FES I - Aula 22 - Eliminação Do Trabalho Escravo

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A QUESTÃO SERVIL II: A

ELIMINAÇÃO DO TRABALHO
ESCRAVO
Celso Furtado (cap. 24)
Caio Prado Jr (Cap. 18)
Prof. Edivaldo Constantino
ESTRUTURA DA AULA
O problema da mão-de-obra: Eliminação do trabalho escravo

A decadência do trabalho servil e sua abolição


ESCRAVIDÃO, TRÁFICO NEGREIRO E ESCRAVISMO
Estrutura da colonização  Possui estabilidade apesar de suas modificações
históricas

Se perpetua até mesmo após a Independência.

Escravidão: o sujeito não se apropria dos resultados do seu trabalho. É uma


propriedade coisificada. Condição limite de uma mão-de-obra compulsória.
ESCRAVIDÃO, TRÁFICO NEGREIRO E ESCRAVISMO
Fim do comércio de escravos na Inglaterra: 1807
Fim do comércio de escravos no Brasil (Lei Eusébio de Queirós): 1850

Abolição da escravidão nos EUA: 1863


Abolição da escravidão no Brasil: 1888
ESCRAVIDÃO, TRÁFICO NEGREIRO E ESCRAVISMO
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Segunda metade do século XIX: Inadequação da oferta de mão-de-obra

Sistema escravista: Estabilidade estrutural


Abolição do trabalho servil seria uma “hecatombe social”
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Escravo era uma “riqueza”.
 A abolição acarretaria o empobrecimento do setor da população que era responsável pela riqueza
do país.

Outros argumentam que a abolição traria liberação de vultuosos capitais.


 Empresário não precisa imobilizar capital na força de trabalho
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
“A abolição da escravatura, à semelhança de uma “reforma agrária”, não constitui per se em
destruição nem criação de riqueza. Constitui simplesmente uma redistribuição de propriedade
dentro de uma coletividade.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Cap. 24.


O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
A abolição da escravidão teria de acarretar modificações na forma de organização
da produção e no grau de utilização dos fatores.

Argumento: Somente em condições muito especiais a abolição se limitaria a uma


transformação formal dos escravos em assalariados.
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Caso 1: Antilhas inglesas (oferta de trabalho inelástica)
 Abolição  Escravos não tinham como emigrar  Passou a receber um salário monetário fixado pelo
nível de subsistência

Aqui, a redistribuição da riqueza não foi acompanhada de quaisquer modificações


na organização da produção ou na distribuição de renda
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Caso 2: Outro caso extremo (oferta de trabalho elástica)
Escravos libertos iriam abandonar as antigas plantações e dedicar-se à agricultura
de subsistência.

Modificações na organização da produção seriam enormes.


 Redução no grau de utilização dos fatores e rentabilidade do sistema
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO

“Esse caso extremo, entretanto, não poderia concretizar-se, pois os empresários, vendo-se privados da
mão-de-obra, tenderiam a oferecer salários elevados, retendo dessa forma parte dos ex-escravos. A
consequência última seria, portanto, uma redistribuição da renda em favor da mão-de-obra.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Cap. 24.


O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Brasil não apresentou homogeneidade em relação a esses cenários.

Região açucareira  Caso 1


Região cafeeira  Caso 2
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Região Nordestina

 Terras de utilização agrícola mais fácil já estavam ocupadas.


 Escravos libertos que abandonarem os Engenhos teriam dificuldades.
 Regiões urbanas já tinha um excedente de população  problema social
 Regiões do interior  Economia de subsistência de expande, pressionando o semi-árido.
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Barreiras que limitavam a mobilidade dos escravos recém-libertos.
 O que ocorria, era de engenho para engenho.
 Poucos saiam para foram da região.

“(...) sendo pouco provável que esta última (a abolição) haja provocado uma redistribuição de
renda de real significação.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Cap. 24.


O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Transformações técnicas da indústria açucareira
 Capital estrangeiro (inglês)
 Mudanças também no mercado mundial do açúcar
 Produção cubana (com capital norte-americano)

Inovações técnicas + Dificuldades de exportação


 Reduz a procura de mão-de-obra
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Região cafeeira

Consequências da abolição foram diversas

RJ, MG e parte de SP  Agricultura cafeeira com base no trabalho escravo.


