HP Stéfani 1
HP Stéfani 1
HP Stéfani 1
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As previsões em psicologia procuram expressar, com base nas explicações disponíveis, a
probabilidade com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não. Com base na
capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro se determina a também a sua
validade. Controlar o comportamento significa aqui a capacidade de influenciá-lo, com base no
conhecimento adquirido. Essa é a parte mais prática da psicologia, que se expressa, entre outras
áreas, na psicoterapia.
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no método científico para as informações sobre o comportamento e os processos mentais.
Perseguem objetivos científicos, tais como a descrição e a explicação. Usam procedimentos
científicos, inclusive observação e experimentação sistemática, para reunir dados que podem ser
observados publicamente. Tentam obedecer aos princípios científicos. Esforçam-se, por exemplo,
por escudar seu trabalho contra suas distorções pessoais e conservar-se de espírito aberto.
Ainda assim, os cientistas do comportamento não estão de acordo quanto aos
pressupostos fundamentais relacionados aos objetivos, ao objeto primeiro e aos métodos ideais.
Como outras ciências, a psicologia está longe de ser completa. Existem muitos fenômenos
importantes que não são ainda compreendidos. As pessoa não devem esperar uma abordagem
única do objeto da psicologia ou respostas para todos os seus problemas.
Mas, para haver demanda por conhecimento, é preciso que esta experiência de si seja
objeto de dúvidas e cogitações: quem sou eu? Por que sou assim? Esta é, pois, de acordo com
Figueiredo, a segunda pré-condição necessária para o surgimento da Psicologia.
Ora, o surgimento da experiência de si e o questionamento desta experiência têm
uma história. Não existiu desde sempre. Atente para este fato importantíssimo para a
compreensão de tudo que segue, na disciplina: estamos afirmando que o psicológico não é um
aspecto natural do ser humano, como poderíamos dizer, por exemplo, de uma célula ou de um
órgão. Se quisermos compreender por que a Psicologia tem uma história ―oficial‖ tão curta,
teremos que retomar a história de seu objeto: a história da constituição daquilo que hoje
chamamos de subjetividade – o surgimento gradual desta noção, na cultura ocidental; e a história
de sua problematização – a crise da subjetividade privatizada.
De uma forma genérica, pode-se dizer que a noção de subjetividade privada teve início na
Modernidade, ou seja no Renascimento, quando nasce o humanismo. Mas para entender esse
surgimento, é necessário retroceder a um período anterior, ou seja, à Idade Média.
A Idade Média tem no feudalismo o seu elemento definidor, fundado em uma economia
agrária, com o uso do trabalho servil. O sistema produtivo estava à mercê dos fenômenos
climáticos, havendo a alternância de períodos de relativa abundância e períodos de penúria. Para
amenizar os efeitos destas crises de subsistência recorrentes, um comércio ocasional e em
pequena escala era praticado entre os feudos.
A organização social era estratificada, com pequena possibilidade de ascensão social. As
posições sociais - de servo, de vassalo, de nobre - eram determinadas pelo nascimento.
Neste período, o clero detinha um amplo poder político, mantendo a ordem e os costumes,
considerados inquestionáveis.
Ao longo dos séculos finais da Idade Média, com a expansão das fronteiras do mundo
ocidental, em consequência das Cruzadas, intensificou-se o comércio, constituíram-se cidades,
floresceu a urbanização. Estavam dadas as condições para o início da derrocada do sistema
feudal e o desaparecimento dos laços sociais que até então asseguravam a solidez do poder
senhorial e a manutenção do regime de servidão.
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Diferentemente do período histórico que o precedeu, o Renascimento favoreceu o
surgimento de novas idéias, descobrimentos, invenções. Em consequência, começaram a serem
questionados os preceitos e costumes ditados pela Igreja.
Com a perda gradual da vigência dos valores medievais, o homem ocidental teve que se
confrontar com um mundo novo, para o qual não havia mais referências inquestionáveis. Era
necessário criar normas para reger a vida em comum, as relações sociais, de comércio etc. Não
havia mais uma única ‗verdade‘, baseada na palavra de Deus, transmitida por seus legítimos
representantes, o clero.
Desconsiderando os ditames divinos, colocado diante de um mundo desencantado, o
homem devia criar para si, por meio de normas auto-impostas, um modo de ser e um destino.
Contando apenas consigo próprio neste empreendimento, teria que encontrar um fundamento, a
partir do qual erigir um conhecimento seguro, que lhe permitisse relacionar-se com as coisas e
com os outros homens.
Como resultado, assistimos a um adensamento da experiência de si, condição necessária
ao surgimento gradual do que hoje chamamos subjetividade.
Assiste-se, no Renascimento, a um gradual processo de valorização do homem.
Considerado o ponto máximo da criação divina, o homem passa a ser compreendido como um ser
livre para constituir normas e valores a partir dos quais deverá pautar sua conduta. Mas esta
tarefa demandará o desenvolvimento de procedimentos e mecanismos formativos – ser livre e
poder escolher implica ser responsável pelos resultados das próprias opções.
O termo ―humanismo‖ é derivado de humanitas, que no tempo de Cícero (106-43 a.C.)
designava a educação do homem enquanto considerado em sua condição propriamente humana,
correspondendo à palavra grega paideia: a educação por meio de disciplinas liberais, relativas a
atividades exclusivas do homem e que o distinguiam dos animais. As chamadas ―humanidades‖ –
poética, retórica, histórica, ética e política – passam, desse modo, a construir, sob a inspiração
dos antigos, a base de uma educação destinada a preparar o homem para o exercício da
liberdade.
Outro fundamento do humanismo renascentista foi a convicção de que o mundo natural é o
reino do homem. Esse naturalismo conduziu, paralelamente, à afirmação do valor espiritual do
homem e que o torna livre, à exaltação do valor do corpo e dos seus prazeres.
O período foi marcado, ao mesmo tempo, por espaços de expansão e contenção da
liberdade; na mesma medida em que foi feita a apologia à grandeza do homem, foi-lhe creditado o
peso de todos os males.
Os nomes mais conhecidos do Renascimento foram Leonardo Da Vinci e Michelangelo,
assim como podem ser citados tantos outros talentos.
A colocação do homem no centro do mundo traz a ideia de que todas as coisas existem
para sua contemplação e uso; torna-se natural para o homem matar animais e devastar a
natureza de acordo com seu interesse; o homem julga-se quase Deus e as coisas (mesmo o
próprio corpo) passam a ser tomadas como objetos.
Nessa mesma época inicia-se o movimento das feiras de rua e o aumento de contato do
homem ocidental com o restante do mundo, espantando-se com as religiões e costumes distintos
dos seus. É aí que passa a considerar a diferença como um erro: se o outro pensa de forma
diferente da minha, ele está errado e cabe, por isso, catequizá-lo, conduzi-lo à verdade. Outra
atitude perante o confronte com a verdade do outro é colocar em questão a própria verdade,
tomando uma atitude mais crítica.
Ainda com relação às feiras de rua, o convício com uma inédita diversidade de coisas traz
a dificuldade de atribuição de valor às mesmas, assim como de se distinguir relatos confiáveis de
outros mentirosos ou fantasiosos.
BIBLIOGRAFIA
SANTI, P.L.R. A construção do eu na modernidade. Ribeirão Preto/SP, Ed. Holos, 1998, cap. 1, 2, 3 e 4.
FERREIRA, A.A.L. O múltiplo surgimento da psicologia (cap.1) In: JACÓ-VILELA, A.M.; FERREIRA, A.A.L.;
PORTUGAL, F.T.(orgs.) História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2007.
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Aula 2: O enfrentamento da diversidade cultural e da
fragmentação do mundo: procedimentos de construção de si.
Durante a Idade Média era relativamente difícil explicar como era possível ser
responsabilizado por pecar: se a pessoa não era livre e apenas cumpria os planos de Deus, como
responsabilizar-se? No Renascimento, a questão pode ser equacionada de outra forma: Deus fez
o homem livre para que ele possa ser julgado; ele pode escolher um bom caminho e ser
recompensado por isso, mas pode ser desviado dele por tentações e dispersões – e o mundo
renascentista as oferece em quantidade – e, então, ser responsabilidade o punido por isso. A
questão passa a ser: o que devo ser? Como devo me formar? Como construir uma identidade?
Entre as práticas de construção de si, destaca-se, a partir do século XVII, uma forma
especial, que não se vincula à busca do Bem ou do Mal na interioridade dos seres humanos. Esta
nova forma de exame ocupa-se em estabelecer as fronteiras entre o conhecimento válido e as
ilusões, procura distinguir a verdade e o erro. Como figura-chave desse momento histórico,
destaca-se o filósofo René Descartes (França, 1596 – Suécia, 1650), filósofo, físico e matemático
francês, considerado uma figura central da Modernidade, sendo seu pensamento associado ao
Iluminismo e ao surgimento da ciência.
Michel Focault (França, 1926; França, 1984) foi um filósofo, historiador das ideias, teórico
social e crítico literário. Suas teorias abordam a relação entre poder e conhecimento e como eles
são usados coo uma forma de controle social por meio de instituições sociais. Foucault é
conhecido pelas suas críticas às instituições sociais, especialmente à psiquiatria, à medicina, às
prisões, e por suas ideias sobre a evolução da história da sexualidade, suas teorias gerais
relativas à energia e à complexa relação entre poder e conhecimento, bem como por estudar a
expressão do discurso em relação à história do pensamento ocidental.
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A Extração da Pedra da Loucura é uma das obras pictóricas pertencentes à primeira
etapa do pintor holandês Hieronymus Bosh, realizada entre 1475 e 1480, incluída em um conjunto
de gravuras satíricas e burlescas. O que se representa nessa pintura é uma espécie de operação
cirúrgica que se realizava na Idade Média, e que segundo os testemunhos escritos sobre ela,
consistia na extirpação de uma pedra que causava a loucura do homem. Acreditava-se que os
loucos eram aqueles que tinham uma pedra na cabeça. Na obra aparece um falso médico que em
vez de um barrete usa um funil na cabeça (símbolo da estupidez), extrai a pedra da cabeça de um
indivíduo que olha em direção a quem vê o quadro, ainda que em realidade o que está a extrair é
uma flor, uma tulipa. A sua bolsa de dinheiro é atravessada por um punhal, símbolo do seu delito.
É usado como uma crítica contra os que acreditam estar em posse do saber mas que, afinal, são
mais ignorantes que aqueles a quem pretendem curar da sua «loucura». Um frade e uma
freira estão presentes também na cena; a religiosa tem um livro ferrado em cima da cabeça: isto
pode ser uma espécie de alegoria à superstição e à ignorância, de que se acusava fortemente o
clero. Esta figura feminina pode ser entendida igualmente como uma bruxa com o livro dos
conjuros sobre a cabeça. O frade sustém um cântaro de vinho. O tema do quadro juntamente com
o formato circular em que se realiza poderia remeter de certo modo a um espelho, e assim parece
atirar ao mundo a imagem da sua própria estupidez ao desejar superá-la deste modo tão erróneo.
Na época medieval, a garantia sobre a ordem do mundo e todas as suas certezas era dada
por algo externo ao próprio homem, ou seja, por Deus. Portanto, se um homem perdia a razão,
deveria estar tomado pelo demônio. As pessoas até poderiam ter medo de serem tomadas
também, mas a loucura não ameaçava a crença em Deus e, assim, as verdades eram aceitas.
Num mundo cartesiano (em outras palavras, posterior à proclamação da razão, por
Descartes, como o centro do homem, um ser pensante, objetivo e consciente), a loucura não pode
mais ser considerada desta forma ‗leviana‘, na medida em que sua existência e possibilidade
ameaça a integridade do eu, sua lucidez e estabilidade. O afastamento do louco do convício social
parece servir mais aos outros do que a ele, uma vez que no século XVII não há qualquer
perspectiva de tratamento; trata-se apenas de um isolamento por medo do contágio.
