Hobsbawm - Cap 9 HEG2 - 231203 - 131336

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A escassez de dólares e o Plano Marshall

HOBSBAWM, Eric. Cap. 9 – “Os anos dourados.” In: A Era dos Extremos: o breve século
XX, 191-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1994,

OS ANOS DOURADOS

Período: do pós-guerra (1945) até o Choque do Petróleo (1973)

Após o fim da Segunda Guerra Mundial:


- EUA dominam a economia
- Europa deslocada definitivamente - precisando se reconstruir

Os “Anos de Ouro”
- Período de intenso e acelerado crescimento econômico em grande parte do mundo.
- EUA apenas continuou sua expansão - não foram anos de crescimento exorbitante
como em outras economias. Entretanto, o país continuou dominado a economia no
pós-guerra.
- Entre 1950 e 1973, os EUA cresceram mais devagar que qualquer outro
país, com exceção da Grã-Bretanha, e, o que é mais a propósito, seu
crescimento não foi maior que nos mais dinâmicos períodos anteriores de
seu desenvolvimento” pag.203
- A prioridade dos países europeus e do Japão era se recuperar dos estragos da
guerra (político, econômicos e sociais). Entretanto, apesar dos esforços, essa
retomada levou algum tempo.
- “Em suma, só na década de 1960 a Europa veio a tomar sua prosperidade
como coisa certa. A essa altura, na verdade, observadores sofisticados
começaram a supor que, de algum modo, tudo na economia iria para a frente
e para o alto eternamente.” pag.203

Hoje é evidente que a Era de Ouro pertenceu essencialmente aos países capitalistas
desenvolvidos, que, por todas essas décadas, representaram cerca de três quartos da
produção do mundo, e mais de 80% de suas exportações manufaturadas. Entretanto, na
década de 1950 o surto econômico pareceu quase mundial e independente de regimes
econômicos.
- Mesmo com uma taxa de crescimento veloz durante os anos 1950 na URSS, na
década de 1960 ficou claro que o capitalismo avançava mais que o comunismo.
- De início, essa espantosa explosão da economia pareceu apenas uma versão
gigantesca da globalização do crescimento dos EUA.

Além disso:
- Aumento da população nos países do Terceiro Mundo.
- Aumento da produção agrícola: A produção de alimentos superou o crescimento da
população - em áreas desenvolvidas e não industriais. (diferentes do que viria a
acontecer durante os anos 70 e 80).
- A crescente divergência entre o mundo rico e o mundo pobre que se tornou cada
vez mais evidente a partir da década de 1960.
- Expansão industrial - nas regiões capitalistas e socialistas e no “Terceiro Mundo”.
- A economia mundial crescia a uma taxa explosiva - batendo todos os recordes.
- A produção mundial de manufaturas quadruplicou entre 50-70 e o comércio de
produtos manufaturados aumentou dez vezes.
- Queda do desemprego, taxa de pobreza, aumento da renda, crescimento econômico
etc.
- Consequências: a poluição e a deterioração ecológica.
- aumento do uso de combustíveis fósseis
- consumo disparado de energia
- aumento da produção de clorofluorcarbonos (CFCs)

Pilares do crescimento:
- Cenário favorável: Preço do barril de petróleo < 2 dólares (1950 - 1973)
- Setores que lideram o crescimento: metalomecânica (bens de consumo duráveis +
bens de capital (automóveis, caminhões, ônibus e aviões)) + química e petroquímica
(plásticos, tecidos, sintéticos, etc.).
- A era dos automóveis se espalhou pelos países europeus
- Modelo fordistas se expandiu para as demais indústrias do mundo
- “Mercado de massa”: bens e serviços antes restritos a minorias eram agora
produzidos para um mercado de massa. O que antes era um luxo tornou-se o
padrão de conforto desejado, pelo menos nos países ricos.
- Revolução tecnológica - (o novo é melhor) - demandada pela guerra
- Produção industrial de plástico, nylon, poliestireno e politeno.
- Plano Marshall e Dodge: ajuda para a reconstrução da Europa e Japão.
- Substituição da mão de obra por máquinas - “A grande característica da Era de
Ouro era precisar cada vez mais de maciços investimentos e cada vez menos gente,
a não ser como consumidores.”
- Entretanto, o surto de produção foi imenso e essa substituição não foi sentida
rapidamente. - pelo contrato - novos contingentes de mão-de-obra foram
atraídos da zona rural e da imigração estrangeira. Mas o ideal da Era de
Ouro era de que os seres humanos só eram essenciais para tal economia
num aspecto: como compradores de bens e serviços. Aí estava o seu
problema central. Na Era de Ouro, isso ainda parecia irreal e distante.
- Avanço bastante espetacular na globalização e internacionalização da economia
- Produziu uma “economia mista”, que ao mesmo tempo tornou mais fácil aos
Estados planejar e administrar a modernização econômica e aumentou
enormemente a demanda.
- Multiplicou a capacidade produtiva da economia mundial, tornando possível uma
divisão de trabalho internacional muito mais elaborada e sofisticada.

