Caderno - Curso de Combate Ao Abuso
Caderno - Curso de Combate Ao Abuso
Caderno - Curso de Combate Ao Abuso
FICHA CATALOGRÁFICA
S493g
52 p.: il.
CDU: 343.541
Campo Grande, MS
2020
SUMÁRIO
ORIENTAÇÕES...................................................................................... 10
INTRODUÇÃO.......................................................................................14
UNIDADE 1.18
O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (Lei 8.069, de 13 de
julho de 1993) ............................................................................................................................................................19
Sistema de garantia de direitos ................................................................................................19
CRIMES COMETIDOS CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE......................20
Configurações da violência ..........................................................................................................20
Formas de abuso sexual ....................................................................................................................21
Configurações do abuso e da violência ..........................................................................22
Formas de exploração ........................................................................................................................23
O IMPACTO DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES .......24
Indicadores na conduta: sinais corporais ou provas materiais ..............26
Provas imateriais: comportamentos ou sentimentos manifestados....26
Uma nação odiável e de odiosos? ..................................................................................................27
UNIDADE 2............................................................................................30
LEI MARIA DA PENHA ....................................................................................................................................32
Formas de violência contra a mulher .................................................................................32
ATOS DE CONFIGURAÇÃO CONTRA A MULHER: ASSÉDIO MORAL,
SEXUAL E ESTUPRO .........................................................................................................................................35
Sobre o assédio moral ........................................................................................................................35
Sobre o assédio sexual ......................................................................................................................35
Características do assédio sexual ...........................................................................................36
Estupro ................................................................................................................................................................36
A cultura do Estupro ............................................................................................................................37
Comportamentos relacionados à cultura do estupro .....................................37
Consequências da violência contra a pessoa ...........................................................39
Enfrentamento à cultura do estupro ..............................................................................39
Relacionamentos abusivos ...........................................................................................................40
Negação da cultura de gêneros ............................................................................................... 41
UNIDADE 3........................................................................................... 44
CONCEITO DE INFRAÇÕES, DELITOS E SANÇÕES ..........................................................45
Referente às crianças e aos adolescentes ...................................................................46
Algumas diretrizes legais da Lei 11.340 .............................................................................46
A respeito das medidas protetivas ......................................................................................47
Programas de atenção para os agressores ..................................................................47
Lei do Minuto seguinte ou Lei 12.845/2013 .................................................................48
Lei do Feminicídio ou Lei 13.104/2015 ................................................................................48
Lei da importunação sexual ou Lei 13.718/2018 .......................................................48
Denúncia: Órgãos de atendimento .....................................................................................49
REFERÊNCIAS.......................................................................................50
WEBGRAFIA..........................................................................................54
ORIENTAÇÕES
Falar de violência não é novidade do mundo moderno, já que tem um processo histórico
de milhares de anos. Contudo, como falar do progresso do ser humano, do mundo, das
tecnologias, matendo-se o processo de violência como sendo natural dentro de uma
sociedade que, por desejo ou vontade, esperamos que seja melhor para todos, seja no
presente ou no futuro? A violência apresentada nesse estudo não é um mero estado
de conflitos entre pessoas por divergências de ideias ou opiniões, mas um estado que
beira a selvageria pela falta de respeito ao direito fundamental de qualquer pessoa, in-
dependente, de sua idade, raça, cor, sexo, crença, nível social, cultural ou escolar, direito
esse caracterizado por apenas uma palavra: dignidade. Se o mundo evoluiu, será que as
pessoas evoluíram com ele? Antes de responder a essa pergunta, analise o seu entorno:
sua rua, seus vizinhos, seus colegas de trabalho, as pessoas que se cruzam nas ruas, sua
casa e, após, enumere as pessoas que se comportam num nível ótimo de relacionamento
com você e as outras pessoas. Tais pessoas que possuem uma excelência em empatia,
afeto e, sobretudo, com nível de autoestima, amor próprio e respeito. Se você conse-
guir encontrar essas pessoas, às apresente para o mundo, pois são raras! Infelizmente!