Desta forma, a representação moderna da loucura é a outra face da afirmação do eu como
consciência e capacidade de conhecer a verdade.
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de estratégias educativas. Em suas obras, estão codificadas normas de conduta, dentro de um
certo padrão de certo e errado, que serviam para coibir a livre ação dos indivíduos, ‗civilizando-os‘.
Jean de La Fontaine (França, 1621; França; 1695) foi um poeta e um fabulista francês.
Seguiu o estilo do autor grego Esopo, o qual falava da vaidade, estupidez e agressividade
humanas através dos animais. La Fontaine é considerado o pai da fábula moderna. Algumas de
suas fábulas mais conhecidas são a Lebre e a Tartaruga; O Leão e o Rato.
La Fontaine procura mostrar como comportamentos considerados bons moralmente (hoje
diríamos politicamente corretos) são recompensados, enquanto que os maus, são punidos. Há,
assim, por trás de sua obra, uma determinada concepção de certo e errado que ele procura impor.
Podemos considerar o século XVII como o primeiro e aquele em que mais é apresentado
como tema a afirmação e construção do eu, que para leva-lo a seu ponto mais alto, que para
denunciar esse novo soberano. Nos séculos seguintes, o eu tomará aspectos mais refinados e
complexos e, gradativamente, sua soberania será posta em cheque.
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, A.A.L. O múltiplo surgimento da psicologia. (cap.1) In: JACÓ-VILELA, A.M.; FERREIRA, A.A.L.;
PORTUGAL, F.T.(orgs.) História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2007.
FIGUEIREDO, L.C.M. Identidade e esquecimento: aspectos da vida civilizada. A invenção do psicológico. Quatro
séculos de subjetivação (1500-1900). São Paulo: EDUC: Escuta, 1996.
SANTI, P.L.R. A construção do eu na modernidade. Ribeirão Preto/SP, Ed. Holos, 1998, caps. 5, 6, 7, 8 e 9.
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Aula 3: A subjetividade no Iluminismo.
No séc. XVII o eu passou a ser tomado como o centro do mundo: a própria essência do homem foi
identificada à sua racionalidade e consciência. O eu pôde acreditar-se como sendo a totalidade da
experiência humana; tudo que não se identificasse a ele seria tomado como loucura. Não era
admissível a referência a algo que habitasse um espaço fora do eu.
No séc. XVIII, as mais diversas fontes nos sugerem que este espaço excluído ao eu passou a ser
gradativamente iluminado. O eu deixará de ser tomado como totalidade e, cada vez mais, tomará
o aspecto de uma apresentação social, uma auto-imagem cultivada e civilizada que encobre, no
entanto, algo mais que habita e constitui as pessoas e que elas procuram manter em segredo.
Este será o espaço da privacidade que só foi possível desde que a crença em um Deus
onipresente e onisciente deixou de dominar a experiência do homem ocidental. A privacidade
abarcará todo um universo de desejos e pensamentos anti-sociais, que devem ser ocultos pela
etiqueta e pelas boas maneiras.
O Iluminismo, também conhecido como Século das Luzes, foi um movimento filosófico, político,
social, econômico e cultural, predominantemente da elite intelectual europeia do séc. XVIII que
procurou mobilizar o poder da razão a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da
tradição medieval. Abarcou inúmeras tendências, entre elas, buscava-se um conhecimento
apurado da natureza, com o objetivo de torna-la útil ao homem moderno e progressista. Promoveu
o intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância da Igreja e do Estado. Teve como principais
filósofos Spinoza, Locke, Diderot, Voltaire, Kant, Hume, Rousseau, Montesquieu. Originário do
período compreendido entre os anos de 1650 e 1700, o Iluminismo floresceu até os cerca de
1790-1800, findando com o início das Guerras Napoleônicas, dando lugar ao romantismo, com
ênfase na emoção e no movimento contrailuminista.
O centro das idéias do Iluminismo foi a França, onde idealizaram e concretizaram a Encyclopédie
(impressa em 1751 e 1780), uma obra editada por Diderot, com colaboração de Voltaire e
Montesquieu, composta por 35 volumes na qual estava resumido todo o conhecimento existente
até então. O nome ―iluminismo‖ fez uma alusão ao período vivido até então, desde a Idade Média,
período este de trevas, no qual o poder e o controle da Igreja regravam a cultura e a sociedade.
Daí surgiram várias imagens caricaturais sobre este século, pois ao mesmo tempo em que ele é
considerado o século das luzes, com os desdobramentos do racionalismo cartesiano, ele é
também o século do artifício. Por exemplo, as roupas da corte são altamente rebuscadas, cheias
de adereços e armações, de forma que dificilmente pode-se saber como seria o aspecto real do
corpo que o veste. Floresce também cada vez mais a etiqueta e a multiplicação das regras de
conduta que, em geral, serve para estabelecer uma hierarquia e uma precedência entre as
pessoas.
Para compreender melhor o Iluminismo, convém lembrar que muitos dos pensadores que
participaram desse movimento viviam sob o Antigo Regime: monarquias absolutistas, em que o
rei, a nobreza e o clero acumulavam poder e privilégios, e as pessoas não podiam dizer
livremente o que pensavam. Os Iluministas opunham-se a essa situação. Eram contrários ao
autoritarismo dos reis, aos privilégios da nobreza e do clero, à intolerância religiosa e à falta de
liberdade de expressão.
A razão era, para os Iluministas, o valor supremo. Só por meio da razão, isto é, do ato de pensar,
os homens poderiam alcançar o esclarecimento, a luz. A maioria das pessoas, segundo esses
pensadores, vivia mergulhada na ignorância, na superstição e no fanatismo religioso; só a razão
as esclarecia.
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Os Iluministas acreditavam que a razão devia penetrar em todas as atividades humanas, para
destruir os preconceitos e a ignorância. Devia-se duvidar de tudo o que era aceito simplesmente
porque havia sido assim sempre ou porque estava sendo dito por uma autoridade. Todo novo
conhecimento devia estar aberto à crítica.
Um traço marcante dos Iluministas era o otimismo. Eles acreditavam que, ao espalhar-se entre os
homens, a razão conduziria ao progresso. Com o passar do tempo, a ignorância, fruto da
irracionalidade, desapareceria, e teríamos então uma humanidade esclarecida. Era essa crença
no progresso constante da humanidade que os fazia otimistas. O triunfo da humanidade era para
eles uma certeza. Os Iluministas aplicavam-se no campo da ciência e encantavam-se com as
descobertas científicas.
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Rousseau (1712 – 1778)
Foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço. É considerado
um dos principais filósofos iluministas e um precursor do romantismo. Para ele, as instituições
educativas corrompem o homem e tiram-lhe a liberdade. Para a criação de um novo homem e de uma
nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a natureza, desenvolvendo
progressivamente seus sentidos e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de julgar.
A Modernidade instaura uma nova ordem, com a separação clara entre o Estado (nobreza) e a
sociedade, entre o domínio público e o domínio privado. A família, o trabalho e os negócios são
espaços privados, e a política e o Estado são públicos. Verifica-se a emergência de uma
burguesia industrial e financeira (sociedade civil), do domínio privado da economia e da
mercantilização do trabalho. Acontece uma relação de oposição (dimensão tensional) entre a
sociedade civil (burguesia) e o Estado (nobreza). Nascem os jornais, que formam um espaço
público, um lugar de mediação entre a sociedade civil e o Estado. O trabalho sai de casa. Na
família rural, o trabalho mistura-se com a família. A família é do domínio privado em sentido
restrito. Verifica-se a racionalização do mundo do trabalho. O ―público‖ é do domínio estatal. O
Estado é dotado de uma Constituição. A reestruturação do Estado, soberano, centralizado e forte,
faz ressurgir o princípio da preferência do público sobre o privado, o interesse do coletivo passou
a ter evidência. Desse movimento surge o Constitucionalismo moderno.
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se uma consciência política no seio do espaço público, que formula a exigência de leis abstratas e
gerais e que se afirma enquanto opinião pública como a única fonte legítima dessas leis.
CONFIGURAÇÕES DA PSICOLOGIA DESDE O RENASCIMENTO ATÉ O FIM DO ILUMINISMO.
A Psicologia é a única ciência cuja metodologia deriva do estudo de seu próprio objeto. Esse fato
gera dificuldades metodológicas de estudo, pois a alma é a o mesmo tempo o observador o
observado, o sujeito e o objeto da investigação.
No séc. XVIII, a Psicologia não pôde se tornar uma profissão acadêmica; na época, tais profissões
eram apenas o direito, a medicina e a teologia. Sendo assim a Psicologia era ensinada no curso
de física. Escreveu o eminente Herman Ebbingaus (1850 – 1909): ―a psicologia tem um passado
longo, mas uma história breve‖, se referindo ao fato de que a psicologia empírica e naturalista só
teve início nos laboratórios da Alemanha no final do séc. XIX; desse modo, a psicologia do séc.
XVIII pertence ao seu passado científico, mas não à sua história.
O problema da Psicologia, é que, como cada autor tenta construir ―todo um sistema‖, não se
consegue examinar nada com profundidade. Somado a isso, há o reflexo da atitude naturalista
daquela época, reforçada pelas tentativas de aplicar o raciocínio matemático ou os modelos
físicos aos fenômenos e mecanismos mentais, de combinar observações médicas e psicológicas,
de discutir a base anatômica da alma ou de conceituar a fisiologia das interações mente-corpo.
A palavra psychologia popularizou-se inicialmente nos textos sobre a alma usados nas
universidades protestantes da Alemanha. Ela apareceu na década de 1570 e foi impressa como
título pela primeira vez (em caracteres gregos) em 1590 em uma coletânea de discussão sobre a
origem e a transmissão da alma racional. Psychologia era um neologismo utilizado para introduzir
os estudantes no sistema geral das ciências, na medida em que ajudava a localizar scientia de
anima e indicar suas relações com outras disciplinas. Psychologia era o nome da ciência geral dos
seres vivos e servia como introdução à investigação naturalista das plantas, dos animais e dos
humanos.
O empirismo, uma corrente filosófica dominante desse século, define os elementos básicos da
psicologização do séc. XVIII: rejeição das ideias inatas; crítica dos ―sistemas‖ e da metafísica
abstrata e substancialista; apelo à observação e à experiência; e, finalmente a convicção de que
todo o conhecimento começa com as impressões sensíveis, de que as ideias correspondem a
essas impressões e que as ideias complexas podem ser ―decompostas‖ em elementos mais
simples.
Do mesmo modo que a psicologização de diferentes domínios se deu sob condições de grande
diversidade metológica e doutrinária, o desenvolvimento da psicologia como disciplina e como
corpus de um pensamento psicológico apresentou variações significativas através de fronteiras
geográficas e linguísticas.
A abordagem escocesa da mente era marcada pela ―tentativa de introduzir o método experimental
de raciocínio nos assuntos morais‖, tal como proclamado no subtítulo do Tratado da natureza
humana, de David Hume.