 Rápida destruição da fertilidade do solo dessa primeira etapa da expansão cafeeira
 Possibilidade de utilização de terras mais distantes, com o uso de estradas de ferro

Agricultura em situação desfavorável


O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Esperado: com a Abolição, essa mão-de-obra se deslocaria em direção as regiões
em rápida expansão, que pagariam salários maiores.

Tudo indica que na região do café, a abolição provocou efetivamente uma


redistribuição da renda em favor da mão-de-obra.

Começa corrente migratória pra São Paulo.


O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Mas, essa melhora na remuneração real do trabalho parece ter efeitos mais
negativos do que positivos sobre a utilização dos fatores.

Como assim?

Traços da escravidão!
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Homem formado nesse sistema social está desaparelhado para responder aos estímulos
econômicos.

“Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação de riqueza é praticamente
estranha. Demais, seu desenvolvimento mental limita extremamente suas “necessidades”.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Cap. 24.


O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
“Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação de seu
salário acima de suas necessidades – que estão definidas pelo nível de subsistência de um
escravo – determina de imediato uma forte preferência pelo ócio.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Cap. 24.


O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO
Dessa forma, uma das consequências da abolição, nas regiões em rápido desenvolvimento,
foi reduzir-se o grau de utilização da força de trabalho.

Reduzido desenvolvimento mental  Segregação  Retardando sua assimilação e


entorpecendo o desenvolvimento do país  Papel passivo nas transformações econômicas do
país.
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA: ELIMINAÇÃO DO
TRABALHO ESCRAVO

“Observada a abolição de uma perspectiva ampla, comprova-se que a mesma constitui uma
medida de caráter mais político que econômico. A escravidão tinha mais importância como base
de um sistema regional de poder que como forma de organização da produção.”

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. Cap. 24.


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
“É somente depois de suprimida a importação de escravos, e resolvida assim a primeira e
natural etapa do problema escravista, que se ataca o conjunto da questão (escravismo).”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Silêncio sobre a questão na imprensa e no Parlamento. Mas não podemos nos iludir.
 Ausência de manifestações que muitas vezes, significa excesso de preocupação.

Massa de escravos que despertava temor da sociedade brasileira.

“Seja como for, o certo é que a escravidão só entra em debate franco depois que se começa a
reprimir efetivamente o tráfico em 1850, e ele é de fato extinto, como vimos, pouco depois.”
Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18
A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Lavoura sentirá falta de braços.
 O café estava em período de franca expansão.
 O crescimento vegetativo dos escravos era insuficiente.

Desviar escravos para as regiões mais próspera em prejuízo das demais.


 A mão-de-obra do Norte começará a afluir para o Sul, onde se pagava bons preços.
A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Já em 1854 aparece um projeto de Lei que proibia o tráfico interprovincial de
escravos (Barão de Cotegipe)

Sem sucesso.
 Mas institui-se taxas locais à saída dos escravos.
A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO

“A escassez de braços e o desequilíbrio demográfico entre as diferentes regiões do país


acrescentavam-se aos problemas que antes já derivavam dele. Aliás a transferência de escravos do
Norte para o Sul, se prejudicava grandemente aquele, não resolvia senão muito precariamente as
dificuldades do último. Era preciso uma solução mais ampla e radical. Ela será procurada na
imigração europeia.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Corrente migratória já em 1850.
 Coexistem nas lavouras de café, trabalhadores escravos e europeus livres.
 Não dará certo.

Início da indústria manufatureira


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Não se empregará trabalhadores servis.

Ineficientes para serviços complexos


 (Não esqueçamos que o escravo brasileiro era em regra o africano boçal recrutado entre as nações de
mais baixo nível cultural do continente negro.)

Maior vantagem para o pagamento de salários em vez de pagar o preço de um


escravo
A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
“(...) o trabalho escravo (...) é mais oneroso que o assalariado. O escravo corresponde a um capital
fixo cujo ciclo tem a duração da vida de um indivíduo; assim sendo (...) forma um adiantamento a
longo prazo de sobretrabalho eventual a ser produzido; e portanto um empate de capital. O
assalariado, pelo contrário, fornece aquele sobretrabalho sem adiantamento ou risco algum. Nestas
condições, o capitalismo é incompatível com a escravidão.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
O atraso das manufaturas no Brasil é expressamente atribuído ao emprego do
trabalho escravo no país.

