2006 Dato - PER Na Gestao Da ARIE JK
2006 Dato - PER Na Gestao Da ARIE JK
2006 Dato - PER Na Gestao Da ARIE JK
Brasília
2006
D234c Dato, Jackeline dos Santos
Uma contribuição para a gestão ambiental da ARIE Parque Juscelino
Kubitschek/ Jackeline dos Santos Dato. – 2006.
108 f.: il. ; 30 cm.
2006.
14/03/07
TERMO DE APROVAÇÃO
______________________________________
Ph.D Antônio José Andrade Rocha
______________________________________
Dr. Mário Diniz de Araújo Neto
______________________________________
Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro
Brasília
UCB
À minha família que sempre me incentiva na
busca de caminhos desafiantes e
engrandecedores nesta viagem, que se chama
vida.
Lately, through the population growth and economical activity intensification, within
services, industrial and agriculture/cattle raising areas of the Federal District, a strong
anthropic pressure over natural resources has been verified, putting in risk the sustainable uses
of soil, water, flora and fauna. Taking into account such socio-environmental conflicts, the
political and economical instruments and the legal frame pertaining to the Relevant
Ecological Interest Area Juscelino Kubtischek Park (ARIE Parque JK – DF), this work
investigates in a detailed way presented problems. Towards the proposed goals, the methods
used were based on the legal propositions that a Conservation Unit, of the ARIE type, should
be planned and managed in such way as to keep the natural ecosystems of regional or local
importance, and regulate the admissible uses of these areas, in order to make them compatible
with the aims of nature conservation. The PER methodology (Pressure/state/response),
proposed by the OCDE (1993), permitted to establish indexes creating a logical link between
the various environmental parameters selected to subsidy proposals of integrated environment
management actions for the ARIE Park JK compatible with a Use-Sustainable Conservation
Unit.
RESUMO ..................................................................................................................................vi
ABSTRACT .............................................................................................................................vii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ..........................................................ix
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................xi
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................xiii
LISTA DE ANEXOS ...............................................................................................................xiv
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................15
2. OBJETIVOS DA PESQUISA ..........................................................................................33
2.1 Objetivo Geral ..........................................................................................................33
2.2 Objetivos Específicos ...............................................................................................33
3. MARCO CONCEITUAL .................................................................................................34
4. ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................46
4.1 Localização...............................................................................................................46
4.2 Caracterização ..........................................................................................................47
4.2.1 Meio Físico.......................................................................................................48
4.2.2 Meio Biótico .....................................................................................................54
4.2.2.1 Vegetação .....................................................................................................54
4.2.2.2 Fauna ............................................................................................................57
4.2.2.3 Descrição das Paisagens ...............................................................................58
4.2.3 Meio Sócio-Econômico ....................................................................................60
5. METODOLOGIA.............................................................................................................63
5.1 Pesquisa Bibliográfica ..............................................................................................63
5.2 Pesquisa de Campo...................................................................................................63
5.3 Pesquisa Documental................................................................................................64
5.4 Entrevistas Semi-estruturadas ..................................................................................64
5.5 Metodologia: PER (Pressão-Estado-Resposta) ........................................................65
5.5.1 Seleção e classificação dos indicadores............................................................66
5.5.2 Formulação de escala de avaliação e ponderação dos indicadores ..................69
5.5.3 Construção dos Índices.....................................................................................72
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................75
7. CONCLUSÃO..................................................................................................................98
8. RECOMENDAÇÕES.....................................................................................................102
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................105
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
CO Monóxido de Carbono
DF Distrito Federal
E Estado
GO Goiás
MG Minas Gerais
NR Núcleo Rural
P Pressão
R Resposta
Conservação
UC Unidades de Conservação
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 24: Lançamento de esgoto a céu aberto no ribeirão Taguatinga (Esgoto de Taguatinga e
Ceilândia). ................................................................................................................................80
Figura 25: Raspadores com ponta e mossa, em calcedônia e quartzo hialino do sítio pré-
cerâmico DF - PA 11: Taguatinga. ............................................................................................81
Figura 26: Condomínio Pôr-do-Sol (resultado de parcelamentos irregulares), ao fundo,
instalado em zona de amortecimento........................................................................................82
Figura 27: Processo erosivo avançado dentro do Parque Gatumé............................................82
Figura 28: Barracos e princípio de favelização próximo ao terminal rodoviário de Ceilândia.
..................................................................................................................................................82
Figuras 29: Nascente do Parque Boca da Mata que fica no quintal de chácara instalada dentro
do Parque. .................................................................................................................................84
Figuras 30: Área inundada em solo pouco impermeável em chácara dentro do Parque Boca da
Mata . ........................................................................................................................................84
Figura 31: Cultivo orgânico de morangos na Chácara Geranium dentro da ARIE Parque JK. 88
Figura 32: Área de cultivo misto, fundamentado nos princípios da agrofloresta, localizado na
Chácara Geranium. ...................................................................................................................88
Figura 33: Entulho de obras e lixo residencial despejados ao lado da cerca do Parque Boca da
Mata, com destaque para a placa do GDF. ...............................................................................90
Figura 34: Descarte de resíduos de fábricas madeireiras dentro da área do Parque
Metropolitano, em local próximo à ADE de Ceilândia. ...........................................................90
Figura 35: Lixo residencial amontoado e jogado dentro do Parque Gatumé. ..........................90
Figura 36: Flagra de descarte de entulho de obras de engenharia em área limítrofe a ARIE
Parque JK, no setor P-Sul - Ceilândia. .....................................................................................90
Figura 37: Camada de lodo e algas a jusante do Rio Melchior. ...............................................91
Figura 38: Margem do Ribeirão Taguatinga, sob a ponte que liga o NRT à Ceilândia, durante
as obras de contenção das margens, a fim de evitar maiores desbarrancamentos na época das
chuvas. ......................................................................................................................................93
Figura 39: Pirâmide de integração dos índices.........................................................................94
LISTA DE TABELAS
1. INTRODUÇÃO
verifica-se uma forte pressão antrópica sobre os recursos naturais, colocando em risco o uso
exemplo da Bacia do Rio Descoberto (DF). Nesta Bacia se localiza o maior reservatório de
núcleos urbanos surgidos nos últimos anos. Na área rural, o monitoramento e controle do uso
vocação agrícola da bacia com o abastecimento público de água. Esta afirmação é válida para
GO, apresentou a Carta de Brasília que incluía a proposta de um cinturão verde para abastecer
o DF de frutas e verduras. Para viabilizar tal proposta foram criados Núcleos Rurais, que,
áreas não definidas legalmente como urbanas, que estão localizadas a uma distância igual ou
longo de uma via de comunicação. Dentre eles, destaca-se o Núcleo Rural de Taguatinga
Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, e em 1996, com a criação da ARIE Parque JK, objeto de
estudo deste trabalho, o NRT foi incluído na poligonal desta Unidade de Conservação.
O Núcleo Rural de Taguatinga foi planejado para ser um “estoque” para futuras
ocupações urbanas, não sendo considerado como importante zona de amortecimento com
áreas verdes essenciais para a qualidade de vida da região. Em 1986, objetivando a defesa dos
interesses dos produtores e dos aspectos ambientais, sociais e econômicos da região, foi criada
17
conforme documento elaborado para roteiro de visita de campo à ARIE Parque JK, na:
destinação de Núcleo Rural (NR), redefinindo-a como Área Rural Remanescente (ARR), a
Hoje, a expressão mais evidente da Política Ambiental do Distrito Federal (Lei Distrital
várias UC’s, esta pesquisa tem seu foco na Área de Relevante Interesse Ecológico Parque
Juscelino Kubitschek (ARIE Parque JK), que segundo o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC - Lei 9985, de 18 de julho de 2000) constitui o grupo das Unidades de
Uso Sustentável.
18
a implantação e pavimentação de uma nova via de ligação entre Ceilândia e Samambaia que
atravessa a ARIE Parque JK, proposta pelo Governo do Distrito Federal. A partir da
1996, com o objetivo de preservar o ecossistema local, considerando ainda como finalidades
• O Parque Ecológico Boca da Mata (260,67 ha) - criado pelo Decreto n° 13244, de 07
murundus adjacente, porém, este ainda não está incluso na poligonal da ARIE Parque
JK. A área abrange antiga invasão removida em 1984 e transferida para o Areal e para a
QSF em Taguatinga.
19
Figura 02: Vista aérea na direção SW-NE do Parque Boca da Mata. Ao fundo Taguatinga Sul.
