Giovana S Pasa
Giovana S Pasa
Giovana S Pasa
ESCOLA DE ENGENHARIA
DOUTORADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Banca Examinadora:
Antonio Carlos Gastaud Maçada, Dr
Prof. PPGA / UFRGS
Carlos Honorato Schuch Santos, Dr
Prof. UNISC - UCS - ESPM
Francisco José Kliemann Neto, Dr
Prof. PPGEP / UFRGS
Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do título de Doutor em Engenharia de
Produção e aprovada em sua forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora
designada pelo Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção.
____________________________________
Prof. José Luis Duarte Ribeiro, Dr.
Orientador
Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
____________________________________
Prof. José Luis Duarte Ribeiro, Dr.
Coordenador
Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção
Banca Examinadora:
Antonio Carlos Gastaud Maçada, Dr
Prof. PPGA / UFRGS
RESUMO
ABSTRACT
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 12
4.1 PRIMEIRO PASSO: ESTUDO DO CONTEXTO HISTÓRICO DE SURGIMENTO DO SISTEMA PRODUTIVO ............. 47
4.2 SEGUNDO PASSO: IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS CONSTITUINTES DO SISTEMA DE
PRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 48
8 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................................... 135
ANEXO................................................................................................................................................................141
9
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação
As pessoas e as organizações existem num mundo em permanente mudança. As
modificações ocorrem sobre as coisas materiais - clima, recursos naturais disponíveis,
mudanças sísmicas – e sobre o pensamento da humanidade – o conhecimento científico e
tecnológico, os comportamentos sociais, políticos, econômicos e culturais, os relacionamentos
entre os países.
As mudanças nas coisas materiais acontecem por obra espontânea da natureza e por
influência do homem.
Já, o desenvolvimento do pensamento da humanidade se dá a cada vez que um
conjunto de crenças é aprimorado ou é destruído, sendo trocado por outro. Diz-se, então, que
houve a quebra de paradigmas. Womack, Jones e Roos (1992) observam: “Nenhuma nova
idéia surge do vácuo. Pelo contrário, novas idéias emergem de um conjunto de condições em
que as velhas idéias parecem não mais funcionarem”.
Os sistemas de produção estão sujeitos às mudanças: das coisas e dos pensamentos.
Os gerentes e os acadêmicos da área de produção e administração, imersos no ambiente de
mudança, tentam construir respostas capazes, na forma de novas configurações de sistemas
produtivos. Como fruto das tentativas, nascem três tipos de propostas: 1) aquelas que
efetivamente configuram um novo sistema produtivo; 2) aquelas que são autênticas, mas
configuram apenas partes de um sistema produtivo, e, finalmente; 3) aquelas que, por dolo ou
somente culpa, não passam de um traje de festa para promover a venda de uma personagem já
conhecida. Aqueles que trabalham com sistemas produtivos têm uma percepção da existência
13
destes três tipos. Porém, fica a pergunta: como distinguir uns de outros? Afinal, o que é um
sistema de produção completo e com elementos de inovação?
O objetivo aqui é desenvolver uma forma de verificar a consistência teórica de um
sistema produtivo. A motivação para isto nasceu de uma necessidade específica, a análise do
Sistema Toyota de Produção. Então, o objetivo se desdobra em dois. O primeiro objetivo
específico consiste em criar uma abordagem capaz de identificar a presença ou não, numa
proposição, dos elementos teóricos e práticos necessários e suficientes à conformação teórica
de um sistema produtivo, permitindo expor inconsistências porventura existentes. O segundo
objetivo específico é realizar uma aplicação sobre o Sistema Toyota de Produção, para testar a
força da proposta. Paralelamente, o estudo do Sistema Toyota de Produção, durante a
aplicação, permite o aperfeiçoar da sua forma teórica.
A relevância de se elaborar uma abordagem lógica da teoria de sistemas de produção,
tal que fiquem claros e bem delineados os seus elementos, está na possibilidade que se abre
para que tal sistema fique sujeito à falseabilidade proposta por Popper (1972). Popper (1972)
afirma:
“...só reconhecerei um sistema como empírico ou científico se ele for passível de
comprovação pela experiência. Essas considerações sugerem que deve ser tomado
como critério de demarcação, não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um
sistema. Em outras palavras, não exigirei que um sistema científico seja dado como
válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma
lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas empíricas,
em sentido negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema
científico empírico”.
