LEUCEMIA
LEUCEMIA
LEUCEMIA
ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n8-333
RESUMO
Introdução: a leucemia é um tipo de câncer que acomete todas as faixas etárias,
geralmente de origem desconhecida e caracterizada pelo acúmulo de células malignas na
medula óssea, podendo levar a morte do paciente. A medula óssea é uma cavidade situada
principalmente em ossos longos, onde determinadas células-tronco dão origem aos
glóbulos brancos (leucócitos) e vermelhos (eritrócitos), bem como às plaquetas.
Atualmente, existem mais de 12 tipos de leucemias, porém classificadas em quatro tipos
primários, sendo, leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC),
leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (CLL). Objetivo:
caracterizar as leucemias linfocíticas e mielocíticas, agudas e crônicas, com ênfase em
suas respectivas peculiaridades. Métodos: o presente trabalho consiste em uma revisão
narrativa abordando os referidos tipos de leucemia em pacientes adultos e pediátricos,
com suas respectivas características clínicas e moleculares, diagnóstico, tratamento e
possíveis complicações. Foram usadas as bases de dados: Scientific Electronic Library
Online (SCIELO), Pub-Med, Google Acadêmico, bem como livros didáticos relacionados
ao tema. Utilizou-se para as buscas os seguintes descritores: leucemia linfocítica aguda,
leucemia linfocítica crônica, leucemia mieloide aguda e leucemia mieloide crônica e seus
correspondentes na língua inglesa. Resultados e Discussão: A LMA é mais comum em
pacientes adultos em torno dos 40 anos, com característica principal a proliferação
ABSTRACT
Introduction: Leukemia is a type of cancer that affects all age groups, usually of unknown
origin and characterized by the accumulation of malignant cells in the bone marrow,
which can lead to the death of the patient. Bone marrow is a cavity located mainly in long
bones, where certain stem cells give rise to white blood cells (leukocytes) and red blood
cells (erythrocytes), as well as platelets. Currently, there are more than 12 types of
leukemia, but classified into four primary types, namely, acute myeloid leukemia (AML),
chronic myeloid leukemia (CML), acute lymphocytic leukemia (ALL), and chronic
lymphocytic leukemia (CLL). Objetive: Characterize acute and chronic lymphocytic and
myelocytic leukemias, with emphasis on their respective peculiarities. Methods: the
present work consists of a narrative review addressing the aforementioned types of
leukemia in adult and pediatric patients, with their respective clinical and molecular
characteristics, diagnosis, treatment and possible complications. As a database, the
following platforms were used, Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Pub-
Med, Google Scholar, and textbooks related to the subject. The following descriptors
were used for the searches: acute lymphocytic leukemia, chronic lymphocytic leukemia,
acute myeloid leukemia, and chronic myeloid leukemia and their corresponding terms in
Portuguese language. Results and Discussion: AML is most common in adult patients
around 40 years old, with the main characteristic being abundant proliferation and unusual
differentiation of myeloid precursor cells (blasts) in the bone marrow. CML is
characterized by the malignant transformation of pluripotent hematopoietic stem cells,
generating mainly immature granulocytes, with a higher incidence in adult patients
around the age of 40. LLC is predominant in patients around the age of 50, and is
characterized by a slow and progressive accumulation of malignant B-lymphocytes. ALS
is more prevalent in children and is characterized by rapid proliferation of malignant
hematopoietic progenitor cells. Conclusion: The main characteristics of the four types of
leukemia discussed in this paper are based mainly on a classification system of
hematopoietic neoplasms from the World Health Organization (WHO). This system is
guided according to combinations of clinical, morphological, immunophenotypic and
genetic characteristics, taking into consideration the percentage of blasts or malignant
cells in the bone marrow (acute or chronic) and its predominant lineage (myeloid or
lymphoid).
1 INTRODUÇÃO
Todas as células do organismo apresentam um ciclo natural, elas são originadas,
diferenciam-se, proliferam e morrem. Entretanto, algumas células saem desse ciclo,
evadindo-se dos mecanismos de controle celular, geralmente em decorrência de
mutações. Consequentemente, essas células dão origem a outras células com as mesmas
imperfeições transformando-se em um tumor. Os tumores apresentam duas características
principais que os diferenciam, sendo, ritmo de crescimento (divisão celular) e sua
capacidade de infiltração para outros tecidos (ALMEIDA, 2005).