Fonte: Comparques, agosto/2001.
Figura 03: Vista aérea do Parque Boca da Mata com seus campos de murundus. Observar a queimada na parte
superior da figura.
Fonte: Comparques, agosto/2001.
• O Parque Ecológico Três Meninas (66,54 ha) - criado pela Lei n° 576, de 26 de
outubro de 1993, localizado na RA de Samambaia (figuras 4 e 5). Este Parque foi criado
Parque foi instalado na área da antiga chácara Três Meninas, desapropriada em 1992.
• O Parque Vivencial Saburo Onoyama (33,34 ha) - criado pelo Decreto n° 17722, de 01
bem como promover atividades de lazer e cultura para os visitantes. A área pertencia à
família Onoyama que veio para Brasília a convite de Juscelino Kubitscheck para
apesar de ter seus limites conhecidos, o Parque ainda não possui poligonal definida.
Figura 06: Vista aérea do Parque Saburo Onoyama. Na parte superior da figura, a cidade de Samambaia.
Fonte: Comparques, agosto/2001.
Figura 07: Vista parcial da área de lazer do Parque Vivencial Saburo Onoyama.
22
de 2001, localizado na RA de Samambaia (figuras 8 e 9). Este Parque foi criado com o
definida, mas localiza-se entre as quadras 425, 427, 625 e 629 e a 1º Avenida Norte de
Figura 08: Vista parcial do Parque Ecológico Gatumé, mostrando a declividade do terreno. No fundo da
paisagem pode-se ver os tanques da Estação de Tratamento de Esgoto Samambaia.
23
Figura 09: Vista parcial do Parque Ecológico Gatumé e pequena propriedade rural ao fundo.
agosto de 2002, localizado na RA de Taguatinga (figura 10). O Parque foi criado com o
remanescente local, bem como oferecer lazer e cultura à comunidade. A área existe
desde 1989, mas não como Parque e sim como ARIE dos córregos do Cortado e
comunidade local para lazer, o que levou o IEMA a propor sua criação oficial como
Parque por meio do processo nº 191.000.795/97. E, em 2002 o Parque foi criado, mas
Figura 11: Vista aérea na direção W-E do Parque Cortado, com Taguatinga Norte ao fundo, evidenciando a
FACITA e o SESI.
Fonte: COMPARQUES, agosto/2001.
Parque no interior da ARIE Parque JK, junto ao traçado proposto para a futura ligação
25
Ceilândia/Samambaia. O Parque ainda não tem limites determinados e deverá ter sua
Figura 12: Vista parcial de área antropizada no Parque Metropolitano. Ao fundo a RA de Samambaia.
Figura 13: Área do Parque Metropolitano limítrofe com a linha do metrô em Ceilândia.
Por estar localizada entre as três Regiões Administrativas (RA’s) do DF com os maiores
aproximadamente 900 (novecentos) mil habitantes - a ARIE sofre forte pressão antrópica
26
sobre os recursos naturais. A seguir são apresentadas algumas características das RA’s que
A cidade de Taguatinga foi a primeira oficialmente criada com o propósito de por fim
aos aglomerados humanos denominados "invasões" que estavam sendo formados na área
não obedeceu a um estudo antecipado, nem da área e nem das condições de meio ambiente, de
forma que sua área urbana foi edificada sobre nascentes e matas ciliares e de galeria.
Segundo o Censo de 2000, Taguatinga é um dos municípios brasileiros que mais cresceu
na última década. Tal crescimento se deu, inclusive, em áreas limítrofes com a UC objeto
desta pesquisa. No Setor Sul de Taguatinga, nas proximidades do Parque Boca da Mata, existe
contíguo aos limites da ARIE Parque JK, além das residências, estão os Hospitais Anchieta e
Secretaria de Serviços Sociais. No mesmo ano, foi criado um grupo de trabalho que mais
1971, com 17.619 lotes demarcados, o governador Hélio Prates lançava a pedra fundamental
conforme análise do último Plano de Desenvolvimento Local (PDL) desta RA (2000), embora
abrigue a APA do Rio descoberto, a questão ambiental nesta RA ainda não é prioridade, visto
27
teatro);
Figura 15: Vista parcial da ADE (à direita), do Parque Metropolitano (à esquerda) e a RA de Samambaia ao
fundo.
erosão, córregos poluídos e habitações que avançam sobre Áreas de Preservação Permanente
28
local escolhido para Samambaia era ocupado por chácaras que foram desapropriadas ou
incorporadas à cidade. Este é o caso da chácara Três Meninas, que em 1993 se transformou
Samambaia passa a ser denominada Região Administrativa. Com uma população oriunda de
uso”, destinou lotes ainda cobertos pela vegetação, para a construção de moradias.
pesquisa: Três Meninas, Gatumé (incluso na ARIE Parque JK) e o Boca da Mata (proposto
Subcentro Leste (área central urbana) que, no seu primeiro trecho, conflita com a poligonal da
Área de Desenvolvimento Econômico Oeste (ADE) nas quadras 600 ao lado da ARIE
(SEDUH, 2002).
Além das pressões exercidas por ações antrópicas no entorno da ARIE Parque JK, outro
ponto de conflito refere-se à questão fundiária relativa às terras do NRT, onde são
Núcleo Rural em área urbana. Nesse contexto, a APRONTAG vem atuando no sentido de
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), da SEDUH, entre outros,
discussão do PDOT, pleiteiam a mudança da atual destinação da área, como Área Rural
Remanescente para, simplesmente, Área Rural, condição esta que tornaria os arrendatários
Na realidade a Lei 1002/96, que cria a ARIE Parque JK, não vem sendo cumprida, já que
a questão ambiental tem sido preterida. Essa situação gera diversos problemas que trazem
área e entorno.
Meio Ambiente S.S. Ltda, empresa contratada para produzir o Plano de Manejo da ARIE
do Parque Saburo Onoyama tratados de maneira diversa pelo PDOT (como zona urbana
de dinamização) e pelo PDL (como unidades de conservação, mas não Área Rural
Remanescente);
30
• parcelamentos irregulares de solo (chácaras 25, 27, 28 e 105) como os que constam de
processo na 5° Vara de Fazenda Pública de Brasília, que são proibidos pelo artigo 7º,
Conservação;
pontos da ARIE Parque JK, próximo aos Parques Saburo Onoyama e Boca da Mata, nas
• depósito irregular de lixo e entulho de obras próximo ao Setor P. Sul e nos fundos das
população;
1
Art 7º - O Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa) dias, realizará levantamento sobre a situação fundiária
dos atuais ocupantes da área de abrangência deste projeto, com fins de regularização. Par. 3º - Será vedada a
mudança de uso ou o parcelamento das áreas objeto deste artigo. Par. 4º - Será rescindido todo contrato de
arrendamento ou de concessão de uso, para quaisquer atividades dentro da ARIE de que trata esta Lei, que não
cumprir com as finalidades nela previstas, revertendo ao Poder Público a correspondente área de exploração.
31
a seguinte questão:
o arcabouço legal pertinentes à ARIE Parque JK, quais as melhores ações a serem propostas
para uma Gestão Ambiental compatível com uma Unidade de Conservação de Uso
Parque JK, deve ser planejada e gerenciada de forma a manter os ecossistemas naturais de
alcance dos objetivos deste trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas, documentais e
Resposta).
Parque JK” criado para atender o Instrumento Contratual (Contrato 009/2003) estabelecido
entre a NCA Engenharia, Arquitetura e Meio Ambiente S/C Ltda e o DER-DF. Esse
32
entre Ceilândia e Samambaia que atravessa a ARIE Parque JK. A partir da necessidade de se
orientar a avaliação do estado do meio ambiente, desde os fatores que exercem pressão sobre
os recursos naturais, passando pelo estado atual do meio ambiente, até as respostas que são
2005).
33
2. OBJETIVOS DA PESQUISA
Parque JK;
3. MARCO CONCEITUAL
1890, foi criado o Krueger National Park na África do Sul para recuperação da população
animal. Em 1914, a Suiça estabeleceu seu primeiro Parque para fins científicos. Em 1933, foi
Parque brasileiro - Parque Nacional do Itatiaia. E, a partir de 1940 foram surgindo novos
conceitos sobre áreas protegidas e pouco a pouco o conceito original de áreas protegidas
foram evoluindo. Daí surgiu a necessidade da criação de tipos distintos de UC’s conforme as
suas finalidades.
