
Entrega de bens e de documentação Artigo 374.º

1. Os bens inventariados, a documentação e cópia Dever de obediência aos navios de Estado


autenticada das actas de nascimento, falecimento, ma-
trimónio ou desaparecimento de pessoas, bem como os 1. Salvo casos de força maior devidamente justificados,
testamentos outorgados ou recebidos a bordo devem ser os capitães dos navios nacionais devem obedecer às ordens
entregues pelo capitão à administração marítima ou ou instruções dadas pelos navios cabo-verdianos de guerra
autoridade consular, do primeiro porto, com o registo ou outros de Estado em funções de vigilância e fiscalização.
das circunstâncias da entrega no diário de navegação.
2. A obediência às ordens ou instruções mantém-se mesmo
2. O assento dessas matérias lavrado pelo capitão no que os navios se encontrem fora dos espaços marítimos
diário de navegação tem o valor de documento público. de Cabo Verde, sem prejuízo dos direitos e deveres que o
Artigo 371.º direito internacional confere ao Estado ribeirinho ou ao
Estado do porto.
Comunicação de acidentes durante a navegação
Secção III
Os capitães dos navios nacionais devem comunicar, de
imediato e pelo meio mais rápido possível, à administra- Deveres relativos às funções náuticas
ção marítima ou consular mais próximo, todo o acidente Artigo 375.º
de navegação ocorrido no navio ou causado por ele e
qualquer outro facto importante que afecte a segurança Direcção técnica da navegação
da navegação ou do meio ambiente marinho, sem prejuízo
1. O capitão tem a seu cargo a direcção técnica da
do dever de comunicação previsto no art.71º.
navegação do navio, assumindo o seu governo efectivo
Artigo 372.º quando o julgue oportuno e, em particular, nos casos
Declarações ou protestos de mar previstos no número seguinte.
1. Em caso de arribada forçada, naufrágio ou outro 2. O capitão auxilia o convés e assume directamente
evento extraordinário que ocasione atraso na viagem o governo do navio nas escalas, manobras de chegada

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1799

e saída de porto e, em geral, em todas as situações que 3. O capitão deve ser sempre o último a abandonar o
representem risco para a navegação, sem prejuízo dos navio e empregar os meios ao seu dispor para conduzir
períodos de descanso necessários para a manutenção das os passageiros e tripulantes salvos ao lugar mais con-
suas aptidões físicas. veniente.
Artigo 379.º
3. O capitão deve tomar piloto sempre que este seja
imposto pela legislação ou pelos usos locais e sempre que Primazia do critério profissional
as circunstâncias o aconselhe.
1. O armador, gestor, fretador ou outra pessoa com
4. No exercício de suas funções técnicas, o capitão deve interesse no navio ou na sua carga, não devem impedir
actuar com a diligência exigível a um marítimo prudente. nem limitar o capitão do navio a tomar ou executar qual-
quer decisão que, segundo seu critério profissional, seja
Artigo 376.º
necessária para a segurança da vida humana no mar e
Medidas a adoptar em caso de perigo a bordo a protecção do meio marinho.

1. Em caso de mau tempo, risco de naufrágio ou outros 2. O capitão não deve seguir instruções contrárias ao
perigos, o capitão adopta as medidas que considerar seu critério profissional, referidas no número anterior.
necessárias para assegurar a segurança do navio e a 3. Os armadores não podem despedir o capitão nem
salvação das pessoas e bens, procurando resguardo, efec- adoptar contra ele, outras medidas de natureza san-
tuando arribada ou recorrendo sem demora à solicitação cionatória por não acatar as suas instruções perante a
de salvamento, podendo contratá-lo se for necessário. necessidade de agir de modo mais adequado para a sal-
vaguarda da segurança, segundo o critério profissional
2. Caso considerar necessário uma arribada forçada, o
exigível a um marítimo prudente.
capitão deve ouvir os oficiais da tripulação e os interessa-
dos na carga que estiverem a bordo e registar no diário Secção IV
de navegação, a decisão tomada, as opiniões e protestos Deveres relativos às funções comerciais
recebidos.
Artigo 380.º
3. Em caso de perigo iminente o capitão pode omitir Sujeição às instruções do armador
as audiências previstas no número anterior e tomar a
decisão de arribar. O capitão deve obedecer às instruções do armador e
solicitá-las sempre que necessário, em tudo o que respeite
4. Em qualquer caso, os interessados na carga, se os ao exercício de suas funções comerciais.
houver, podem fazer protesto contra a arribada perante
Artigo 381.º
a administração marítima, cônsul ou representante
diplomático. Poder de representação do armador

Artigo 377.º 1. O capitão ostenta a representação do armador para


contrair por conta deste as obrigações referentes às ne-
Dever de prestar socorro
cessidades ordinárias do navio.
1. O capitão de qualquer navio está obrigado a prestar 2. O armador fica obrigado ao cumprimento dessas
socorro aos náufragos e demais pessoas que se encontrem obrigações sem poder alegar abuso de confiança ou trans-
em perigo no mar, sempre que possa fazê-lo sem risco gressão dos poderes conferidos.
grave para o seu navio ou para as pessoas a bordo.
3. Fica ressalvada a responsabilidade do capitão peran-
2. Os capitães estão obrigados, com as excepções pre- te o armador pelos actos e contratos realizados em infrac-
vistas no artigo anterior, a auxiliar os navios abordados, ção às legítimas e expressas instruções dadas por este.
bem como, as pessoas ou bens que se encontrem a bordo.
4. O capitão tem legitimidade activa e passiva para re-
3. A omissão de prestar socorro, nos termos previstos presentar o armador em todos os procedimentos judiciais
nos números anteriores, dá lugar a responsabilidades ou administrativos referentes ao navio sob seu comando.
civil e penal, sem prejuízo do armador do navio responder
Artigo 382.º
apenas nos casos em que tenha actuado com culpa.
Despesas extraordinárias urgentes
Artigo 378.º
1. Se, no curso da viagem, o capitão tiver necessidade
Abandono em caso de naufrágio
de dinheiro para obras de reparação, compra de manti-
1. Sempre que, por causa de naufrágio ou outras mentos ou outra urgência do navio, deve avisar imedia-
eventualidades, seja indispensável abandonar o navio, o tamente os agentes, armadores, gestores ou fretadores
capitão emprega deve todos os meios ao seu alcance para para o habilitarem a fazer essas despesas e, não podendo
manter a ordem, salvar os passageiros e a tripulação, os fazer este aviso ou não havendo tempo para esperar a
documentos de bordo e objectos de importância. resposta e as providencias dos interessados, deve efectuar
tais despesas, onerando o navio e a carga, se necessário,
2. O capitão deve organizar o desembarque em primeiro devendo comunicar, no prazo de 48 (quarenta e oito) ho-
lugar dos doentes, feridos, mulheres e crianças, depois os ras, ao armador, gestor ou afretador as medidas tomadas
restantes passageiros e, por último, a tripulação. e a sua justificação.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1800 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. As despesas realizadas e encargos assumidos devem 3. Os pilotos assinam o diário de navegação nos ca-
ser lançados no diário de navegação fazendo-se circuns- sos de substituição no serviço de guarda, constituindo
tanciada menção deles e, antes de sair do porto onde teve a assinatura, prova de conformidade do serviço, sem
que fazer despesas extraordinárias e contrair obrigações prejuízo do capitão poder fazer anotações e registar no
sem a intervenção directa do armador, gestor ou afreta- diário de navegação, as ordens e instruções dadas para
dor, enviará a estes uma conta corrente de tais despesas, a navegação.
com indicação dos documentos justificativos delas e dos
Artigo 386.º
encargos contraídos, compreendendo, quanto a estes, a
identificação e domicílio dos credores. Responsabilidade dos pilotos

3. A responsabilidade para com os carregadores pelas 1. Os pilotos respondem perante o armador pelos danos
mercadorias vendidas compreende os valores que elas e prejuízos que cometerem no exercício das suas funções,
teriam no lugar e na data de descarga do navio. seja por negligência, imperícia ou outros actos ilícitos,
Artigo 383.º sem prejuízo da responsabilidade criminal a que tiver
lugar, salvo caso fortuito ou força maior.
Cuidado da carga

No caso dos navios de comércio, o capitão deve cuidar 2. O piloto deve obedecer as instruções do capitão do
diligentemente da estiva, arrumação, conservação e en- navio, designadamente, as relativas ao rumo e velocidade
trega das mercadorias transportadas. a seguir.

CAPÍTULO III 3. Sempre que o piloto não concordar com instruções


dadas pelo capitão, dá a conhecer a sua discordância ao
Dos oficiais, da mestrança e da marinhagem capitão na presença dos demais oficiais de convés e se,
Secção I não obstante, o capitão mantiver aquelas, o piloto lavra
Dos oficiais anotação no diário de navegação e, obedece ao capitão,
que passa a ser único responsável pelas consequências
Artigo 384.º
da sua decisão.
Oficiais de convés ou coberta
Artigo 387.º
1. Os oficiais de convés ou coberta, também denomina-
Oficiais de máquinas
dos pilotos, são os encarregados de velar pela segura na-
vegação, manobra, carga e estiva do navio, bem como de 1. Os oficiais de máquinas, também chamados maqui-
realizar as tarefas próprias do departamento de coberta. nistas, têm a seu cargo o aparelho motor, as máquinas
2. O piloto que siga imediatamente na posição ao capi- auxiliares, o combustível e lubrificantes e os demais que,
tão é considerado primeiro-oficial de convés ou coberta. segundo os regulamentos, constitui a bordo, matéria da
competência do departamento de máquinas.
3. Ao primeiro-oficial de convés ou coberta, compete
distribuir o trabalho entre ele e os demais pilotos, bem 2. Quando existam dois ou mais maquinistas embarca-
como dirigir as tarefas de todo o pessoal do departamento, dos num navio, um deles assume a chefia das máquinas
além de ser, o segundo chefe de bordo e normalmente o e exerce o comando sobre todos os demais oficiais de
oficial encarregado da disciplina e da protecção marítima máquinas e pessoal do departamento.
e segurança interior do navio.
3. O oficial que ocupe o cargo imediatamente inferior
Artigo 385.º ao chefe de máquinas é o primeiro-oficial de máquinas a
Deveres dos pilotos quem compete no departamento, o exercício de funções
idênticas às estipuladas para o primeiro-oficial de convés.
1. Os pilotos estão às ordens do capitão e desempenham
a bordo as funções que lhes correspondam de acordo com a Artigo 388.º
legislação laboral, demais leis e regulamentos aplicáveis.
Deveres dos oficiais de máquinas
2. São deveres dos pilotos:
1. Os oficiais de máquinas desempenham a bordo as
a) Realizar as guardas, serviços de navegação e de funções que lhes correspondam de acordo com a legislação
porto com a diligência devida e velar para que laboral, demais leis e regulamentos aplicáveis.
o pessoal sob suas ordens também o faça;
2. São deveres dos oficiais de máquinas:
b) Registar no diário de navegação as vicissitudes
náuticas, meteorológicas, de salvamento e a) Realizar as guardas, serviços de máquinas com
contaminação marítima que ocorram nos a diligência devida e velar para que o pessoal
seus períodos de guarda; e sob suas ordens também o faça;
c) Submeter a tripulação a bordo a provas b) Manter as máquinas e caldeiras em bom estado
operacionais periódicas, sempre que as de conservação e limpeza e aptas a funcionar
circunstâncias o permitam e especialmente, com regularidade;
se previstas situações que representem perigo
para a navegação, registando-as no diário de c) Informar ao capitão as avarias no aparelho motor
navegação. e sempre que tiver de parar as máquinas por

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1801

algum tempo ou de algum acidente no seu 3. Os membros do Governo responsáveis pela admi-
departamento, bem como, do consumo de nistração marítima e pela saúde pública, por Portaria
combustível e lubrificantes; conjunta, fixam os equipamentos e materiais que obri-
gatoriamente devem existir num departamento de saúde
d) Não proceder a nenhuma modificação no aparelho a bordo, bem como os oficiais e demais pessoal que o
motor, nem alterar o regime normal da marcha, integram.
sem a prévia autorização do capitão; e
Artigo 392.º
e) Anotar no diário de máquinas o regime de
Oficiais alunos
funcionamento dos motores, máquinas e
caldeiras, bem como, as avarias ocorridas, as 1. Os armadores dos navios nacionais estão obrigados
causas e os meios empregues para as reparar. a aceitar e manter a bordo os alunos dos centros de for-
3. Os oficiais de máquinas assinam o diário de máqui- mação ou capacitação marítima que cursem estudos para
nas nos casos de substituição no serviço de guarda, cons- a obtenção dos certificados de competência profissional
tituindo a assinatura, prova de conformidade do serviço, que os habilitam a exercer a categoria de oficial.
sem prejuízo do chefe de máquinas poder fazer anotações 2. Durante a estadia a bordo, os alunos são conside-
e registar no diário, as ordens e instruções dadas para o rados oficiais praticantes e estão sujeitos às ordens e
bom funcionamento do departamento. instruções dos oficiais correspondentes, devendo realizar
Artigo 389.º as tarefas que lhes sejam distribuídas e adequadas à
formação.
Responsabilidade dos oficiais de máquinas
3. O número de alunos que cada navio pode levar, de
1. Os oficiais de máquinas respondem perante o armador
acordo com a classe, tamanho e características, a duração,
pelos danos e prejuízos que cometerem no exercício das
condições das práticas e o regime a bordo, são fixados por
suas funções, seja por negligência, imperícia ou outros actos
Portaria aprovada pelo membro do Governo responsável
ilícitos, sem prejuízo da responsabilidade criminal a que
pela administração marítima.
tiver lugar, salvo caso fortuito ou força maior.
Artigo 393.º
2. Sempre que o chefe de máquinas não concordar com
ordem dada pelo capitão, e considerar necessário realizar Conselho de Oficiais
reparações, parar ou alterar o regime das máquinas ou
motores, dá a conhecer a sua discordância ao capitão Sempre que as circunstâncias o aconselhar, o capitão
na presença dos demais oficiais de máquinas e se, não pode pedir opinião aos oficiais a bordo constituídos em
obstante, o capitão mantiver aquela, o chefe de máquinas conselho de oficiais, sobre matérias que considere rele-
lavra o correspondente protesto, registando-o no diário vantes para a segurança do navio, da tripulação, da carga,
de máquinas e, obedece ao capitão, que passa a ser único do meio marinho ou outros, devendo decidir sempre da
responsável pelas consequências da sua decisão. forma que considerar mais adequada à situação, sendo
a decisão, da sua exclusiva responsabilidade pessoal.
Artigo 390.º
Secção II
Oficiais de radiocomunicações
Da mestrança e da marinhagem
1. São oficiais de radiocomunicações os que, às ordens
Artigo 394.º
do capitão, estão encarregados de organizar e cumprir os
deveres relacionados com o serviço radioeléctrico a bordo. Contramestre

2. No exercício de funções devem cumprir pontualmente 1. O contramestre é o marítimo da categoria de mes-


os deveres relativos ao serviço de telecomunicações es- trança que, por sua experiência e prática marinheira,
tabelecidos em legislação específica e nos regulamentos dirige, sob as ordens do capitão e dos oficiais de convés,
internacionais relativos ao uso e emprego dos serviços os trabalhos de manutenção e limpeza, bem como, as
móveis marítimos e respondem pelos danos e prejuízos tarefas marinheiras próprias do departamento de convés.
que cometerem por imperícia ou negligência.
2. Os membros da marinhagem do departamento de
Artigo 391.º
convés estão sob as ordens directas do contramestre, sen-
Outros oficiais de bordo do este responsável perante o capitão e o primeiro-oficial
pelo cumprimento e execução dos trabalhos distribuídos.
1. Além dos oficiais a que se referem os artigos ante-
riores, podem existir a bordo oficiais pertencentes aos 3. O contramestre deve zelar pelo arranjo, arrumo,
departamentos de administração e serviços de saúde, manutenção e manuseamento da carga, escoras, botes,
em função da classe, tamanho do navio e da navegação balsas e outros elementos de salvamento, bem como, das
a que se dedica. cordas, cabos, correntes e demais equipamento marinho
do navio.
2. O regime a bordo dos oficiais de administração e
serviços de saúde é estabelecido, por Portaria aprovada 4. O contramestre distribui equitativamente o trabalho
pelo membro do Governo responsável pela administração pelos marinheiros e zela pela sua execução, de acordo com
marítima. as ordens dadas pelo primeiro-oficial de convés, cabendo-

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1802 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

lhe ainda, zelar pela estiva, fecho de escotilhas, e demais Artigo 399.º
elementos concernentes à segurança do navio ou da Regime a bordo
carga e informar o oficial de guarda, qualquer anomalia
verificada durante a execução das tarefas. 1. O sobrecarga tem categoria de oficial do departa-
Artigo 395.º mento de administração e serviços e está submetido
à autoridade do capitão, salvo no atinente às funções
Contramestre de máquinas
comerciais que lhe sejam atribuídas.
1. O contramestre de máquinas é o membro da tri-
pulação pertencente à categoria de mestrança, que, às 2. Sendo o sobrecarga designado pelo afretador, deve
ordens do chefe e demais oficiais de máquinas, dirige a o armador fornecer o seu alojamento a bordo mas as
marinhagem empregada no departamento, vela pela exe- despesas de alimentação são suportadas pelo afretador.
cução das tarefas de limpeza e de conservação e, distribui 3. O contrato de trabalho do sobrecarga está sujeito às
o trabalho pelos demais marinheiros do departamento, condições aplicáveis ao contrato de trabalho marítimo.
de acordo com as ordens recebidas dos oficiais.
Artigo 400.º
2. O contramestre de máquinas responde perante o
chefe e perante o primeiro-oficial de máquinas pela exe- Nomeação e despedimento
cução das tarefas sob sua direcção.
1. O sobrecarga é designado livremente pelo armador
Artigo 396.º
ou pelo afretador e pode ser despedido por quem o nomeou
Outros cargos de mestrança nas mesmas condições do capitão.
1. Além dos contramestres de convés e de máquinas
2. O capitão, quando não concordar com a gestão do
podem existir a bordo, outros cargos de mestrança, con-
sobrecarga não o pode despedir e deve informar ao ar-
forme a classe e características do navio.
mador ou afretador o seu desagrado.
2. O regime, denominações e requisitos dos cargos de
Artigo 401.º
mestrança previstos no número anterior, são estabele-
cidos por Portaria aprovada pelo membro do Governo Funções excluídas e funções delegáveis
responsável pela administração marítima
1. O sobrecarga não pode interferir directamente na
Artigo 397.º
execução do contrato, mas tem a faculdade de fazer re-
Marinhagem comendações ao comandante do navio em tudo quanto
1. O pessoal da tripulação distinto do capitão, oficiais se relacione com a administração da carga.
ou mestrança constitui a marinhagem.
2. O armador ou afretador não podem atribuir ao sobre-
2. As denominações, funções, requisitos e deveres dos carga nenhuma participação ou intervenção nas funções
membros da marinhagem são estabelecidos por Portaria administrativas, disciplinares e náuticas do capitão.
aprovada pelo membro do Governo responsável pela ad-
ministração marítima, em função do departamento, da 3. O contrato de trabalho do sobrecarga e o rol da tripu-
classe e características do navio. lação devem enumerar as funções comerciais atribuídas
ao sobrecarga e retiradas ao capitão, presumindo-se que
3. Os membros da marinhagem devem cumprir pon- este conserva todas as atribuições não expressamente
tualmente as ordens e instruções legítimas que recebam delegadas no sobrecarga.
do capitão, dos oficiais e dos cargos de mestrança corres-
pondentes ao seu departamento e respondem pelos seus Artigo 402.º
actos, perante o armador. Funções do sobrecarga
CAPÍTULO IV
No contrato de trabalho podem ser atribuídos ao so-
Do sobrecarga brecarga, entre outras, as seguintes funções:
Artigo 398.º
a) Determinar as viagens comerciais do navio,
Conceito incluídas as escalas;
O sobrecarga é um empregado do armador ou do afre-
b) De receber e entregar as mercadorias
tador, que desempenha suas funções a bordo:
transportadas;
a) De um navio de pesca, para dirigir as operações
de pesca e de conservação ou comercialização c) De verificar as mercadorias no embarque e
do produto desta; desembarque;
b) De um navio de passageiros para proporcionar d) Assinar os conhecimentos de embarque;
aos passageiros prestações e serviços para
além do transporte marítimo; e e) Zelar e fazer recomendações ao capitão quanto
à conservação das mercadorias durante o
c) De um navio de carga dedicado ao transporte transporte;
de mercadorias, para dirigir o embarque e o
desembarque e zelar pela boa conservação f) Efectuar determinadas despesas relativas aos
das mercadorias. passageiros ou à carga;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1803

g) Vender todo ou parte do produto da pesca; 2. Os programas devem incluir, nomeadamente, os


conteúdos programáticos das disciplinas e das respectivas
h) Manter livros de contas relativos a suas cargas horárias, os métodos, procedimentos e meios pe-
operações; e dagógicos a adoptar e os métodos de avaliação a utilizar.
i) De receber todas as observações acerca do estado Artigo 407.º
das mercadorias;
Certificação
Artigo 403.º
1. A formação e a competência profissional dos marí-
Responsabilidades timos são objecto de certificação.
1. O sobrecarga responde perante o armador ou o afre- 2. O diploma ou certificado de formação académica é o
tador nos termos do seu contrato e na falta deste, pela documento comprovativo de que o seu titular atingiu os
legislação reguladora do contrato de trabalho marítimo. objectivos definidos nos programas dos cursos ou acções
de formação e de habilitação para o exercício de uma
2. O armador ou o afretador respondem civilmente pe-
categoria profissional ou função a bordo a que se referem
rante terceiros pelos actos do sobrecarga no exercício das
os artigos anteriores.
suas funções, sem prejuízo do direito de limitarem a res-
ponsabilidade nos termos previstos no presente Código. 3. O certificado de competência profissional é o título
oficial que, mediante avaliação prévia adequada, com-
CAPÍTULO V
prova a capacidade ou competência para o exercício das
Da inscrição, identificação, formação funções para as quais é exigido, em conformidade com o
e certificação dos marítimos previsto na regulamentação aplicável.
Artigo 404.º 4. A emissão de diplomas ou certificados de formação
académica é da competência das entidades que a minis-
Inscrição e documentação dos marítimos
trarem.
1. Para formar parte da tripulação dos navios nacio- Artigo 408.º
nais, salvo casos de urgência devidamente justificados,
é necessário inscrição no registo de inscrição marítima Certificados de competência profissional obrigatórios
e possuir a cédula marítima, que é o documento de iden- 1. As funções de comando e chefia dos navios, bem
tificação profissional dos marítimos. como, o desempenho nos mesmos, do cargo de oficial só
2. O regime do registo de inscrição marítima, as condi- podem ser incumbidas a quem possua o correspondente
ções de emissão, utilização e retirada da cédula marítima, certificado de competência profissional.
bem como, a forma e seu conteúdo, são estabelecidos por 2. Devem ainda possuir um certificado especial de com-
Portaria aprovada pelo membro do Governo responsável petência, todos os membros da tripulação que venham a
pela administração marítima. desempenhar funções relativas ao manuseio da carga em
Artigo 405.º navios dedicados ao transporte de petróleo ou de outras
substâncias especialmente perigosas ou contaminantes,
Formação dos marítimos
ou outras tarefas em situações de emergência nos navios
1. A formação dos marítimos insere-se no duplo sistema de passageiros, das quais dependa a segurança do navio.
educativo e de formação profissional e tem por objectivo 3. As modalidades de certificados de competência pro-
a aquisição, desenvolvimento e actualização dos conhe- fissional e as condições de obtenção para cada classe de
cimentos e competências exigidos para o desempenho da navio, navegação e departamento, são fixadas por regu-
profissão e das funções a bordo. lamento do Governo conforme o previsto nas convenções
2. A formação dos marítimos dentro do sistema edu- internacionais vigentes em Cabo Verde.
cativo organiza-se em cursos e em acções de formação Artigo 409.º
correspondentes às categorias e departamentos de bordo, Reconhecimento de certificados estrangeiros
às necessidades das competências, dos níveis de respon-
sabilidade e funções a exercer. 1. O reconhecimento de diplomas emitidos no estran-
geiro que confiram um grau de formação académica é da
3. A formação académica dos marítimos deve associar competência do membro do Governo responsável pela
componentes experimentais, através de práticas reais educação.
em contexto do trabalho ou de práticas simuladas em
contexto da formação, sob a orientação de formadores. 2. Só se pode reconhecer certificados de competência
profissional emitidos no estrangeiro, para efeitos do
Artigo 406.º
exercício da actividade a bordo dos navios cabo-verdianos,
Programas e métodos de avaliação quando, para a obtenção daqueles, sejam exigíveis requi-
sitos de formação e experiência, como mínimo, equiva-
1. Os programas de formação académica dos marítimos
lentes aos dos certificados nacionais.
devem adequar-se, em termos de estrutura, de objectivos
e de resultados, a um nível, como mínimo, equivalente 3. O reconhecimento dos certificados de competência
ao exigido pelas convenções internacionais vigentes em profissional emitidos no estrangeiro é da competência da
Cabo Verde. administração marítima.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1804 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 410.º 2. As administrações marítimas tomam as medidas
Expedição e registo de certificados de competência
convenientes para o desembarque daqueles que não cum-
prem com o previsto no número anterior, sem prejuízo
1. Compete à administração marítima a emissão, da manutenção dos contratos de trabalho.
renovação, ratificação, reconhecimento e controlo dos
certificados de competência profissional, nos termos esta- 3. No caso de se tratar de um posto a bordo dos consig-
belecidos em Portaria aprovada pelo membro do Governo nados no certificado de tripulação mínima de segurança,
responsável pela administração marítima. sem prejuízo do previsto no número 3 do artigo 353º, a
administração marítima não autoriza a saída do navio
2. A administração marítima mantém um registo até que o visado, seja substituído por outro que cumpra
público de todos os certificados emitidos, ratificados ou os requisitos exigíveis.
reconhecidos. Artigo 413.º
Artigo 411.º Controlo de navios estrangeiros nos portos nacionais

Responsabilidades do armador, do comandante e dos tripulantes Enquanto autoridades do Estado do porto, as admi-
nistrações marítimas podem verificar o cumprimento
O armador, o capitão e os marítimos que integram a dos requisitos de certificação e aptidão dos marítimos
tripulação, cada um nas respectivas áreas de intervenção embarcados a bordo de navios estrangeiros, em confor-
e de obrigações, são responsáveis pelo efectivo cumpri- midade com o previsto nas convenções internacionais
mento das disposições constantes do presente Código vigentes em Cabo Verde.
e dos regulamentos nele previstos, nomeadamente de
modo a garantir: Artigo 414.º
Detenção de navios estrangeiros
a) Que estão satisfeitos os requisitos da inscrição
marítima, aptidão física, qualificação, posse 1. Detectadas anomalias em certificados de competência
dos certificados exigíveis e satisfação dos ou deficiências na condição física ou fadiga da tripulação
demais requisitos de embarque e de funções que, possam representar perigo para as pessoas, bens
atribuídas; ou o meio ambiente, a administração marítima informa
imediatamente por escrito ao capitão do navio, ao re-
b) Que os documentos exigíveis a cada tripulante presentante diplomático ou consular mais próximo ou
estão válidos e disponíveis a bordo; à administração marítima do Estado de pavilhão, para
adopção de medidas apropriadas.
c) Que os marítimos afectos à tripulação estão
familiarizados com as suas tarefas específicas, 2. A administração marítima deve adoptar as medidas
com a organização do trabalho a bordo, necessárias para impedir a saída do navio até que tenham
instalações, equipamentos e características do sido corrigidos os defeitos de certificação ou de competên-
navio, e são capazes de exercer eficientemente cia na medida suficiente para eliminar os perigos a que
as funções, nomeadamente, em situações se refere o número anterior.
de emergência e vitais para a segurança do
LIVRO VI
navio;
DA ORDENAÇÃO ECONÓMICA
d) Que os navios estão tripulados em conformidade DO TRANSPORTE MARÍTIMO
com as lotações mínimas de segurança
estabelecidas; TÍTULO I

e) Que o serviço de guardas está organizado de DAS DISPOSIÇÕES GERAIS


modo a evitar, nomeadamente, o cansaço ou CAPÍTULO I
a fatiga; e
Do âmbito de aplicação e das classes
f) Que se encontram a bordo, e a disposição do de transporte marítimo
Capitão e dos oficiais, os textos que recolham Artigo 415.º
as alterações que se vão produzindo nas
Âmbito de aplicação
regulamentações nacionais e internacionais
sobre segurança da navegação e protecção do As disposições deste Livro aplicam-se ao transporte
meio marinho. marítimo realizado por navios de comércio que se dedicam
à navegação costeira, de cabotagem ou de longo curso.
Artigo 412.º
Artigo 416.º
Controlo e inspecção de navios nacionais
Classificação do transporte marítimo, âmbito geográfico
1. As administrações marítimas verificam se os mem-
De acordo com a zona de actuação, o transporte ma-
bros da tripulação possuem efectivamente os certificados
rítimo de mercadorias ou de passageiros efectuado por
de competência profissional e demais documentos exigí-
navios de comércio classifica-se em:
veis para prestar serviços a bordo, bem como se encon-
trem em condições de assegurar o serviço de guardas e a) Transporte marítimo interior, que se efectua
outros, relativos à segurança marítima e à luta contra a dentro de uma determinada zona portuária
poluição do meio marinho. ou de outras águas interiores cabo-verdianas;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1805

b) Transporte marítimo nacional, que não sendo 3. Exclui-se também da reserva prevista neste artigo a
transporte interior, se efectua entre portos exploração de navios estrangeiros de comércio no trans-
ou lugares situados dentro dos espaços porte marítimo exterior ou estrangeiro extra nacional,
marítimos nacionais; que se efectua conforme ao estabelecido no Título III do
presente Livro.
c) Transporte marítimo exterior (de longo curso),
que se efectua entre portos ou lugares Artigo 421.º
situados nos espaços marítimos nacionais e Requisitos para o exercício da indústria
portos ou lugares situados fora deles; e
1. A inscrição para o exercício da indústria de trans-
d) Transporte marítimo estrangeiro extra nacional, porte marítimo depende da verificação dos seguintes re-
que se efectua entre portos ou lugares situados quisitos exigidos para a sociedade armadora requerente:
fora dos espaços marítimos nacionais.
a) Que o exercício da indústria do transporte
Artigo 417.º
marítimo constitui seu objecto social
Classificação do transporte marítimo, condições de prestação exclusivo;

De acordo com as condições de prestação, o transporte b) Que o seu capital social é igual ou superior a
marítimo realizado por navios de comércio classifica-se em: 30.000.000$00 (trinta milhões de escudos), se
a requerente pretende operar no transporte
a) Transporte marítimo regular, que se efectua com marítimo exterior ou estrangeiro extra
itinerários, frequências de escalas, tarifas e nacional ou de 4.000.000$00 (quatro milhões
outras condições de transporte previamente de escudos) se pretende operar no transporte
estabelecidas; e marítimo nacional;
b) Transporte marítimo não regular, que se efectua c) Que possui frota própria que integre, pelo menos,
sem sujeição às condições previstas no um navio operacional de nacionalidade cabo-
número anterior. verdiana.
CAPÍTULO II 2. Para efeitos do número anterior considera-se frota
própria a constituída, pelo menos, por um navio de comér-
Do exercício da indústria de transporte
cio propriedade da solicitante, ou que se encontre na sua
marítimo
posse em virtude de contrato de fretamento a casco nu ou
Artigo 418.º de outro negócio translativo da posse e, navio operacional,
Indústria de transporte marítimo
aquele que possui os certificados em vigor requeridos
conforme o estabelecido no Título III do Livro IV.
1. Entende-se por indústria de transporte marítimo a Artigo 422.º
que se dedica à exploração de navios próprios de comércio
no transporte por mar de mercadorias ou de passageiros. Procedimento de inscrição

2. A indústria de transporte marítimo abrange, neces- 1. O requerimento a solicitar a inscrição como socie-
sariamente, o armamento e a consequente exploração dade armadora nacional, deve identificar a sociedade
directa de navios de comércio próprios, fretamento e requerente e ser instruído com os seguintes documentos:
afretamento, bem assim, compra e venda de navios.
a) Certidão actualizada da matrícula da sociedade
Artigo 419.º na conservatória do registo comercial;
Sociedade armadora nacional b) Documento comprovativo da existência do
capital social realizado à data da inscrição;
Para efeitos do presente Título, considera-se sociedade
armadora nacional, aquela que tenha a sua sede e c) Copias autenticadas dos documentos necessários
administração principal em Cabo Verde e preencha os à prova de que a sociedade possui frota
requisitos do art.421º. própria que integre, pelo menos, um navio
Artigo 420.º
operacional.