A Alemanha, que não era ainda um país unificado no séc. XVIII, era a principal produtora de
psicologias, e onde a psicologia foi mais longe na institucionalização e conquista de um status de
disciplina. Como todas as outras ciências no sistema Wolff (sistema filosófico que dominava o
ensino até o surgimento da filosofia crítica de Kant), a psicologia podia ser abordada de duas
maneiras: empiricamente e racionalmente. A Psychologia empírica dava origem a um
conhecimento a posteriori dos seres e das coisas materiais e imateriais; enfocava a vida interior
da alma, excluindo as relações fisiológicas e corporais (lei natural, lógica, uso da psicometria). A
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Psychologia rationalis dava origem a um conhecimento a priori de sua essência, de sua razão ou
possibilidade; visava à explicação dos fatos apresentados na psicologia através da dedução de
axiomas e proposições provadas (definição da alma, percepção/representação/apercepção,
espiritualidade). Enquanto os manuais de Wolff forma usados nas universidades alemãs até a
metade do séc. XVIII, a psicologia era abordada fundamentalmente como uma ciência empírica.
A psicologia era a disciplina antropológica crucial por duas razões. A primeira era didática e
epistemológica e consistia no método e no objeto de estudo: a ―análise‖ era proposta como
paradigma do conhecimento legítimo e o esclarecimento dos mecanismos envolvidos no conhecer
era a condição da aquisição e da crítica do próprio conhecimento. A segunda razão para a
preeminência da psicologia é que entre as disciplinas que, da economia animal à economia
política, compunham a ciência do homem, a psicologia era aquela cujo objeto próprio virtualmente
coincidia com a definição de ser humano.
O séc. XVIII foi, de várias maneiras, ―o século da psicologia‖, pois a psicologia se impôs como
disciplina antropológica crucial e ao mesmo como a primeira ciência de todo o sistema do
conhecimento por duas razões. Primeiramente, ela mostrava como os seres humanos
naturalmente adquiriam conhecimento (das sensações aos conceitos) e assim indicava os
melhores métodos de investigação empírica para todas as outras ciências. Em segundo lugar, na
medida em que o objeto da psicologia era a alma unida ao corpo e interagindo com ele, a
psicologia era o ―fundamento‖ eo ―guia‖ de todas as ciências, fornecendo conhecimentos sem os
quais ―nós nãos podemos julgar nada, decidir sobre nada, determinar nada, escolher nada,
preferir nada, fazer nada com segurança e sem erro‖.
BIBLIOGRAFIA
SANTI, P.L.R. A construção do eu na modernidade. Ribeirão Preto: Holos, 1998, cap 10.
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Aula 4: A crítica ao Iluminismo: os movimentos românticos.
O romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas
do séc.XVIII na Europa que perdurou por grande parte do séc.XIX. Caracterizou-se como uma
visão de mundo contrária ao racionalismo e ao Iluminismo.
Inicialmente apenas uma atitude, um estado de espírito, o romantismo toma mais tarde a forma de
um movimento, e o espírito romântico passa a designar toda uma visão de mundo centrada no
indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama
humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Se o séc.XVIII foi marcado
pela objetividade, pelo Iluminismo e pela razão, o início do séc.XIX seria marcado pelo lirismo,
pela subjetividade, pela emoção e pelo eu.
O romantismo surgiu na Europa em uma época em que o ambiente intelectual era de grande
rebeldia. Na política, caíam sistemas de governo despóticos e surgia o liberalismo político. No
campo social imperava o inconformismo. No campo artístico, o repúdio às regras. A Revolução
Francesa é o clímax desse século de oposição.
No Brasil, o romantismo coincidiu com a independência política do Brasil em 1822, com o Primeiro
Reinado, com a Guerra do Paraguai e com a Campanha Abolicionista.
O Primeiro Reinado do Brasil é o nome dado ao período em que D. Pedro I governou o Brasil
como Imperador, entre 1822 e 1831, ano de sua abdicação do trono brasileiro. É historicamente
incorreto referir-se a este período como "primeiro império", já que o Brasil teve um único período
imperial contínuo, dividido em primeiro e segundo reinados. O primeiro reinado caracterizou-se
por ser um período de transição. Foi marcado por uma grande crise econômica, financeira, social
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e política. A efetiva consolidação da independência do Brasil ocorreria a partir de 1831, com a
abdicação de D. Pedro I.
A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. Foi
travada entre o Paraguai e a tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra
estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. O conflito iniciou-se com a invasão da
província brasileira de Mato grosso pelo exército do Paraguai, após uma intervenção armado odo
Brasil no Uruguai, pondo fim à Guerra Civil Uruguaia. O Paraguai já estava produzindo armas para
atacar a Argentina. A Tríplice Aliança derrotou o Paraguai após cinco anos de luta. O Brasil enviou
150 mil homens à guerra, dos quais cerca de 50 mil não voltaram. O Paraguai perdeu cerca de
300 mil pessoas entre civis e militares mortos em decorrência dos combates, das epidemias que
se alastraram e da fome. A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai,
tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo
populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de pesada indenização de guerra
e perda de praticamente 40% do território em litígio para o Brasil e Argentina. Após a Guerra, por
décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.
A vida social, urbana quanto civilizada, é acusada de afastar o homem de sua verdadeira
natureza; o Romantismo representa uma espécie de saudosismo de um estado natural perdido
pelo homem, que seria preciso reencontrar. O Romantismo nasce como um movimento de crítica
à modernidade, como crítica ao Iluminismo e ao seu exacerbado racionalismo.
A separação entre o ―público‖ e o ―privado‖ levou à concepção de que aquilo que mostramos
socialmente é o que temos de ―bom‖, do ponto de vista do convício social, enquanto que o privado
envolvia a ideia do que era excluído à expressão pública, algo potencialmente anti-social. Em
contrapartida aquilo que mostramos socialmente passa a ser considerado ―falso‖, por oposição
àquilo que escondemos e que representaria a nossa verdadeira natureza.
Também na França forma se constituindo novos espaços, tempos e meios para as experiências
da privacidade. É na França que a revelação da intimidade reúne o erotismo exibicionista e
voyeurista aos motivos iluministas e desmistificadores na voga da literatura pornográfica
produzida por alguns dos melhores filósofos e literatos da época, como Diderot. Além dos cafés,
salões literários, clubes e participação na imprensa, o séc.XVIII assistiu ao grande florescimento
das sociedades secretas, onde as pessoas podiam expressar suas opiniões e a privacidade era
garantida. Dessas sociedades secretas, a mais conhecida foi a franco-maçonaria.
O homem romântico crê-se único, suas experiências mais profundas parecem-lhe incomunicáveis
e radicalmente individuais. Desta concepção de experiência humana, nasce a ideia de ―gênio‖,
entendido como um sujeito especialmente dotado de alguma característica; esta não pode ser
apreendida ou transmitida, pertencendo à essência deste mesmo indivíduo, trata-se de um dom,
um presente.
No interior da própria racionalidade iluminista, a razão será tomada como objeto de investigação e
suas pretensões quanto à possibilidade de alcançar a verdade plena serão postas em dúvida.
Com o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), o próprio pensamento será tomado como
objeto de investigação. Kant chega à conclusão de que o pensar é organizado por categorias,
estruturas que organizam tudo o que nos chega ao mundo. Neste sentido, todo o nosso
conhecimento sobre o mundo seria condicionado e ―formatado‖ por nossas estruturas cognitivas.
Assim, chega à conclusão de que nunca temos acesso às coisas em si, mas apenas aos
fenômenos.
A partir da crítica de Kant, o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) formula o modelo do
que é hoje chamado de ciência, um modelo para a produção de conhecimento ao mesmo tempo
racional e empírico. Comte acredita na possibilidade da razão conhecer o mundo dentro do
universo dos objetos tais como lhe são acessíveis. Comte não fala em termos de fenômenos, mas
em objetos positivos, aqueles que se apresentam diretamente aos nossos órgãos do sentido. Com
isso ele enfatiza seu caráter concreto, verdadeiro ou útil, por oposição às abstrações metafísicas
da tradição filosófica.
Uma vez definido o objeto, toda ciência tem os mesmos métodos: a observação e
experimentação. A ciência positivista visa sempre previsão e controle sobre seu objeto; a
ciência deve gerar tecnologia. Diversas linhas da Psicologia tentarão arduamente satisfazer os
critérios positivistas, enquanto outras decididamente não poderão fazê-lo. Para Comte, a
possibilidade de o homem fazer ciência no séc.XIX deve-se à sua evolução. Nos primórdios da
civilização, o homem teria tentado compreender a natureza recorrendo à mitologia e à religião.
Com o passar do tempo, o homem teria passado a entender o mundo de forma filosófica ou
metafísica. Finalmente o homem teria podido compreender fenômenos naturais, buscando sua
causa tão somente na própria natureza e em suas leis, sendo função da ciência procurar conhecer
as leis que regem a natureza, inclusive o homem.
17
As primeiras manifestações românticas na pintura ocorreram quando o espanhol Francisco Goya
(1746-1828) passou a pintar depois de começar a perder a audição. Um quadro de temática
neoclássica como Saturno devorando seus filhos, por exemplo, apresenta uma série de emoções para
o espectador que o fazem se sentir inseguro e angustiado. Goya cria um jogo de luz-e-sombra, linhas
de composição diagonais e pinceladas "grosseiras" de forma a acentuar a situação dramática
representada.
O pintor inglês William Turner (1775-1851) refletiu o espírito inóspito e selvagem em obras como ―Mar
em Tempestade‖ onde o retrato de um fenômeno da Natureza é usado como forma de atingir as
sensações extremas, os paraísos artificias, a natureza em seu aspecto mais bruto.
O inglês George Gordon Byron (1788-1824), conhecido como Lorde Byron, foi um destacado
poeta britânico e uma das figuras mais influentes do romantismo, célebre por suas obras-primas
BIBLIOGRAFIA
FIGUEIREDO, L.C.M. A Representação e Seus Avessos A invenção do psicológico. Quatro séculos de subjetivação
(1500-1900). São Paulo: EDUC/Escuta, 1996.
SANTI, P.L.R. A construção do eu na modernidade. Ribeirão Preto/SP: Ed. Holos, 2012, caps. 11, 12 e 15.
18
Aula 5: Avanço disciplinar.
O séc. XIX pode ser caracterizado como o do apogeu do liberalismo e do individualismo como
princípios de organização econômica e política, enquanto que no campo das artes e da filosofia
desabrochou os movimentos românticos e Focault identifica ainda o mesmo século como o do
início de uma sociedade organizada pelo regime disciplinar. Essas três formas – liberalismo,
romantismo e disciplina – de entender o séc. XIX são legítimas simultaneamente, embora
contraditórias, sendo que o espaço psicológico tal como hoje o conhecemos, nasceu e viveu
precisamente da articulação conflitiva dessas três formas de pensar e praticar a vida em
sociedade.
O liberalismo (formulado inicialmente por John Locke) sustentava que ao Estado cabia apenas
regular as relações entre indivíduos para que nenhum tivesse seus direitos violados pelos demais
nas não cabia intervir e administrar a vida particular de ninguém, sendo importante preservar a
privacidade contra os eventuais abusos do poder público. O liberalismo econômico defende a
redução radical da presença do estado na vida econômica, confiando de forma absoluta na
iniciativa e na racionalidade individual dos agentes e na função auto-regulativa do mercado como
as condições auto-suficientes para o progresso e para a estabilidade da vida social.
Um pouco antes que o liberalismo alcançasse esse nível de elaboração, surgiram as ideias
liberais através da obra de Jeremy Benthan, tido como criador do utilitarismo. O utilitarismo irá
substituir a crença e a defesa intransigente dos direitos naturais dos indivíduos pelo cálculo
racional da felicidade, ou seja, a índole empirista do liberalismo vai ser aos poucos substituída
pelo construtivismo racionalista.