(SNUC), pela Lei 9985, a qual estabelece critérios e normas para a criação, implantação e
básico é a preservação da natureza, admitindo apenas o uso indireto (aquele que não envolve
consumo, coleta, dano ou destruição) dos seus recursos naturais; e Unidades de Uso
do Patrimônio Natural. E, o presente trabalho versa sobre uma Área de Relevante Interesse
Ecológico (ARIE) situada em Brasília (DF), denominada ARIE Parque Juscelino Kubitschek
O SNUC caracteriza a ARIE como uma área, constituída por terras públicas ou
ou local e regular o uso admissível dessas áreas, podendo ainda ser estabelecidas normas
Com o intuito de regular o uso admissível dessas áreas, a Resolução 12/89 do Conselho
Interesse Ecológico, apontando, no art. 1º, que ficam proibidas as atividades que possam por
2
O Decreto nº 89.336, de 31 de janeiro de 1984, que dispõe sobre as Reservas Ecológicas e Áreas de Relevante
Interesse Ecológico, em seu art.2º, § 1º determina que as Áreas de Relevante Interesse Ecológico - ARIE - serão
preferencialmente declaradas quando tiverem extensão inferior a 5.000 ha.
36
Na ARIE Parque JK existe uma multiplicidade de usos e atividades que foram sendo
instaladas ao longo do tempo e que deverão ser avaliadas para que se enquadrem à legislação
da natureza pressupõe uma gestão integrada para esta UC, e segundo o SNUC, em seu
capítulo IV que trata da criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação, o art. 26
determina que:
área da ARIE Parque JK, o qual, apesar de pertencer a uma categoria diferente da UC,
37
encontra-se próximo aos outros Parques já inclusos na poligonal da ARIE, atendendo assim à
A Gestão Ambiental de uma UC deve considerar também seus aspectos relativos aos
conflitos sócio-ambientais. Menegat e Almeida (2004) explicam que tais conflitos são
embates entre grupos sociais em função dos seus distintos modos de inter-relacionamento
ecológico, isto é, com seus respectivos meios social e natural conflitos entre atores sociais que
Ambiental, entendido como o planejamento de uma região que visa integrar informações,
diagnosticar o ambiente, prever ações e normatizar seu uso por meio de uma linha ética de
2004).
Para tanto, quatro esferas são importantes na execução do Planejamento Ambiental: Meio
suas relações sociais locais e globais com o sistema natural (Menegat e Almeida, 2004).
saneamento, saúde, cultura, agricultura, etc.). Esses programas devem ter como premissa as
A Cultura, representada pela educação e informação, deve ajudar a abrir os horizontes dos
cidadãos, no qual a comunidade deve ser chamada a construir, em conjunto com aquele, a
gestão ambiental. Essa participação, um dos pontos mais importantes da Agenda 21, possui a
propriedade de mudar as premissas conceituais das demais esferas, pois as questões locais
passam a ser relevantes para aqueles cidadãos, e promovem uma nova cultura de gestão da
área, pois a sociedade passa a formular e controlar as políticas públicas no cotidiano (Menegat
e Almeida, 2004).
para a Gestão Ambiental com vistas ao desenvolvimento sustentável que, para Sachs (2000) é
aquele que se refere a uma nova concepção de limites e ao reconhecimento das fragilidades
renda, gerando, com isso, a diminuição das atuais diferenças entre os diversos níveis na
uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os
39
adequadas”.
Agenda 21, iniciativa assinada por 179 países. Este documento tornou-se o mais importante
sustentáveis.
O Programa Agenda 21 Brasileira trás ações que vêm ao encontro das idéias de Santos
vividos pela sociedade brasileira só podem ser solucionados pela negociação e pelo
plausível afirmar que o Estado sozinho não possui as condições e as prerrogativas políticas
Assim, Santos (2005) continua explicando que a participação popular e o aumento das
soluções. Somente pela ação coletiva e pela consolidação de espaços públicos, nos quais os
diversos interesses e pontos de vista possam se fazer ouvir e representar, é que os problemas
ambientais pertinentes à ARIE Parque JK, a pesquisadora optou por adotar o modelo Pressão-
A metodologia PER foi utilizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
(Organisation for Economic Co-Operation and Development), Paris, 1993. Este referencial
nível nacional.
PER foi aquele elaborado pelo IBAMA, MMA e a Agência Alemã GTZ com o objetivo de
nacional, setorial ou até mesmo nos níveis de empresa ou comunidade (OECD, 1993;
Unidades de Conservação Federais no Brasil, contratou uma consultoria que teve por base a
sistematização e consolidação das informações ora produzidas pelo IBAMA, ora pela GTZ
inicialmente proposto.
atividades humanas exercem pressões no meio ambiente mudam sua qualidade e a quantidade
de recursos naturais (estado). A sociedade responde a essas mudanças por meio de políticas
feedback) às pressões por meio das atividades humanas, que com elas interagem. Em um
sentido mais amplo, esses passos formam parte de um ciclo (de política) ambiental que inclui
Unidades de Conservação, objeto deste trabalho, pode-se dizer que, enquanto os indicadores
respostas, no caso das ações levadas a efeito pela sociedade, objetivam a melhoria de técnicas
de manejo nas UC’s bem como a adoção de programas e políticas ambientais voltados ao uso
sustentável da mesma.
Os indicadores podem, ainda, ser definidos como uma estatística, que medida ao longo do
A utilização de indicadores tem vindo a ganhar um peso crescente nas metodologias que
têm por objetivo tratar e transmitir a informação de caráter técnico e científico na forma
original ou “bruta”. Tal fato é importante no sentido de tornar os dados técnicos, facilmente
explica que:
43
de uma política ambiental. Tais como: áreas desmatadas, áreas com vegetação nativa,
• Indicadores de respostas sociais: são medidas que mostram em que grau a sociedade
induzidos por ações humanas e para reverter ou parar os danos já provocados. Incluem
A OECD orienta que alguns critérios devem ser levados em consideração quando da
seleção dos indicadores ambientais. Tais critérios de elegibilidade baseiam-se nas práticas de
Assim, no caso desta pesquisa seguiu-se a orientação da OECD relativa aos critérios de
indicadores deve ser apoiada por dados suficientes e concentrados, que cubram mais de
tempo;
• relevância e utilidade: o indicador deve fornecer informação útil, isto é, relevante para
objetivos estabelecidos;
• metas: idealmente um indicador deve ter uma meta, alvo ou limiar com o qual pode ser
comparado, para que os usuários sejam capazes de avaliar o significado dos valores a
eles associados;
• escopo geográfico: o indicador pode ter aplicação nacional ou ser aplicável a questões
metodologia, de que não é tarefa fácil atender a todos esses critérios simultaneamente,
45
portanto a seleção de indicadores deve pautar-se por aspectos relevantes, mais diretamente
orientados à situação que se pretende avaliar. No caso de uma UC, como a ARIE Parque
apresentados para cada indicador de pressão, estado e reposta selecionado. Isto significa uma
situação próxima a ideal, proposta pela OECD quando da seleção de indicadores ambientais a
4. ÁREA DE ESTUDO
4.1 Localização
Parque Juscelino Kubitschek (ARIE Parque JK), criada em 02 de janeiro de 1996 pela Lei nº
Ceilândia (RA IX) e Samambaia (RA XII), conforme ilustrado na figura 17.
hidrográfica do Rio Melchior, pertencente à Bacia do Rio Descoberto, a qual abrange 6 (seis)
Figura 17: Ilustração das regiões do Distrito Federal com a localização da área de estudo e imagem de satélite da
ARIE Parque JK com sua poligonal provisória.
Fonte: Semarh, 2005.
4.2 Caracterização
A ARIE Parque JK possui uma área de 2.481,36 hectares e, cerca de 96% desta área,
sobrepõe-se à APA do Planalto Central. Esta ARIE está, ainda, inserida na Bacia do Ribeirão
Taguatinga que conta com uma área de 7.068,77 hectares (anexo B) que, conforme o PDOT
(1997) engloba áreas urbanas (Zona Urbana de Dinamização), áreas de conservação (Zona de
Conservação Ambiental) e áreas rurais (Zona Rural de Uso Diversificado e Áreas Rurais
Zona Urbana de Dinamização, que possui inúmeras ocupações regulares e irregulares, além
Segundo o Diagnóstico Ambiental (NCA, 2006), para que a ARIE Parque JK atenda aos
e Zoneamento Ambiental para que o mesmo venha a auxiliar o processo de Gestão Ambiental
desta UC, apresentadas nas três seções seguintes, são fundamentais, já que auxiliam na
No Diagnóstico Ambiental elaborado pela empresa NCA (2006), o meio físico da ARIE
de Savana”, caracterizado pela existência de duas estações bem definidas: chuvosa (outubro a
(Codeplan), usa a classificação de acordo com a altitude: tropical e tropical de altitude I (entre
qual apresenta temperatura média inferior a 18ºC no mês mais frio e superior a 22ºC no mês
mais quente. A variação da temperatura tem relação inversa com a umidade relativa do ar.