Reserva a sociedades armadoras nacionais 2. A administração marítima deve pronunciar-se no


prazo de 30 (trinta) dias a contar da data de recepção do
1. O exercício da indústria de transporte marítimo requerimento.
fica reservado a sociedades armadoras nacionais devi-
damente inscritas no registo convencional de navios ou 3. A sociedade requerente pode apresentar inicialmente
no registo internacional de navios e que cumpram os apenas os documentos previstos nas alíneas a), b) e c) do
requisitos previstos no artigo seguinte. nº 1, e, se os mesmos fizerem prova do preenchimento dos
requisitos referidos nas alíneas a) e b) do nº 1 do artigo
2. Exceptua-se do disposto no número anterior a ex- anterior, a administração marítima deve informá-la de
ploração de navios nacionais de comércio no transporte que a inscrição se efectua automaticamente logo que
marítimo interior, bem assim, os de arqueação bruta sejam apresentados os documentos comprovativos da
inferior a 50 (cinquenta) toneladas. disponibilidade de frota própria.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1806 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 423.º 2. Excepcionalmente, quando não existam navios
Regime de exploração e cancelamento
nacionais adequados e disponíveis para prestar uma
determinada actividade, e pelo tempo que perdure tal
1. Uma vez inscritas, as sociedades armadoras ficam circunstância, a administração marítima pode autorizar
obrigadas a exercer a indústria marítima nas condições o emprego de navios estrangeiros para efectuar trans-
da inscrição, devendo manter, em todo o momento e em portes interiores.
condições de efectiva prestação do serviço, ao menos um Artigo 428.º
navio dos referidos no nº 2 do artigo 421.º, sem prejuízo
das imobilizações técnicas que possam proceder. Reserva do transporte marítimo nacional

2. Os armadores que deixem de cumprir os requisitos 1. Sem prejuízo do disposto no Capítulo seguinte sobre
exigidos para a inscrição devem regularizar sua situação o serviço público de transporte marítimo, o transporte
no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, sob pena de serem marítimo nacional fica reservado às sociedades arma-
canceladas as respectivas inscrições. doras nacionais.
2. Excepcionalmente, em caso de não existirem socieda-
3. O cancelamento previsto no número anterior é da
des armadoras nacionais interessadas, a administração
competência da administração marítima, a qual deve
marítima pode autorizar a outros armadores a realização
ouvir, para o efeito, o armador visado.
dos transportes marítimos nacionais.
Artigo 424.º
Artigo 429.º
Supervisão pela administração marítima Obrigações de serviço público

À administração marítima nacional compete supervi- 1. A administração marítima pode estabelecer obriga-
sionar a actividade das sociedades armadores, as quais ções do serviço público nos transportes regulares inte-
devem fornecer os elementos por aquela, solicitados com riores ou nacionais se assim considerar necessário, em
vista à execução do disposto no presente Código. vista das suas especiais características, para garantir sua
Artigo 425.º
prestação sob condições de continuidade e regularidade.

Preferência para o fretamento de navios de comércio 2. As obrigações referidas no número anterior podem
dar direito a compensações económicas por parte da
Mediante regulamentação do Governo pode-se estabe- administração.
lecer um regime de preferência das sociedades armadoras
nacionais para o fretamento, em qualquer modalidade, CAPÍTULO II
dos navios de comércio que pretendam efectuar trans- Do serviço público de transporte marítimo
porte marítimo nacional ou exterior. nacional
Artigo 426.º Artigo 430.º

Deveres de informação dos afretadores Conceito e finalidade

1. Os afretadores domiciliados em Cabo Verde que 1. Compete ao Estado assegurar a prestação de um


pretendam fretar, em qualquer modalidade, navios de serviço público de transporte marítimo nacional de carga
comércio para os dedicar ao transporte marítimo nacional e passageiros, nas situações em que, devido às caracte-
ou exterior devem dar conhecimento prévio dos mesmos à rísticas do tráfego, as sociedades armadoras nacionais
administração marítima confirmando-os posteriormente não se mostram interessadas em prestar esse serviço
e indicando as respectivas condições contratuais. por razões de mercado.

2. Os afretadores a que se refere o número anterior 2. O serviço público tem por finalidade a satisfação
devem prestar as informações que lhes sejam solicitadas das necessidades de transporte dos habitantes das ilhas,
pela administração marítima nacional e por outros orga- assim como a dinamização e integração dos territórios e
nismos competentes da Administração Pública. população do arquipélago.
Artigo 431.º
TÍTULO II
Princípios do serviço público
DO TRANSPORTE MARÍTIMO INTERIOR
E NACIONAL O serviço público de transporte marítimo nacional
obedece aos princípios de universalidade, igualdade,
CAPÍTULO I continuidade, regularidade e acessibilidade de preços.
Artigo 432.º
Das disposições comuns
Âmbito do serviço público
Artigo 427.º

Reserva do transporte marítimo interior


Mediante regulamento do membro do Governo res-
ponsável pela administração marítima são definidas as
1. O transporte marítimo interior fica reservado aos linhas inter-insulares nas quais o Estado deve assegurar
navios nacionais e sua prestação deve ser previamente a prestação do serviço público de transporte marítimo
autorizada pela administração marítima. nacional de carga e passageiros.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1807
Artigo 433.º TÍTULO III
Prestadores do serviço público de transporte marítimo DO TRANSPORTE MARÍTIMO EXTERIOR
1. O serviço público de transporte marítimo nacional E EXTRA NACIONAL
pode ser explorado: CAPÍTULO I
a) Pelo próprio Estado; Do regime de prestação
b) Por pessoa colectiva de direito público; Artigo 438.º
Regime de concorrência
c) Por sociedades armadoras nacionais ou, na falta
destas, por pessoa singular ou colectiva de 1. O transporte marítimo exterior, regular ou não,
direito privado, mediante contrato de concessão. efectua-se em regime de concorrência entre as sociedades
armadoras nacionais e os armadores estrangeiros que
2. O serviço público de transporte marítimo nacional desejam participar no respeito do direito internacional
pode ser apresentado por mais de uma entidade, em e do princípio da reciprocidade.
função das zonas geográficas que compreenda.
2. O transporte marítimo estrangeiro extra nacional
Artigo 434.º por navios de pavilhão de Cabo Verde, só pode ser efec-
Designação do prestador do serviço tuado por sociedades armadoras nacionais.

1. Nos casos previstos nas alíneas a) e b) do nº 1 do 3. Sempre que se encontrem nos portos cabo-verdianos
artigo anterior compete ao Governo a designação do e nos demais espaços marítimos nacionais, os navios
prestador ou dos prestadores do serviço. estrangeiros que efectuam transporte exterior ou extra
nacional ficam sujeitos ao controlo da administração
2. Nos casos previstos na alínea c) do nº 1 do artigo ante- marítima e outros previstos no presente Código.
rior compete ao Governo fixar as condições de concessão. Artigo 439.º
Artigo 435.º Adopção de contra medidas
Regime de preços Se navios de comércio nacionais destinados à navega-
1. O regime de preços do serviço público de transporte ção exterior ou extra nacional forem objecto de medidas
marítimo nacional deve ser estabelecido pela adminis- discriminatórias em portos estrangeiros ou de restrições
tração marítima, tendo em consideração, os custos de que afectem a livre concorrência, o Governo pode, por
exploração e os princípios de transparência, não discri- solicitação da administração marítima, adoptar medi-
minação e acessibilidade dos usuários. das recíprocas e sancionatórias necessárias à defesa dos
interesses cabo-verdianos em conflito.
2. Com vista a garantir a acessibilidade dos preços do Artigo 440.º
serviço público, podem ser previstos sistemas de preços
especiais ou diferenciados com base em critérios geográ- Casos excepcionais de reserva de pavilhão
ficos e categoria dos serviços ou dos usuários. Em casos excepcionais e quando isso for necessário
para a economia ou para a defesa nacional, o Governo
3. Os preços não devem exceder os parâmetros máximos
pode reservar certos transportes marítimos exteriores a
estabelecidos na legislação geral de preços que, ao caso,
navios de pavilhão cabo-verdiano.
resulte aplicável.
Artigo 436.º
CAPÍTULO II

Compensação económica Das conferências marítimas e dos conselhos


de usuários
Os prestadores do serviço público de transporte marí- Artigo 441.º
timo nacional têm direito a uma compensação económica
pela exploração do serviço, em montante a fixar por Conceito de conferência marítima
portaria aprovada pelo membro do Governo responsável Entende-se por conferência marítima um grupo cons-
pela administração marítima. tituído por 2 (dois) ou mais armadores que efectuam
Artigo 437.º transporte marítimo exterior regular numa ou várias
rotas particulares e que tenham estabelecido um acordo,
Fiscalização qualquer que seja sua natureza, no qual actuam atendendo
1. Compete à administração marítima e à entidade que a fretes uniformes ou comuns ou a quaisquer outras
assumir suas funções de regulador económico do trans- condições convencionadas no que respeita ao transporte
porte marítimo nacional, a fiscalização do cumprimento marítimo de mercadorias.
do disposto neste Capítulo. Artigo 442.º
Dever de respeito pela concorrência
2. As entidades a que se refere o número anterior
devem promover consultas públicas sobre o âmbito, 1. As conferências marítimas devem garantir uma
acessibilidade dos preços e qualidade do serviço público oferta de transporte marítimo exterior suficiente e eficaz,
de transporte marítimo nacional. tendo em conta os interesses dos usuários.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1808 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. As conferências estão submetidas à concorrência dos seu arrendamento ou utilização regem-se pelas normas
armadores que efectuam transportes exteriores regulares do direito civil em tudo que não for previsto pelas con-
não integrados nas mesmas, bem como dos transportes venções das partes.
exteriores não regulares que operem nas mesmas rotas. Artigo 446.º
3. A actuação das conferências não pode dar lugar à Conceito
eliminação da concorrência sobre partes substanciais Contrato de fretamento de navio é aquele em que uma
do mercado no qual prestam seus serviços até o ponto das partes, fretador, se obriga em relação a outra, afreta-
de cerar situações de abuso dominante por parte dos dor, a pôr à sua disposição um navio, ou parte dele, para
armadores integrados nas mesmas. fins de navegação marítima, mediante uma retribuição
Artigo 443.º pecuniária denominada frete.
Conselhos de usuários Artigo 447.º
Forma
Os usuários dos transportes marítimos exteriores po-
dem constituir organizações denominadas conselhos de Designa-se carta-partida o documento particular exi-
usuários, com objectivo de defender os seus interesses, gido para a válida celebração do contrato de fretamento.
especialmente os referentes às condições tarifárias, da Artigo 448.º
qualidade e regularidade da prestação dos serviços, e Regime
oferecer aos seus membros um serviço de assessoria e
consulta de fretes e serviços marítimos. O contrato de fretamento rege-se pelas cláusulas da
carta-partida e subsidiariamente pelas disposições deste
Artigo 444.º Título.
Obrigações de informação e consulta Artigo 449.º
Modalidades
1. As conferências marítimas cujos navios façam escala
em portos cabo-verdianos para carregar ou descarregar 1. O contrato de fretamento pode revestir as seguintes
mercadorias devem informar à administração marítima, modalidades:
por solicitação desta, os acordos de distribuição de cargas,
a) Por viagem;
escalas ou saídas e facultar os documentos directamente
relacionados com os acordos, as tarifas e demais condições b) Por tempo;
de transporte. c) Casco nu ou fretamento/locação.
2. Estando constituídas conferências marítimas e Artigo 450.º
conselhos de usuários, ambas devem efectuar consultas Factos imputáveis
mútuas, cada vez que forem solicitadas por alguma das
partes, com vista a resolver os problemas relativos ao Para efeitos de responsabilidade previstas neste Título,
funcionamento dos transportes marítimos exteriores. entende-se por factos ou causas imputáveis, as acções
ou omissões intencionais ou com culpa do fretador, do
LIVRO VII afretador, ou seus auxiliares, sejam estes dependentes,
mandatários ou contratados independentes, conforme
DOS CONTRATOS DE EXPLORAÇÃO o caso.
DE NAVIOS E DOS CONTRATOS AUXILIARES
Artigo 451.º
TÍTULO I Direitos de retenção e privilégio sobre a carga

DO CONTRATO DE FRETAMENTO 1. Para garantia do pagamento do frete e demais créditos


emergentes do fretamento por viagem, o fretador goza do
CAPÍTULO I direito de retenção sobre as mercadorias transportadas
e crédito privilegiado sobre a carga.
Das disposições gerais
2. Os mesmos direitos e privilégio tem o fretador por
Artigo 445.º
tempo em relação às mercadorias transportadas a bordo,
Âmbito de aplicação pertencentes ao afretador.
1. As disposições deste Título são aplicáveis aos navios 3. O direito de retenção e o privilégio sobre a carga
de comércio e, com as adaptações necessárias, aos navios regem-se pelo previsto nos artigos 517º e 519º do pre-
de pesca e aos navios auxiliares e rebocadores. sente Código para o contrato de transporte marítimo de
mercadorias.
2. As disposições deste Título não se aplicam às embar-
Artigo 452.º
cações de arqueação bruta inferior a 10 (dez) toneladas,
sendo que, os contratos relativos à utilização ou exploração Subfretamento e cessão do contrato
destas embarcações regem-se pelas convenções das partes 1. O subfretamento ou cessão da posição contratual
e, na falta destas, pela legislação civil. pelo afretador carecem de autorização escrita do fretador.
3. As disposições deste Título não se aplicam igual- 2. As disposições do deste Título são aplicáveis ao
mente aos artefactos navais, cujos contratos relativos ao subfretamento.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1809
Artigo 453.º f) A indemnização convencionada em caso de sub-
Competência judicial internacional
estadia;

1. Os tribunais cabo-verdianos são internacionalmente g) O prémio convencionado em caso de sub-estadia;


competentes para o julgamento das acções emergentes do
h) O frete.
contrato de fretamento ou de subfretamento, em qualquer
dos casos seguintes: 2. Os prejuízos resultantes da omissão de qualquer dos
elementos referidos no número anterior são imputáveis
a) Se o porto de carga ou de descarga se situar em
ao fretador, salvo prova em contrário.
Cabo-Verde;
Artigo 457.º
b) Se o contrato tiver sido celebrado em Cabo-
Verde; Obrigações do fretador

c) Se algumas das partes do contrato, o carregador Constituem obrigações do fretador:


ou destinatário das mercadorias, tiverem sede,
sucursal, filial ou delegação em Cabo Verde. a) Apresentar o navio ao afretador na data ou época
e no lugar acordados;
2. Nas situações não previstas no número anterior,
a determinação da competência judicial internacional b) Apresentar o navio, antes e no início da viagem,
para o julgamento das acções emergentes dos contratos em estado de navegabilidade, devidamente
de fretamento e de subfretamento é feita de acordo com armado e equipado, de modo a dar integral
as normas gerais. cumprimento ao contrato;

Artigo 454.º c) Efectuar as viagens previstas na carta-partida


pela rota náutica mais adequada, sem desvios
Prescrição
nem escalas não previstas na dita carta.
As acções emergentes do incumprimento do contrato
Artigo 458.º
de fretamento devem ser exercidas no prazo de 2 (dois)
anos a contar da data em que o lesado teve conhecimento Despesas por conta do fretador
do direito que lhe compete.
O fretador suporta as despesas inerentes ao navio,
CAPÍTULO II especialmente os seguintes:
Do contrato de fretamento por viagem a) Aparelhos, apetrechos e demais partes
Secção I
integrantes;

Conceito, caracterização, obrigações e direitos das partes b) Provisões, água, combustível, lubrificantes e
demais acessórios;
Artigo 455.º

Conceito e atribuição da gestão náutica e comercial c) Salários e demais despesas da tripulação;

1. Contrato de fretamento por viagem é aquele em d) Seguros relativos ao navio, independentemente


que o fretador se obriga a pôr à disposição do afretador da sua natureza.
um navio, ou parte dele, para que este o utilize numa ou Artigo 459.º
mais viagens, previamente fixadas, para o transporte de
mercadorias determinadas. Responsabilidade do fretador por perdas ou danos à mercadoria

2. No contrato de fretamento por viagem a gestão náu- O fretador responde perante o afretador ou perante
tica e a gestão comercial do navio pertencem ao fretador. o destinatário da carga pelas perdas ou danos sofridos
na mercadoria ou por atrasos na sua entrega, salvo se
Artigo 456.º
provar que aqueles tenham sido causados por factos a
Elementos da carta-partida ele não imputáveis.

1. A carta-partida deve conter os seguintes elementos: Artigo 460.º

a) A identificação do navio, através do seu nome, Obrigações do afretador


nacionalidade e arqueação;
Constituem obrigações do afretador:
b) A identificação do fretador e do afretador;
a) Entregar ao fretador a quantidade e classe de
c) A quantidade e natureza das mercadorias a mercadorias fixadas na carta-partida;
transportar;
b) Efectuar as operações de carga e descarga do
d) Os portos de carga e descarga; navio dentro dos prazos estabelecidos na
carta-partida;
e) Os tempos previstos para a carga e para a
descarga, denominados estadias; c) Pagar o frete.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1810 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 461.º Secção II

Defeito ou excesso de quantidade de mercadorias Modificações ou impedimentos da viagem


embarcadas
Artigo 466.º
1. O afretador é obrigado a pagar o frete por inteiro, Impedimento à viagem não imputável às partes
ainda que não apresente a totalidade das mercadorias
para embarque, no prazo e local fixados. Se a viagem ou viagens não puderem ser iniciadas nas
datas ou épocas previstas, por causa não imputável ao fre-
2. Se o navio carregar quantidade de mercadoria tador ou ao afretador, qualquer das partes pode resolver
superior à convencionada, o afretador é obrigado ao o contrato, sem que impenda sobre elas responsabilidade
pagamento de um frete suplementar proporcional à alguma quanto aos prejuízos sofridos.
quantidade excedente.
Artigo 467.º
Artigo 462.º
Impedimento à viagem imputável ao fretador
Fixação das estadias
1. Quando não for possível realizar a viagem ou viagens
1. Caso a carta-partida nada disponha sobre estadias,
nas datas ou épocas convencionadas, por causa imputável
compete ao fretador fixá-las segundo critérios de razoa-
ao fretador, torna-se este responsável perante o afretador
bilidade, tendo em conta as circunstâncias do caso e os
pelos prejuízos causados.
usos do porto.
2. Independentemente do direito à indemnização, o
2. Se a carta-partida fixar, autonomamente, as estadias
afretador pode resolver o contrato, exigindo a restituição
para as operações de carga e de descarga, estas não são
de todo ou parte do frete já pago correspondente a viagem
cumuláveis e devem ser contadas em separado.
ou viagens não realizadas.
Artigo 463.º
Artigo 468.º
Cálculo das estadias
Impedimento da viagem imputável ao afretador
1. Excluem-se da contagem das estadias os dias em
1. Quando não for possível realizar a viagem ou viagens
que, por interrupção legal da actividade portuária ou por
nas datas ou épocas convencionadas, por causa imputável
quaisquer outros factos objectivamente relevantes, as
ao afretador, torna-se este responsável perante o fretador
operações de carga ou de descarga não se possam realizar.
pelos prejuízos causados.
2. A contagem das estadias inicia-se no primeiro perío-
2. No caso previsto no número anterior, o fretador tem
do de trabalho normal que se siga à entrega ao afretador
direito a resolver o contrato e a uma indemnização que
do aviso do navio pronto, desde que este aviso tenha sido
não pode exceder o montante do frete correspondente à
entregue até ao termo do período de trabalho normal
viagem ou viagens não efectuadas, deduzidas as despesas
antecedente.
que deixou de suportar.
3. Considera-se horário de trabalho normal o que, nes-
3. Caso tiver recebido o frete adiantado, o fretador tem
ses termos, seja praticado pelos trabalhadores portuários
direito a fazer seu o frete recebido, até o limite fixado no
do respectivo porto.
número anterior.
4. O momento a partir do qual é legítima a entrega do Artigo 469.º
aviso de navio pronto é definido na carta partida, ou na
sua falta, pelos usos do porto. Arribada forçada

Artigo 464.º 1. Se o navio tiver que entrar de arribada forçada por


causa imputável ao fretador, deve este responder pelo
Sobre-estadia e sub-estadia
atraso e demais prejuízos causados ao afretador.
1. O navio entra em sobre-estadia quando o afretador
2. Quando a arribada forçada for devida ao mau tempo,
ultrapassar o tempo de estadia sem completar as ope-
perigo para o navio, temor fundado de inimigos ou pira-
rações de carga ou descarga, dando lugar ao pagamento
tas ou qualquer outra causa não imputável ao fretador,
pelo afretador de um suplemento do frete proporcional
considera-se legitima e as partes devem suportar as suas
ao tempo excedente.
despesas.
2. Quando o afretador não utilizar o tempo de estadia,
3. O fretador pode proceder à descarga, depósito e
tem direito a um prémio de sub-estadia proporcional ao
reembarque no porto de descarga sempre que isso for
tempo não gasto.
necessário para a reparação das avarias sofridas pelo
3. A taxa de sub-estadia corresponde a metade de navio ou para a reparação ou adequada conservação das
sobre-estadia. mercadorias.
Artigo 465.º 4. O afretador pode resolver o contrato e retirar a sua
Mercadorias perigosas carga no porto de arribada pagando o frete proporcional
à distância percorrida.
Se as mercadorias a transportar forem consideradas
perigosas aplica-se o disposto no artigo 482º para o con- 5. O disposto nos artigos anteriores, não prejudica o
trato de transporte marítimo de mercadorias. regime da avaria grossa, previsto no presente Código.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1811
Artigo 470.º Secção II

Alteração por parte do afretador do porto de destino Obrigações e direitos das partes

Se o afretador pretender descarregar toda ou parte Artigo 474.º


da mercadoria em porto que não seja o de destino, é Obrigações do fretador
responsável pelo pagamento das despesas adicionais,
havendo-as, e não tem direito a qualquer redução do frete Constituem obrigações do fretador:
na hipótese inversa.
a) Apresentar o navio ao afretador na data ou época
Artigo 471.º e no lugar acordado;
Impedimento prolongado à entrada no porto de descarga b) Apresentar o navio e mantê-lo em estado de
navegabilidade, devidamente armado e
1. Se por um facto não imputável ao fretador, se verifi- equipado, de modo a cumprir integralmente
car no porto de descarga impedimento superior a 5 (cinco) o contrato;
dias à entrada do navio ou ao normal desenvolvimento
das suas operações comerciais, tem aquele a faculdade de c) Realizar as viagens e carregar as mercadorias
desviar o navio para um porto próximo que ofereça condi- que tenham sido determinadas pelo afretador
ções idênticas ou semelhantes e efectuar ali a descarga. no exercício da sua gestão comercial.

2. Exercendo a faculdade a que se refere o número an- Artigo 475.º


terior, o fretador deve avisar imediatamente o afretador Combustível
e, uma vez efectuada a descarga, considera-se cumprido
o contrato de fretamento. 1. É suportada pelo afretador a despesa com o com-
bustível do navio.
3. As despesas e encargos adicionais resultantes da
situação prevista no nº 1 são suportadas pelo afretador. 2. O afretador deve fornecer o combustível apropriado,
que corresponda às características e especificações téc-
4. Se da situação prevista no presente artigo resultar nicas indicadas pelo fretador.
benefício para o fretador, deve este entregar ao afretador
o respectivo montante. Artigo 476.º

Capitão
CAPÍTULO III
1. Em tudo quanto se relacione com a gestão comercial
Do contrato de fretamento por tempo do navio, o capitão deve obedecer às ordens e instruções
Secção I do afretador, dentro dos limites previstos na carta-
partida, sem prejuízo do cumprimento das suas funções
Conceito e caracterização náuticas, públicas e administrativas.
Artigo 472.º 2. Quando o afretador considerar que o capitão não se
Conceito e atribuição da gestão náutica e comercial
ajusta às suas instruções ou que a sua actuação é pre-
judicial aos seus interesses comerciais, pode solicitar ao
1. Contrato de fretamento por tempo é aquele em que fretador a sua substituição.
o fretador se obriga a pôr à disposição do afretador um
3. Sem prejuízo do disposto no número anterior, deve
navio, para que este o utilize durante certo período de
prevalecer sempre a primazia do critério profissional nos
tempo.
termos previstos no artigo 379.º.
2. No contrato de fretamento por tempo a gestão náu- Artigo 477.º
tica do navio pertence ao fretador e sua gestão comercial
ao afretador. Início e vencimento do frete

Artigo 473.º 1. O frete inicia-se a partir do dia em que o navio é posto


pelo fretador à disposição do afretador, nas condições
Elementos da carta-partida definidas na carta-partida.
Além dos elementos previstos nas alíneas a), b) e h) 2. O frete vence-se quinzenalmente e deve ser pago
do nº 1 do artigo 456.º, a carta-partida por tempo deve adiantado.
conter os seguintes:
3. O afretador pode deduzir nos pagamentos a fazer,
a) O período de duração do fretamento; o montante das despesas que haja realizado por conta
do fretador.
b) Os limites geográficos dentro dos quais o navio
pode ser utilizado; 4. O afretador pode deduzir, nos últimos pagamentos,
as quantias que, atendendo à data de reentrega do navio,
c) A indicação das mercadorias que o navio não razoavelmente possam ser consideradas em dívida, pelo
pode transportar. fretador.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1812 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 478.º à disposição do afretador, na época, local e condições
Suspensão do frete convencionados, um navio não armado nem equipado,
para que este o utilize durante certo período de tempo.
Não é devido frete durante os períodos em que se torne
impossível a utilização comercial do navio por factos não 2. No contrato de fretamento em casco nu a gestão náu-
imputáveis ao afretador. tica e a gestão comercial do navio pertencem ao afretador.
Artigo 479.º Artigo 484.º
Prolongamento do fretamento Regime subsidiário
1. O fretador não é obrigado a iniciar uma nova viagem São aplicáveis subsidiariamente a este contrato com as
cuja duração previsível exceda a fixada na carta-partida, necessárias adaptações, as normas relativas ao contrato
porém se o fizer, apenas tem direito ao frete proporcional de fretamento por tempo e a disciplina da lei geral sobre
ao prolongamento do fretamento. o contrato de locação.
2. Se, por facto imputável ao afretador, o fretamento Artigo 485.º
exceder a duração prevista na carta-partida, o fretador
tem direito, pelo tempo excedente, ao dobro do frete Fretamento de navios armados e equipados
estipulado.
As normas deste Capítulo são igualmente aplicáveis,
Artigo 480.º com as necessárias adaptações, aos contratos de freta-
Responsabilidade do afretador por avarias ao navio mento de navios armados e equipados cuja gestão náutica
e comercial seja conferida ao afretador.
O afretador é responsável pelas avarias causadas ao
navio em consequência das operações comerciais. Artigo 486.º

Artigo 481.º Elementos da carta-partida


Responsabilidade do fretador por perdas ou danos à
mercadoria
A carta-partida a casco nu deve conter os elementos
mencionados no artigo 473º para o contrato de fretamento
O fretador responde perante o afretador pelas perdas por tempo.
ou danos sofridos na mercadoria transportada, assim
Secção II
como pelo atraso na sua entrega, nos termos previstos
no artigo 459º para o contrato de fretamento por viagem. Obrigações e direitos das partes
Artigo 482.º Artigo 487.º
Mercadorias perigosas
Armamento e tripulação
1. O transportador deve recusar as mercadorias cuja
natureza perigosa lhe seja conhecida e que não cumpram Compete ao afretador armar e equipar o navio, bem
as prescrições a que se refere o artigo 124º. Não fazendo-o como, contratar a sua tripulação.
será solidariamente responsável com o carregador e, caso Artigo 488.º
for, com o operador portuário, de todos os danos que as
Reparações, manutenção e seguros
mercadorias possam causar a terceiros.
2. As mercadorias perigosas que sejam entregues ao São suportados pelo afretador:
transportador sem serem declaradas como tais e que a) As despesas de conservação e de reparação nece-
por isso cheguem a constituir um risco para as pessoas ssárias à navegabilidade do navio e todas as que
ou para os bens podem ser por aquele, desembarcadas, não estejam abrangidas no artigo seguinte;
destruídas ou transformadas em inofensivas, sem que
os respectivos titulares tenham direito a qualquer in- b) Os seguros relativos ao navio, independentemente
demnização. da sua natureza.
3. Os carregadores e, caso for, o operador portuário, de- Artigo 489.º
vem indemnizar por todos os danos que se produzam como
Vício próprio do navio
consequência do transporte das mercadorias perigosas
que não foram declaradas como tais ou que não cumpram 1. São suportadas pelo fretador as despesas com as
as prescrições a que se refere o número primeiro. reparações e substituições resultantes de vício próprio
CAPÍTULO IV do navio.

