A Oração Que Deus Responde Guy Appéré PDF
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A Oração Que Deus Responde Guy Appéré PDF
EDITORA FIEL
A O ração que D eus R esponde
Editora Fiel da
Missão Evangélica Literária
Caixa Postal 81
São José dos Campos, SP
12201-970
ín d ic e
I n tr o d u çã o ....................................................................................... 5
5. O M odo de O r a r ....................................................................... 29
8. A Fé e a O r a ç ã o ................................................................. 51
Ensina-nos a orar!”
(Lucas 11.1)
Ser crente é orar!
A alegria de Deus
Mas eis aqui, talvez, de todos os motivos, o mais importante,
o mais divino, o mais misterioso: a oração do filho é motivo de
alegria para o Pai. “A oração dos retos é o seu contentamento”
(Pv 15.8); a oração dos santos é como o incenso de um perfume
agradável que sobe até o Senhor. Se o crente encontra a sua
alegria na oração, nesse contato com Deus, há um fato ainda
mais extraordinário: o próprio Deus também encontra alegria e
gozo nessa comunhão. Essa alegria incompreensível de Deus, o
crente a antevê um pouco quando se lembra que é filho de Deus
e que Deus é — maravilha de sua graça e amor — seu Pai! Que
haverá de mais triste para um pai do que ter um filho que não lhe
fala, que não compartilha de nenhuma das suas alegrias e de
nenhum dos seus cuidados, mas que vive indiferente no lar,
contentando-se apenas em ali tomar as suas refeições e encontrar
a sua pousada? Que tristeza para um pai, viver com um filho cujo
olhar, lábios, coração não exprimem nenhum desejo, nenhuma
necessidade, nem tãmpouco gratidão! Porém, que alegria para
um pai, dar ao filho aquilo que sabe que ele deseja! Talvez o pai
sinta mais prazer na alegria causada ao filho do que este em face
daquilo que recebe do pai.
Do mesmo modo, Deus sente mais felicidade em dar do que
em receber. Isso é próprio do amor. Ora, temos aí um bom motivo
para orarmos e oferecermos ao nosso Pai celeste a oportunidade
de darmos, isto é, de O alegrarmos... Ainda que esse fosse o
único motivo de nossas orações, não é suficientemente forte para
nos levar a orar?
Deus tem prazer em ouvir as nossas orações. Alegra-se em
ter comunhão conosco. Nós, que em tantas ocasiões somos para
Ele um motivo de tristeza e de vergonha, não aproveitaremos
esta oportunidade de Lhe causar alegria? Gostamos de com
partilhar com Ele as nossas alegrias e tristezas, mas temos nós
pensado em compartilhar as dEle?
O Senhor não é um Deus impassível. Os sentimentos de
Cristo são reflexos dos de seu Pai: “Quem me vê a mim vê o
Pai” (Jo 14.9). Assim, não é Deus que, em Cristo, se comove
O que Motiva a Oração? 19
E pedir
Ao insistir na necessidade de oração, Paulo especifica alguns
dos aspectos da oração, empregando quatro expressões diferen
tes: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas,
22 A O ração que D eus R esponde
E ter comunhão
No entanto, sem desprezar este aspecto da oração, devemos
ultrapassá-lo, porque a oração é muito mais do que isso. A oração
é comunhão, é como uma troca entre duas pessoas. Não é um
monólogo, como muitas vezes se pensa, e sim um diálogo, no
qual o coração fala e escuta, dá e recebe. O profeta Habacuque
exprime, por meio de uma ilustração bastante vivida, a situação
do filho de Deus em oração. “Pôr-me-ei na minha torre de vigia,
colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me
dirá e que resposta eu terei à minha queixa” (Hc 2.1).
Em atitude de quem espera, o profeta está pronto a ouvir o
Senhor, pronto também a expressar o seu lamento perante Ele.
