2019 Dis Mssilva
2019 Dis Mssilva
2019 Dis Mssilva
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA
FORTALEZA
2019
MARIA SIMONE DA SILVA
FORTALEZA
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof.ª Dra. Francisca Geny Lustosa (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________________________
Prof.ª Claudiana Maria Nogueira de Melo
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________________________
Prof. Dr. Everton Nery Carneiro
Universidade Federal do Ceará (UFC)
.
Esta investigação se interessa pela aprendizagem de alunos com Deficiência Intelectual (DI), à
medida que busca analisar as funções cognitivas empregadas por essas crianças,
especificamente, em atividades didático-pedagógicas de linguagem escrita, no contexto da sala
de aula. Nosso interesse é conhecer, com mais profundidade, a relação entre as funções
cognitivas desses sujeitos com DI e as mediações pedagógicas que podem colaborar como apoio
ao seu processo de elaboração, quando em situações/atividades em sala de aula comum.
Metodologicamente, acompanhamos dois sujeitos com DI, analisando as expressões de suas
funções cognitivas à luz da literatura de Feuerstein (2012; 2016), assinalando os elementos
fragilizados nesses sujeitos e as implicações na aprendizagem escolar. A abordagem é
investigação qualitativa; os sujeitos focos do estudo são de uma sala de 2° do Ensino
Fundamental de uma escola da rede municipal de Fortaleza da Regional III. Os procedimentos
da investigação consistiram em três etapas: i. Avaliação do nível conceitual, em leitura e escrita,
dos sujeitos com DI (avaliação psicogenética); ii. Desenvolvimento de atividades didáticas
junto aos estudantes na sala de aula; iii. Observações para acompanhamento sistemático dos
alunos com DI incluídos nas salas de aula. As informações coletadas evidenciam que alguns
aspectos do processo de ensino e aprendizagem têm implicações positivas a partir da mediação;
ampliação da participação dos estudantes nas aulas e nível de empenhamento nas tarefas
escolares iii; elevação da autoestima das crianças iii; percursos de êxito nos procedimentos
investidos na realização das atividades escolares. Pareceu-nos clara a relação entre expectativas
positivas versus mediação pedagógica, bem como qualificação da mediação pedagógica versus
a consequente elevação do nível de desempenho e aprendizagem dos sujeitos com DI. Esses
sujeitos em geral, desacreditados pela escola e ausentes da centralidade da prática pedagógica,
quando disponibilizados a uma condição de participação e de experiências pedagógicas, pelo
menos semelhantes àquelas destinadas a toda turma, apresentam níveis muitas vezes parecidos
com os sujeitos sem deficiência.
This research is interested in the relationship between cognition and learning of students with
intellectual disabilities (ID), as it seeks to analyze the cognitive functions / mechanisms
employed by these children, specifically, in didactic-pedagogical activities of written language,
in the classroom context. class. Our interest is to know in more depth also the relationship
between the cognitive functions of these subjects with ID and the pedagogical mediations that
can collaborate in support of their learning process when in common classroom situations /
activities. Methodologically, we seek to accompany them in the manifestations in use of their
cognitive functions and to analyze aspects such as attention / perception, memory, motivation,
as well as the ability to transfer, generalization, synthesis and metacognition. These aspects are
presented by the literature by Figueiredo (2008, 2010, 2013 2018) and Feuerstein (2016), as
directly implicated in school learning and marked as extremely weak elements in these subjects.
The approach is the qualitative research, notably, the monitoring of the processes involved in
the act of learning of the knowing subjects. The focus subjects of the study are two students
with ID, from a 2nd year class, therefore, focusing on literacy work, from a municipal school
in Fortaleza, District V. The methodology will consist of three steps: i. Diagnostic assessment
of children's level (psychogenetic assessment) and Case Study composition of these subjects;
ii. Construction of didactic activities (together with the teacher), to be developed in the
classroom to the students (10 sessions); iii. Systematic monitoring of students with ID included
in classrooms regarding the learning process and manifestation of mental functions during the
proposed activities. Our expectation is that studies of this investigative nature tend to contribute
to identify how children with IDD learn and thus be able to mobilize mediations and
pedagogical strategies that may favor the learning of these students and, simultaneously, may
compose the formative knowledge for teaching.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12
2 ALICERCES TEÓRICOS DO ESTUDO: PESQUISAS E PERSPECTIVAS
TEÓRICAS .................................................................................................................. 19
2.1 O que dizem as pesquisas atuais sobre a cognição e aprendizagem de sujeitos
com deficiência intelectual .......................................................................................... 19
2.1.1 Práticas docentes e as relações com a aprendizagem da leitura e da escrita de
estudantes com deficiência intelectual ......................................................................... 23
2.2 Reflexões sobre o funcionamento cognitivo de crianças com DI e vivências de
práticas escolares ......................................................................................................... 27
3 CORPUS TEÓRICO DE BASE À INVESTIGAÇÃO: DIÁLOGOS COM
CONCEITOS INTERACIONISTAS ......................................................................... 36
3.1 Modificabilidade cognitiva e a experiência de aprendizagem mediada
segundo Feuerstein ...................................................................................................... 36
3.2 Modificando a inteligência .......................................................................................... 41
3.3 A relação entre pensamento e linguagem e suas implicações para o
desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos .......................................................... 46
3.3.1 Relação entre pensamento e linguagem para Piaget .................................................. 47
3.3.2 Relação entre fala e pensamento para Wallon ............................................................ 49
3.3.3 A relação entre pensamento e linguagem para Vigotski ............................................. 51
4 METODOLOGIA: OS PERCURSOS DA INVESTIGAÇÃO................................ 56
4.1 O lócus da Pesquisa ..................................................................................................... 60
4.1.1 A escolha dos sujeitos ................................................................................................... 61
5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: ANÁLISE DOS DADOS ............................... 68
5.1 Possível relação entre as estratégias de mediação e cognição-aprendizagem
dos sujeitos com deficiência intelectual ..................................................................... 69
5.2 A inter-relação entre as funções cognitivas, suas fragilidades e os níveis de
empenho dos sujeitos ................................................................................................... 99
5.2.1 As funções mentais descritas nas fases de input, de elaboração e output .................. 99
5.2.2 A relação entre funções cognitivas fragilizadas e a Experiência de Aprendizagem
Mediada em Feuerstein .............................................................................................. 100
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 119
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 121
ANEXO 1 - INSTRUMENTAL DE REGISTRO DO NÍVEL LEITURA E
ESCRITA do sujeito (avaliação diagnóstica inicial) .............................................. 126
12
1 INTRODUÇÃO
1
Coordenado pela professora Dra. Francisca Geny Lustosa, da Universidade Federal do Ceará.
14
percurso formativo desses anos nessa posição aprendente, emergiu o desejo de colaborar como
pesquisadora nesse campo do saber educacional dos sujeitos com deficiência.
O estudo monográfico (TCC) que realizei ao findar do curso de Pedagogia/UFC,
no ano de 2017, versou sobre um jovem com paralisia cerebral atendido à época no projeto
citado do AEE/FACED. A forma como pude significar as aprendizagens do Curso de Pedagogia
através do projeto descrito acima e das vivências, relatos e acompanhamentos destinados ao
jovem investigado, que deu origem ao meu trabalho de conclusão de curso, suscitou em mim
um desejo de aprofundamento nos estudos de mestrado.
Vale ressaltar que, no âmbito dessa construção acadêmica, a problemática desse
estudo foi também por nós mapeada em periódicos com o intuito de traçar o Estado da questão:
“como as crianças com DI aprendem?” esse mapeamento revelou carência nessa área do
conhecimento da cognição e funcionamento intelectual desses sujeitos, sendo uma demanda
formativa de professores da sala de aula comum. Esses estudos evidenciam que as expectativas
e as práticas pedagógicas que se destinam a essas pessoas notabilizaram a descrença na
possibilidade de aprendizagem delas - retiram-se do sujeito as possibilidades de tornar-se
“humano”, no sentido de elevar suas funções cognitivas de base.
Consideramos que apreender o funcionamento cognitivo é igualmente desafiador
quando pensamos em crianças sem deficiência de qualquer natureza, quiçá naquelas cujas
repercussões e importância da deficiência intelectual e de suas fragilidades nos mecanismos
cognitivos/funções cognitivas2 se expressam e interferem na qualidade dessa aprendizagem.
Nas pesquisas e trabalhos com os quais mantivemos atuação, como bolsista na
graduação, realizamos sempre atendimentos e acompanhamentos (com mediações pedagógicas
planejadas) junto a crianças com deficiência intelectual, mesmo ainda de forma mais incipiente,
em nível de pesquisa de iniciação científica ou no trabalho de conclusão de curso da graduação,
apesar de estudarmos sempre e intencionalmente, o favorecimento das mediações com recursos
didáticos que melhor qualificassem as práticas pedagógicas voltadas para essas crianças, na
defesa também que essa deve ser a perspectiva da escola e de suas proposições.
Nossos estudos até então realizados, ainda não se voltavam a aprofundamentos
quanto às funções cognitivas e/ou mecanismos de realização da aprendizagem e a inter-relação,
consequente, com a mediação pedagógica - tais aspectos tornam por demais complexas e densas
as questões nessa seara, que se estabelecem como necessárias e urgentes à ocorrência de mais
conhecimentos sobre o tema.
2
Optamos pelo uso dos dois termos, justapostos, por considerarmos similaridades conceitualmente, sendo
considerado por nós, como sinônimos.
15
Muitas são as indagações que podemos nos fazer e que são significativas para nos
fazer refletir:
i. Como as funções cognitivas se apresentam nas situações de aprendizagem
escolar de sujeitos com deficiência?
ii. Quais as repercussões da mediação no favorecimento dos processos internos
de aprendizagem nos sujeitos com deficiência intelectual? E, quais
especificamente são essas repercussões?
Apesar dos mecanismos cognitivos/funções cognitivas não estarem à mostra, ou
seja, não se apresentarem na exterioridade corpórea do indivíduo, os processos do pensamento
podem ser percebidos pelas diversas linguagens do sujeito, em como este sujeito se conduz/se
comporta ou responde as mediações e aos recursos disponíveis ao seu entorno.
Estudos desse tipo constituem uma atividade de investigação meticulosa e
complexa, pois vislumbram conhecer o processo em que ocorrem3 as funções cognitivas em
meio as tarefas disponibilizadas e aos níveis de “ajuda” ou de mediação oferecidas no ambiente
e nas interações dos sujeitos.
No cenário educacional contemporâneo, se faz necessário aprender mais sobre a
constituição dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem humanos. Carecemos
urgentemente de revisões sobre o conceito da própria deficiência e maior conhecimento sobre
suas manifestações nos sujeitos. “Temos consciência de que a relação estabelecida entre o que
se compreende sobre desenvolvimento, aprendizagem e deficiência intelectual, formam uma
tríade cuja compreensão se objetiva na forma de lidar pedagogicamente com esses sujeitos.”
(LUSTOSA, 2016, p. 232) para pensarmos sobre a Educação e o trabalho pedagógico junto a
alunos com deficiência intelectual é importante considerarmos a inter-relação desses conceitos.
Quando falamos de processos de aprendizagem escolar, decerto estamos
envolvendo sujeitos aprendizes, professores e mediação nessa situação. Nesta perspectiva, uma
tríade complexa se delineia, forjada por uma teia de relações na qual estão os
mecanismos/funções cognitivas, as quais desempenham papel preponderante e possibilitador
de aprendizagem.
Assim, a pesquisa aqui intencionada justifica-se, em parte, amparada pelo que
pesquisadores da área da Educação Inclusiva assinalam sobre a necessidade de se pensar sobre
como os sujeitos com deficiência intelectual aprendem, e para tanto saber como constroem e se
mobilizam frente à mediação pedagógica e a solicitação do meio escolar.
3
Nos referimos aqui a ideia de processamento no uso das funções cognitivas, pensando desde a emergência
destas, o desenvolvimento e os usos em situações mediadas.
16
analisar a experiência compreendida na pesquisa como algo maior e mais relevante do que o
produto decorrente das ações produzidas ao longo do percurso investigador. Assim, trata dos
referentes conceituais da pesquisa; trazemos conceitos de teorias que atestam a possibilidade
de crianças com DI se desenvolverem e aprenderem desde que envoltas em mediações que
objetivem elevar a forma como tais sujeitos pensam.
O capítulo 5 comunica os resultados das observações e seções de mediações
procedidas, em particular, junto aos estudantes com D.I, destacando as funções cognitivas no
contexto de sequências didáticas e demais atividades em sala de aula, perspectivando as
implicações positivas entre as estratégias de mediação e a cognição-aprendizagem desses
sujeitos. Entre os dados apresentados nessa seção estão expressos episódios pedagógicos,
comportamentos e desempenho dos sujeitos, evidências do funcionamento cognitivo
manifestas nas atividades escolares propostas. A escrita contempla ainda a inter-relação entre
as fragilidades nas funções cognitivas e a potencialidade da Experiência de Aprendizagem
Mediada à luz dos conceitos de Feuerstein (2012-2016) e outros autores.
Nas considerações finais retomamos de forma breve as principais conclusões do
estudo passíveis de serem implicadas no conceito pela Experiência da Aprendizagem Mediada,
desde a ampliação da participação dos estudantes nas aulas e do nível de empenhamento nas
tarefas escolares, a elevação da autoestima dessas crianças, consequentemente, quando
trilhando percursos de êxito nos procedimentos investidos na realização das atividades
escolares. Em suma, as considerações tecidas (re)afirmam que o processo de alfabetização de
estudantes com D.I pode ser intensamente marcado pelo conhecimento e investimentos de
professores(as) quanto às funções cognitivas, ampliando as possibilidades de aprendizagem e
de desenvolvimento dos sujeitos. Portanto, a mediação configura-se como um conceito-chave
na atuação docente e organização de prática pedagógica favorecedora à deficiência intelectual.
19
2.1 O que dizem as pesquisas atuais sobre a cognição e aprendizagem de sujeitos com
deficiência intelectual
Inicialmente, é prudente considerar que mesmo após anos da abertura das escolas
para os sujeitos público-alvo da Educação Especial, geralmente, muitos professores ainda agem
como se a deficiência anulasse completamente as expectativas sobre o aprendizado desses
indivíduos. Na contramão dessas ideias: “entendemos que a deficiência não pode estar acima
do potencial do aluno4, o qual certamente vai se aprimorar com o ensino ofertado e com
mediações adequadas, e assim desenvolver suas Funções Psicológicas Superiores avançando
em seu processo de humanização.” (LEONEL; LEONARDO, 2014, p. 542).
É necessário que a escola reveja o seu papel, para que dê condições a todos de se
tornarem indivíduos capazes de refinar as funções psicológicas tanto elementares ou de base
(ligadas ao comportamento-reflexo, atenção, percepção e memórias involuntárias) quanto
àquelas conceituadas funções psicológicas superiores. Os aspectos qualitativos da Prática
Pedagógica representados nas interações intencionais modificam as funções elementares
(origem biológica) e refinam as funções superiores.
Importa-nos considerar que o processo de elevação dessas categorias elementares a
funções superiores ocorre através de mecanismos compensatórios que se desenvolvem através
da humanização (apreensão da sua cultura), ou seja, do comportamento humano, como a
utilização de signos, símbolos e instrumentos, oportunizados também pelas instituições
4
Como justificam Leonel e Leonardo (2014, p. 545) “o ensino deverá oferecer oportunidades para alunos com
deficiência, pois estes apresentam potencialidades a serem desenvolvidas no âmbito escolar.” Não podemos
fazer uma subjetivação da deficiência, como se esta fosse maior que o próprio sujeito, definindo-o por completo.
20
escolares. Por isso, que é valorosa a promoção da emergência e aprimoramento das categorias
de bases ao pensamento, vislumbrando suas elevações a níveis conceituais mais avançados
progressivamente. Por isso, a importância da atividade escolar em processo de interação com
o ambiente escolar, para evolução/ transformação das Funções Psicológicas.