Do contrato de fretamento em casco nu 2. Não é devido frete durante o período das reparações
e substituições previstas no número anterior.
Secção I
Conceito, caracterização e regime Artigo 490.º

Artigo 483.º Utilização do navio

Conceito e atribuição da gestão náutica e comercial 1. O afretador pode utilizar o navio em todos os tráfegos
1. O contrato de fretamento em casco nu ou fretamen- e actividades que sejam compatíveis com a finalidade
to/locação é aquele em que o fretador se obriga a pôr normal e com suas características técnicas.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1813

2. Pode igualmente o afretador usar as partes inte- ou omissões intencionais ou com culpa do transportador
grantes do navio e materiais a bordo, devendo, no termo ou do carregador, ou seus auxiliares, sejam estes de-
do contrato, restitui-los com a mesma quantidade e pendentes, mandatários ou contratados independentes,
qualidade, salvo o desgaste próprio do seu uso normal. conforme o caso.
Artigo 491.º Artigo 497.º

Devolução do navio Mercadoria carregada ou descarregada

O afretador deve, no termo do contrato, devolver o 1. Para efeitos do disposto neste Título a mercadoria
navio ao fretador no mesmo estado e condições em que considera-se carregada ou descarregada no momento em
o recebeu, salvo o desgaste próprio do seu uso normal. que transpõe a borda do navio.

Artigo 492.º 2. Os princípios estabelecidos no artigo anterior vigo-


ram quer os aparelhos de carga e descarga pertençam
Direito de reembolso do fretador
ao navio, quer não.
O afretador deve reembolsar o fretador de todas as Artigo 498.º
importâncias que este se tenha obrigado a pagar a ter-
Competência judicial internacional
ceiros em consequência da exploração comercial do navio.
1. Os tribunais de Cabo Verde são internacionalmente
TÍTULO II
competentes para o julgamento das acções emergentes
DO CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO do contrato de transporte marítimo de mercadorias em
DE MERCADORIAS qualquer dos casos seguintes:

CAPÍTULO I a) Se o porto de carga ou de descarga se situar em


território cabo-verdiano;
Das disposições gerais
b) Se o contrato de transporte tiver sido celebrado
Artigo 493.º em Cabo Verde;
Conceito c) Se o navio transportador arvorar a bandeira
Contrato de transporte marítimo de mercadorias é cabo-verdiana ou estiver registado em Cabo
aquele em que o transportador se obriga a transportar Verde;
determinada mercadoria por via marítima, de um porto d) Se a sede, sucursal, filial ou delegação do
para outro, mediante retribuição pecuniária denominada frete. carregador, do destinatário, consignatário ou
Artigo 494.º do transportador se localizar em território
cabo-verdiano.
Forma
2. Nas situações não previstas no número anterior, a
1. O contrato de transporte marítimo de mercadorias determinação da competência internacional dos tribunais
está sujeito à forma escrita. para o julgamento das acções emergentes do contrato de
transporte marítimo de mercadorias é feita de acordo
2. Incluem-se no âmbito da forma escrita, os contratos
com as regras gerais.
exarados em documento assinado pelas partes e os que
resultam de trocas de cartas, telegramas, telexes, telefa- CAPÍTULO II
xes ou outros meios equivalentes criados pela tecnologia
moderna, especialmente os meios electrónicos. Das obrigações do carregador
Artigo 499.º
Artigo 495.º
Declaração de carga
Âmbito de aplicação
1. O carregador deve entregar ao transportador uma
As disposições deste Título aplicam-se:
declaração de carga contendo os seguintes elementos:
a) A todos os interessados no transporte, sempre a) A natureza e a qualidade da mercadoria e os
que não exista carta-partida; eventuais cuidados especiais de que a mesma
b) Às relações entre o transportador e o terceiro careça;
portador do conhecimento de embarque, salvo b) As marcas principais, necessárias à identificação
se este indicar que o conhecimento tenha sido da mercadoria;
emitido em virtude de uma carta-partida e que
as relações entre o portador e o transportador c) O número de volumes ou de objectos e a
se regem pelo previsto na carta-partida. quantidade de peso ou de volume;
Artigo 496.º d) O tipo de embalagem e o acondicionamento da
mercadoria;
Factos imputáveis
e) O porto de carga e o porto de descarga;
Para efeitos de responsabilidade previstas neste Título,
entende-se por factos ou causas imputáveis, as acções f) A data.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1814 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. O carregador responde perante o transportador 2. O transportador responde perante o carregador pe-


pelos danos resultantes das omissões ou incorrecções de los prejuízos resultantes de omissões ou incorrecções de
qualquer elemento da declaração de carga. qualquer elemento do recibo ou conhecimento de carga
referido no número anterior.
Artigo 500.º
Artigo 504.º
Apresentação da mercadoria no cais
Emissão do conhecimento de embarque
1. Quando o carregador entregar a mercadoria à borda
do navio e não haja disposição contratual que a regule, 1. Uma vez carregada a mercadoria a bordo, o trans-
essa entrega deve efectuar-se ao ritmo pedido pelo trans- portador deve entregar ao carregador um conhecimento
portador e no local por este indicado, de acordo com os de carga original, contendo os elementos seguintes:
usos do porto.
a) Os elementos referidos no nº 1 do artigo 499.º e
2. O não cumprimento do disposto no número anterior no nº 1 do artigo anterior;
torna o carregador responsável pelos danos causados ao
transportador. b) A identificação e o domicílio do transportador, do
carregador e do destinatário;
Artigo 501.º
c) A data de carga;
Falta de apresentação e resolução do contrato
d) O número de exemplares originais emitidos;
1. Se o carregador não apresentar as mercadorias para
embarque ao transportador no prazo e no local fixados, e) O frete, quando assim o solicite o carregador.
pode o transportador resolver o contrato mas o carregador
fica obrigado a pagar o frete correspondente. 2. O conhecimento de embarque ou recibo indicado
no artigo anterior, serve como conhecimento de carga
2. Se o carregador, depois de entregar ao transportador sempre que nele se faça constar a expressão “carregado
as mercadorias para embarque, revogar o contrato, é a bordo” assim como os elementos previstos nas alíneas
obrigado a pagar, além do frete respectivo, as despesas b) a d) do número anterior.
que o transportador tenha feito com a mesma.
3. A utilização de um exemplar original do conheci-
Artigo 502.º mento de carga para solicitar a entrega da mercadoria
Recepção da mercadoria no porto de destino no porto de destino torna os outros sem efeito.
Artigo 505.º
1. Salvo acordo em contrário, o destinatário deve rece-
ber a mercadoria a bordo do navio no porto de descarga Pessoas com legitimidade para emitir o conhecimento de carga
e no momento e ao ritmo indicado pelo transportador, de
acordo com os usos do porto. 1. O transportador, seus trabalhadores, agentes ou
representantes têm legitimidade para emitir os conhe-
2. O destinatário e subsidiariamente o carregador res- cimentos de carga.
pondem perante o transportador pelos danos causados
por incumprimento da obrigação prevista no número 2. São nulos os conhecimentos de carga emitidos por
anterior. pessoas sem legitimidade, ficando estas obrigadas a in-
demnizar os lesados pelos danos causados pela emissão
CAPÍTULO III daqueles.
Das obrigações do transportador Artigo 506.º

Secção I Natureza, modalidades e transmissão do conhecimento de carga

Obrigações antes da viagem 1. O conhecimento de carga constitui um título de cré-


Artigo 503.º
dito representativo da mercadoria nele descrita e pode
ser nominativo ou à ordem do portador.
Recepção da mercadoria para o embarque
2. O legítimo portador do conhecimento tem direito
1. Uma vez recebida a mercadoria para embarque, o a receber as mercadorias no porto de destino, sem que
transportador deve entregar ao carregador um recibo ou lhe sejam oponíveis as excepções baseadas no contrato
um conhecimento de carga, com a menção expressa “para de transporte marítimo celebrado entre o carregador e
embarque”, contendo: o transportador.
a) Os elementos referidos no nº 1 do artigo 499.º; Artigo 507.º

b) O acondicionamento e o estado aparente da Reservas no conhecimento de carga


mercadoria; 1. As reservas apostas pelo transportador no conheci-
c) O nome do navio transportador; mento de carga devem ser claras, precisas e susceptíveis
de motivação.
d) Outros elementos que considere relevantes;
2. O transportador pode omitir no conhecimento de
e) A data. carga os elementos a que se referem as alíneas b) e c)

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1815

do nº 1 do artigo 499º se, pela prática usual no tipo de Artigo 512.º


transporte considerado e face às especificas condições da Impedimento da viagem imputável ao transportador
mercadoria e aos meios técnicos das operações de carga,
se as declarações prestadas pelo carregador não forem 1. Tornando-se a viagem impossível na data ou época
verificáveis em termos de razoabilidade. previstas por causa imputável ao transportador, torna-
se este responsável como se faltasse culposamente ao
Artigo 508.º
cumprimento.
Cartas de garantia
2. Independentemente do direito à indemnização, o
1. As cartas ou acordos pelos quais o carregador se carregador pode resolver o contrato, exigindo a restituição
compromete a indemnizar o transportador pelos danos da parte ou totalidade do frete que já tenha pago.
resultantes da emissão do conhecimento de carga sem
Artigo 513.º
reservas não são oponíveis a terceiros, designadamente ao
destinatário ou ao segurador, mas estes podem prevale- Arribada forçada
cer-se delas contra o carregador.
1. Se o navio tiver que entrar de arribada forçada por
2. No caso das reservas omitidas se referirem a defeitos causa imputável ao transportador deve este responder
da mercadoria que o transportador conhecia ou devia pelo atraso e demais prejuízos causados ao afretador,
conhecer no momento da assinatura do conhecimento conforme as previsões do capítulo seguinte.
de carga, o transportador não pode prevalecer-se de
tais defeitos para exoneração ou para limitação da sua 2. Quando a arribada forçada for devida ao mau tempo,
responsabilidade. perigo para o navio, temor fundado de inimigos ou piratas
ou qualquer outra causa não imputável ao transportador,
Secção II considera-se legítima e as partes devem suportar as suas
Obrigações durante a viagem despesas.

Artigo 509.º 3. O transportador pode proceder à descarga, depósito


e reembarque no porto de descarga sempre que isso for
Navio utilizado para o transporte
necessário para a reparação das avarias sofridas pelo
O transportador deve efectuar o transporte no navio navio ou para a reparação ou adequada conservação das
designado no contrato ou noutro que possa efectuar o mercadorias.
transporte em condições idênticas.
4. O carregador pode resolver o contrato e retirar a sua
Artigo 510.º carga no porto de arribada pagando o frete proporcional
à distância percorrida.
Transporte no convés
5. O disposto nos artigos anteriores, não prejudica o
1. O transporte de mercadorias no convés do navio deve
regime da avaria grossa, previsto no presente Código.
contar com o consentimento do carregador e expresso no
conhecimento de carga. Secção III

2. Dispensa-se o consentimento referido no número Obrigações depois da viagem


anterior, quando se trate de: Artigo 514.º

a) Mercadoria que, por imperativo legal, deva Entrega das mercadorias no destino
seguir no convés;
1. O transportador deve entregar a mercadoria no porto
b) Contentores transportados em navio de descarga ao destinatário ou à entidade que a deve
especialmente construído ou adaptado a esse receber de acordo com os regulamentos locais.
fim ou noutro tipo de navio segundo usos de
tráfego prudentes. 2. Sendo a entrega feita à entidade a que se refere o
número anterior, tem esta o dever de guardar a merca-
3. A Convenção de Bruxelas de 1924 em matéria de co- doria nos termos estabelecidos no contrato de depósito
nhecimentos é aplicável, quanto às causas de exoneração regulado na legislação civil.
legal da responsabilidade do transportador e quanto à
limitação global desta, quando o transporte no convés se 3. Aplica-se igualmente o regime do contrato de de-
processe nos termos dos nºs 1 e 2 deste artigo. pósito sempre que a mercadoria permaneça na posse do
transportador, dos seus trabalhadores ou agentes depois
Artigo 511.º da descarga.
Impedimento da viagem por facto não imputável Artigo 515.º
ao transportador
Recusa em receber a mercadoria
Se a viagem não puder ser empreendida na data ou época
previstas por causa não imputável ao transportador, 1. No caso de o destinatário se recusar a receber a
qualquer das partes pode resolver o contrato, sem que mercadoria ou não reclamar a sua entrega no prazo de
impenda sobre aquele, responsabilidade alguma quanto 20 (vinte) dias após a descarga do navio, o transportador
aos danos sofridos pelo carregador. notifica-o por carta registada com aviso de recepção, se for

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1816 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

conhecido, fixando-lhe mais 10 (dez) dias, para proceder 2. Do mesmo privilégio e com o mesmo grau, gozam os
ao levantamento, dando disso conhecimento também, créditos do transportador pelas contribuições da carga à
pela mesma via, ao carregador. avaria grossa ou pelas recompensas por salvamento, bem
como, demais despesas efectuadas no interesse da carga.
2. Se o destinatário for desconhecido, a notificação
prevista no número anterior é substituída por anúncio 3. Os privilégios sobre a carga extinguem-se quando esta
publicado num dos jornais mais lidos da localidade, seja adquirida por terceiro de boa fé e a título oneroso após 20
contando-se os 10 (dez) dias a partir da publicação, (vinte) dias a contar da data da sua entrega ao destinatário.
cumprindo o disposto na parte final do número anterior.
CAPÍTULO IV
3. Findos os prazos indicados nos números anteriores,
o transportador tem a faculdade de requerer o depósito e Da responsabilidade
venda judiciais da mercadoria, nos termos previstos no Artigo 520.º
Título IV do Livro XI do presente Código.
Regime de responsabilidade
Artigo 516.º
1. O transportador é responsável perante o carregador
Pluralidade de interessados na carga
ou perante terceiro portador do conhecimento de carga
Se mais de uma pessoa, com título bastante, pretender pelas perdas ou danos sofridos na mercadoria ou por atra-
receber a mercadoria no porto de descarga, esta fica à sos na sua entrega, salvo se provar que aqueles tenham
guarda da entidade referida no artigo 514.º até que a sido causados por factos a ele não imputáveis.
autoridade judicial competente decida, a requerimento
2. São nulas as cláusulas de exoneração da responsa-
do transportador ou de qualquer outro interessado, quem
bilidade prevista no número anterior, bem como, as que
tem direito a recebê-la.
pretendam limitar a responsabilidade:
Artigo 517.º
a) Do carregador pelas omissões ou incorrecções na
Garantia de pagamento do frete declaração de carga;
1. O transportador goza de direito de retenção sobre b) Do transportador pelas omissões ou incorrecções
a mercadoria transportada para garantia dos créditos no conhecimento de carga;
emergentes do transporte.
c) Da pessoa que emitiu um conhecimento de carga
2. O transportador pode solicitar o depósito e venda ju- sem ter legitimidade para o fazer.
dicial das mercadorias conforme o procedimento previsto
no Título IV do Livro XI do presente Código. Artigo 521.º

Responsabilidade antes do embarque


3. Se o transportador, no exercício do direito de re-
tenção, mantiver a mercadoria a bordo, fica impedido A responsabilidade do transportador por perdas ou
de reclamar dos interessados indemnização por danos danos sofridos pela mercadoria entre o momento da sua
resultantes da imobilização do navio. recepção e o do seu embarque regem-se pelas disposições
Artigo 518.º do contrato de depósito regulado na legislação civil.
Mercadorias perecíveis Artigo 522.º

Direito de regresso do transportador


1. Quando as situações previstas em qualquer dos 3
(três) artigos precedentes se verificarem relativamente A intervenção de auxiliares, tais como, gestores ou
a mercadorias perecíveis e houver risco de deterioração, agentes marítimos, operadores portuários ou outros não
o transportador deve solicitar de imediato autorização afasta a responsabilidade do transportador perante os
judicial para a venda e notificar a parte contrária se for interessados na carga, salvaguardando-se o direito de
conhecida. regresso deste em relação àqueles.
2. Uma vez obtida a autorização judicial, o transpor- Artigo 523.º
tador pode vender as mercadorias extrajudicialmente e
Privilégio sobre o navio
o preço obtido na venda deve ser depositado à ordem do
tribunal, deduzidos os créditos a que se refere o artigo 1. Nos casos de nulidade do conhecimento de carga, por
seguinte e as despesas em que tenha incorrido. ter sido emitido por pessoa sem legitimidade e sempre
3. Os interessados podem em todo caso impedir a venda que não seja possível identificar o transportador com base
antecipada das mercadorias oferecendo caução idónea. nos elementos contidos no conhecimento, os interessados
na carga podem fazer valer seus créditos contra o navio
Artigo 519.º que efectuou o transporte.
Privilégios sobre a carga
2. A acção a que se refere o número anterior rege-se
1. Os créditos do transportador pelo frete gozam de pelo previsto no artigo 272.º, na alínea g) do nº 1 do artigo
privilégio sobre a carga, graduados a seguir às custas e 273.º, e nos demais do presente Código que regulam os
despesas judiciais feitas no interesse comum dos credores privilégios marítimos, sem prejuízo da responsabilidade
e dos direitos fiscais devidos no porto de descarga. prevista no artigo 504.º.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1817
Artigo 524.º TÍTULO III
Limitação legal de responsabilidade por perda ou dano
DO CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO
A responsabilidade do transportador por perdas ou da- DE PASSAGEIROS
nos sofridos pela mercadoria transportada é determinada
pelo valor da mercadoria no porto ou local de destino, CAPÍTULO I
salvo se no conhecimento de carga estiver declarado o seu Das disposições gerais
valor real, acrescido das despesas e encargos inerentes.
Artigo 530.º
Artigo 525.º
Volumes ou unidades de carga Conceito

1. Quando as mercadorias forem consolidadas, para O contrato de transporte marítimo de passageiros é


transporte, em contentores, paletes ou outros elementos aquele em que o transportador se obriga a transportar
análogos, consideram-se volumes ou unidades de carga uma pessoa a bordo de um navio, de um porto para outro,
todos os que estiverem enumerados no conhecimento de mediante o pagamento do preço da passagem.
carga, bem como, o próprio contentor ou elemento aná-
Artigo 531.º
logo, sempre que tenha sido fornecido pelo carregador.
Regime imperativo
2. Na falta de enumeração no conhecimento dos volu-
mes ou unidades contidas, entende-se que cada contentor, São nulas as cláusulas que pretendam reduzir os
palete ou elemento análogo constitui um só volume ou direitos conferidos aos passageiros no presente Título.
unidade.
Artigo 532.º
Artigo 526.º
Exclusão
Limitação legal de responsabilidade por atraso

1. A responsabilidade do transportador pelo atraso na Excluem-se do âmbito de aplicação do presente Título


entrega das mercadorias é limitada ao valor equivalente o transporte gratuito, seja ou não efectuado por navios
a duas vezes e meia o frete das mercadorias afectadas de comércio, assim como o transporte de passageiros
pelo atraso. clandestinos.

2. Havendo concurso de indemnização por avaria e Artigo 533.º


por atraso, o montante máximo é limitado aos números Factos imputáveis
estabelecidos no número anterior.
Artigo 527.º
1. Para feitos de responsabilidades previstas no pre-
sente Título, entende-se por factos ou causas imputáveis
Perda do direito a limitar a responsabilidade ao transportador as acções ou omissões intencionais ou
O transportador perde o direito de limitar a sua res- negligentes próprias e dos seus auxiliares sejam estes de-
ponsabilidade quando se prove que a perda, o dano ou pendentes, mandatários, ou contratados, conforme o caso.
o atraso na entrega das mercadorias se deveu a acto
2. Para os mesmos efeitos, entende-se por factos ou
negligente ou intencional a ele imputável.
causas imputáveis ao passageiro, as acções ou omissões
Artigo 528.º intencionais ou negligentes.
Aplicação às acções extracontratuais
Artigo 534.º
1. O regime de limitação estabelecido nos artigos pre- Bilhete de passagem
cedentes é ainda aplicável às acções extracontratuais
que os interessados na carga possam dirigir contra o 1. O contrato de transporte marítimo de passageiros
transportador ou directamente contra qualquer dos seus prova-se pelo bilhete de passagem, que deve ser emitido
auxiliares. pelo transportador ou por seu representante e no qual
devem constar:
2. No caso de a acção ser dirigida directamente contra
os auxiliares, perdem estes o direito a limitar a respon- a) A identificação do transportador e do passageiro;
sabilidade, nos mesmos termos previstos para o trans-
portador no artigo anterior. b) O nome do navio;
3. Não obstante o previsto nos anteriores números, a c) O porto de embarque e o de desembarque;
limitação da responsabilidade dos operadores portuários
rege-se pelo previsto no Título VI do presente Livro. d) A data de embarque e de desembarque;
Artigo 529.º e) As condições de viagem e o preço da passagem;
Prescrição
f) A data e local de emissão.
Os direitos a indemnização previstos no presente Título
devem ser exercidos no prazo de 2 (dois) anos a contar 2. O bilhete de passagem é pessoal e intransferível e o
da data em que o lesado teve conhecimento do direito passageiro só pode ceder sua posição contratual, mediante
que lhe compete. consentimento expresso do transportador.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1818 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

CAPÍTULO II 2. Se o impedimento for devido a caso fortuito ou de


força maior tem apenas direito à restituição do preço da
Das obrigações e direitos das partes passagem.
Artigo 535.º Artigo 539.º
Navegabilidade e substituição do navio Deveres do passageiro

1. O transportador deve realizar o transporte num O passageiro obriga-se a cumprir as leis e os regu-
navio em estado de navegabilidade, convenientemente lamentos vigentes e as instruções dadas pelo capitão,
armado, equipado e aprovisionado para a viagem, pro- durante a viagem.
cedendo de modo adequado e diligente à observância das
Artigo 540.º
condições de segurança impostas pelas normas e usos
aplicáveis. Desembarque em porto distinto do porto de destino

2. A viagem deve ser efectuada no navio designado no 1. Se durante a viagem, o passageiro preferir de-
bilhete de passagem e o transportador não pode substituí- sembarcar em porto do itinerário que não seja o do seu
lo por outro sem o consentimento expresso do passageiro. destino, pode fazê-lo, pagando ao transportador o preço
da passagem por inteiro e os suplementos ou despesas
3. Não obstante o previsto no número anterior, em caso adicionais decorrentes do desembarque.
fortuito ou de força maior, o transportador pode substituir
o navio por outro que ofereça qualidades idênticas. 2. O passageiro que tiver de desembarcar num porto
que não seja o do seu destino por causa imputável ao
Artigo 536.º
transportador, tem direito a ser indemnizado pelos danos
Atraso na saída sofridos.
1. Se houver atraso na saída por facto imputável ao 3. Se o desembarque em porto que não seja o de seu
transportador, o passageiro tem direito a: destino for motivado por caso fortuito ou de força maior,
apenas deve pagar o preço da passagem proporcional à
a) Alojamento e alimentação a bordo durante todo distância percorrida.
o tempo da demora, quando a alimentação
estiver incluída no preço da passagem; Artigo 541.º

Bagagem
b) Alojamento e alimentação a expensas
suas, conforme as tabelas de preços do 1. O passageiro tem direito ao transporte gratuito de
transportador, quando a alimentação não sua bagagem de mão ou de cabine, dentro dos limites
estiver incluída no preço da passagem; de peso e volume estabelecidos no bilhete de passagem.
c) Indemnização por danos sofridos. 2. A bagagem que exceda os limites a que se refere o
número anterior deve ser entregue ao transportador para
2. Se o atraso exceder as 12 (doze) horas, o passageiro a guardar e está sujeito a um frete especial, devendo o
tem direito a resolver o contrato. transportador entregar ao passageiro um recibo compro-
Artigo 537.º vativo da bagagem que lhe for confiada.
Apresentação para o embarque e renúncia do transporte Artigo 542.º

Veículos e objectos de especial valor


1. O passageiro deve apresentar-se a bordo uma hora
antes da indicada para a saída do navio. 1. O transporte dos veículos que acompanham o pas-
2. Se o passageiro não se apresentar a bordo para o sageiro rege-se pelas normas contidas no artigo anterior
embarque, deve pagar o preço da passagem por inteiro, relativas à bagagem entregue à guarda do transportador.
salvo em caso de falecimento, doença ou outra causa de 2. O passageiro pode entregar ao capitão, para guarda,
força maior que impeça o passageiro de seguir viagem, os objectos de especial valor que leve consigo a bordo e,
comunicada ao transportador antes do início da viagem, não o fazendo, não tem direito a indemnização por furto
em que é devida apenas metade do preço. ou dano dos mesmos, durante a viagem.
3. O passageiro pode renunciar ao transporte contrata- Artigo 543.º
do e tem direito à devolução do preço da passagem quando Desvio de rota
o comunique ao transportador ou a seu representante com
uma antecedência mínima de 24 (vinte e quatro) horas à 1. Se por desvio de rota imputável ao transportador,
prevista para a saída do navio. o navio alterar as escalas previstas, o passageiro tem
direito a indemnização por danos sofridos, bem como, ao
Artigo 538.º
alojamento e à alimentação durante o tempo do desvio,
Impedimento da viagem ainda que não estiverem incluídos no preço da passagem.
1. Se o passageiro não puder realizar a viagem por 2. No caso previsto no número anterior, o passageiro
motivo imputável ao transportador, tem direito à res- pode optar por resolver o contrato e desembarcar num
tituição imediata do preço da passagem assim como à dos portos de escala, sem prejuízo da indemnização que
indemnização por danos sofridos. lhe corresponda.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1819

3. Não há lugar à indemnização prevista nos números 2. O contrato de reboque pode ser de reboque manobra,
anteriores, se o desvio derivar de caso fortuito ou de força de reboque oceânico, de reboque transporte ou de reboque
maior ou da necessidade de salvar pessoas ou bens no mar. salvamento.

CAPÍTULO III Artigo 548.º

Regime aplicável
Da responsabilidade do transportador
1. Na falta de acordo entre as partes, o contrato de
Artigo 544.º
reboque rege-se pelas disposições deste Título.
Responsabilidade por danos pessoais
2. O contrato de reboque manobra rege-se, além do
1. O transportador responde pelos danos que o passa- mais, pelo previsto no Capítulo II do Título I do Livro III
geiro sofra a bordo do navio, durante a viagem, e ainda do presente Código e na regulamentação portuária dos
pelos que ocorram desde o inicio das operações de embar- serviços portuários náuticos.
que até ao fim das operações de desembarque, quer nos
3. O reboque salvamento rege-se pelas normas contidas
portos de origem quer nos portos de escala, sempre que
no Título III do Livro VIII do presente Código.
os danos se devam a factos imputáveis ao transportador.
Artigo 549.º
2. A prova da intenção ou culpa do transportador ou
Factos imputáveis
seus auxiliares e, sobretudo, do incumprimento da obri-
gação de navegabilidade a que se refere o artigo 538.º Para efeitos deste Título entende-se por factos impu-
incumbe ao passageiro. táveis ao armador do navio rebocador ou do rebocado,
conforme o caso, as acções ou omissões intencionais ou
3. Sem prejuízo do disposto no número anterior, quando
negligentes assim como as dos seus auxiliares utilizados
os danos sofridos pelo passageiro ocorram por ocasião
na operação de reboque.
de naufrágio, abordagem, explosão, incêndio, ou outro
acidente, incumbe ao transportador provar que os danos Artigo 550.º
não resultaram da navegabilidade do navio e que os factos Prescrição
não lhe são imputáveis.
As acções emergentes do contrato de reboque prescre-
Artigo 545.º vem no prazo de 1 (um) ano a contar da conclusão das
Responsabilidade por danos materiais operações.