“V igiarei.” A vigília é, muitas vezes, associada à oração. O
próprio Senhor Jesus não deixa de dirigir aos seus discípulos esta
recomendação: “Vigiai e orai” (Mt 26.41). Encontramos o eco
desta recomendação no conselho do apóstolo Paulo: “Orai sem
cessar” (Ef 6.18; 1 Ts 5.17). Uma dependência, uma consideração
permanente, uma vigilância constante: a oração deve ser o contato
ininterrupto com Deus, que se manifesta, às vezes através de sua
Palavra, às vezes através de um reverente escutar. Logo, ela
pode ser um tempo em que ficamos em silêncio, para comunhão,
meditação e adoração. Os sentimentos mais fortes e profundos
não são expressados com tanta intensidade por meio de palavras,
como o são por meio do silêncio. Sofonias assim descreveu o
amor de Deus pelo seu povo: “O S enhor , teu Deus, está no meio
de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria;
renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo” (Sf
3.17). Por que motivo a oração do homem resgatado não encontra
a sua melhor forma de expressão numa atitude semelhante à do
próprio Deus, descrita nesta passagem pelo profeta?
Diz o apóstolo Paulo: “Tendo eu voltado para Jerusalém,
enquanto orava no templo, sobreveio-me um êxtase, e vi aquele
que falava comigo” (At 22.17-18a). É de temer que a nossa
24 A O ração que D eus Responde
muitas vezes, aqueles que nos são chegados? Oramos nós tam
bém pelos nossos irmãos que, como os primeiros cristãos, se
esforçam por serem leais e dignos cidadãos, ainda que sob um
poderio ou autoridade déspota, seja este vermelho, negro, amarelo
ou branco?
“Orar em favor de todos os homens” é o único modo de
conhecermos a paz interior e exterior. Somente quando tivermos
experimentado esta solidariedade com todos os homens e quando
houvermos aprendido a carregar os seus fardos ante o Senhor
Deus, poderemos esperar, em sã consciência, viver a nossa vida
cristã em tranqüilidade e em paz! Com efeito, o apóstolo Paulo
nos mostra que desfrutar de uma “vida tranqüila e mansa” é o
resultado que pode obter a nossa oração “em favor de todos os
homens” . Tal resultado tem vantagem sobre o motivo que poderia
alimentar a nossa intercessão apenas pelas autoridades.
Estamos nós inquietos e preocupados com o nosso próximo?
Oremos por ele. Partilhemos com Deus a nossa ansiedade. A
oração confiante acalmará os nossos temores, porque nos asse
gurará que tudo se acha nas mãos de Deus, do Deus que tudo
pode e outra coisa não quer, senão o bem de todos, no seu grau
mais elevado. Ele tem poder para fazer advir o bem, para os
seus, até mesmo daquilo que é mau.
Temos disputas com o nosso próximo? Oremos por ele.
Falemos dele ao Senhor. A presença de Deus, entre ele e nós,
nos fará mais atentos, a fim de não agravarmos mais a situação;
e essa atitude poderá levar-nos bem longe no caminho da paz
com o nosso semelhante.
Pode acontecer que tenhamos aversão a alguém, de tal forma
que a sua simples presença seja uma prova difícil para nós, a
ponto de todas as suas atitudes nos irritarem. Oremos por ele.
Em algum dia, não muito longe, a aversão cederá ante a oração.
Não podemos orar por muito tempo a favor de uma pessoa e
continuarmos a detestá-la. A oração sincera e freqüente nos conduz
inevitavelmente pelo caminho do amor.
Assim compreendida, a oração “em favor de todos os
homens” afasta-nos do monólogo irresponsável que temos, talvez,
por vezes confundido com a oração. Somente a oração com-
28 A O ração que D eus R esponde
Orar no Espírito
O apóstolo Paulo recomenda aos efésios: “Orando em todo
o tempo no Espírito” (Ef 6.18). Judas confirma esta exigência:
“Edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo”
(Jd 20). Não se pode dizer que a oração feita sem a influência e
sem a unção do Espírito de Deus seja a oração verdadeira. Pode
acontecer que nós oremos sem o Espírito. Tais orações, então,
nada mais são do que vãs repetições; são fórmulas estereotipadas
que se repetem com sinceridade, meditando até no que se diz, é
certo, mas que, de tanta repetição, talvez não mais tenham
qualquer afinidade com o Espírito, que, a princípio, as inspirou.