Como frisa Rossato (2010), no processo educacional que passamos ao longo da
vida, reproduzimos qualidades da nossa própria espécie, que somente desenvolvemos se forem
aprendidas, uma vez que não são organicamente atribuídas aos sujeitos. O que minora a
incompletude da espécie humana e incentiva o seu desenvolvimento são as atividades do
entorno social, mediadas por sujeitos mais experientes. “Deste modo, o que irá provocar
avanços qualitativos no desenvolvimento psíquico dos alunos com deficiência, são as
qualidades das mediações, o acesso à cultura e a novos conhecimentos e as relações sociais que
lhes forem oportunizadas.” (LEONEL; LEONARDO, 2014, p. 543)
À vista disso, compreendem-se as funções elementares (memória imediata, atenção
não voluntária, percepção natural etc.) como transformáveis pelas relações que o sujeito
estabelece com o mundo, provocando modificações de ordens cognitivas. Por isso, a escola
deve desenvolver conceitos científicos nos sujeitos com deficiência intelectual, pois são por
meio desses conhecimentos que os avanços no pensamento destes podem ocorrer.
Porém, quando as trocas não são favoráveis para o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores (atenção voluntária, memória consciente, imaginação criativa,
memória, pensamento conceitual, percepção mediada etc.), e se limita o sujeito com base na
deficiência que ele tem, reduzindo seu contato com o conjunto de manifestações culturais
produzidos historicamente pelo homem, seu aprendizado é reduzido a formas tão elementares
quanto as quais ele já apresenta, sem a ajuda dos objetos culturais oferecidos na escola.
Temos a compreensão de que com mediações adequadas, pessoas com DI são
capazes de desenvolver as Funções Psicológicas Superiores. Sujeitos com DI avançam em seu
processo de humanização, portanto, é preciso proporcionar uma educação de qualidade que se
torna fundamental para elevar nos sujeitos as categorias psicológicas mais elementares às
categorias superiores.
Lustosa (2009)5 ressalta em sua tese sobre práticas pedagógicas, que crianças com
deficiência, quando tinham acesso ao mesmo material que as outras crianças sem deficiência,
eram mais favorecidas cognitivamente do que as crianças com deficiências que estavam em um
contexto de segregação de conteúdos e da prática pedagógica comum a todos. Se for importante
5
Tese - Inclusão, o olhar que ensina: o movimento da mudança e a transformação das práticas pedagógicas no
contexto de uma pesquisa-ação colaborativa. Disponível no site http://www.proinclusao.ufc.br/
21
para todas as crianças, podemos ponderar que é mais ainda para crianças com qualquer
dificuldade de adaptação. Relações empobrecidas são ineficazes na construção conceitual
desses sujeitos. Destarte, Leonel e Leonardo (2014, p. 545) colocam a seguinte afirmativa
“constitui-se como primordial o trabalho da escola, que por meio do ensino lhe permitirá
desenvolver funções superiores como o pensamento abstrato, a atenção e a memória”.
Ao longo da vida, desde o nascimento, a criança já vai tendo contato com as mais
diversificadas relações sociais e com a cultura, no entanto, essas relações, apesar de produzirem
conceitos cotidianos, não são suficientes para desenvolver conceitos científicos, e o
desenvolvimento psíquico das funções superiores é impulsionado pela educação escolar. Há
uma relação de interdependência entre os conceitos espontâneos e os conceitos científicos. Os
conceitos científicos têm relação com o acumulado de saberes adquiridos por toda a
comunidade científica, já as concepções espontâneas são conceitos naturais ao nosso
pensamento que não nos remetem a nenhum ensino formal, sendo aprendido no dia a dia por
exemplo por tentativa e erro, por inferência ou por conclusões lógicas.
Sem a influência do ensino, os conceitos espontâneos não chegariam a se estruturar
como conceitos científicos. Bem como esclarece Facci, (2004) e Leonel e Leonardo (2014, p.
546), a formação dos conceitos põe em trabalho as Funções Psicológicas Superiores, sendo os
mesmos de natureza complexa para serem compreendido, com o uso das Funções Elementares
da mente. Nesse sentido, o ensino deve atuar dentro da Zona de Desenvolvimento Proximal do
sujeito de modo que isso possa desencadear um conhecimento ainda não apropriado conduzindo
o aprimoramento das próprias (FPSs).
Por isso, denota-se a importância da escola como instituição indicada para
contribuir com o processo mediador, de forma organizada e sistematizada que poderá fazer com
que os sujeitos com deficiência intelectual elevem suas Funções Psicológicas de Elementares
para Superiores, por meio da apreensão de conceitos científicos, assim como as demais crianças
sem deficiência. A aprendizagem escolar implica em um contexto de desenvolvimento
excelente.
Como adverte Turra (2001), os fatores biológicos da hereditariedade influenciam
no desenvolvimento, não obstante, asseverar que a falta de oportunidades fragiliza as conquistas
culturais, abrindo uma lacuna entre as experiências do sujeito e os recursos que a sociedade
disponibiliza, e ocorre a denominada Síndrome da Privação Cultural (SPC).
É por isso que se sustenta a argumentação das implicações negativas ocorridas pela
privação das mediações e do ensino e aprendizagem dos conteúdos escolares para qualquer
sujeito. Indivíduos que passam por esse tipo de negligência, tendem a ter dificuldade em ser
acessados por estímulos do ambiente que exigem mais sofisticação intelectual, sem a presença
de um mediador. Pois vivemos em uma sociedade marcada pelos avanços na área tecnológica,
mas, por si sós, esses instrumentos não são capazes de satisfazer o nível de mediação que as
pessoas precisam, pois, segundo Feuerstein (2016), é imprescindível a dupla mediador-mediado
para que a mediação cause uma interação que repercuta na modificabilidade das funções
cognitivas do sujeito.
6
Soares (1998, p. 47) estabelece que letramento é, pois, “o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e
escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita...” [...].
24
expectativa docente quanto à aprendizagem desses sujeitos com deficiência intelectual, como
se estes não pudessem também apresentar potencialidades.
Em geral, docentes veem a dificuldade de apreensão dos conteúdos escolares
atribuídos exclusivamente, à deficiência e assim consideram como uma barreira intransponível
e incapaz de ser vencida, anulando qualquer expectativa com relação ao desenvolvimento
desses aprendizes. Isso revela uma aposta muito baixa da própria escola sobre o que é capaz de
fazer pela aprendizagem dessas pessoas.
Nesse sentido, parecem descartar a importante contribuição cultural da escola no
refinamento do pensamento vinculado a elevação das funções psíquicas. Progressivamente,
através da mediação possibilitada pelo outro, a cultura é partilhada originando os processos
psicológicos mais complexos. Assim, as influências socioculturais, gradativamente se
sobrepõem ao biológico-natural. No que diz respeito diretamente ao ato pedagógico, de acordo
com abordagem vigotskiana, é na interação social, ou seja, nas relações estabelecidas entre os
homens e estes com o ambiente sociocultural que o desenvolvimento ocorre.
Quando a noção de desenvolvimento humano está alicerçada sobre as bases da
interação, é atribuído um papel importante ao outro no processo de aprendizagem. A influência
da mediação para o desenvolvimento humano. Assim são nas relações sociais estabelecidas
pelos grupos e nas trocas entre os indivíduos que residem as condições que propiciam o
desenvolvimento humano. Portanto, é necessário buscar a compensação da deficiência nas
aprendizagens dos conceitos construídos coletivamente, possibilitados pela convivência com
outros indivíduos sem deficiência, principalmente porque isso permite a atuação na Zona de
Desenvolvimento Proximal ou Eminente (ZPD ou ZPE).
Outro dado que se apresenta, a partir das pesquisas de Lustosa (2009, p. 36) é o fato
de que, muitas vezes, na compreensão dos docentes os problemas que se ligam a essa
circunstância, “se localizam exógenos à prática pedagógica dos professores”, portanto,
expressos na culpabilização da família, da escola, dos estudantes. Vemos através das pesquisas
de Leonel e Leonardo (2014) e de Lustosa (2000; 2009; 2016) que a ideia da ausência de
aprendizagem para esses sujeitos está ligada a “incapacidade do indivíduo e não ao ensino que
lhe é ofertado”.
Partindo da descrença atribuída à capacidade dos sujeitos com deficiência
intelectual de aprenderem os conceitos científicos, os professores acabam pouco explorando os
recursos para ensiná-los, mesmo diante da importância destes no desenvolvimento das Funções
Psicológicas Superiores desses indivíduos, para a significação aos conteúdos curriculares que
estes recursos possibilitam.
26
sujeitos, como asseveram Rossato e Leonardo, (2011, p. 81), “os educadores consideram que é
importante aprender a dar valor ao resultado “mínimo” alcançado com seu aluno e que isso tem
relação com sua concepção sobre as possibilidades de aprendizagem do mesmo”. É como se as
crianças com DI não tivessem a possibilidade de ter grandes ganhos. Talvez isso conduza a
outra lógica cruel, de que, por esses motivos, eles não sejam compatíveis com grandes
investimentos, pois partindo desse pressuposto não importaria a qualidade da mediação
oferecida, o potencial do próprio sujeito impediria ou minimizaria drasticamente a
aprendizagem dos conhecimentos científicos
Os autores supracitados denotam que o trabalho docente, usualmente, está ancorado
nas limitações dos sujeitos, esquecendo-se de que o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores, pertinentes ao desenvolvimento da inteligência. Tais funções são historicamente
produzidas pelas experiências que os sujeitos têm com o meio, uma vez que não vêm instaladas
no rebento ao seu nascimento, e a deficiência não impede que eles tenham interações com os
signos, os instrumentos e as pessoas, com que os colocam também em possibilidade de
aprendizagem.
Não podemos ter atitudes de naturalização atribuída à aprendizagem, deixando de
considerar as contribuições sociais atreladas ao desenvolvimento dos sujeitos que estão
inseridos em um meio social podendo lançar mão de instrumentos capazes de elevar o nível
potencial dos seres humanos.
Se os docentes reconhecem nos alunos com DI a dificuldade de aprender os
conhecimentos científicos pelos métodos mais convencionais, é papel da escola buscar vias
alternativas, que atendam as peculiaridades desses sujeitos, ao invés de destacarem o mérito
individual, atestando a incompetência dos sujeitos que não avançam sem apoio.
Se continuarmos acreditando nas suas impossibilidades, os sujeitos com DI
continuarão, por muito tempo, submetidos à exclusão do saber acumulado culturalmente: “[...]
à medida que nos guiamos pela incapacidade e limitação dessas pessoas como fatores
determinantes, negativos e irreversíveis estamos fortalecendo os processos de sua exclusão.”
(ROSSATO; LEONARDO, 2011, p. 84).
Com a apresentação dessa proposta, pudemos lançar a ideia básica de que a Atividade
Verbal pode contribuir de maneira mais significativa para o desenvolvimento
intelectual das crianças com Deficiência Intelectual se associada, na escola, a outras
formas de atividade, formando-se um complexo sistema funcional que possibilita,
com diversas frentes inter-relacionadas, a emergência da linguagem, ao mesmo tempo
em que se estimula o uso de suas principais funções cognitivas, tais como abstração,
simbolização, generalização, regulação psíquica, dentre tantas outras. (BEZERRA;
ARAUJO, 2011, p. 242)
Os estudantes com deficiência intelectual são colocados dentro de uma visão que
reforça suas incapacidades em detrimento das potencialidades. Os diagnósticos não expressam
nada, além de reforçarem a concepção patológica desses sujeitos, rótulos que os tornam seres
menosprezados dentro da dinâmica da sala de aula. Os valores e a cultura, que os circundam,
também são instrumentos cognitivos que auxiliam no processo de construção de signos sociais.
Por conseguinte, a inclusão de sujeitos com DI como postulam Cunha e Rossato (2015, p. 650),
no ensino regular é inutilizado pelo não reconhecimento das especificidades dos sujeitos,
trabalhando na perspectiva do nivelamento das aprendizagens. Ainda quando as instituições se
apresentem como inclusivas, vemos mostras de que continuam priorizando as aprendizagens
conteúdos curriculares capazes de promover a aprendizagem.
Pesquisadoras como Campos e Glat (2016, p. 35), assinalam que os fatores que
levam a adaptação dos indivíduos não dependem somente de fatores biológicos, portanto, o
insucesso desses indivíduos está relacionado aos processos sociais que os estigmatizam e levam
a privação de interações com indivíduos mais experientes. O que inviabiliza ou retarda o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Constataram que as pessoas com
deficiência intelectual demoram mais nos estágios do desenvolvimento da inteligência, porque
precisam de mais tempo para processar informações. Por conseguinte, têm uma postura
hesitante tanto pelas dificuldades cognitivas quanto pela privação de trocas afetivas ou
intelectuais, que deveriam ser favorecidas pelo meio social.
Todavia, o atraso nos processos de funcionamento das informações não justifica
que os sujeitos com DI permaneçam sem avanços, estando na escola, uma vez que esta é
responsável pelo desempenho de todos os estudantes, independentemente de suas limitações. É
papel de toda a escola proporcionar a inclusão de todos os sujeitos, construindo instrumentos
capazes de elevar os níveis psicológicos dos sujeitos, esgotando todas as possibilidades para
fazer emergir nos sujeitos com DI mecanismos cognitivos mais apurados.
Em uma pesquisa elaborada por Campos e Glat (2016, p. 37) com uma criança com
Síndrome de Down, personifica a ideia de que os sujeitos com DI são colocados em uma
situação de inferioridade e infantilização. Um dos fatores colocados como impulsionadores da
aprendizagem de pessoas com deficiência intelectual é a motivação atribuída às atividades em
32
curso, pois a aprendizagem acontece através das relações humanas e na atividade intelectual
acontecem trocas afetivas, uma vez que os objetos são apropriados através de significados e
sentidos. A afetividade marca o objeto internalizado.
Segundo Martins (2001) e Miranda e Pinheiro, 2016) é necessário desenvolver
estratégias cooperativas nas aulas, intentando o ensino inclusivo, criando-se ambientes
propícios a atividades colaborativas, que exijam planejamento e autonomia sobre o próprio
aprendizado. Promovendo o desenvolvimento cognitivo atrelado a situações típicas da cultura.
Para tal, sustentam-se investimentos no tripé curiosidade, investigação e descoberta com ações
pedagógicas fundamentadas em projetos.
Nesse sentido, não podemos deixar de frisar que alunos com DI possuem diferenças
(no ritmo, no tempo de aprendizagem e na qualidade de compreensão, muitas vezes), que devem
ser levadas em consideração dentro do processo de escolarização, de mediação e de inclusão.
Entretanto, essas características não devem servir para desqualificá-lo dentro do processo
educativo, e sim, para compreender suas peculiaridades na forma como se manifestam, na
procura por uma forma mais adequada de oferecer o acompanhamento necessário à emergência
de novos conceitos. Essa discriminação positiva oferecerá ao aluno a chance de se desenvolver,
mesmo manifestando uma limitação de ordem cognitiva. Enfatizando que a referida
discriminação está, exemplarmente, ligada ao acesso as atividades ocorridas na esfera escolar.
As discriminações que apartam os sujeitos com deficiência do conhecimento, são
segregacionistas e, portanto, negativas.
As transformações nas práticas pedagógicas propostas, em sua maioria, ensejando
uma escola inclusiva, devem se estender a todos os alunos, pois são melhorias na organização
pedagógica capazes de suplantar ou se interpor as limitações, pois estas não são definidoras do
sujeito por completo, são características que podem ser atreladas a tantas outras que possua.
Pinheiro (2005) Miranda e Pinheiro (2016, p. 702) destacam que a organização pedagógica
alicerçada nos princípio da contextualização e interdisciplinaridade intenciona a relação entre
os conhecimentos construídos na escola com as vivências do sujeito externas à escola, através
de situações conflituosas que direcionam o aluno a ter autonomia nas suas decisões.