1. A responsabilidade do transportador perante o pas- CAPÍTULO II


sageiro pela bagagem de mão ou de cabine rege-se pelo Da direcção do reboque e da responsabilidade
disposto no artigo anterior. por danos
2. A responsabilidade do transportador pela bagagem Artigo 551.º
que lhe tenha sido confiada e para com os veículos que Reboque portuário
acompanham o passageiro rege-se pelas disposições
aplicáveis ao contrato de transporte marítimo de mer- 1. Na falta de acordo em contrário, compete ao capitão
cadorias. do navio rebocado a direcção da operação do reboque
portuário, cujas instruções devem seguir o capitão do
Artigo 546.º
rebocador.
Prescrição
2. Salvo prova em contrário, presume-se que o armador
O direito a indemnização pelo incumprimento do do navio rebocado responde por todos os danos causados
contrato de transporte marítimo de passageiros deve ao rebocador ou a terceiros em consequência das opera-
ser exercido no prazo de 2 (dois) anos a contar da data ções de reboque.
do desembarque ou daquela em que deveria realizar-se.
3. A presunção estabelecida no número anterior in-
TÍTULO IV verte-se no caso de existir acordo escrito entre as partes
em virtude do qual se confie a direcção das operações de
DO CONTRATO DE REBOQUE MARÍTIMO reboque ao capitão do rebocador.
CAPÍTULO I Artigo 552.º

Reboque oceânico
Das disposições gerais
1. As operações do reboque oceânico são realizadas
Artigo 547.º
sob a direcção do capitão do navio rebocador, pelo que,
Conceito e classes presume-se da responsabilidade do seu armador, os danos
que lhe sejam imputáveis, causados ao navio rebocado
1. O contrato de reboque é aquele que o armador de ou a terceiros.
um rebocador ou de outro navio se obriga, mediante um
preço, a realizar a manobra necessária para a deslocação 2. Mediante acordo escrito, as partes podem inverter a
de outro navio ou bem ou a prestar sua colaboração para presunção de responsabilidade estabelecida no número
as manobras do navio rebocado. anterior.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1820 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 553.º 3. O disposto nos números anteriores aplica-se igual-
Responsabilidade perante terceiros por culpa comum mente nos casos em que, com o consentimento expresso
ou tácito do capitão ou do oficial, o piloto ordene directa-
1. Os armadores do navio rebocador e do rebocado são mente a manobra ou a execute pessoalmente.
solidariamente responsáveis pelos danos causados a
terceiros pelo trem de reboque no caso de os danos lhes CAPÍTULO II
serem imputáveis.
Da responsabilidade por danos
2. Em todo caso reserva-se o direito de regresso aos Artigo 558.º
armadores em função do grau da respectiva culpa.
Responsabilidade por danos causados ao navio
Artigo 554.º

Reboque transporte
Os danos e acidentes causados ao navio por inexactidão
ou omissão da assessoria que o piloto deva prestar ao
1. O contrato de reboque transporte, é aquele em que capitão, são imputáveis àquele, sem prejuízo da concor-
o armador de um rebocador assume a obrigação de tras- rência de culpa com o capitão, se este cometer erros ou
ladar por via marítima um navio desprovido de meios de actuar com negligência no seguimento das instruções
propulsão ou outros necessários para cooperar no governo recebidas.
do trem de reboque.
Artigo 559.º
2. No reboque transporte presume-se, salvo prova em Responsabilidade por danos causados a terceiros
contrário, que o armador do navio rebocador recebeu à
sua guarda o navio rebocado e demais bens que se en- 1. O piloto responde perante terceiros pelos danos a es-
contram a bordo, sendo responsável pelos danos, que se tes causados em consequência de actos a ele imputáveis,
provar serem devidos a factos que lhe são imputáveis. ainda que, pelos danos causados por culpa partilhada res-
pondem solidariamente, o piloto, o capitão e o armador.
3. Nos mesmos termos responde o armador do navio
rebocador pelos danos que o trem de reboque possa cau- 2. Em todo o caso os terceiros podem exigir directa-
sar a terceiros. mente ao armador a indemnização pelos danos sofridos
em consequência da abordagem com piloto a bordo, sem
TÍTULO V
prejuízo do direito de regresso que possa corresponder
DO CONTRATO DE PILOTAGEM ao armador, ao piloto ou ao capitão.

CAPÍTULO I Artigo 560.º

Responsabilidade dos prestadores de serviços e das


Conceito e deveres do piloto e do capitão administrações portuárias
Artigo 555.º
O disposto nos artigos precedentes não prejudica a
Conceito responsabilidade que possa corresponder aos prestado-
Pelo contrato de pilotagem uma pessoa denominada res dos serviços portuários náuticos e à administração
piloto obriga-se, mediante um preço, a assessorar o portuária conforme o disposto no Título I do Livro III do
capitão a bordo na realização das diversas operações e presente Código.
manobras para a segura navegação de navios por águas Artigo 561.º
portuárias ou adjacentes.
Limitação de responsabilidade
Artigo 556.º
O regime estabelecido no artigo anterior não prejudica
Deveres recíprocos
o direito de limitação da responsabilidade conforme o
1. Capitão e piloto se obrigam a determinar em conjun- previsto no Livro IX do presente Código.
to a manobra do navio e a trocar informações necessárias
TÍTULO VI
à realização da mesma.
DO CONTRATO DE MANUSEAMENTO
2. Não obstante o disposto no número anterior, capi-
DE MERCADORIAS
tão e piloto devem colaborar reciprocamente durante a
execução das manobras. CAPÍTULO I
Artigo 557.º
Das disposições gerais
Preeminência do capitão
Artigo 562.º
1. A presença do piloto a bordo do navio, mesmo quando Conceito e forma
obrigatória, não implica a perda do comando pelo capi-
tão nem o exonera dos seus deveres e responsabilidades 1. O contrato de manuseamento de mercadorias é
relativos ao governo e direcção náutica. aquele em que um operador portuário se compromete,
mediante um preço, a realizar alguma, várias ou todas
2. A presença do piloto a bordo, não exonera igualmente as operações seguintes:
o oficial encarregado da guarda dos deveres que lhe com-
petem sobre a segurança da navegação. a) Carga, descarga, estiva ou desestiva de navios;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1821

b) Recepção, classificação, depósito e armazenamento lidariamente responsável com o carregador, pelos danos
da carga no cais ou armazéns portuários; causados a terceiros, pelas mercadorias indevidamente
recebidas.
c) Movimento da carga dentro da zona portuária;
2. As mercadorias perigosas entregues ao operador sem
d) Outras operações materiais similares ou conexas serem declaradas como tais, por constituírem um risco
às anteriores. para as pessoas ou para os bens, podem ser por aquele,
2. O contrato de manuseamento de mercadorias pode destruídas ou transformadas em inofensivas, sem direito
ser concluído de forma expressa ou tácita. a indemnização para os seus titulares.
3. Os carregadores, se conhecerem a perigosidade das
3. Entende-se tacitamente concluído o contrato:
mercadorias e a omitirem ao operador, respondem pelos
a) No porto de carga, com a entrega da mercadoria danos causados em consequência do manuseamento
pelo carregador ao operador portuário; dessas mercadorias perigosas ou que não cumpram as
prescrições a que se refere o nº 1.
b) No porto de descarga, pela entrega da mercadoria
Artigo 566.º
feita pelo transportador ao operador portuário
para a sua entrega ao destinatário ou para Documentação
seu transbordo. 1. O operador portuário pode emitir um recibo escrito
Artigo 563.º no qual deve constar a recepção das mercadorias para
manuseamento, o estado em que se encontram, as quan-
Parte contratante das operações
tidades e demais anotações que considere pertinentes.
1. As operações de manuseamento portuário das mer- 2. O recibo escrito pode ser substituído por um mero
cadorias podem ser contratadas pelo transportador, pelo aviso de recepção com a data e a assinatura do operador
carregador, pelo destinatário, ou por seus auxiliares que em qualquer documento que lhe apresente o carregador
tenham assumido a obrigação de as contratar. ou destinatário das mercadorias no qual estas ficam
devidamente identificadas.
2. Na falta de acordo expresso presume-se que a ope-
ração foi contratada: 3. A emissão e assinatura do documento que ateste a
recepção das mercadorias são obrigatórias se solicitadas
a) Pelo carregador, quando a prestação principal pelo carregador ou o destinatário das mesmas, cabendo
consista na colocação da mercadoria a bordo ao operador escolher entre a emissão do recibo escrito ou
do navio ou na sua entrega ao transportador; a prestação de um mero aviso de recepção.
b) Por conta do destinatário, quando a prestação 4. Na falta de recibo ou do aviso de recepção, presume-
principal consista na recepção da mercadoria se que o operador recebeu as mercadorias e em boas
a bordo do navio no porto de descarga; condições, salvo prova em contrário.
c) Por conta do transportador, quando se trate Artigo 567.º
de operações de carga, descarga, estiva, Direito de retenção
desestiva ou manuseamento a bordo.
O operador portuário tem direito a reter as mercadorias
CAPÍTULO II em seu poder, enquanto não lhe for pago o preço devido
pelo manuseamento das mesmas.
Das obrigações e direitos das partes
Artigo 568.º
Artigo 564.º
Recusa na recepção das mercadorias
Obrigações do operador
1. Se o destinatário for desconhecido, não se apresentar
1. O operador portuário deve realizar as operações de ou recusar a recepção das mercadorias, o operador portu-
manuseamento previstas no nº 1 do artigo 562.º que em ário deve armazená-las em regime de depósito.
cada caso couber. 2. Se a armazenagem ou depósito em condições ade-
2. Quando o operador portuário actua por conta dos quadas de conservação não for possível, o operador fica
destinatários das mercadorias deve efectuar em tempo desobrigado da obrigação de guardar as mercadorias,
e forma adequada os protestos ou denúncias sobre o decorridos 48 (quarenta e oito) horas após a notificação
estado e condições das mercadorias no momento em que do aviso da chegada ou da tentativa de notificação.
as receber do transportador, responsabilizando-se pelos CAPÍTULO II
prejuízos sofridos em consequência da sua omissão ou
realização extemporânea. Da responsabilidade do operador portuário
Artigo 569.º
Artigo 565.º
Fundamento da responsabilidade do operador portuário
Mercadorias perigosas
1. O operador portuário responde pelos danos, perdas
1. O operador deve recusar receber as mercadorias cuja ou atrasos na entrega das mercadorias a ele confiadas,
natureza perigosa lhe seja conhecida e não cumpra as salvo se provar que aquelas se deveram a causas ou factos
prescrições a que se refere o artigo 124.º tornando-se so- que lhe não são imputáveis.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1822 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. O período da responsabilidade do operador inicia- tem acção directa contra o operador para reclamar aque-
se no momento em que recebeu a mercadoria e termina la responsabilidade, sem prejuízo de poder reclamá-la
no momento em que procedeu à entrega ou a colocou à também contra o transportador.
disposição da pessoa com legitimidade para a receber.
Artigo 575.º
3. A menos que se tenha dado ao operador portuário Prescrição
aviso escrito da perda ou dano sofrido pelas mercadorias,
descrevendo em termos gerais sua natureza, dentro dos As reclamações por perdas, danos ou atrasos na entrega
3 (três) dias úteis seguintes à entrega, presume-se, salvo das mercadorias manuseadas prescrevem no prazo de
prova em contrário, que foram entregues na mesma con- 2 (dois) anos após a entrega pelo operador responsável
dição descrita no recibo de recepção ou, se não se emitiu ou a contar da data em que deveriam ser entregues, nos
dito recibo, em boa condição. casos de perda total.

4. O prazo a que se refere o número anterior é de 15 LIVRO VIII


(quinze) dias úteis em caso de danos não aparentes.
DOS RISCOS DE MAR E ACIDENTES
Artigo 570.º DA NAVEGAÇÃO
Carácter imperativo da responsabilidade
TÍTULO I
O regime de responsabilidade do operador por perdas,
DAS AVARIAS
danos ou atrasos na entrega das mercadorias estabele-
cido neste Título não pode ser alterado ou modificado CAPÍTULO I
contratualmente em prejuízo do contratante do serviço.
Das disposições gerais
Artigo 571.º
Artigo 576.º
Limitação legal da responsabilidade
Conceito de avarias
A responsabilidade do operador portuário é limitada
nos termos constantes de regulamento a aprovar pelos 1. São avarias todas as despesas ou sacrifícios extra-
membros do Governo responsáveis pelas áreas da admi- ordinários feitos com o navio ou com sua carga, conjunta
nistração marítima e finanças. ou separadamente, e todos os danos extraordinários que
aconteçam ao navio ou à carga desde o embarque e car-
Artigo 572.º
regamento até ao desembarque e descarga.
Perda do direito a limitar a responsabilidade
2. Não são reputadas avarias, as simples despesas
O operador portuário não tem direito a limitar a sua previsíveis e a cargo do navio, tais como os custos de
responsabilidade se se provar que causou a perda, o dano pilotagem, rebocadores de porto, amarração, direitos ou
ou o atraso na entrega das mercadorias intencional ou taxas de navegação ou porto e despesas necessárias para
negligente. aligeirar o navio a fim de passar os baixos ou bancos de
areia conhecidos, seja à saída do lugar de partida ou à
Artigo 573.º
entrada do lugar do destino.
Aplicação do regime de responsabilidade às diversas acções
Artigo 577.º
1. O regime de responsabilidade do operador portuá- Avarias grossas e avarias simples
rio e sua limitação estabelecido nos artigos anteriores é
aplicável às acções de indemnização por danos, perdas 1. As avarias se classificam em avarias grossas ou
ou atrasos, independentemente de serem contratual ou comuns e avarias simples ou particulares.
extracontratual e, podem ser dirigidas contra o operador
portuário ou contra os seus auxiliares que participaram 2. São avarias grossas ou comuns as que têm por ob-
no cumprimento da prestação. jecto evitar um perigo ou desastre imprevisto e procurar
a segurança ou salvamento comum dos bens e interes-
2. Sendo a acção dirigida directamente contra os au- ses envolvidos na expedição marítima de um navio de
xiliares, estes perdem o direito à limitação da responsa- comércio dedicado ao transporte de mercadorias, desde
bilidade, nos termos previstos para o operador no artigo que as despesas, danos ou sacrifícios produzam algum
precedente. resultado útil.
Artigo 574.º 3. São avarias simples ou particulares, todas as outras
Legitimação e acções avarias.
Artigo 578.º
1. A responsabilidade do operador portuário por danos
ou perdas das mercadorias manuseadas pode ser exigida, Regime aplicável às avarias grossas
por quem contratou com o operador as correspondentes
operações. 1. A determinação e liquidação das avarias grossas são
reguladas por convenção das partes e, subsidiariamente
2. O destinatário das mercadorias transportadas cujo pelas disposições do presente Título, sem prejuízo do
manuseamento tenha sido assumido pelo transportador previsto nos Livros X e XI.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1823

2. Tratando-se de navios estrangeiros, a determinação j) As despesas de entrada e saída em porto de


e liquidação da avaria grossa rege-se pela lei acordada pe- arribada forçada, ou as de retorno ao porto
las partes e, na falta desta, pela lei do pavilhão do navio. de saída, por efeito de caso fortuito, ou dum
sacrifício ou qualquer causa extraordinária;
3. É nula a cláusula contratual que confere ao armador
o direito a escolher unilateralmente o regime aplicável k) As despesas de reboque, transbordo e
às avarias grossas, após a verificação destas. prosseguimento da viagem da carga, quando
Artigo 579.º o navio carece de ser reparado no porto de
arribada e pode sê-lo mais economicamente
Regime aplicável às avarias simples num outro porto, mas até à concorrência da
As avarias simples produzidas no navio ou às merca- economia efectuada;
dorias regem-se pelas disposições contidas nos Títulos II
l) Os salários e a alimentação do capitão e dos
a V deste Livro e nos Livros VII, IX, X e XI do presente
demais membros da tripulação, quando o
Código, conforme o caso.
navio entrar num porto por arribada forçada,
CAPÍTULO II para efectuar reparações ou por outra causa
extraordinária e até cessar o perigo que
Dos casos que constituem avarias grossas determinou a arribada, ou até o navio ficar
Artigo 580.º capaz de prosseguir a viagem, excluindo-
se os salários e alimentação posteriores à
Situações de avaria grossa
declaração da inavegabilidade ou interrupção
Sempre que ocorram as circunstâncias previstas no nº da viagem;
2 do artigo 585.º considera-se avaria grossa, em especial:
m) As despesas das reparações provisórias de
a) O alijamento ao mar dos bens existentes a bordo; avarias particulares do navio, quando este,
sem aquelas reparações, não podia continuar
b) Os danos que a operação do alijamento causar ao
a viagem, por as ditas avarias constituírem
navio ou aos demais bens que permaneçam a
perigo comum; mas da avaria comum é
bordo;
descontado o que for utilizável das reparações
c) Os danos produzidos pela entrada de água pelas provisórias para as reparações definitivas;
escotilhas abertas ou por outra abertura feita
para realizar o alijamento; n) Os danos causados ao navio ou à carga, ou a um
e a outro, seja para a extinção dum incêndio a
d) Os danos ou destruição de mastros, vergas, velas bordo, seja para esgotar a água, ou para facilitar
e outros aprestos e acessórios do navio; a salvação comum do navio e da carga;
e) Os danos causados ao navio, aparelhos máquinas o) As despesas de tratamento e alimentação das
e caldeiras ou outras partes integrantes nos pessoas feridas e adoecidas em defesa ou por
esforços feitos unicamente para o desencalhar, efeito dos trabalhos de salvação do navio, e
bem como o abandono de âncoras, amarrais, as despesas dos funerais dos que morreram
cabos e outros objectos, determinado pelo pelas mesmas causas;
mesmo fim;
p) As despesas feitas para o resgate do navio de
f) As despesas de descarga, reembarque e re-estiva presa ou embargo, quando a respectiva causa
de mercadorias, combustível e provisões, bem não proveio do navio, do armador, do capitão
como as de guarda, armazenagem e depósito ou aos demais membros da tripulação, e bem
e as perdas e danos resultantes destas assim os salários e sustento da tripulação
operações; durante as respectivas diligências;
g) As perdas e danos motivados por operações de
q) As despesas judiciais e extrajudiciais relativas
encalhe ou varação e desencalhe voluntário
à avaria grossa, feitas em proveito de todos
do navio, em caso de perigo iminente;
os interessados, inclusive as que foram
h) As despesas de reparação dos danos do navio, necessárias para a rejeição de reclamações
derivados dum sacrifício ou dum acidente de infundadas, designadamente os honorários
mar durante a viagem e necessário para o dos peritos, reguladores e advogados.
prosseguimento da mesma viagem; Artigo 581.º
i) As partes integrantes, os acessórios e as provisões Bens salvos com sacrifício de outros bens
do navio gastos como combustível, se o navio
tiver sido suficientemente abastecido de Quando os bens de alguns interessados forem salvos
combustível, devendo levar-se a crédito da durante a viagem e por decisão do capitão, com sacrifício
avaria comum o valor do combustível, que dos bens de outros interessados, o sacrifício é indem-
seria normalmente consumido, calculado pelo nizado pelos beneficiados na proporção da vantagem
preço corrente no último porto de partida e na alcançada por cada um deles, ainda que não se verifique
data desta; todos os elementos da avaria grossa.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1824 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 582.º Artigo 586.º

Prioridades no alijamento Exclusão de objectos pessoais e mantimentos

Sempre que haja necessidade de proceder ao lança- Os objectos de uso pessoal, o vestuário e os salários dos
mento dos bens ao mar para a segurança comum, deve tripulantes, as bagagens de mão ou de cabine dos passa-
o capitão, se possível, lançar ao mar, as coisas menos geiros, bem como os mantimentos a bordo na quantidade
necessárias, mais pesadas e de menor valor, as que esti- necessária para a viagem ficam excluídos da massa da
verem no convés, e sucessivamente as demais. avaria grossa.
Artigo 587.º
Artigo 583.º
Valor do navio
Culpa dos intervenientes
1. O navio, com todas suas partes integrantes e aces-
1. As regras relativas à avaria comum devem aplicar-se sórios distintos dos víveres referidos no artigo anterior,
ainda quando o perigo, causa directa da avaria comum, foi contribui pelo seu valor no lugar da descarga das merca-
provocado, quer por culpa do Comandante, da tripulação dorias, ou pelo preço da sua venda, deduzida a importân-
ou dum co-interessado na carga, quer por vício próprio do cia das avarias particulares e dos consumos realizados
navio ou da mercadoria carregada; mas os contribuintes desde o acto da avaria grossa.
da avaria comum tem contra o responsável, acção de
regresso, independente da reparação da dita avaria. 2. Não obstante, os aparelhos, aprestos ou outras par-
tes integrantes a bordo lançados ao mar, bem assim, as
2. O direito de regresso previsto no número anterior âncoras, amarras ou outros objectos abandonados, ainda
caduca se não for exercido no prazo de 1 (um) ano, a que voluntariamente e para a salvação comum, só são
contar da data em que o interessado teve conhecimento considerados para a formação da massa da avaria grossa
da regulação. quando constem da documentação ou planos do navio ou
estejam devidamente descritos no inventário de bordo.
CAPÍTULO III
Artigo 588.º
Da massa devedora e massa credora
Valor das avarias do navio
da avaria grossa
Artigo 584.º
1. Se as avarias do navio admitidas na repartição fo-
rem reparadas antes da liquidação da avaria comum, o
Quem suporta as avarias valor a considerar deve ser o correspondente aos custos
razoáveis da reparação.
As avarias grossas são suportadas proporcionalmente
entre o navio, a carga e o frete, a vencer, na proporção 2. Se as avarias não forem reparadas antes da liqui-
do respectivo valor. dação da avaria grossa, o valor a considerar deve ser o
provavelmente correspondente aos custos razoáveis da
Artigo 585.º reparação.
Integração das massas Artigo 589.º

1. Para efeitos da repartição da avaria grossa, forma-se Diferença entre o novo pelo velho
um capital contribuinte, denominado massa passiva ou
1. Na indemnização a pagar ao navio, por substituição
devedora, constituído com os elementos seguintes:
de suas partes integrantes, deduz-se a diferença entre
a) O valor líquido total, que os bens salvos teriam o velho e o novo, caso o navio tenha mais de 15 (quinze)
ao tempo e lugar da descarga, uma vez anos de idade.
deduzidas as avarias particulares sofridas 2. Se o navio avariado for vendido, ou se os objectos
durante a viagem; alijados forem salvos, ou os aparelhos e aprestos ou
outras partes integrantes substituídos tiverem algum
b) O frete líquido em risco para o armador, quer seja
valor, todos esses valores devem ser descontados antes
devido pelo carregador quer pelo destinatário
da dedução da diferença entre o velho e o novo.
ou já tenha sido recebido, mas deve ser
devolvido no caso de perda da mercadoria; Artigo 590.º

Fixação do valor contribuinte das mercadorias


c) A massa activa ou credora, conforme o
estabelecido no número seguinte. 1. As mercadorias ou outros bens que devam contribuir
para a avaria comum assim como os objectos alijados ou
2. O conjunto dos interesses sacrificados na avaria gros-
sacrificados são avaliados segundo o seu valor, no porto
sa constitui a massa activa ou credora e é formada pelo
efectivo de descarga, com dedução do frete, dos respecti-
valor que aqueles tiverem ao tempo e lugar da chegada
vos direitos aduaneiros e os gastos de descarga.
ao porto de descarga.
2. Estando designados nos conhecimentos de embarque
3. O disposto neste artigo não prejudica as regras es- a qualidade e o valor das mercadorias, se estas valerem
peciais previstas nos artigos seguintes. mais, contribuem por este valor, quando sejam salvas

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1825

e pelo mesmo valor devem ser pagas; mas, em caso de CAPÍTULO IV


avaria particular, prevalece o valor declarado nos conhe-
cimentos de carga. Da declaração e liquidação da avaria grossa
Artigo 597.º
3. Se as mercadorias tiverem valor inferior ao declarado
nos conhecimentos de embarque, contribuem por este Declaração da avaria grossa
valor se forem salvas, mas é aplicável o verdadeiro valor
A declaração de avaria grossa faz-se por iniciativa
para efeitos de indemnização em avaria grossa.
do capitão e, deixando este de a promover, pela dos
Artigo 591.º proprietários do navio ou da carga ou seus seguradores,
Mercadorias vendidas
sem prejuízo da responsabilidade do capitão que deixou
de o fazer.
Se as mercadorias carregadas forem vendidas para Artigo 598.º
salvação comum, devem ser indemnizadas pelo seu valor
no lugar de descarga ou pelo valor obtido na venda se Liquidação da avaria grossa
este for superior.
1. A liquidação da avaria grossa pode ser judicial ou
Artigo 592.º extrajudicial.
Mercadorias não declaradas 2. A liquidação judicial da avaria grossa é feita con-
forme as previsões contidas no Título V do Livro XI do
As mercadorias ou outros bens de que não haja conhe-
presente Código.
cimento de embarque, recibo ou declaração do capitão
não são admitidos em avaria grossa quando forem sacri- 3. É válida a cláusula constante do conhecimento de
ficados mas contribuem se forem salvas, sem prejuízo do embarque ou da carta-partida que estipule a forma e o
direito do armador ao respectivo frete. lugar de liquidação da avaria grossa, bem como das regras
Artigo 593.º ou disposições legais que a liquidação deve obedecer.

Mercadorias no convés Artigo 599.º

Repartição entre os contribuintes


1. A perda ou danos causados à carga transportada no
convés, seja por alijamento ou por outro motivo, não são 1. A repartição entre os interesses contribuintes na
admitidas em avaria grossa se transportados no convés avaria grossa faz-se por aplicação do coeficiente de ava-
sem autorização do carregador quando necessária. rias ao valor contribuinte de cada um.
2. Não obstante, as mercadorias a que se refere o nú- 2. O coeficiente de avarias é igual à proporção existente
mero anterior contribuem para a avaria grossa se forem entre o valor das despesas e sacrifícios, massa activa e
salvos. a totalidade dos valores contribuintes, massa passiva.
Artigo 594.º
3. Em caso de falência ou insolvência de algum dos
Mercadorias transbordadas contribuintes a sua parte é repartida pelos outros pro-
porcionalmente aos seus interesses.
1. As disposições relativas às avarias grossas são tam-
bém aplicáveis às mercadorias e bens transbordados para Artigo 600.º
aligeirar o navio em situação de perigo. Avarias grossas sucessivas

2. A perda das mercadorias ou bens depois de trans- No caso de se verificarem durante a viagem avarias
bordados deve ser suportada pelo navio aligeirado e por grossas sucessivas, são liquidadas no final da viagem
todo o seu carregamento. como se fossem uma única avaria, salvo quanto às
Artigo 595.º mercadorias embarcadas e desembarcadas em porto
intermédio, as quais não contribuem para as avarias
Alijamento e posterior naufrágio do navio grossas anteriores ao seu embarque ou posteriores ao
seu desembarque.
No caso de alijamento, se o navio se tiver salvado do
perigo que o motivou, mas continuando a viagem vier a Artigo 601.º
perder-se depois, as mercadorias e os objectos salvos do
Perda do direito de acção por avaria grossa
segundo perigo são obrigados a contribuir para pagamen-
to da perda dos que foram alijados na primeira ocasião. 1. O armador não pode intentar acção por avaria grossa
Artigo 596.º
contra o afretador, carregador ou destinatário se o capi-
tão entregou as mercadorias sem protesto ou reserva do
Perda de frete direito de acção.
A perda de frete resultante de uma perda ou de um 2. O afretador, carregador ou destinatário não podem
dano sofrido pela carga é indemnizada em avaria grossa, igualmente exercer a mesma acção contra o armador se
mas da importância do frete bruto devem ser deduzidas receberem as mercadorias sem protesto de reclamar a
as despesas que o armador faria para o ganhar e que não contribuição pelas avarias grossas, verificadas no acto
fez, em virtude do sacrifício. da recepção.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1826 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

TÍTULO II Artigo 606.º

Abalroação por culpa de um dos navios


DA ABALROAÇÃO
Sendo a abalroação causada por culpa do armador de
CAPÍTULO I um dos navios ou por seus tripulantes ou outros auxi-
Das disposições gerais liares dependentes, ou mandatários, o armador do navio
culpado é o responsável de todos os danos causados.
Artigo 602.º
Artigo 607.º
Conceito e regime Abalroação por culpa de ambos navios

1. Entende-se por abalroação o choque entre dois ou 1. Havendo concurso de culpas na abalroação, cada um
mais navios fundeados ou atracados ou em movimento, dos armadores responde na proporção da gravidade da
desde que não estejam ligados entre si por um contrato, sua própria culpa.
do qual resulte danos.
2. Não existe solidariedade relativamente a terceiros
2. A responsabilidade civil pelos danos causados aos pelos danos decorrentes da abalroação, salvo tratando-se
navios rege-se pelos tratados e convenções internacio- de morte ou de ofensas corporais.
nais vigentes em Cabo Verde e, subsidiariamente, pelas Artigo 608.º
disposições do presente Título, salvo nos casos em que Abalroação por culpa de terceiro navio
os navios afectados estejam vinculados por um contrato
de reboque ou por um contrato de outra natureza que Quando um navio abalroar outro, por culpa de um
contemple de forma diversa essa responsabilidade. terceiro navio, o armador deste responde por todos os
danos causados.
Artigo 603.º
Artigo 609.º
Extensão do regime da abalroação Direito de regresso contra os autores

As disposições do presente Título aplicam-se ainda à A responsabilidade dos armadores estabelecida nos
responsabilidade civil emergente dos danos que, quer artigos anteriores não isenta o capitão, membros da tri-
por execução ou omissão de uma manobra quer por ino- pulação ou outros auxiliares dependentes ou mandatários
bservância de regulamentos, um navio houver causado da responsabilidade para com os lesados, se a abalroação
a outro ou aos bens ou pessoas a bordo, mesmo que não se deveu a acto culposo destes e gozam do direito de re-
tenha havido abalroação. gresso contra os responsáveis pela abalroação.
Artigo 604.º Artigo 610.º
Abalroação com piloto a bordo
Normas de conflito sobre abalroação
Se se verificar a abalroação com piloto a bordo, aplicam-
1. As questões relativas à responsabilidade civil nas- se as normas contidas no Capítulo II do Título V do Livro
cida de abalroação são reguladas pela Lei do Estado VII do presente Código.
ribeirinho, se a abalroação ocorrer em seus portos ou
demais águas interiores, em suas águas arquipelágicas Artigo 611.º
ou no seu mar territorial. Prescrição

2. Se a abalroação ocorrer em águas distintas das as- 1. As acções de indemnização previstas neste Título
sinaladas no número anterior, a responsabilidade civil devem ser exercidas no prazo de 2 (dois) anos a contar
nascida de abalroação é determinada: da data da abalroação.
2. As acções de regresso entre os responsáveis devem
a) Pela Lei da nacionalidade comum dos navios, se
ser exercidas no prazo de 1 (um) ano a contar da data
estes tiverem a mesma nacionalidade.
do pagamento.
b) Pela Lei do Estado a que pertença a autoridade 3. O prazo contemplado no nº 1 é suspenso se o navio
judicial escolhida pelas partes ou na falta desta, responsável não for apreendido na jurisdição de Cabo Verde.
pela lei do tribunal competente, conforme as
convenções internacionais aplicáveis, se os TÍTULO III
navios tiverem nacionalidades diferentes. DO SALVAMENTO DE BENS NO MAR
CAPÍTULO II CAPÍTULO I

Da responsabilidade civil nascida da abalroação Das disposições gerais


Artigo 612.º
Artigo 605.º
Conceito e classes de salvamento
Abalroação fortuita
1. Salvação marítima ou operação de salvamento é todo
A abalroação de navios por acidente fortuito ou devido acto ou actividade que vise prestar socorro a navios ou
a caso de força maior, não dá direito a qualquer indemni- outros bens que se encontrem em perigo no mar, incluindo
zação, suportando cada navio os danos que tiver sofrido. o frete em risco.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1827

2. Não se considera operação de salvamento a assis- b) Se o contrato de salvação marítima tiver sido
tência prestada a bens fixados de maneira permanente celebrado em Cabo Verde;
e intencional à costa.
c) Se o salvador e o salvado forem de nacionalidade
3. O salvamento pode ser contratual, quando seja pre- cabo-verdiana;
cedido da celebração de um contrato de salvamento nos
termos previstos no Capítulo seguinte ou extracontratual, d) Se a sede, sucursal, filial ou delegação de
nos outros casos. qualquer das partes se localizar em território
cabo-verdiano;
Artigo 613.º
e) Se a operação de salvamento ocorreu em águas
Salvador e salvado sob jurisdição nacional.
1. Salvador é o que presta socorro aos bens em perigo, 2. Nas situações não previstas no número anterior, a
utilizando meios marítimos, aéreos ou terrestres. competência internacional dos tribunais de Cabo Verde
para julgamento das acções emergentes de salvação
2. Salvado é o proprietário ou armador dos bens objecto marítima é determinada de acordo com as regras gerais.
das operações de socorro.
CAPÍTULO II
Artigo 614.º
Dos contratos de salvação marítima
Salvação relativa a navios de Estado
Artigo 617.º
1. O disposto neste Título aplica-se igualmente às ope-
rações de salvamento realizadas por navios ou aeronaves Liberdade de pacto
do Estado ou por quaisquer outros meios públicos.
As partes interessadas podem celebrar, em qualquer
2. O destino a dar às recompensas ganhas como conse- momento, contratos de salvação marítima em que con-
quência das operações a que se refere o número anterior vencionem regime diverso do previsto no presente Código,
é determinado através de regulamento aprovado pelo excepto quanto ao preceituado nos artigos 622.º, 623.º e
membro do Governo responsável pela administração 641.º.
marítima. Artigo 618.º

Artigo 615.º Momento e forma

Obrigações do salvador Os contratos de salvação marítima podem ser cele-


brados antes ou durante a execução das operações e
1. Constituem obrigações do salvador: estão sujeitos à forma escrita, designadamente, cartas,
telegramas, telex, telefax e outros meios equivalentes
a) Desenvolver as operações de salvação marítima
criados pela tecnologia.
com a diligência devida, em atenção às
circunstâncias do caso; Artigo 619.º

b) Evitar ou minimizar danos ambientais; Representação

c) Solicitar a intervenção de outros salvadores, 1. Os capitães dos navios, salvador e salvado, podem
sempre que as circunstâncias concretas da celebrar contratos de salvação marítima em representa-
situação assim o aconselhem; ção dos respectivos armadores.