Lê-se, aqui, que Popper exige de uma teoria que esta apresente estrutura lógica que
possa ser testada, na prática, quanto ao seu caráter de falso ou verdadeiro. Em outras
palavras, a base da cientificidade de uma teoria consiste nela possuir estrutura lógica clara e
verificável (PASA, 2001).
Então, ao caminhar-se em busca de uma clarificação da teoria de sistemas de
produção, se está chegando mais perto da possibilidade de tratá-los cientificamente, o que
vem ao encontro do anseio manifestado por Morin (2000), ao falar da “verdade da ciência”:
“Ora, os diversos trabalhos, em muitos pontos antagônicos, de Popper, Kuhn,
Lakatos, Feyerabend, entre outros, têm como traço comum a demonstração de que as
teorias científicas, como os ‘icebergs’, têm enorme parte imersa não científica, mas
indispensável ao desenvolvimento da ciência”.
O que se faz, nos esforços de pesquisa científica, é trazer, cada vez mais à tona as
partes imersas, dotando-as dos atributos da cientificidade. Não se abre mão de uma teoria
empírica que não foi falseada, por ela não estar totalmente desenvolvida. Ao contrário, busca-
14
ia, talvez, do método monográfico, o qual “parte do princípio de que o estudo de um caso em
profundidade pode ser representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos
semelhantes” (GIL, 1999, p.35).
Gil (1999, p. 35) ainda trata das grandes teorias ou quadros de referência. As teorias
são as “redes estendidas para capturar o que chamamos o ‘mundo’, para racionalizá-lo,
explicá-lo e dominá-lo” (POPPER apud GIL, 1999, p.36). Dentre as grandes teorias, que
subordinam as demais e condicionam procedimentos científicos, estão o funcionalismo, o
estruturalismo, a “compreensão”, o materialismo histórico e a etnometodologia. Destaca-se,
aqui, o estruturalismo, assim apresentado por Gil (1999, p.37):
“O estruturalismo parte do pressuposto de que cada sistema é um jogo de oposições,
presenças e ausências, constituindo uma estrutura, onde o todo e as partes são
interdependentes, de tal forma que as modificações que ocorrem num dos elementos
constituintes implicam na modificação de cada um dos outros e do próprio
conjunto”.
Será visto, ao longo deste trabalho, um esforço cujas bases são estruturalistas, ainda que não
se desprezem: 1) a possibilidade de alguns elementos terem importância e significado, mesmo
fora da estrutura referencial; 2) o imperativo da influência do meio sobre a estrutura; 3) a
relevância da compreensão da gênese dos elementos e da estrutura.
Quanto aos níveis, Gil (1999, p. 43) classifica as pesquisas em exploratórias,
descritivas e explicativas.
Sobre as pesquisas exploratórias, Gil (1999, p. 43) diz:
“As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas mais
precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.
“Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não
padronizadas e estudos de caso”.
“Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão
geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato”.
16
A leitura de Selltiz (1965, p.61) reforça a convicção de se tratar de uma pesquisa exploratória.
Lakatos e Markoni (1988, p.79) separam o método em “método de abordagem” e
“método de procedimento”. O método de abordagem pode ser: indutivo, dedutivo,
hipotético-dedutivo ou dialético, e apresenta similaridade ao de Gil. O método de
procedimento pode ser: histórico, comparativo, monográfico, estatístico, tipológico e
funcionalista. Segundo esta classificação, são de interesse, neste trabalho, o método histórico
e o método monográfico. O método histórico:
17
1.3 Estrutura
O primeiro capítulo contextualiza o tema de estudo, apresenta os objetivos e a sua
relevância. Também são explicados o método de trabalho, a estrutura e os limites da
abrangência.
O segundo capítulo revisa a teoria geral de sistemas, sendo complementado pelo
capítulo três que trata especificamente de sistemas de produção.
