Impostos Diferidos

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ID: 98281700 25-03-2022 Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1

SÓNIA LUCAS
Consultora da Ordem dos
Contabilistas Certificados
comunicacao@occ.pt

Impostos diferidos por reporte de créditos tributáveis

E
sta é uma altura do ano em que muitas empresas para Entidades do Setor Não Lucrativo (NCRF-ESNL) rendimento do período - Imposto estimado para o
ultimam os encerramentos contabilísticos somente relevam o imposto corrente. período”, por contrapartida a crédito da conta 241 –
relativos ao exercício anterior e preparam as suas Contudo, a NCRF-PE e a NCRF-ESNL obrigam “EOEP - Imposto sobre o rendimento”, o crédito de
demonstrações financeiras anuais. à adoção integral da NCRF 25, o que implica o imposto deve influenciar (para menos) essa estimativa
Neste contexto, as empresas têm de calcular e reconhecimento de impostos diferidos, quando as de imposto a pagar.
reconhecer a respetiva estimativa de imposto sobre o entidades adotam o modelo de revalorização na Noutro cenário, em que a dedução à coleta atribuída
rendimento. mensuração de ativos fixos tangíveis. no âmbito do CFEI II, SIFIDE ou RFAI não possa
O objetivo das demonstrações financeiras é O quadro seguinte resume o acima exposto: ser integralmente utilizada para reduzir o imposto a
proporcionar informação financeira acerca da pagar do mesmo período em que o benefício fiscal foi
entidade objeto de relato, que seja útil a um vasto NC-ME obtido, reportando esse crédito fiscal não utilizado
leque de utentes na tomada de decisões económicas, NCRF 25 e IAS NCRF-PE e NCRF- para os períodos seguintes, poderá haver lugar ao
(capítulo
nomeadamente atuais e potenciais investidores, 12 ESNL (capítulos 16) reconhecimento de ativos por impostos diferidos.
16)
mutuantes e outros credores. Considerando este último cenário, no período em
Por outro lado, um dos principais objetivos da Imposto corrente - Imposto corrente; - Imposto que for atribuído esse benefício fiscal relativo ao
fiscalidade é a obtenção de receitas tributárias para e diferido. - Imposto corrente e corrente. CFEI II, SIFIDE ou RFAI, pelo reconhecimento do
financiar a despesa pública. diferido se usar modelo ativo por imposto diferido, debita-se a conta 2741 –
Se as regras fiscais coincidissem com as normas de revalorização na “Impostos diferidos - Ativos por impostos diferidos”,
contabilísticas, somente se reconheceriam impostos mensuração de AFT. por contrapartida a crédito da conta 8122 – “Resultado
correntes, que correspondem à quantia a pagar, ou a líquido do período - Imposto sobre o rendimento
recuperar, de impostos sobre o rendimento respeitantes Ativos por impostos diferidos do período - Imposto diferido”, pelo montante não
ao lucro tributável, ou ao prejuízo fiscal, apurados num utilizado (e que se encontre disponível para reporte)
determinado período (numa ótica de caixa). Os ativos por impostos diferidos são as quantias de da dedução à coleta face ao total de benefício obtido,
Porém, visto que são distintos os principais objetivos impostos sobre o rendimento recuperáveis em períodos pressupondo a estimativa de existência de coleta futura
prosseguidos pelas demonstrações financeiras e pela futuros respeitantes a diferenças temporárias dedutíveis, que permita deduzir esse ativo por imposto diferido.
fiscalidade, tal implica que sejam também diferentes as mas também as respeitantes ao reporte de prejuízos Nos períodos de tributação seguintes em que se possa
normas contabilísticas e as regras fiscais, determinando fiscais e de créditos tributáveis não utilizados. deduzir à coleta este crédito fiscal não usado relativo
muitas vezes o reconhecimento de impostos diferidos Os ativos por impostos diferidos devem ser ao CFEI II, SIFIDE ou RFAI, pela reversão do ativo
(numa ótica de acréscimo). reconhecidos para o reporte de prejuízos fiscais não por imposto diferido, debita-se a conta 8122, por
Estas diferenças podem ser permanentes ou usados e créditos tributáveis não usados, mas somente contrapartida a crédito da conta 2741, pela parte (total
temporárias. até ao ponto em que seja provável que lucros tributáveis ou parcial) do crédito fiscal do benefício deduzido à
Os normativos contabilísticos não definem futuros estarão disponíveis contra os quais aqueles coleta nesse período.
expressamente o que são diferenças permanentes, mas possam ser utilizados. Deste modo, no período em que o crédito fiscal for
poderá entender-se como tal as diferenças entre as utilizado, existindo a redução do imposto corrente
normas contabilísticas e as regras fiscais que não têm CFEI II, SIFIDE ou RFAI (diminuição do montante a reconhecer como gasto de
