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Acórdão Nº 1379238
EMENTA
3. E diante da omissão legislativa acerca dos contratos coletivos por adesão, a orientação emanada da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido da possibilidade da manutenção da
cobertura contratual a consumidor idoso que ostenta a qualidade de beneficiário dependente após o
período de remissão decorrente do falecimento do participante titular, preservadas as condições
anteriormente contratadas, desde que assumindo as obrigações dele decorrentes.
4. Julgado de referência: Polêmica acerca da exclusão de beneficiária idosa de plano de saúde coletivo
por adesão em virtude da morte do titular. (...) Inexistência de norma da ANS sobre o direito de
permanência do dependente em planos "coletivos" após o período de remissão. (...)
Hipervulnerabilidade do consumidor idoso no mercado de planos de saúde. (...) Necessidade de se
assegurar ao dependente idoso o direito de assumir a titularidade do plano de saúde, em respeito aos
princípios da confiança e da dignidade da pessoa humana. (AgInt no REsp 1780206/DF, Rel. Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2020, DJe
24/09/2020).
5. Precedentes do STJ: AgInt no AgInt no AREsp 1781617/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/08/2021, DJe 13/08/2021; AgInt no REsp
1923124/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/04/2021, DJe
22/04/2021; AgInt no AREsp n. 1.428.473/SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 25/6/2019, DJe 28/6/2019.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de apelação interposta pelo JOSÉ EDMAR DE CASTRO CORDEIRO contra sentença
proferida pelo Juízo da 16ª Vara Cível de Brasília, que julgou improcedentes os pedidos formulados na
ação que move em desfavor de SUL AMÉRICA COMPANHIA DE SEGURO SAÚDE, objetivando
sua permanência no plano de saúde coletivo por adesão vigente desde 20/04/2012, o qual fora
contratado por sua esposa, a qual faleceu em 28/12/2017, e no qual o apelante manteve-se como
dependente durante o período de remissão.
Como se vê, os dependentes têm assegurado o direito de permanência. É de se ponderar, todavia, que
assim como ocorre com o titular, cujo direito é assegurado pelo § 1º do artigo, a norma estabelece
prazo mínimo de 6 meses e máximo de 24 meses.
Nada obstante o § 3º do artigo não fazer referência a limitação de prazo, não é lógico que os
dependentes tenham direito que não foi assegurado ao próprio titular do plano. A esse, ao ser
demitido, é conferido prazo máximo de permanência de 24 meses. Intepretação diversa implicaria
conferir aos dependentes manutenção no plano por prazo indeterminado, com extrema vantagem em
relação ao próprio titular do plano.
De modos que, ultrapassado esse prazo, tem a operadora do plano direito de cancelar o plano
oferecido.
Como o autor encontra-se assistido desde o ano de 2017, verifica-se que o prazo legal foi respeitado,
devendo o pedido ser julgado improcedente.
(...)
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial e extingo o processo com resolução de
mérito na forma do art. 487, inciso I, CPC.
Em suas razões, sustentou que a relação entre as partes é consumerista, razão pela qual as cláusulas e
normas devem ser interpretadas de forma mais favorável ao consumidor, nos termos do art. 47 do
Código de Defesa do Consumidor.
Além disso, sustentou que, considerando que vem pagando integral e pontualmente a respectiva
contribuição, a manutenção do contrato de plano de saúde não ocasionaria qualquer dano patrimonial à
operadora apelada, o que autorizaria sua manutenção no plano.
Tentou-se a realização de acordo entre as partes (ID 26048047), restando, todavia, infrutífera (ID
27663340).
É o relatório.
VOTOS
Conforme relatado, trata-se de apelação interposta pelo autor JOSÉ EDMAR DE CASTRO
CORDEIRO contra sentença proferida pelo Juízo da 16ª Vara Cível de Brasília, que julgou
improcedentes os pedidos formulados na ação que move em desfavor de SUL AMÉRICA
COMPANHIA DE SEGURO SAÚDE, objetivando sua permanência no plano de saúde coletivo por
adesão contratado por sua falecida esposa, vigente desde 20/04/2012 e no qual o apelante figurou
como dependente, mantendo-se os mesmos direitos então vigentes e sem precisar cumprir novo
período de carência.
A questão acerca da gratuidade de justiça não surgiu neste grau recursal, tendo sido impugnada na
contestação lançada na origem (ID 25300001), e, por conseguinte, constituído capítulo da sentença
proferida na origem, que julgou improcedente a impugnação suscitada alhures.
Com efeito, diante do provimento jurisdicional desfavorável, incumbia à parte apelar desse capítulo da
sentença para devolver essa questão a este colegiado.
Contudo, tendo a parte quedado inerte, operou-se a preclusão quanto à matéria, impossibilitando a sua
rediscussão por esta instância recursal através de contrarrazões, porquanto consubstancia-se em via
processualmente inadequada para tanto.