O capítulo quatro consiste de uma abordagem elaborada para avaliar, através de
perguntas, a existência de um sistema produtivo teórico-prático explicitado de forma
consistente.
Os capítulos cinco e seis apresentam uma aplicação da abordagem: o Sistema Toyota
de Produção. No capítulo cinco são executados os três primeiros passos da abordagem de
avaliação proposta no capítulo quatro: o estudo do contexto histórico de surgimento, a
identificação dos principais elementos e a elaboração da teoria do Sistema Toyota. No
capítulo 6 é executado o quarto passo da abordagem: a verificação da existência dos
elementos e características necessários a um sistema produtivo. Também no capítulo seis, à
luz da compreensão obtida pela aplicação da abordagem ao sistema Toyota, são apresentados
alguns aprimoramentos à mesma.
O capítulo sete apresenta as conclusões do trabalho e as sugestões para continuidade
da pesquisa.
18
50, culminando com o estabelecimento do Sistema Toyota de Produção (STP). Este ficou
conhecido como STP em 1970, mas foi estabelecido muito antes por Taiichi Ohno”. Em
Japan Management Association (1986, prefácio), Bodek diz: “... Sr. Taiichi Ohno, vice-
presidente da Toyota Motors e pai dos conceitos de kanban e just-in-time...”. Ainda no JMA
(1986, p.vi), Bodek diz: “O Sr. Shingo trabalhou com o Sr. Ohno para desenvolver o Sistema
Toyota”. Black (1998, p.130) descreve o conceito de single minute exchange of die” e diz:
“Este conceito foi desenvolvido por Shigeo Shingo (1981, 1985), ...”. Quando é buscado um
panorama da importância de Shingo e/ou Ohno, este se esboça pelo número de artigos sobre o
Sistema Toyota e seus elementos que têm como referências suas obras. Por exemplo:
Moxham & Greatbanks (2001), McIntosh et al. (2000), Li & Barnes (2000), Lau (1999),
Grout (1997), Horn & Cook (1997), Leschke (1997), Burcher, Dupernex & Relph (1996),
Gilmore & Smith (1996), Karlsson & Ahlstrom (1996), Motta (1996), Pasa & Ribeiro (1995),
Silva e Antunes Jr. (1995), Motta (1993) e Davy et al. (1992).
Finalmente, a abordagem elaborada aqui não tem a pretensão da perfeição, mas, isto
sim, tem o intuito primeiro de fazer lembrar a necessidade de explicitar as práticas
administrativas na forma de teorias cuja cientificidade (ou esforço por alcançar esta
cientificidade) permitam a possibilidade de falsear, satisfazendo, assim, mentes tão distintas
quanto Popper e Morin.
20
CAPÍTULO 2
esforçaram-se por lembrar a toda a gente que era preciso ter em conta o conjunto ou
a totalidade de um fenômeno”.
Ressaltam, porém, que “a oposição entre a visão analítica que corta em partes e a visão
sistêmica que observa a totalidade” remontam ao século VI a.C. Estas duas correntes são
ditas mecanicista e orgânica. Embora a consciência da dualidade de olhar o todo ou as partes
já existisse na antigüidade, as primeiras obras que vêm tratar o assunto surgem no século XX.
“Em 1911, Stéphane Leduc publica The Mecanism of life, tradução inglesa de
Théories physico-clinique de la vie et générations espontannées. Esta obra prefigura
a sistêmica, mas não tem influência significativa nas pesquisas subsequentes. A.A.
Bogdanov publica em russo, em 1912, o primeiro volume de uma obra intitulada
Tektology. Esta obra é a primeira sobre a teoria geral dos sistemas. Esta obra
somente chegou à língua inglesa em 1980! não teve muita influência sobre a
evolução da sistêmica e da cibernética” (BERTRAND & GUILLEMET, 1988,
p.26).
O desenvolvimento da teoria geral dos sistemas caminha, entre outras, pelas mãos da
biologia e da filosofia. “É a um biologista austríaco, Ludwig von Bertalanffy (1901-1972)
que devemos a teoria geral dos sistemas” (BERTRAND & GUILLEMET, 1988, p.28).