49
em dezembro.
observada no DF, que segue um padrão típico (duas estações bem definidas) da região Centro-
Oeste e do domínio morfoclimático dos cerrados. Na área em estudo, os valores médios totais
de longo período ficam entre 1400 e 1450 mm, o que em relação ao DF, pode ser considerado
água em um solo permitindo estimar a quantidade de água que foi transferida para atmosfera e
Outro importante dado é aquele referente à poluição do ar, que se dá como resultado da
diretamente a saúde das pessoas. Na área de estudo, não existem indústrias que possam
intensificar a emissão de poluentes no ar. Uma das principais fontes de poluentes é aquela
devasta a flora, desabriga a fauna e expõe os solos. Em contrapartida, as baixas alturas das
edificações da região estudada são um fator favorável que auxilia na dispersão da fumaça e
outros poluentes.
50
há aumento das áreas urbanas. O crescimento demográfico descontrolado, como o que ocorre
típicos de áreas de chácaras, com exceção dos locais onde há parcelamentos urbanos, nos
quais os ruídos são originados dos veículos automotores que transitam nas vias de ligação.
mas acredita-se que não ultrapassará os níveis aceitáveis. Observa-se uma intensificação
Do ponto de vista geológico não há qualquer ponto relevante que justifique menção
latossolo vermelho
Tipos de Solos presentes na ARIE JK (% )
latossolo vermelho-
amarelo
40,58 argissolo vermelho-
amarelo
45 cambissolo háplico
40 28,45
plintossolo háplico
35
30 plintossolo pétrico
25 13,47
gleissolo háplico
20
6,1
15 3,07 3,21
gleissolo melânico
0,77 0,25 1,33
10 2,78 neossolo quartzarênico
5 hidromórfico
0 neossolo flúvico
devendo ser preservados em todas as áreas de ocorrência como, por exemplo, no Parque Boca
da Mata. E, quanto aos aspectos edafológicos, o Diagnóstico Ambiental considera que todas
as classes de solos da área apresentam baixa fertilidade, caráter álico e/ou forte distrofismo.
A delimitação das classes de solos tem dois grandes objetivos: atender às práticas
integração com outras variáveis, como relevo e cobertura vegetal, possibilitam uma avaliação
Quanto aos recursos hídricos, a ARIE Parque JK localiza-se na unidade geográfica do rio
Melchior, pertencente à bacia do Descoberto (anexo E), que compõe a região hidrográfica do
Paraná.
O rio Melchior tem suas cabeceiras nos córregos Taguatinga e Cortado, os quais se unem
péssima qualidade da água do ribeirão Taguatinga devido ao lançamento de boa parte dos
esgotos brutos das cidades de Taguatinga e Ceilândia (figura 19). Segundo informações da
CAESB, mais de 95% dos esgotos gerados dessa área não é tratado, caracterizando essa bacia
Figura 19: Ilustração com a localização dos pontos de lançamento de esgoto e do sistema Melchior.
Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, 2006.
53
corresponde a uma estreita faixa sem ocupação urbana, encravada em três centros urbanos de
urbana causou grande interceptação artificial de água, diminuindo a recarga natural. Assim, a
poligonal da ARIE funciona como importante zona de recarga e exutório dos aqüíferos locais
(anexo L).
implantação da ARIE Parque JK, pois na região ocorrem feições didáticas com relação ao uso,
controle e proteção das águas subterrâneas, como por exemplo, no Parque Três Meninas onde
do Ribeirão Taguatinga.
hidrográfica do ribeirão Taguatinga que abriga esta área foi dividida em três níveis:
dissecação;
• 2º nível (quanto aos traços dos sistemas naturais) - curso superior, médio e inferior;
• 3º nível (de acordo coma relação da forma de relevo e sua dinâmica ambiental) - topos
côncavas e de colúvio, zona dissecada superior, zona dissecada média, zona dissecada
índices de fragilidade ambiental, tais como a dominância de materiais arenosos, porções com
relevo de declividade relativamente elevada, baixa profundidade efetiva dos solos e zonas de
fatores de fragilidade ambiental, observados na ARIE Parque JK, são as zonas de saturação
declividade, como a que ocorre, por exemplo, nas vertentes da margem direita do ribeirão
Taguatinga.
4.2.2.1 Vegetação
Segundo o Diagnóstico Ambiental (NCA, 2006), a ARIE Parque JK, objeto de estudo,
localiza-se no Bioma Cerrado, que cobre aproximadamente 23% da área do Brasil, sendo o
segundo maior bioma em tamanho e em diversidade biológica. Tal bioma é composto por um
mosaico de tipos vegetais que engloba formações Florestais (Matas de Galeria), Savânicas
(Cerrado Sentido Restrito) e Campestres (Campo Sujo, Campo Limpo e Campo com
vegetação foram:
(Astronium fraxinifolium);
brasiliense);
• Campo: ocupa 5,74% da área total e se subdivide em campo limpo e sujo seco. Alguns
• Campo úmido: considerado como classe especifica, ocorre nas bordas de matas de
charteace Triana);
alimentícias, bem como uso de áreas para pastagem, ocupando 2,61% da ARIE. Alguns
56
(Vernonia spp.);
• Áreas Urbanas Consolidadas: ocupa 0,37% da área dentro dos limites da ARIE Parque
JK com edificações sólidas e com vias asfaltadas, que apesar de irregulares foram
de Taguatinga;
• Áreas Urbanas Não Consolidadas: ocupam 3,17% da ARIE e são áreas com
Cerrado Sentido
57,97 Restrito
60 Campo
50 Campo úmido
Vegetação
40 Antropizada
Uso Agropecuário
30
Plantios Florestais/
Frutíferas
20 13,06
15,03
Áreas Urbanas
Consolidadas
5,74 Áreas Urbanas Não
10 2,61 3,17
Consolidadas
0,34 1,49 0,37 0,22
Corpos d’ Água
0
A análise florística das espécies amostradas na ARIE Parque JK, presentes no diagnóstico
ambiental, encontrou 397 espécies, 234 gêneros e 89 famílias, cuja riqueza florística e
perdiz.
4.2.2.2 Fauna
à sobrevivência de espécies. No período de 1993 a 2003 não foi encontrada nenhuma espécie
58
ao longo do ribeirão Taguatinga, sendo que nos seus formadores (Córregos Taguatinga e
Cortado) foram encontradas somente duas espécies exóticas, demonstrando o alto grau de
degradação dos corpos hídricos ao longo de toda a ARIE Parque JK. Todavia, moradores da
da vegetação nativa por espécies exóticas, principalmente por gramíneas como a brachiária e
das formações florestais por campestres. Inicialmente esses impactos foram causados por
atividades agrícolas e de pecuária (ocupação por chácaras), sendo nos últimos anos
causas naturais (ventos, chuvas, raios, fogo) ou por causas antrópicas (agricultura, pecuária,
ocorrem me curta escala de tempo. A combinação desses processos resulta em uma paisagem
terrestre, composta por diferentes formas de relevo, vegetação e usos do solo, organizados em
adensamento populacional do Distrito Federal. Sua biota tem sofrido constantes mudanças
59
provocadas pelo aumento das atividades humanas (poluição por deposição incorreta de lixo e
entulho, uso de áreas para pastagem e cultivo de plantas ornamentais exóticas e outras) e,
segundo Meffe (1994) a área altamente antropizada tem grande responsabilidade nas rápidas
têm sido respeitadas. Nas áreas rurais remanescentes, as reservas legais não estão instaladas e,
muitas chácaras têm subdividido seus lotes e vendido a terceiros. Essas áreas são
fundamentais para a proteção da qualidade das águas, controle de erosões, proteção dos
para irrigação e consumo animal. Outro fator promotor da degradação ambiental na ARIE
Diante de tais fatos, o diagnóstico ambiental (NCA, 2006) elaborado para a ARIE Parque
JK informa que as áreas naturais em 1953 ocupavam 76,91% da área total, e em 2003
diminuíram para 33,72%, ou seja, houve uma perda de 1.074,08 ha. Já as áreas de uso
antrópico (pastagem, áreas com cultivo, vias asfaltadas e solos expostos) aumentaram quase
Por outro lado, embora a ARIE apresente um elevado nível de degradação, o Diagnóstico
indicativo de que a área ainda abriga riqueza florística e diversidade biológica que refletem
uma condição que ocorria no passado, e que são importantes para a manutenção de diversos
processos ecológicos.