Provavelmente, você encontrará pais que pouco, ou nada, se importam com seus filhos;
adolescentes que gestam suas vidas porque os pais estão muito ocupados para dar o
mínimo de atenção a eles; casais que não se entendem, mas não se separam; casais que
se separam, mas se matam; etc. Em qualquer nível social a violência se instalou de maneira
assustadora e percebe-se nitidamente que paciência, tolerância, empatia e respeito não
são fundamentais em muitos lugares da sociedade. Assim, percebe-se que comporta-
mentos e atitudes precisam ser adotados para reveter essa situação, de tal modo que
o autoconhecimento, o autocontrole das emoções, a autoestima e a valorização do
ser humano sejam alimentos para a paz e o respeito entre as pessoas. Nesse sentido,
esse programa objetiva sensibilizar você para que entenda, por um lado a gravidade da
situação e, por outro, assuma a liderança de sua paz e a faça refletir para todos que estão
contigo na jornada da vida.
Bom estudo!
10 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
OBJETIVOS DO PROGRAMA DE
SENSIBILIZAÇÃO
Baseado na Lei Estadual nº 4.970 de 30/12/2016, de Mato Grosso do Sul, o objetivo é sen-
sibilizar as pessoas para combater o abuso, a exploração sexual, o assédio sexual e moral
e a cultura do estupro, entendendo os princípios e leis que inscrevem à proteção de
crianças, adolescentes e mulheres e compreendendo que sem wa mudança de atitudes e
comportamentos a violência permanecerá como um processo natural que está na contra
mão de uma sociedade evoluída e melhor para todos.
Conteúdo programático
Introdução – Para começo de conversa!
• Configurações da violência
• Formas de abuso sexual
• Configurações do abuso e da violência
• Formas de exploração
A criança é considerada, perante a lei, incapaz e, por isso, deve ser protegida contra qual-
quer tipo de violência ou abuso e, o adolescente é considerando um capaz menor e deve
ser defendido contra qualquer tipo de violência. Já a mulher é adulta e capaz de julgar o
que é bom ou ruim para si, também como aquele quem estiver com ela. O que significa
que qualquer ato de violação dos próprios direitos entre pessoas adultas não se justifica,
porque a base dessa relação deveria ser o respeito.
fatores. No caso das mulheres, muitas delas são surradas e mortas na presença dos filhos,
geralmente indefesos e impotentes diante dos fatos, também, são violentados.
A sociedade, a qual se destina num sentido mais amplo a defesa e a proteção, também é
negligente, pois permite que crianças façam o trabalho de adultos, muitas delas, se pros-
tituindo para o sustento da casa ou para aquisição de entorpecentes. E quando se trata
das mulheres, a julgam sem a conhecer, as condenam pela aparência e não denunciam os
agressores, porque se a mulher apanha, é porque gosta de apanhar; ou porque merece
apanhar. Essa é a cultura do estupro, porque não dizer, a cultura da violência?
Reflita: Você é da opinião que há justificativas para a violência? O que se passa pela
mente de uma pessoa ao cometer a violência contra outra pessoa, independentemente,
da sua idade?
Nesse segmento, é essencial uma maior atenção das políticas públicas, não só no aten-
dimento da criança e do adolescente violentados, abusados e explorados, mas em ações
de formação humana que agregue valores humanos como prevenção à violência contra
qualquer pessoa. Está provado que a Rede de Proteção precisa se tornar uma rede de
formação – de respeito, de atitudes mais humanas, de autoestima, de amor próprio, etc.
Pensando em tudo isso esse programa foi feito voltado para sensibilizar e, em certa
medida, provocar em você a reflexão sobre a violação dos direitos humanos e os direitos
fundamentais das pessoas como o respeito à dignidade. Ao mesmo tempo, também
sensibilizar você quanto ao seu comportamento diante de outras pessoas e na forma
como você as respeita, as dignifica e as valoriza como seres humanos.
ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL 15
UNIDADE 1
A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DAS
CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES
a. Formas de agressão
• Abandono emocional
• Abandono físico
• Abandono intelectual
• Agressão física
• Agressão verbal
• Assédio moral e psicológico (ameaças)
VOCÊ
?
é comum que o ocorrido seja mantido em segredo. Em
parte, porque as relações de afinidade e consanguinidade
entre crianças/adolescentes abusados e os agressores
SABIA
gera a complacência de outros membros da família;
d. O abusador normalmente tem poder moral, econômico e
disciplinador sobre a vítima;
e. O mais comum é que a prática se repita várias vezes e
dure meses ou anos;
f. Uma das consequências desse tipo de violência é a saída
de crianças e adolescentes de casa para viverem na rua,
pois fogem da agressão física, das ameaças e do abuso
sexual;
g. Há grandes probabilidades de a criança abusada se tornar
um abusador no futuro, pois se a criança não receber
ajuda para elaborar a perversidade ocorrida, ela tende
a repetir essa violência com outras pessoas, ou seja, a
violência vivida torna-se um círculo vicioso.
• Extrafamiliar
Ocorre fora do âmbito familiar e o abusador é, na maioria das vezes, alguém que a criança
conhece e confia, como vizinhos ou amigos da família, educadores, médicos, psicólogos,
padres e pastores, agentes de repartições públicas.
20 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
POTEN
casa, na convivência com as pessoas
que a criança e que o adolescente
mais confia e tem laços afetivos e
emocionais. A violência doméstica
ZANDO
verbais e físicas e, muitas vezes, para
o abuso sexual. Nem sempre os pais
estão atentos ao nível de violência
que praticam, porque geralmente
pensam que certas atitudes
servem para “disciplinar” e, nem
percebem quantas consequências
acarretam esse modo de disciplinar
a criança ou adolescente. Para você
entender um pouco mais sobre isso,
assista ao vídeo a seguir; ele traz
esclarecimentos de forma bastante
objetiva.
Violência
gera
violência
Disponível em:
• Trocas sexuais: é a oferta de sexo para obtenção de outros favores; são eventuais
e realizadas juntamente com outras estratégias de sobrevivência, em que as trocas
sexuais podem ser temporárias;
• Trabalho sexual infanto-juvenil: É a venda de sexo realizada por crianças e adolescentes
sem a participação de intermediários. Entre jovens de camadas populares, jovens de rua
e mesmo da classe média, sendo uma forma de custear o vício em drogas, ter um objeto
da moda ou, pela sobrevivência;
22 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
• Depressão;
• Transtornos de ansiedade, alimentares e dissociativos;
• Enurese;
• Encoprese;
• Hiperatividade e déficit de atenção;
• Transtorno do estresse pós-traumático.
• Conduta hipersexualizada;
• Abuso de substâncias;
• Fugas do lar;
• Furtos;
• Isolamento social;
• Agressividade;
• Mudanças nos padrões de sono e alimentação;
• Comportamentos autodestrutivos, tais como se machucar e tentativas de suicídio.
• Medo;
• Vergonha;
• Culpa;
• Ansiedade;
• Tristeza;
• Raiva;
• Irritabilidade.
POTEN
DESAFIO CAÇA PALAVRAS:
Você gosta de desafios? Nesse
emaranhado de letras estão as
palavras mais importantes dos
CIALI
conteúdos que você estudou até
aqui. Seu desafio é encontra-las em
menor tempo possível. Quais são?
Quantas são? Tempo que precisou
ZANDO
para acha-las? Vamos lá? Dica:
todas as palavras se referem aos
crimes cometidos contra crianças e
adolescentes.