Bertalanffy apud Bertrand & Guillemet (1988, p.29) afirma que:
“Não basta estudar os constituintes e os processos de maneira isolada, é preciso
ainda resolver os problemas decisivos que a organização e a ordem, que os une
colocam; resultam da interação dinâmica das partes e tornam os seus
comportamentos diferentes, segundo quem os estuda isoladamente ou como
pertencentes a um todo”.
O modelo e a analogia
Um modelo possui uma certa analogia com o sistema que representa. Uma analogia é
uma semelhança estabelecida pela imaginação entre dois ou mais objetos de pensamento
essencialmente diferentes. Um modelo assemelha-se à realidade que é suposto representar,
mas, não se pode confundi-lo com a realidade. Um bom modelo é suposto ter uma boa
semelhança. A sistêmica constitui uma maneira de representar a realidade com modelos; é
uma estratégia de modelização da realidade (BERTRAND & GUILLEMET, 1988, p.47).
A partir daqui a palavra “elemento” é usada para fazer referência, de forma neutra, a
cada peça que vem compor o sistema.
Para a ABL (1943) estrutura é o “modo pelo qual as partes de um todo estão dispostas
umas em relação às outras.”
Bertrand & Guillemet (1988, p.67) afirmam que, uma vez que:
“os sistemas são geralmente demasiado complexos, examina-se um reduzido número
das suas características. Este exame do sistema efetua-se segundo duas dimensões: o
tempo e o espaço. O resultado obtido chama-se estrutura espaço-temporal da
organização. É preciso então compreender a noção de estrutura como o modelo
estabelecido e permanente das relações entre os elementos de uma organização.
Aliás, uma organização é uma criação que está em evolução constante. A sua
estrutura encontra a origem num processo de concepção organizacional e também
ela evolui”.
Kast e Rosenzweig apud Bertrand & Guillemet (1988, p.68) falam da estrutura como
“o elo ou a rede entre o meio organizacional e os subsistemas”. Afirmam que a estrutura é o
elemento que assegura a integração dos subsistemas, que são a tecnologia utilizada nas
operações, as relações entre as pessoas e a unidade de gestão e de controle.
Então, “estrutura” é a disposição dos elementos essenciais do todo que é o sistema,
disposição esta que acaba por determinar a natureza e as características do referido. Uma
vez estabelecida a estrutura, e enquanto ela vigora, delimita as possibilidades do
funcionamento dinâmico do sistema.
27
Goode e Hatt apud Lakatos e Marconi (1995) indicam que a teoria: i) orienta e
restringe a amplitude dos fatos a serem estudados; ii) serve como um sistema de
conceptualização e classificação; iii) resume sinteticamente o que se conhece sobre o objeto
de estudo, e faz isso através das generalizações empíricas e das inter-relações entre
afirmações comprovadas; iv) baseia-se em fatos e relações já conhecidos para fazer
previsões; v) indica lacunas no conhecimento, ou seja, indica os fatos e as relações que ainda
não estão satisfatoriamente explicados.
28
A teoria é uma elaboração mental que vêm explicar a complexidade dos sistemas ou
dos fenômenos através de leis concatenadas e inter-relacionadas. As teorias são construídas
fazendo uso das leis que, por sua vez, precisam dos conceitos para serem enunciadas.
2.9.2 Lei
De acordo com Jolivet (1955):
“As leis científicas que o raciocínio indutivo alcança são, segundo a fórmula de
Montesquieu, as relações constantes e necessárias que derivam da natureza das
coisas. As leis exprimem quer seja relações de existência ou de coexistência (a água
é um corpo incolor, inodoro, tendo tal densidade, suscetível de assumir os estados
líquido, sólido, gasoso, etc), - quer seja relações de causalidade ou de sucessão ( a
água ferve a 100 graus; o calor dilata os metais, etc.), - quer seja enfim as relações
de finalidade (o fígado tem por função regular a quantidade de açúcar no sangue)”.