A palavra câncer é oriunda do latim, no qual o significado é caranguejo, devido
sua capacidade invasiva. O termo já sugere seu caráter maligno, devido seu crescimento
exacerbado e capacidade de migração. Este processo facilita a entrada dessas células em
outros tecidos do corpo, podendo inclusive utilizar a corrente sanguínea ou sistema
linfático como mecanismo de transporte, gerando assim, um tumor secundário ou
metástase (KINDT et al., 2008, p. 557, 558).
Os cânceres pediátricos e adultos são significativamente diferentes em
prognóstico e distribuição, dependendo da histologia e da localização do tumor, sendo
relativamente raro em crianças. O câncer na infância pode se manifestar através de
sintomas que ocorrem também em doenças benignas, o que pode levar a uma maior
dificuldade no diagnóstico. Sendo assim, se faz necessária a observação de manifestações
clínicas mais persistentes, sem explicação óbvia e com difícil recuperação para indicação
de uma possível neoplasia (KLIEGMAN; STANTON, 2013, p. 1730).
No Brasil, por ano são registrados mais de oito mil casos de câncer em crianças e
adolescentes sendo, portanto, considerada a maior causa de mortes por doença na faixa
etária de 1 a 19 anos. A leucemia é o tipo mais comum, correspondente a 30% dos casos
em crianças. Já em adultos, no ano de 2020, foram registrados 10.810 novos casos de
leucemia, sendo 5.920 homens e 4.890 mulheres, chegando a aproximadamente 7.200
mortes anuais (INCA, 2020).
As leucemias são consideradas doenças malignas do sangue, ou seja, um tipo de
câncer inicialmente originário na medula óssea, com consequências fisiológicas graves,
podendo levar o indivíduo à morte. Elas podem ser divididas em agudas, quando as
células sanguíneas não conseguem completar seu processo de maturação, levando ao
rápido crescimento das células imaturas (células embrionárias) e crônicas, onde as células
atingem um estado maturo, porém, devido a erros genéticos, se tornam morfológica,
histológica e funcionalmente “anormais” (KLIEGMAN; STANTON, 2013, p. 1723,
1726).
Concomitantemente, as leucemias podem ser subclassificadas em linfoides ou
mieloides, dependendo da origem celular hematopoiética. Células de defesa, tais como,
linfócitos B, T e células NK (natural killer), tem como origem as células progenitoras
linfoides. Já as células-tronco, mieloides originam as progenitoras de células vermelhas
do sangue (eritrócitos), a maioria das células brancas (neutrófilos, eosinófilos, basófilos,
monócitos, mastócitos e células dendríticas) e as células que dão origem as plaquetas,
denominadas megacariócitos (KINDT et al., 2008, p. 47, 48).
2 METODOLOGIA
O presente trabalho consiste em uma revisão narrativa sobre os principais tipos de
leucemia, sua frequência e diferenças entre pacientes adultos e pediátricos. Foram
utilizadas as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Pub-Med,
Google Acadêmico, bem como livros didáticos relacionados ao tema, nos últimos 16 anos
(2005-2021). Os descritores utilizados foram leucemia pediátrica, leucemia adulta, câncer
e seus correspondentes na língua inglesa. Como critério de inclusão foram utilizados
artigos relacionados ao tema, incluindo os seguintes tipos de leucemia, Mieloide Aguda,
Mieloide Crônica, Linfoide Aguda e Linfoide Crônica. Foram excluídos artigos que
estavam relacionados com enfermagem e odontologia.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 LEUCEMIA LINFOIDE
3.1.1 Leucemia Linfocítica Aguda
O tipo de leucemia mais prevalente em crianças é a linfoblástica ou linfocítica
aguda (LLA), chegando 80% dos casos infantis e 20% em adultos. A faixa etária com
maior incidência é entre 2 a 5 anos. A sua etiologia é idiopática, porém existem evidências
que indicam possíveis fatores como radiação, drogas, genéticos, imunológicos e virais. A
LLA tem como principal característica a alta proliferação celular com índice menor de
diferenciação, assim, evidencia-se suspeita de leucemia através do exame de hemograma,