As barreiras do conhecimento podem ser superadas através de investimentos em
ações pedagógicas que levem o estudante a problematizar o seu aprendizado, por meio de
33
conhecimentos que levem a autonomia dos processos pessoais e mentais. Por isso, estas devem
buscar fortalecer a construção de conceitos através de significados a relacionados à cultura dos
sujeitos aprendentes. Desta forma, Coll; Marchesi; Palacios (2004) e Miranda e Pinheiro (2016)
asseguram que embora com as limitações intelectuais, sujeitos com DI podem se mostrar
surpreendentes naquilo que fazem, por meio de uma ação pedagógica adaptada as suas
dificuldades; transpassando assim, a ideia de que a DI impeça mudanças no desenvolvimento
do sujeito.
O empenho de realização da pessoa com deficiência intelectual, através de
conteúdos com significados, evidencia como se organizam os instrumentos cognitivos para
desenvolver formulações acerca daquelas aprendizagens. Segundo Miranda e Pinheiro (2016),
o aluno com DI elabora suas FPS, fundamentadas em situações que trazem algum significado
para o mesmo; dessa forma, o aluno se esforça para pensar uma estratégia para solucionar uma
questão quando se motiva para tal. É por isso que atividades planejadas dentro de projetos que
investigam coisas relacionadas aos interesses dos alunos, causam expectativas e curiosidades.
Pois o ensino deve construir aprendizagens com experiências culturais, com investimento na
cidadania que exige participação ativa.
Uma pesquisa promovida por Figueiredo (2018) evidenciou que a mediação tem
influência na emergência e uso de estratégias cognitivas dos sujeitos com DI, manifestando
maior autonomia em seu emprego. Essa conquista é bastante relevante, considerando que uma
das dificuldades cognitivas das pessoas com deficiência intelectual são o desenvolvimento e o
emprego de estratégias cognitivas.
A título de ilustração, sistematizamos, no quadro abaixo, as ideias de Figueiredo,
quando conceitua funções cognitivas/mecanismos de aprendizagem e assim como Feuerstein
caracteriza suas fragilidades em uso. A autora considerando a atuação do Atendimento
Educacional Especializado voltado a sujeitos com DI apresenta, como sugestão, um conjunto
de práticas pedagógicas que melhorariam o funcionamento cognitivo desses sujeitos.
34
Memória de curto e Os sujeitos com A mediação sobre o processo de Associar uma tarefa a outra
longo prazo deficiência intelectual monitoramento e regulação da em sequências didáticas (de
apresentam dificuldades atividade por meio de indagações sobre forma que a criança vá
no processo da memória. a natureza da atividade a ser realizada. rememorando a atividade
A causa pode ser tanto de (p. 7).
natureza estrutural como Usar a estratégia cognitiva conhecida
passada)
na ausência de utilização como repetição interna. (p. 8).
de estratégias cognitivas Utilizar as estratégias cognitivas que
de reagrupamento ou de serão úteis para reter a informação. (p.
repetição interna que 8).
dificulta o processamento
da memória de curto
prazo. (p. 7)
As dificuldades
manifestadas pelos
alunos com deficiência
intelectual quanto ao uso
da memória de curto
prazo, podem explicar,
por exemplo, algumas
dificuldades de
aprendizagem que eles
manifestam,
especialmente, em
situações que demandam
atividades de cálculo,
leitura e interpretação de
texto. (p. 7).
A memória a longo prazo
está interligada com a
qualidade da
aprendizagem. Uma boa
aprendizagem do aluno
com deficiência
intelectual permitiria que
ele não esquecesse muito
mais do que os alunos que
não têm essa deficiência.
(p. 8).
Atenção O aluno com deficiência Proporcionar-lhe explorar e descrever o Fazer uma contação de
intelectual sente material que utilizará, propor atividades história: primeiro somente
dificuldade em orientar que mobilizem diferentes sentidos com o livro e depois com
sua atenção para aquilo (visual, auditivo, tátil, olfativo e diversos tipos de materiais,
que realmente interessa gustativo), organizar situações de
para a resolução de um aprendizagem que despertem o
além do próprio livro,
problema. Isso interesse do aluno, dentre outras fantoches, apresentação de
compromete seu recomendações (FIGUEIREDO, elementos que carreguem
desenvolvimento quanto POULIN, GOMES, 2010, p. 9). conceitos apresentados no
ao ritmo de livro.
aprendizagem, ao uso de
estratégias eficazes de
resolução de problemas e
a transferência de
informações no interior
de um procedimento em
situação de
aprendizagem. (p. 8)
35
Trata-se de um problema
de atenção seletiva [...]
dificuldade em
compreender o que é
esperado delas (p. 9).
Transferência Alunos com deficiência Em relação às estratégias que visem Fazer uma lista de
intelectual manifestam trabalhar a transferência de interesses, para conseguir
fragilidades quanto a conhecimento, o professor do AEE atrelar os seus interesses às
transferência das deve se preocupar particularmente com atividades.
aprendizagens para novos as atividades relacionadas à vida diária
contextos. p. 9 do aluno com deficiência intelectual.
(p. 9 )
Privilegiar situações de aprendizagem
que permitam aos alunos com
deficiência intelectual desenvolverem
sua capacidade de generalizar ou
transferir uma aprendizagem a outros
contextos (FIGUEREDO; POULIN;
GOMES 2010) (...) pergunta sobre uma
atividade que o aluno gosta de fazer em
casa e o professor solicita que ele
realize essa atividade, identificando o
que ele pode aprender com ela e
também relacioná-la com
conhecimentos anteriores. (p. 10)
Assim o professor atribui sentido a
aprendizagem da atenção. Essa
aprendizagem pode ser muito mais
eficiente quando realizada em parceria
com a família. (p. 10)
Desse modo, é sempre necessário criar formas para se adaptar, com as ferramentas
adequadas, isso é possível, pois se adquirem novas formas de funcionamento. Quando o sujeito
está preparado para as mudanças, novas estruturas se abrem para colocá-lo em consonância
com o que está sendo demandado de si. “Reforçamos que o componente cognitivo é o elemento
mais importante no desenvolvimento da personalidade de um ser humano” (FEUERSTEIN,
2016, p. 29). Essa teoria reforça que não apenas os seres humanos são modificáveis por um
fator externo, como são capazes de modificar a si próprios. “Praticamente não há
comportamento que não tenha motivação emocional e elemento cognitivo, mas o fator
cognitivo cumpre uma função muito importante ao trazer à tona às emoções de ordem mais alta
e diferenciações morais e éticas profundas.” (FEUERSTEIN, 2016, p. 30).
As pessoas e o ambiente criam condições para a modificabilidade, e as formas de
pensar estimulam a cognição, focando no desenvolvimento de habilidades e estratégias de
pensamento para estimulá-la. O desenvolvimento desses conceitos guiará as práticas. Uma
percepção otimista do potencial do indivíduo elevará sua percepção sobre si mesmo se
colocando no papel de que é capaz de mudar.
estruturais realmente tiverem ocorrido, o aluno será capaz de usar a estratégia adquirida logo
em seguida e muito após. Para o segundo critério resistência à mudança, o aprendiz deve ser
capaz de preservar o que foi aprendido mesmo se complexificarmos um problema com o
acréscimo de novos dados, esses novos elementos serão capazes de distraí-lo se a estrutura não
estiver bem posicionada. O terceiro critério diz respeito à flexibilidade da mudança, para essa
condição o que conta é a plasticidade da mudança, quando se requer um comportamento
aprendido com o mesmo objetivo em outra condição e o sujeito se mostra inflexível a mudança,
essa estrutura é insuficiente. O último critério trata da generalização a mudança, traz-se à luz
uma ideia conhecida para se compreender algo ainda maior, o próprio aprendiz se torna
autônomo para fazer mudanças estruturais em si mesmo, conseguindo extrair de um problema
abstrato, um princípio.
Com base nessas ideias, o cérebro humano não é só modificado por instrumentos
externos a si, como modifica a si mesmo, ou seja, possui natureza modificável. Todavia é
possível que as habilidades aprendidas sejam perdidas e o sujeito venha operar em baixo
funcionamento.
Como os seres humanos são responsáveis por seus destinos, alunos sempre devem
está com a guarda levantada, o bom funcionamento de ontem não garante que o
mesmo ocorrerá amanhã. Mas como toda moeda tem dois lados: alunos com baixo
funcionamento cognitivo podem ser encorajados de que o baixo funcionamento de
ontem não excluem as chances de alcançar uma maior realização amanhã.
(FEUERSTEIN, 2016, p. 48).
Como foi dito, as evidências biológicas não podem ser desconsideradas, todavia o
conformismo diante da situação da não aprendizagem de sujeitos com transtornos de
aprendizagem ou deficiência intelectual anula as possibilidades de transmissões culturais para
os sujeitos através da mediação, e os priva da chance de modificar suas estruturas. Se partirmos
do pressuposto de que é a inteligência é impossível de ser modificada estamos desconsiderando
as aprendizagens proporcionadas pelo meio.
[...] crianças com Síndrome de Down não são como outras crianças elas precisam de
mediação especial, intensa e sistemática entre elas e o mundo para que para aprendam
e progridam [...] quando recebem isto, percebemos mudanças e o surgimento de
estruturas de pensamento que subsequentemente permitem o alcance mais alto de
realizações que aquelas que nós, ou outros, acreditávamos ser possível.
(FEUERSTEIN, 2016, p. 58).
Isso mostra que a qualidade e a intensidade das experiências do sujeito dizem muito
sobre a aprendizagem do sujeito. Para Feuerstein (2016), há duas formas de aprender: uma pela
exposição direta e outra pela mediada. A primeira ocorre quando não há estímulo entre o sujeito
e o objeto da experiência, dessa forma ocorre à maioria dos nossos aprendizados, apesar de
também sermos modificados nesse tipo de aprendizagem, essa exposição direta não explora
completamente o nosso potencial de modificabilidade. Na segunda, o mediador, uma pessoa
que possui conhecimento para fazer mediações, torna o mundo mais fácil de compreender,
adicionando significado as experiências do sujeito mediado. “A Experiência da Aprendizagem
Mediada é o que dá aos seres humanos a habilidade de se modificar e as ferramentas para
aprender o que permitirá os benefícios da exposição direta ao mundo do estímulo.”
(FEUERSTEIN, 2016, p. 59).
42
Diante do exposto, vemos que uma ação nem sempre explicará por completo o
fenômeno, e a experiência não garante o entendimento daquilo que está sendo experimentado.
Para o modelo de EAM, a mediação é um fator que impulsiona a modificação entre o Estímulo
(S), o organismo (O) e a resposta (R), há o fator humano, tanto entre (S) e (O), quanto entre (O)
e (R).
Para Feuerstein (2016), as crianças com DI devem ser estimuladas desde cedo,
como ilustra no caso de um bebê com Síndrome de Down “(...) esta imitação medida inicial é
vital para o desenvolvimento de habilidades futuras que estão dentro dos repertórios de
comportamento de crianças se o estímulo é oferecido desde cedo e de forma sistemática”
(FEUERSTEIN, 2016, p. 80). A partir disso, segundo o autor, a criança deverá aprender a
selecionar e focar nos objetos por mais tempo, independentemente da linguagem da interação,
que pode ser física e gestual ou verbal dando a possibilidade de expandir e elaborar outras
formas da EAM.
Tendo em vista as ideias do mesmo autor, há um grupo de parâmetros que é
responsável por transformar as interações em EAM. São estes a Intencionalidade e
Reciprocidade, Transcendência e a Mediação do Significado, todas essas características juntas
podem potencializar a modificabilidade estrutural no sujeito. Defendendo que essas são
características comuns aos indivíduos independentemente da cultura, das condições ambientais,
econômicas, raciais ou orgânicas.
O primeiro parâmetro Intencionalidade/reciprocidade enseja que o sujeito, que
aprende com a mediação, reconheça o objeto que deve focar, mudando os estímulos, tornando-
os mais salientes, impondo-os de forma compreensível. O mediador altera não só os estímulos
oferecidos para oferecer a aprendizagem dos sujeitos, como também o próprio receptor da ação,
observando as intervenções que são mais eficazes: “Em outras palavras, a intenção de mediar
modifica os três parceiros da interação, o mediador ou professor que realiza a mediação, o
mundo do estímulo e o aluno” (FEUERSTEIN, 2016, p. 84). Desse modo, o modelo da
mediação é dinâmico para tudo que o envolve, dependendo da demanda do ambiente ou de
quem aprende.
O loop da mediação é fechado (ou seja, se torna um loop) apenas se a mensagem com
relação ao estímulo passa do mediador para o mediado, é absorvida e registrada, e
leva a um processo de generalização, conservação do objeto e, finalmente,
pensamento abstrato [...] eu entrego à criança os meios de mediar por si mesmo
quando o mediador não mais está entre ela e o mundo – a qualidade de auto-percepção
do aprendizado. (FEUERSTEIN, 2016, p. 85).
44
A relação de um ser humano com o mundo é regulada por distâncias crescentes entre
o ser e os objetos de investimento, entre as entradas e as saídas. [...] o mundo de um
ser humano é construído de forma crescente e precisamente quando uma pessoa se
encontra na distância que permitirá um dualismo homem-mundo. (FEUERSTEIN,
2016, p. 87).
Com base nos parâmetros expostos para a mediação, é notório que a Experiência da
Aprendizagem Mediada é comum aos seres humanos invariavelmente, e tornou possíveis as
45
incontáveis mudanças que tivemos ao longo da história, faz parte da nossa herança cultural. O
que muda o indivíduo é a mediação através da cultura! “A Experiência de Aprendizagem
Mediada, como interação de qualidade única, é o que cria nos seres humanos a flexibilidade,
sensibilidade, prontidão e desejo por entender o que acontece e capacidade de generalizar para
além do fenômeno isolado sendo vivido.” (FEUERSTEIN, 2016, p. 92).
À luz do que disse o mesmo autor acerca da mediação, esta eleva o sujeito a um
sentimento de competência, valor próprio e autoestima, e isso possibilitará o sentimento de
habilidade. Porque o mediador proporcionará ao mediado as ferramentas para obter êxito
durante as tarefas, do contrário, o sentimento de incompetência mina a capacidade de progredir
do indivíduo.
No sentido de ampliar essa discussão, iniciamos este texto pelas ideias de Piaget,
autor que vê a criança como um sujeito que se relaciona com o mundo como objeto de sua
inteligência. A sua compreensão da gênese do pensamento, da representação, está atrelada a
capacidade da criança de evocar objetos. Anteriormente a isso, o desenvolvimento da
inteligência prática é que vai permitir o desenvolvimento da inteligência conceitual, são os
esquemas coordenados pela inteligência anterior ao pensamento que tornarão possível a
representação mental, a evocação, a imitação diferida e todas as outras formas de perceber o
mundo pelas vias do pensamento.
Em subsequência, trazemos à baila o que Wallon nos diz sobre a relação entre
pensamento e linguagem. Para este, a criança vai descobrindo o mundo através das experiências
e compreendendo seu significado com a cultura. Compreende a criança como um sujeito
complexo, portanto não distância a linguagem da cognição, ainda que haja confusões na forma
como a criança relaciona a palavra e a ideia, pois nem sempre uma é capaz de traduzir a outra.
É por isso que, às vezes, por não dispor de um sistema sempre inteligível para o adulto, a criança
se mostra incoerente entre os aspectos da fala e das ações.