O Estado já não se mantém nos limites de suas antigas funções, mas vai gradativamente
assumindo a de intervir positivamente na administração da vida social, promovendo a felicidade
com punições e recompensas. O objetivo geral de todas as leis passa a ser aumentar a felicidade
global da coletividade (já não se centra mais na questão da liberdade e dos direitos naturais e sim
nas consequências positivas ou negativas), favorecendo a maioria mesmo que em prejuízo de
alguns indivíduos. Instaura uma nova modalidade de poder; O Estado não mais garante os direitos
naturais dos indivíduos, não é mais somente coercitivo, mas agora é também privativo, punitivo e
recompensador.
On Liberty é uma obra filosófica publicada em 1859, pelo inglês John Stuart Mill. Seu pai, James
Mill, foi o principal discípulo e aliado de Benthan, organizou sua família e educou seus filhos
seguindo estritamente suas opções filosóficas e políticas, submetendo-os a uma rígida disciplina.
On Liberty é um testemunho pessoal de um filósofo que, tendo sofrido o impacto da disciplina
utilitarista e vendo ao seu redor crescerem as forças coletivas, os controles sociais, a
administração burocrática e a opinião pública, tenta defender os espaços ameaçados da
privacidade e da liberdade nesta versão romantizada do liberalismo.
Os movimentos românticos, na sua dimensão política, se apresentaram ora como uma face
nitidamente conservadora e tradicionalista, buscando em formas arcaicas de organização social
uma saída para os impasses do individualismo, ora com uma face revolucionária, lançando-se
então, na direção do futuro para a superação do individualismo ilustrado. Ambas correspondem a
um projeto de restauração da vida social, de valores autênticos, dos modos de relação entre os
homens e entre o mundo físico e histórico, que trariam de volta a espontaneidade e fecundidade
da vida coletiva e individual. Nessa medida os românticos criaram a noção de personalidade, não
mais definido pelo isolamento e pela privacidade nem pela identidade social, mas pela capacidade
de se autopropulsionar, autodesenvolver, de criar e, na própria criação, transcender-se e integrar-
se às coletividades e tradições. Com o romantismo passa-se de uma noção de liberdade negativa
(a liberdade exercida no terreno da não-interferência) para uma visão da liberdade positiva
(como autonomia e criatividade), implicando na transformação do sujeito, na perda de identidades
convencionais, tornando-se o que verdadeiramente se é, contrapondo-se ao conservar papéis a
máscaras socialmente convencionadas.
No séc. XIX conviveram três pólos de ideias e práticas de organização de vida em sociedade: o
liberalismo e os romantismos em suas diversas versões e o regime disciplinar, este acompanhado
progressivamente dos seus discursos legitimadores, muitos dos quais de extração romântica e
outros de extração utilitária. Falar em convivência, no entanto, e mesmo de convivência complexa
é ainda dizer pouco. Considerando-se as relações de complementaridade e conflito que unem e
separam cada um destes pólos dos outro dois, podemos conceber a formação de um novo
território no qual as experiências individuais e coletivas se estabelecem, constroem e ganham
sentido. Trata-se de um espaço triangular, como no esquema abaixo.
Ao pólo D, de Disciplina, pertencem as novas tecnologias de poder, tanto as que exercem sobre
identidades reconhecíveis e manipuláveis segundo o princípio da razão calculadora, funcional e
administrativa, como as que se abatem sobre identidades debilmente estruturadas e passíveis de
manipulação.
20
Esses pólos atraem-se e repelem-se. As linhas cheias ligando-os dois a dois correspondem às
suas mais ou menos dissimuladas relações de afinidade e complementaridade. Poderíamos
designar a estas superfícies com o nome de alguns personagens da história. Teríamos assim:
uma superfície Bentham (b) ligando o liberalismo (L) ao regime disciplinar (D), nesta
superfície os procedimentos disciplinares encontram os indivíduos livres e, na direção
oposta, os átomos sociais encontram-se com seus controles próprios;
uma superfície Stuart Mill (sm) ligando o liberalismo (L) ao romantismo (R), onde os
ingredientes românticos alimentam os projetos de vida dos indivíduos e, estes, por sua
vez, acolhem os elementos românticos na intimidade de seus lares e, mais ainda, de suas
fantasias;
uma superfície Wagner (w) ligando a disciplina (D) ao romantismo (R), onde articulam-se
as forças e o poder da Vida e da Vontade aos procedimentos de controle carismático e
docilizados da disciplina.
Isso pode ser observado na obra Às Avessas (1884), romance do francês J. K. Hyusmans, um
livro em que o enredo é praticamente inexistente, onde existe apensa um personagem, o duque
Jean Des Esseintes, o último renascente de sua aristocrática família, devastada por doenças
físicas e espirituais, causadas por diluições consanguíneas da linhagem, que a maior parte do
tempo tem pensamentos de um cunho pessimista (VERIFICAR TEXTO).
Se Des Esseintes tivesse vivido cinquenta anos depois, não resta dúvida, ele sairia dessa
experiência fracassada de centramento para se entregar aos cuidados de quem, supõe-se, é o
especialista em ―homens que perderam o estilo‖ e se sentem imersos nos conflitos desse território
em que todos vivemos e no qual agem livre, para além da consciência integradora das
identidades, as forças submersas do ―psicológico.
Os movimentos artísticos e literários desde o final do séc. XIX até os dias de hoje testemunha, de
variadas maneiras, o destroçamento do eu e problematização do sujeito individual pela
autonomização daqueles elementos que operam no registro do excluído.
21
O espaço do ―psicológico‖ será exatamente o que abriga as forças alienadas do eu, os elementos
dos três vértices do espaço triangular expulsos da identidade-estilo, as relações entre eles e os
processos de subjetivação/‖des-subjetivação‖, que promovem incessantemente.
Há diversas maneiras de pensar e fazer psicologia, porque há diversas possibilidades de lidar com
estes elementos, sua estrutura e dinâmica.
A disciplina é valorizada, pois gerir a população significa fazê-lo de forma minuciosa. O Estado
desempenha o papel de orquestrador-produtor dessa operação biopolítica (estratégias colocadas
para administração e controle das populações), com o auxílio da tecnologia disciplinar operada pela
medicina.
Nasce a sociedade intimista, regulada pela erosão entre o público e o privado: o público passando
a ser regulado pelos valores íntimos e familiares do espaço privado, se tornando desqualificado,
por não atender aos desejos e valores da privacidade de transparência e de naturalidade de
comportamentos.
Mas esse poder disciplinar atua, igualmente, nos copos individuais e nas formas de sociabilidade
urbanas, definindo modos de relação entre público/privado, que reverberam até a
contemporaneidade, sobre os modos como pensamos essa distinção entre os dois âmbitos.
BIBLIOGRAFIA
BARROS, R. D. B.; JOSEPHSON, S. C. A invenção das massas: a psicologia entre o controle e a resistência. In: JACÓ-
VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T.(orgs.) História da psicologia: rumos e percursos. Rio de
Janeiro: Nau Editora, 2007.
FIGUEIREDO, L. C. M. Para além do estilo. Um lugar para a Psicologia. A invenção do psicológico. Quatro séculos
de subjetivação 1500-1900. São Paulo: EDUC/Escuta, 1996.
22
Aula 6:
A institucionalização da Psicologia com Wilhelm Wundt.
Filho de pastores luteranos alemães, reside com um vigário na juventude, forma-se em medicina,
doutora-se em filosofia e começa a lecionar fisiologia. Em Heidelberg foi assistente de Helmholtz,
quem praticamente iniciou os estudos do tempo de reação e conseguiu estabelecer a velocidade o
impulso nervoso através desse método, além de contribuições ao estudo da fisiologia da visão e
audição entre as quais o invento o oftalmoscópio e as contribuições da teoria da cor.
Tornou-se professor de Filosofia em Lepizig, instalou seu laboratório e deu início à revista onde
publicaria seus estudos. É sempre possível apontar a existência de laboratórios anteriores ao de
lepizig, onde também era realizadas investigações de cunho psicológico, o que colocaria em
questão o pioneirismo de Wundt. No entanto, durante o último quarto do séc.XIX, o Laboratório de
Leipizig atraiu estudantes de várias partes do mundo e tornou-se o primeiro e maior centro de
formação de toda uma geração de psicólogos, que posteriormente regressaram a seus locais de
origem e fundaram novos laboratórios nos moldes wundtianos.
Wundt foi acima de tudo um filósofo, cujo objetivo último era elaborar um sistema metafísico
universal – uma visão de mundo – baseado nos resultados empíricos de todas as ciências
particulares.
Com base nesses dois pontos de vista, surge uma dupla possibilidade de se fazer ciência
empírica: a ciência natural (física, química, fisiologia, etc.), que se ocupa com os conteúdos
específicos da experiência mediata (objetos do mundo exterior), e a psicologia, que tem como
objeto toda experiência imediata (aspectos subjetivos da experiência). Essas duas ciências
trabalhariam de forma complementar, com o intuito de abranger o conteúdo da experiência como
um todo.
23
Ao definir a Psicologia como ciência da experiência imediata, Wundt pretendia atacar uma
concepção de psicologia muito comum em sua época, que tratava a mente como se fosse uma
substância ou entidade, seja espiritual (espiritualismo) ou material (materialismo). Para ele, essa
forma de fazer psicologia estaria equivocada porque se baseia em hipóteses metafísicas que
extrapolam toda a possibilidade de experiência. E como sua intenção era fundar uma nova
Psicologia, autônoma e independente de teorias metafísicas, a única alternativa era recusar por
completo essas concepções metafísicas acerca do objeto da Psicologia e propor outra, que
se atenha à experiência psicológica propriamente dita.
É importante enfatizar que, também de acordo com a definição apresentada por Wundt, não há
uma diferença essencial de natureza entre o mundo interno e o externo – uma vez que a
experiência é um todo organizado que abrange ambos –, mas apenas uma diferença na maneira
de abordá-los. Por isso, a relação entre a psicologia e as ciências da natureza deve ser de
complementaridade. Elas se complementam, na medida em que fornecem relatos diferentes da
mesma experiência, sem que haja a possibilidade de haver uma subordinação ou redução de uma
à outra.
Ao transportar essa dualidade metodológica para a psicologia, Wundt vai introduzir uma espécie
de divisão de tarefas, de acordo com as possibilidades de aplicação de cada um dos métodos.
Surge, então, a distinção entre a psicologia individual, fisiológica ou experimental, de um lado, e a
psicologia dos povos (Völkerpsychologie), de outro. Na psicologia individual o experimento deve
ser utilizado diretamente nos estudos sobre a sensação, a percepção e a representação, uma vez
que se pode investigar cuidadosamente tanto o início quanto o curso desses processos, tendo
sempre em vista a análise do complexo em termos de seus elementos constituintes. Na
psicologia dos povos, a única alternativa possível é a observação, pois se tratam de fenômenos
culturais e coletivos (linguagem, mito, religião etc.), que escapam ao controle experimental.
Tendo diferenciado experiência imediata e mediata, Wundt estabeleceu também uma diferença
entre a introspecção tradicional ou auto-observação e a percepção interna, sendo que somente a
percepção interna poderia ser utilizada como recurso metodológico, devido ao fato de poder ser
reforçada pelo controle experimental das condições externas da experiência, o que, segundo
Wundt, eliminaria os riscos da introspecção tradicional e livraria a psicologia das duras críticas
feitas por diversos autores ao introspeccionismo.
Em suma, a psicologia dispõe, assim como a ciência natural, de dois métodos de investigação,
que dão origem a duas formas complementares de estudo psicológico: o experimento, que a
psicologia individual ou fisiológica utiliza na análise dos processos psíquicos inferiores (sensação,
percepção, representação); e a observação dos produtos mentais, através da qual a
Völkerpsychologie investiga os processos psíquicos superiores. É importante termos sempre em
mente que essa subdivisão da psicologia decorre parcialmente de uma necessidade
metodológica, que em princípio não compromete a unidade do seu objeto de estudo, a saber, os
processos psíquicos revelados na experiência. Além disso, o objetivo final de ambos os tipos de
investigação é um só: a descoberta das leis gerais da vida mental.