em razão da quantidade de células imaturas (MOREIRA et al., 2018). Os sinais e sintomas
mais prevalentes é astenia, mal-estar, redução da tolerância a exercício, palidez
tyrosine kinase 3), CEPBA (CCAAT/enhancer binding protein α), MLL PTD (myeloid-
lymphoid ou mixed-lineage leukemia), NRAS- (neuroblastoma RAS viral oncogen),
BAALC (brain and acute leukemia gene), ERG (v-ets erytroblastosis virus E26 oncogene-
like). Aproximadamente 45% dos casos de LMA possuem cariótipo normal, sendo as
mutações nos genes NPM1 e FLT3 as mais prevalentes. O gene FLT3 está localizado no
cromossomo 13q12 onde, codifica um receptor com atividade tirosina-quinase referente
à ativação de vias de sinalização celular encarregados pela proliferação celular, sendo este
mais expresso em estágios iniciais de células precursoras mieloides. Já o gene NPM1,
localizado no cromossomo 5q35, codifica uma fosfoproteína nucleolar que faz a ligação
entre o núcleo e o citoplasma, e está vinculada na regulação e estabilidade de proteínas
nucleares. Alguns trabalhos mostram que as LMAs com cariótipo normal e mutação nos
genes NPM1 e CEBPA possuem prognósticos favoráveis, enquanto mutações no gene
FLT3 possuem um pior prognóstico. Porém, casos em que ocorrem mutações paralelas
nos genes FLT3 e NPM1 possuem um prognóstico intermediário (VELLOSO et al.,
2011).
Já a leucemia mieloide crônica (LMC) acomete com maior incidência pacientes
adultos em torno dos 40 anos. Com casos de pacientes assintomáticos e sintomáticos,
entre os sintomas engloba-se fadiga, cefaleia, astenia, irritabilidade, febre, sudorese
noturna, perda de peso e devido à esplenomegalia, desconforto em hipocôndrio
esquerdo. Tais sintomas são variáveis segundo a fase (SANTOS et al., 2019).
O primeiro fármaco utilizado no tratamento foi o imatinibe, um inibidor de
tirosina-quinase, que apresenta como alvo a bcr-abl. Na LLC, ataca a translocação
9:22 (bcr-abl), bloqueando as atividades da via de sinalização. O imatinibe e
nilotinibe ajudam na remissão molecular e clínica, ambos realizam uma ligação em
um segmento que controla a cinase e fixa a enzima, fazendo com que a proteína não
se liga ao substrato doador de fosfato, o ATP. Por isso, ocorre uma inibição da BCR-
ABL (HAMERSCHLAK, 2008). As proteínas tirosina-quinase são um componente
fundamental na via de transdução de sinais pelo fato de regular o crescimento e
adaptação ao meio extracelular, em grande maioria das neoplasias. Essas proteínas
são ativadas e implicam na transformação tumoral. As terapias convencionais para o
controle de LMC são hidroxiureia, interferron-alfa, bussulfano ou citarabina em doses
baixas, infusão linfocitária e transplante de células medulares (SANTOS et al., 2019;
LEITE et al., 2012).
severa. Para auxiliar no diagnóstico pode ser feito coloração citoquímicas e citometria de
fluxo de modo a classificar e diagnosticar os possíveis subtipos de leucemia. A análise
genética molecular tem como finalidade tanto diagnóstico quanto classificação e
monitorização, principalmente das leucemias agudas (SILVA, 2015).
Existe um tipo de estadiamento muito utilizado para as leucemias linfoides
crônicas chamado de estadiamento Rai e de Binet. O sistema Rai está apoiado na alta
quantidade de linfócitos no sangue e na medula óssea. Divido em 5 estágios: Rai 0,
considerado como baixo risco, pois os linfonodos, fígado ou baço não estão aumentados e
hemograma normal; Rai I tem risco intermediário, o paciente apresenta linfocitose, além
de linfonodomegalia; Rai II também de risco intermediário, porém o paciente apresenta
esplenomegalia e hepatomegalia; Rai III de alto grau, apresenta linfocitose com anemia,
com ou sem aumento dos linfonodos, baço ou fígado; Rai IV apresenta-se de alto risco, o
paciente apresenta linfocitose, trombocitopenia, linfonodomegalia, esplenomegalia ou
hepatomegalia e pode apresentar anemia (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2018).