Por último, para Vigotski, toda palavra corresponde a uma generalização, desse
modo ela expressa um conceito, carrega um sentido. Para esse autor, a princípio, a fala e
pensamento se manifestam de formas diferentes e isoladas, denominando esse curto período da
fala como pré-intelectual e pensamento com pré-verbal, não obstante, há um momento crucial,
em que fala e pensamento se encontram, e a existência de ambos se integra, de forma
indissociável, de modo que um vai se tornando expressão do outro.
mostrando essa nova forma de agir e de perceber a si em relação ao outro. No jogo simbólico,
ela mostra a imitação diferida e interiorizada, e isso acaba refletindo na fala desse sujeito.
Nesse sentido, para Piaget, indubitavelmente, a linguagem continua sendo uma
condição imprescindível para o acabamento das estruturas lógicas, todavia não é uma condição
suficiente em si mesmo para a formação destas. Ao longo do livro A formação do símbolo na
criança, o mesmo autor intercala falas de crianças com características do plano simbólico, que
vai se tornando mais elaborado à medida que as crianças vão expressando linguisticamente o
refinamento de suas ideias.
Para Piaget “toda linguagem comporta classificação relativamente elaboradas”
(PIAGET, 2009 p. 265). A linguagem se incumbe de exprimir um tipo de lógica, como o próprio
autor cita a exemplo: os matemáticos se encarregam de desenvolver linguagens artificiais para
traduzir uma lógica, mais refinada e diferenciada, que não pode ser manifestada pela linguagem
tipicamente utilizada nas relações informais, que não contemple essas ideias.
Isso nos dá a possibilidade de inferir que o pensamento e a linhagem,
invariavelmente, se traduzem no devir das relações que estabelecem. Imiscuídos pela
proposição a seguir: “quanto às estruturas muito diferenciadas e refinadas para serem
exprimidas pela linguagem corrente, os matemáticos e lógicos criaram para seu uso linguagens
artificiais ou técnicas, mas que psicologicamente ainda são linguagens”. (PIAGET, 2009, p.
265).
Ainda para Piaget, a linguagem tem um papel no acabamento das estruturas
operatórias, no entanto esta depende de estruturas em conjunto, como explicita nessa afirmação:
“a linguagem pode constituir uma condição necessária do acabamento das operações lógico-
matemáticas sem ser, entretanto, uma condição suficiente para o seu acabamento.” (PIAGET,
2009, p. 265).
Como, para o referido autor, as raízes do pensamento são anteriores a linguagem:
“no nível sensório motor já vemos se elaborar todo um sistema de esquemas” (PIAGET, 2009,
p. 266). Nesse sentido, observamos que se parte de um conceito prático para chegar ao mais
abstrato. Pois esses esquemas são classificações em que se assentam as generalizações, e assim
atinge-se a função simbólica.
Destarte, “os esquemas comportam naturalmente, por outro lado, uma grande
variedade de relacionamentos, prelúdio da lógica das relações que se desenvolverá
ulteriormente no plano da representação.” (PIAGET, 2009, p. 266). Esses esquemas incipientes
conduzem as deduções práticas, o esquematismo sensório-motor reverberará nas futuras noções
de conservação e reversibilidade operatória.
O período sensório-motor é, evidentemente, o que direciona tudo que vir a se
desenvolver no sujeito posteriormente, uma vez que a inteligência se desenvolve em etapas do
desenvolvimento que não podem ser ultrapassadas pelo estágio anterior sem que já tenha havido
a equilibração do estágio precedente: “somos então, levados a admitir que, anteriormente às
operações formuladas pela linguagem, existe uma espécie de lógica das coordenações das ações
comportando notadamente relações de ordem e relações de encadeamento”. (PIAGET, 2009, p.
267).
desencontro entre a ação da criança e do meio). [...]. Tais conflitos agem como propulsores do
desenvolvimento.”
Porque é esse universo simbólico que organiza a criança a cada nova realidade, é
das experiências com o mundo que ela tira explicações, lógicas a seu modo, para satisfazer seus
questionamentos acerca do funcionamento das coisas. A linguagem expressa suas
representações e suas ações. É na imitação que as crianças demonstram a relação entre o plano
mental e suas ações. Assim, “o aparecimento da função simbólica e da linguagem, que em
interação com a cultura, fornecerão ao pensamento os instrumentos para a sua evolução.”
(LUSTOSA, 2016, p. 139).
Diretamente sobre a ideia de causa e feito que possa ser atrelada a linguagem e o
pensamento, podemos refutar tal concepção com a seguinte afirmativa: “a bem dizer, ela não é
causa do pensamento, mas é o instrumento e o suporte indispensáveis para seus progressos.”
(WALLON, 2007, p. 155). À luz do que foi expresso, a linguagem não é propriamente a causa
do pensamento, porém não se pode ocultar sua importância para instrumentalizá-lo, destarte o
progresso advindo das mais diversas associações posteriores, formuladas a partir desse suporte.
Um adendo importante, que não pode ser desconsiderado dentro dos postulados
wallonianos é a ideia de que o pensamento é capaz de transformar os objetos e de se sobrepor
a eles: “superpõe aos momentos da experiência vivida o mundo dos signos, que são as
referências do pensamento, num meio onde ele pode imaginar e seguir trajetórias livres, unir o
que estava disjunto, separar o que tinha sido simultâneo.” (WALLON, 2007, p. 155).
Em referência ao período que a criança está centrada na motricidade, o mesmo
teórico coloca: “o gesto precede a palavra, depois vem acompanhada dela, antes de acompanhá-
la, para finalmente fundir-se em maior ou menor medida a ela.” (WALLON, 2007, p. 157). Essa
etapa é vista como preponderante para o que ele denomina como aparelho-motor, atrelada ao
realismo motor, que impede a utilização de referências ou de signos verbais, pois, nesse período,
as diferenças feitas entre o plano real e o psicológico ainda não são suficientes. Seu pensamento
se configura como sincrético, justamente por essa dificuldade de diferir os dois planos.
A importância de experiências construtivas nesse período tão confuso, de intensa
revolução cognitiva na vida da criança, fica pela seguinte asseveração: “em geral são precisos
lentos tenteios para que a criança penetre seu sentido, reconheça suas partes e ajuste cada uma
delas e sua significação própria.” (WALLON, 2007, p .160).
Doravante a essas experiências, o sujeito vai reformulando suas constatações acerca
do mundo, e vai deixando de somente imitar a realidade; o pensamento, vai se lapidando,
criando novos contornos para as ações, como é colocado a seguir: “também a representação,
51
que inevitavelmente se insinua entre a palavra e a coisa com um vestígio e evocador comuns,
começa opondo suas exigências próprias as experiências brutas. Ela é imitação e estabilização.”
(WALLON, 2007, p. 161).
O pensamento reflete as ações do próprio sujeito no mundo, pois o que é subjetivo
e o que é objetivo estão em uma teia difícil de desenrolar, “a criança não consegue se isolar do
espetáculo que a cativa ou do objeto que deseja.” (WALLON, 2007, p. 164). Isso é causado
pela indiferenciação entre os planos motores e mentais, entre o que a criança sente e o que está
ao seu redor.
Uma criança com o nível de pensamento com pouco discernimento sobre a
qualidade das coisas. O que é comum, por exemplo, dois objetos podem uni-las em situação
indistintas. Essa lógica é fruto da qualidade do pensamento sincrético que inclusive é refletido
na fala, “um simples ponto de contato podendo acarretar a coincidência com o todo.”
(WALLON, 2007, p. 166). Nessa lógica o que é transitório acaba se tornando típico,
característico, acabado.
Quando a formação de imagens mentais torna-se mais elaborada como as funções
representativas, a criança tem “tanto menos obstáculos quanto mais descontinuidade e ao
mesmo tempo mais repetições houver no próprio exercício do pensamento.” (WALLON, 2007,
p. 179). Podendo lançar mão de esquemas intelectuais mais subjetivos, não baseados somente
nas ações objetivas.
Após alguns testes para avaliar a inteligência do macaco, chega à seguinte conclusão: “nunca
demonstraram a menor intenção de representar o que quer que fosse de seus desenhos, nem o
mais leve indício de atribuir qualquer significado objetivo aos seus produtos.” (VIGOTSKI,
2005, p. 44). Tal afirmativa indica que a capacidade de representar é algo que distingue a
inteligência humana dos outros animais.
(1). O pensamento e a fala têm raízes genéticas diferentes; (2) As duas funções se
desenvolvem ao longo de trajetórias diferentes e independentes; (3) A estreita
correspondência entre pensamento e fala, característica do homem, não existe nos
antropóides. (4) Na filogênese do pensamento e da fala, pode se distinguir claramente
53
instrumento do pensamento, a atividade da linguagem que antes era um aspecto na vida social
desse sujeito torna-se instrumento do seu interior de forma individual. A linguagem, a partir de
então, orientará o curso da atividade mental. O egocentrismo desse período não se refere ao
indivíduo centrado em si mesmo, mas a uma marca da assimilação que indiferencia o interno
do externo, o subjetivo do objetivo.
Ao contrário dos demais animais, os seres humanos apresentam uma evolução
qualitativa na fala e no pensamento, e no momento crucial dessa evolução, apesar de terem
raízes distintas ambos se encontram e “fala torna-se racional e o pensamento verbal.”
(VIGOTSKI, 2005, p. 61). Nesse período, as crianças se veem no mundo com signos, símbolos
e significados, mas antes “o uso funcional de um novo signo é precedido por um período de
domínio da estrutura externa do signo.” (VIGOTSKI, 2005, p. 62).
Supõe-se, pela relação considerada entre o signo e a sua estrutura externa, que os
sujeitos precisam se apropriar a priori concretamente do conceito do objeto para conseguir dar
significado de acordo com as próprias apreensões daquilo que é percebido pelas suas
representações mentais: “o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, isto
é, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência sociocultural da criança.”
(VIGOTSKI, 2005, p. 62).
Não se pode atrelar ao pensamento verbal uma concepção orgânica, ancorada na
ideia de que em um dado momento, por volta dos dois anos, independentemente da história de
vida do sujeito, de suas trocas afetivas e de como ele se relaciona com seus pares, a sua
inteligência “vai dar um salto” cognitivo sem precedentes e alcançar um nível de elaboração
mental capaz de atribuir significado ao que antes eram balbucios imitativos e se transformar em
um comportamento relacionado ao pensamento, aos signos, aos símbolos e aos significados.
Assim como assinala o autor, no trecho abaixo:
A opção feita pelo estudo de caso acontece com vias na necessidade de fazer uma
observação detalhada, sobretudo dos indivíduos investigados, pela possibilidade de perceber o
objeto de forma longitudinal. Investigando como se comportam as suas funções / mecanismos
cognitivos dos sujeitos pesquisados em ambientes e atividades diversas da escola. Na
concepção de Bogdan e Biklen (p. 96, 1994) “É evidente que quanto mais tempo se mantiver
no mesmo trabalho mais informação acumula, mas o que se verifica é que se atingiu um ponto
em que a aquisição de uma informação nova é diminuta. [...] O segredo está em descobrir esse
ponto de parar.”
Flick (2009, p. 204) assinala que “[...] as práticas apenas podem ser acessadas por
meio da observação, uma vez que as entrevistas e as narrativas somente tornam acessíveis os
relatos das práticas, e não as próprias práticas.” Observar o contexto da pesquisa exige do
pesquisador o refinamento do olhar, o que a Pletsch (2009) “momento de dialogar entre o
vivido em campo e o referencial teórico investigado” (p. 121).
A expectativa, com esse foco no caso em particular de sujeitos, é que possamos
reunir evidências sobre o funcionamento cognitivo desses alunos com DI para melhor entender
os percursos de aprendizagem e, de certa forma, generalizar as descobertas. Iniciou-se a
pesquisa de campo a partir da aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Faculdade de
Educação da Universidade Federal do Ceará, sob o Parecer nº 18665419.0.0000.5054.
As funções cognitivas bem como as fragilidades delas repercutindo nos
comportamentos dos sujeitos com D.I e as estratégias usadas pela pesquisadora, nas sequências
didáticas que envolviam esses sujeitos, foram os eixos de trabalho, na medida em o
funcionamento cognitivo tem relação com as experiências de aprendizagem mediada. Desse
modo, neste trabalho, analisam-se as funções cognitivas empregadas por crianças com
deficiência intelectual, especificamente em atividades didático-pedagógicas de linguagem
escrita, no contexto da sala de aula.
As etapas seguidas para a pesquisa quanto aos procedimentos e instrumentos de
coleta de dados, foram:
7
Programa Alfabetização na Idade Certa. Secretaria de Educação do Ceará.
8
Todas as sessões de intervenção foram planejadas com antecedência e produzidos seus meios e recursos de
realização pela pesquisadora e orientadora.
9
Segundo Santos; Abuquerque e Mendonça (2007, 102) “As atividades sequenciais são formas que
tradicionalmente [...] foi adotado para articular diferentes partes de uma aula ou de aulas seguidas. O princípio
fundamental é fazer com que não haja rupturas bruscas entre uma atividade e outra. Diferentes formas de
conduzir atividades sequenciais podem ser adotadas. Um tema geral, um conteúdo de ensino, um tema de um
texto lido ou um gênero textual pode ser o elo de articulação entre atividades didáticas”.
59
aos sujeitos com DI. incluídos nas salas de aula do ensino comum, em relação à aprendizagem
da leitura e da escrita.
As etapas de avaliação dos estudantes e de intervenções diretas se realizaram, mais
especificamente, no espaço da sala de Recursos Multifuncionais (SRM), onde foram realizadas
as primeiras aproximações com as crianças selecionadas para a pesquisa e as atividades
avaliativas diagnósticas. Na sala de aula comum foram realizadas as observações e a
implementação de situações pedagógicas em atividades coletivas (para a turma toda, porém,
com foco nos estudantes com DI).
Para a elaboração das atividades de mediação, levamos em consideração o processo
de alfabetização em que os sujeitos se encontravam e o tipo de mediação que melhor repercutiria
na emergência das funções cognitivas, e, a partir dessas atividades, buscamos trabalhar o
processo de oralidade, leitura e escrita com os sujeitos. A intervenção consistiu na segunda
etapa desta pesquisa, por meio do trabalho sistematizado da narrativa com a história:
Chapeuzinho Vermelho e O Grande Rabanete. As sessões foram realizadas em cinco dias de
acordo com que a pesquisadora ia combinando com a professora, por um período de um mês,
em sessões de 120 minutos cada uma.
Apresentamos, no quadro a seguir, o resumo das atividades realizadas no campo.
atenção da escola, são identificados pelos professores, porém não constam nos levantamentos
quantitativos como estudantes público-alvo desse atendimento.
A escola conta com um prédio anexo para crianças da Educação Infantil (salas do
Infantil I, II, III e IV) e o prédio principal da escola, onde se localizam as salas do Infantil IV
ao 5º ano do Ensino Fundamental.
Apesar do grande número de crianças que precisam do Atendimento Educacional
Especializado, há apenas uma professora do AEE10, Mesmo não estando presente na maior parte
do período em que transcorreu a pesquisa, a mesma contribuiu, sobremodo, inicialmente, para
a sua viabilidade, discutindo sobre os convenientes e inconvenientes da pesquisa ocorrer
naquele lugar, dando um panorama da cultura e das práticas realizadas ali, que foi de grande
valia para a inserção do estudo doravante corrente.
Havia dois critérios para a execução da pesquisa que eram primordiais: a escolha
de alunos comprovadamente com DI, pertencentes a turmas do ciclo de alfabetização,
comumente na cidade de Fortaleza as turmas de primeiro e segundo ano se engajam nesse
processo.
A perceber na escola escolhida, nas turmas de primeiro ano não havia crianças que
atendessem ao outro critério, não tinham ainda um diagnóstico fechado com uma equipe
médica, apesar de observações já realizadas pela professora do AEE. Por isso, o nosso interesse
se voltou para a turma de segundo ano; nesse ano escolar costumeiramente as crianças sob
suspeita de alguma necessidade específica obtêm o laudo médico com mais facilidade.