Nesse sentido:
Descabido conhecer de pedido de reforma de decisão contido em contrarrazões, visto que formulado
em inobservância à forma adequada, não sedo a petição de resposta a via adequada para
manifestação de inconformismo em face da decisão.
Diante disto, não conheço do pleito relativo à gratuidade de justiça formulado pela apelada nas
contrarrazões de ID 25300495.
2. MÉRITO
Sem preliminares ou prejudiciais de mérito, passo à análise do mérito da apelação de JOSÉ EDMAR
DE CASTRO CORDEIRO.
2.1- HISTÓRICO:
De plano, cumpre assentar premissa fática no sentido de que o plano de saúde em tela fora contratado
pela falecida esposa do apelante, PERPÉTUA LÚCIA NEVES CORDEIRO, e se qualifica como
coletivo por adesão, firmado entre a consumidora e a operadora ré SUL AMÉRICA SEGURO
SAÚDE S.A. por intermédio de convênio da administradora e estipulante QUALICORP
ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS S.A. em parceria com a entidade FECOMERCIO/DF (ID
25299980 e 25299979).
A propósito, inexorável que a relação telada nos autos se qualifica como sendo de consumo, sujeita à
Lei nº 8.078/90, na forma do entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ - no
enunciado nº 608: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde,
salvo os administrados por entidades de autogestão”.
No que concerne à recusa da operadora do plano de saúde verificada na espécie em manter o apelante
como beneficiário após o período de remissão, tem-se que esta se sustenta na compreensão de que isso
implicaria o descumprimento das Resoluções Normativas nº 195 e 196 da Agência Nacional de Saúde
Suplementar – ANS, visto que quem integrava a entidade profissional, classista ou setorial vinculada
ao plano de saúde coletivo por adesão em questão era a esposa falecida.
Após o aludido interregno de remissão, ainda segundo previsão contratual, haverá o cancelamento das
coberturas contratuais. E justamente para evitar o escoamento deste prazo – na hipótese, o termo final
seria o dia 19/01/2021 – o autor propôs a presente ação, postulando sua manutenção do plano de saúde
mediante o pagamento integral das contribuições.
E como salientado, a operadora requerida, ora apelada, alega que o autor apelante não ostentaria
elegibilidade para figurar como beneficiário do plano de saúde depois de encerrado o período
contratual de remissão, porquanto não possui vínculo com a entidade parceira.
Ocorre, igualmente, que, “em se tratando de contratos coletivos por adesão, no entanto, não há
qualquer norma – legal ou administrativa – que regulamente a situação dos dependentes na
hipótese de falecimento do titular”. (REsp 1871326/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2020, DJe 09/09/2020, trecho do voto condutor. Grifo nosso)
Ora, o art. 9º da RN ANS nº 195, elenca as entidades de classe com as quais o titular do plano de
saúde por adesão deve manter vínculo. Porém, é inegável que tal qualidade não é exigida dos
beneficiários, durante a execução do contrato.
Assim, não faz sentido pretender diferenciar o beneficiário do titular do plano de saúde. Com grande
percuciência, Luiz Antônio Rizzatto Nunes leciona que “os dependentes de um contrato familiar ou
coletivo de plano privado de assistência à saúde são, à luz do art. 2º do CDC, tão consumidores
quanto o titular, de modo que àqueles deve ser reservado igual tratamento ao dispensado a este”,
ressaltando ainda “que os dependentes também geram receita, pois, assim como o titular, fazem parte
do preço, sejam cobrados diretamente, sejam embutidos no valor pago por aquele” e concluindo, a
partir dessa premissa, que “não teria cabimento a lei proteger o titular e abandonar seus dependentes
” (NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários à lei de plano e seguro-saúde. 2ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2000. p. 53).
Por outro lado, deve-se ressaltar que a regra que estabelece período de remissão, situado entre 6 (seis)
meses e 24 (vinte e quatro) meses, prevista no art. 30, §1º, da Lei nº 9.656/98, aplica apenas aos
planos coletivos empresariais, diante da expressa ressalva da norma, abaixo transcrita:
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o
desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do contrato
de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas
mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de
trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.
De igual maneira, aparamente inaplicável ao caso a Súmula Normativa nº 13/2010 da ANS, a qual
prevê que “o término da remissão não extingue o contrato de plano familiar, sendo assegurado aos
dependentes já inscritos o direito à manutenção das mesmas condições contratuais, com a assunção
das obrigações decorrentes, para os contratos firmados a qualquer tempo” (grifo nosso).
Em assim sendo, diante da omissão legislativa acerca dos contratos coletivos por adesão, a orientação
emanada da jurisprudência do STJ é no sentido de que nos planos de saúde coletivos por adesão “os
seus dependentes dispõem do direito de continuar no plano de saúde, preservadas as condições
anteriormente contratadas, desde que assumindo as obrigações dele decorrentes" (AgInt no AREsp
n. 1.428.473/SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
25/6/2019, DJe 28/6/2019).