O sistema de Binet é mais utilizado em países da Europa. Nesta estratificação a
LLC é classificada pelo número de grupos de tecidos linfoides afetados (linfonodos
cervicais, inguinais, axilares, baço e fígado) e também pela presença de anemia ou
trombocitopenia. Entre os estadiamentos podemos classificar estágio Binet A: menos de
três áreas de tecidos linfoides aumentados, sem anemia ou trombocitopenia; estágio Binet
B: três ou mais áreas de tecido linfoide aumentados, sem anemia ou trombocitopenia,
estágio Binet C: anemia e/ou trombocitopenia presentes (ABRALE, 2021).
Para um diagnóstico preciso deve-se utiliza a hematoscopia a fim de identificar a
presença de blastos no sangue mais periférico; a imunofenotipagem de sangue periférico
para se confirmar a porcentagem de blastos e respectivos fenótipos, permitindo
caracterizar o subtipo, segundo a existência de marcadores linfoides ou mieloides; o
mielograma com a finalidade de confirmar a quantidade de blastos na medula óssea, além
de permitir a análise de características displásicas nas diferentes esferas hematopoiéticas;
a citogenética da medula óssea, exame essencial para determinar prognóstico e realização
de uma escolha terapêutica adequada, visto que esse exame realiza uma avaliação de
cariótipo das células permitindo a busca da presença de mudanças nos cromossomos
estruturais ou numéricas; o FISH (fluorescence in situ hybridization) que pode indicar
alterações citogenéticas e permitir que seja alterado o tratamento inicial e o PCR
(polimerase chain reaction) utilizado para complementação dos estudos orientando
prognóstico e tratamento, além de auxiliar na estratificação de risco (INCA, 2018).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leucemia é definida como um tipo de câncer maligno de origem da medula
óssea, ou seja, glóbulos brancos. Existem diversos tipos de leucemias, mas as principais
são mieloides e linfoides. A leucemia mieloide e linfoide se divide em dois tipos, aguda
e crônica. Nas leucemias crônicas, as células atingem o estado maturo, mas devido a erros
genéticos se tornam malignas e as agudas provém das células sanguíneas que não
conseguem completar seu processo de maturação, levando ao rápido crescimento das
células embrionárias.
A leucemia mieloide aguda é o tipo mais comum e mais agressivo atingindo a
idade média de 60 anos e com proliferação abundante e diferenciação incomum das
células precursoras da medula óssea (células-tronco mieloide que dão origem as células
hemácias, plaquetas, monócitos e granulocíticas). Já a leucemia mieloide crônica acomete
com maior incidência pessoas com 40 anos, que pode ser dividida em fase crônica,
acelerada e blástica. A fase crônica cursa de forma benigna, a acelerada dura anos com
aumento blastos tanto na medula óssea como sangue periférico e na blástica ocorre
crescimento de blastos linfoides e mieloides, sendo a fase mais agressiva.
A leucemia linfocítica aguda acomete crianças de 2 a 5 anos, chegando a 80% dos
casos, apresentando como principal característica alta proliferação celular com índice
menor de diferenciação. Na leucemia linfocítica crônica atinge a população maior de 50
anos, com característica de aumento crescente de linfócitos funcionalmente ineptos de
origem B.
Com os altos registros de casos de leucemia tanto em crianças e adolescentes
(cerca de 30% dos casos de câncer), quanto em adultos (cerca de 10.810 mortes em 2020,
chegando cerca de 7.200, mortes anuais), os diferentes prognósticos e sintomatologia, se
faz necessária a observação de manifestações clínicas mais persistentes, sem explicação
óbvia e com difícil recuperação para indicação de uma possível neoplasia.
Por fim, os exames com suspeita de leucemia podem ser realizados o hemograma
e o mielograma. Quando o diagnóstico é firmado, o paciente passa por uma série de
tratamentos para imunossupressão da medula óssea, como radioterapia e quimioterapia,
para futuramente realizar o transplante.
REFERÊNCIAS