É interesse da escola que as crianças com alguma deficiência, que justifique um
baixo rendimento, obtenha o laudo para que sua nota não entre na contagem do SPAECE
(avaliação externa realizada com crianças do 2° ano do Ensino Fundamenta), já que seus níveis
de alfabetização não contam, como dados, para o nível de alfabetização da escola.
Em crítica a essas práticas das escolas de se preocuparem somente com o laudo para
atestarem baixo desempenho tão somente por causa da deficiência. A esse respeito, Araújo
(2018) pondera:
10
A professora de AEE da escola se encontrava em licença no período de realização da etapa de campo e, por isso,
não pôde estar presente para colaborar com os atividades e procedimentos desta pesquisa. Conhecemos a
professora nas etapas iniciais de aproximação com a escola e entrevista inicial.
62
11
Todos os sujeitos do estudo são identificados por pseudônimos para proteger suas identidades, apesar de termo
de livre esclarecimento da pesquisa incluir autorização de uso da imagem.
63
e não conseguiu oralmente recontar a história lida. Apesar disso, compreende comandos e
utiliza-se de expressões orais para se comunicar. Não se nega a fazer as atividades escritas, mas
não percebemos envolvimento, boceja, baixa a cabeça em sinal de cansaço o mesmo acontece
para a leitura: vai passando o dedo nas linhas de maneira aleatória e quando lemos para o mesmo
não se demora olhando para o texto, somente se tiver imagem, demora na observação.
Nunca solicita a ajuda da professora durante as atividades; vai escrevendo as
“bolinhas”/garatujas até não haver mais espaço. Ela costuma passar uma atividade diferente
para o aluno ao invés de oferecer um recurso para que ele seja capaz de fazer a mesma tarefa
que os demais ou uma mediação mais direta e demorada. Após a indagação sobre por qual
motivo ele não fazia as mesmas tarefas que os demais, ela disse que ele não conseguia, e que
por isso passava uma tarefa para o nível dele, as tarefas eram de colagem, pintura e para cobrir
pontinhos.
A sua relação com os outros alunos não chegava acontecer com trocas efetivas, pois
não havia espaço para tal. O aluno senta sempre à frente com a cadeira encostada a mesa da
professora. Durante o período de observação, as cadeiras ficaram na maioria das vezes
enfileiradas, uma vez em círculo e outra em grupo. Os outros alunos não o têm como parte da
turma, passam por ele e apertam suas bochechas, passam a mão na sua cabeça, fazem
brincadeiras como se estivessem falando com um bebê e não como uma criança de idade
próxima às suas. Ele se mostra irritado com os carinhos exacerbados e fala alguns xingamentos,
ou devolve com tapas e beliscões.
A professora repreendeu alguns alunos que fizeram isso, mas ela se refere a ele em
algumas falas como a um “bebê”, como uma mãe que fala com carinho do filho que começou
a falar, chegando a reproduzir com encanto suas pronúncias erradas. O sujeito ainda usa fraldas,
a professora disse que inqueriu a família sobre o uso da fralda, quando observou que ele não
solicitava a ida ao banheiro, a irmão disse que ela não precisaria se preocupar porque ele sempre
viria de fraldas. Perguntada sobre o que disse para a irmã do menino, ela respondeu que alertou
sobre o fato dele já estar grande para uso das fraldas, mas a família não quis deixar de usar tal
recurso.
A colega que mais se aproxima é a mesma garota com autismo, que senta próximo
e conversa com o Sujeito B, costuma levá-lo pela mão para o recreio para o lugar reservado às
crianças que não gostam de barulho, pois é sabido pelos profissionais da escola que o mesmo
se incomoda com barulhos e aglutinações de pessoas em demasia. A professora relatou que ele
não participa da ida ao cinema que faz com a turma e que já se recusou a entrar em teatros.
Chegando lá, o garoto costuma brincar com peças de montar ou com os brinquedos que os
65
outros colegas trazem, o que acaba causando conflitos porque se recusa a devolver os
brinquedos, escondendo-os na lancheira. Quase sempre lancha sem auxílio, poucas vezes, a
profissional de apoio é solicitada para abrir alguma embalagem mais resistente.
Sua volta a sala de aula é monitorada, pois tem o hábito de esconder-se para não
retornar à sala. A professora é quem se mobiliza para sua busca, quando percebe que ele está
demorando muito ou quando a aluna que o acompanha retorna sozinha. Ele, na maioria das
vezes, está na quadra sentado olhando para o vazio, mas também pode fazer algo inesperado,
presenciamos um dia no qual tirou a camisa e jogou-a no teto da escola, questionado sobre a
motivação de ter realizado tal ação, falou que a camisa estava molhada, apontou para a camisa
e disse “molhada” e fez uma expressão julgada pela professora como riso, então ela reclamou
dele estar rindo do “malfeito”, o riso ficou claro e a turma inteira endossou o coro de risadas.
O sujeito B foi diagnosticado com DI, aos quatro anos de idade, sendo, segundo a
professora do AEE, “bem acompanhado quanto aos profissionais de saúde, tendo sido o laudo
construído com uma observação de 4 dias de internação e que recebe atendimento psicológico,
psicopedagógico e médico, além do AEE oferecido na própria escola. Como aconselha Araújo
(2018)
maioria da sala para executar as tarefas de classe. O que também pode ser um fato que cause
estranhamento nos colegas a seu respeito, seja seus gestos hesitantes e ansiosos como o mexer
constante das mãos e o estalar da língua. Sua colega mais próxima é uma garota com autismo
com quem sempre conversa e prefere sentar-se ao seu lado na sala, apesar de também terem
conflitos, por pequenas discordâncias.
Este também recorre à professora com frequência para reclamar de coisas que os
alunos estão fazendo que lhe pareçam erradas, mesmo que a situação não o envolva. Esse
comportamento regulador da conduta alheia faz com que os outros alunos se irritem e
demonstrem pouca aceitação a sua pessoa nos momentos de algumas brincadeiras. Porém,
mesmo que o aluno pratique em excesso a delação dos demais, a conduta de colocar o colega
para ser confrontado pela professora é uma cultura instituída na sala.
O seu colega de sala também na condição de pessoa com deficiência intelectual não
é bem aceito por ele, durante algumas tarefas fica claro que ele se impacienta com as
dificuldades do outro e explicita coisas do tipo: “ele não sabe ler” “ele não sabe nem pintar”. O
seu comportamento também importuna essa outra criança, pois fala coisas do como: “olha ele
está embaixo da mesa” “ele está derramando água”, essa maneira de agir querendo tutorear esse
colega faz com que ele refute sua aproximação, algumas vezes acaba chegando a ser beliscado.
O sujeito B participa das produções escritas da turma, mas há dias em que não traz
o material: agenda, caderno ou livro de atividades. A professora chegou a relatar que esse sujeito
chegou a trazer a tarefa feita com o lápis de olho da mãe, nesse momento deixou subentendido
que achava a educação que o mesmo obtinha oriunda de seu lar era permissiva. Constatação
essa baseada no relato que a mãe fazia, dizendo que em casa ele demonstrava um
comportamento impulsivo e resistente às regras, inclusive que batia e buscava disputar atenção
dos pais, mostrando comportamento semelhante ao de seu irmão de 4 anos.
É percebido que, durante as tarefas, a professora busca auxiliá-lo, principalmente
quando chega a solicitar, e que também permite que outras crianças o ajudem. Porém, a
professora não persiste quando quer deixar alguma tarefa de lado como faz com os outros
alunos. Segundo ela mesma, porque ele se desestabiliza fácil, então ela permite que ele
abandone para que não chore ou se irrite, por isso tem conseguido que ele avance aos poucos.
A professora não oferece nenhum recurso a mais que a outras crianças sem deficiência.
A sua escrita está apoiada na sua fala, durante a tarefa, ele fica falando como que
silabando as palavras que deseja escrever. Consegue escrever, na maioria das vezes, de maneira
convencional/nível alfabético, principalmente, palavras com sílabas canônicas (sílabas
simples); palavras não-canônicas (sílabas complexas), se atrapalha ou como que “paralisa” ou,
67
então, recorre a apoio externo, ao mediador; comum, interpelar a professora: “tia como é pra
escrever tal palavra?” Por exemplo: como é “lhe”, se referindo sempre a uma sílaba específica
ao invés da palavra toda. Outra marca de sua escrita é a ausência de segmentação. Isso também
o impede de continuar a leitura, então começa um comportamento de hesitação: ecolalia, estalar
da língua, dizer que não consegue e que não sabe ler. A escrita, apresentada durante as
avaliações conceituais dos níveis de escrita, com base na psicogênese da leitura e da escrita, e
nas tarefas escolares, demonstram que se encontra no período alfabético, apresentando
dificuldades ortográficas comum a esse nível, como toda criança em processo de alfabetização.
Quanto as brincadeiras coletivas, o estudante tem dificuldade de participar, por
exemplo quando sua turma quer brincar durante o recreio de pega-pega, ele começa a brincar,
mas logo se chateia e senta em algum lugar e alega que não quer mais brincar porque foi pegue,
ou alega que as crianças da brincadeira são muito agressivas. Sua parceira mais chegada durante
o recreio vai para uma área onde ficam algumas crianças com jogos e brinquedos.
Nessa escola, há muitos casos de pessoas com deficiências de diversos tipos, e nesse
espaço ficam principalmente as crianças, que durante o recreio estão mais sensíveis ao barulho,
choram ou se assustam com os gritos das outras que participam de brincadeiras mais agitadas.
A professora do AEE pede para que uma profissional de apoio fique nesse lugar, durante esse
período, auxiliando algumas crianças com os lanches e as brincadeira; apesar de não ser aberto,
esse lugar é espaçoso e confortável. E não ficam apenas crianças com deficiência, como também
não são todas as crianças com deficiência que ficam lá.
Por vezes, o Sujeito B pede para ficar em sala com a professora, que não costuma
ir a Sala dos Professores para lanchar, apenas pega um café e volta para a sala de aula. Porém
ela o incentiva a ir para o recreio e brincar com os demais, em tom de reprovação pelas suas
queixas, que a mesma julga exageradas ou rebate dizendo que ele também “implica” na mesma
medida que os demais. Por vezes, seu conselho é seguido e ele volta a brincar, e em outras
vezes, ele fica á porta da sala, então se certifica de que bebeu água e foi ao banheiro e abre a
porta com um pouco mais de antecedência que para os demais.
68
i. Seção que apresenta e analisa a expressão dos aspectos envolvidos nos processos
de aprendizagem de estudantes com deficiência intelectual, verificando as
repercussões das funções cognitivas e/ou de suas fragilidades quando da
realização das tarefas escolares e na mediação pedagógica desenvolvida na
referida pesquisa. Além disso, explicita-se a possível relação entre as estratégias
de mediação e/ou situações didático-pedagógicas que mais mobilizaram a
cognição-aprendizagem dos sujeitos com DI, repercutindo no seu envolvimento.
ii. Seção que tece possíveis inter-relações entre o funcionamento cognitivo do sujeito
e os seus desempenhos nas avaliações de leitura e escrita e nas suas sessões
didáticas promovidas pela pesquisadora desses sujeitos nas atividades
pedagógicas e/ou tarefas escolares.
1ª SEQUÊNCIA Essa sequência organizou-se por meio das atividades apresentadas a seguir,
DIDÁTICA DA desenvolvidas nas aulas do dia 05/12/2018 e 06/12/2018:
HISTÓRIA 1. Contação da história “Chapeuzinho Vermelho”; Seguidamente, a proposição da
“CHAPEUZINHO atividade de elaborar uma “lista” coletiva na lousa, tendo a pesquisadora como
VERMELHO” - escriba, com os lugares pelos quais a Chapeuzinho passou; Solicitação de
5/12/2018 e 6/12/2020 desenho (individual) dos lugares citados pela turma; Atividade (folha
xerocopiada) de sequência lógica/ordenação de imagens de cenas da história a
serem colocadas em sequência.
2. Em continuidade do dia 06/12/2018, iniciamos as atividades com o reconto oral
da história da Chapeuzinho Vermelho trabalhada na aula anterior, destacando
os marcos principais do enredo: agora, conduzindo os sujeitos a refletirem sobre
“os riscos de Chapeuzinho se encontrar com o Lobo”. Seguidamente, foi
solicitado que elaborassem um bilhete avisando Chapeuzinho dos perigos de
encontrar-se com o lobo (Essa atividade durou 30 minutos). Ao final, os
71
Durante a contação da história: Todos estão atentos, inclusive o Sujeito com deficiência
intelectual B, que não “tira” os olhos, nem se distrai da direção do livro manuseado pela
pesquisadora. Demonstrou excitação em determinados trechos quando suspendia o corpo e
apoiava os cotovelos na mesa, como se estivesse querendo ouvir ainda mais atentamente o
que estava sendo dito. O segundo aluno desse estudo [aqui denominado de Sujeito A], não
estava presente nessa aula.
Atividade de desenho dos locais por onde Chapeuzinho passou: O Sujeito B estava muito
empolgado com a atividade, ele falou durante todos os passos de sua execução, oralizando o
planejamento de seu desenho e chamando a pesquisadora para que visse como estava se saindo
durante as etapas. Demonstrou motivação para realizar a tarefa, conversou com as colegas que
estavam ao seu lado e mostrou como estava fazendo o seu desenho. Nenhuma criança
apresentou resistência em relação à atividade, todos mostraram concentração e esmero para
realizá-la.
Atividade xerocopiada com a sequência da história - ordenação das imagens relacionadas aos
fatos ocorridos: Sujeito com DI se mostrou concentrado em realizar sua tarefa. As suas trocas
com a colega ao lado eram sempre sobre a atividade. Todas as vezes em que a pesquisadora
passou por sua mesa, ele estava envolvido nessa realização comentando a cor que iria pintar,
falando com a colega para que cortasse as cenas assim como ele (sobre a linha). Foi o primeiro
de toda a sala a solicitar a cola à pesquisadora.
72
Reescrita da história [pelos estudantes] a partir das imagens: O Sujeito B, assim como os
demais, voltou-se para a atividade. Essa foi uma atividade que prendeu a sua atenção,
bem como a dos demais. [...] O Sujeito B começou a escrever o reconto, mas esquecia muitas
palavras, por exemplo: ao escrever as pronunciadas, oralizando seu pensamento, somente
escrevia duas ou três palavras em nível silábico-alfabético, ou seja, com omissão de algumas
sílabas. Uma colega, de forma espontânea, ficou colaborando com a realização da tarefa.
Funcionando como suporte ao seu pensamento, ela formulava a frase junto com ele e repetia
para que ele lembrasse todas as palavras ao escrever. Essa foi uma mediação espontânea e
direta, pois pesquisadora apenas proporcionou um ambiente onde as trocas pudessem se
efetivar e não tolheu suas manifestações. (Diário de campo da pesquisadora 05/12)
O nível de empenho da maioria da turma foi notoriamente alto, uma vez que, por
onde a pesquisadora passava, percebia que as conversas eram em torno da resolução do
problema. Segundo Oliveira-Formosinho e Araújo (2004, p. 76), o envolvimento e o nível de
empenho pode ser
A cena acima foi fruto de uma experiência vivenciada na sala de aula, quando se
realizava uma das intervenções pedagógicas, as quais protagonizamos. Na ocasião, a
pesquisadora estava à frente do grupo realizando o momento de mediação, que tratava da
implementação de uma das sequências didáticas planejadas.
A aula foi interrompida por alguns instantes, pois o coordenador da escola entrou na sala para
perguntar o número de crianças faltosas. Como a professora não havia deixado a lista com os
nomes para a chamada, foi perguntado aos próprios alunos presentes quem havia faltado.