Nesse mesmo sentido, também se manifestou a Terceira Turma daquele sodalício superior:
1. Polêmica acerca da exclusão de beneficiária idosa de plano de saúde coletivo por adesão em
virtude da morte do titular.
2. Nos termos da Súmula Normativa 13/ANS: "o término da remissão não extingue o contrato de
plano familiar, sendo assegurado aos dependentes já inscritos o direito à manutenção das mesmas
condições contratuais, com a assunção das obrigações decorrentes, para os contratos firmados a
qualquer tempo".
Dada a similitude dos casos analisados naquela assentada e na presente hipótese, destaca-se, por
oportuno, excerto das razões de decidir do voto condutor do Acórdão, de relatoria do Min. Paulo de
Tarso Sanseverino:
Entretanto, a dependente do plano já contava com 74 anos de idade na data do término da remissão,
e mais de uma década de contribuição para o plano de saúde.
Essa condição peculiar da ora recorrida justifica que lhe seja assegurado o direito de permanecer no
plano de saúde, assumido a condição de titular. (...)
Essa condição peculiar do idoso torna-o parte hipervulnerável no mercado de planos de saúde, uma
vez que apresenta grau vulnerabilidade bastante superior à do consumidor de planos de saúde em
geral.
Para compensar essa hipervulnerabilidade, a Lei 9.656/1998 (art. 15), secundada pela Resolução
Normativa ANS 195/2009, estatuíram normas de acentuado dirigismo contratual, que estabelecem
uma solidariedade entre gerações, para proteger os usuários de plano de saúde na velhice. (...)
Resulta desse pacto entre gerações que os usuários mais jovens contribuem para o plano de saúde
com um valor proporcionalmente maior do que o correspondente à sinistralidade de sua faixa etária,
para assim permitirem que os idosos contribuam com um valor proporcionalmente menor do que a
respectiva sinistralidade.
Sob esse prisma, constata-se que a exclusão do beneficiário idoso por fato que não lhe é imputável
rompe com esse pacto entre gerações (dentro do universo dos participantes do respectivo plano),
colocando o idoso em situação de extrema desvantagem no mercado de planos de saúde, uma vez que
não poderá usufruir da contribuição da geração posterior (mais jovem, portanto), embora tenha
contribuído para custear a geração anterior (mais idosa).
Assim, para preservar a confiança dos contratantes no que diz respeito a esse pacto entre gerações,
bem como em respeito à dignidade da pessoa idosa, é de rigor assegurar aos dependentes idosos o
direito de assumirem a titularidade do plano de saúde após a morte do titular, ainda que se trate de
plano coletivo por adesão. (grifo nosso)
Com efeito, verifica-se que o acórdão recorrido está em consonância com a jurisprudência do STJ, no
sentido de que, mesmo nos contratos de saúde por adesão, após o óbito do beneficiário titular, seus
dependentes possuem o direito de permanecer no plano de saúde coletivo, mantidas as condições
anteriormente contratadas, assumindo as obrigações dele decorrentes.
(AgInt no AgInt no AREsp 1781617/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 09/08/2021, DJe 13/08/2021) (grifo nosso)
Segundo o entendimento do STJ, ante o falecimento do titular, os seus dependentes dispõem do direito
de continuar no plano de saúde, preservadas as condições anteriormente contratadas, desde que
assumam as obrigações dele decorrentes.
(AgInt no REsp 1923124/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/04/2021, DJe 22/04/2021)
(AgInt no REsp 1861910/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/08/2020, DJe 13/08/2020)
Gize-se que no caso sub judice o apelante é IDOSO atualmente com quase 70 (setenta) anos de idade
(ID 25299976)portador de comorbidades diversas (Hipertensão/Diabetes/Trombose/Uso de
Marcapasso, etc.), consoante documentomédicoanexo(ID 25299983).
2.11-DESTACO MAIS:
Consigno que, inobstante ter a liminar de ID 25299985 sido revogada na oportunidade da prolação da
sentença, a eficácia desta fora suspensa pela decisão havida na no ID 24399958 da PET
0708683-81.2021.8.07.0000 de lavra desta relatoria, pelo que aquela medida liminarmente concedida
resta ora confirmada.
3. DISPOSITIVO
Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao apelo para, confirmando a decisão liminar (ID 25299985),
reformar a sentença e julgar procedentes os pedidos formulados na inicial, CONDENANDO a ré
SUL AMÉRICA SEGURO SAÚDE S/A a manter o autor JOSE EDMAR DE CASTRO
CORDEIRO como beneficiário do plano de saúde anteriormente contratado por sua falecida
esposa, nas mesmas condições daquele contrato, condicionado à assunção da integralidade das
contribuições pelo participante.
Redistribuo os ônus de sucumbência fixados na origem, que serão suportados exclusivamente pela
parte vencida/apelada.
É como voto.