2. O capitão e o armador do navio objecto de salvação


d) Aceitar a intervenção de outros salvadores,
actuam em representação de todos os interessados na
quando tal lhe for solicitado pelo salvado.
expedição marítima.
2. Para efeitos deste Título consideram-se danos am- Artigo 620.º
bientais todos os prejuízos causados à saúde humana,
à vida marinha ou aos recursos dos espaços marítimos Anulação ou modificação
nacionais, em resultado da poluição, contaminação, fogo,
As disposições contidas nos contratos de salvação ma-
explosão ou acidente de natureza semelhante.
rítima podem ser anuladas ou modificadas nos termos
Artigo 616.º gerais do direito e ainda nos casos seguintes:

Competência judicial internacional a) Quando o contrato tenha sido celebrado sob


coacção ou influência de perigo não se
1. Os tribunais de Cabo Verde são internacionalmente apresentando equitativas as respectivas
competentes para o julgamento de acções emergentes cláusulas;
da salvação marítima em qualquer dos casos seguintes:
b) Quando a recompensa acordada seja
a) Se o porto de entrada após as operações de manifestamente excessiva ou diminuta em
salvamento se situar em território nacional; relação aos serviços prestados.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1828 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

CAPÍTULO III CAPÍTULO IV

Do salvamento não contratual Do direito de recompensa


Artigo 626.º
Artigo 621.º
Recompensa do salvador
Falta de contrato e salvamento espontâneo
1 A salvação marítima, havendo resultado útil para o
1. Na falta de contrato previsto no Capítulo anterior o salvado, é remunerada mediante uma retribuição pecu-
salvamento considera-se não contratual. niária denominada recompensa de salvação marítima.
2. Não exclui o direito do salvador a remuneração o
2. Considera-se igualmente não contratual, o achado e
facto de pertencerem à mesma pessoa, ou por ela serem
a recuperação espontânea de navios ou outros bens que
operados, os meios que desenvolvem as operações de sal-
se encontrem abandonados no mar.
vação marítima e os bens que desta constituem objecto.
Artigo 622.º 3. Se o salvador não obtiver resultado útil para o
Salvamento espontâneo de bens abandonados
salvado, mas evitar ou minimizar manifestos danos
ambientais, a sua intervenção é remunerada, nos ter-
1 Aquele que durante a navegação ou a partir da costa mos dos artigos 633.º e 634.º, mediante uma retribuição
encontrar bens que estejam abandonados deve comunicar pecuniária denominada compensação especial.
de imediato à administração marítima competente no Artigo 627.º
primeiro porto de escala. Critérios para a fixação da recompensa

2. Recebida a comunicação a que se refere o número 1. Na falta de acordo, o tribunal fixa o valor da recom-
anterior, a administração marítima deve localizar os legí- pensa da salvação marítima, tendo em consideração as
timos proprietários ou notificar o cônsul ou representante circunstâncias seguintes:
diplomático do Estado de pavilhão no caso de se tratar
a) O valor do navio e demais bens que se
de navios ou aeronaves estrangeiros.
conseguiram salvar;
3. O achador pode, entretanto, reter os bens que ti- b) Os esforços desenvolvidos pelo salvador e a
ver salvado, adoptando as medidas necessárias para eficácia destes a fim de prevenir ou minimizar
a adequada conservação, ou entregá-los à autoridade o dano ambiental;
aduaneira para sua guarda.
c) O resultado útil conseguido pelo salvador;
Artigo 623.º
d) A natureza e o grau de risco que o salvador
Identificação do proprietário correu;
e) Os esforços desenvolvidos pelo salvador e a
1 Localizado o proprietário, a administração marítima
eficácia destes para salvar o navio, outros
comunica a sua identidade ao salvador e este, pode reter
bens, ou as vidas humanas;
os bens salvos, até ser constituído a seu favor, garantia
suficiente para assegurar a importância que reclama a f) O tempo dispendido, os gastos realizados e os
título de recompensa. prejuízos sofridos pelo salvador;

2. A determinação da recompensa é feita nos termos g) A prontidão dos serviços;


previstos no Capítulo seguinte. h) O valor dos meios e equipamento que o salvador
utilizou.
Artigo 624.º
2. O montante da recompensa de salvação marítima,
Ausência do proprietário excluídos os juros e as despesas judiciais, não pode exce-
der o valor do navio e dos restantes bens que se consegui-
1. Se o proprietário não for localizado no prazo de 6
ram salvar, calculados no final das operações de salvação.
(seis) meses a contar do início do expediente adminis-
trativo, a administração marítima adopta as medidas Artigo 628.º
pertinentes para a avaliação dos bens salvos. Pagamento da recompensa

2. Pagas as despesas do expediente, o salvador é remu- 1. Pelo pagamento do salário de salvação marítima,
nerado de acordo com o estabelecido no capítulo seguinte. fixado nos termos do nº1 do artigo anterior, respondem o
armador do navio e os titulares dos restantes bens salvos,
Artigo 625.º na proporção dos respectivos valores, calculados no final
das operações de salvamento.
Bens de comércio proibido ou restrito
2. Se o bem salvado for um navio, o armador fica obriga-
O procedimento e os direitos reconhecidos ao salva- do ao pagamento do valor total da recompensa, podendo
dor nos artigos anteriores não prejudicam o disposto no reclamar em avaria grossa a parte que corresponda aos
Capítulo IV do Título seguinte para os bens de comércio titulares dos bens a bordo, conforme o disposto no Título
proibido ou restrito. I deste Livro.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1829
Artigo 629.º 2. Consideram-se despesas efectuadas pelo salvador,
Direito de retenção
todos os gastos realizados com pessoal e material, incluída
a amortização deste.
O salvador goza do direito de retenção sobre os bens
salvados, como garantia do pagamento dos créditos 3. Em situações de particular dificuldade para as ope-
emergentes da salvação marítima. rações de salvamento marítimo, pode o tribunal elevar
a compensação especial até ao montante igual ao dobro
Artigo 630.º das despesas efectuadas.
Repartição entre os salvadores 4. O armador do navio e o segurador da responsabili-
1. A repartição da recompensa de salvação marítima dade civil respondem solidariamente pelo pagamento da
entre os salvadores é efectuada, na falta de acordo das compensação especial ao salvador.
partes, pelo tribunal, tendo em conta os critérios estabe- Artigo 634.º
lecidos no artigo 633.º.
Salvadores de pessoas
2. Não há lugar a recompensa no caso de o salvador ter
sido obrigado a aceitar a intervenção de outros salvadores 1. Os salvadores de vidas humanas que intervenham
por solicitação do salvado e se demonstre a manifesta em operações que dêem lugar a recompensa de salvação
desnecessidade desta intervenção. marítima têm direito, por esse simples facto, a participar
na repartição da recompensa.
Artigo 631.º
2. Caso não haja direito a recompensa por não se ter
Repartição da recompensa entre o armador e a tripulação
verificado um resultado útil para o salvado, o salvador
1 A repartição da recompensa da salvação marítima de vidas humanas tem direito a ser indemnizado pelas
entre o salvador, o capitão, os demais membros da tri- despesas que suportou na operação de salvamento.
pulação do navio salvador e outras pessoas a bordo que
3. O disposto no artigo anterior é aplicável, com as
participaram nas operações, é efectuada por acordo das
necessárias adaptações, à salvação de pessoas.
partes e, na falta deste, pelo tribunal nos termos do
artigo 633.º. Artigo 635.º

2. Não obstante o previsto no número anterior, aplicam- Exercício dos direitos


se as seguintes regras de repartição:
1. As acções emergentes da salvação marítima devem
a) A parte do capitão e dos demais membros da ser exercidas no prazo de 2 (dois) anos a contar da data
tripulação não pode ser superior a 2/3 (dois da conclusão ou interrupção das respectivas operações.
terços) nem inferior a 1/3 (um terço) da
recompensa de salvação marítima líquido; 2. Se o salvador não exigir a recompensa de salvação
marítima, a compensação especial ou a indemnização das
b) A repartição entre o capitão e os membros da despesas de salvamento de vidas humanas, o capitão e os
tripulação é feita na proporção do salário demais membros da tripulação podem demandar os sal-
base de cada um; vados a parte que lhes caiba, dentro do ano subsequente
ao termo do prazo fixado no número anterior.
c) No caso de navios estrangeiros, a repartição é
feita de acordo com a lei do Estado de pavilhão. 3. Verificando-se a situação prevista no número ante-
rior, o capitão do navio salvador tem legitimidade para,
Artigo 632.º
em nome próprio e em representação da tripulação,
Navios dedicados ao salvamento demandar os salvados.

Salvo acordo em contrário com o armador, o capitão e TÍTULO IV


os membros da tripulação dos rebocadores de salvamento
ou de outros navios especialmente dedicados à realização DOS NAUFRÁGIOS
de operações de salvação marítima são excluídos da re-
CAPÍTULO I
partição da recompensa.
Artigo 633.º Das disposições gerais

Compensação especial Artigo 636.º

Conceito de naufrágio e de restos de naufrágio


1. Se o salvador realizar as operações de salvação
marítima em relação ao navio que, pelas suas próprias 1. Para efeitos deste Título considera-se naufrágio
características ou pela natureza da carga transportada, todo navio encalhado ou afundado no mar e desprovido
constitua ameaça para o meio ambiente, tem direito a de tripulação.
uma compensação especial da responsabilidade do pro-
prietário do navio e dos restantes bens que se consegui- 2. Por restos de naufrágio entende-se as partes do
rem salvar, igual ao montante das despesas efectuadas, navio naufragado e a carga ou outros bens que o navio
acrescido de 30% (trinta por cento). transportava e se encontram abandonados no mar.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1830 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 637.º 3. Os direitos dos achadores que casualmente os encontre
Aplicação a outros bens e salvamento
e se aproprie deles regem-se pelas normas aplicáveis à
salvação espontânea previstas no Título anterior.
1. As disposições deste Título relativas aos naufrágios Artigo 642.º
e aos restos de naufrágio aplicam-se ainda aos bens
abandonados no mar. Prescrição a favor do Estado

2. As disposições deste Título prevalecem, em caso de 1. O Estado adquire a propriedade de qualquer naufrá-
conflito, sobre as do Título anterior sempre que se tratar gio ou restos de naufrágio que se encontrem nas águas
de salvamento de naufrágios ou de restos de naufrágio. interiores, águas arquipelágicas ou mar territorial de
Cabo Verde, decorridos 3 (três) meses após o naufrágio.
Artigo 638.º
2. Igualmente adquire a propriedade dos naufrágios ou
Obrigações de notificação restos de naufrágio que, findo o prazo referido no número
anterior, encontrem-se situados na zona económica exclu-
1. Os capitães e armadores dos navios naufragados nos
siva de Cabo Verde, na de outro Estado ou em alto mar,
espaços marítimos nacionais são obrigados a comunicar
quando os bens pertencem a nacionais cabo-verdianos.
os factos à administração marítima nos termos estabe-
lecidos em portaria aprovada pelo membro do Governo 3. O disposto no nº 1, não prejudica o estabelecido no
responsável pela administração marítima. artigo 128.º sobre a aquisição da propriedade dos navios
abandonados em porto.
2. A mesma obrigação compete aos proprietários das
aeronaves ou de outros bens caídos ao mar. 4. Os direitos de aquisição previstos nos números an-
teriores, não se aplicam aos navios de Estado e os restos
3. Os armadores e capitães devem comunicar à admi- de naufrágio pertencentes a um Estado.
nistração marítima as perdas das âncoras e correntes
sofridas pelos seus navios, conforme os procedimentos e Artigo 643.º
prazos estabelecidos na portaria a que se refere o nº 1. Interrupção da prescrição aquisitiva
Artigo 639.º 1. O prazo de prescrição interrompe-se no momento em
Protecção dos bens que se solicitar a extracção prevista no Capítulo seguinte
e esta se iniciar no prazo concedido.
1. A administração marítima toma as medidas que
se mostrarem necessárias e urgentes, para assegurar a 2. O prazo volta a correr se os trabalhos de extracção
defesa da propriedade dos bens naufragados e evitar a forem suspensos ou terminar o prazo concedido para a
deterioração ou subtracção dos mesmos. sua execução.

2. A administração marítima, através de ofício, infor- CAPÍTULO III


ma os proprietários dos bens naufragados, o lugar e a Controlo administrativo das extracções
situação em que se encontram e, assim poderem tomar
Artigo 644.º
medidas de defesa dos seus interesses.
Operações de exploração
Artigo 640.º

Dever de balizamento e de prevenção da poluição


As operações de exploração, rastreio e localização
de naufrágios ou de restos de naufrágio nos espaços
1. Os proprietários dos navios naufragados e os pro- marítimos nacionais estão sujeitos a autorização da
prietários de restos de naufrágio são obrigados a realizar administração marítima e, é concedida a quem provar a
imediatamente as operações de balizamento, bem como propriedade desses bens ou, noutros casos, livremente e
as de prevenção da poluição, que sejam necessárias para sem carácter exclusivo.
a salvaguarda dos interesses nacionais. Artigo 645.º

2. Para o efeito os proprietários devem ajustar-se às Operações de extracção


instruções e ordens dadas pela administração marítima.
1. As operações de extracção de naufrágios ou de restos
CAPÍTULO II de naufrágio nos espaços marítimos nacionais carecem
de autorização prévia da administração marítima, que
Dos direitos de propriedade fixa os prazos e condições em que devem ser realizadas.
Artigo 641.º
2. Os titulares da autorização são obrigados a comuni-
Proibição de ocupação car o início e o fim das operações, bem como, a permitir ac-
ções de inspecção e vigilância pelas autoridades públicas.
1. A propriedade dos navios ou restos de naufrágio não
Artigo 646.º
é afectada por naufrágio e não pode ser adquirida por
usucapião, salvo expresso abandono do titular. Titulares do direito de extracção

2. Os proprietários desses bens podem dispor deles e, 1 Podem solicitar a autorização de extracção, os pro-
especialmente, abandoná-los a favor do segurador. prietários dos navios ou restos de naufrágio.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1831

2. Existindo vários proprietários, a solicitação deve Artigo 651.º


ser formulada por acordo entre eles, ou mediante re- Achados de bens de comércio proibido ou restrito
núncia expressa daqueles que não tiverem interesse na
extracção. 1. Quem encontrar casualmente no mar, bens de comércio
proibido ou restrito deve comunicar imediatamente o
3. Tratando-se de extracção conjunta de navios nau- achado à administração marítima, que por sua vez a
fragados e dos bens que neles se encontrem, o titular do comunica à guarda costeira.
direito de extracção é o proprietário do navio.
2. Os achadores não podem proceder à recuperação
Artigo 647.º daqueles, sem a autorização expressa da administração
Contratos de extracção
marítima ou da guarda costeira.
3. Obtida a autorização a que se refere o número ante-
1 A autorização de extracção pode ser solicitada por
rior, os navios achadores podem rebocar ou transportar os
terceiros que tenham celebrado contratos de salvação
bens achados até ao lugar designado pela guarda costeira
marítima ou outros com o proprietário.
seguindo as instruções de segurança e conservação por
2. O contrato a que se refere o número anterior deve esta estabelecida.
conferir expressamente ao contratante poderes para 4. Tratando-se de material militar ou de bens do
efectuar a solicitação de extracção. património cultural subaquático ou outros de comércio
Artigo 648.º proibido ou restrito, quem os encontrar, é obrigado, a
colocá-los à disposição da guarda costeira ou das autori-
Extracção de navios ou bens propriedade do Estado dades aduaneiras do porto de chegada.
Se a propriedade dos navios naufragados ou dos restos Artigo 652.º
de naufrágio pertencer ao Estado de Cabo Verde e não lhe Destino dos bens
convir a extracção ou aproveitamento directo, a adminis-
tração marítima pode concedê-la a outros interessados, 1. Identificado o material militar encontrado, pode ser
mediante concurso conforme a legislação aplicável. colocado à disposição das autoridades estrangeiras que a
reclamem, transformado em inofensivo, destruído, apro-
CAPÍTULO IV veitado pelas forças armadas ou pela guarda costeira, ou
ser entregue às autoridades aduaneiras.
Dos bens de comércio proibido ou restrito
2. Os bens do património cultural não podem ser objecto
Artigo 649.º
de exploração comercial, são catalogados e incorporados
Conceito ao património cultural nacional, depositados, preserva-
dos e exibidos publicamente em benefício da humanidade,
1. Para efeitos do regime de naufrágios consideram-se de acordo com o previsto em legislação específica sobre
bens de comércio proibido ou restrito o material militar, a matéria.
constituído pelas armas, munições, explosivos ou outro
Artigo 653.º
material proveniente ou destinado ao uso das forças
armadas, independentemente de seu valor económico. Direitos do achador

2. Consideram-se igualmente bens de comércio proi- 1. Quando o material militar é restituído às auto-
bido ou restrito, os do património cultural subaquático, ridades estrangeiras a que pertenciam, destruído ou
constituído por todos os rastos de existência humana que inutilização, o achador tem direito a receber do Tesouro
tenham um carácter cultural, histórico ou arqueológico e Público as despesas em que incorreu na sua recuperação.
permanecido total ou parcialmente debaixo de água, de 2. Se o material militar for aproveitado pelas forças
forma periódica ou contínua, pelo período de 100 (cem) armadas, pela guarda costeira, ou entregue à autoridade
anos. aduaneira, o achador tem direito a uma recompensa,
Artigo 650.º a cargo do Tesouro Público, correspondente a 1/3 (um
terço) do valor de avaliação, deduzidas as despesas do
Extracção de bens de comércio proibido ou restrito expediente.
1. A extracção dos bens de comércio proibido ou restrito, 3. Os achadores dos bens do património cultural su-
fica sujeita a legislação especial e ao regime que se esta- baquático têm direito ao ressarcimento das despesas e
belecer na autorização ou contrato público de extracção. a uma recompensa fixada pelo Governo em cada caso e
que deve ser pago pelo Tesouro Público.
2. Sem prejuízo de outras sanções, a extracção dos bens
de comércio proibido ou restrito situados nas águas inte- CAPÍTULO V
riores, mar territorial ou águas arquipelágicas de Cabo
Das remoções por causa de interesse público
Verde, sem a devida autorização, considera-se infracção
de contrabando cometida em território cabo-verdiano. Artigo 654.º

Conceito de remoção
3. A extracção não autorizada dos bens do património
cultural subaquático que se encontram na zona contígua Entende-se por remoção ou extracção de interesse
constitui igualmente infracção de contrabando. geral, a retirada, transferência, desmantelamento ou

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1832 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

destruição deliberada de naufrágios ou de restos de nação directa dos bens a que se refere o número anterior
naufrágios para remover um perigo ou um inconveniente e cobrá-las do valor da venda com preferência absoluta
para a navegação, para a saúde pública, para os recursos sobre todos os demais créditos que possam pesar sobre
naturais, para o meio ambiente ou para os interesses o navio, esteja ou não garantido com privilégio marítimo
conexos dos espaços marítimos nacionais. ou com hipoteca naval.
Artigo 655.º 3. O excedente do preço obtido na venda, uma vez
Regime de remoções liquidadas as despesas, satisfeitos os créditos a que se
refere o artigo 273.º e os créditos hipotecários, é entregue
1. As disposições deste Capítulo aplicam-se às remoções ao Tesouro Público.
dos navios e demais bens situados nas águas interiores,
Artigo 660.º
nas águas arquipelágicas ou no mar territorial de Cabo
Verde. Subsistência da responsabilidade pessoal

2. Aplicam-se ainda aos que se encontrem na zona 1. Se o produto da venda não for suficiente para co-
económica exclusiva quando a remoção é efectuada para brir as despesas, os obrigados continuam pessoalmente
protecção dos recursos naturais ou do meio ambiente. responsáveis pela diferença, cujo pagamento pode ser
exigido por via administrativa ou por via judicial perante
Artigo 656.º
as autoridades nacionais ou estrangeiras.
Dever de remoção
2. A administração marítima pode solicitar o arresto
1. O proprietário, o armador e o segurador, nos limites preventivo de outros navios pertencentes ao mesmo
da respectiva apólice, estão sujeitos ao dever de remoção devedor, nos termos fixados no Título II do Livro XI do
do navio e plataformas fixas ou de aeronaves o dever de presente Código.
remoção incumbe ao titular do seu uso ou exploração.
Artigo 661.º
2. Quando a administração marítima entender que Remoção de navios ou bens de titularidade desconhecida
existem riscos para os interesses da navegação, para a
saúde pública, para os recursos naturais, para o meio 1. Quando se tratar da remoção de navios, ou outros
ambiente ou para os interesses conexos dos espaços ma- bens, de pavilhão, propriedade ou armador desconheci-
rítimos, aquela ordena a remoção aos seus responsáveis, dos, aplicam-se as disposições previstas neste Capítulo,
que devem efectua-la dentro do prazo que determinado publicando os requerimentos por meio de anúncios no
para o efeito, que pode ser prorrogado em atenção às quadro de editais da administração marítima competente
especiais circunstâncias que concorram. e gratuitamente no Boletim Oficial.
3. Tratando-se de navios de pavilhão estrangeiro é 2. A comparência dos interessados deve ser feita dentro
notificado o cônsul ou representante diplomático corres- do prazo fixado pela administração marítima de acordo
pondente. com a importância do obstáculo que deva ser removido.
Artigo 657.º 3. Se apenas for conhecida a nacionalidade do navio ou
Controlo da remoção aeronave, além da publicidade prevista no nº 1, deve-se
comunicar ao cônsul do Estado do pavilhão.
A administração marítima define as garantias ou me-
Artigo 662.º
didas de segurança que devem ser respeitadas para se
evitar novos naufrágios nos espaços marítimos nacionais Remoção em porto
e determina, em cada caso, as condições e procedimentos
para a realização das operações de remoção. Nas situações de naufrágio ou de restos de naufrágio
em águas interiores da zona portuária a administração
Artigo 658.º marítima exerce os seus poderes em coordenação com a
Remoção subsidiária administração portuária, e interferir o menos possível
na actividade normal de exploração do porto.
No caso da pessoa obrigada não iniciar ou concluir a
Artigo 663.º
remoção no prazo fixado para o efeito, a administração
marítima pode recorrer à execução subsidiária, por si ou Relatório da Administração Pesqueira
mediante contratos com terceiros, a expensas do obrigado.
1. Sempre que o motivo alegado para a remoção seja
Artigo 659.º
o interesse para os recursos biológicos, a administração
Afectação dos bens recuperados marítima, conforme o caso, deve solicitar um relatório à
administração pesqueira com carácter prévio ao início
1. Os navios ou bens recuperados ao abrigo do disposto das suas acções.
no artigo anterior são afectos ao pagamento das despesas
com a remoção. 2. O motivo alegado tem-se por justificado se não for
emitido no prazo de 30 (trinta) dias ou naquele que, por
2. Se as despesas não forem pagas nos prazos estabe- razões de urgência devidamente justificadas, seja fixado
lecidos, a administração marítima pode proceder à alie- pela autoridade solicitante.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1833

TÍTULO V afectadas, podem ser indemnizados, porém, a indemniza-


ção por deterioração do meio ambiente, é limitada ao cus-
DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS to das medidas de restauração efectivamente tomadas.
DE POLUIÇÃO
2. O custo das medidas razoavelmente adoptadas por
CAPÍTULO I qualquer pessoa depois de ocorrer o sinistro com objectivo
Do âmbito de aplicação e dos sujeitos de prevenir ou minimizar os danos por poluição, pode ser
responsáveis igualmente indemnizado.

Artigo 664.º 3. Qualquer dos casos, está sujeito ao regime de limi-


tação global da responsabilidade, regulada no Livro IX
Âmbito de aplicação
do presente Código.
1 A responsabilidade civil por danos provocados por Artigo 669.º
poluição de navios, nas costas e nos espaços marítimos
nacionais, onde quer que se encontrem, é regulada neste Seguro obrigatório
Título. 1. Os navios são obrigados a ter um seguro de respon-
2 Para efeitos do disposto no número anterior, poluição sabilidade civil por danos de poluição das costas e águas
é definida nos termos do artigo 60º do presente Código. navegáveis, cujas condições e cobertura mínima são
determinadas por regulamento do Governo.
3. O presente Título não se aplica aos danos causados
por substâncias radioactivas ou nucleares, que são regu- 2. Os lesados têm o direito de acção directa contra o se-
lados em legislação especial. gurador de responsabilidade civil até o limite da apólice.