Podemos enumerar uma lista de pedidos perante Deus sem que o
Espírito a tal nos inspire. Um certo hábito ou uma determinada
mecânica do nosso espírito bastam para tal. Podemos dizer uma
“oração” sem nos sentirmos verdadeiramente na presença de
Deus. Se uma oração proferida pelos lábios não é necessariamen
te uma oração que provém do coração, do mesmo modo uma
oração proveniente do coração não é, forçosamente, uma oração
“pelo Espírito” ou “no Espírito” . A oração, neste caso, pode de
sempenhar a função de tranquilizante psicológico. Ela pode, neste
sentido, ter certa ação direta sobre nós mesmos, porém não
ultrapassa o alcance do som da nossa voz e, sobretudo, não tem
qualquer efeito junto a Deus.
Orar “no Espírito” não é um luxo que só certos cristãos
podem desfrutar. Orar “no Espírito” é fazê-lo com clareza. Não
há oração eficaz, ou nada que mereça tal nome, se o Espírito
estiver ausente.
Para que uma oração seja de fato eficaz, isto é, para que
0 Modo de Orar 31
que nos fala, fá-lo também nas Sagradas Escrituras; e estas duas
vozes não podem se contradizer. Ele não pode dizer-nos pes
soalmente algo que contradiga o que Ele mesmo diz na Bíblia:
“O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus” (Rm 8.16). Teremos, então, no Livro — aqui,
novamente os nossos irmãos poderão intervir para nos ajudarem
a compreendê-lo e interpretá-lo — um critério ou um ponto de
referência para provar toda convicção, se ela provém do Espírito
Santo de Deus ou de nós mesmos. Isso requer, com certeza, um
estudo sério e inteligente da Palavra de Deus, pressupondo um
certo conhecimento dos caminhos de Deus, revelados no seu
Livro, uma certa intimidade com o próprio Deus. Quando não
temos este conhecimento, quer por sermos novos na fé, quer por
não termos tido a ocasião de nos aprofundarmos em tais assuntos,
o Espírito poderá (e bem necessitamos) intervir mais diretamente
para uma instrução espiritual e sólida, que aliás será ainda ne
cessário provarmos, com a grata ajuda de irmãos consagrados,
quando tal for possível (1 Jo 4.1).
Porém, se temos este conhecimento de sua Palavra ou se
temos a oportunidade de adquiri-lo — e somos exortados a crescer
em tal conhecimento, para atingirmos o estado espiritual adulto
— então, Deus convocará esta inteligência esclarecida, convidará
à reflexão que nos induzirá a provarmos os nossos pensamentos
à luz da analogia das Escrituras. Deus não opera milagres
desnecessários. Ele não criou a inteligência do homem para a
refugar após o novo nascimento. Ao contrário, esclarece-a,
santifica-a e utiliza-a para o seu verdadeiro fim: conhecer a Deus.
O Senhor a torna o instrumento de transformação do crente à
imagem de Cristo: “Mas transformai-vos pela renovação da vossa
m ente” (Rm 12.2). Orar com a mente será, pois, orar com
reflexão.
A verdade, a espontaneidade e o refrigério do Espírito devem
refletir-se em nossas orações. Se nos esforçarmos por romper
com os nossos hábitos estereotipados, certamente eles se des
vanecerão em nosso diálogo com Deus.
Orar com a mente é colocar-se inteiramente à escuta e à
disposição do Espírito Santo. Deste modo, os dois aspectos da
36 A O ração que D eus R esponde
As dificuldades da oração
Em primeiro lugar, precisamos examinar uma evidência
negativa que nem sempre ousamos confessar e que conduz a um
afrouxamento na oração, a um ceticismo que por vezes escon
demos e acaba por desfazer os inais fortes argumentos, apagando
o primeiro amor, fazendo do crente um resignado.
Comumente falamos das gloriosas vitórias que a oração
consegue; com ela tudo é possível! Precisamos apenas nos di
rigirmos a Deus, e Ele afastará de nós todas as dificuldades; a
oração é uma arma invencível que triunfa sobre tudo! Porém,
isso não é apenas uma teoria, vulgarmente desmentida pela nossa
experiência? O que averiguamos nós através dos fatos?