A partir de 1860: problema da escravidão era francamente posto em foco.


 Mais antiga manifestação em favor da emancipação dos escravos
 Instituto de Advogados do Rio de Janeiro
A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Mas ainda, sem pedir a abolição total e imediata do regime servil: algo gradual.

D. Pedro II (homem medíocre intelectualmente) levanta discretamente essa questão na


Fala do Trono de 1867. Mas não segue adiante.
A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Guerra do Paraguai
 Pretexto para adiar o debate.

“A pressão se torna particularmente forte ao terminar a guerra do Paraguai. Não somente


desfazia-se o pretexto até então invocado para não tratar do assunto, mas acrescentam-se
então novas circunstâncias em favor da causa libertadora. A guerra pusera em relevo as
debilidades orgânicas de um país em que a massa da população era constituída de escravos.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Imperador D. Pedro II  Lei do Ventre Livre (28 de setembro de 1871).

“A lei de 28 de setembro nada produzirá de concreto, e servirá apenas para atenuar a intensidade
da pressão emancipacionista. Ela estabelecera para os filhos de escravos, até a sua maioridade,
um regime de tutela exercida pelo proprietário dos pais. Ele teria obrigação de sustentá-los, mas
podia utilizar-se de seus serviços. De modo que continuaram escravos de fato, o mesmo que os
pais. Calcula-se que por este processo a escravidão ainda levaria de cinquenta a sessenta anos
para desaparecer no Brasil.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Lei do Ventre Livre representou uma diversão, uma manobra em grande estilo que
bloqueou a evolução do problema da escravidão no Brasil.

Tentou-se importar coolies chineses. Mas não foi bem aceita pela Inglaterra.
A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
Povo começou a participar das agitações.
 Formam-se as sociedades abolicionistas: Sociedade Brasileira contra a Escravidão e a Associação Central
Emancipacionista.

“Pela mesma época alarga-se consideravelmente a agitação pela entrada em cena dos maiores e
mais diretos interessados: os próprios escravos. Até então eles se tinham mantido apenas como
espectadores passivos da luta que se travava em seu benefício; agora se tornam participantes
dela, reagindo contra seu estado por meio de fugas coletivas e abandono em massa das
fazendas.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
“Naquele mesmo ano (1885), é chamado ao governo o grupo político mais intransigentemente
escravista, que sem reservas descobre suas armas contra o abolicionismo. Abandonava-se a
tática de meios brandos e concessões. A luta era agora de vida ou morte.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
“O contragolpe não se faz esperar. Amplia-se a agitação popular, e desta vez é sobretudo
entre os escravos que ela se desencadeia. O abandono das fazendas se torna diuturno; os
abolicionistas, organizados em sociedades e agrupamentos fortemente constituídos e
ramificados em toda parte, estimulam e protegem as fugas. Estava quebrada a disciplina das
senzalas, e as mais enérgicas medidas do governo para restabelecê-las se mostravam
inócuas.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
“Em março de 1888 cai o último governo escravocrata do Brasil; dois meses depois, a
Assembleia Geral, abrindo suas sessões, vota em poucos dias, com uma quase unanimidade,
a lei de 13 de maio que duma penada punha termo à escravidão no Brasil.”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A DECADÊNCIA DO TRABALHO SERVIL E SUA
ABOLIÇÃO
“A lei de 13 de maio de 1888, a Lei Áurea como foi denominada, não continha mais que duas
frases: Artigo 1.°: É declarada extinta a escravidão no Brasil. Artigo 2.°: Revogam-se as
disposições em contrário. Quanta luta, quanto heroísmo também para arrancar estas duas frases
tão simples, mas tão eloqüentes ao mesmo tempo, do reacionário e escravocrata Império
brasileiro!”

Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil. Cap. 18


A QUESTÃO SERVIL II: A
ELIMINAÇÃO DO TRABALHO
ESCRAVO
Celso Furtado (cap. 24)
Caio Prado Jr (Cap. 18)
Prof. Edivaldo Constantino

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