Artigo 665.º 3. O segurador pode opor as mesmas excepções que o


armador, nos termos dos artigos anteriores e, ainda, que a
Sujeitos responsáveis
poluição se deveu a um acto intencional do mesmo armador.
1. O armador do navio poluidor é obrigado a indem- 4. O segurador pode igualmente recorrer à limitação da
nizar os danos por poluição, sem prejuízo do direito de sua responsabilidade prevista no nº 3 do artigo anterior.
regresso contra as pessoas que provocaram a poluição.
Artigo 670.º
2. Quando a poluição é provocada por vários navios, os
seus armadores são solidariamente obrigados a indem- Proibição de navegação
nizar os danos por poluição, salvo se aquela puder ser 1. A administração marítima pode proibir a navegação
atribuída em exclusivo a um dos navios. aos navios nacionais e à actividade dos artefactos navais
CAPÍTULO II nacionais que não possuam a cobertura do seguro a que
se refere o artigo anterior.
Do regime de responsabilidade
2. Pode, ainda, negar a entrada nos portos nacionais,
Artigo 666.º fundeadouros ou terminais situados em águas interiores,
Fundamento da responsabilidade águas arquipelágicas ou mar territorial aos navios que
careçam da referida cobertura de seguro.
1. O armador é responsável pelos danos de poluição
causados pelo seu navio. 3. Os artefactos navais estrangeiros que não possuam
a cobertura não podem estacionar para realizar suas
2. Pode o armador, afastar a sua responsabilidade, se actividades nos espaços marítimos nacionais.
provar que os danos foram causados por motivo de força
maior, por negligência das autoridades responsáveis pela LIVRO IX
manutenção das luzes ou outras ajudas à navegação, DA LIMITAÇÃO GLOBAL
seja por acção ou omissão, ou por acto intencional de DE RESPONSABILIDADE
um terceiro.
Artigo 667.º
TÍTULO I

Culpa do lesado DAS DISPOSIÇÕES GERAIS


Artigo 671.º
Se o armador provar que os danos por poluição resul-
taram, no todo ou em parte, de acção culposa ou dolosa Âmbito de aplicação
do lesado, afasta total ou parcialmente a sua responsa-
bilidade perante este. 1. As normas deste Livro aplicam-se sempre que o
titular do direito de limitação o invoque perante as au-
Artigo 668.º toridades judiciais competentes.
Alcance da indemnização
2. Para efeitos do disposto no número anterior, é ir-
1. As perdas ou danos causados por poluição fora do relevante a nacionalidade ou domicílio dos credores ou
navio, para além da perda dos benefícios sofridos por devedores, bem como, o pavilhão do navio em relação ao
aqueles que utilizam ou aproveitam as águas ou costas qual se invoque o direito de limitação.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1834 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

3. São limitáveis as reclamações a que se refere o artigo TÍTULO II


676.º surgido em consequência da utilização ou navegação
de navios que se destinam à navegação marítima e não LIMITAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
limitáveis as responsabilidades relativas a artefactos POR CRÉDITOS MARÍTIMOS
navais.
Artigo 676.º
Artigo 672.º
Reclamações sujeitas a limitação
Regimes especiais de limitação

1. O disposto neste Livro não prejudica os direitos de 1. Estão sujeitas a limitação as reclamações seguintes:
limitação específicos estabelecidos no presente Código
para o transportador marítimo de mercadorias e para a) Reclamações por morte ou lesões corporais, por
o operador portuário no quadro das reclamações por perdas ou danos sofridos nos bens, incluindo
incumprimento dos contratos de transporte ou de ma- os danos a obras portuárias, vias navegáveis,
nuseamento portuário. ajudas à navegação e demais bens do
domínio público marítimo, verificados a
2. O transportador que seja ao mesmo tempo armador bordo ou directamente ligados à utilização
ou afretador do navio onde se realiza o transporte e o ou navegação do navio ou com operações de
operador portuário podem optar pela aplicação do regime salvamento, bem como, os prejuízos derivados
de limitação específico a que se refere o número anterior. dessas causas;
3. Salvaguarda-se ainda os regimes especiais de limita- b) Reclamações relacionadas com prejuízos
ção estabelecidos nas convenções internacionais vigentes derivados do atraso no transporte da carga,
em Cabo Verde para os danos de poluição por hidrocarbo- dos passageiros e suas bagagens;
netos ou outras substâncias nocivas ou perigosas.
Artigo 673.º c) Reclamações relacionadas com prejuízos
derivados da lesão dos direitos não
Direito de limitação da responsabilidade
contratuais, provocados directamente pela
1. Os armadores e os seus gestores gozam do direito de utilização ou navegação do navio ou com
limitação das suas responsabilidades perante as recla- operações de salvamento;
mações derivadas de acidentes, nos termos estabelecidos
neste Livro. d) Reclamações promovidas por pessoa que não é
o responsável e relacionadas com as medidas
2. Gozam igualmente desse direito as pessoas que pres- tomadas a fim de evitar ou minorar os prejuízos
tam serviços directamente relacionados com operações de em relação aos quais a pessoa responsável
salvamento, os proprietários e afretadores do navio nos possa limitar a sua responsabilidade, salvo
casos em que lhes são exigidas responsabilidades pela quando as mesmas tenham sido adoptadas
utilização ou navegação do navio. em virtude de um contrato celebrado entre
elas.
3. Podem ainda invocar o direito de limitação as pes-
soas de cujas acções ou omissões, sejam responsáveis 2. As reclamações estabelecidas no número anterior
os proprietários, armadores, gestores, afretadores ou estão sujeitas a limitação de responsabilidade indepen-
salvadores a que se refere o número anterior. dentemente da acção exercida possuir natureza contra-
4. Os seguradores da responsabilidade dos titulares tual ou extracontratual.
do direito de limitação gozam desse direito na mesma
Artigo 677.º
medida do segurado.
Artigo 674.º Reclamações excluídas de limitação

Perda do direito de limitação Estão excluídas de limitação as reclamações seguintes:


O responsável, perde o direito de limitação da sua
a) As de recompensa por salvamento, incluídas as
responsabilidade se o dano ou prejuízo se ficou a dever a
relativas à compensação especial e as referentes
acto intencional ou negligente da sua parte.
às contribuições para avaria grossa;
Artigo 675.º

Relação com o regime de responsabilidade


b) As relativas a acidentes de trabalho ou outras
nascidas na relação laboral, promovidas
1 O regime de limitação previsto neste Livro aplica-se contra titulares do direito a limitar pelos seus
sempre que a responsabilidade civil seja exigida, inde- trabalhadores ou por familiares dos lesados
pendentemente do tipo de processo. que se regem por sua legislação específica;

2. A evocação do direito de limitação não constitui ad- c) As da administração marítima relativas às


missão da responsabilidade, a qual se determina conforme remoções reguladas no Capítulo V do Título
as normas do presente Código e demais leis aplicáveis. IV do Livro VIII do presente Código.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1835

TÍTULO III Artigo 680.º

DOS MONTANTES MÁXIMOS Distribuição entre os credores


DE INDEMNIZAÇÃO 1. Os montantes obtidos nos termos do disposto nos
Artigo 678.º artigos precedentes integram um fundo ou fundos de
limitação que é distribuído entre os credores vítimas do
Critérios de limitação
mesmo acidente, na proporção das respectivas reclamações.
A regulamentação dos limites máximos de indemni-
2. Se o montante calculado em conformidade com a
zação faz-se em função da arqueação bruta do navio,
alínea a) do artigo anterior não for suficiente para satis-
natureza do acidente e seu resultado.
fazer a totalidade das reclamações, os lesados concorrem
Artigo 679º pelo remanescente com os demais credores para o cobrar,
Limites gerais
do fundo ou fundos calculados em conformidade com a
alínea b) do referido artigo.
1. Salvo os casos previstos no artigo seguinte, o mon-
tante máximo de indemnização por reclamações sujeitas 3. A administração marítima goza do direito de pre-
a limitação é determinado para cada acidente, em função ferência na cobrança sobre os demais credores a que se
da arqueação bruta do navio que originou os créditos, refere o artigo anterior, em caso de reclamações por danos
conforme o estabelecido nas alíneas seguintes: causados a obras portuárias, vias navegáveis, ajudas a
navegação e, em geral, ao domínio público marítimo.
a) Para reclamações relacionadas com morte ou
lesões corporais, dois milhões de Direitos TÍTULO IV
de Saque Especiais – DSE, do Fundo DOS FUNDOS DE LIMITAÇÃO
Monetário Internacional, para navios de
arqueação bruta até 2000 toneladas e, para Artigo 681.º
os casos em que a arqueação bruta do navio Condição do direito de limitação
exceder as 2000 toneladas, acrescentam-se
sucessivamente aos dois milhões de DSE, as 1. A alegação do direito de limitação perante as auto-
quantias seguintes: ridades judiciais cabo-verdianas implica para o titular o
dever de constituir o fundo ou fundos de limitação, inte-
i) 800 de DSE, por cada unidade de arqueação grados pelos montantes estabelecidos no Título anterior,
bruta compreendida entre 2001 e 30.000 acrescidos dos interesses legais surgidos desde a data do
toneladas; acidente que originou a responsabilidade.
ii) 600 de DSE, por cada unidade de arqueação 2. O fundo ou fundos podem ser constituídos através
bruta compreendida entre 30.001 e 70.000 de depósito do montante correspondente ou da prestação
toneladas; de garantias idóneas.
iii) 400 de DSE, por cada unidade de arqueação Artigo 682.º
bruta que exceder as 70.000 toneladas.
Afectação do fundo e paralisação de outras medidas
b) Para as demais reclamações sujeitas a limitação,
1. O fundo ou fundos regularmente constituídos,
um milhão de DSE, para navios de arqueação
apenas podem ser utilizados para a satisfação das recla-
bruta até 2000 toneladas, e para os casos
mações em relação às quais se pode invocar a limitação
em que a arqueação bruta exceder as 2000,
da responsabilidade, mesmo em caso de insolvência do
acrescentam-se sucessivamente ao um milhão
titular do direito de limitação.
de DSE, as quantias seguintes:
2. Constituído o fundo ou fundos de limitação, os cre-
i) 400 de DSE, por cada unidade de arqueação
dores cujas reclamações estão sujeitas a limitação não
bruta compreendida entre 2001 e 30.000
podem perseguir outros bens do devedor.
toneladas;
3. Os navios ou outros bens pertencentes ao titular
ii) 300 de DSE, por cada unidade de arqueação
do direito de limitação, que hajam sido arrestados para
bruta compreendida entre 30.001 e 70.000
responder a uma reclamação que pode ser promovida
toneladas;
contra um fundo constituído, ficam livres mediante
iii) 200 de DSE, por cada unidade de arqueação levantamento do arresto que deve ser ordenado pela
bruta que exceder as 70.000 toneladas. autoridade judicial logo que tome conhecimento da cons-
tituição do fundo.
3. Os montantes expressos em DSE referem-se Direi-
Artigo 683.º
tos de Saque Especiais, tal como definidos pelo Fundo
Monetário Internacional. Sub-rogação

4. A conversão dos montantes em moeda nacional O responsável, o segurador ou terceiro que pagar uma
efectua-se, em processo judicial, de acordo com a va- reclamação imputável a um fundo de limitação antes da
loração dessa moeda aplicada pelo Fundo Monetário sua distribuição, fica subrogado nos direitos da pessoa
Internacional à data da sentença. indemnizada perante o fundo.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1836 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 684.º b) A data de celebração do contrato;
Procedimento e caducidade do direito a limitar
c) Os nomes e os domicílios das partes contratantes
1. A constituição do fundo ou fundos de limitação, bem e, sendo caso disso, a indicação de que quem
como a sua distribuição pelos credores devem seguir o contrata o faz por conta de outro;
procedimento regulado no Título VI do Livro XI do pre-
d) O objecto do seguro, sua natureza e valor;
sente Código.

2. O direito à constituição dos fundos de limitação e) Os riscos contra os quais se faz o seguro ou a
caduca no prazo de 2 (dois) anos a contar da data da menção de que cobre todos os riscos de mar;
apresentação da primeira reclamação judicial em conse- f) Os momentos em que começam e acabam os
quência do acidente que dá lugar a invocação do direito riscos;
de limitação.
g) A quantia segurada;
LIVRO X

DO SEGURO MARÍTIMO h) O prémio do seguro a pagar pelo segurado;

TÍTULO I i) A cláusula à ordem, ou ao portador, se for acordada;

DAS DISPOSIÇÕES COMUNS A TODOS j) A assinatura do segurador;


OS SEGUROS MARÍTIMOS
k) Em geral, todas as circunstâncias cujo
CAPÍTULO I conhecimento possa interessarem ao
segurador, assim como todas as condições
Das disposições gerais acordadas pelas partes.
Artigo 685.º
Artigo 689.º
Conceito e objecto
Seguro por conta própria e por conta de outrem
1. O seguro marítimo é o contrato pelo qual o segurador
1. O seguro pode ser contratado por conta própria ou
se obriga, mediante o pagamento de um prémio, a indem-
por conta de outrem.
nizar ao segurado os sinistros sofridos por determinados
interesses, durante uma viagem marítima, em resultado 2. Se não se declarar na apólice que o seguro é por
da realização de determinados riscos. conta de outrem, considera-se contratado por conta de
2. Pode constituir objecto de seguro marítimo, todo e quem o fez.
qualquer interesse legítimo, incluindo o lucro esperado, Artigo 690.º
exposto a riscos marítimos.
Interesse do segurado
Artigo 686.º

Carácter dispositivo 1. Se aquele por quem ou em nome de quem o seguro


é feito não tem interesse na coisa segurada no momento
Salvo o caso em que expressamente se estabeleça o do sinistro, o seguro é nulo.
carácter obrigatório ou de outro modo se exclua a possibi-
lidade de acordo em contrário, as disposições deste Livro 2. Excedendo, o seguro, o valor do interesse segurado,
aplicam-se apenas na falta de acordo entre as partes. só é válido até alcançar o valor deste.

Artigo 687.º 3. Se o interesse do segurado for limitado a uma parte


Forma
da coisa segurada na sua totalidade ou do direito a ela
respeitante, considera-se feito o seguro por conta de to-
1. O contrato de seguro marítimo é obrigatoriamente dos os interessados, ressalvado o direito a haver a parte
reduzido a escrito num instrumento denominado apólice proporcional ao prémio.
de seguro.
Artigo 691.º
2. A apólice de seguro deve ser sempre emitida em Transmissão da propriedade do interesse segurado
duplicado.
Transmitindo-se a propriedade do interesse segurado
3. São nulos os seguros não formalizados em apólice.
durante a vigência do contrato, transfere-se automatica-
Artigo 688.º mente o seguro para o novo titular do interesse.
Conteúdo obrigatório da apólice Artigo 692.º

A apólice de seguro deve obrigatoriamente enunciar Resseguro


e conter:
As disposições relativas ao seguro marítimo são tam-
a) O lugar de celebração do contrato; bém aplicáveis ao resseguro.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1837

CAPÍTULO II 4. O segurador responde pelos danos sofridos pelas


coisas seguradas por culpa do capitão ou dos demais
Dos riscos segurados membros da tripulação, sem prejuízo do disposto no
Artigo 693.º artigo 729.º.
Conhecimento antecipado de haver cessado o risco ou Artigo 697.º
ocorrido o sinistro
Seguro de risco de guerra e greves
1. O seguro é nulo se, aquando da conclusão do contrato,
o segurador tinha conhecimento de haver cessado o risco, Se o segurador se tiver obrigado expressamente a
ou se o segurado ou a pessoa que fez o seguro tinha co- segurar os riscos de guerra e greves, sem determinação
nhecimento da verificação do sinistro. precisa, responde pelas perdas e danos causados às coisas
seguradas por:
2. No primeiro caso previsto no número anterior, o se-
gurador não tem direito ao prémio e, no segundo tem, di- a) Hostilidade, represália, embargo de potência,
reito ao prémio e não é obrigado a indemnizar o segurado. presa e violência de qualquer espécie, por
parte de governo amigo ou inimigo, de direito
Artigo 694.º ou de facto, reconhecido ou não reconhecido,
Riscos cobertos e, em geral, por todos os factos e acidentes
de guerra, ainda que não tenha havido
1. O seguro marítimo cobre todos os riscos de mar, declaração de guerra ou que a guerra tenha
entendendo-se por estes, todas as perdas ou danos ocasio- terminado;
nados aos interesses segurados pelos factos fortuitos ou
de força maior ocorridos durante uma viagem marítima. b) Actos de sabotagem ou terrorismo, motins,
revolução, rebelião, greves ou lock-outs com
2. Salvo exclusão expressa na apólice entende-se que o carácter político ou relacionado com a guerra.
seguro marítimo cobre ainda os seguintes riscos:
Artigo 698.º
a) A contribuição das coisas seguradas em avarias
Dúvidas quanto à causa do sinistro
grossas e os pagamentos de recompensas de
salvamento; Em caso de dúvidas quanto à causa do sinistro, presu-
me-se que este resultou dos riscos de mar.
b) As despesas efectuadas, depois da ocorrência
do sinistro resultante de um risco coberto, Artigo 699.º
para evitar ou reduzir os danos no interesse Exclusão de responsabilidade
segurado.
Artigo 695.º
O segurador não responde por:

Riscos excluídos a) Perdas ou danos decorrentes de vício próprio da


coisa segurada, sem prejuízo do disposto no
Salvo inclusão expressa na apólice, o segurador não artigo 729.º;
cobre os riscos:
b) Perdas ou danos resultantes de multas,
a) De guerra civil ou internacional; confiscos, sequestros, inspecções, medidas
b) De motins, revolução, rebelião, greves, lock-outs, sanitárias ou de desinfecção que se seguiram
actos de sabotagem ou de terrorismo; a violações de blocos, actos de contrabando,
de comércio proibido ou clandestino;
c) Dos danos causados pela coisa assegurada a
outros bens ou pessoas; c) Indemnizações devidas em razão de penhora
ou cauções prestadas para levantamentos
d) Atómicos ou nucleares. desta;
Artigo 696.º d) Prejuízos que não constituam perdas ou danos
Culpa do segurado na produção do sinistro materiais directos na coisa segurada, tais
como desemprego, diferenças de câmbio ou
1. O segurador responde também pelas perdas ou danos dificuldades no comércio do segurado.
sofridos pelos interesses segurados resultantes de culpa
Artigo 700.º
do próprio segurado ou de seus auxiliares.
Mudança de rota, de viagem ou de navio
2. Não obstante o disposto no número anterior, o se-
gurador pode afastar a responsabilidade se provar que 1. Toda mudança voluntária de rota, de viagem ou de
o sinistro foi devido à culpa grave do próprio segurado navio, por parte do segurado, faz cessar a obrigação do
na protecção das coisas ou outros interesses perante os segurador, o qual tem direito ao prémio por inteiro, se
riscos verificados. começou a correr os riscos.
3. Existindo acordo em contrário, o segurador não 2. Não obstante o disposto no número anterior o segu-
responde pelos danos resultantes de actuação dolosa do rador continua responsável pelos sinistros, se se provar
próprio segurado. que estes ocorreram na parte da rota convencionada.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1838 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

3. Os riscos segurados continuam cobertos em caso de Artigo 705.º


arribada forçada ou de outra mudança forçada de rota, de Inexactidão ou reticências na declaração do risco
viagem ou de navio, ou de mudança decidida pelo capitão
sem consentimento do armador e do segurado. 1. Toda a declaração inexacta ou reticência relativa
Artigo 701.º
a factos ou circunstâncias conhecidas pelo segurado, ou
por quem fez o seguro, susceptíveis de influenciar sobre
Cláusula “livre de avarias” a existência ou condições do contrato torna o seguro nulo.
A cláusula “livre de avarias” libera o segurador de toda 2. O seguro não deixa de ser nulo, ainda que o facto
e qualquer responsabilidade por perdas ou danos aos ou circunstância objecto da inexactidão ou reticência não
interesses assegurados com a única excepção dos casos tenha contribuído para produção do dano.
em que tenha lugar o abandono.
3. Se da parte de quem fez as declarações tiver havido
Artigo 702.º
má fé, o segurador tem direito ao prémio.
Despesas excluídas
Artigo 706.º
Não são a cargo do segurador as despesas da nave- Dever de comunicar o agravamento do risco
gação, pilotagem, reboque, quarentena e outras feitas
em razão de entrada ou saída do navio nos portos, nem 1. Todo agravamento de riscos posterior à celebração
as tarifas ou direitos de tonelagem, ancoradouro, saúde do contrato deve ser notificado ao segurador no prazo
pública, sinais marítimos e outras despesas semelhantes de 3 (três) dias úteis, a contar do seu conhecimento pelo
impostas sobre o navio ou a carga, salvo se tais despesas segurado, sob pena de cessação do contrato a partir da
forem classificadas como avaria grossa. data de agravamento, conservando o segurador, o direito
ao prémio.
CAPÍTULO III
2. Se o agravamento notificado do risco não resultar
Das obrigações do segurado
de factos imputáveis ao segurado, mantém-se o contrato,
Artigo 703.º tendo o segurador direito ao aumento do prémio corres-
pondente ao agravamento.
Obrigações do segurado

1. São obrigações do segurado: 3. Se o agravamento notificado do risco resultar de


facto imputável ao segurado, o segurador pode resolver
a) Pagar o prémio, as taxas e despesas, no lugar e o contrato, conservando o direito ao prémio.
dentro dos prazos convencionados;
Artigo 707.º
b)Dispensar os cuidados que sejam razoavelmente Proibição da duplicação do seguro
exigíveis à conservação das coisas seguradas;
O segurado não pode, sob pena de nulidade, fazer se-
c) Declarar exactamente, aquando da conclusão gurar pela segunda vez, pelo mesmo tempo e riscos, coisa
do contrato, todas as circunstâncias de que já segura pelo seu inteiro valor, excepto se:
tenha conhecimento e sejam susceptíveis de
influenciar na apreciação pelo segurador do a) Subordinar o segundo seguro à nulidade do
risco que assume; primeiro ou à insuficiência patrimonial total
ou parcial do respectivo segurador;
d) Notificar o segurador, na medida em que
deles tenha conhecimento, de todos os b) Ceder os direitos do primeiro seguro ao segundo
agravamentos de risco que se verifiquem segurador ou denunciar previamente o
durante a vigência do contrato. primeiro seguro.
2. O segurado deve contribuir para a salvação das CAPÍTULO IV
coisas seguradas e tomar todas as medidas que seja ra-
zoável exigir para acautelar os seus direitos em relação Da liquidação do sinistro e da sub-rogação
a terceiros responsáveis.
Artigo 708.º
3. O segurado responde perante o segurador pelos Comunicação do sinistro
danos que para este resultarem do incumprimento da
obrigação estabelecida no número anterior. O segurado deve participar ao segurador o sinistro no
prazo de 3 (três) dias a contar da data em que dele tenha
Artigo 704.º
conhecimento.
Falta de pagamento do prémio
Artigo 709.º
A falta de pagamento de um prémio confere ao segurador
Obrigação de indemnizar
o direito de, mediante simples carta registada dirigida ao
segurado, suspender o seguro até que o pagamento seja 1. O segurador é obrigado a pagar ao segurado a in-
efectuado e, caso o não seja no prazo de 30 (trinta) dias, demnização acordada após a verificação do sinistro e este
rescindir o contrato. lhe seja comunicado.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1839

2. O segurador pode opor ao portador da apólice, tanto 3. A transmissão referida no número anterior é defi-
à ordem como ao portador, todas as excepções relativas nitiva e irrevogável e produz efeitos entre as partes a
à apólice que, poderia opor ao segurado originário, como partir do momento em que o abandono foi devidamente
se não tivesse havido a transmissão. comunicado.
Artigo 710.º 4. O segurado deve entregar ao segurador todos os
Modalidades de liquidação documentos concernentes aos bens segurados.
Artigo 715.º
1. Pode-se liquidar o sinistro em regime de avarias ou
em regime de abandono, conforme o previsto nos artigos Declaração de abandono
seguintes.
1. O abandono deve ser comunicado pelo segurado
2. Compete ao segurado escolher o regime de liqui- ao segurador no prazo de 30 (trinta) dias a contar do
dação. dia em que aquele teve conhecimento do sinistro, ou da
expiração do prazo que permite o abandono, no caso de
3. Não obstante, o disposto no número anterior, o segu-
falta de notícias.
rado não pode optar pelo regime de abandono nas situa-
ções distintas dos previstos no artigo 731.º para o seguro 2. A comunicação deve ser feita por carta registada ou
de cascos e no artigo 743.º para o seguro de mercadorias. por qualquer outro meio fidedigno.
Artigo 711.º
3. Decorridos os prazos previstos no nº 1, o segurador
Indemnização em regime de avarias não pode fazer a declaração de abandono, ficando a salvo,
o seu direito à liquidação em regime de avaria.
1. Na liquidação em regime de avarias o segurador
deve indemnizar ao segurado o valor das perdas ou danos Artigo 716.º
sofridos nos interesses segurados. Declaração dos seguros existentes em caso de abandono
2. O valor da indemnização determina-se por acordo dos 1. Ao comunicar o abandono ou posteriormente, o
interessados e, na sua falta, mediante avaliação judicial. segurado é obrigado a declarar todos os seguros que fez
3. Salvo declaração expressa na apólice, o segurador ou de que tenha conhecimento, só se contando o prazo
não pode ser obrigado a reparar ou substituir as coisas para o segurador efectuar o pagamento a partir da data
seguradas. dessa declaração.

Artigo 712.º 2. O segurado que, de má fé, prestar declarações ine-


xactas fica privado do direito à indemnização.
Liquidação da contribuição à avaria grossa
Artigo 717.º
1 O segurador reembolsa ao segurado o valor da con-
tribuição pago em avaria comum, em proporção à relação Ineficácia da declaração de abandono
existente entre o valor real do bem segurado e o montante
máximo do seguro. A declaração de abandono não produz efeitos jurídicos
se não forem confirmadas os factos sobre os quais ela se
2. O reembolso referido no número anterior não pode fundou, ou não existiam ao tempo em que ela se fez ao
exceder o montante da contribuição efectivamente paga. segurador.
Artigo 713.º Artigo 718.º

Liquidação da recompensa de salvação Prazo de pagamento da indemnização

1. Quando a recompensa de salvação não for distri- 1. Em caso de abandono, o segurador deve pagar a
buída em avaria grossa, o segurador deve reembolsar indemnização no prazo de 3 (três) meses a contar da
ao segurado, a quantia que tenha pago ao salvador, em comunicação da declaração.
proporção à relação existente entre o valor real da coisa
segurada e o montante máximo do seguro. 2. Nas liquidações em regime de avaria o pagamento
deve ser efectuado no prazo de 30 (trinta) dias a contar
2. O reembolso referido no número anterior não pode da data da fixação da indemnização.
exceder o montante da recompensa efectivamente paga.
Artigo 719.º
Artigo 714.º
Sub-rogação
Extensão e efeitos do abandono
1. O segurador que pagar a indemnização do seguro fica
1. O abandono compreende somente os bens que são subrogado em todos os direitos do segurado em relação
objecto de seguro e de risco, e não pode ser parcial, nem a terceiros causadores do sinistro.
condicional.
2. Se a indemnização apenas recair sobre parte das
2. O abandono transfere ao segurador os direitos do avarias, o segurador e o segurado concorrem a fazer
segurado sobre os bens segurados, ficando o segurador valer esses direitos na proporção da quantia que a cada
obrigado ao pagamento da totalidade da quantia segurada. um for devida.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1840 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

3. No caso de indemnização de perdas ou danos que Artigo 722.º


constituam avaria grossa, o segurador que pagar se su- Modalidades
brogará na posição do seu segurado na massa activa da
avaria grossa. O seguro de cascos ou de navios pode ser feito por uma
Artigo 720.º
viagem, por várias viagens consecutivas ou por tempo
determinado.
Prescrição
Artigo 723.º
1. As acções emergentes do contrato de seguro marítimo
Seguro por viagem
prescrevem no prazo de 2 (dois) anos, salvo se o autor
demonstrar não lhe ser possível, por causa que não lhe 1. No seguro por viagem os riscos correm por conta
seja imputável, exercer judicialmente o seu direito dentro do segurador desde que o navio desamarra ou levanta a
desse prazo. âncora para sair do porto até ao momento em que está
2. O prazo de prescrição conta-se: ancorado ou amarrado no porto de destino.

a) Para as acções de pagamento do prémio, a contar 2. Não obstante o previsto no número anterior, se o
da data da exigibilidade; navio receber mercadorias, os riscos correm por conta do
segurador desde o início da carga até o final da descarga.
b) Para as acções de pagamento da indemnização
em regime de avaria e no seguro de cascos, a 3. Se a descarga se atrasar por culpa do destinatário,
contar da data do sinistro; os riscos terminam para o segurado, 15 (quinze) dias
depois da chegada do navio ao seu destino.
c) Para as acções de pagamento da indemnização em
Artigo 724.º
regime de avaria e no seguro de mercadorias,
a contar da data da chegada do navio ou, não Seguro por tempo determinado
chegando o navio, da data que deveria ter
chegado, ou se o sinistro for posterior, da data 1. No seguro por tempo determinado os riscos são co-
do sinistro; bertos pelo segurador do primeiro ao último dia.

d) Para as acções de pagamento da indemnização 2. Os dias contam-se das 0 (zero) às 24h:00 (vinte e
em regime de abandono, da data do sinistro quatro horas), segundo a hora do lugar onde a apólice
que confira direito ao abandono ou, na falta tenha sido emitida.
de notícias, a contar da data em que começa o
3. O seguro por tempo determinado é tacitamente
prazo para fazer a declaração de abandono;
prorrogado, por igual período se não for denunciado por
e) Para as acções do segurado que tenham qualquer das partes antes do seu termo.
por fundamento sua contribuição à avaria
CAPÍTULO II
grossa ou o pagamento das recompensas por
salvação, a contar da data do pagamento feito Das regras especiais do seguro de cascos
pelo segurado; ou de navios
f) Para as acções do segurado que tenham por Artigo 725.º
fundamento a sua responsabilidade perante
Valor convencionado
terceiros, a contar da data em que este tenha
instaurado a acção ou que o segurado o tenha 1. Quando o valor pelo qual o navio tenha sido segurado
indemnizado. for prévia e expressamente convencionado pelas partes,
3. A acção para a restituição de qualquer quantia paga estas renunciam reciprocamente a qualquer outra ava-
em virtude do contrato de seguro, prescreve igualmente liação para efeitos de indemnização, salvo se o segurador
no prazo de 2 (dois ) anos, a contar da data do pagamento demonstrar que houve má fé do segurado.
indevido. 2. A quantia segurada compreende indivisivelmente,
TÍTULO II o casco e as máquinas ou outros meios de propulsão,
bem como as demais partes integrantes do navio de que
DO SEGURO DE CASCOS o segurado é proprietário, mas não compreende nem as
provisões nem o combustível nem os demais acessórios
CAPÍTULO I
do navio.
Do âmbito e modalidades do seguro de cascos
ou de navios 3. Qualquer seguro, seja qual for a sua data, feito
separadamente sobre as partes integrantes do navio per-
Artigo 721.º tencentes ao segurado, importa a redução na medida da
Âmbito quantia segurada, em caso de perda total ou abandono,
do valor convencionado.
As disposições deste Título aplicam-se com carácter es-
pecial ao seguro de cascos ou de navios, feitos unicamente 4. No caso das coberturas por contribuição à avaria
para a duração da sua permanência nos portos, enseadas grossa e das recompensas por salvação aplica-se a regra
ou outros locais, na água ou em doca seca. proporcional a que se referem os artigos 712.º e 713.º.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1841
Artigo 726.º b) Destruição correspondente a 3 (três) quartas
Prémio partes do valor;