O CAPITALISMO DO PÓS-GUERRA:
- “um sistema reformado a ponto de ficar irreconhecível”
Junção entre o liberalismo econômico + democracia social (política do New Deal)

Quatro coisas pareciam claras:


1. A catástrofe do entreguerras, que nunca devia retornar, foi, em grande parte,
causada pelo colapso do sistema comercial e financeiro global e pela fragmentação
do mundo em pretensas economias ou impérios nacionais autárquicos em potencial.
2. A Grã-Bretanha e a libra não eram mais suficientemente fortes para conseguir a
estabilidade do sistema global, esse fardo só poderia ser assumido pelos EUA e o
dólar.
3. A Grande Depressão ocorreu devido ao fracasso do livre mercado irrestrito. Daí em
diante o mercado teria de ser suplementado pelo esquema de planejamento público
e administração econômica.
4. Por motivos sociais e políticos, não se devia permitir um retorno do desemprego em
massa.

Os políticos, autoridades e mesmo muitos dos homens de negócios do Ocidente do


pós-guerra se achavam convencidos de que um retorno ao laissez-faire e ao livre mercado
original estava fora de questão.
- Prioridades: pleno emprego, contenção do comunismo, modernização de economias
atrasadas, ou em declínio, ou em ruínas.
- O futuro estava na “economia mista”
- Aumento da participação do Estado na economia, com crescente gasto público na
área social.
-

A supremacia americana:
- O plano original para a nova ordem econômica mundial via essa supremacia como
parte de uma nova ordem política mundial.
- O Banco Mundial (“Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento”) e o
FMI, ambos ainda existentes, tornaram-se de facto subordinados à política
americana.
- Em 1950 só os EUA tinham mais ou menos 60% de todo o estoque de capital de
todos os países capitalistas avançados e produziam mais ou menos 60% de toda a
produção deles.
- Dólar como estabilizador - atrelado ao ouro.
- Temor do comunismo/ Guerra Fria - necessidade de desenvolver seus futuros
competidores por meio do Plano Marshall (Alemanha, França, Áustria e Japão).

Economia transnacional - a partir da década de 1960


- “internalizar mercados ignorando fronteiras nacionais”
- Crescente internacionalização
- Aspectos da transnacionalização: as empresas transnacionais, a nova divisão
internacional do trabalho e o aumento de financiamento offshore (externo) - (prática
de registrar a sede legal da empresa num território fiscal que permitia aos
empresários evitar os impostos e outras, restrições existentes em seu próprio país)
- City de Londres, na década de 60 - grande centro offshore global: invenção da
“euromoeda/eurodólares” - os dólares depositados em bancos não americanos
tornavam-se instrumento negociável e passaram a integrar um sistema de
empréstimos a curto prazo, que escapava a qualquer controle.
- Os EUA e outras economias perderam o controle das taxas de câmbio e do volume
de dinheiro em circulação no mundo
- Nova divisão internacional do trabalho
- Novas indústrias do Terceiro Mundo abasteciam não apenas os crescentes
mercados locais, mas também o mercado mundial. - inovação decisiva da Era de
Ouro.
- O mundo mais conveniente para os gigantes multinacionais é aquele povoado por
Estados anões, ou sem Estado algum - mão de obra barata
- A mão-de-obra (nos países centrais) recebia salários que subiam regularmente e
benefícios extras, e um Estado previdenciário sempre mais abrangente e generoso.

Ou seja:
“As economias dos países capitalistas industrializados se deram esplendidamente bem, no
mínimo porque pela primeira vez (fora dos EUA e talvez da Australásia) passava a existir
uma economia de consumo de massa com base no pleno emprego e rendas reais em
crescimento constante, escorada pela seguridade social, por sua vez paga pelas crescentes
rendas públicas.”

Sinais do fim da Era de Ouro:


- Súbita e quase mundial explosão de radicalismo estudantil em 1968 (pouco impacto
político, mas grande social).
- A hegemonia dos EUA declinou e, enquanto caía, o sistema monetário com base no
dólar-ouro desabou.
- Diminuição na produtividade da mão-de-obra em vários países.
- Explosão salarial.
- Colapso do sistema financeiro internacional de Bretton Woods em 1971.
- Boom de produtos de 1972-3.
- Crise da OPEP de 1973 - Choque do Petróleo.

As décadas a partir de 1973 seriam de novo uma era de crise e a Era de Ouro perdeu o seu
brilho.

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