Flexibilidade Cognitiva
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Flexibilidade Cognitiva
com
I.S.S.N.: 1138-2783
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar a revisão sistemática da literatura sobre a
Flexibilidade Cognitiva enquanto capacidade de inibir uma resposta, mudar de opinião ou
atitude por outra mais adequada. Esta característica do comportamento humano está presente
na teoria da aprendizagem desenvolvida por Spiro e seus colaboradores, mas também nas
funções executivas da neuropsicologia cognitiva. A elaboração de atividades para fóruns de
discussão baseadas nestes princípios pode fornecer a base conceitual para que os professores
possam estimular o enfrentamento de casos ou situações-problema, de modo a promover a
flexibilização do pensamento, a aprendizagem ativa e o protagonismo dos estudantes, baseado
em um conjunto de conhecimentos já aprendidos anteriormente. Utilizamos como fonte de
pesquisa 12 bases de dados, resultando em um total de 224 documentos encontrados, dentre
os quais 56 foram selecionados como pertinentes para o presente estudo, após a aplicação dos
critérios de exclusão. A Flexibilidade Cognitiva foi apontada como uma teoria de aprendizagem
capaz de desenvolver a habilidade de flexibilizar o pensamento e os construtos cognitivos
que promovem o conhecimento dos estudantes, ajudando-os a compreender melhor as
convenções sociais e interferências tecnológicas que conjugam textos verbais e não verbais às
mais variadas expressões matemáticas, gráficas, diagramáticas e esquemáticas, bem como a
apreensão dos caminhos resolutivos de um caso ou situação-problema.
Abstract
This work aims to present a systematic review of the literature on Cognitive Flexibility as
the ability to inhibit a response, change an opinion or attitude by another more appropriate.
This feature of human behavior is present in the learning theory developed by Spiro and
colleagues, as well as in the executive functions cognitive neuropsychology. The activities
prepared for discussion forums based on these principles can provide the conceptual basis for
teachers to stimulate coping cases or problem situations, in order to promote the flexibility of
thinking, active learning and the role of students, based on a body of knowledge already seized
earlier. We used as a source of search 12 databases, resulting in a total of 224 documents
founded, of which 56 were selected as relevant to the present study, after application of the
exclusion criteria. Cognitive Flexibility was appointed as a learning theory able to develop
the ability of flexible thinking and cognitive constructs that promote the knowledge of the
students, helping them to better understand the social conventions and technological
interference that combine verbal and non-verbal texts with various mathematical, graphic,
diagrammatic and schematic expressions, as well as the apprehension of resolute way of a case
or problem situation.
304 RIED. Revista Iberoamericana de Educación a Distancia (2018), 21(1), pp. 303-322.
DOI: http://dx.doi.org/10.5944/ried.21.1.17496 – ISSN: 1138-2783 – E-ISSN: 1390-3306
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Conforme observam Spiro et al. (1992) e Carvalho (2000; 2002; 2008), a Teoria
da Flexibilidade Cognitiva (TFC) não pode ser considerada uma teoria geral, sendo
indicada para aplicação no nível avançado de aquisição do conhecimento. Há três
níveis sequenciais: 1) introdutório, ou de iniciação, no qual os estudantes adquirem
conhecimentos acerca do modo de operacionalização de fórmulas e conceitos humanos
básicos; 2) avançado, no qual os estudantes usam os conhecimentos adquiridos no
nível introdutório para resolver casos ou situações-problema reais ou semelhantes
ao cotidiano: menos estruturados, não uniformes, imprecisos, aparentemente
não coesos e com pouco relacionamento entre os domínios do conhecimento; 3)
especialização, que exige experiência e prática no campo de atuação.
Para Spiro et al. (1987; 1992), uma falha comum no desenho instrucional
das atividades de educação em níveis mais avançados é o modo exageradamente
simplificado e bem estruturado de representação dos domínios do conhecimento,
com o intuito de facilitar o ensino dos conteúdos de aprendizagem, produzindo um
aprendizado de natureza irrealista e contextualmente desconectado da realidade.
Na TFC é importante que o enunciado dos casos ou situações-problema possua
informações suficientes para os estudantes compreenderem a natureza do que deva
ser resolvido em conjunto, preservando lacunas e múltiplas representações dos
conceitos, de modo que percebam ativamente as diferentes formas combinatórias
de representação e aplicação em contextos reais. A apresentação de exemplos
deve considerar perspectivas, dimensões, conexões, irregularidades e domínios do
conhecimento diferentes e variados, visando estimular a transferência e o inter-
relacionamento de informações, bem como a estruturação de esquemas resolutivos.
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Acreditamos que a TFC seja útil para trabalhar conceitos com variáveis múltiplas
de informação e que exijam respostas adaptadas ao contexto ou situação no âmbito dos
fóruns de discussão. Para Lima (2002), o fórum de discussão constitui uma das mais
importantes ferramentas de interação e construção colaborativa do conhecimento
nos AVEA, permitindo compreender a importância do que se sabe como ponto de
partida para a mediação e construção coletiva de novos conhecimentos, por meio
da troca de informações entre os sujeitos da educação (tutores, estudantes e equipe
didático-pedagógica). Estas características estão ilustradas na Figura 2, tendo por
base um modelo baseado na ZDP de Vigotski.
Nesta pesquisa do “estado da arte” não encontramos exemplos relevantes de
aplicação da flexibilidade cognitiva em fóruns de discussão. Assim, formulamos
uma proposta de estudo empírico da TFC para aplicação em um fórum de discussão
do curso Antártica ou Antártida? Como inserir as ciências polares no currículo
escolar, voltado para um grupo de estudantes que também são professores da rede
municipal de São Bernardo do Campo e Santo André, cidades da região do ABC
Paulista. O curso foi estruturado no AVEA Moodle da Universidade Federal do ABC
e teve duração total de dez semanas, iniciando em 26 de setembro de 2016. O fórum
de discussão em análise durou três semanas.