Faltaram três crianças, mas somente foram citadas duas. Então a pesquisadora lembrou-os que
o Sujeito B havia faltado; para incluí-lo nessa lista. Todavia, uma das crianças da sala diz em
voz alta: “Tia, mas ele não conta”. Perguntada sobre o motivo, ela disse: “ele não conta porque
ele é especial”. Nesse momento, argumentou-se que ele também era aluno da sala e que, pelo
fato de ele não estar presente, a sua falta tinha que constar. Mas a garota retorquiu: “Ele não
conta, a tia disse que ele não conta”. O coordenador saiu da sala sem notificar a falta da criança
na lista. (DIÁRIO DE CAMPO - 05/12/2018).
A aula iniciou relembrando o assunto da sequência didática da aula passada, dando ênfase à
personagem mais famigerada da história, a polêmica figura do lobo mau. A pesquisadora fez a
seguinte reflexão: “Será que haveria alguma maneira de a Chapeuzinho não se encontrar com
o lobo?”. Todos disseram que não. Então a pesquisadora instigou: “E se a Chapeuzinho fosse
alertada sobre o fato de haver um lobo na floresta?”. Alguns se manifestaram afirmando que
talvez ela não passasse por lá se soubesse que o lobo estaria esperando por ela. Essa foi uma
estratégia de mediação que se utilizava de questionamentos para provocar no sujeito o
envolvimento e o entendimento do que seria proposto na tarefa, pois, se a pesquisadora
apresentasse a proposta apenas dizendo que eles iriam escrever um bilhete para a Chapeuzinho,
pedindo que ela tivesse cuidado com o lobo, certamente não colocaria esses sujeitos na posição
reflexiva diante da importância desse alerta. O Sujeito B acompanhava com atenção, tentando
responder como os demais colegas. Já o Sujeito A repetiu algumas palavras que os colegas
diziam, mas o seu olhar estava voltado para o lado contrário da pesquisadora e ficava olhando
para a câmera todo o tempo em que eram tecidas tais indagações. Depois dessas indagações,
foi proposto que escrevessem um bilhete alertando a Chapeuzinho sobre os perigos de encontrar
com o lobo. A atividade se deu sendo solicitada a escrita de um bilhete. Foram destacados os
aspectos mais importantes apontados pela turma: cumprimentar a pessoa destinatária do bilhete,
colocar a data e assinar. (ATIVIDADE DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DA HISTÓRIA
“CHAPEUZINHO VERMELHO” - DIA 06/12/ 2018).
76
Pediu-se que um dos alunos pudesse exemplificar o conteúdo que poderia conter no bilhete
para que Chapeuzinho realmente entendesse que o Lobo era muito perigoso e o seu
encontro com ele deveria ser evitado. Nesse momento, a pesquisadora direcionou a pergunta
para o Sujeito B e ele respondeu: “Chapeuzinho, cuidado com o Lobo!”. A mesma pergunta foi
direcionada para o Sujeito A, que disse apenas: “o Lobo”. Essa pergunta foi feita a várias
crianças para que expressassem as ideias para o bilhete. (ATIVIDADE DA SEQUÊNCIA
DIDÁTICA DA HISTÓRIA “CHAPEUZINHO VERMELHO” - DIA 06/12/ 2018).
atenção, o Sujeito A tinha uma espécie de “atenção oscilante” e esboçava cansaço. Enquanto a
pesquisadora passava entregando os bilhetes, o Sujeito B chamou-a, sobressaltado, querendo
mais explicações sobre como deveria começar o bilhete. Foi elencado coletivamente uma série
de maneiras, como: querida, adorável, amável, amiga, dentre outros. (06/12/2018 DIÁRIO DE
CAMPO DA PESQUISADORA)
ação se faz necessária para incentivá-lo a vivenciar a mesma aprendizagem que os demais,
fazendo adequações que possam concretizar a sua participação.
Figura 7 – Bilhete produzido pelo Sujeito A. Figura 8 – Bilhete produzido pelo Sujeito B.
Ao chegar a vez do Sujeito B, ele se mostrou um pouco tímido, suas pernas pareciam
bastante inquietas. Começou bem, mas foi demonstrando hesitação, então os colegas
próximos se colocaram à disposição para ajudá-lo. Sem qualquer solicitação, duas
crianças levantaram-se de suas cadeiras e foram auxiliá-lo. Como demonstrou dificuldade
de ler o que havia escrito, essas crianças, que começaram a assisti-lo, criaram trechos que
não existiam no bilhete para tornar a leitura do colega mais coerente e para evitar que ele
se constrangesse e parasse de ler. Esse, perceptivelmente, foi um dos momentos mais
comoventes da pesquisa, pois crianças tão pequenas conseguiram demonstrar empatia, respeito
e solidariedade. Os garotos que se levantaram de suas cadeiras para tornar o texto do colega
crível chegaram ao ponto de completar as sílabas procurando harmonia. No final, enquanto
todos batiam palmas, ele baixava a cabeça em sinal de vergonha. Na sua vez, o Sujeito A
retirou os objetos que estavam em cima de sua mesa para que todos pudessem ver que ele
iria ler algo e que esse momento tinha uma certa solenidade. Não se ouviu nenhuma
palavra sair de sua boca, mas um colega se aproximou dele e disse que ele estava lendo o
seguinte: “Querida Chapeuzinho”. Aquele era mais um momento para uma leitura
solidária. Depois foi possível ouvir a palavra “lobo”. Quando a pesquisadora aproximou-
se para tentar ouvi-lo, a criança que o estava ajudando parou e se intimidou. (06/12/2018
DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
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Fonte: elaboração da pesquisadora
Como o Sujeito A apresentava dificuldades com a escrita convencional, a sua tarefa continha
as palavras para que ele pudesse colá-las.
MÃE VERMELHA BISCOITO
Essas palavras seriam colocadas dentro dos quadros que tinham a quantidade de sílabas
correspondentes à resposta das perguntas acima. Como o Sujeito A não tem uma escrita legível,
essas palavras ficaram disponíveis para que pudéssemos testar o seu uso durante a atividade.
Nessa atividade também, apesar de não terem sido propostas duplas, as crianças se
ajudavam e se apoiavam sobretudo no colega ao lado, pois a arquitetura da sala permitia
essas trocas. O Sujeito B pegou a folha para tentar resolver as atividades e começou a
trocar informações com os colegas sobre como começaria a tarefa. O Sujeito A não
demonstrou nenhum sinal de volição para iniciar a atividade, pegou o papel que lhe foi dado e
ficou inerte diante dele. A pesquisadora foi ao seu encontro tentando auxiliá-lo, leu a
atividade, explicou ponto a ponto das perguntas para que ele pudesse lembrar-se das
respostas, deu pistas recontando trechos da história para que lembrasse as respostas, mas
nada disso fez com que ele respondesse, nem ao menos tentasse. Então a pesquisadora começou
a apontar as respostas que deveriam ser circuladas, porém o mesmo parecia não
compreender o comando. Desse modo, ela lhe ajudou a posicionar o lápis para que ele
pudesse fazer os círculos. Mesmo mostrando o perímetro que deveria ser circulado, o sujeito
continuava parecendo não entender a solicitação. Numa outra tentativa, passou um traço
embaixo da palavra que deveria ser circulada. Outros alunos chegaram no local para
esclarecer dúvidas e o sujeito se dispersou. A partir desse momento, um aluno (o mesmo que
tentou ajudá-lo a ler o bilhete) aproximou-se para tentar cooperar com ele. Ficou monitorando
a atividade e, diante da dificuldade, ele segurou na mão dele para fazer os movimentos
circulares que permitiam circular as palavras do caça palavras. O próprio aluno se fez
como um instrumento que tornou possível a realização da atividade pelo outro.
(06/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
Na segunda parte da atividade, as palavras foram cortadas, com o apoio de outras crianças,
para serem coladas na folha. O aluno não conseguiu achar com autonomia nenhuma das
respostas que deveriam ser coladas, nem mesmo quando a pesquisadora pedia para
buscar a primeira letra da palavra. Então os colegas foram indicando o lugar onde a
palavra deveria ser colada. Quanto às palavras cortadas e colocadas em cima da mesa da
carteira do sujeito, ele não demonstrou compreensão dos comandos “pegar” e “colar” e
começou a assoprá-las, demonstrando cansaço e falta de vontade de continuar a atividade.
(06/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
O Sujeito A pode ter despertado para as ações de colagem do conteúdo porque exigia menos
de sua cognição, pois é uma tarefa de “menor esforço cognitivo” e de fácil compreensão (poucos
82
comandos diretivos). Tomando como complexo o que está relacionado aos esquemas abstratos, segundo
a lógica piagetiana. Essa tarefa em questão estava distante tanto do seu estágio do desenvolvimento
cognitivo quanto do seu nível psicogenético, já que o Sujeito A se encontra no nível psicogenético pré-
silabico, apesar da mediação da pesquisadora e da ajuda insistente dos alunos ao seu redor que gerou
grande engajamento por parte da turma. O sucesso do Sujeito A na execução da tarefa se tornou a tarefa
da
O GRANDE RABANETE
(TATIANA BELINKY)
O VOVÔ SAIU PARA A HORTA E PLANTOU UM RABANETE.
O RABANETE CRESCEU E FICOU GRANDÃO.
O VOVÔ QUIS ARRANCAR O RABANETE PRA COMER NO ALMOÇO.
ENTÃO ELE FOI PRA HORTA E COMEÇOU A PUXAR O RABANETE.
PUXA-QUE-PUXA E NADA DE O RABANETE SAIR DA TERRA.
ENTÃO O VOVÔ CHAMOU A VOVÓ PRA AJUDAR A PUXAR O RABANETE.
A VOVÓ SEGUROU NO VOVÔ, O VOVÔ SEGUROU NO RABANETE.
PUXA-QUE-PUXA E NADA DE O RABANETE SAIR DA TERRA.
ENTÃO A VOVÓ CHAMOU A NETA PRA AJUDAR A PUXAR O RABANETE.
A NETA SEGUROU NA VÓ, A VÓ SEGUROU NO VÔ, O VÔ NO RABANETE.
PUXA-QUE-PUXA E NADA DE O RABANETE SAIR DA TERRA.
ENTÃO A NETA CHAMOU O TOTÓ PRA AJUDAR A PUXAR O RABANETE.
O TOTÓ SEGUROU NA NETA, A NETA NA VÓ, A VÓ NO VÔ, O VÔ NO RABANETE.
PUXA-QUE-PUXA E NADA DE O RABANETE SAIR DA TERRA.
ENTÃO O TOTÓ CHAMOU O GATO PRA AJUDAR A PUXAR O RABANETE.
O GATO SEGUROU NO TOTÓ, O TOTÓ NA NETA, A NETA NA VÓ, A VÓ NO VÔ, O VÔ NO RABANETE.
PUXA-QUE-PUXA E NADA DE O RABANETE SAIR DA TERRA.
ENTÃO O GATO CHAMOU O RATO PRA AJUDAR A PUXAR O RABANETE.
O RATO SEGUROU NO GATO, O GATO NO TOTÓ, O TOTÓ NA NETA, A NETA NA VÓ, A VÓ NO VÔ NO
RABANETE.
E PLOP! ARRANCARAM O RABANETE DA TERRA!
-- EU SOU O MAIS FORTE – DISSE O RATO.
ENTÃO TODOS SENTARAM E JUNTOS COMERAM O GRANDE RABANETE, QUE ERA TÃO GRANDE QUE DEU
PRA TODOS, E AINDA SOBROU UM POUCO PARA A MINHOCA QUE PASSAVA POR ALI.
E VOCÊ ACHA QUE O RATO ERA MESMO O MAIS FORTE?
84
Começamos a atividade com a apresentação de um rabanete feito de tecido, grande, para que
eles pudessem formular hipóteses a partir daquele objeto sobre e a relação com a história que
seria contada. As primeiras perguntas foram sobre o objeto em si: “Vocês sabem o que é isso?”.
As respostas foram de tomate à rabanete. Esses primeiros momentos geraram muita
expectativa e especulação. Aqui, estavam todos atentos. Inclusive o Sujeito A e o Sujeito B,
que se apresentavam visivelmente focados no objeto, quase como em um efeito “hipnótico”.
Quando a pesquisadora pegou o livro em suas mãos, dizendo que iria contar uma história sobre
o objeto referido, a atração continuou. Então ela chamou atenção para a capa e identificação
dos possíveis elementos que fariam parte da história. Foi cumprida a etapa de predição e
levantamento de hipóteses sobre a história e o enredo. A contação começou, a história foi
sendo dramatizada pela pesquisadora, que ia mostrando as ilustrações e chamando os
estudantes a se envolverem na dramatização do enredo. Com o rabanete sempre em mãos,
a pesquisadora mantinha a atenção deles permanentemente; seus olhos acompanhavam todos
os movimentos que a contadora fazia com o corpo. Eles iam respondendo em coro as
interações provocadas, sobretudo o Sujeito B. Sua voz se destacava respondendo em voz
alta as indagações. O Sujeito A, apesar de não ter sua voz ligada ao coro vindo das
respostas dos demais alunos, tinha o olhar fixo e, às vezes, repetia baixinho o que os demais
colegas diziam. Os alunos foram sendo solicitados para participar da dramatização à medida
que os personagens iam surgindo na história. Na primeira chamada, todos ficaram em polvorosa
para participar, principalmente o Sujeito B. O Sujeito A não demonstrou interesse em participar
como os demais, porém ria e colocava as mãos no rosto como se estivesse achando muito
engraçada a participação dos colegas. Durante a encenação, os estudantes faziam a
movimentação para puxar o rabanete da terra e ele, de sua cadeira, fazia gestos com as mãos
que imitavam a movimentação dos que estavam atuando: arrancando o difícil rabanete da terra,
o que necessitava de muitas mãos, do trabalho coletivo. Em todos os instantes dessa
contação/dramatização todos se mantiveram atentos. (DIÁRIO DE CAMPO - 3/12/2018).
ampla no mundo, de forma cada vez mais competente. Assim, temos a noção de aprendizagem
e de desenvolvimento reciprocamente influenciadas.
Os alunos foram sendo solicitados para participar da dramatização quando os personagens iam
surgindo na história. Na primeira chamada, todos ficaram em polvorosa para participar,
principalmente o Sujeito B. Sujeito A não demonstrou interesse em participar como os demais,
mas ria e colocava as mãos no rosto como se estivesse achando muito engraçada a participação
dos alunos. Quando, durante a encenação, os estudantes faziam a movimentação para puxar o
rabanete da terra, ele fazia gestos com as mãos as quais imitavam a movimentação dos que
estavam atuando. Em todos os instantes dessa contação/dramatização, ele se manteve atento.
Percebendo a empolgação do Sujeito A e o envolvimento com a história, a contadora pediu que
o último aluno a ser chamado o escolhesse para fazer parte da encenação, mas ele se negou
terminantemente. Então outro aluno foi solicitado. Apesar disso, manteve sua atenção ao que
estava acontecendo e permaneceu empolgado. Desse modo, a sua recusa não foi por não estar
gostando, mas pela timidez que é uma característica da sua personalidade. Sua cabeça
continuava acompanhando as movimentações da encenação. Ao final, fizemos uma análise da
moral da história e a turma alcançou a lógica dos questionamentos: deduzir que a colheita do
rabanete se tratava de uma obra coletiva. O Sujeito B acompanhou respondendo a lógica dos
questionamentos como os demais e ainda bateu palmas. O Sujeito A não respondeu as questões.
Depois de tudo isso, fizeram uma recontagem em que a pesquisadora mostrava as imagens
extraídas do livro em um tamanho maior, e os alunos frente às imagens iam recontando a
história. O Sujeito B, como os demais, tentava recontar. À medida que as imagens surgiam, eles
retomavam oralmente os fatos.
[...] Buscamos valorizar a oralidade, pois a fala da criança torna-se tão importante
quanto a ação para atingir um objetivo, e esta precisa ser mediada no contexto cultural,
como pontua Vygotsky (2007). A oralidade no processo de alfabetização precisa ser
trabalhada para que o aluno possa expressar suas ideias, desenvolver a imaginação, e
o interesse pela leitura e escrita que lhe proporcione desenvolvimento e aprendizagem.