Oeste e o Rio Preto, a Leste. Ao Norte e ao Sul é limitado por linhas retas. Limita-se ao Norte
com os municípios de Planaltina, Padre Bernardo e Formosa, ao Sul com Luziânia, Cristalina,
Santo Antônio do Descoberto e Cidade Ocidental, todos do estado de Goiás, a Leste com o
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), a qual foi criada pela Lei
de agosto de 1999, alterado pelo Decreto n° 3.445, de 4 de maio de 2000. A RIDE tem grande
Samambaia.
61
e Samambaia
merecem destaque.
Das vinte e oito RA’s, oficiais e não-oficiais existentes no DF, estas três, quando somadas
densidade demográfica na área do entorno da ARIE Parque JK produz forte pressão antrópica
sobre os recursos naturais que, somado aos diversos usos do solo geram conflitos sócio-
estabelecimentos de outras RA’s, pode-se perceber que o grau de instrução das pessoas ainda é
5. METODOLOGIA
Para atingir os objetivos propostos, a investigação percorreu alguns passos sugeridos por
Barros & Lehfeld (1986) tais como as pesquisas bibliográficas, de campo e documentais e
entrevistas semi-estruturadas. Além desses métodos foi utilizada uma metodologia criada
pela OECD (Organisation for Economic Co-Operation and Development, Paris, 1993), a
Brasília, do Senado Federal e da Câmara Federal, mas também em sites de Internet. Tal
pesquisa buscou informações sobre as questões ambientais pertinentes à área de estudo, com o
públicas sobre o Plano Diretor Local, Plano Diretor do Ordenamento Territorial e Plano de
dos Produtores do Núcleo Rural de Taguatinga), com o intuito de acompanhar a evolução dos
Foi feito levantamento e análise da legislação federal, distrital e outras que tivessem
relação com temas desta pesquisa, a fim de que auxiliassem no entendimento da situação legal
que envolve a ARIE Parque JK, bem como para servir de argumento na parte de discussão
final do trabalho.
Para tanto foram consultados: o Plano de Manejo da ARIE Parque JK (2006), 35 (trinta e
estudo da pesquisa, bem como o estabelecimento de contatos informais com pessoas direta e
estruturadas com representantes de alguns Órgãos, nas quais a pesquisadora propôs o tema
ARIE Parque JK e deixou os entrevistados falarem livremente acerca deste, o que resultou
65
numa situação em que foi possível, por meio da conversação, obter dados para a análise
nenhum deputado que tivesse projetos para a ARIE; a Semarh informou não haver nenhuma
ação específica relativa à ARIE Parque JK sendo desenvolvida por eles; a Comparques
Taguatinga, onde se localiza a ARIE Parque JK; e o IPHAN esclareceu que a ARIE está no
cadastro deles e possui um Termo de Ajuste de Conduta com este órgão por causa dos sítios
arqueológicos lá existentes e que seus representantes participaram das reuniões públicas que
No intuito de construir um modelo que auxiliasse a análise dos dados obtidos nesta
a saber:
pressão, estado ou resposta, ocorrendo alguns casos em que um mesmo indicador foi
selecionado para duas categorias simultaneamente, como foi o caso do indicador ”Utilização
de poços ou nascentes para abastecimento humano”, que foi usado como indicador de pressão
e estado.
66
pesquisadora. Após foi elaborada a escala de avaliação para cada ponderação em cada
Em seguida, foi feito enquadramento dos índices para cada categoria, segundo escala
criada pela pesquisadora. Utilizando a planilha eletrônica Excel, foram construídos os índices
produzido pela NCA (2006), da RIDE (2003) e do PPA (2004-2007), documentos que
possuem informações com alto grau de detalhamento, permitindo uma avaliação mais
completa da situação geral da ARIE Parque JK, sob os mais variados aspectos físicos,
possíveis, e foram classificados nas categorias pressão (16), estado (8) e resposta (15) e são
dentro da ARIE Parque JK e no entorno, bem como aspectos biofísicos relevantes que
Outro aspecto importante que foi elencado para ser avaliado foi a representatividade do
tráfego de veículos que existe entre Ceilândia e Samambaia e a possível construção de uma
via de ligação entre estas, que atravessaria esta UC. Inclusive, este é o principal fator gerador
Indicadores de pressão
1. População da área do entorno (Ceilândia, Taguatinga e Samambaia) em relação à populaçao
total do DF
2. Área urbana consolidada dentro da ARIE Parque JK
5. Esgoto lançado a céu aberto por Taguatinga e Ceilândia no ribeirão Taguatinga
4. Tráfego de veículos entre Ceilândia e Samambaia por motivo de trabalho e/ou estudo
3. Chácaras com parcelamento (total ou parcial) irregular do terreno
6. Área com vegetação antropizada (plantios florestais exóticos e uso agropecuário)
7. Atividades industriais altamente poluidoras realizadas no entorno da ARIE Parque JK
(fábrica de produtos químicos, plásticos, bebidas, etc)
8. Atividades comerciais altamente poluidoras realizadas no entorno da ARIE Parque JK
(manutenção veículos, comércio em geral)
9. Sítios arqueológicos cujo patrimônio cultural é praticamente inexistente (segundo Estudo
Prévio de Impacto Ambiental, 1993)
10. Área urbana não-consolidada dentro da ARIE Parque JK
11. Área ocupada por chácaras
12. Domicílios da área do entorno (Ceilândia, Taguatinga e Samambaia) em relação ao total
de domicílios do DF
13. População da área do entorno (Ceilândia/Samambaia/Taguatinga) que utiliza água de
poços ou nascentes
14. População da área do entorno (Ceilândia/Samambaia/Taguatinga) que utiliza fossa negra
15. Área com erosão laminar
16. População da área do entorno (Ceilândia/Samambaia/Taguatinga) que utiliza fossa séptica
Quanto aos indicadores de estado (Tabela 3), foram selecionados 8 (oito). Uma UC tem
como principal função a proteção da biodiversidade e, no caso da ARIE Parque JK, esta
função deve ser exercida levando-se em conta sua categoria de UC de uso sustentável.
68
Portanto, a seleção dos indicadores objetivou retratar o estado geral (meios físico e biótico) da
ARIE Parque JK, de maneira a demonstrar os efeitos das ações humanas sobre o meio
Indicadores de Estado
1. Área com vegetação antropizada (plantios florestais exóticos e uso agropecuário)
2. Chácaras que não praticam agricultura orgânica
3. Qualidade da água do sistema Taguatinga/Melchior enquadrada na classe 4 (conforme
resolução nº 357/05 -CONAMA)
4. Área ocupada por chácaras
5. Aumento da área com vegetação antropizada (período 1953-2003)
6. Utilização de poços ou nascentes para abastecimento humano
7. Utilização de fossa séptica ou rudimentar
8. Área de corpos d'água superficiais (pequenas represas e tanques de peixes)
medidas de melhoria na gestão dessas UC’s. Tais indicadores receberam maior atenção nesta
pesquisa, pois a mesma destina-se a contribuir com futuras ações de gestão para a ARIE
Parque JK.