POTEN
crianças e adolescentes? Pare por
um instante e tente imaginar. Agora,
tente também pensar sobre como
a violência pode estar mais perto
CIALI
de você do que imagina. Para você
ficar ainda mais por dentro desse
assunto, veja o vídeo a seguir, no
qual é apresentada a campanha
ZANDO
Maio Laranja. Iniciativa do governo
de Mato Grosso do Sul, que revela
uma parte da triste estatística e,
de certa forma, nos alerta para a
violência que acontece em todo
nosso país.
Campanha
maio
Laranja
Disponível em:
Duração: 1 minuto.
POTEN
para você começar a pensar sobre
isso, em 2017 houveram mais de 60 mil
estupros, mais de 1 mil feminicídios,
os registros de violência doméstica
CIALI
contra a mulher chegaram a 606
casos por dia. Esses dados estão
no anuário de segurança pública
nacional, publicado no início de 2019.
ZANDO
O tempo passou, mas melhorou esta
situação? Na sua opinião os números
diminuíram, ou, aumentaram? Será
que vale a pena uma pesquisa sobre
isso? Afinal, essa violência pode
estar ao lado de sua casa, com seus
vizinhos, na sua rua, no seu trabalho,
ou, na sua família e você nem sabe
disso. Apenas para sua reflexão
assista ao vídeo a seguir.
Violência
doméstica
Disponível em:
Duração: 2 minutos 51
segundos.
30 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
• Dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;
• Estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência
doméstica e familiar. (Art. 1o, 2006);
• Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda,
cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem
violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual
e social. (Art. 2o, 2006);
• Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida,
à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça,
ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária. (Art. 3o, 2006);
• Para tal, o poder público, envolvendo inclusive a família e a sociedade, desenvolverá
políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações
domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, envolvendo inclusive a
família e a sociedade;
• Serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições
peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. (Art. 4o, 2006);
• Em seu Art. 5º, a Lei configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer
ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
• Ato moderado: ameaças, desde que não relativas a abuso sexual e sem uso de armas;
agressões contra animais ou objetos pessoais e violência física na forma de empurrões,
tapas, beliscões, sem uso de quaisquer instrumentos perfurantes, cortantes ou que
gerem contusões;
• Ato severo: agressões físicas com lesões temporárias; ameaças com uso de arma,
agressões físicas com cicatrizes, lesões permanentes, queimaduras e uso de arma.
POTEN
é capaz. Somente com a convivência
no dia a dia você começa a perceber
alguns traços do comportamento
e, em certa medida, procura se
CIALI
moldar às vontades dela como uma
maneira de manter o equilíbrio do
relacionamento, considerando que
são sinceros os sentimentos que ela
ZANDO
demonstra para você. Mas, e se o
que você pensa e sente pela outra
pessoa não tem a ver com nível
de sentimentos da outra pessoa?
Em outras palavras: e se você
estiver vivendo um relacionamento
abusivo? Você tem ideia do que seja
um relacionamento abusivo? Assista
ao vídeo e compreenda ainda mais
essas questões.
Hoje
recebi
flores
Disponível em:
Duração: 1 minuto.
ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL 33
Ao contrário, no assédio sexual, o ofensor visa à satisfação de seus desejos sexuais, im-
pondo represálias no caso de insucesso na investida. Porém, não é incomum encontrar
casos em que o assédio moral se torna uma ponte para o assédio sexual, porque em
ambos permanece a relação de poder do chefe sobre seu subordinado, envolvendo ame-
aças, chantagens profissionais e outras relativas à vida pessoal da vítima. Nesses casos, a
vítima torna-se prisioneira do agressor e o crime pode durar anos. Geralmente, quando
há denúncia, o processo legal é complexo por entender que a relação, devido ao tempo,
tornou-se consensual e ambos tiveram vantagens.
O assediador deseja obter, por chantagem, o que o assediado não quer proporcionar.