O emprego da introspecção em Psicologia derivou da Física, onde ela tinha sido usada para
estudar a luze o som; e da Fisiologia, onde tinha sido usada para estudar os órgão sensoriais.
Wundt estabeleceu regras muito explícitas para o uso correto da introspecção no seu laboratório:
1. O observador deve estar apto a determinar quando o processo pode ser introduzido;
2. Deve encontrar-se num estado de prontidão ou ―atenção concentrada‖;
3. Deve ser possível repetir a observação numerosas vezes;
24
4. As condições experimentais devem ser capazes de variação em termos de manipulação
controlada dos estímulos. Esta última condição invoca a essência do método experimental;
variar as condições da situação de estímulo e observar as mudanças resultantes nas
experiências do sujeito.
A introspecção tal como era praticada em Leipzig, era uma habilidade adquirida pelos estudantes
somente após um longo período de rigoroso aprendizado. Poder relatar os elementos básicos de
uma experiência exigia um treinamento árduo.
Tendo definido o objeto de estudo e o método da Psicologia, Wundt considerou então o seu
tríplice problema ou meta:
1. Analisar os processos conscientes em seus elementos básicos;
2. Descobrir como esses elementos estão interligados;
3. Determinar as suas leis de conexão.
Wundt declarou que todo composto psíquico é dotado de características que não são a mera
soma das características dos elementos que o formam. Tal declaração deu origem à famosa
frase: a totalidade não é igual a soma de suas partes. Isso pode ser provado pela química, onde a
combinação de elementos químicos faz surgir compostos com propriedades que não se
encontram nos elementos separadamente.
Como qualquer grande homem, Wundt esteve sujeito à críticas a respeito de muitos pontos de sua
posição sistemática e de sua técnica experimental de introspecção. No entanto, era difícil criticar o
seu trabalho, não só porque ele escrevia tanto e tão depressa que suas argumentações se
modificavam rapidamente, mas também porque suas teorias pareciam mais a esquemas
classificatórios, tendiam a ser pouco coesas e quase impossíveis de se verificar.
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO, S. F. Uma visão panorâmica da psicologia científica de Wilhelm Wundt. Sci. Stud., São Paulo, v. 7, n. 2, jun. 2009
ARAUJO, S. F. Wilhelm Wundt e o estudo da experiência imediata. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F.
T.(orgs.) História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2007.
SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. Trad. Americana,
Cap. 4.
26
Aula 7: O pensamento evolucionista e suas
repercussões para a Psicologia.
A Psicologia Funcional, como o próprio nome sugere, interessa-se pela mente tal como funciona
ou como é usada na adaptação do organismo ao seu meio ambiente. O funcionalismo concentrou
suas atenções na seguinte questão prática: ―o que é a mente e quais processos mentis
realizam?‖. Estudaram a mente não do ponto de vista de sua composição (estrutura), mas coo um
conglomerado de elementos (função), que acarretam consequências práticas no mundo real.
Mesmo adotando muitas das características de uma nova escola de pensamento, esta não era a
finalidade do Estruturalismo. Não sendo uma posição sistemática tão rígida ou formalmente tão
diferenciada quanto o Estruturalismo, existiram várias psicologias funcionais, cada uma diferindo
um pouco das outras, porém todas compartilhando do interesse pelas funções da consciência.
Apesar de o Funcionalismo ter florescido nos Estados Unidos, as principais influências que
antecederam o movimento foram todas britânicas, incluindo as obras de Charles Darwin, Sir
Francis Galton e dos primeiros estudiosos do comportamento animal. É interessante notar
também o período de tempo no qual esses antecedentes britânicos ocorreram, foi antes e durante
o período em que o Estruturalismo se desenvolveu, uma vez que a famosa obra A Origem das
Espécies, de Darwin, foi publicada cerca de 20 anos antes do estabelecimento do Laboratório de
Leipzig, os trabalhos de Galton iniciaram-se antes ter Wundt ter escrito Princípios de Psicologia
Fisiológica e os primeiros investigadores da psicologia animal iniciaram seus trabalhos antes de
Titchener ir para Leipzig.
A REVOLUÇÃO DA EVOLUÇÃO.
O livro de Charles Darwin, A Origem das Espécies por Meio de Seleção Natural, publicado em
1859, é considerado um dos mais importantes em toda a história da civilização ocidental. A Teoria
da Evolução também teve um grande impacto sobre a psicologia contemporânea.
A ideia de que as coisas vivam mudam com o tempo (que é a noção fundamental da evolução),
não foi apresentada pela primeira vez por Darwin, mas já era discutida desde o séc. V a.C.,
embora começasse a ser sistematicamente investigada somente no séc. XVIII.
Jean-Baptiste Pierre Antonie de Monet (França, 1744-1829), mais conhecido como Cavaleiro de
Lamark, era originário da baixa nobreza, pertenceu ao exército e interessando-se por história
natural. Em 1809, Lamark havia formulado a teoria comportamental da evolução, enfatizando a
modificação da forma corpórea do animal através dos esforços do organismo para adaptar-se ao
seu meio, sendo estas modificações herdadas para sucessivas gerações. A teoria de Lamarck
27
não obteve grande aceitação na França, entretanto houve boa aceitação na Inglaterra. Apesar
disto, Lamarck não foi capaz de convencer aos homens de seu tempo que a evolução fosse um
facto.
Mas com o achado de ossos e fósseis de animais que não condiziam com qualquer espécie
existente, as formas vivas passaram a ser vistas como inconstantes, especulando-se que talvez
toda a natureza fosse o resultado e talvez ainda estivesse em contínua mudança, em evolução,
contrariando o sempre aceito relato bíblico da Criação (cada espécie segundo sua própria casta).
A mudança era vista nos fósseis de animais, no domínio intelectual, no domínio científico e
cotidiano. A sociedade estava sendo transformada pelas forças da revolução industrial. Valores,
normas e relações sociais estavam mudando na cidade e no campo. Era contínua e crescente a
influência e fé na ciência, contentando-se menos com as explicações religiosas. Esse clima
intelectual e social de mudança tornou cientificamente respeitável a noção de evolução, que
precisava de evidências para se consolidar.
Charles Robert Darwin (Inglaterra, 1809-1882), foi um naturalista britânico que alcançou fama ao
convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar
como ela se dá por meio da seleção natural e sexual. Esta teoria está vigente até os dias de hoje,
sendo considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos.
Darwin nasceu na Inglaterra, sendo o quinto, de seis filhos. Seu pai era médico, assim como seu
avô, provenientes de abastada família e elite intelectual da época. Desde criança demonstrou
interesse por plantas, besouros e animais marinhos, mas estudou medicina, depois teologia. Um
28
de seus professores, o eminente botânico Henslow, o recomendara para uma expedição a bordo
do HMS Beagle, com duração prevista de dois anos que deveria mapear a costa da América do
Sul, mas que na verdade durou quase cinco anos e proporcionou a Darwin oportunidade ímpar de
observar e coletar uma grande variedade de espécimes de plantas e da vida animal, regressando
à Inglaterra com uma grande quantidade de dados, iniciando sua carreira como naturalista, tendo
esta um profundo impacto sobre muitas áreas da ciência. Partiram em 1831 e retornaram em
1836.
Durante a viagem, Henslow cultivou a reputação de seu pupilo, divulgando fósseis e descrições
geológicas. Assim, quando o Beagle retornou, Darwin era celebridade no meio científico. Seu pai
havia feito vários investimentos de forma que Darwin pudesse ter uma vida tranquila; mais que
isto, ele poderia ter uma carreira científica autofinanciada. Darwin então convenceu Henslow a
fazer descrições botânicas das plantas que ele havia coletado. Depois se dirigiu a Londres onde
procurou os melhores naturalistas para descrever as suas outras coleções de forma a poder
publicá-las posteriormente.
Estando sob pressão, a saúde de Darwin se deteriorou, indo então para o campo se recuperar em
1837. Casou-se com sua prima em 1839 e tiveram 10 filhos. Sua saúde foi fraca por toda a vida,
mas isso não impediu de escrever numerosos artigos e livros científicos.
Darwin estava convencido da validade da ideia da evolução das espécies, mas por ser cauteloso
e conservador, aguardou 22 anos desde sua viagem até apresentar sua teoria ao mundo. Ele
tinha plena consciência do impacto revolucionário que sua teoria provocaria e queria estar
absolutamente certo de que ela estaria bem fundamentada. Somente em 1942, Darwin escreveu
um breve resumo, expandindo-o posteriormente, ideia compartilhada somente com os colegas
Hooker e Lyell. Continuou por 15 anos conferindo, aperfeiçoando, desenvolvendo, refletindo,
assegurando-se de que, quando finalmente a publicasse, s teoria seria inteiramente convincente.
Até que em 1858 recebera uma carta do jovem Wallace, um naturalista que havia desenvolvido
uma teoria da evolução muito semelhante à de Darwin e que lhe havia escrito solicitando sua
opinião e ajuda para publicá-la. Darwin, após 22 anos de trabalho estava em uma posição difícil.
Wallace não tinha o grande acervo de dados que Darwin possuía. E Darwin também tinha
ambição de ocpar um lugar legítimo entre os homens das ciências. Darwin estava se sentindo
perdido, mas então seus amigos, Lyell e Hooker sugeriram que lessem o ensaio de Wallace e
fragmentos de seu próprio livro em uma reunião científica para elucidar os fatos. Todos os 1250
exemplares da primeira impressão de A Origem das Espécies foram vendidos no mesmo dia de
sua publicação; excitação e controvérsia foram geradas imediatamente.
Partindo do fato óbvio da variação entre membros individuais da mesma espécie, Darwin
raciocinou que essa variabilidade espontânea era transmissível por herança. Na natureza existe
uma seleção natural que resulta na sobrevivência daqueles organismos mais bem ajustados ao
seu meio ambiente e na eliminação daqueles que não se ajustam. Existe uma luta contínua pela
sobrevivência na natureza e aquelas formas que sobrevivem são as que fizeram adaptações ou
ajustamentos bem sucedidos às dificuldades ambientais a que estão expostos; as que não podem
adaptar-se com êxito, não sobrevivem.
Darwin estendeu esse princípio a todos os organismos vivos e desenvolveu o conceito de seleção
natural. Aquelas formas que sobrevivem à luta e atingem a maturidade tendem a transmitir à sua
prole as habilidades ou vantagens que lhe permitem sobreviver. Além disso, como a variação é
outra lei geral da hereditariedade, os filhos mostrarão variações entre eles mesmos, com alguns
possuindo as qualidades vantajosas desenvolvidas em grau mais elevado que seus pais. Essas
qualidades tendem a sobreviver e no transcorrer de muitas gerações podem explicar as diferenças
individuais entre as espécies hoje existentes.
29
Pode-se dizer que Darwin forneceu, com seu livro inaugural, uma credibilidade à noção de
evolução, no entanto um dos grandes organizadores e difusores da tese evolucionista na
Inglaterra do séc.XIX foi Herbert Spencer.
Tal como muitos dos pensadores da época, Galton acreditava que a "raça" humana poderia ser
melhorada caso fossem evitados "cruzamentos indesejáveis". O objetivo de Galton era incentivar
o nascimento de indivíduos mais notáveis ou mais aptos na sociedade e desencorajar o
nascimento dos inaptos. Propôs o desenvolvimento de testes de inteligência para selecionar
homens e mulheres brilhantes, destinados à reprodução seletiva.