Indicadores de Resposta
1. Área regularizada da ARIE Parque JK
2. Parques inclusos na ARIE que possuem poligonal definida
3. Chácaras certificadas pela Associação de Agricultura Ecológica do DF
4. Relação entre recursos orçados e aplicados na ARIE Parque JK segundo PPA 2004-2007
5. Moradores locais que acham que o Parque Boca da Mata deva ser incluído na poligonal da
ARIE Parque JK
6. Chácaras com parcelamento (total ou parcial) irregular do terreno dos quais constam
processos na 5º Vara de Fazenda Pública
7. População do entorno atendida por sistema de abastecimento de água
8. População do entorno atendida por sistema de esgotamento sanitário
9. Lixo recolhido na área do entorno (Taguatinga, Ceilândia e Samambaia) e encaminhado ao
Aterro Controlado ou à Usina de Tratamento
10. Remoção de matéria orgânica e sólidos em suspensão nos efluentes tratados na ETE
Melchior
11. Lotes regulares vistoriados que apresentam reserva legal de 20%
12. Área de campo cerrado de origem antrópica
13. Área total da ARIE Parque JK em relação à área total do DF
14. Moradores locais que acham que a principal finalidade desta ARIE deva ser a preservação
ambiental
15. Área da ARIE Parque JK inserida na APA Planalto Central
Esta metodologia desenvolvida permite ser aplicada em variadas situações, nas quais os
indicadores e ponderações podem ter diferentes valores, conforme sua importância atribuída
A pesquisadora formulou uma escala de avaliação (Tabela 5), para cada valor de
Indicadores
Pesos Pressão sobre os Estado ambiental Resposta às pressões
recursos naturais quanto à degradação exercidas sobre o
dos recursos naturais ambiente
1 Muito fraca Razoável Indiferente
2 Fraca Moderado Razoável
3 Moderada Ruim Boa
4 Forte Muito ruim Muito boa
5 Muito forte Crítico Excelente
(Tabela 6), estado (Tabela 7) e resposta (Tabela 8), levando em consideração as possíveis
ações prioritárias na formulação de uma proposta de gestão para a ARIE Parque JK.
3
água de poços ou nascentes
2. População da área do entorno (Ceilândia/Samambaia/Taguatinga) que utiliza
fossa negra
estado e resposta) permitiram a construção de índices que refletiram a situação geral em que
alguns critérios de enquadramento para os índices encontrados como resultados finais para
(Tabela 9) foram criados com a finalidade de servirem como parâmetros, quando da discussão
ÍNDICES
INDICADORES 0 a 0,20 0,21 a 0,50 0,51 a 0,80 0,81 a 1,0
Baixa pressão Pressão Alta pressão Altíssima
sobre os moderada sobre sobre os pressão sobre
PRESSÃO
recursos os recursos recursos os recursos
naturais naturais naturais naturais
Estado Estado
Estado
ambiental com Estado ambiental de
ESTADO ambiental bem
degradação ambiental ruim péssima
preservado
moderada qualidade
Resposta Resposta
Resposta nula Resposta com
RESPOSTA moderadamente altamente
ou pouco eficaz boa eficácia
eficaz eficaz
resultado para cada categoria de indicador. Porém, sabe-se da necessidade de outros dados que
construir os índices com auxílio do aplicativo de planilha eletrônica Microsoft Excel, dados
pelo somatório dos produtos dos valores dos indicadores por sua ponderação, expressos
j= 1 j=1
onde: I = Índice
i= valor do indicador
j= identificação do indicador, onde: 1 ≤ n ≤ número máximo de indicadores
P= ponderação (escala de valores)
Após conhecidos os valores de cada índice (pressão, estado e resposta) foi feito um
cruzamento destes resultados, com o intuito de estabelecer a relação entre o que seria uma
situação ideal e a situação real encontrada para o caso ARIE Parque JK.
75
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
pressão moderada exposto nesta tabela é representado por índices que vão de 0,21 a 0,50.
Assim pode-se acrescentar que o resultado 0,40 encontrado para o caso ARIE Parque JK, seria
índice final de pressão, há quatro que merecem destaque: população da área do entorno da
ARIE em relação à população total do DF; tráfego de veículos entre Ceilândia e Samambaia,
taxa de esgoto lançado a céu aberto no ribeirão Taguatinga e sítios arqueológicos cujo
(Taguatinga, Ceilândia e Samambaia) que a circundam. Esta população ocupa 36,25% dos
econômica para estas RA’s, como por exemplo, a implantação de ADE’s (Áreas de
pelo Ex-Governador Joaquim Roriz, representam um fator de alto risco para a manutenção da
Figura 21: Setor de oficinas de Taguatinga Sul. Figura 22: Fábrica de embutidos no interior da ARIE,
Fonte: Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, chácara 86.
2006. Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, 2006.
criação de uma área urbana denominada Complexo Boca da Mata do Subcentro Leste (figura
social e cultural no núcleo urbano e na região. Verifica-se, porém, que tal fato é incompatível
Figura 23: Fábrica da Coca-Cola, na área de Subcentro Leste, adjacente à área do Parque Boca da Mata.
trabalho e/ou estudo” é um dado muito importante, já que foi o fato gerador da elaboração do
Plano de Manejo (2006) para a ARIE, do qual consta a avaliação da viabilidade da construção
de uma via de ligação (anexo H) entre estas duas RA’s, atravessando a ARIE Parque JK, de
maneira a completar um suposto anel viário (anexo I). Este indicador foi selecionado pela
mostrou que o fluxo de veículos entre Ceilândia e Samambaia representa 42% do tráfego total
local. Assim, a construção da via seria uma boa estratégia de otimização do trânsito local,
Assim, a construção da via é uma boa solução do ponto de vista urbanístico, mas não do
localizado na área prevista para a construção da via. São necessárias políticas públicas
79
voltadas ao controle de crescimento populacional da área para que a ARIE Parque JK não
Outro fator importante a ser observado é que todo crescimento demográfico demanda
áreas verdes, ou perda de biodiversidade local. Assim, toda forma de desenvolvimento deve
pautar-se pela sustentabilidade local, na qual se deve buscar a harmonia entre este
gerações seguintes que estarão se utilizando daquela mesma área e seus recursos naturais
disponíveis.
esgotos local foi suplantada, e muito, no atendimento da população dessas duas RA’s, pois
95% do esgoto é lançado a céu aberto no ribeirão Taguatinga (figura 24), segundo dados da
Caesb, poluindo este corpo d’água que atravessa toda a ARIE Parque JK, contribuinte da
Bacia do Descoberto, que por sua vez contribui com a Bacia do Corumbá, a qual abastecerá
Figura 24: Lançamento de esgoto a céu aberto no ribeirão Taguatinga (Esgoto de Taguatinga e Ceilândia).
Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, 2006.
Parque JK, segundo o Plano de Manejo (2006), deve-se a intensa atividade antrópica de
Taguatinga, Ceilândia e Samambaia gerada pela desordenada ocupação dessas regiões, que
pastagens no fundo de vales, foram responsáveis pela quase total destruição dos sítios, dentre
máxima 11.000 anos. Atualmente, este é um sítio arqueológico de valor cultural inestimável e
deve ser protegido de maneira a preservar seus artefatos líticos que ainda restam (figura 25).
81
Figura 25: Raspadores com ponta e mossa, em calcedônia e quartzo hialino do sítio pré-cerâmico DF - PA 11:
Taguatinga.
Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, 2006.
especulação imobiliária local, onde são feitos parcelamentos caracterizados por pequenas
• 87, 86-B, 87-B, 88, 89, 90, 91, 95-A (área próxima à Ceilândia/ P-Sul);
• 100, 101, 102, 103, 106, 106-A, 107, 108, 109, 110 e 111 (área próxima à Ceilândia/
Condomínio Pôr-do-Sol (figura 26), em área com erosão laminar (representando 3,23% da
Figura 26: Condomínio Pôr-do-Sol (resultado de Figura 27: Processo erosivo avançado dentro do
parcelamentos irregulares), ao fundo, instalado em Parque Gatumé.
zona de amortecimento.
porque foi considerado importante na avaliação da pressão das atividades humanas sobre a
UC, pois refere-se a áreas com vias asfaltadas e possuidoras de edificações. Felizmente, esta
área é muito pequena, representa apenas 0,37% da área total da ARIE, ou seja, é um tipo de
apesar de ser uma área um pouco maior, 3,17% da área total, oferece menor pressão sobre os
recursos naturais, pois são poucas vias com estradas de terra e desprovidas de edificações.
A ARIE Parque JK apresenta 19,13% da sua área total com vegetação antropizada,
terras para a criação de gado. Estas áreas com vegetação antropizada encontram-se quase
sempre dentro das chácaras existentes no interior da ARIE, que representam 57,70% da área
antropizada nas áreas de chácaras, cada chácara teria em média 34% da sua área com
vegetação antropizada e, conseqüentemente 66% da sua área com vegetação nativa. Desta
situação, pode-se inferir que as chácaras existentes na ARIE não exercem forte pressão sobre
os recursos naturais locais, ao contrário, a permanência destas, parece, ao longo do tempo, ter
atividades industriais e comerciais altamente poluidoras nas áreas lindeiras à ARIE Parque JK.
população da área do entorno que utiliza água de poços/nascentes (figuras 29 e 30), fossa
84
negra e séptica exercem pressão do tipo moderada ou fraca sobre a UC, mostrando que a
mesma permanece quase inalterada em relação aos efeitos dessas ações humanas.