Assim, o Código Penal define o assédio sexual, no Art. 216-A, como: “Constranger alguém
com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da
sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função.
Portanto, no assédio sexual, as manobras do ofensor podem ser percebidas pelas pessoas
não envolvidas, enquanto que no caso do assédio moral, as condutas do ofensor podem
passar despercebidas, o que o caracteriza é a reiteração da ofensa sendo que o ofensor
age silenciosamente.
2.3. ESTUPRO
O estupro vitima milhares de mulheres de todas as idades coti-
dianamente no Brasil e no mundo. Suas consequências para as
vítimas são severas e devastadoras: a violência sexual tem sérios
efeitos nas esferas física e mental, a curto e longo prazos.
É mais fácil imaginar que os praticantes desse crime são pessoas mentalmente desequi-
libradas, que já estão marginalizadas pela sociedade e que nem possuem tanta noção
do que estão fazendo; estranhas à vítima e “doentes”. Outro dado importante se refere
à forma de coerção usada contra a vítima. Independentemente da idade da vítima ou da
proximidade que o agressor tinha com ela, o estupro acontece por meio do uso da força
física ou de ameaça em cerca de 70% dos casos, ou seja, há um comportamento comum
nesse crime de abuso que é entendido e compartilhado entre os agressores.
Esses fatos refletem os trabalhos que os mais diversos coletivos de mulheres têm feito
cada vez mais: mostrar onde está a violência que elas sofrem. E como já vimos que as
mulheres são a maioria esmagadora das vítimas de violência sexual, é fácil compreender
que são elas que percebem mais facilmente onde e como sua liberdade sexual está em
jogo.
Segue abaixo uma breve lista de atitudes e comportamentos que colaboram com a
cultura do estupro:
1. Assédio sexual
A mulher é abordada por homens rotineiramente. Isso ocorre nas ruas, no trabalho, na
escola, no transporte público etc. O “fiu-fiu”, o abraço “apertado” do colega de trabalho, o
beijo no rosto forçado pelo cliente, a proximidade “acidental” dos corpos nos transportes
públicos são apenas alguns exemplos. Algumas pessoas, ao se sentirem à vontade para
abordar as mulheres em qualquer espaço e contexto, atentam contra a liberdade sexual
36 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
delas. Afinal, a liberdade reside no poder de escolha e no controle de quando e onde uma
pessoa quer fazer ações de caráter sexual ou afetivo.
2. Desrespeito ao “não”
Há um entendimento nocivo em relação à intenção da mulher quando ela fala “não” para
alguém. Do casamento à ficada, é frequente a mulher precisar se justificar em relação ao
seu “não”. O “não” é bastante interpretado como jogo de sedução, no qual a mulher quer,
mas fala que não quer só para que a outra pessoa insista. Essa “brecha” fere a liberdade
sexual de qualquer pessoa, uma vez que ela já se posicionou dizendo “não” e ainda assim
continua sendo coagida a dizer um “sim”. Um único “não” deve ser necessário e, ao mesmo
tempo, a pessoa precisa entender o “não” como uma liberdade de escolha, e não como
provocação contra o outro. Muitas esposas são violentadas por parceiros embriagados;
apanham porque o parceiro está mal-humorado, sem dinheiro, sem trabalho e, às vezes,
porque são cobrados a tomar decisões ou atitudes.
3. Objetificação da mulher
Você sabia que o estupro é o único crime onde a vítima é julgada junto com o criminoso.
A segurança que todo cidadão sente ao procurar a polícia quando é furtado ou assaltado
não existe para as vítimas de estupro. Ao contrário da maioria dos crimes, nos quais a
vítima precisa apenas informar às autoridades o que sofreu e essas entenderem o seu
relato como algo legítimo, as vítimas de estupro não são legitimadas de início. Muitas
vítimas passam ser suspeitas, principalmente quando o crime já tem certa duração ou,
ainda, quando a relação entre o casal já era conturbada. Em outras situações a vítima é
suspeita de vingar-se do parceiro(a) porque descobriu uma traição, por exemplo. Porém,
numa sociedade machista, a primeira suspeita é sempre a mulher, já que o homem não
esconde seus erros e os justifica sempre. Nesse caso, a culpa é sempre da mulher e nunca
do homem.