Sem ter como medir a hereditariedade das habilidades mentais, Galton mediu as frequências com
que a eminência ou reputação aparecia em famílias de grande notabilidade segundo o grau de
30
parentesco. Comparando-as com as frequências de eminência esperada da população mais
ampla, descobriu que as relações de homens eminentes exibiam uma frequência muito maior de
eminência que a esperada na base e que ela declinava conforme o grau de parentesco dessas
relações. Devido a esta circularidade, Galton concluiu que esse padrão só poderia resultar da
herança das habilidades mentais.
O esforço de Galton foi o de mostrar que as habilidades mentais – o que ele chamava de gênio –
eram traços hereditários tanto quanto os padrões físicos e estavam, consequentemente,
submetidas aos mesmos dispositivos de transmissão. Teve também uma grande importância na
criação de métodos estatísticos e foi Galton quem deu origem ao conceito de testes mentais (de
inteligência), testando as habilidade motora e a capacidade sensorial de indivíduos. Estudou a
diversidade e o tempo necessário para a produção de associações de ideias.
O infame programa eugênico levado a cabo na Alemanha nazista em nome da pureza da raça
ariana foi realizado pela esterilização forçada de centenas de milhares de pessoas consideradas
mentalmente desadaptadas e pelos programas de eutanásia compulsória que mais tarde
desembocaram no assassinato de milhões de ―indesejáveis‖, incluindo judeus, ciganos e
homossexuais, durante o Holocausto perpetrado na Segunda Grande Guerra (1939-1945).
O segundo maior movimento eugênico ocorreu nos EUA que, desde o final do séc.XIX, implantou
leis sob a égide a eugenia proibindo o casamento de epiléticos, imbecis e débeis mentais. O
mesmo configura as leis para dificultar a imigração, ao serem aconselhados sobre os riscos de
espalhar entre os americanos um ―estoque inferior‖ proveniente dos outros países. Também são
exemplos as leis do mesmo país as leis contra o incesto, antimiscigenação e de esterilização que
atingiram milhões de americanos considerados desadaptados.
Após a Segunda Guerra Mundial os programas eugênicos perdem força, mas muitos eugenistas
nos EUA criam o termo criptoeugenia, sendo que atualmente um dos programas de inspiração
eugênica de maior alcance está ligado ao projeto genoma de mapeamento do código genético.
A Psicologia entra em cena nos trabalhos de Darwin a partir de sua tentativa de saber como o
homem descende de alguma forma preexistente.
Mas como conectar a modificação estrutural produzida pelo hábito com a transmissão para a prole
das estruturas adquiridas?
31
Um problema considerado psicológico como o instinto ocupou, portanto, um lugar destacado no
estabelecimento da teoria da seleção natural, envolvendo-se numa longa reflexão sobre a moral e
as faculdades mentais.
A genealogia simiesca do homem, apesar de gerar intensas discussões, foi aceita por um público
amplo, mesmo ao revés do clero e de algumas camadas dominantes. Mas no plano das
argumentações acadêmicas ainda havia muito a ser feito para garantir a continuidade homem-
animal no plano mental.
A aproximação entre homens e animais levada a cabo por Darwin foi o solo onde emergiu a
psicologia comparada ou também conhecida como psicologia animal, um campo que estuda as
diferenças de comportamento entre os seres vivos, as várias espécies existentes, comparando
seus diferentes comportamentos. Assim, as noções como reforço, luta pela vida, adaptação por
seleção natural forneceram instrumentos para a comparação na psicologia, mas sua aplicação
teve que esperar até os trabalhos de Lloyd Morgan.
BIBLIOGRAFIA
DEL CONT, V. Francis Galton: eugenia e hereditariedade. Sci. stud., São Paulo, v. 6, n. 2, 2008.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662008000200004 (Acesso em: abril/2015).
PORTUGAL, F. T. Comparação e genealogia na psicologia inglesa no século XIX. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.;
PORTUGAL, F. T.(orgs.) História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2007.
SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007, Cap. 6.
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Aulas 8, 9 e 10: O FUNCIONALISMO AMERICANO.
No início do séc.XX, a Psicologia estava adquirindo especialmente nos Estados Unidos um caráter definido:
corpo físico do experimentalismo alemão e mentalidade recebida a partir das idéias de Darwin. A psicologia
da experiência alemã é herdeira da problemática do estudo da subjetividade, enquanto a psicologia dos
países de língua inglesa vincula-se à temática do indivíduo, ancorado nas forças da biologia.
Assim surge o movimento funcionalista, composto por psicólogos como Granville Stanley Hall (1844-1924),
James McKeen Cattell (1860-1944) e William James (1842-1910), além de escolas como a de Chicago,
composta por John Dewey (1859-1952), James Angel (1869-1949), Havey Carr 91873-1954) e a Escola de
Columbia, integrada por Edward Lee Thorndike (1874-1949) e Robert Sears Woodworth (1869-1962).
Os Estados Unidos estavam orientados para o prático, o útil e o funcional, refletindo na psicologia
americana essas mesmas qualidades. Assim os Estados Unidos foram mais sensíveis ao evolucionismo do
que a Alemanha ou mesmo a Inglaterra.
William James (Estados Unidos, 1842-1910) foi um dos fundadores da psicologia moderna e importante
filósofo ligado ao pragmatismo. Nascido em família rica e altamente intelectualizada, formou-se médico,
escreveu diversos livros conceituados sobre a então jovem ciência psicologia, sendo um dos formuladores
da psicologia funcional. Foi professor de fisiologia e anatomia em Harvard, sendo o primeiro educador a
ministrar um curso de psicologia nos Estados Unidos.
É possível dividir a obra de William James em um momento psicológico, que vai da década de 1870 à 1890
e em um momento filosófico, que vai da década de 1880 até o final de sua vida.
O primeiro período tem como marco inicial a criação de um pequeno laboratório de psicologia, em 1875 na
Universidade de Harvard, e no mesmo ano seu primeiro curso de psicologia sobre As relações entre a
fisiologia e a psicologia. Nesse período, ponto culminante de sua produção teórica é, sem dúvida, a
publicação em 1890, após 12 anos de elaboração minuciosa, do livro Os Princípios de Psicologia. Nesse
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tratado de mais de mil páginas encontram-se as principais ideias de James sobre tópicos tais como hábito,
atenção, fluxo de pensamento e self.
James defende que ―a psicologia é uma ciência da vida mental, tanto de seus fenômenos, quanto de suas
condições‖, tanto de seus fenômenos como de suas condições. O objeto de estudo da psicologia deve ser
encontrado na experiência imediata.
Questionando o que era chamado de self, constrói uma noção de self caracterizada por certa fluidez: sem
limites estabelecidos previamente e como as referências básicas de tempo e espaço definidas em função
das ações que esse self é autor. Ou seja, o self não existe como uma estrutura com certa organização
psíquica, antes de suas ações; ao contrário, ele passa a existir em função de suas ações sobre o ambiente.
Ao estudar o conceito de fluxo de pensamento, afirma que o mesmo é contínuo e não fragmentado. Isso
significa dizer que a consciência flui, que não é algo agregado, como um rio.
Ao analisar o conceito de hábito, o faz com base em três tópicos principais: 1º. O destaque dado à sua base
física ou neurofisiológica e sua participação tanto nos limites do aprendizado de novos hábitos como na
modificação de hábitos antigos; 2º. A apresentação do hábito como uma versão possível das ações
adaptativas de um organismo em referência a um meio, ou seja, a ênfase sobre os aspectos funcionais do
hábito; 3º. A possibilidade de alteração dos hábitos pela ação voluntária e os efeitos ético-morais a ela
correspondentes.
Os conceitos de self, fluxo de pensamento e hábito segundo James, fornecem indicações teóricas
suficientes para a sustentação da importância de William James para o funcionalismo: na obra desse autor,
o foco está sempre colocado sobre a função e não sobre supostas ―propriedades‖ de um organismo dotado
de psiquismo. Ou seja, na perspectiva jamesiana, o que um organismo é ou seixa de ser decorre das
funções que exerce e das interações com um dado ambiente.
Uma famosa contribuição teórica de James, tratando das emoções, contradisse todo o pensamento da
época. Supunha-se anteriormente que a experiência de emoção precedia sua expressão física ou corporal
(ex.: encontramos um urso, ficamos assustados e fugimos). James inverteu isso e afirmou que a reação
física precede o surgimento da emoção (ex.: vemos o urso, fugimos e depois sentimos medo). A teoria da
emoção de James foi a única teoria específica de sua época a tornar-se influente e famosa. Atualmente há
diversas teorias que explicam os fenômenos emocionais pela ativação e sequência dos componentes que o
envolvem (1890 James-Lange; déc.20-30 Walter Cannon e Philip Bard; déc.60-70 Stanley Schachter).
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Granville Stanley Hall (Estados Unidos, 1844-1924), nascido em uma fazendo, sempre se
interessou pelos assuntos evolucionistas, estudou filosofia, teologia; trabalhou em fisiologia e física ; deu
aulas, até que se tornou o primeiro estudante americano de Wundt, fazendo pesquisas mais voltadas para a
fisiologia e sofrendo pouca influência deste. Hall usou a teoria da evolução como quadro de referência para
todas as suas amplas especulações teóricas. De um modo geral, contribuiu mais para a psicologia da
educação do que para a psicologia experimental. Apesar de ser, sob orientação de William James, o
primeiro doutor em psicologia nos Estados Unidos em 1878, e o primeiro aluno americano de Wundt (em
1879), ao retornar para a Universidade de Clark (estado de Massachusetts) promove a implantação de uma
série de novas áreas como a psicologia da infância, adolescência e velhice, a psicologia da educação, o
sexo e a religião. Iniciou o primeiro laboratório americano de psicologia, funda revistas (como a American
Journal of Psychology) e associações (como a American Psychology Association), além de ser responsável
pelo convite, em 1909, para a vinda de Sandor Ferenczi, Carl Gustav Jung e Sigmund Freud para expor em
linhas gerais a psicanálise.
James McKeen Cattell (Estados Unidos, 1860-1944) foi o primeiro assistente de Wundt em
Leipzig (1883) e, ao retornar para Columbia dedicou-se ao trabalho de aperfeiçoamento de medidas
mentais para classificação dos indivíduos, crucial para a constituição dos testes mentais. Durante a carreira
de Cattell na Universidade de Columbia, foram concedidos mais doutorados em Psicologia do que em
qualquer outra universidade dos estados Unidos; ele enfatizava a importância do trabalho independente e
proporcionava aos seus estudantes considerável liberdade para realizarem pesquisas de própria iniciativa.
Assim como Galton, os testes de Cattell lidavam com medidas corporais ou sensório-motora mais
elementares para medir a aptidão mental e após coletar uma quantidade suficiente de dados para
correlacionar os escores dos testes com o desempenho acadêmicos dos sujeitos, tudo levava a cre que os
testes desse tipo não era preditores válidos de aptidão intelectual. Seu discípulo, Thorndike foi um líder na
psicologia dos testes mentais nos Estados Unidos e Columbia tornou-se a principal universidade no
movimento dos testes por muitos anos. A influência de Cattell sobre a psicologia americana deu-se através
de sua capacidade de organizar, executar e administrar a ciência e prática psicológicas, assim como ―porta-
voz‖ da psicologia junto da comunidade científica em geral, através da realização de conferências, aulas,
edição de revistas e aplicação prática da psicologia.
Não existia uma escola formal de FUNCIONALISMO no fim do séc.XIX, apesar da ideia impregnar toda a
psicologia americana da época. E paradoxalmente pode ser sugerido que foi Titchener ―batizou‖ essa
escola ao escrever um artigo e ao tentar distinguir sua abordagem desta, cunhar os termos opostos
estruturalismo e funcionalismo.