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foi reformulado à luz da TFC: propor um problema para discussão (quem é o pulmão
do mundo: a Amazônia ou a Antártica?); realizar múltiplas representações do
conhecimento, com bases de natureza diferentes (poesias, infográficos, ilustrações,
notícias); apresentar a informação de modo não linear e com lacunas propositais,
para estimular a interação, a pesquisa e a discussão; mediar a construção do
conhecimento.
Realizamos uma pesquisa voluntária e anônima com os estudantes para observar
os resultados. O grupo em que a metodologia proposta foi empregada (Grupo A)
apresentou um número de postagens no fórum superior ao grupo em que ela foi
suprimida (Grupo B). Os estudantes do Grupo A também reconheceram mais
positivamente aspectos como relevância das contribuições, qualidade na interação,
acolhimento, compartilhamento de saberes e a importância dos recursos audiovisuais
na representação do conhecimento. Os resultados estão representados na figura 3.
Enfatizamos que os dados apresentados neste estudo empírico são preliminares
e fazem parte de um projeto maior de pesquisa que não foram o objetivo deste
levantamento da literatura.
Optamos pela revisão sistemática, definida por Broome (2006, apud Botelho
et al., 2011) como um método investigativo específico que resume o passado da
literatura empírica ou teórica para fornecer uma compreensão mais abrangente de
um fenômeno particular.
A primeira ação foi definir a questão central, que precisa estar clara e bem
formulada para nortear o trabalho de pesquisa (Sampaio e Mancini, 2007, p.
85). Assim, elaboramos a seguinte questão: Atividades de ensino e aprendizagem
baseadas em flexibilidade cognitiva podem facilitar a construção do conhecimento
em fóruns de discussão?
A seguir, elaboramos as palavras-chave e os termos relacionados utilizados na
expressão de busca, que aparecem entre parênteses: 1º) atividades de aprendizagem
(learning activities, atividades de ensino e aprendizagem); 2º) flexibilidade
cognitiva (cognitive flexibility); 3º) fórum de discussão (discussion forum). Em
seguida, escrevemos a expressão de busca, reunindo os grupos de descritores entre
parênteses e delimitando pelas aspas aqueles que deviam ser localizados na ordem
sintática determinada.
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As pesquisas de Bernardes (2015), Debiasi (2013), Dias (2014), Zuk et al. (2014),
Paleari (2013), Portowitz et al. (2014), Messina (2015), Toledo (2006) e Zuanetti
(2015) apontam que a Flexibilidade Cognitiva é um componente das FE do Lobo
Frontal e permite ao sujeito adaptar cognitivamente suas perspectivas, formas de
pensamento ou conceitos preestabelecidos em face de mudanças externas, novas
exigências ou transformações. A neuroimagem funcional e a estimulação magnética
transcraniana são exemplificadas como meios de se capturar a flexibilidade de
pensamento ocorrendo no CPF, além de outras áreas do lobo frontal, no momento
de execução de tarefas, o que evidencia o desenvolvimento cognitivo em atividades
baseadas no estímulo das funções executivas. Neste levantamento também
verificamos que certos problemas neuropsicológicos do comportamento, a exemplo
dos transtornos obsessivos, depressivos, compulsivos, de atenção e hiperatividade,
podem afetar a capacidade de alternar o estado mental e flexibilizar o pensamento.
Os pesquisadores Aleixo et al. (2008), Balcytiene (1999), Brito et al. (2006;
2007), Carvalho (2002; 2008), Chieu (2007), Goudouris et al. (2013), Lozada (2013),
Newswander e Newswander (2012), Pessoa e Nogueira (2009), Pires e Leão (2009),
Strobel et al. (2008), Tonietto et al. (2007) e Wu e Puntambekar (2012) apresentam
a TFC como uma teoria construtivista de ensino e aprendizagem desenvolvida
por Spiro e colaboradores na década de 80, voltada para o nível avançado do
conhecimento e direcionadas às situações complexas e pouco estruturadas, já
abordadas anteriormente. Para Chieu (2007), a TFC faclita a apropriação de
conceitos não familiares a partir dos familiares, por meio de analogia e transferência
de domínios do conhecimento. Aponta, ainda, um importante princípio da TFC: a
simplificação ou estruturação exagerada da apresentação de problemas pode levar o
estudante a cometer erros conceituais de generalização e enviesamento quando tenta
aplicar o mesmo esquema resolutivo aos domínios complexos e mal estruturados.
Balcytiene (1999) pondera que a quantidade e variedade de hipertextos educacionais
disponíveis na rede com a capacidade de permitir os múltiplos atravessamentos
conceituais ainda é incompatível com a sua importância.
Araujo (2009) apresenta modelos pedagógicos e estratégias de ensino e
aprendizagem em AVEA que situam o estudante como sujeito ativo na experiência
educacional, abordando como a educação a distância pode tornar-se um ambiente
profícuo de planejamento e uso sociocultural de ferramentas da tecnologia
educacional para propiciar a gestão do conhecimento, bem como aperfeiçoar o
potencial de aprendizagem, a interação e a produção, do ponto de vista do desenho
instrucional. Aponta a Flexibilidade Cognitiva como uma teoria da aprendizagem
construtivista vinculada aos hipertextos, promotora de perspectivas múltiplas, não
lineares, transversais, complexas e interligadas, bem como o termo “atividades
autênticas”, atribuída a Dabbagh e Bannan-Ritland (2005, apud Araujo, 2009), como
tarefas ou atividades de aprendizagem que encorajam os estudantes a explorarem
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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