Figuras 29: Nascente do Parque Boca da Mata que Figuras 30: Área inundada em solo pouco
fica no quintal de chácara instalada dentro do Parque. impermeável em chácara dentro do Parque Boca da
Mata .
Observando-se a Tabela 11, o índice de estado (efeitos das ações humanas sobre o meio
ambiente) exercida sobre a ARIE Parque JK é de 0,53, ou seja, é um resultado que representa
índices), cujo intervalo é representado por índices que vão de 0,51 a 0,80. Assim pode-se
acrescentar que o resultado 0,53 encontrado para o caso ARIE Parque JK, seria um estado
ambiental não tão ruim, já que o valor do índice encontrado se aproxima mais ao menor limite
Embora a qualidade ambiental local não seja tão ruim, dois indicadores mostraram a
péssima qualidade da água do ribeirão Taguatinga, importante corpo d’ água que atravessa
toda a ARIE Parque JK, quais sejam: enquadramento na classe 4 (resolução CONAMA nº
Outro indicador ambiental, que contribuiu para este estado do meio ambiente da ARIE,
foi “chácaras que não praticam agricultura orgânica”, representando 90%. Tal modalidade
agrícola é aquela que produz frutas, legumes e hortaliças com a utilização de agrotóxicos
86
também conseqüências danosas à saúde das pessoas, de forma direta para as que aplicam os
produtos tóxicos nas plantações, indireta para aquelas pessoas que se alimentam deste tipo de
produção agrícola.
Um dos requisitos exigido na Lei 9985/00 (SNUC) para uma UC do tipo ARIE é que a
mesma “... abrigue exemplares raros da biota regional, ...”, no caso da ARIE Parque JK, a
pesquisa demonstrou que esta abriga exemplares raros da flora e fauna regionais (7,32%). A
área possui também espécies endêmicas e/ou em extinção, da flora como Gonçalo Alves
e fossas séptica/ negra pela população do entorno da ARIE, bem como o indicador relativo à
“área dos corpos d’água” tiveram pouca expressividade, demonstrando que os mesmos não
atenuar, adaptar ou prevenir os impactos ambientais negativos induzidos por ações humanas e
para reverter ou reparar os danos já provocados) para a ARIE Parque JK é de 0,61, ou seja, é
um resultado que apresenta uma resposta com boa eficácia, conforme proposto na Tabela 9
(enquadramento dos índices), cujo intervalo é representado por índices que vão de 0,51 a
0,80. Assim, pode-se acrescentar que o resultado 0,61 encontrado para o caso ARIE Parque
JK, ainda pode ser mais eficiente, no intuito de implementar ações eficazes na resolução dos
3
2. Área de campo cerrado de origem antrópica 5,43 16,29
3. Área total da ARIE Parque JK em relação à área total do
DF 4,28 12,84
A ARIE Parque JK possui sua área regularizada desde a criação desta UC, em 1996, pela
Lei 1002. Porém, até hoje apenas dois, dos cinco Parques inclusos na sua área, têm sua
poligonal definida (anexo A), o que demonstra uma resposta parcial do Poder Público a quem
compete a regularização dessas áreas. Outro fator importante de ser comentado é que,
segundo o SNUC, as Unidades de Conservação deve ter seu Plano de Manejo concluído no
prazo de cinco anos a partir da data de sua criação. No caso da ARIE Parque JK, criada em
1996, seu Plano de Manejo foi concluído neste ano, 2006, ou seja, 10 anos após sua criação, o
Apenas 10% das chácaras que estão incluídas na poligonal da ARIE possuem certificação
agricultura orgânica, aquela que não utiliza agrotóxicos nas plantações (figuras 31 e 32).
Figura 31: Cultivo orgânico de morangos na Chácara Figura 32: Área de cultivo misto, fundamentado
Geranium dentro da ARIE Parque JK. nos princípios da agrofloresta, localizado na
Chácara Geranium.
Isto significa que 90% das chácaras contribuem com a poluição dos solos, pelo uso de
ribeirão Taguatinga, com tais substâncias que são carreadas até o ribeirão principalmente na
89
época das chuvas. Outro importante fator a ser considerado é o risco direto para a saúde das
pessoas que trabalham nessas chácaras pulverizando defensivos agrícolas nas plantações, e
também há os prejuízos gerados, indiretamente, à saúde das pessoas que se alimentam destes
produtos lá cultivados.
A quantidade de lotes vistoriados que possuem reserva legal (20%), apesar de ser um
indicativo de boa resposta, não teve uma representatividade muito significativa, 36,5%. Isto
significa que 66,5% dos lotes possuem áreas consideráveis de vegetação antropizada, de
maneira que não há mais uma integridade dessas áreas de reserva legal que deveriam existir,
o que representa uma boa resposta do Poder Público, principalmente quando se leva em
consideração que esta verba foi destinada para ser gasta no período de 2004 a 2007, ou seja,
ainda há um ano para que as ações planejadas para serem executadas com esta verba se
Apenas 13,34% das chácaras que efetuaram parcelamentos irregulares estão sob a égide
da justiça (chácaras 25, 27, 28 e 105), enquanto que mais de 86% dos terrenos irregularmente
Segundo dados da RIDE (2000), mais de 93% de toda a população do entorno da ARIE
descrito anteriormente quando da análise dos indicadores de pressão, a Caesb informou que
95% dos esgotos de Taguatinga e Ceilândia ainda são lançados a céu aberto no Ribeirão
Taguatinga. Fica claro que há um conflito de informações, o que compromete a real avaliação
Plano de Manejo da ARIE Parque JK (2006) todo o lixo, ou seja 100% do montante tem sua
correta destinação, mas, quando da pesquisa de campo, foi possível detectar in loco, que a
situação real é diferente, pois foi observado muito lixo residencial e entulho de obras de
engenharia espalhados em vários pontos dentro da ARIE parque JK e também no seu entorno
Figura 33: Entulho de obras e lixo residencial Figura 34: Descarte de resíduos de fábricas
despejados ao lado da cerca do Parque Boca da Mata, madeireiras dentro da área do Parque Metropolitano,
com destaque para a placa do GDF. em local próximo à ADE de Ceilândia.
Figura 35: Lixo residencial amontoado e jogado Figura 36: Flagra de descarte de entulho de obras de
dentro do Parque Gatumé. engenharia em área limítrofe a ARIE Parque JK, no
Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, 2006. setor P-Sul - Ceilândia.
Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, 2006.
91
Outro fato que também merece destaque refere-se ao tratamento de esgoto, que teve seu
Samambaia, removendo 90% da matéria orgânica e dos sólidos em suspensão nos efluentes,
segundo dados da própria ETE. Porém, na segunda visita, em pesquisa de campo, à ETE
Melchior, em setembro de 2006, a servidora Analta informou que somente no mês anterior
(agosto) foi iniciado o tratamento terciário para remoção eficiente de nitrogênio (N) e fósforo
(P) do esgoto. Por esta razão é que ainda se observava uma situação de proliferação de algas a
No Plano de Manejo da ARIE Parque JK constam dados de uma entrevista realizada com
a comunidade local acerca de diversos assuntos ambientais relativos à ARIE, dos quais
merecem destaque dois: 100% dos entrevistados acham que o Parque Boca da Mata deve ser
incluído na poligonal da ARIE, dado que vem ao encontro do proposto pelo SNUC, no qual as
UC próximas devem ser geridas de maneira integrada e, esta inclusão seria uma boa estratégia
Outro dado é aquele em que 73% dos entrevistados acham que a principal finalidade da
de uma área verde como esta. Estes dados melhoraram o índice de resposta, já que se
mostraram representativos.
Taguatinga) em 1896, que tem por objetivo a defesa dos interesses dos produtores e dos
resultados bastante significativos como, por exemplo, participação na elaboração dos planos
do Parque Boca da Mata e à área da APA do Planalto Central na qual não se insere a ARIE
(4%), ou seja, 96% da área da APA sobrepõem-se à da ARIE Parque JK. Ao se incluir o
Importante indicador de resposta é aquele que mede a área reflorestada e, no caso ARIE
Parque JK, esta área representa apenas 5,43%, o que não é suficiente para recuperar a área
antropizada desde 1953, que aumentou 19%. As áreas não reflorestadas na margem de cursos
d’água provocam, ao longo do tempo, o assoreamento destes, como se pode ver na figura 38.