Quando passamos por momentos de provação e clamamos
ao Senhor, Ele nos deu instantaneamente forças em resposta à
nossa oração? Isso é possível; mas Ele o tem sempre feito? Quando
não tínhamos dinheiro suficiente para cobrir o nosso orçamento
mensal e nos dirigimos a Ele, enviou-nos Ele um anjo ou um
amigo trazendo um cheque? Isso talvez aconteceu; mas, algumas
vezes, isso também não nos deixou no embaraço?
Hoje, alguns filhos de Deus padecem fome porque outros
fecham o seu coração às necessidades deles. Sim, alguns sofrem,
ao mesmo tempo em que clamam pelo socorro divino. Não é isso
um fato? O Senhor Jesus descreve-nos o amor paternal de Deus
de modo extremamente tocante e pleno de poesia. Deleitamo-nos
em ler e reler aquela magnífica página da Escritura Sagrada onde
A Perseverança e a Oração 39
Jesus fala do cuidado que seu Pai tem pelas aves do céu e pelos
lírios do campo (Mt 6:25-34). Mas onde está a providência divina
neste mundo de injustiças, misérias e mortes? Alguns negam a
providência de Deus, ao dizerem: “Deus está morto! A ‘fé’ per
tence ao passado; ela não passa de superstição; é uma esperança
útil, sem dúvida, mas vazia, vã” . Outros, sem negar a provi
dência de Deus, hesitam em confessar a sua perplexidade ou,
talvez, a sua incredulidade. Por que Deus não responde? Por que
demora tanto? Por quê? É nesses momentos de dúvida que Deus
pode parecer como o amigo ou o juiz que, nas parábolas citadas,
não querem atender os rogos que lhes são dirigidos. De fato, as
parábolas de Jesus descrevem-nos Deus não como Ele é na rea
lidade, e sim como Ele é visto pelo homem possuído de dúvida e
de incredulidade, quando a provação o submerge e ele na sua
tristeza nada mais compreende. Tal como o amigo incompassivo
ou o juiz iníquo, assim parece Deus ao crente provado pela demora
divina em agir. Esta tentação pode muito bem assaltar a todo o
verdadeiro crente.
No início de nossa vida cristã, talvez tivéssemos pensado
que o pecado estava vencido para sempre. O Senhor deu-nos
vitórias magníficas que nos confirmaram isso mesmo. Depois,
um pouco mais tarde, tivemos de enfrentar uma vez ou outra o
pecado sempre renascente! Clamamos ao Senhor inúmeras vezes
para nos libertar do mal... mas esse mal sempre volta! Apa
rentem ente, temos batalhado em vão; as vitórias têm sido
alternadas com fracassos. Cremos que tínhamos chegado, e
precisamos sempre recomeçar. O Senhor nos deu, por certo,
vitórias duradouras, definitivas. Mas, em determinadas áreas,
lutamos ainda. A alguns Ele deu um elevado grau de santidade,
mas outros enfrentam constantemente um combate que parece
não ter fim. É verdade que alguns “subjugaram reinos, praticaram
a justiça, obtiveram promessas, fecharam bocas de leões, extin-
guiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da
fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram
em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb 11.33-34); mas também
é verdade que outros “foram torturados... passaram pela prova
de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram
40 A O ração que D eus R esponde
A perseverança na oração
É disso que nos falam, precisamente, estas duas parábolas:
a do amigo importuno e a do juiz iníquo. Se um amigo egoísta
acabou por ceder àquele que lhe pediu três pães; se um juiz iníquo
acabou, ele próprio, por ceder à insistência daquela mulher pobre
e queixosa; e se um pai, ainda que mau, não dá uma pedra em
lugar de pão ao filho, nem uma serpente em lugar de peixe, nem
ainda um escorpião em lugar de um ovo (Lc 11.11-13), certamen-
A Perseverança e a Oração 41
pelos seus irmãos que sofrem e mesmo pedir a sua libertação (Jo
16.23, 2 Tm 3.12, Hb 11.35-40). De igual modo, o crente pode
e deve suplicar de Deus a paz para o mundo! No entanto, a sua
intercessão intensa e sincera fundir-se-á na suprema prece: “To
davia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt
26.39-42, At 21.14).