implicações nem são revertíveis em períodos futuros imposto por débito da conta 8121), reverte-se o ativo
(por exemplo, os gastos relativos a dispêndios com Consideram-se créditos tributáveis não usados, por imposto diferido anteriormente reconhecido como
multas, coimas e demais encargos decorrentes da prática nomeadamente, as deduções à coleta de IRC não rendimento de imposto, efetuando-se o débito da conta
de infrações). utilizadas, devido a ausência ou insuficiência de coleta, 8122 (gasto de imposto diferido), com o objetivo de
As diferenças temporárias são diferenças entre a e reportadas para períodos seguintes no âmbito do anular a diminuição do gasto de imposto corrente, para
quantia escriturada de um ativo ou de um passivo no CFEI II, SIFIDE ou RFAI, cujos regimes estabelecem, não duplicar o efeito do rendimento do imposto.
balanço e a sua base tributável, resultando em diferenças respetivamente, a possibilidade de reporte para 5, 8 e 10 Como se constata, o reconhecimento do ativo por
temporárias dedutíveis ou tributáveis na determinação do anos. imposto diferido nos resultados é efetuado no período
lucro tributável em períodos futuros, quando a quantia Em regra, os ativos e passivos por impostos diferidos em que o direito ao crédito fiscal é obtido, atendendo ao
escriturada do respetivo ativo ou do passivo vier a ser devem ser mensurados pelas taxas fiscais que se espera pressuposto do regime do acréscimo, ainda que o mesmo
recuperada ou liquidada (por exemplo, determinados que sejam de aplicar no período em que seja realizado o apenas venha a ser utilizado, por dedução à coleta e
gastos relativos a perdas por imparidade de clientes). ativo ou liquidado o passivo, com base nas taxas fiscais e redução do imposto a pagar, em períodos futuros.
As diferenças permanentes não implicam o leis fiscais que estejam aprovadas à data do balanço (por Salienta-se, porém, que até ao ponto em que não seja
reconhecimento de impostos diferidos. Apenas exemplo, o crédito fiscal dedutível ao lucro tributável, provável que lucros tributáveis estejam disponíveis contra
influenciam a determinação do imposto corrente. nos períodos seguintes, no âmbito da remuneração os quais os prejuízos fiscais não usados ou os créditos
As diferenças temporárias dedutíveis e as diferenças convencional do capital social). tributáveis não usados possam ser utilizados, o ativo por
temporárias tributáveis implicam, respetivamente, Porém, no caso concreto dos benefícios que operam por imposto diferido não deve ser reconhecido.
o reconhecimento de ativos e passivos por impostos dedução à coleta de IRC, como o CFEI II, SIFIDE ou Deduz-se do exposto que as entidades têm de efetuar
diferidos. RFAI, a recuperação do crédito fiscal pode ser integral, juízos de valor para avaliarem estas condições e estimar
Porém, em Portugal, o referencial contabilístico na medida em que não dependem da aplicação de os impostos diferidos, particularmente, os ativos por
adotado pelas entidades influencia o reconhecimento nenhuma taxa de imposto. impostos diferidos, sem prejuízo de poderem existir
contabilístico dos impostos sobre o rendimento. Em termos contabilísticos, quando a dedução à coleta alguns indicadores mais ou menos objetivos.
As entidades que adotam as Normas Contabilísticas e de atribuída no âmbito do CFEI II, SIFIDE ou RFAI De facto, as normas contabilísticas prevêem que o
Relato Financeiro (NCRF) ou as Normas Internacionais puder ser integralmente utilizada para reduzir o uso de estimativas razoáveis é uma parte essencial da
de Contabilidade relevam quer o imposto corrente quer imposto a pagar do mesmo período em que o benefício preparação de demonstrações financeiras e não diminui
o imposto diferido, nos termos da NCRF 25 ou da fiscal foi obtido, esse facto apenas influencia (para a sua fiabilidade.
IAS 12, respetivamente, as quais são substancialmente menos) a determinação do imposto corrente desse Mas estas estimativas, incluindo as que respeitam ao
similares. período. reconhecimento de ativos por impostos diferidos,
As entidades que adotam a Norma Contabilística e de Nestas circunstâncias, no final desse período, devem ser efetuadas pelos gestores com a referida
Relato Financeiro para Pequenas Entidades (NCRF- quando for efetuada a estimativa do imposto sobre razoabilidade, salvaguardando-se sempre a qualidade da
PE), a Norma Contabilística para Microentidades (NC- o rendimento, pelo registo a débito da conta 8121 informação financeira, não devendo constituir, de modo
ME) ou a Norma Contabilística e de Relato Financeiro – “Resultado líquido do período - Imposto sobre o algum, um mecanismo de gestão de resultados.

INFORMAÇÃO ELABORADA PELA ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

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