Dividir parte da culpa de um crime de violência sexual com a própria vítima é atenuar
a ação do agressor. Os movimentos que pautam discussões sobre a cultura do estupro
querem conscientizar as pessoas de que precisamos, primeiro, gerar incentivos para as
vítimas de violência sexual reportarem esses crimes para as autoridades. Isso não vai
acontecer enquanto elas se sentirem julgadas, questionadas e não amparadas pela so-
ciedade e pelas instituições.
Combater a cultura do estupro implica estarmos atentos a toda e qualquer atitude coti-
diana que agride a liberdade sexual de uma pessoa. As duas palavras-chave que auxiliam
ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL 37
nesse processo são: consenso e respeito. Precisamos respeitar mais enquanto indivíduo,
enquanto ser humano.
O trabalhador moralmente assediado internaliza sua culpa e acredita que tem uma efe-
tiva participação na sua doença. Ao sentir os sinais da doença, a vítima, normalmente,
oculta seu problema com medo de perder o emprego e prefere sofrer sozinho. Mulheres
e homens costumam reagir de formas diferentes. Os danos mais encontrados em vítimas
de assédio são:
rência desse crime. Ao contrário, os números apenas aumentam. Essa constatação faz
questionar, inclusive, a adoção da qualificadora do feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, do
Código Penal) como medida apropriada para combater a violência contra as mulheres.
Percebe-se que essas medidas não enfrentam a violência de gênero em sua origem social:
o machismo – que perpetua a prática hierarquizada do homem no topo e reproduz rela-
ções sociais assimétricas de poder entre homens e mulheres. Todos os dias, por exemplo,
há pelo uma notícia da violência resultando em morte da vítima.
São necessárias medidas e políticas públicas que desconstruam de uma vez por todas
as bases que sustentam essa estrutura chamada de sociedade patriarcal. E isso se faz
combatendo justamente aqueles padrões de comportamento, crenças e costumes que
compõem a cultura do estupro, demostrando que a violência é enraizada e endêmica –
atingindo todas as faixas etárias e classes sociais.
Essa é uma, das muitas histórias, de inúmeros casais – casados, namorados, recém-co-
nhecidos – que todos os dias as mídias mostram. Por que isso acontece com tanta frequ-
ência? De modo geral, os relacionamentos abusivos são compostos por muito controle
e dependência. Enquanto uma das partes assume o controle da relação, o outro se torna
escravo da relação, um vínculo difícil de ser rompido. Geralmente, a pessoa submissa
experimenta sensações de medo, tristeza, isolamento, inferioridade e anulação e vive em
constante ameaça. E, a pessoa que está no controle sente poder, posse, domínio sobre a
outra. Os sinais mais comuns do relacionamento abusivo são:
Se você já viveu (ou está) numa relação abusiva, liberte-se, busque ajuda e se fortaleça. O
que permite uma pessoa ficar numa relação assim é a baixa autoestima, a perda do amor
próprio, falta de afetividade e pode estar muito relacionada a situações que fragilizaram
essa pessoa, como a perda de um ente querido, sentimento de solidão, frustrações pro-
fissionais e financeiras, falta de apoio e afeto familiar, entre outras. Para a outra pessoa
que está ou se sente no poder e domínio da outra, a sugestão é a mesma: busque ajuda
para compreender quais as razões a leva ao desequilíbrio emocional e ao sentimento de
menosprezo e desrespeito por si mesmo.