(ROSA, 2017 p. 120)
Todas as crianças estavam de posse de suas folhas. A pesquisadora esclareceu mais algumas
dúvidas da turma e começaram o desenho. Ela ofereceu novamente para o Sujeito A a
imagem em que havia todos os integrantes da história como na capa, ele ficou observando-
a. E foram feitas instruções individualizadas de como ele deveria proceder com o desenho.
O Sujeito B conversava com o outro colega ao lado sobre a atividade, e só direcionou-se à
pesquisadora quando teve dúvidas sobre a escrita das palavras, exatamente onde se
encontravam as sílabas complexas. As instruções ao Sujeito A começaram para que ele
atentasse sobre as partes que deveriam compor o desenho, os detalhes dos personagens,
como: o nariz, os olhos, a boca e as orelhas dos animais. Quando a pesquisadora foi solicitada
por outra criança e se afastou para ir ao seu encontro, o Sujeito A parou o que estava fazendo e
ficou olhando para os demais colegas com o lápis na boca. Só retomou a tarefa quando a
pesquisadora voltou para intervir diretamente com ele. O Sujeito B não se desprendeu da
sua tarefa. Quando vinha com uma dúvida e a pesquisadora demorava a dar-lhe atenção
porque estava intervindo com o outro indivíduo com DI, ele a cutucava para que olhasse
para ele e solucionasse a questão, o que era preciso para prosseguir com a atividade.
(DIÁRIO DE CAMPO- 13/12/2018)
estratégias de mediação. Quando ele havia feito uma boa parte do desenho, a pesquisadora
mostrou para a professora como estava, ela fez muitos elogios e ele riu envergonhado. Diante
de solicitações de outros alunos, a pesquisadora se afastou novamente, e, dessa vez, a
professora se aproximou do aluno e buscou em seu material um utensílio que ele carregava
consigo para que ela colocasse água. A professora sempre demonstrou muitas
preocupações com os cuidados relacionados a esse aluno, mas quanto aos estímulos
cognitivos e aos empenhos para tornar esse sujeito autônomo não demonstrou ações que
revelassem esse intuito. Tanto que, durante esse momento descrito, o Sujeito B, que estava
sentado ao lado, pegou o lápis dele e escondeu. Ela viu isso, deixou-o lá, parado sem o
lápis, e saiu para buscar água para ele. (13/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA
PESQUISADORA)
Quando retornou, a pesquisadora entregou uma caixa com lápis para colorir ao Sujeito A. Ele
mesmo abriu e escolheu o lápis com o qual deveria colorir. Começou a pintar sem que a
pesquisadora interferisse com algum auxílio. A professora voltou com a água e entregou-lhe
o copo para que bebesse. Ela mesma recolheu o copo e ele voltou a pintar. A pesquisadora
voltou a sua mesa para colocar a caixa de lápis aberta de uma maneira que o aluno pudesse
ter acesso a todos, o Sujeito B continuou a fazer tudo com independência e solicitou ajuda
somente para a escrita. O Sujeito A aproveitou o momento que a pesquisadora circulava para
ajudar outras crianças, e retirou todos os lápis da caixa para brincar, alguns foram ao chão.
Então ela percebeu, e reorientou a atividade organizando os lápis na sua carteira, explicando
que ficariam ali para que ele utilizasse à medida que fosse necessário, mas alertou que ele não
poderia jogá-los ao chão e nem abandonar a atividade. Depois disso, ela se afastou novamente
e ele se dispersou, mas, desta vez, ele voltou sozinho para a atividade. Parou um pouco
para ouvir algo que o Sujeito B estava conversando e voltou novamente sozinho para o
que estava fazendo. Trocou a cor do lápis e voltou à atividade novamente sem participação
da pesquisadora. Isso tornou a se repetir. Dessa forma, o sujeito revela ter aprendido um
comportamento: persistir na atividade mesmo depois da dispersão momentânea, o que
demonstra que o sujeito se envolveu com ela a ponto de não desistir. Tal ação se constituiu
depois que a pesquisadora insistiu para que ele desse prosseguimento à atividade apoiando-o e
chamando sua atenção sempre que ele se desligava. O sujeito tornou esse comportamento
autônomo. Quando estava próximo de concluir, a pesquisadora deu-lhe a caixa para que
colocasse os lápis dentro enquanto ia atender outras crianças. Ele colocou com certa
dificuldade os lápis, mas acabou retirando-os todos e, por dificuldade com a coordenação
motora, rasgou a caixa. (13/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
Figura 16 – Imagem produzida pelo Sujeito Figura 17 – Imagem produzida pelo Sujeito
A, com intervenção da pesquisadora B, sem intervenção da pesquisadora.
A pesquisadora fez-lhe perguntas sobre as figuras desenhadas, por exemplo: “Onde está a
menina? Onde está o gato? Onde está o rato? Onde está o vovô, ou a vovó ou o rabanete?”. Ele
não teve pertinência sobre o significado da figura, deu mais de uma atribuição à mesma
figura e vice-versa. Durante essas perguntas, o Sujeito B quis se envolver na tarefa, e o Sujeito
A demonstrou chateação. No instante em que se aproximou demais, o Sujeito A fez uma
movimentação rude para que ele se afastasse. No outro momento em que a pesquisadora se
voltou para apreciar o trabalho do Sujeito B, ele rapidamente aproximou sua cabeça para
observar o que outro havia produzido o qual lhe devolveu a mesma hostilização. A
pesquisadora tentou perguntar para o Sujeito A qual nome ele daria para essa história e
o Sujeito B rapidamente tomou à frente para que ele não conseguisse responder. Ela teve
de pedir para que ele não participasse daquele momento. Mostrou-se, por conseguinte,
enciumado. (13/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
A pesquisadora combinou com a turma de deixá-los fazer um desenho livre, depois que
concluíssem a atividade relacionada ao livro interpretado, e perguntou ao Sujeito A o que mais
ele gostaria de fazer; não houve resposta. Ela propôs que desenhasse o rabanete. Ele não se
opôs. Ela mostrou o rabanete, chamou atenção para sua cor, para o formato, para o
tamanho e para os detalhes da folhagem. O sujeito começou a reprodução, sua
92
intencionalidade era clara, ele pegava o objeto e ficava observando, descobrindo seu
formato, movimentando-o e voltava-se para o papel, sem intervenção. Sem a ajuda da
pesquisadora, ele continuava. Num dado momento, um colega de classe chamou, perguntou
algo, ele olhou, respondeu e continuou a desenhar. Até mesmo quando o Sujeito B passou
mexendo na sua cabeça, fazendo barulhos próximos ao seu ouvido, ele se desvinculou, mas
conseguiu retornar para o que estava fazendo. Outro colega foi a sua carteira solicitar o
empréstimo de um lápis de colorir, ele olhou e respondeu assentindo com a cabeça, o colega
bateu no rabanete distraidamente e este caiu, ele rapidamente o retirou do chão e
recomeçou. Sem ajuda da pesquisadora, escolheu o lápis na cor vermelha, a mesma do objeto,
e tentou reproduzi-lo com o máximo de verossimilhança, a julgar pelo empenho e observação.
Quando a pesquisadora voltou para ficar ao seu lado, outras crianças se aproximaram para
mostrar os seus trabalhos, mas o Sujeito A continuava devotando toda sua atenção para o
seu desenho, apesar dos barulhos. Passados cinco minutos dessa inabalável contração, ele
parou e ficou olhando ao seu redor, a pesquisadora se aproximou e perguntou se ele havia
terminado, porque o desenho parecia mesmo estar concluído, ele respondeu que sim. A
pesquisadora insistiu que ele colocasse o seu nome. Ele começou a preencher a folha com
muitas “bolinhas”. Demorou cerca de um minuto até que parasse de escrever. Viu a
pesquisadora se aproximando e continuou por mais dois minutos. Deu uma pausa e continuou
por cerca de um minuto. E assim prosseguia, fazia pequenas pausas e continuava a escrita.
Alternando também com as vezes em que cutucava o Sujeito B com o lápis. A direção da escrita
era da esquerda para a direita, mas ele girava o papel para aproveitar todo o espaço e continuar
escrevendo. (13/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
mesma veria. Desse modo, agrupou-os pensando nas parcerias por afinidade. Já que seria
uma tarefa laboriosa, deveria ser feita com muita harmonia. Por isso, colocou o Sujeito A
com o colega que demonstrou mais respeito e paciência com as suas dificuldades na última
atividade de grupo que ela havia observado e o Sujeito B com a colega com quem
habitualmente ele compartilhava suas tarefas. (14/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA
PESQUISADORA)
Ainda que nas atividades descritas nas sessões anteriores, as crianças já trocassem
informações livremente, nessa elas foram intencionalmente colocadas a fim de produzirem em
parcerias e promoverem ajudas mútuas.
A atividade foi a narrativa do livro em texto, que foi disponibilizado em tiras para que eles
pudessem, através da memória, colocá-las em ordem. As tiras continham de três a quatro
versos impressos em um tamanho grande. Cada dupla recebeu o texto abaixo e se organizou
para primeiramente pô-lo em ordem e depois colar os trechos. A pesquisadora pediu para que,
após colocarem o texto na sequência correta, chamassem-na a fim de ela conferir e depois eles
mesmos fazerem a colagem. As duplas, em geral, demonstraram boa interação e envolvimento
com a tarefa. Elas organizaram os trechos com a memória do texto. O Sujeito B, assim como
os demais colegas, trocava as informações necessárias com a sua dupla para desenvolver a
atividade. Já a dupla do Sujeito A não trocava informações, seu parceiro visualizava os
trechos e ia dispondo ao seu modo. O outro ficava alheio à tarefa, apenas segurando um
determinado trecho. A pesquisadora, percebendo essa dificuldade de juntos tentarem
resolver o problema que a tarefa propunha, interveio, apresentando pistas textuais para
a leitura das frases e palavras, por vezes, lendo para eles. Mesmo assim o Sujeito A não
despertou interesse para a tarefa, baixou a cabeça e se recusou a acompanhar com os olhos
o que a pesquisadora lia, sendo indiferente ao que ela perguntava: “O que tem escrito
aqui? O que vem depois disso?”. Todavia, quando a pesquisadora se distanciou ele tentou
imitar o comportamento do seu parceiro, olhava-o, pegava o papel da mesma forma,
olhava para o papel e fazia os mesmos movimentos com os olhos que a outra criança e
movimentava os lábios. (14/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
Essa tarefa não envolveu o Sujeito A, mas a parceria com o colega de equipe o fez
despertar para a reprodução de um comportamento específico. Não sabemos se seria muito
otimista acreditar que o estudante manifestava comportamento leitor!
A pesquisadora então levou o livro para que pudesse auxiliar a dupla e o Sujeito A visse
as imagens quando o outro colega estivesse fazendo a leitura para colocar os trechos em
sequência. Imediatamente, ele pegou o livro sobre a mesa e começou a folheá-lo. Falou
para a pesquisadora alguns trechos do livro enquanto passava as imagens, como:
“Segurou no rabanete!”. No período de avaliação, o sujeito não passava as folhas do livro
com atenção e nunca pronunciou uma frase, apenas uma palavra de cada vez que
correspondia a uma imagem. Demorou-se no livro e balbuciava, mas a pesquisadora não
conseguia ouvir. Dava apenas para ver pela movimentação de seus lábios que dizia o nome das
personagens. Fez isso por cerca de dez minutos. A pesquisadora tentou novamente levá-lo para
a atividade, lendo os trechos e ajudando sua dupla a montar o texto. Ao fim disso, ela oralizava
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para que ele pudesse completar relembrando os trechos, porém ele não direcionava seu olhar
para a tarefa e parecia não ouvir o que era lido. Outras crianças de outros grupos pediram ajuda.
Dessa maneira, ela os deixou, o seu parceiro tentava ainda montar, mas ele continuava de cabeça
baixa. Quando a pesquisadora retomou a leitura para que fossem montando, ele
completou algumas frases como “a vovó segurou no...” e então ele completava “vovô” sem
o auxílio de nenhuma imagem. Porém, quando novamente a pesquisadora foi ao encontro de
outras duplas que solicitavam ajuda, ele começou a soprar os papéis que a outra criança tentava
colocar em sequência. Mesmo com a insistência de ele assoprar os papéis, a outra criança não
demonstrou aborrecimento. (14/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
O Sujeito B também teve muitas dificuldades nessa tarefa. Apesar de se mostrar muito
atuante com a sua dupla, houve um momento de completa recusa, tanto que outra dupla, a
qual havia concluído, veio auxiliar sua parceira, enquanto ele ficava sentado com os braços
envolvendo o corpo, como se aquela atividade o chateasse. Ele já havia insistido com a
pesquisadora que não sabia ler, ela o acalmou e disse que as palavras que ele conseguisse
ler já ajudariam. Algumas outras duplas demonstraram dificuldade em completar a
atividade. Por isso que a pesquisadora pediu para que as crianças que haviam finalizado
ajudarem outras a perceber no que estavam errando. Algumas duplas perderam peças e
quiseram desistir, a pesquisadora entregou outra vez o texto para elas. Quando ela leu o texto
da dupla do Sujeito B em voz alta, ele voltou a prestar atenção e tentou participar. Pegou trechos
e tentou ler, não se desvinculou mais. Pegou o livro para ajudar os colegas a montarem a
sequência. De modo geral, essa atividade foi desafiadora para a turma - já estava próximo ao
recreio e metade da turma não havia conseguido terminar. A professora regente estava em sala
de aula e permaneceu sentada em sua mesa o tempo todo, enquanto a pesquisadora gerenciava
a turma, até que, nesse momento de efervescência da turma, em que a maioria já estava cansada,
a professora sentou ao lado da dupla do Sujeito B com o tubo de cola. (14/12/2018 DIÁRIO
DE CAMPO DA PESQUISADORA)
demonstrar menos empenho e precisam de mais regulação/ intervenção/ ajuda para continuar
ou persistir na realização.
Nas outras mesas, circulavam os alunos que já haviam concluído. A pesquisadora pôde então
continuar dando mais suporte à dupla da qual o Sujeito A fazia parte e continuar lendo em voz
alta para que eles conseguissem se organizar. Mas ele não estava mais disposto a continuar
exercitando sua memória para completar as frases que a pesquisadora lia. Enquanto seu
parceiro ia sequenciando os trechos, vieram outras crianças que haviam terminado, ajudá-los.
De repente, virou uma força-tarefa, todos que terminaram queriam continuar ajudando e as
mesas passaram de dois componentes para três, depois para quatro e para seis. No instante da
colagem, o Sujeito A voltou a se interessar pela atividade, os demais o orientavam sobre a
sequência e ele colava. (14/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
Esse foi outro trecho que ilustra um envolvimento coletivo dos sujeitos, os quais,
espontaneamente, agem como monitores e outros como monitorados. Isso abastece a ideia de
que todo sujeito importa na sala, e que, com atividades que fomentem a cooperação e
colaboração coletiva, ninguém precisa ser deixado de lado.
A pesquisadora veio agradecê-los e dizer que aquele seria o último dia em que se encontrariam.
Ela deu continuidade à sequência didática do livro “O Grande Rabanete”. Levando um
“microfone” para a atividade, os alunos ficaram empolgados com esse elemento novo, que
teve o mesmo efeito “hipnótico” do objeto que imitava o rabanete na primeira atividade
da sequência. Foi explicado que eles mesmos fariam o reconto da história oralmente. Eles
estavam muito eufóricos para participar. Ela circulava com o microfone e, onde parasse,
a criança recontava um trecho da história. O Sujeito B balançava as pernas irrequieto
para participar. Completava até os trechos que os colegas estavam falando. O Sujeito A
era a única criança que não seguia avidamente o curso do microfone, poucas vezes se virava, e,
quando chegou na sua vez de falar, baixou a cabeça em sinal de recusa. A professora regente,
que estava sentada à sua mesa no momento da atividade, deu uma massinha de modelar para
ele. Depois do reconto coletivo, a pesquisadora entregou a atividade prevista: texto lacunado.