O seu caráter eclético pode se dever também à sua vinculação com o pensamento pragmatista, recusando-
se tudo o que possa caracterizar como sistema estático ou fechado.
John Dewey (1859-1952) foi aluno de Hall. Em Chicago iniciou o seu laboratório ou escola
experimental, o que, nessa época, constituía uma inovação radical em educação. Em 1904 trocou Chicago
pela Universidade de Colúmbia, onde permaneceu até sua jubilação em 1930 e acabou por não trabalhar já
em Psicologia propriamente dita, mas aplicando a psicologia aos problemas educacionais e filosóficos.
O modelo de adaptação de James está presente na teoria da inteligência de Dewey (1910), segundo a qual
a nossa consciência é ativada em situações-problema, de que os nossos instintos e hábitos correntes não
dão conta. Nesses casos, a nossa inteligência atua de forma consciente, escolhendo possíveis alternativas
para a solução do problema. A fase seguinte seria a testagem das alternativas dentro do contexto do
problema; uma vez que uma determinada resposta soluciona a situação-problema, ela é mantida como um
novo hábito. A nossa consciência seria, pois, ativada perante novos problemas, atuando na seleção de
respostas, visando adaptar os organismos e produzir novos hábitos.
Esse modelo será fartamente utilizado pelo próprio Dewey na sua linha pedagógica da escola Nova, em que
propõe uma metodologia baseada nessa aprendizagem inteligente e na cooperação entre os indivíduos. Só
através dessa aprendizagem inteligente poderíamos criar hábitos sólidos, ao mesmo tempo em que
indivíduos autônomos, ativos e capazes de atuar coletivamente – ideais para as sociedades democráticas,
as únicas que permitirias o desenvolvimento inteligente de seus cidadãos. Neste aspecto, poder-se-ia
concluir que, no quadro do funcionalismo, as formas democráticas da vida permitem a realização de forma
completa das nossas funções adaptativas naturais. A democracia não seria apenas uma forma social justa,
mas antes de tudo uma forma natural.
James Rowland Angell (1869-1949) teve aulas com Dewey e trabalhou um ano com James,
em Harvard, onde obteve mestrado em 1892. Seguiu para Europa para continuar seus estudos. Assistiu às
aulas de Ebbinghaus e Helmholtz. Angell descreveu os três principais temas do movimento funcionalista:
A psicologia funcional é a psicologia da operação mental, ao contrário do estruturalismo, que é a
psicologia dos elementos mentais. O aspecto elementar da psicologia de Titchener ainda contava com
defensores e Angell promovia o funcionalismo em oposição direta a ele. A tarefa do funcionalismo é
descobrir o modus operandi do processo mental, as suas realizações e as condições sob as quais ele
ocorre;
A psicologia funcional é a psicologia das utilidades fundamentais da consciência. Desse modo, a
consciência é vista como um instrumento utilitário, já que faz a mediação entre as necessidades do
organismo e as condições do ambiente. As estruturas e as funções orgânicas existem a fim de permitir
que o organismo se adapte ao ambiente para, assim, sobreviver. Angell sugeria que a consciência
sobrevivia para executar alguma função essencial para o organismo. Os psicólogos funcionalistas
precisavam descobrir exatamente qual era essa função, não apenas da consciência como também dos
processos mentais mais específicos, como o julgamento e a vontade;
A psicologia funcional é a psicologia das relações psicofísicas (as relações mente-corpo) e dedica-se ao
estudo de todas as relações entre o organismo e seu ambiente. O funcionalismo abrange todas as
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funções mente-corpo e não faz qualquer distinção entre a mente e o corpo. Ele os considera
pertencentes à mesma classe e admite a facilidade de transferência entre eles.
Harvey A. Carr (1873-1954) foi aluno de Angell e trabalhou como assistente de laboratório de
John B. Watson. Em 1908 substituiu Watson que havia aceitado uma posição na Johns Hopkins University.
Por fim, Carr sucedeu Angell como chefe do departamento de psicologia da University of Chicago. Durante
o mandato de Carr (1919-1938), o departamento de psicologia concedeu 150 títulos de doutorado.
Carr aprimorou a posição teórica de Angell e seu trabalho representava o funcionalismo, quando não
precisava mais batalhar contra o estruturalismo. O funcionalismo superara a oposição e adquirira direitos
legítimos sobre a própria posição. No período de Carr, o funcionalismo em Chicago atingiu o ápice como
sistema formal. Carr alegava ser a psicologia funcional a psicologia estadunidense. Afirmava que as demais
versões de psicologias propostas naquela época, como o behaviorismo, a psicologia da Gestalt e a
psicanálise, dedicavam-se apenas a alguns aspectos limitados do campo. Acreditava que essas visões não
tinham muito a acrescentar na tão abrangente psicologia funcionalista.
Carr definiu a atividade mental como objeto de estudo da psicologia - os processos mentais, como a
memória, a percepção, o sentimento, a imaginação, o julgamento e a vontade; A função da atividade mental
é a aquisição, fixação, retenção, organização e avaliação das experiências e a sua utilização para
determinar a ação de uma pessoa. Carr chamou a forma específica de ação, na qual aparece a atividade
mental, de comportamento de "adaptação" ou "ajuste‖.
É possível perceber, nas ideias de Carr, a ênfase familiar da psicologia funcional nos processos mentais e
não nos elementos nem no conteúdo da consciência. E, ainda, observa-se uma descrição da atividade
mental em termos das realizações que permitem a adaptação do organismo a seu ambiente. É importante
ressaltar que, em 1925, essas questões já eram aceitas como fatos e não mais como objeto de debate.
Nesse período, o funcionalismo já era considerado psicologia geral.
Carr, aceitava os dados obtidos por meio dos métodos experimental e introspectivo. Assim como Wundt,
acreditava que as criações artísticas e literárias de uma cultura dariam indicações sobre as atividades
mentais que a produziram. Embora o funcionalismo não adotasse uma metodologia única, como fazia o
estruturalismo, na prática, a ênfase estava na objetividade. Quando se empregava a introspecção, ela era
limitada ao máximo por controles objetivos. Além disso, é importante observar que o funcionalismo
empregava nas pesquisas tanto animais como seres humanos.
A ESCOLA DE COLUMBIA, por sua vez, toma a adaptação em sentido mais comportamental e ancorada
em aspectos motivacionais.
Robert Sessions Woodworth (1869-1962) foi discípulo de Cattell, trabalhou com James e
em colaboração com Thorndike, demonstrou que a aprendizagem não pode ser transferida de pessoa para
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pessoa, concluindo que a instrução é uma questão de aperfeiçoamento nas capacidades de aprendizagem.
Por isso existem diferenças quando se analisa a capacidade de aprendizagem entre indivíduos diferentes.
Woodworth criou ainda o primeiro questionário para medir comportamentos fora do padrão, ou considerados
"anormais", o que serviu na altura como um espelho rudimentar na detecção e consequente
aconselhamento e tratamento para desordens comportamentais.
Edward Lee Thorndike (1874-1949) foi discípulo de William James, estudou com Cattell e
era fascinado por animais. Thorndike esteve na origem do surgimento do condicionamento operante
(SKINNER - procedimento através do qual é modelada uma resposta no organismo através de reforço
diferencial e aproximações sucessivas), pois foi baseando-se nas suas primeiras que Skinner desenvolveu
a sua teoria sobre este processo de aprendizagem.
A partir dos seus estudos com animais, Thorndike postulou a ―Lei do Efeito‖, um princípio de aprendizagem,
de grande utilidade para a Psicologia Comportamentalista, que seria aplicável tanto ao comportamento
animal quanto ao comportamento humano. De acordo com essa lei, todo comportamento de um organismo
vivo (um homem, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir, se nós recompensarmos (efeito) o organismo
assim que este emitir o comportamento. Por outro lado, o comportamento tenderá a não acontecer, se o
organismo for castigado (efeito) após sua ocorrência. E, pela Lei do Efeito, o organismo irá associar essas
situações com outras semelhantes. Por exemplo, se, ao apertarmos um dos botões do rádio, formos
―premiados‖ com música, em outras oportunidades apertaremos o mesmo botão, bem como
generalizaremos essa aprendizagem para outros aparelhos, como toca-discos, gravadores etc.
Não é difícil reconhecer nesses princípios as semelhanças com o chamado Condicionamento Operante,
proposto por B. F. Skinner alguns anos mais tarde. Thorndike lança, portanto, as bases de uma das mais
influentes correntes psicológicas: o behaviorismo.
Um de seus experimentos mais conhecidos foi, certamente, a caixa problema. Neste engenhoso dispositivo,
Thorndike colocou um gato preso em uma gaiola, a partir da qual o animal só poderia sair mediante
algumas ações tais como puxar cordas e abrir ferrolhos. Para garantir a "motivação" do animal, era
colocada uma porção de alimento do lado de fora da gaiola, de maneira que o gato não pudesse alcançá-lo
do lado de dentro do dispositivo. À medida que o gato era reintroduzido na caixa, o número de tentativas até
obter êxito diminuía. O vídeo postado abaixo ilustra muito bem este experimento.
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Thorndike, em seus experimentos sobre a inteligência animal, não supõe mais a solução dos problemas
como governada por uma consciência selecionadora de respostas, mas um conjunto casual de respostas
que são selecionadas por seus efeitos de satisfação. Esta é a sua clássica Lei do Efeito. Ao substituir a
consciência pelo acaso, não apenas adequa o seu modelo ao darwinista, como abre caminho para o
behaviorismo.
Mas a PSICOLOGIA FUNCIONAL não se interessa apenas pelo estudo da adaptação, mas também deseja
se transformar num instrumento de adaptação, promovendo-a. Isso se deve à postura pragmatista, na qual
o valor de um conhecimento está calcado em suas consequências práticas. A adaptação psicológica visa
ajustar a sociedade e o psicólogo entra nesse contexto buscando promover o maior bem possível.
Essa abordagem ao mesmo tempo utilitarista e biológica, conduz o funcionalismo como uma abordagem
que não trabalha só com leis gerais, mas com a diferença; que trata a norma não mais como absoluta, mas
relativa.
As principais críticas ao funcionalismo estão relacionadas à sua terminologia e objeto de estudo vagos, ao
interesse dos funcionalistas em atividades de uma natureza prática ou aplicada, dando continuidade à velha
rivalidade entre ciência pura e aplicada, além da crítica por seu ecletismo, uma vez que não eram tão
dogmáticos quanto os estruturalistas.
VÍDEOS INTERESSANTES:
BIBLIOGRAFIA:
FERREIRA, A. A. L.; GUTMAN, G. O funcionalismo em seu primórdios: a psicologia a serviço da adaptação. In: JACÓ-VILELA, A. M.;
FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T.(orgs.) História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2007.
SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007, Cap. 7 e 8.
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O FUNCIONALISMO AMERICANO
A PSICOMETRIA: MEDIR, CLASSIFICAR, DIFERENCIAR.
A Psicometria, no decorrer da história da psicologia, vai assumindo destaque por ser o campo que prima por
medir e estudar quantitativamente fenômenos psíquicos, processo esse que conduz à elaboração das
escalas estatísticas usadas em muitos testes.
Psicometria é uma área da Psicologia que faz vínculo entre as ciências exatas, principalmente a
Estatística, na tentativa de analisar e compreender o funcionamento psicológico. A psicometria diz respeito
ao estudo da atribuição de medidas e números sobre as operações psicológicas, ou seja, a psicometria
consiste no conjunto de técnicas utilizadas para mensurar, de forma adequada e comprovada
experimentalmente, um conjunto de comportamentos que se deseja conhecer melhor.