Segundo Lakatos e Marconi (1995), as duas principais funções de uma lei específica
são: a) resumir uma grande quantidade de fatos; b) permitir prever novos fatos. Dizem, ainda,
os autores, que “quanto mais restrita uma lei, menos provável é a sua permanência como
apropriada para utilização em situações práticas de pesquisa, significando que suas
implicações não podem ser continuamente testadas.”
Kneller apud Lakatos e Marconi (1995) diz que “a finalidade da classificação, assim
como da generalização, é conduzir à formulação de leis – enunciados que descrevem
regularidades ou normas”.
Ferreira (1999) apresenta os seguintes significados para a palavra “lei”, concernentes
ao tema: norma, preceito, princípio, regra; relação necessária entre fenômenos, entre
momentos de um processo ou entre estados de um ser, e que lhes expressa a natureza ou a
essência; fórmula geral que enuncia uma relação constante entre fenômenos de uma dada
ordem; lei natural.
29
Aqui, aceita-se que leis são, conforme Montesquieu, ‘as relações constantes e
necessárias que derivam da natureza das coisas’, e entendem-se as “coisas” aqui de forma
ampla, abrangendo desde objetos a fenômenos. As suas funções são de resumir uma grande
quantidade de fatos e permitir prever novos fatos. Destaca-se a relação entre leis e
princípios, onde os princípios são as leis maiores que determinam os alicerces da estrutura
do sistema.
2.9.3 Princípio
Princípio significa: “preceito, regra, lei; origem de algo, de uma ação ou de um
conhecimento; na dedução, a proposição que lhe serve de base, ainda que de modo provisório,
e cuja verdade não é questionada” (FERREIRA, 1999).
Miranda (1979) diz:
“Quem alude a fórmulas, fins ou meios, alude necessariamente a princípios. Muitos
sorriem dos princípios e alguns os menosprezam como inofensivos. Serão outra
coisa todos os fios com que se teceram as sociedades de todos os tempos? São os
princípios que fazem uma tribo ser diferente da outra, ou a cidade italiana do século
XII ser diferente da cidade inglesa do mesmo século, a Rússia de Alexandre I ser
diferente da Inglaterra do seu tempo ou da França de 1789-1793. Desde que esses
princípios efetivamente sejam, as subestruturas lá estão para os encher.”
Ainda Miranda, diz: “Não há outro meio para destruir ou construir, em qualquer sociedade,
senão arrebentando os princípios que existem, ou impondo-lhe princípios novos.”
Os princípios são o ponto de partida. Ou seja, são as primeiras verdades a partir das
quais toda a estrutura do sistema teórico é construída. Com respeito a eles as demais leis
podem ser constituídas.
Antes de finalizar este item, cabe ressaltar que alguns autores fazem uso informal e
erradamente da palavra “filosofia” como um substituto para “conjunto de princípios ou leis”
ou para significar “o modo de pensar”. Esclarecendo sobre o real significado da palavra
filosofia, busca-se Jolivet (1955, p.11) que, ao escrever sobre “as diversas formas do saber”,
cita o conhecimento empírico, o conhecimento científico e o conhecimento filosófico. “O
conhecimento filosófico, enfim, é a mais alta expressão da necessidade de saber. É uma
ciência, enquanto quer conhecer todas as coisas por suas causas. Mas, enquanto todas as
outras ciências se restringem a descobrir as causas mais imediatas, a Filosofia tem por fim
descobrir as causas mais universais, isto é, as causas primeiras de todas as coisas”.
30
2.9.4 Conceito
Para enunciar uma lei ou um princípio, é preciso fazer uso de conceitos.
Segundo o ABL (1943), conceito é: “Tudo o que o espírito pode conceber. Síntese,
símbolo. Mente, entendimento, juízo. Idéia concebida pelo espírito acerca de coisa ou
pessoa.”
Ferreira (1999) diz, sobre “conceito”: representação dum objeto pelo pensamento, por
meio de suas características gerais; ação de formular uma idéia por meio de palavras;
definição, caracterização.