93
Figura 38: Margem do Ribeirão Taguatinga, sob a ponte que liga o NRT à Ceilândia, durante as obras de
contenção das margens, a fim de evitar maiores desbarrancamentos na época das chuvas.
Pode-se inferir que a pressão exercida por atividades antrópicas sobre os recursos naturais
é moderada, porém o estado do meio ambiente local indica condições de qualidade ambiental
ruim, ou seja, este ambiente mostra-se frágil e vulnerável às pressões ainda que estas sejam
na solução dos problemas locais, enquanto que poderiam ser mais eficazes e satisfatórias, já
que os resultados de ações sociais em prol do meio ambiente são de médio e longo prazo.
Apesar de não ser conhecido o ponto desejável de cada índice, pode-se aceitar como
pontos norteadores da avaliação os valores máximos e mínimos para cada categoria. Para o
índice de pressão: quanto mais próximo de 1,0, mais crítica é a pressão e, quanto mais
próxima de 0 menor é a pressão das atividades humanas sobre os recursos naturais. O índice
de estado segue o mesmo raciocínio do índice de pressão: quanto mais próximo de 1,0, pior é
Já para o índice de resposta, o raciocínio é inverso àquele usado para os índices de pressão e
estado, ou seja, quanto mais próximo de 1,0, melhor e mais eficaz é a resposta e, quanto mais
Sabendo desta afirmação e, com o intuito de esclarecer quão próxima está a real situação
(pressão = 0,40; estado = 0,53; resposta = 0,61) de gestão integrada da ARIE Parque JK de
uma situação que seria ideal (pressão = 0,0; estado = 0,0; resposta = 1,0), foi feito o
cruzamento dos três índices para cada situação, de maneira a resultar numa figura
A: situação ideal -
A 0,61 B: situação real -
B’ -
1
B 0,53
0,40
0 0
(P) (E)
Foram traçadas três retas (P, E e R), numa escala de 0 a 1,0, cada uma pertencente a um
plano diferente e perpendiculares entre si, partindo-se da origem (0,0) até um único vértice
convergente (1,0). Para cada reta foram marcados dois pontos distintos que correspondiam,
pontos foram unidos, de maneira a formar duas figuras diferentes, um triângulo retângulo
95
(situação ideal – A) que é uma figura plana e, uma pirâmide triangular (situação real – B),
que, por definição é todo poliedro convexo em que há uma face (base) num dado plano e
apenas um vértice (vértice da pirâmide) fora desse plano e, as demais faces são chamadas
faces laterais.
Para estabelecer uma relação percentual que permitisse fazer inferências sobre a atual
gestão ambiental integrada da ARIE Parque JK e a hipotética situação ideal, foram calculadas
a área da figura A (triângulo retângulo) e a área da base de B (base da pirâmide, que também é
um triângulo retângulo – B’). Para tanto foram usadas as fórmulas trigonométricas que
seguem.
b•h
ATA =
2
onde: ATA = área do triângulo A
b = base do triângulo A
h = altura do triângulo A
ABB = ATB’
onde: ABB = área da base da pirâmide B
E,
ATB’= b • h
2
Aplicadas as fórmulas, se ABB = ATB’ , então o resultado encontrado foi de 0,14 um².
A seguir foi feita uma regra de três simples para a obtenção do percentual que representa
SA 100%
SB X
Onde: SA = ATA
SB = ABB
SB
X= • 100
SA
O resultado encontrado para X, foi de 28%, ou seja, a situação real representa 28% da
hipotética situação ideal de uma eficiente gestão ambiental integrada para a ARIE Parque JK.
Ou ainda, pode-se inferir que, este resultado demonstra que a gestão ambiental
atualmente executada na ARIE Parque JK dista 72% de uma gestão ambiental ideal para esta
UC. Ou ainda, este resultado comprova que a atual situação da ARIE Parque JK, quanto às
pressões exercidas por atividades antrópicas que modificam o meio ambiente local, se mostra
Mesmo sabendo-se que uma situação ideal é utópica e inatingível, esta foi usada apenas
demonstrando que esta UC necessita de ações de gestão que possibilitem melhor adequar as
7. CONCLUSÃO
• poluição dos recursos hídricos por despejo indevido de esgotos vindos de Taguatinga e
Ceilândia;
• poluição sonora;
• extensa área urbana com vias asfaltadas nas regiões do entorno da ARIE,
• taxa de área reflorestada bem inferior àquela utilizada durante o processo de ocupação
do solo;
legal;
99
cultivo agrícola;
sustentabilidade propostas para este tipo de UC, conforme determina o Sistema Nacional de
muito próximas à ARIE. Para tanto, é importante a reavaliação e a readequação das múltiplas
atividades que foram sendo instaladas, ao longo do tempo, na ARIE e no seu entorno, para
que se façam cumprir, verdadeiramente, as finalidades legais determinadas para este tipo de
Unidade de Conservação.
A lei de criação da ARIE determina como finalidade prioritária a preservação dos seus
precário e conflituoso em relação à definição legal que deva nortear as ações de gestão para a
Órgãos Públicos demonstraram pouco empenho na busca de solução dos mesmos. Conforme
se pode verificar por meio das entrevistas realizadas nesta pesquisa, a Câmara Legislativa do
DF não possui nenhum deputado que desenvolva projetos para a ARIE, a Semarh também não
revisão do PDOT relativo ao Núcleo Rural de Taguatinga, onde se localiza a ARIE Parque JK
e o IPHAN explicou que possui um Termo de Ajuste de Conduta com a ARIE, além de
Parque JK.
Ao final da aplicação da metodologia foi possível constatar que a atual gestão integrada
da ARIE Parque JK realizada pelos órgãos ambientais representa apenas 26% de uma
hipotética situação ideal de gestão para a conservação de uma área com as características
próprias da ARIE em estudo. Donde pode-se concluir que esta gestão integrada pode e deve
mais adequadas soluções para os conflitos sócio-ambientais ali existentes, bem como atuar na
prevenção de possíveis novos conflitos. Para tanto deve ser construído um plano de gestão
que busque a harmonia entre os elementos físicos, bióticos e antrópicos; que permita a
101
8. RECOMENDAÇÕES
Como sugestão de melhoria da atual situação sócio-ambiental da ARIE Parque JK, este
trabalho propõe que, para que a implementação de ações do plano de gestão ambiental
gestão da ARIE
meio ambiente;
entorno da ARIE Parque JK, que representa fator de risco para a manutenção da
integridade desta;
• avaliação das potencialidades turísticas e de lazer para que possam ser exploradas de
maneira sustentável;
• regularização da situação fundiária dos atuais ocupantes das áreas das chácaras que
local, bem como dos aspectos sócio-ambientais pertinentes à ARIE, com o objetivo de
monitorar tais dados que permitam auxiliar o contínuo processo de tomada de decisões;
• utilização da metodologia PER, de maneira similar à que foi executada nesta pesquisa,
pressão, estado e resposta para a ARIE, e também para que esta metodologia possa ser
ambientais que permitam compor, de maneira eficaz, uma análise das fragilidades do
• sugere-se, ainda, que esta pesquisa possa trazer contribuições em futuros trabalhos que
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Zoneamento Ambiental e Plano de Manejo da Área de Relevante Interesse Ambiental
Parque Juscelino Kubitschek - ARIE Parque JK. DER/DF, Brasília, 2006.
ANEXO A: Poligonal dos parques ecológicos e de uso múltiplo da ARIE Parque JK
ANEXO B: Poligonal da ARIE Parque JK, Bacia do Ribeirão Taguatinga e parte da APA do Planalto Central
ANEXO C: Mapa de Zoneamento
ANEXO D: Mapa de Pedologia
ANEXO E: Mapa de Recursos Hídricos
ANEXO F: Vegetação e uso do solo - avaliação multitemporal
ANEXO G: Potenciais corredores ecológicos da ARIE Parque JK
ANEXO H: Área proposta para a construção da via de ligação entre Samambaia e Ceilândia.
ANEXO I: Localização do anel viário (corredor de atividades)
ANEXO J: Mapa de infra-estrutura da ARIE Parque JK
ANEXO L: Modelo digital do terreno. Imagem Quick Bird - ARIE Parque JK