A PSICOLOGIA não é só formada por um conhecimento operacional; cada vez mais as questões
quantitativas constituem uma característica essencial e não periférica da psicologia, uma vez que sem os
métodos quantitativos, não se podem extrair conclusões fidedignas na pesquisa do comportamento
humano. A psicologia, caminhando para ser uma disciplina científica, precisa comunicar de forma precisa
seus resultados de estudos de pesquisas e não há comunicação precisa sem a quantificação do objeto a
ser estudado.
Desde os tempos primitivos nota-se entre os seres humanos a reocupação de fazer observações cada vez
mais acuradas do mundo ao redor. Com a necessidade de estimar a duração dos dias, das noites e a
sucessão das estações, desenvolveram-se instrumentos de aferição do tempo; e assim por diante.
Entretanto, só a partir do século XIX que o ser humano se voltou para si próprio com o mesmo objetivo. Um
TESTE PSICOLÓGICO OBJETIVO é um instrumento de avaliação psicológica que presumivelmente
possibilita uma medição quantitativa de um determinado comportamento, traço de personalidade, função
cognitiva e/ou intelectual. Recebe a designação ―objetivo‖, em decorrência de seu resultado ser obtido de
modo independente do julgamento subjetivo do avaliador.
Mais tarde iniciam-se na Universidade de Leipzig, Alemanha, inicia-se a PSICOFÍSICA, o estudo preciso e
quantitativo de como o julgamento humano se processa. Seus primeiros estudiosos foram Helmholtz (1821-
1894, médico e físico), Weber (1795-1878, médico) e Fechner (1801-1887, matemático, físico e filósofo),
estudando limiares, audição e visão.
Por volta de 1860, há a formulação da Lei de Weber-Fechner, que estabelece a relação entre estímulo e
sensação, permitindo a sua mensuração. A Lei de Weber-Fechner diz que quanto mais intenso um
estímulo maior a diferença necessária para que seja percebida uma diferença entre eles. Essa lei
demonstrou que a lógica e os métodos da ciência poderiam ser usados na medida psicológica,
desenvolvendo métodos psicofísicos de apresentação de estímulos e elicitação de respostas.
Ainda em Leipzig, em 1879 surge o primeiro laboratório de psicologia experimental, fundado por Wundt.
Seu principal objetivo era obter uma descrição generalizada do comportamento humano. Sua maior
contribuição foi valorizar o controle rigoroso das condições de observação, ou seja, de se dispor de
condições padronizadas.
Entre os celebres freqüentadores do seu laboratório experimental podemos destacar Kraepelin (criador do
conceito de Demência Precoce, hoje esquizofrenia); Oswald Kulpe (filósofo e psicólogo); o
psicometrista James McKeen Cattell; Granvillle Stanley Hall e Edward Titchener (fundadores da Associação
Americana de Psicologia); Charles Spearman (que demonstrou a presença de um elemento comum em
todas as habilidades e fatores da inteligência humana, o fator G); entre outros.
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Paralelamente, surge a revolucionária teoria de Charles Darwin (1809-1882, naturalista britânico) a
respeito da evolução das espécies, verificando que as características da espécie humana eram
desenvolvidas ao longo da evolução.
Francis Galton (1822-1911, antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês), era primo de
Darwin e tentou provar que a maioria das características era herdada. Tal como muitos dos pensadores da
época, Galton acreditava que a "raça" humana poderia ser melhorada caso fossem evitados "cruzamentos
indesejáveis". Propôs o desenvolvimento de testes de inteligência para selecionar homens e mulheres
brilhantes, destinados à reprodução seletiva. Foi pioneiro nos métodos de escalas de avaliação e
questionário e também o primeiro a se preocupar a necessidade de padronização dos testes.
O crescimento da estatística também veio a favorecer o desenvolvimento das pesquisas, assim como de
técnicas e instrumentos necessários à sua realização.
Karl Pearson (1857-1936, estatístico britânico), gênio da estatística, deu continuidade aos trabalhos de
Galton e fundamentou muitos dos métodos estatísticos ―clássicos‖ que são de uso comum atualmente
(como coeficiente de correlação, regressão linear, análise fatorial, teste chi-quadrado, entre outros).
James McKeen Cattell (1860-1944, psicólogo americano) foi quem fez uso, pela primeira vez, da
expressão teste mental (mental test), se referindo às provas (10 testes de aplicação individual, baseados
em funções sensoriais e associativas, compostos por tarefas de força física, tempo de reação e
concentração, entre outras) aplicadas anualmente aos alunos dos EUA no sentido de avaliar seu nível
intelectual. Seu trabalho era parecido com os métodos utilizados por Galton. O avanço do trabalho de
Cattell foi significativo no sentido de promover a passagem da ―experimentação‖ (quais os mecanismos e
leis que regem uma função psíquica) para o ―teste‖ (calcular em que medida um sujeito possui uma
determinada função psíquica) propriamente dito.
Após esses primórdios, os testes de popularizaram, sobretudo com a vinda da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), na qual o exército americano desenvolveu uma série de bateria de testes para seleção de
soldados, introduzindo inclusive os testes de aplicação coletiva, uma vez que até o momento os testes só
eram aplicados individualmente.
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Mas, se o Exército não deu muita importância aos resultados de Yerkes, o mesmo não se deu nos campos
político, econômico e social. As análises do testes, tanto quanto as conclusões do estudo, foram feitas por
eugenistas seguidores da doutrina de que a inteligência era inata, o que alimentou ainda mais a ideia de
que o baixo resultado do americano branco era devido à miscigenação descontrolada com os pobre, negros
e débeis mentais da américa. No campo político, a repercussão desse trabalho veio a abalar um dos
grandes alicerces dos estados Unidos: sua democracia. Restringir o número de imigrantes foi uma ótima
solução do ponto de vista eugenista e se configurou como a grande vitória desse grupo.
Muito embora os testes de inteligência tenham sido concebidos para desempenhar uma enorme gama de
funções, com o passar do tempo foi ficando claro que tinha uma série de limitações: não podiam ser
aplicado em qualquer situação, nem a fim de classificar qualquer pessoa e deixavam a desejar quando o
objetivo incluía outras características (que não habilidades verbais, relações abstratas e simbólicas) e
APTIDÕES, disposições, habilidades ou talentos.
Em 1901 Karl Pearson já apontara o caminho para esse tipo de análise, no entanto foram os estudos de
Kelley, Thurstone e Burt que contribuíram para a identificação da análise fatorial. Começando por
estabelecer inter-relações entre os testes de aptidões, Thurstone verificou, mediante o uso da análise
fatorial múltipla, que todos os testes se correlacionavam positivamente, o que indicava um provável fator
comum entre eles. A partir dessa constatação, Thurstone criou o ―teste de aptidões mentais primárias‖, que
consistia em uma bateria onde os testes com maiores validades fatoriais foram reunidos para medirem a
compreensão verbal, a fluência verbal, a memória, a rapidez perceptual, a indução, capacidade numérica e
espacial. Um forte incentivo para a testagem de aptidões foi obtido pela crescente atuação de psicólogos na
seleção e classificação de pessoal no contexto militar. Paralelamente, muitos testes também vinham
sendo desenvolvidos para uso na indústria, principalmente na seleção de pessoal.
Há outra área de testagem psicológica quantitativa que mantém certa distinção em relação aos testes de
inteligência, aptidão e interesses. Essa abordagem procura enfocar os aspectos afetivos (não intelectuais)
da pessoa, sendo frequentemente referidos como testes de PERSONALIDADE. Em sua maioria, os testes
de personalidade são tido como PROJETIVOS, ou seja, esses testes permitem avaliar um dado sujeito, de
acordo com uma linha teórica, a partir da pressuposição de que ele atribuiria a elementos do teste
(manchas ou borrões, por ex.) aspectos subjetivos que, na verdade, estariam presentes em seus impulsos e
sentimentos. Dessa forma, ao dizer que está vendo ―isso‖ ou ―aquilo‖, o indivíduo está descrevendo não a
mancha ―em si‖, mas aspectos de seu próprio mundo interior. Cada linha teórica, cada escola de
pensamento, interpreta os dados de um teste de modo diferente. Ex.: psicodiagnóstico de Rorschach; teste
de Zulliger; teste de apercepção temática (TAT); teste de apercepção temática infantil (CAT); house, tree
and person – HTP; Wartegg.
A palavra teste, tal como usada em português, originou-se do termo em latim testis, que significa
testemunha, e, posteriormente, do inglês test, com o sentido de prova.
A testagem e a avaliação psicológica no Brasil passaram por diversos avanços e dificuldades ao longo de
sua história: um período inicial de grande empolgação e uso indiscriminado, seguido por fase de críticas,
para posterior organização e regulamentação do uso. Pode ser dividida em cinco grandes fases:
• 1836-1930: produção médico-científica acadêmica;
• 1930-1962: estabelecimento e difusão da psicologia no ensino nas universidades;
• 1962-1970: criação dos cursos de graduação em psicologia;
• 1970-1987: implantação dos cursos de pós-graduação;
• 1987-em diante: emergência dos laboratórios de pesquisa e consolidação de vários eventos
científicos em avaliação psicológica em virtude da preocupação de vários grupos de pesquisadores
quanto à produção de instrumentos mais sérios e confiáveis.
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O ano de 1962 foi marcado pela oficialização da psicologia como profissão no Brasil, de acordo com a Lei
nº4.119, de 27 de agosto.
Embora historicamente alvo de questionamentos, embasados principalmente no uso inadequado dos testes
psicológicos, na falta de qualidade dos instrumentos, na baixa qualidade dos laudos e nos diagnósticos
equivocados, atualmente o que se nota é uma retomada da área. Tal retomada deve-se à:
• Criação pelo CFP em 1997, da Câmara Interinstitucional de Avaliação Psicológica, com o objetivo
de fazer um diagnóstico das condições de ensino da área;
• Posterior implantação do sistema de avaliação dos testes psicológicos utilizados no Brasil
(SATEPSI). No período de 2003 a julho de 2010, o CFP recebeu 210 testes para análise. Destes,
114 receberam parecer favorável e possuem condições de uso profissional pelo psicólogo; 77
receberam parecer desfavoráveis, o que significa que não podem ser utilizados profissionalmente
pelo psicólogo; 19 estão em processo de análise.
• Aumento dos trabalhos científicos (CAPES) com ênfase em estudo de validação e precisão de
instrumentos de avaliação psicológicos, com consequente ampliação de profissionais na área que
têm se dedicado a estudar a avaliação psicológica em diferentes contextos e propósitos.
Na história recente da avaliação psicológica no Brasil, o fato que se destaca é a publicação da Resolução
CFP nº002/2003, que institui os critérios mínimos de qualidade para se considerar um teste psicológico apto
para uso profissional.
Além do estabelecimento de 2011 como o Ano da Avaliação Psicológica.
A Resolução CFP nº 002/2003 foi um marco no avanço da qualidade dos instrumentos utilizados na
avaliação psicológica, bem como na construção de políticas comprometidas com o rigor científico e ético.
Como se pode observar, a história da testagem e da avaliação psicológica é muito rica e legitima os
desenvolvimentos atuais e os desenvolvimentos recentes, enquanto área prática de atuação do psicólogo.
Porém ainda há muito o que fazer e é necessário realizar melhorias na área, quer seja sobre a produção
científica, sobre a formação do psicólogo (qualificação), sobre as relações institucionais (inserção da
avaliação nos diversos âmbitos de atuação da Psicologia), quanto na relação entre os dois últimos eixos
(qualificação x relações institucionais).
BIBLIOGRAFIA
AMBIEL, R. A. M, e cols - Avaliação Psicológica: Guia de consulta para estudantes e profissionais de psicologia. São Paulo:
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