(19/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
A pesquisadora ficou próxima ao Sujeito A, o qual estava sentado na sua habitual cadeira colada
à mesa da professora, porém ela não restringiu o acesso de uns aos outros. Eles às vezes iam às
mesas uns dos outros. Quando algumas crianças solicitaram ajuda para formular a última
questão da atividade, a pesquisadora se afastou do apoio que estava dando a essa criança com
DI. A professora então iniciou uma intervenção direta com esse sujeito orientando sua
atividade. Ela se impressionou com o desempenho dele, até, em alguns momentos, ela
cobriu a imagem e ele conseguiu completar o objeto e comentou com a pesquisadora em
tom de surpresa. Depois desse fato, a professora se envolveu com a atividade. Como a
pesquisadora que estava circulando na sala, ela passou para olhar como os demais alunos
estavam se saindo. Na última parte da atividade, o Sujeito A não respondeu a pergunta que
levava um julgamento sobre a história contada: “E você acha que o rato era mesmo o mais
forte?”. Depois de alguma insistência por reiterar a pergunta, ele respondeu: “é”. Então a
pesquisadora tentou levá-lo a refletir, falando sobre a ajuda de todos os personagens que se
reuniram para arrancar o rabanete, mas ele ficou em absoluto silêncio. No entanto, escreveu
garatujas (seu nível de escrita é pré-silábico) no quadro da resposta. (19/12/2018 DIÁRIO DE
CAMPO DA PESQUISADORA)
Foram para a última atividade do dia que seria o ditado das palavras que estavam no texto.
O Sujeito A não estava demonstrando interesse em fazê-la, não quis pegar o lápis, mas a
pesquisadora insistiu. Ele começou a bocejar. Como era de costume, mostrava indiferença. Ele
não seguia as palavras que a pesquisadora ia ditando, escrevia aleatoriamente, não fazia a
correspondência do que era dito com o que estava escrevendo. O Sujeito B mostrou interesse
em fazer, pedia para a pesquisadora repetir o que ela havia dito, porque se delongava na escrita.
Encerradas as atividades da pesquisa, a professora entregou um livro para cada aluno, uma obra
aparentemente paradidática. Foi a primeira vez, espontaneamente, que a professora
proporcionou ao Sujeito B uma atividade pedagógica, oferecendo os mesmos materiais
dos demais alunos. (19/12/2018 DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
99
Talvez esse último fato presenciado seja mais uma evidência de que a professora
começou a acreditar realmente em que o Sujeito A deveria ter, ao menos, os mesmos estímulos
que as demais crianças.
[...] Por exemplo, se dou uma resposta incerta a uma pergunta e ela simplesmente é
aceita, não haverá demandas sobre mim para reformular e modificar minhas respostas
na fase de saída. Se por outro lado, eu viver em um ambiente que demanda um
produto que é entendido, aceitável e de certo nível estrutural e pragmático, meu
funcionamento será melhorado e ficarei energizado e engajado no processo de maior
aprendizado e desenvolvimento social, experimentando o nível de transcendente de
potencial humano. (2016, p. 132-133).
mas não se instiga a criar novas informações. Justamente por se reconhecer muitas vezes
incapaz de ter a habilidade de criar essas informações.
Obviamente, as três atividades cognitivas das quais derivam as funções destacadas
(nos quadros que estão logo abaixo) não estão isoladas e influenciam umas as outras, pois “o
mecanismo de processamento é o que dita para o estágio de input como, o que e quando investir
na coleta precisa de dados, similarmente na fase de elaboração é influenciada pelos dados
coletados e percebidos na fase de output.” (FEUERSTEIN, 2016, p. 143). Por isso, o mesmo autor
reitera a importância de não buscarmos apenas os resultados, mas focarmos a atenção
principalmente no processo do pensamento por completo.
Isso porque Feuerstein (2016) defende que a EAM é responsável por fazer emergir
as operações mentais que farão o aluno funcionar cognitivamente de maneira eficiente, não
somente na tarefa que está executando, mas também em outros aspectos da realidade em que
vive, uma vez que a exposição à aprendizagem mediada pode fazer o sujeito “corrigir” as
funções frágeis que foram cristalizadas pela falta de uma mediação anterior que pudesse
modificá-las. As mediações devem ser realizadas de maneira sistemática a fim de produzir um
efeito sensível e longínquo, ou seja, o sujeito transcende o conhecimento.
A aprendizagem mediada é um recurso usado para acionar os instrumentos
psicológicos dos sujeitos com DI. O professor recorre ao estímulo em consonância com o nível
conceitual que o sujeito já atingiu e que ainda pode ser alcançado e isso resultará, se essas
intervenções forem bem-sucedidas, em um aumento da “modificabilidade” das funções
psicológicas em uso durante as atividades propostas.
Com isso, podemos compreender que, em relação à aprendizagem, existem dois polos
importantes: um deles é o sujeito, que assimila o mundo e o transforma, e o outro é o
próprio mundo que, ao ser assimilado pelo sujeito, modifica-se e com ele interage,
pois quando o sujeito age sobre um objeto, este, no mínimo, oferece uma resistência
a tal ação. [...] Portanto, toda ação é, de fato, uma interação. É uma ação que se dá
entre dois polos (o sujeito e o objeto). Deste modo, o conhecimento é fruto de uma
ação concomitante do sujeito que conhece e do objeto que é conhecido (SOARES;
MASCHIO, 2017, p. 1381)
vezes, com base no exposto, a DI é vista como um fator anulador das chances de aprendizagens
dos sujeitos sem considerar questões que se referem às dificuldades físicas, estruturais, de
precarização da escola e de condições da docência nas escolas brasileiras.
Portanto, podemos refletir da seguinte maneira: se essa escola tem sérias
dificuldades, quer dizer que isso por si só já é um fator que dificulta a aprendizagem de
qualquer sujeito. Sendo assim, a pessoa com DI, que tem dificuldade de aprender nesse
ambiente, não seria só mais um entre tantos sujeitos que passam pela escola sem que esta lhes
proporcione aprendizagens?
Quanto aos conceitos referentes às fragilidades nas funções cognitivas
apresentamos no quadro a seguir, os comportamentos ligados ao funcionamento cognitivo das
crianças com DI, segundo Feuerstein (2016), na fase input,
demonstra ter fragilidade na formação dos conceitos elementares, talvez isso tenha dificultado
a compreensão dos comandos da Pesquisadora. O evidente desinteresse pelas atividades
escolares também parece estar atrelado ao nível de complexidade das atividades, em geral,
dissonantes do seu estágio de desenvolvimento cognitivo e nível psicogenético.
Quanto à percepção episódica da realidade, notamos que o Sujeito A não era
capaz de: resumir fatos, eventos e integrá-los. Essa fragilidade era perceptível quando, durante
as histórias contadas, ele não conseguia expressar uma sentença completa sobre o que havia
sido lido para ele, restringindo-se a elencar objetos ou personagens constantes na história,
isoladamente, ou a apontar elementos da gravura, nomeando-os oralmente como, por exemplo:
cavalo, cachorro, lobo, com ausência de enredo, detalhes e associação de variáveis.
Por sua vez, o Sujeito B não demostrou essa fragilidade relacionada à percepção
episódica da realidade. Durante as interpretações dos textos de que participou tanto individual
quanto coletivamente, foi possível ver o quanto é capaz de integrar fatos e eventos a algo único,
como foi no caso da sequência de imagens da história de “Chapeuzinho Vermelho” e dos textos
que foram recontados nas avaliações. A pesquisadora e a professora do AEE ficaram tão
impressionadas com o fato de ele ter conseguido recontar o texto com riqueza de detalhes,
durante uma avalição de leitura e escrita, que pediram para que ele repetisse com outro texto e
o resultado foi o mesmo. O que se caracteriza como uma habilidade já consolidada nesse sujeito.
Já no Sujeito A, esse comportamento episódico também se caracteriza porque ele
apresenta características de quem tem o campo mental estreito, ou seja, demonstra uma
abordagem passiva diante da informação, só consegue perceber o que está no seu campo de
visão e tem dificuldade de se utilizar daquilo faz parte do acervo de sua memória, que também
está relacionada a sua dificuldade em comparar e associar informações. Tudo isso também
reverbera na falta de comportamento de planejamento, de comportamento somativo e na
inabilidade de planejar relações virtuais, pois, para isso, é necessário relacionar informações,
fatos e eventos. Por isso, são caracterizadas como funções de alta ordem ligadas a abstração.
Dentre os comportamentos cognitivos do Sujeito B, não se pode apontar
características de quem tem o campo mental estreito e nem falta de comportamento
somativo, visto que demonstrou proatividade, como, por exemplo: assim que se dava a tarefa
para o sujeito, ele buscava uma forma de realizá-la, ou procurava a pesquisadora, ou buscava
ajuda com os colegas e, diante das informações das tarefas com facilidade, entendia o que
estava fora do seu centro de foco, pois lidou com muitas informações para associar as
informações dos textos com os quais trabalhou a pesquisadora durante as sessões didáticas.
110
Comunicação Esta fragilidade de comunicação deriva da forma da atitude do indivíduo com outro
egocêntrica ser humano, como alguém que não construiu uma identidade separada. O indivíduo
que se comunica de forma egocêntrica não sente a necessidade de filtrar todas as
informações necessárias para entender a mensagem porque assume que o outro
sabe tudo que ela sabe. (FEUERSTEIN, 2016, p. 133).
Respostas de tentativa e O comportamento de tentativa e erro na fase output às vezes é reflexo da coleta de
erro dados não planejada na fase input. [...] esta deficiência reflete uma falta de
integração estrutural, a solução de um problema não foi internalizada e não é
generalizada para situações novas e diferentes. (FEUERSTEIN, 2016, p. 134).
Respostas impulsivas O indivíduo reage de forma impulsiva quando os mecanismos de controle e filtro
das atividades de processamento não são realizados de forma suficiente.
(FEUERSTEIN, 2016, p. 134).
Bloqueios de resposta Esse fenômeno se dá devido a uma deficiência no processo de comportamento
regulatório. Muitas vezes vem de uma transição aguda e repentina de
comportamento não planejado e não reprimido para o comportamento super-
reprimido ao ponto de causar inabilidade. Geralmente ele reflete a falta de
ferramentas de processamento adequadas para transformar a supressão de
respostas em uma atividade de pensamento. (FEUERSTEIN, 2016, p. 134).
Esse sujeito demostra que é capaz de diferenciar o que ele e outra criança estão
discutindo e se dá conta de um conflito de ideias, chamando um terceiro mediador para resolver
No mesmo sentido, analisando a forma de comunicação do Sujeito A, posto em
comparação ao Sujeito B, anteriormente apresentado, podemos ver a expressão de fragilidades
no âmbito da linguagem e a relação com seu pensamento, na execução de uma tarefa escolar,
como mostra a cena a seguir:
Durante a última sessão de mediação, enquanto a pesquisadora dava assistência a uma dupla, o
colega que fazia a tarefa com o Sujeito A tentou montar sozinho a sequência do texto “O Grande
Rabanete” com as tarjetas que estavam sobre a mesa de trabalho dos dois. O Sujeito A soprou
as tarjetas, a pesquisadora percebeu essa ação, encaminhou-se até ele e disse-lhe: “Não sopre!
Não pode soprar”. Ao voltar para o direcionamento que estava dando a outra dupla, a
pesquisadora observou de longe o sujeito fazendo movimentos com a boca de que iria soprar,
e, ainda olhando para as tarjetas, ele interrompeu e disse: “Não”, balançando o dedo, sinalizando
que “não”. (TRECHO EXTRAÍDO DO DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA)
Talvez isso seja um indício de comunicação egocêntrica, pois a criança, com esse
tipo de fala, comunica-se com o outro falando com ela mesma. Para pensar, ela se direciona a
outra pessoa sem a intenção de se comunicar, e sim de organizar o seu próprio pensamento.
Portanto, a fala que é endereçada a si e ao outro se confundem. A fala, para Vygotsky, funciona
como os outros instrumentos que dão suporte às operações mentais que usam signos, mas “não
há razão psicológica para considerar que todas as formas de atividade verbal sejam derivadas
113
O Sujeito A passou o primeiro tempo da aula sem nenhum material em mãos, sem participar
das atividades. No segundo tempo, a pesquisadora sugere que a professora dê para ele o mesmo
material que os demais estão utilizando. A regente da sala alega que ele não consegue realizar
as mesmas atividades que os demais. Então a pesquisadora insiste para ver seu comportamento
diante do material. (TRECHO EXTRAÍDO DO DIÁRIO DE CAMPO DA PESQUISADORA
31/10/2018)
[...] Em relação à atividade que envolvia a dança percebemos que o grau de complexidade
da tarefa era alto, porém, o alto nível de envolvimento da criança é capaz de fazê-la
superar, inclusive, as fragilidades da memória, transferência, generalização/síntese e
metacognição, apontados pela literatura como inerente à presença da deficiência e que
traz relações de causa-consequência para as dificuldades de aprender dessas crianças.
Esse fato se mostra importante, pois, nos mostra que essas condições podem ser revertidas
e/ou minimizadas a partir de práticas pedagógicas mais interessantes, contextualizadas,
significativas, que atenda aos centros de interesse dos alunos, que os envolva em trabalhos
com apoio/cooperativas, etc. (RELATÓRIO DE PESQUISA, 2012, p. 42).
Com relação a esses alunos [com DI], por exemplo, é fundamental estimular para que
eles tentem realizar as tarefas, com o cuidado específico de adequar o nível e o tipo
de solicitações e encorajá-los em suas realizações, bem como deixar claros os
comandos destas para que eles entendam o que está sendo solicitado. É necessário
incentivar as suas tentativas, auxiliar na mobilização de estratégias cognitivas que
subsidiem a resolução de problemas, desde situações diárias simples e condutas
sociais até circunstâncias escolares mais sistematizadas etc. Esses aspectos são válidos
para qualquer sujeito, pois dão sustentação à mediação pedagógica e remetem à
importância dessa intervenção planejada, consciente e significativa para todos os
alunos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
cognitivas.
Foram evidenciadas as fragilidades nas funções cognitivas que tèm implicações
diretas na forma de lidar com as tarefas escolares; que fragilidades nas funções de entra se inter-
relacionam e têm implicações diretas nas funções de elaborações mais conceituais, que, por sua
vez, influenciam nas funções de saída referentes a qualidade do produto da aprendizagem. Por
sua vez, temos nas funções de entrada, notadamente, um fértil espaço de atuação docente de
forma a subsidiar os sujeitos em uma melhoria do seu funcionamento cognitivo.
É importante destacar que o nível psicogenético de escrita e o nível de leitura
apresentavam relação com as funções cognitivas, sendo que o sujeito com DI deste estudo que
apresentava melhor nível de alfabetização, por sua vez apresentava menos fragilidades no
funcionamento cognitivo. Todavia, essas funções cognitivas fragilizadas se mostravam
melhoradas com a mediação. Confirmando a ideia de “plasticidade” e modificabilidade
cognitiva. Portanto, a mediação configura-se como um conceito-chave na atuação docente e
organização de prática pedagógica favorecedora à deficiência intelectual.
Como finalização deste texto, (re)afirmamos que o processo de alfabetização de
estudantes com DI pode ser intensamente marcado pelo conhecimento e investimento de
professores de sala de aula quanto às funções cognitivas, ampliando as possibilidades de
aprendizagem e de desenvolvimento desses estudantes. Na perspectiva que as reflexões aqui
anunciadas possam contribuir para tecer uma nova realidade educacional mais equânime e justa,
democrática e inclusiva.
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