1. No seguro feito por uma ou várias viagens consecu- c) Impossibilidade de reparação;


tivas, o segurador tem direito à totalidade do prémio a
d) Presa ou captura, que se mantenha decorridos
partir do momento em que os riscos tenham começado a
3 (três) meses a contar da notificação do facto
correr por sua conta.
feita pelo segurado ao segurador;
2. No seguro feito por um tempo determinado o se-
gurador tem direito ao prémio estipulado para todo o e) Falta de notícias do navio durante mais de 3
período de duração da garantia, no caso de perda total (três) meses.
ou de abandono a cargo do segurador, no caso contrário, Artigo 732.º
o segurador tem apenas direito ao prémio correspondente
Abandono por falta de notícias
ao tempo decorrido até à perda total ou abandono.
Artigo 727.º 1. No caso do abandono por falta de notícias, tendo o
Alienação ou locação do navio durante o tempo do seguro seguro sido feito por tempo determinado, a perda do navio
presume-se acontecida dentro do tempo do seguro, desde
1. No caso de alienação ou locação do navio durante que iniciada dentro do tempo do seguro a contagem do
o tempo do seguro, este passa para o novo dono ou para prazo de 3 (três) meses referidos na alínea e) do artigo
o locatário, o qual é obrigado a informar o segurador da anterior.
transferência no prazo de 10 (dez) dias a contar da con-
clusão do contrato e cumprir todas as obrigações a que o 2. Havendo vários seguros sucessivos, a perda presu-
segurado se vinculara para com o segurador. me-se acontecida no dia seguinte àquele em que foram
recebidas as últimas notícias.
2. O transmitente ou locador continua obrigado ao paga-
mento dos prémios vencidos antes da alienação ou locação. 3. Se, porém, vier a provar-se que a perda ocorreu
Artigo 728.º fora do tempo do seguro, a indemnização paga deve ser
restituída com os juros legais.
Responsabilidade por danos de terceiros

1. No seguro de cascos o segurador garante o reembolso TÍTULO III


dos danos de qualquer natureza pelos quais o segurado DO SEGURO DE MERCADORIAS
seja responsável para com terceiros em caso de abal-
roação pelo navio segurado ou de choque contra uma CAPÍTULO I
construção ou um corpo fixo, móvel ou flutuante.
Do âmbito e modalidades do seguro
2. Não obstante o disposto no número anterior, são de mercadorias
excluídos os danos por morte ou lesões, que podem ser
Artigo 733.º
objecto de cobertura conforme o previsto no Título IV
deste Livro. Âmbito
Artigo 729.º
1. As disposições deste Título aplicam-se especialmente
Exclusão de responsabilidade ao seguro de mercadorias.
O segurador não responde pelas perdas e danos resul- 2. As mercadorias são seguras ininterruptamente,
tantes de vício próprio do navio, salvo se tratar de vício onde quer que se encontrem dentro dos limites da viagem
oculto, ou de falta intencional do capitão ou de membros definida na apólice.
da tripulação.
Artigo 730.º 3. No caso de uma parte da viagem se fazer por via
terrestre ou aérea, é aplicável a essa parte da viagem o
Liquidação em regime de avaria
regime do seguro marítimo.
1. Na liquidação em regime de avaria, o segurador
Artigo 734.º
apenas reembolsa as despesas de substituição ou de
reparação necessárias para repor o navio em bom esta- Modalidades
do de navegabilidade, com exclusão de qualquer outra
O seguro de mercadorias pode ser feito por apólice
indemnização por depreciação ou prejuízos causados por
válida apenas por uma viagem ou por apólice flutuante.
falta de utilização do navio ou por qualquer outra causa.
Artigo 735.º
2. As despesas de substituição estão sujeitas à redução
correspondente à diferença de valor entre o novo e o velho. Tempo do seguro
Artigo 731.º
Os riscos correm por conta do segurador desde que
Casos em que o segurado pode fazer abandono as mercadorias começam a ser manuseadas para serem
O segurado pode fazer abandono do navio nos seguin- carregadas em qualquer meio de transporte no início da
tes casos: viagem, até que cessa o manuseamento das mercadorias
para serem descarregadas de qualquer meio de transpor-
a) Destruição total; te, no final da viagem.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1842 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 736.º Artigo 740.º
Seguro por apólice flutuante Montante máximo da quantia segurada
1. No seguro feito mediante apólice flutuante, o segu- A quantia segurada não pode ser superior à mais ele-
rado obriga-se a declarar ao segurador e este a aceitar vada das seguintes:
para a cobertura da apólice:
a) O preço de compra ou, na sua falta, o preço
a) Todas as viagens feitas por conta do segurado corrente ao tempo e no lugar de carga,
ou em execução de contratos de compra e acrescido de todas as despesas até ao lugar do
venda nos termos dos quais fique a cargo do destino e do lucro esperado.
segurado a obrigação de segurar;
b) O valor no lugar do destino à data da chegada
b) Todas as viagens feitas por conta de terceiros
ou, se as mercadorias não chegarem, à data
relativamente às quais tenha ficado a cargo
em que deveriam ter chegado.
do segurado a obrigação de fazer o seguro,
desde que o segurado tenha interesse na c) O preço de venda, no caso de as mercadorias
viagem, como comissário, consignatário ou terem sido vendidas pelo segurado.
noutra qualquer qualidade, não dando direito
Artigo 741.º
à aplicação da apólice o interesse do segurado
que unicamente corresponda à execução de Montante das avarias
uma ordem de seguro dada por terceiro. O montante das avarias é o correspondente à diferença
2. As viagens ficam cobertas: entre o valor da mercadoria avariada e o valor que ela
teria, em bom estado, no mesmo tempo e lugar.
a) Nos casos da alínea a) do número anterior, a
partir do momento em que as mercadorias Artigo 742.º
fiquem expostas aos riscos cobertos, sempre Franquia
que a declaração respectiva seja feita dentro
dos prazos fixados no contrato; No caso de as partes terem convencionado uma fran-
quia, esta é sempre independente das quebras normais
b) Nos casos da alínea b) do número anterior, a do percurso.
partir do momento da declaração.
Artigo 743.º
Artigo 737.º
Casos em que o segurado pode fazer abandono
Falta de declaração do segurado

1. No caso de o segurado deixar de fazer, de má fé, O segurado pode fazer abandono das mercadorias nos
as declarações a que é obrigado nos termos do artigo seguintes casos:
anterior, o segurador tem direito à imediata rescisão do a) Desaparecimento ou perda total;
contrato e fica desobrigado de indemnizar os sinistros
ocorridos posteriormente à primeira omissão. b) Perda ou deterioração correspondente a mais de
3/4 (três quartos) do valor;
2. O segurador fica ainda com o direito ao reembolso
das indemnizações que tenha feito por sinistros ocorridos c) Venda judicial em consequência de avarias
em viagens posteriores à primeira omissão e a receber, resultantes de riscos cobertos pelo seguro;
a título de indemnização, os prémios correspondentes às
d) Captura, que se mantenha, decorridos 3 (três)
declarações omitidas.
meses a contar da notificação do facto feita
Artigo 738.º
pelo segurado ao segurador;
Prémio no seguro por apólice flutuante
e) Inavegabilidade do navio transportador, no caso
O prémio é calculado sobre o montante total das de- de as mercadorias não poderem reiniciar a
clarações para cobertura pela apólice. viagem, em qualquer meio de transporte, no
CAPÍTULO II prazo de 3 (três) meses;
Das regras especiais do seguro de mercadorias f) Falta de notícias do navio durante mais de 3
Artigo 739.º (três) meses.
Exclusão de responsabilidade TÍTULO IV
O segurador não responde por: DE OUTROS SEGUROS MARÍTIMOS
a) Derrames ou perdas ordinárias em peso e volume,
CAPÍTULO I
ou uso e desgaste natural das mercadorias;
Do seguro do frete e de gastos de salvamento
b) Deficiências de embalagem ou mau acondicio-
namento das mercadorias; Artigo 744.º

c) Situações de insolvência do armador ou do Seguro do frete


transportador que dêem lugar a abandono 1. O frete relativamente ao qual não haja convenção
das mercadorias; de pagamento incondicional pode ser segurado até 60%
d) Actos ou omissões dolosos do segurado. (sessenta por cento) do seu montante.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1843

2. O seguro do frete apenas cobre, dentro dos limites LIVRO XI


da quantia segurada: DOS PROCEDIMENTOS MARÍTIMOS
a) A contribuição do frete em avaria grossa; TÍTULO I
b) O reembolso do frete, no caso de abandono DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
do navio após sinistro resultante de risco
coberto, desde que o armador demonstre, Artigo 751.º
salvo nos casos de destruição total e de falta Objecto
de notícias, não ter podido encaminhar as
mercadorias até ao seu destino. Este livro tem por objecto, a regulação dos procedimentos
relativos às matérias de natureza processual civil, conti-
Artigo 745.º das no presente Código.
Seguro de despesas de salvação Artigo 752.º
1. O seguro das despesas de salvação cobre, até à con- Legislação subsidiária
corrência do capital segurado, as despesas feitas para
salvar o navio após o sinistro resultante de um risco Em tudo quanto não estiver previsto neste Livro apli-
coberto, bem como toda a remuneração devida em razão cam-se as disposições gerais da legislação processual civil.
destes riscos. TÍTULO II
2. Este seguro só produz efeitos no caso de insuficiência DO ARRESTO PREVENTIVO DE NAVIOS
da quantia segurada pela apólice do casco.
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
Das disposições gerais
Do seguro de responsabilidade civil
Artigo 753.º
Artigo 746.º
Conceito
Âmbito de aplicação
1. Para efeitos do disposto no presente Código, arresto
As normas deste Título aplicam-se não só aos seguros
preventivo, é a detenção e imobilização de um navio, por
de responsabilidade civil, mas também às coberturas dos
decisão judicial com vista a garantir o pagamento de um
Clubes de Protecção e Indemnização e outras cobertu-
crédito marítimo.
ras do risco que determinem obrigações de indemnizar
terceiros. 2. O arresto preventivo, não abrange o arresto de um
Artigo 747.º
navio para a sua venda judicial em execução de um título
jurisdicional ou hipotecário.
Seguros obrigatórios de responsabilidade civil
Artigo 754.º
Os seguros obrigatórios de responsabilidade civil exi-
Regime aplicável
gidos pelas disposições do presente Código ou pelos seus
regulamentos são fixados pelas respectivas normas es- Em tudo quanto não contrariar o estabelecido neste
pecíficas e, subsidiariamente, pelo disposto neste Título. Capítulo, aplica-se ao arresto preventivo, o previsto
Artigo 748.º na legislação processual civil relativa às providências
cautelares.
Obrigação do segurador e acção directa
Artigo 755.º
1. A obrigação de indemnizar nesta classe de seguros
existe para o segurador, desde que surge a responsa- Relação com o processo principal
bilidade do segurado perante o terceiro lesado, tendo 1. O arresto preventivo pode ser requerido como
este, acção directa contra o segurador para exigir-lhe o preliminar de uma acção judicial de reclamação de um
cumprimento da sua obrigação. crédito marítimo, ou como incidente no referido processo
2. É nulo, qualquer acordo contratual que vise alterar principal.
o disposto neste artigo. 2. A improcedência do arresto preliminar ao processo
Artigo 749.º principal não prejudica o exercício de outras acções que
no processo possam proceder.
Limite de cobertura
Artigo 756.º
O segurador da responsabilidade civil, salvo acordo
expresso em contrário, responde até ao limite da quan- Tribunal competente
tia segurada por cada um dos factos que originem a sua 1. É competente para conhecer o arresto preventivo o
responsabilidade, ocorridos na vigência do contrato. tribunal onde decorre o processo principal ou do porto
Artigo 750.º onde se encontra ou se espera a chegada do navio.
Limitações de responsabilidade indemnizatória 2. Tratando-se de um arresto preliminar, o tribunal
judicial do porto de estadia ou da espera de chegada do
O segurador pode opor ao lesado as mesmas excepções navio é competente para conhecer da providência cautelar
que poderia opor ao seu segurado e, especialmente as e do processo principal.
limitações quantitativas de responsabilidade constituídas
de acordo com as disposições do presente Código ou do 3. Se o navio não chegar ao porto esperado, o tribunal
contrato de que deu origem à responsabilidade. judicial desse porto perde a sua competência.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1844 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 757.º CAPÍTULO III
Autor Dos navios que podem ser arrestados
Para efeitos deste Capítulo considera-se autor, a en- Artigo 760.º
tidade, que solicita o arresto preventivo alegando a seu
favor um crédito marítimo. Navios propriedade do devedor do crédito

CAPÍTULO II 1. Sem prejuízo do estabelecido no artigo seguinte, o


autor pode fazer arrestar o navio a que o crédito se re-
Dos créditos que dão lugar ao arresto porta, como qualquer outro pertencente àquele que, na
Artigo 758.º data da constituição do crédito marítimo, era proprietá-
rio do navio, mesmo que o navio arrestado se encontre
Restrição ao arresto de navio despachado para viagem.
Um navio só pode ser arrestado em garantia de um 2. Não obstante, pelos créditos referidos nas alíneas
crédito marítimo, sem prejuízo dos poderes conferidos o), p), q) do artigo anterior apenas pode ser arrestado o
à administração marítima ou às outras administrações navio a que disser respeito a reclamação.
portuárias, por lei e regulamento, de deterem um navio
ou, por outro modo, o impedirem de sair para o mar, 3. Consideram-se do mesmo proprietário, os navios
dentro da sua jurisdição. cujas quotas-partes pertençam, em propriedade, à mesma
ou às mesmas pessoas.
Artigo 759.º
Artigo 761.º
Noção de crédito marítimo
Navios da propriedade de pessoas distintas do devedor
Considera-se crédito marítimo, o direito de crédito
ou outro proveniente de qualquer das causas a seguir 1. No caso de fretamento de navio, com transferência
enumeradas: da gestão náutica, quando só o afretador responder por
um crédito marítimo relativo a esse navio, o autor pode
a) Danos causados por um navio, quer por fazer arrestar o mesmo navio ou outro pertencente ao
abalroação quer por outro modo, incluídos os afretador, mas nenhum outro navio pertencente ao pro-
danos por poluição; prietário pode ser arrestado para tal crédito.
b) Perda de vidas humanas ou danos corporais 2. O estabelecido no número anterior é igualmente
causados por um navio ou resultantes da sua aplicável a todos os casos em que pessoa diversa do pro-
exploração; prietário é devedora de um crédito marítimo.
c) Assistência e salvação;
Artigo 762.º
d) Contratos relativos à utilização ou ao aluguer de
Navios despachados e prontos para se fazerem ao mar
um navio celebrados por carta-partida ou por
outro meio; O facto do navio se encontrar despachado e pronto para
se fazer ao mar não impede o seu arresto preventivo.
e) Contratos relativos ao transporte de mercadorias
num navio, nomeadamente por carta-partida CAPÍTULO IV
ou conhecimento de embarque;
Do procedimento do arresto
f) Perdas ou danos de mercadorias e bagagens
Artigo 763.º
transportadas num navio;
g) Avaria grossa; Requerimento e prova

h) Empréstimo a risco; 1. Para se decretar o arresto, basta ao autor alegar a


existência de um crédito marítimo e a causa que o originou.
i) Reboque;
2. O autor pode oferecer com a petição de arresto, os
j) Pilotagem; meios de prova que considere convenientes.
k) Fornecimentos de produtos ou de material Artigo 764.º
feitos a um navio para a sua exploração ou
conservação, qualquer que seja o lugar onde Auto de arresto
esses fornecimentos tenham sido efectuados; 1. Analisados o requerimento e as provas apresentadas, o
l) Construção, reparações ou armamento de um tribunal judicial, pode decretar o arresto sem ouvir o arrestado.
navio ou despesas de estiva; 2. O auto do arresto é notificado ao arrestado, ao seu
m) Remunerações do capitão, oficiais ou tripulantes; agente marítimo ou ao capitão do navio, bem como à
administração marítima local.
n) Despesas do capitão, dos carregadores, afretadores
ou agentes, feitos por conta do navio ou do seu 3. Tratando-se de navio estrangeiro, o arresto é dado a
proprietário; conhecer ao representante diplomático ou consular mais
próximo do Estado de pavilhão.
o) Impugnação da propriedade de um navio;
Artigo 765.º
p) Impugnação da compropriedade de um navio,
ou da posse ou da exploração, ou do direito Medidas a adoptar pela administração marítima
ao produto da exploração de um navio em
1. Uma vez notificada do arresto, a administração ma-
regime de compropriedade;
rítima local deve adoptar as medidas necessárias para
q) Hipoteca marítima. evitar a saída do navio.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1845

2. Para os efeitos previstos no número anterior, a ad- Artigo 770.º


ministração portuária, a guarda costeira, as forças da Caducidade do arresto
polícia judiciária e nacional, devem prestar a colaboração
que lhes for solicitada pela administração marítima local, 1. O arresto fica sem efeito:
sempre que seja possível e razoável. a) Pela extinção do crédito marítimo que se
Artigo 766.º
pretende garantir;
b) Pela não apresentação da acção principal no
Oposição
prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data da
1. Notificado do arresto, o arrestado, pode apresentar notificação da decisão que decretou o arresto
oposição, alegando os factos e apresentando as provas ou quando o processo da acção principal ficar
que considerar oportuno para sua defensa. parado por período superior a 60 (sessenta)
dias, por inércia do autor;
2. Pode ainda o arrestado requerer a substituição do
arresto a que se refere o número seguinte, mediante c) Pela decisão da acção principal desfavorável ao
prestação de caução. autor, transitada em julgado;
3. A oposição é notificada ao arrestante, seguindo-se d) Se obtida sentença favorável no processo
os demais termos do processo sumário. principal, o autor não promover execução nos
6 (seis) meses seguintes ou se, promovida a
Artigo 767.º execução, o processo estiver parado mais de
Levantamento do arresto
30 (trinta) dias por negligência do exequente.
2. Quando o arresto tenha sido substituído por caução
1. O tribunal pode ordenar o levantamento do arresto ou outra garantia, fica esta sem efeito nos casos previstos
mediante prestação de caução idónea pelo arrestado, no número anterior.
salvo quando o arresto tenha sido decretado por créditos
marítimos enumerados nas alíneas o), p) ou q) do artigo 759.º. TÍTULO III
2. Na falta de acordo entre as partes, compete ao DA VENDA JUDICIAL DE NAVIOS
tribunal fixar a natureza e valor da caução prevista no CAPÍTULO I
número anterior.
Do procedimento e garantia da venda
3. O pedido de levantamento do arresto previsto neste Artigo 771.º
artigo, não constitui reconhecimento da responsabilidade
nem renúncia ao benefício da limitação legal da respon- Âmbito e regime supletivo
sabilidade do proprietário ou armador do navio. 1. As normas e as garantias processuais previstas
4. O arresto ou a caução prestada em substituição da- neste Capítulo aplicam-se à venda judicial de navios ou
quele é levantado também, a requerimento do arrestado, restos de navios.
nos casos de caducidade a que se refere o artigo 770.º 2. Em tudo quanto não estiver previsto neste Título
aplicam-se as normas processuais gerais relativas à exe-
CAPÍTULO V
cução e venda judicial de bens móveis sujeitos a registo.
Dos arrestos múltiplos, arrestos injustificados Artigo 772.º
e da caducidade
Notificação da venda judicial
Artigo 768.º
Antes de se proceder à venda judicial do navio, deve o
Proibição de arrestos múltiplos tribunal competente notificar:
1. Nenhum arresto pode ser decretado e nenhuma caução a) À administração marítima e, tratando-se
pode ser prestada mais que uma vez pelo mesmo crédito e de navios estrangeiros, ao representante
a requerimento do mesmo autor, considerando-se também diplomático ou consular, do Estado de
para este efeito os arrestos decretados no estrangeiro. pavilhão, mais próximos;
2. Se um navio for arrestado, mesmo no estrangeiro, e b) Ao proprietário do navio;
prestada caução, seja para levantar o arresto como para o c) Aos titulares das hipotecas ou encargos inscritos
evitar, qualquer arresto posterior de esse navio ou de outro constituídos não ao portador;
pertencente ao mesmo proprietário, efectuado a requeri-
mento do autor pelo mesmo crédito marítimo, é levantado, d) Aos titulares das hipotecas ou encargos inscritos
pela autoridade judicial, a não ser que o autor prove que a constituídos ao portador, bem como aos
garantia ou caução ficou indevidamente sem efeito. titulares dos créditos marítimos privilegiados
enumerados no artigo 273.º, sempre que o
Artigo 769.º tribunal tiver conhecer tais créditos.
Responsabilidade por arresto injustificado Artigo 773.º

1. Se o arresto for julgado injustificado ou caducar Prazo e conteúdo da notificação


por negligência do autor, é este responsável pelos danos 1. A notificação a que se refere o artigo anterior deve
causados e pelas despesas ocasionadas com prestação da ser feita, com 30 (trinta) dias de antecedência da data
caução pelo arrestado com vista ao seu levantamento. marcada para a venda judicial e conter:
2. O tribunal pode condicionar o embargo à prévia apre- a) A data, o lugar e a hora da venda judicial, bem
sentação pelo autor de caução ou garantia adequada em como as circunstâncias relativas ao processo
função da classe, valor, características e compromissos que o tribunal considere importantes para
contratuais assumidos pelo navio. proteger os interesses dos notificandos;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1846 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

b) Se a data, o lugar e a hora da venda, não Artigo 778.º


poderem ser determinados, notifica-se da Inscrição no registo da venda judicial
data aproximada e do lugar previsto para a
venda judicial, bem como as circunstâncias 1. O título de arrematação da venda serve de título ao
indicadas no número anterior; adjudicatário interessado para a inscrição da sua pro-
priedade no registo convencional de navios.
c) Quando houver certezas em relação aos elementos
referidos na alínea anterior, o tribunal 2. Em qualquer caso e logo que seja realizada a venda,
notifica os interessados com antecedência o tribunal comunica-a à administração marítima fazendo
mínima de 7 (sete) dias da data prevista para constar a identidade, nacionalidade e domicílio do novo
a venda judicial. proprietário.
3. A administração marítima procede à inscrição do
2. A notificação faz-se por escrito às pessoas interes-
novo proprietário no registo convencional de navios ou
sadas indicadas no artigo anterior, se forem conhecidas, cancela o registo se o novo proprietário não reunir os
através dos meios estabelecidos na legislação processual requisitos exigidos no artigo 166.º.
geral, por carta registada, por meios electrónicos ou por
qualquer outro meio idóneo que permita obter a certeza 4. Sendo estrangeiro o navio vendido, o tribunal co-
da sua recepção, mesmo quando a pessoa a notificar tenha munica a venda à autoridade registadora do Estado de
seu domicílio fora de Cabo Verde. pavilhão, para efeitos de registo.
Artigo 774.º Artigo 779.º

Publicidade geral da venda Cancelamento de hipotecas e encargos

1. A venda é igualmente anunciada nos jornais de 1. Em consequência da venda judicial do navio, as


âmbito nacional. hipotecas e encargos inscritos, salvo aqueles nos quais o
comprador se tenha subrogado com o consentimento dos
2. No caso das embarcações, é suficiente o anúncio da credores, bem como todos os créditos marítimos privile-
venda em editais exibidos em locais próprios do tribunal e giados e outras cargas de qualquer género que pesam
da administração marítima local do porto de registo e do sobre o navio, ficam sem efeito.
porto em que a embarcação se encontrar, se forem distintos. 2. Na mesma comunicação a que se refere o nº 2 do
3. A requerimento do interessado ou oficiosamente, artigo anterior, o tribunal ordena o cancelamento dos re-
pode o tribunal determinar a publicidade da venda por gistos das hipotecas e encargos que existam sobre o navio.
outros meios. TÍTULO IV
4. Os anúncios a que se refere este artigo devem ser DO DEPÓSITO E VENDA JUDICIAL
publicitados com 15 (quinze) dias de antecedência da DE MERCADORIAS
data marcada para a venda judicial.
Artigo 780.º
Artigo 775.º
Depósito
Possibilidade de examinar e inspeccionar o navio
1. De acordo com o previsto no artigo 517.º o transpor-
1. No decurso do prazo dos anúncios, qualquer interes- tador pode solicitar o depósito e venda das mercadorias
sado pode examinar e inspeccionar o navio em venda, em transportadas nos casos em que o seu destinatário não pa-
dias úteis e durante as horas normais de funcionamento gou o frete ou outros créditos emergentes do transporte.
das instituições judiciais e marítimas.
2. Pode igualmente proceder ao depósito e venda das
2. O tribunal e a administração marítima local devem mercadorias transportadas, quando o destinatário não
criar as condições necessárias para que as inspecções refe- seja localizado ou não se apresentar para os retirar do
ridas no número anterior possam realizar-se em segurança. navio, requerendo-o nos termos previstos nos artigos
515.º e 782.º
Artigo 776.º
3. As disposições deste Título aplicam-se com as adap-
Reclamação de créditos marítimos privilegiados ou hipotecários tações necessárias, ao depósito e venda, em garantia do
1. Os titulares de créditos marítimos privilegiados ou pagamento do frete especial, às bagagens dos passageiros
hipotecários podem comparecer e formular as correspon- entregues aos transportadores para os guardar.
dentes reclamações pela forma e com os efeitos previstos Artigo 781.º
na legislação processual civil.
Competência territorial
2. O estabelecido no número anterior, é aplicável ao
O tribunal judicial competente para conhecer do pro-
procedimento judicial de execução de hipoteca marítima.
cedimento regulado neste Título é o do lugar do porto de
CAPÍTULO II descarga e entrega das mercadorias.
Das actuações posteriores à venda Artigo 782.º

Artigo 777.º Requisitos do requerimento

Destino do produto na venda O requerimento de depósito e venda judicial deve con-


ter, com clareza, o seguinte:
1. Com o produto da venda são pagos os créditos con-
templados nos Capítulos II e III do Título V do Livro IV, a) O tipo de transporte, com cópia do conhecimento
pela ordem neles estabelecida. de embarque ou carta-partida;

2. Satisfeitos todos os créditos, o saldo, se houver, b) A identidade do destinatário, se for conhecida;


reverte-se ao proprietário do navio. c) O frete ou despesas reclamadas;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1847

d) A descrição da classe ou quantidade da Artigo 789.º


mercadoria cujo depósito se requer, com a Dever de cooperação
indicação aproximada do seu valor;
Os interessados devem prestar ao liquidatário designado,
e) A fundamentação, seja por não pagamento ou
a colaboração informação e documentação solicitada.
por impossibilidade de entrega.
Artigo 783.º Artigo 790.º

Notificação ao destinatário Forma e conteúdo do requerimento

1. Aceite o requerimento, o tribunal notifica o destinatá- O requerimento deve conter, com clareza, as circuns-
rio para no prazo de 8 (oito) dias pagar o valor reclamado. tâncias dos factos ocorridos, as despesas e os danos
2. Se o título não for nominativo, o requerimento deve produzidos, a relação nominal dos interessados e os
indicar o destinatário, sem o qual, não há lugar à notifi- documentos que justificam a petição.
cação a que se refere o número anterior. Artigo 791.º
Artigo 784.º Notificação
Verificação do depósito
Recebida a petição, o tribunal ordena a notificação dos
1. Se o requerido não pagar nem apresentar garantia interessados na viagem marítima, concedendo-lhes um
suficiente para o pagamento no prazo referido no número prazo de 15 (quinze) dias para intervirem no processo e apre-
anterior, o tribunal lavra o auto autorizando o depósito sentarem propostas para nomeação de perito liquidatário.
da mercadoria ou bagagens conforme solicitado.
Artigo 792.º
2. Caso haja divergência quanto à quantidade, classe
ou valor da mercadoria necessária para cobrir o valor Nomeação do perito liquidatário
reclamado, o tribunal nomeia perito para os determinar. 1. Recebidas as propostas, o tribunal designa o perito
Artigo 785.º liquidatário proposto por todos os interessados.
Venda 2. Se os interessados não apresentarem a proposta no
Feito o depósito e nomeado o depositário, o tribunal prazo a que se refere o artigo anterior, ou apresentarem
procede à venda nos termos aplicáveis à venda judicial vários peritos, o tribunal nomeia um perito liquidatário
de bens móveis. da avaria e disso, dá a conhecer aos interessados.
Artigo 786.º 3. A nomeação efectuada pelo tribunal pode ser im-
Destino do produto da venda
pugnada pelos interessados nos termos previstos na
legislação processual civil.
1. Com o produto da venda procede-se ao pagamento
das custas, despesas e direitos a que se refere o artigo 4. O perito liquidatário tem direito, a receber honorá-
523.º, e o remanescente reverte-se para o solicitante em rios, não inferior a 1% (um por cento) da massa activa
pagamento do frete e outros créditos reclamados. distribuída entre os contribuintes e pode pedir uma pro-
visão de fundos para as despesas, que deve ser suportada
2. Efectuados os pagamentos previstos no número ante- pelo solicitante.
rior e caso haja excedente, este é consignado em depósito,
nos termos da legislação processual civil. Artigo 793.º
Artigo 787.º Prazo para a liquidação
Oposição ao pagamento Nomeado o perito liquidatário, o tribunal concede-lhe
1. Se o titular da mercadoria se opor ao pagamento, o tri- prazo razoável para preparar a liquidação, que não pode
bunal retém em depósito o remanescente até decisão final. exceder 6 (seis) meses, podendo ser renovado por igual
período, se razões ponderosas relacionadas com a liqui-
2. O titular deve, no prazo de 20 (vinte) dias a contar
dação ou com o liquidatário o justificarem.
da data da venda judicial, apresentar a sua oposição ao
pagamento em juízo, seguindo aquela, a forma de pro- CAPÍTULO II
cesso compatível com o seu valor.
Das actuações posteriores à proposta
3. Se o destinatário da mercadoria, prestar garantia e de liquidação
assim evitar ou levantar o depósito e a venda daquela, deve
apresentar a sua reclamação no prazo a que se refere o nú- Artigo 794.º
mero anterior que se conta desde a constituição da garantia. Proposta de liquidação
TÍTULO V
Apresentada a proposta de liquidação da avaria grossa
DO PROCEDIMENTO PARA LIQUIDAR pelo liquidatário, ou relatório concluindo pela improce-
A AVARIA GROSSA dência da liquidação, são notificados os interessados, que
CAPÍTULO I os podem impugnar no prazo de 30 (trinta) dias.
Do processo de liquidação Artigo 795.º

Artigo 788.º Impugnações


Meios de liquidação Caso haja impugnações, o tribunal notifica o liqui-
Caso os interessados numa viagem marítima não che- datário para emitir parecer fundamentado sobre a sua
guem a acordo para a liquidação extrajudicial da avaria procedência, ou promover às modificações que entender
grossa, qualquer deles pode requerer a liquidação judicial por convenientes na sua proposta de liquidação, no prazo
dessa avaria. de 30 (trinta) dias.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1848 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010
Artigo 796.º d) Certificado de lotação máxima de passageiros
Aprovação da liquidação que o navio está autorizado a transportar,
nos casos em que a limitação se refere a
Apreciadas as impugnações e o parecer ou propostas de reclamações por morte ou lesão de passageiros;
modificação da proposta de liquidação, o tribunal, produz
auto de liquidação, de que cabe recurso nos termos da e) Cópia autenticada do certificado de
legislação processual civil. navegabilidade do navio;
Artigo 797.º f) Documento em que conste o cálculo do valor da
limitação;
Execução

