Artigo Prof. Roberto Nikolsky
Artigo Prof. Roberto Nikolsky
Artigo Prof. Roberto Nikolsky
Roberto Nicolsky
É
um legítimo anseio de todo povo que o política de crescimento através da chamada
seu país cresça e que desenvolva a sua “Carta da Manufatura”, de Alexander Ha-
economia de modo a promover a melho- milton, seu ministro do Tesouro. A Carta,
ria das condições de vida através da redistri- como o seu nome já evidencia, propunha
buição da renda agregada a todos os segmen- claramente o caminho da industrialização e
tos da sua população. A questão a discutir é da competição no cenário mundial e, prin-
como realizar esse objetivo com eficácia nas cipalmente, latino-americano, através da
condições existentes no país e no mundo. chamada Teoria Monroe, de 1823, do pre-
O modelo básico dos países não desenvol- sidente de mesmo nome, que defendia que
vidos é da economia do colonizado, ou seja, a a América deveria ser para os americanos
exportação de produtos naturais ou primários, (do norte).
em geral matérias-primas, para os países cen- Os fatos mostraram que o caminho que
trais ou para os países desenvolvidos. Assim Hamilton apontou era o certo para crescer
foi por séculos, até mesmo com países que, e se tornar a maior economia do planeta até
em princípio, se libertaram da condição colo- os dias atuais, e a Teoria Monroe teve gran-
nial no início do século XIX, como a América de influência na política externa dos Estados
Latina (com exclusão do multicolonial Cari- Unidos, para que o país se transformasse na
be), pois ao se liberar de Espanha e Portugal principal potência mundial. Mas, esse ca-
caíram na zona de influência econômica da minho não foi trilhado por nenhum latino-
Inglaterra e de seu descomunal Império Bri- -americano. E as tentativas praticamente
tânico, continuando a exportar essencialmen- isoladas do Barão de Mauá foram sufocadas
te matéria-prima (commodities). pelos donos dos minérios, do café e do açú-
A importante exceção foram os Estados car, ainda em pleno século XIX.
Unidos da América que proclamaram a in-
2. II Guerra Mundial, a queda do
Roberto Nicolsky, doutor em física, trabalhou por 20 anos sistema colonial e suas consequências
na indústria metalmecânica em P&D de inovações. Cursou
sultados na geração de tecnologia, medida mente cartesiana, pois não há outra maneira,
pela taxa de patentes outorgadas a cada ano nem mesmo uma “jabuticaba”, comprovada.
no USPTO Senão vejamos: como é a apropriação da re-
Cerca de dez anos após, outro gigante ceita marginal gerada pelo investimento em
acordou. Em 18 de setembro de 1991, por P&D (no sentido internacional de R&D)? O
iniciativa do ministro das finanças, foi pro- empreendedor terá que remunerar os insu-
mulgada a lei 41/1991, que isentou de im- mos, pagar os salários, depreciar os ativos
postos e deu imunidades aos recursos trazi- envolvidos, amortizar os serviços, atender
dos do exterior para investimento. A Índia aos juros do capital de giro necessário e,
explodiu como outsourcer para o mundo em muito especialmente, pagar a sua carga tri-
todas as atividades relacionadas à internet, butária municipal, estadual e federal, e ainda
especialmente software. O governo seguin- mais a previdência. Essa conta fica em torno
te, de oposição, não só manteve a lei e os de 38% entre nós. E o lucro? Fica em 8%
seus estímulos como compreendeu que para (lucro presumido pelo Imposto de Renda).
a indústria faltava um ingrediente a fomen- Isto quer dizer que o pequeno ou médio
tar: o desenvolvimento de inovações indus- empreendedor terá que se arriscar em estrutu-
triais, ou seja, tecnologia. Assim, dois anos rar uma P&D, uma competência que ele ain-
após o relatório3 da Unesco (e quase um ano da não tem, pois até então não o havia feito,
após a publicação do artigo da Folha4) a Ín- e se não der certo (8 a 9 entre 10 dão errado)
dia promulgou a sua lei 44/1995, cujo pre- ele não terá lucro, mas terá de pagar a carga
âmbulo diz explicitamente9: fiscal de 38%, quase cinco vezes ou mais a
“An Act to provide for the constitution of estimativa de sua remuneração? Para o pe-
a Board for payment of equity capital or queno ou médio empresário o lucro significa
any other financial assistance to indus- a remuneração dos sócios e, se a sua gestão
trial concerns and other agencies attemp- for competente, uma reserva para a amplia-
ting development and commercial appli- ção do seu capital de giro para pagar menos
cation of indigenous technology or adap- juros. Quanto sobra? Em média, falta. Quan-
ting imported technology to wider domestic do esse empreendedor vai realizar sozinho
applications…” um programa de P&D? Nunca. Conclusão:
A pergunta que não quer calar é: qual a se tivesse sentido postular a política pública
justificativa do compartilhamento do risco? axiomaticamente, compartilhamento do
Ora, a resposta, como veremos, é absoluta- risco seria a condição necessária!
Ano Patente
2000 98
2001 110
2002 96
2003 130
2004 106
2005 77
2006 121
2007 90
2008 101
2009 103
2010 125
2011 215
2012 196
2013 254
2014 334
2015 323
Referências:
2.Em revista “Industry and Innovation”, volume 4, No 2, página 168, Elsevier, 1997.
4. “O que faz falta à ciência e tecnologia”, Roberto Nicolsky, Folha de S. Paulo, página M2,
5 de janeiro de 1995, site www.protec.org.br
7. “Livro Branco da Inovação Tecnológica”, Roberto Nicolsky, Protec 2012, pdf em www.
protec.org.br
8. Site www.innovatrix.com.br
9. Idem www.protec.org.br
10. “India Inside: The Emerging Innovation Challenge to the West”, Nirmalya Kumar e Pha-
nish Puranam, Harvard Business Review Press, 2011, Cambridge MA, USA.