Na cultura ocidental, pautada pelo saber masculino, esses papéis são pautados em dico-
tomias: os homens seriam dotados de uma natureza ativa, menos sentimentais, dotados
de racionalidade e de instinto sexual desenvolvido e, portanto, suas atividades estão
situadas na esfera pública. Já as mulheres seriam mais bondosas, emotivas e sentimentais,
de sexualidade menos desenvolvida, “naturalmente” passivas e submissas, por isso suas
tarefas estão situadas na esfera privada: ser dona de casa, esposa e mãe.
Contudo, a relação entre o que é ser homem e o que é ser mulher tem acentuado pro-
blemas sociais sérios e neles está situada a violência. Pois, o homem continua se sentindo
no poder e acreditando que as mulheres são seres fracos e submissos, como já foi no
passado. Porém, o mundo moderno apresenta mulheres mais empoderadas e capazes,
não só de trabalhar e sustentar a família, mas de continuar mesmo sendo mãe e esposa,
40 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
realizar atividades que até então eram somente do domínio dos homens. Numa socieda-
de, ainda, predominantemente machista e patriarcal, algumas mulheres se sobressaíram
e dominaram o mercado de trabalho, mostrando suas competências e habilidades, que
estão além de meras reprodutoras de corpos e rostos bonitinhos. E, por isso, é hora de
invalidar estereótipos e negar essa cultura de gêneros que impera a anos. Como você
pode perceber isso?
IDENTIDADE DE GÊNERO
HOMEM MULHER
• Sanção é um termo com dois significados diferentes, podendo significar tanto a punição
pela violação de uma lei (pena), como também o ato de aprovação de algo por vias
formais. Portanto, o termo “sanção” tanto pode ter o sentido de “ação punitiva”,
quanto de “aprovação”. Por exemplo, o ECA e a Lei Maria da Penha foram sancionadas
(aprovadas) pelo presidente da república. Agora, espera-se que elas sejam sancionadas
aos crimes e aos seus criminosos (ação punitiva).
Por outro lado, é preciso que os pais estruturem suas relações com seus filhos, estreitando
os laços com o máximo de respeito, entre ambas as partes.
O diálogo, a sinceridade e a relação de amizade, ajudam para que não haja “verdades
secretas”, quando o abusador estiver dentro da família. Por outro lado, relações confiáveis
entre pais e filhos ajudam a perceber os inimigos e perigos que rondam, quando o abusa-
dor é alguém de fora da família. Os princípios e valores devem ser discutidos, a partir do
momento em que a criança já tem a mínima noção do que é certo e do que é errado. Isso
ajuda para que, quando a criança chegar na adolescência, tenha postura e comportamen-
tos baseados no respeito mútuo e, também, tenha segurança para prevenir-se contra os
criminosos.
A lei prevê que a autoridade judicial deverá decidir o pedido (liminar) no prazo de 48
horas após o pedido da vítima ou do Ministério Público. Pela lei, a violência doméstica
e familiar contra a mulher é configurada como qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial. Diante de um quadro como esse, as medidas protetivas podem ser con-
cedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e da manifestação do
Ministério Público, ainda que o Ministério Público deva ser prontamente comunicado.
A Lei Maria da Penha prevê dois tipos de medidas protetivas de urgência: as que obrigam
o agressor a não praticar determinadas condutas e as medidas que são direcionadas à
mulher e seus filhos, visando protegê-los.
Depois de aplicada a pena que determina a limitação dos finais de semana, a Lei Maria
da Penha autoriza que o juiz determine ao réu o seu comparecimento a programas de
recuperação e reeducação, sendo este obrigatório. Poderá também o juiz determinar
a aplicação de outras medidas ao réu, como “prestação de serviço à comunidade ou a
entidades públicas, além da interdição temporária de direitos e perda de bens e valores
(CP, art. 43, II, IV, V e VI)”.
46 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
REFERÊNCIAS
50 ÉTICA, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOEMPRESARIAL
FUNDAMENTOS LEGAIS
WEBGRAFIA