Por outro lado, aquele que ora pela salvação dos homens
pode basear-se sobre claras expressões da vontade divina: “Tão
certo como eu vivo, diz o S enhor Deus, não tenho prazer na
morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu
caminho e viva” (Ez 33.11). O apóstolo cita a palavra profética
aos gentios, ao confirmar que Deus “deseja que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1
Tm. 2.4). Paulo faz precisamente desta vontade de Deus a base
de sua exortação para intercedermos “em favor de todos os ho
mens” (1 Tm 2.1-3).
Também é possível orarmos sem quaisquer reservas e com
uma perfeita segurança, rogando por um mais alto grau de san
tidade pessoal, tanto para nós como para nossos irmãos: “Pois
esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4.3); por
paz e unidade na igreja (Ef 4.3); por um testemunho mais ousa
do acerca de Jesus Cristo; por uma mais abundante medida de
sabedoria, diante dos acontecimentos e problemas da vida (Ef
6.19-20, Tg 1.2).
Tendo em mente tais assuntos, Tiago não hesita em dizer
que a oração deve ser feita a Deus “com fé, em nada duvidando;
pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada
pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor
alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os
seus caminhos (Tg 1.6-8). Seria falso e perigoso pensarmos que
este critério deve ser aplicado à oração, em qualquer circunstância.
Se a dúvida é condenável, quando incontestavelmente Deus falou;
o caso contrário é sabedoria. Muitas vezes somos constrangidos
a confessar que “não sabemos orar como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inex
primíveis” (Rm 8.26); e, então, deixamos ao cuidado do Espírito
de Deus o interceder por nós em nossas orações.
A Palavra de Deus e a Oração 47
Um espírito obediente
Este discernimento é também, não o esqueçamos, a con-
seqüência de uma vida de obediência. “Se alguém quiser fazer a
vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus”
(Jo 7.17), disse Jesus. Revelar-se-ia Deus àquele que, no fundo
do seu coração, decidiu não levar em conta esta revelação e
continuar a viver segundo as suas próprias idéias? Encontramos
o mesmo pensamento saído da pena do apóstolo João, que
escreveu: “Aquilo que pedimos dele recebemos” (1 Jo 3.22).
Será esta mais uma das promessas incondicionais de Deus?
Certamente que não, porque o apóstolo prosseguiu: “Porque guar
damos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é
agradável” . Vemos que se trata de crentes cujo sincero e profundo
desejo é agradar a Deus. A sua conduta, que se ajusta aos man
damentos de Deus, dá testemunho disso. Eles invocam, pois, ao
Senhor, a fim de que Ele os esclareça naquilo que poderia
agradar-Lhe. É de admirar que tais crentes sejam atendidos?
A sua obediência, é certo, não é a causa de serem eles
atendidos; se assim fosse, ela se tornaria um mérito ou virtude
pela qual tais crentes obteriam o que têm pedido. A sua obediên
cia simplesmente reflete, em suas vidas, a identificação do seu
desejo com o de seu Deus e Pai. Porque a vontade deles se ajusta
à de Deus, eles pedem, certamente, o que o Senhor lhes quer
conceder. Tal conhecimento é fruto de uma comunhão contínua
com Deus; uma comunhão que sempre carecerá de aprimo-
A Palavra de Deus e a Oração 49
12.8-9). Foi apenas no decorrer da oração que Deus lhe deu uma
convicção mais justa de sua vontade.
Precisamos, por vezes, saber tomar humildemente as nossas
responsabilidades e agir de acordo com o conhecimento que dispo
mos, ainda que este seja incompleto e frágil, deixando-nos mesmo
correr o risco de nos enganarmos, mas pedindo sinceramente a
Deus o reajustar de nossa oração, se tal for necessário, a fim de
que ela se identifique com o pensamento dEle.
8
u4 cfáe a Q/tação
A oração deve ser apresentada
a Deus com uma fé firme!
