1 Aula
1 Aula
1 Aula
Considerações Iniciais
A relação jurídica obrigacional não é integrada por qualquer espécie de direito subjetivo.
Então, quais direitos subjetivos integram as relações jurídicas obrigacionais?
Somente aqueles de conteúdo econômico (direitos de crédito), passíveis de circulação
jurídica, poderão participar de relações obrigacionais, o que descarta, de plano, os direitos da
personalidade.
É bom que se diga, nesse ponto, que o direito de crédito, a que corresponde o dever de
prestar, é de natureza essencialmente pessoal, não se confundindo, portanto, com os direitos reais
em geral.
Assim, se dois sujeitos celebram um contrato, por força do qual um dos contraentes passa a
ser credor do outro, deve-se salientar que, em verdade, o contraente credor passou a ser, em virtude
do negócio jurídico, titular de um direito pessoal exercitável contra o devedor, a quem se impõe o
dever de prestar (dar, fazer ou não fazer). Não existe, pois, uma pretensão de natureza real no
crédito formado. O credor não tem poderes de proprietário em relação à coisa ou à atividade objeto
da prestação. Não exerce, pois, poder real sobre a atividade do devedor, nem, muito menos, sobre a
sua pessoa. Trata-se, portanto, de um direito eminentemente pessoal, cuja correlata obrigação (dever
de prestar) é a própria atividade do devedor de dar, fazer ou não fazer.
De tal forma, quando por força de um contrato de prestação de serviços, o sujeito realiza a
atividade contratada, tornando-se credor da quantia de 100, esse direito não traduz um poder real
incidente sobre a quantia em si (100), mas, sim, a pretensão, juridicamente tutelada, de se exigir,
inclusive pela via judicial, o cumprimento da prestação devida pelo devedor.
Vejamos um exemplo:
O direito real é o poder jurídico direto de uma pessoa sobre uma coisa, submetendo-a sobre
o seu domínio, pleno ou limitado. Quando pleno é o direito de propriedade ou limitado em alguns
de seus aspectos como usufruto, servidão, superfície . Para o seu exercício, portanto, não necessita
de outro sujeito.
O direito pessoal ou obrigacional como foi visto é o direito contra outra pessoa.
O direito real possui duas correntes, a realista e a personalista.
Características dos direitos reais que o diferem do direito obrigacional:
a) legalidade
b) taxatividade
c) publicidade
d) eficácia erga omnes
e) aderência
f) sequela
CONSIDERAÇÕES TERMINOLÓGICAS
Obrigação, segundo difundida definição, significa a própria relação jurídica pessoal que
vincula duas pessoas, credor e devedor, em razão da qual uma fica “obrigada” a cumprir uma
prestação patrimonial de interesse da outra.
Nesse sentido é o pensamento de WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO:
“A obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor
e credor, e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou
negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através
de seu patrimônio”.
Em perspectiva mais restrita, por outro lado, a palavra obrigação significaria o próprio dever
de prestação imposto ao devedor. Todavia, não raramente a expressão dever jurídico transcende os
limites do direito, invadindo a esfera da moral (fala-se, nesse caso, em dever ou obrigação religiosa,
sentimental etc.).
Em nosso entendimento, é mais adequado empregarmos a expressão obrigação para
referirmos à própria relação jurídica obrigacional vinculativa do credor e do devedor, sem que se
possa apontar atecnia na adoção da palavra para significar apenas o dever de prestar, por se tratar de
expressão plurissignificativa.
Conceitos correlatos
Não se deve confundir, ainda, obrigação (debitum) e responsabilidade (obligatio), por
somente se configurar esta última quando a prestação pactuada não é adimplida pelo devedor. A
primeira corresponde, em sentido estrito, ao dever do sujeito passivo de satisfazer a prestação
positiva ou negativa em benefício do credor, enquanto a outra se refere à autorização, dada pela lei,
ao credor que não foi satisfeito, de acionar o devedor, alcançando seu patrimônio, que responderá
pela prestação.
Em geral, toda obrigação descumprida permite a responsabilização patrimonial do devedor,
não obstante existam obrigações sem responsabilidade (obrigações naturais — debitum sem
obligatio), como as dívidas de jogo e as pretensões prescritas. Por outro lado, poderá haver
responsabilidade sem obrigação (obligatio sem debitum), a exemplo do que ocorre com o fiador,
que poderá ser responsabilizado pelo inadimplemento de devedor, sem que a obrigação seja sua.
Interessa, ainda, em respeito à técnica, a fixação de dois outros importantes conceitos
correlatos ao de obrigação: o estado de sujeição e o ônus jurídico .
O estado de sujeição consiste na situação da pessoa que tem de suportar, sem que nada possa
fazer, na sua própria esfera jurídica, o poder jurídico conferido a uma outra pessoa. Ao exercício de
um direito potestativo corresponde o estado de sujeição da pessoa, que deverá suportá-lo
resignadamente (ex.: o locador, no contrato por tempo indeterminado, denuncia o negócio jurídico,
resilindo-o, sem que o locatário nada possa fazer). Esse estado de sujeição, por tudo que se disse,
não traduz uma relação jurídica obrigacional, por ser inexistente o dever de prestar.
O ônus jurídico, por sua vez, caracteriza-se pelo comportamento que a pessoa deve observar,
com o propósito de obter um benefício maior. O onerado, pois, suporta um prejuízo em troca de
uma vantagem. É o caso do donatário, beneficiado por uma fazenda, a quem se impõe, por exemplo,
o pagamento de uma pensão mensal vitalícia à tia idosa do doador (doação com encargo). Não se
trata, pois, de um dever de prestar, correlato à satisfação de um crédito, mas, sim, de um encargo
que deve ser cumprido em prol de uma vantagem consideravelmente maior. O ônus não é imposto
por lei, e só se torna exigível se o onerado aceita a estipulação contratual.