O auto de liquidação homologado por sentença, consti- g) Lista de credores conhecidos e sujeitos a limitação,
tui título bastante para a execução contra os interessados com indicação dos respectivos domicílios,
que não pagarem a contribuição fixada na sentença, no títulos de reclamação e seu presumível valor;
prazo de 15 (quinze) dias. h) O nome do perito liquidatário proposto
TÍTULO VI conjuntamente pelo requerente e todos os
credores a que se refere a alínea anterior.
DO PROCEDIMENTO PARA LIMITAR A
RESPONSABILIDADE 2. O depósito a que se refere a alínea a) do nº 1 pode
ser substituído por uma outra garantia suficiente a fa-
CAPÍTULO I
vor do tribunal, emitida por uma instituição de crédito
Da alegação do direito e da constituição autorizada a operar em Cabo Verde.
do fundo
Artigo 801.º
Artigo 798.º
Admissão e aperfeiçoamento
Invocação do direito

1. Aquele que, no decurso de um processo cível, invocar 1. Apresentado o requerimento, o tribunal emite despacho
o direito de limitar a responsabilidade que lhe é exigida, de admissão ou de aperfeiçoamento no caso de faltar
deve iniciar os trâmites para a constituição do fundo ou algum requisito, devendo a omissão ser sanada no prazo
fundos de limitação no prazo de 10 (dez) dias a contar da de 5 (cinco) dias.
data da apresentação do requerimento. 2. O tribunal emite despacho de rejeição se considerar
2. O requerimento de constituição do fundo ou fundos que o montante do fundo ou fundos não obedece aos cál-
de limitação previsto no número anterior deve ser autu- culos previstos no presente Código, concedendo 5 (cinco)
ado por apenso aos autos de acção principal, e obedecer dias ao requerente para reparar o erro.
aos requisitos estabelecidos no presente Código. Artigo 802.º
Artigo 799.º
Despachos de admissão e de rejeição
Invocação em processos não cíveis
1. No despacho de admissão do requerimento a que se
1. Aquele que, no decurso de um processo não cível, referem os artigos anteriores, o tribunal declara consti-
invocar o direito de limitar a responsabilidade que lhe tuído o fundo ou fundos de limitação, podendo este ser
é exigida, deve apresentar o requerimento para a cons- impugnado.
tituição de fundo ou fundos de limitação no tribunal do
lugar onde corre o processo, no prazo de 10 (dez) dias a 2. A certidão do despacho a que se refere o número
contar da data da alegação do direito. anterior, constitui título bastante para, em qualquer
outro processo judicial ou administrativo em virtude do
2. O requerente do direito de limitação deve juntar ao
mesmo acidente, se obter o levantamento de arrestos,
pedido de constituição de fundo ou fundos de limitação,
garantias ou outras medidas cautelares sobre o navio ou
as alegações de direito que ao caso couber.
outros bens pertencentes ao titular do direito a limitar.
3. As sentenças ou resoluções que declarem a respon-
sabilidade civil em processos não cíveis apenas podem 3. Os processos a que se referem o número anterior,
ser executadas contra o fundo ou fundos regularmente continuam os seus trâmites normais, mas na sua execu-
constituídos perante o tribunal cível. ção contra as pessoas beneficiadas pela limitação deve
ter-se em conta a partilha do fundo ou fundos.
Artigo 800.º
4. Do despacho de rejeição da constituição do fundo ou
Conteúdo do requerimento de constituição do fundo
fundos, cabe recurso nos termos da legislação processual
1. O requerimento de constituição do fundo ou fundos civil.
de limitação deve ser reduzido a escrito e conter os factos
Artigo 803.º
relevantes da limitação que se invoca, acompanhado dos
seguintes documentos: Extinção do processo de limitação
a) Documento comprovativo do depósito a favor do 1. A sentença que julgar improcedente a limitação de
tribunal dos montantes das indemnizações responsabilidade declara extinto o processo de limitação.
calculadas nos termos previstos no Título III
do Livro IX do presente código; 2. A requerimento dos credores, o tribunal pode reter
b) Cópia autenticada do certificado de arqueação; o depósito ou a garantia a que se referem a alínea a) do
nº 1 e nº 2 do artigo 800.º, como garante das reclamações
c) Lista de tripulantes do navio no momento do apresentadas contra o devedor, até que se conclua o
acidente; processo correspondente.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1849

CAPÍTULO II Artigo 808.º

Da formação das massas e da distribuição do fundo Constituição da massa activa

Artigo 804.º 1. Para a composição da massa activa, o perito liquidatário


dá a conhecer ao requerente as impugnações dos credores
Nomeação do perito liquidatário sobre a procedência do direito de limitação da responsabili-
1. Na sentença a que se refere o nº 1 do artigo anterior, dade ou da quantia e forma do fundo ou fundos, para efeitos
o tribunal nomeia um perito liquidatário, devendo ser a de contestação no prazo de 20 (vinte) dias.
pessoa proposta nos termos da alínea h) do nº 1 do artigo 2. Decorrido o prazo previsto no nº 1 do artigo anterior,
800.º ou, na sua falta, outra designada pelo tribunal. haja ou não impugnações, o perito liquidatário leva ao
2. Sempre que o perito seja designado pelo tribunal, tribunal o seu relatório sobre a procedência e valor do
os interessados podem recusar a nomeação, nos termos fundo ou fundos de limitação, bem assim, a sua opinião
estabelecidos na legislação processual civil. sobre as impugnações apresentadas.

3. O perito nomeado deve declarar no prazo de 3 (três) 3. O tribunal decide por sentença sobre a constituição
dias perante o tribunal, se aceita o cargo. da massa activa e respectivo valor, cabendo dessa decisão,
recurso nos termos da legislação processual civil.
4. O perito tem direito a uma retribuição igual a 1%
Artigo 809.º
(um por cento) do fundo ou fundos distribuídos entre
os credores, a título de honorários, e pode pedir uma Complemento da massa activa
antecipação para as despesas imediatas, que deve ser 1. Se a sentença a que se refere o artigo anterior esta-
autorizada pelo requerente. belecer uma quantia do fundo ou fundos superior às já
Artigo 805.º depositadas ou constituídas, o requerente deve completar
estas últimas no prazo de 10 (dez) dias.
Constituição de massas e partilha provisória
2. Se o requerente não cumprir o previsto no número
1. O perito liquidatário regula as massas passivas e activa anterior, perde o direito de limitação da sua responsa-
do fundo ou fundos, assim como a proposta de partilha. bilidade, terminando o incidente com as consequências
2. O perito pode apresentar uma proposta de partilha previstas no artigo 803.º.
provisória ao tribunal e, se esta for aprovada, pode efec- Artigo 810.º
tuar pagamentos adiantados, que são considerados na
partilha definitiva. Auto de partilha

Artigo 806.º 1. Assinados os autos que aprovam a composição das


massas, passiva e activa o perito liquidatário elabora uma
Publicidade da formação das massas proposta de partilha de acordo com o previsto no artigo
1. Constituído o fundo ou fundos, o perito notifica os 680.º, a qual é notificada aos credores que, não concor-
credores conhecidos, para tomarem parte do processo e dando, podem impugná-la no prazo de 20 (vinte) dias.
reclamarem os seus créditos. 2. O tribunal decide por sentença a partilha, tendo em
consideração o relatório definitivo do perito liquidatário, da
2. A notificação é publicada num dos jornais mais lidos
qual cabe recurso nos termos da legislação processual civil.
do país.
LIVRO XII
3. Aos credores residentes no território nacional e no
estrangeiro, é concedido um prazo de 30 (trinta) e 60 DAS INFRACÇÕES E SANÇÕES
(sessenta) dias respectivamente, para apresentarem os ADMINISTRATIVAS
seus títulos e justificativos no processo. TÍTULO I
4. O perito pode exigir aos credores a documentação DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
que considerar necessária para a sustentação dos créditos
reclamados. CAPÍTULO I
Artigo 807.º Dos princípios gerais e das competências
Auto de formação da massa passiva Artigo 811.º

1. O devedor requerente da limitação e os credores Tipicidade, culpabilidade e regime subsidiário


podem impugnar os créditos ou o valor destes, bem como 1. As condutas tipificadas no presente Livro constituem
a inclusão dos mesmos na massa passiva, junto do perito infracções administrativas.
liquidatário, no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da
data da sua notificação. 2. A negligência e a tentativa são sempre puníveis.

2. O perito apresenta ao tribunal um relatório com a lista 3. Aplica-se subsidiariamente ao regime das infracções
dos créditos e respectivos valores admitidos na massa pas- e das sanções administrativas, o previsto na legislação
siva provisória ou definitiva, bem assim, as impugnações administrativa geral.
recebidas e as razões que justificam a sua decisão. Artigo 812.º

3. O tribunal decide sobre a composição da massa pas- Competências de fiscalização, instrução e sanção
siva, tendo em consideração o relatório a que se refere o
1. Compete à administração marítima, aos serviços
número anterior.
da guarda costeira e da polícia nacional, a fiscalização
4. Da decisão referida no número anterior, cabe recurso necessária para a prevenção das condutas previstas neste
nos termos da legislação processual civil. Livro no quadro das respectivas competências.

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1850 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

2. É da competência da administração marítima, a c) Tratando-se de um navio estrangeiro e a sua


instrução dos processos, a imposição de coimas e san- apreensão for considerada necessária pela
ções acessórias de interdição ou suspensão do exercício administração marítima para garantir a
profissão ou actividade, pelas infracções previstas neste cobrança de coimas, indemnizações ou outras
Livro, nos termos previstos no artigo seguinte. sanções a favor da administração pública,
nos termos do disposto no presente Código e
3. Das decisões da administração marítima tomadas
demais legislação administrativa.
ao abrigo do disposto no número anterior, cabem recurso
hierárquico para o membro do Governo responsável pela 3. No caso previsto na alínea c) do número anterior, o
administração marítima. navio fica livre logo que seja constituída garantia sufi-
ciente em Cabo Verde, nos termos definidos em portaria
Artigo 813.º
aprovada pelo membro do Governo responsável pela
Da competência em razão da matéria administração marítima.
1. São competentes para a instrução dos processos de 4. Quando a gravidade ou frequência da contra-
contra-ordenação as administrações marítimas locais em ordenação o justifique, pode ainda ser aplicada, como
cujas áreas ocorreu o respectivo facto ilícito ou, sendo medida cautelar ou sanção acessória, a interdição do
no alto mar, a administração marítima local do porto de exercício da profissão ou actividade relacionada com a
registo do navio ou do primeiro porto nacional de escala. contra-ordenação.
2. A competência para a aplicação das coimas é exercida CAPÍTULO III
da seguinte forma:
Das especialidades processuais
a) Até 50.000$00, pelo delegado marítimo;
Artigo 817.º
b) De 50.000$00 a 200.000$00 escudos, pelo capitão
Validade das notificações ao capitão e ao agente
do porto;
As notificações feitas ao capitão do navio, têm-se por
c) Mais de 200.000$00 escudos pela administração
dirigidas ao armador, tal como as diligências junto do
marítima.
agente marítimo servem em relação ao capitão, ao ar-
CAPÍTULO II mador e ao seu gestor.
Da natureza das sanções Artigo 818.º

Artigo 814.º Notificação ao cônsul

Coimas, medidas acessórias e medidas cautelares Sempre que sejam tomadas medidas cautelares pre-
vistas nos artigos anteriores em relação a um navio es-
1. As sanções administrativas são coimas ou medidas
trangeiro, as autoridades competentes devem informar
acessórias, sem prejuízo, da aplicação de medidas cau-
imediatamente, o cônsul ou representante diplomático do
telares para garantir a cobrança das coimas ou outros
Estado do pavilhão, das medidas tomadas, observando-se
encargos pecuniários ou ainda, para evitar danos poste-
o previsto no direito internacional nessa matéria.
riores aos interesses gerais.
Artigo 819.º
2. As medidas cautelares e as sanções acessórias pre-
vistas neste Capítulo não prejudicam as contempladas Impugnação judicial
do Título II.
1. Salvo o disposto no número seguinte, as decisões
Artigo 815.º que apliquem coimas ou sanções acessórias podem ser
impugnadas junto do tribunal de comarca em cuja área
Destino das coimas
de jurisdição tenha sido praticada a contra-ordenação.
O produto da coima reverterá em 50% a favor de um
2. Das decisões do membro do Governo responsável
fundo para o sector da administração marítima e destina-
pela administração marítima, cabe recurso contencioso
se a financiar as actividades de controlo e fiscalização
nos termos gerais.
exercidas pela entidade reguladora.
3. A impugnação judicial tem efeito meramente devo-
Artigo 816.º
lutivo, salvo se o arguido prestar caução no valor fixado
Medidas cautelares e sanções acessórias pela administração marítima.
1. Como medida cautelar ou sanção acessória das Artigo 820.º
contra-ordenações marítimas pode ser ordenada a apre-
Infracção constitutiva de delito
ensão dos navios ou outros corpos flutuantes ou objectos
e instrumentos que serviram para a sua prática ou dela 1 Se a autoridade competente considerar que a in-
resultarem. fracção constitui delito penal, lavra o auto de notícia e
remete à procuradoria para o exercício da acção penal e
2. A apreensão só pode ser ordenada quando o navio suspende o processo administrativo.
ou objectos referidos no número anterior:
2. A aplicação de sanção penal exclui aplicação de
a) Estando em poder do agente, representem um sanção administrativa.
perigo para a comunidade ou para a prática
de um crime ou de outra contra-ordenação; 3. Se não houver lugar à aplicação de sanção penal, o
tribunal devolve o processo à administração marítima,
b) Tendo sido alienadas ou estejam na posse para dar continuidade ao procedimento administrativo
de terceiro, este conhecesse, ou devesse
razoavelmente conhecer, que serviram para a 4. Sem prejuízo do disposto nos números anteriores,
prática da contra-ordenação; as medidas cautelares ou administrativas adoptadas

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1851

para salvaguarda da segurança marítima, prevenção da 2. A contra-ordenação prevista no número anterior é


poluição e ordenação do tráfego marítimo, cuja execução punida de acordo com o regime geral das contra-ordenações
não colide com suspensão prevista no número 1, devem marítimas, constante de legislação especial.
ser cumpridas.
3. O disposto neste artigo não prejudica o previsto no
TÍTULO II Capítulo III deste Título para a poluição causada por navios.
DA TIPIFICAÇÃO DE INFRACÇÕES E SANÇÕES CAPÍTULO II
CAPÍTULO I Das infracções e sanções sobre segurança
Das infracções e sanções sobre o domínio marítima, achados e extracções
público marítimo Artigo 824.º
Artigo 821.º Navegação, manobra e estadia dos navios
Violação de normas sobre obras e construções Constitui contra-ordenação administrativa:
Constitui contra-ordenação administrativa: a) A violação das normas que fixam os limites
a) A realização de obras ou construções ou a dentro dos quais podem operar, os navios a
ocupação do domínio público marítimo em que se refere o Título I do Livro IV;
contravenção das normas previstas no Título b) A violação das normas administrativas sobre
I do Livro II; reboques marítimos ou sobre pilotagem
b) A ocupação ou realização de obras ou construções obrigatória;
nas zonas circundantes ao domínio público
c) A violação das regras legalmente fixadas ou
marítimo em contravenção às normas a que
impostas pelas administrações marítimas,
se refere a alínea anterior.
sobre os locais de fundeadouro, atracação e
Artigo 822.º varação;
Extracção ilícita de areia d) Violação sobre as normas contidas no Título III
do Livro III relativas à entrada, permanência
1. Constituem contra-ordenações administrativas:
e saída dos navios do porto;
a) A extracção de areia sem licença ou com licença
Artigo 825.º
cujo prazo de validade caducou;
b) A extracção de areia em zonas ou locais diferentes Segurança dos navios e dos portos
daqueles para que sejam válidas as licenças Constitui contra-ordenação administrativa:
emitidas;
a) A violação das normas internacionais ou
c) A utilização de meios de acção não autorizados nacionais relativas às radiocomunicações
pela administração marítima; marítimas, quando afectem à segurança do
d) A falta de cumprimento de qualquer das navio;
obrigações impostas na legislação específica b) A violação das leis e regulamentos sanitários dos
sobre extracção de areias; navios e embarcações;
e) O transporte de areia desacompanhado da guia c) A violação das normas contidas no Título III do
de transporte; Livro IV sobre inspecções e certificação dos
f) A venda de areia sem licença ou com licença cujo navios;
prazo de validade caducou; d) A violação das normas contidas no Título II
g) A aquisição e a venda de areia extraída sem do Livro III sobre a segurança e protecção
licença ou com licença cujo prazo de validade portuárias.
caducou;
Artigo 826.º
h) A venda de areia acima dos preços máximos de
Desobediência ao capitão e omissão de socorro
venda ao público.
2. As contra-ordenações a que se refere o número an- Constitui contra-ordenação administrativa:
terior estão sujeitas as sanções previstas na legislação a) A desobediência injustificada das ordens do
especial que regula e disciplina a extracção e a exploração capitão a que se refere o artigo 365.º;
de areia nas dunas, nas praias e nas águas interiores.
b) A omissão da prestação de auxílio nos casos e
3. Acessoriamente, poderão ser apreendidos e removidos, situações impostos pelas disposições do presente
por conta e risco do infractor, todos os equipamentos, e Código ou das convenções internacionais vigentes
meios de acção utilizados na extracção e no transporte em Cabo Verde.
de areia, bem como a própria areia extraída em violação
ao disposto neste diploma. Artigo 827.º

Artigo 823.º Achados e extracções marítimas

Poluição do domínio público marítimo Constitui contra-ordenação administrativa:


1. Constitui contra-ordenação administrativa o verti- a) A violação das normas administrativas sobre
mento ou depósito de lixo ou resíduos de qualquer espécie os deveres de notificação e balizamento de
nos bens que constituem domínio público marítimo. naufrágios previstos no Título IV do Livro VIII;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1852 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

b) A falta de notificação das perdas e achados de CAPÍTULO V


âncoras e correntes e de outros bens no mar,
conforme ao previsto no Título IV do Livro VIII; Das infracções e sanções sobre os sujeitos
da navegação
c) A realização de extracções marítimas sem contar
Artigo 832.º
com a autorização exigível conforme às
disposições do Título IV do Livro VIII. Exercício de actividades sem licença

CAPÍTULO III Fora dos casos especificamente contemplados nos arti-


gos seguintes deste Capítulo, constitui contra-ordenação
Das infracções e sanções sobre poluição marinha
administrativa o exercício de actividades marítimas ou
Artigo 828.º realização de trabalhos sobre ou no navio sem dispor da
necessária licença.
Incumprimento dos deveres de notificação
Artigo 833.º
Constitui contra-ordenação administrativa o incumpri-
mento dos deveres de notificação dos actos de poluição Operações portuárias
contemplados no Título IV do Livro II. 1. Constitui contra-ordenação administrativa:
Artigo 829.º a) O exercício de operações portuárias sem a
Poluição marinha a partir de navios devida licença e a prestação não autorizada
de serviços portuários náuticos, conforme o
Constitui contra-ordenação administrativa os actos disposto no Capítulo II do Título I do Livro III
ilícitos de poluição procedentes dos navios previstos nas do presente Código e na legislação portuária.
normas do Título IV do Livro II deste Código.
b) A utilização de trabalhadores não devidamente
Artigo 830.º inscritos e legalmente habilitados para o
exercício de operações portuárias ou na
Medidas acessórias em caso de poluição
prestação das actividades portuárias náuticas;
1. Adicionalmente à coima aplicada e como medida c) A utilização de infra-estruturas ou equipamentos
acessória, a administração marítima pode impor ao públicos para fins distintos dos constantes das
armador do navio causador, a obrigação de recolher as respectivas licenças, autorizações ou concessões.
substâncias descarregadas e de limpar o meio marinho.
2. Por decisão judicial, poderá a administração portu-
2. Ainda assim, pode a administração marítima rea- ária impor ao infractor a imediata interdição das respec-
lizar as operações de recolha e limpeza a que se refere o tivas actividades até um ano, quando tal se justificar.
número anterior, utilizando para isso meios públicos ou
terceiros contratados para esse efeito. Artigo 834.º

3. As despesas com as operações de recolha e limpeza Montantes das coimas


são por conta do armador do navio causador da poluição.
1. Sem prejuízo da aplicação de pena ou outras sanções
4. A administração marítima pode proceder à detenção mais graves que lhes couber por força de outra disposição
do navio como garantia do pagamento das despesas, ou legal, os montantes das coimas referentes às contra-
requerer o arresto preventivo do navio causador ou de ordenações mencionadas são os seguintes:
outros navios do mesmo armador, nos termos previstos
a) De 5.000$00 a 50.000$00 (cinco mil a cinquenta
no Título II do Livro XI.
mil escudos), por violação do disposto no artigo
CAPÍTULO IV 831.º, bem como todas as demais infracções
aos estabelecido no presente Código, quando
Das infracções e sanções sobre o registo não sejam especialmente sancionadas nos
e identificação de navios termos das alíneas seguintes;
Artigo 831.º b) De 5.000$00 a 100.000$00 (cinco mil a cem mil
Registo, nacionalidade, uso do pavilhão e documentação
escudos), por violação do disposto no n.º 1 do
artigo 823.º e nas alíneas a) dos artigos 824.º
Constitui contra-ordenação administrativa: e 827.º;
a) A infracção às normas que regulam o registo de c) De 10.000$00 a 100.000$00 (dez mil a cem mil
navios e embarcações; escudos), por violação do disposto na alínea b)
do artigo 824.º;
b) Falta ou irregularidades na documentação de
bordo dos navios contidas no Capítulo I do d) De 20.000$00 a 200.000$00 (vinte mil a duzentos
Título II do Livro IV; mil escudos), por violação do disposto na
alínea c) do artigo 824.º e a) do artigo 825.º;
c) A violação das normas sobre o uso da bandeira da
nacionalidade e outras bandeiras, distintivos e) De 20.000$00 a 300.000$00 (vinte mil a trezentos
ou marcas dos navios, conforme o estabelecido mil escudos), por violação do disposto no
no Capítulo II do Título II do Livro IV; artigo 832.º;
d) As demais violações das normas administrativas f) De 50.000$00 a 500.000$00 (cinquenta mil a
sobre registo, nacionalidade, documentação e quinhentos mil escudos), por violação do disposto
arqueação previstas no Título II do Livro IV na alínea d) do artigo 824.º, alínea b) do artigo
deste Código. 825.º, alínea a) do 826.º e no artigo 833.º;

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010 1853

g) De 10.000$00 a 1.000.000$00 (dez mil a um Artigo 839.º


milhão de escudos), por violação do disposto Marítimos e tripulantes
nas alíneas b) e c) do artigo 827º;
1. Constituem contra-ordenações administrativas:
h) De 50.000$00 a 1.000.000$00 (cinquenta mil
a um milhão de escudos), por violação do a) Ter o marítimo mais de uma inscrição;
disposto nas alíneas c) e d) do artigo 825º; b) O exercício da profissão de marítimo por quem
não seja inscrito marítimo ou por marítimo
i) De 100.000$00 a 1.000.000$00 (cem mil a um
que não tenha a inscrição ou cédula marítima
milhão de escudos), por violação do disposto
regularizadas;
nas alíneas a) e b) do artigo 821.º e alínea b)
do artigo 826.º. c) O exercício de funções sem as qualificações
profissionais exigíveis;
Artigo 835.º
d) O exercício por um tripulante de funções de
Indústria marítima de transporte categoria ou departamento não registada
na cédula ou para que não esteja habilitado,
Constitui contra-ordenação administrativa: salvo quando devidamente autorizado;
a) O exercício da indústria marítima de transporte e) A falta de tripulação ou a sua irregularidade ou a
por quem não cumpra os requisitos estabe- falta de licença de embarque quando exigível;
lecidos no Capítulo II do Título I do Livro VI.
f) O incumprimento dos deveres assinalados nas
b) O exercício da indústria marítima de transporte alíneas b) e d) do artigo 411.º;
em condições distintas das autorizadas e g) O embarque e o exercício de funções a bordo sem
inscritas de acordo com o previsto no Capítulo a posse ou a existência a bordo ou a validade
II do Título I do Livro VI. dos documentos a que se refere o artigo 349.º.
Artigo 836.º h) O incumprimento da tripulação mínima de
segurança ou a falta ou caducidade do
Fretamento de navios
certificado correspondente;
Constitui contra-ordenação administrativa: i) O embarque de tripulantes ou outros marítimos
ou pessoas para além dos limites máximos
a) O incumprimento do regime preferencial para o
dos meios de salvação existentes a bordo;
fretamento de navios de comércio estabelecido
no Capítulo II do Título I do Livro VI j) A falta ou situação de caducidade do documento
de lotação.
b) O incumprimento pelos afretadores do dever
de comunicação de seus fretamentos 2. Na situação prevista na alínea c) do número 1 pode
à administração marítima tal como se ser aplicada sanção acessória de inabilitação
estabelece no artigo 426.º. temporária do exercício da profissão por um
período de trinta a noventa dias.
Artigo 837.º
Artigo 840.º
Agentes marítimos Sanções
Constituem contra-ordenações administrativas, as in- As contra-ordenações previstas nos artigos 835.º a
fracções ao disposto na Secção 2 do Capítulo II do Título 839.º são punidas de acordo com o previsto em legislação
II do Livro V do presente Código. especial.
Artigo 838.º Artigo 841.º

Sujeitos responsáveis das infracções sobre marítimos


Transitários
1. Quando ocorrerem as contra-ordenações previstas
Constituem contra-ordenações administrativas: no número 1 do artigo anterior, para além do autor mate-
a) O exercício da actividade do transitário por rial, é também punido o armador do navio e o respectivo
entidade não licenciada; pitão, salvo se quanto a este, a contra-ordenação se tiver
verificado contra instruções por ele expressamente dadas.
b) O desempenho do cargo de administrador,
2. No caso das contra-ordenações previstas nas alíneas
director ou gerente de sociedades transitárias
e) a j) do número 1 do artigo 839º são punido o armador
por pessoas legalmente proibidas do exercício
do navio e o respectivo capitão.
do comércio ou declaradas insolventes;
Artigo 842º
c) A omissão do dever de comunicar à administração
marítima as modificações dos requisitos Regime subsidiário
exigidos pela licença que afectem às sociedades No que respeita a infracções às normas contidas no
transitárias, ou a seus administradores, presente Código que imponham deveres administrativos,
directores ou gerentes, ou ao director técnico; em tudo quanto não estiver especialmente previsto
neste Livro, é aplicável o regime jurídico das contra-
d) As infracções ao disposto na Secção 2 do Capítulo
ordenações, aprovado pelo Decreto-Legislativo n.º 9/95,
III do Título II do Livro V deste Código e
de 27 de Outubro.
não especificamente previstas nos números
anteriores. O Primeiro-Ministro, José Maria Pereira Neves

Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA
1854 I SÉRIE — NO 44 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 15 DE NOVEMBRO DE 2010

FAÇA OS SEUS TRABALHOS GRAFICOS NA INCV


––––o§o––––
NOVOS EQUIPAMENTOS
NOVOS SERVIÇOS
DESIGNER GRÁFICO
AO SEU DISPOR

B O L E T I M OFICIAL
Registo legal, nº 2/2001, de 21 de Dezembro de 2001 Av. Amílcar Cabral/Calçada Diogo Gomes,cidade da Praia, República Cabo Verde.
C.P. 113 • Tel. (238) 612145, 4150 • Fax 61 42 09
Email: incv@gov1.gov.cv
Site: www.incv.gov.cv

AVISO ASSINATURAS
Para o país: Para países estrangeiros:
Por ordem superior e para constar, comunica-se que não serão aceites
quaisquer originais destinados ao Boletim Oficial desde que não tragam Ano Semestre Ano Semestre
aposta a competente ordem de publicação, assinada e autenticada com
selo branco. I Série ...................... 8.386$00 6.205$00 I Série ...................... 11.237$00 8.721$00

Sendo possível, a Administração da Imprensa Nacional agradece o II Série...................... 5.770$00 3.627$00 II Série...................... 7.913$00 6.265$00
envio dos originais sob a forma de suporte electrónico (Disquete, CD,
III Série ................... 4.731$00 3.154$00 III Série .................... 6.309$00 4.731$00
Zip, ou email).
Os prazos de reclamação de faltas do Boletim Oficial para o Concelho Os períodos de assinaturas contam-se por anos civis e seus semestres. Os números publicados antes
da Praia, demais concelhos e estrangeiro são, respectivamente, 10, 30 e de ser tomada a assinatura, são considerados venda avulsa.
60 dias contados da sua publicação.
AVULSO por cada página ............................................................................................. 15$00
Toda a correspondência quer oficial, quer relativa a anúncios e à
assinatura do Boletim Oficial deve ser enviada à Administração da PREÇO DOS AVISOS E ANÚNCIOS
Imprensa Nacional. 1 Página .......................................................................................................................... 8.386$00
A inserção nos Boletins Oficiais depende da ordem de publicação neles
1/2 Página ....................................................................................................................... 4.193$00
aposta, competentemente assinada e autenticada com o selo branco, ou,
na falta deste, com o carimbo a óleo dos serviços donde provenham. 1/4 Página ....................................................................................................................... 1.677$00
Não serão publicados anúncios que não venham acompanhados da Quando o anúncio for exclusivamente de tabelas intercaladas no texto, será o respectivo espaço
importância precisa para garantir o seu custo. acrescentado de 50%.

PREÇO DESTE NÚMERO — 1590$00


Q8P4R6D2-7Z8O8H5B-7H0Y2R1N-29C3EUZY-4I6A2J8Z-25101E11-8L8U4I2T-244UMYYA

Você também pode gostar