E um mistério
Primeiramente, o fato de que Jesus orou é, para nós, bastante
misterioso e, ao mesmo tempo, muito significativo. E um mistério,
com efeito, que o Filho de Deus tenha recorrido à oração. Era
Deus dirigindo-se a Deus. Como é difícil imaginarmos tal diálogo!
Essa atitude tem alguma semelhança com a nossa oração? Em
certo sentido, transcende a tudo que o homem pode imaginar,
pois jamais seremos capazes de penetrar na intimidade divina.
As orações de Jesus registradas na Bíblia foram orações públicas
e, em todos os casos, audíveis e “visíveis” para os discípulos.
Elas visam à consolação, à edificação e à formação dos discípulos.
Estes podem compreendê-las, pronunciá-las e vivê-las em certa
medida, porque, se elas são orações do Filho de Deus, são também
as do Filho do Homem. No entanto, elas não nos permitem son
dar a misteriosa profundidade da comunhão divina.
Portanto, se o Filho de Deus recorreu à oração, nós temos
razões muito mais fortes para dela necessitarmos! Se o Homem
perfeito experimentou a necessidade de se retirar, a fim de estar
em comunhão com seu Pai, há razões mais fortes para nós (que
somos tão dependentes, tão vulneráveis, tão fracos) passarmos
tempo em comunhão com Deus. Esta é a primeira lição.
Há uma segunda lição, que está relacionada à própria natureza
da oração. Assim como observamos antes, muitas vezes apre
sentamos nossa oração como uma expressão de necessidade e,
em conseqüência, como uma série de pedidos. Esta noção
Jesus, o Homem de Oração 59
Os efeitos da oração
Entre todos os momentos de glória que, na terra, Jesus
experimentou, existe um que particularmente nos chama a atenção:
“Subiu ao monte com o propósito de orar. E aconteceu que,
enquanto orava, a aparência do seu rosto se transfigurou” (Lc
9.28-29). Esta experiência extraordinária foi singular, ainda que
Moisés vivera algo parecido, quando desceu do monte Sinai, onde
havia passado quarenta dias na presença de Deus. A sua face
resplandecia com uma luz que o povo não podia contemplar (Êx
34.29).
Mas, se estas experiências maravilhosas não foram gene
ralizadas, o estar em comunhão com Deus pode marcar pro
fundamente a vida e mesmo a face do crente que ora, embora
pareça não haver resposta evidente à oração. Não passamos
determinado tempo em oração a Deus sem que nosso caráter seja
modificado, sem que nosso coração seja purificado, sem que nossa
face se ilumine!
Estamos convencidos da necessidade da oração, apesar de
sua prática ser difícil. Sabemos que “deveriamos” , mas também
que fracassamos. Jesus conhece o nosso problema, a nossa falta
de coragem nesta área, pois a respeito da oração ele pronunciou
esta frase bem conhecida: “O espírito, na verdade, está pronto,
mas a carne é fraca” (Mt 26.41).
Ele, que venceu, conhece as nossas derrotas e convoca-nos
a não abandonar a luta. Ele não se desesperou quanto aos seus
três amigos — Pedro, Tiago e João, que nem uma hora puderam
vigiar com Ele. Acerca de nós, Ele também não se desespera!
Creiamos no seu poder e supliquemos-Lhe desse poder, ao mesmo
tempo que confessamos a nossa pobreza.
À medida que procuramos manter um contato permanente
com Deus, ao longo do dia, durante nossas atividades, procuremos
lugares sossegados, a fim de estarmos em comunhão com Ele,
nesses momentos de paz. Preparemo-nos, assim, para as grandes
decisões da vida, preservemos o nosso equilíbrio no turbilhão de
atividades e armemo-nos para enfrentar as provações. Depois,
certamente brilharemos com a sua luz diante dos outros.
64 A O ração que D eus R esponde
S enhor ,
Ensina-nos a orar,
para nos ensinares a verdadeira fé.
Ensina-nos a orar, para nos ensinares
a Te conhecermos.
Ensina-nos a orar, para nos ensinares
a nos assemelharmos a Ti.
Ensina-nos a orar,
Para nos ensinares a viver!
Para a tua alegria!
Para o teu deleite!
Para a tua glória!