Jolivet (1955, p.198) diz:
“A idéia abstrata pode imediatamente ser pensada como aplicável a todos os objetos
da mesma espécie. (A idéia de triângulo convém a todos os triângulos, isósceles,
escalenos, etc.; a idéia de homem, a todos os homens, pretos, brancos, Tiago, João,
etc.). Ela é, então, ao mesmo tempo que abstrata e enquanto abstrata, geral. Dá-se-
lhe, muitas vezes, sob este ponto de vista, o nome de conceito. É claro que a
abstração pode ser mais ou menos, geral. A idéia de mesa redonda, por exemplo, é
menos geral do que a de mesa; o conceito de suporte é mais geral do que o de mesa
(a mesa sendo uma espécie do gênero suporte); a idéia de homem é menos geral do
que a de ser vivo”.
2.10.1 Método
Tratando de “método” num sentido amplo, ninguém melhor do que Descartes (19__),
autor do Discurso sobre o método, para defini-lo como “o caminho a seguir para chegar à
verdade nas ciências”. Nesse sentido, poder-se-iam estudar os diversos “métodos” utilizados
para se desenvolverem sistemas de produção. Mas, não é este o caso. O que se pergunta aqui
é: a palavra “método” deve ser usada para designar um ou mais elementos de um sistema de
produção prático? Analisando-se os significados possíveis da palavra “método”, para esse
caso, encontra-se em Jolivet (1955): “...o método é a ordem que se deve impor aos diferentes
processos necessários para atingir um fim dado.” Gil (1999, p.26) define “método como
caminho para se chegar a determinado fim. E método científico como o conjunto de
procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. Já, em
Ferreira (1999) encontra-se: caminho para chegar a um fim; caminho pelo qual se atinge um
objetivo; programa que regula previamente uma série de operações que se devem realizar,
apontando erros evitáveis, em vista de um resultado determinado; recurso empregado para
alcançar um objetivo; expediente, meio. ABL (1943) apresenta método como: “modo de
proceder; maneira de fazer; ordem”.
Concluindo, existem elementos num sistema prático que são prescrições de caminhos
a serem seguidos para atingir-se determinado objetivo; estes serão chamados de métodos.
33
2.10.2 Tecnologia
Enquanto os métodos traçam os caminhos a serem seguidos, o “veículo” que se usará
para percorrer estes caminhos compreende a tecnologia. Ferreira (1999) apresenta, como um
dos significados para ‘tecnologia’: “conjunto de conhecimentos, especialmente princípios
científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade.”
Então, para seguirem-se as prescrições de um método, far-se-á uso de tecnologias,
onde a tecnologia é um conjunto de conhecimentos derivados de princípios científicos e
aplicados a um ramo de atividade.
2.10.3 Técnica
Ferreira (1999) apresenta os seguintes significados para “técnica”: a parte material ou
o conjunto de processos de uma arte; maneira, jeito ou habilidade especial de executar ou
fazer algo; saber provindo da experiência; prática. O uso da palavra “técnica” para designar
elementos de um sistema de produção é possível quando se adota a mesma significando um
saber essencialmente prático, visto que derivado da prática e voltado a ela. Gil (1999, p. 33)
afirma: “É certo que o contraste entre método e técnica é uma questão de grau e,
conseqüentemente, a inclusão desses procedimentos numa ou noutra categoria decorre de
razões de certa forma arbitrárias”. Então, este saber assemelha-se um pouco ao método (no
presente contexto), uma vez que a técnica também prescreve formas e habilidades de fazer
algo, porém, a técnica diferencia-se por sua especificidade (prescreve não somente o
caminho, mas também qual a tecnologia e como esta deve ser aplicada) e por seu caráter
estritamente prático e aplicado.
Cabe destacar que alguns autores utilizam informalmente, ao descrever sistemas
práticos, a palavra “ferramenta” querendo significar por vezes método, por vezes técnica.
ciência, cuja origem é a necessidade de inserir o caráter de aplicabilidade àquela ciência para
fruir de suas benesses. A técnica nasce quando escolheu-se o método e a ele já se designou
uma tecnologia.
CAPÍTULO 3
Riggs (1970, p.12) propõe uma figura – aqui apresentada como Figura 1 – que aborda
questões importantes presentes num sistema de produção.
Então, na Figura 1, os anéis externos representam a parte de ‘planejamento’. A
seqüência destes anéis consiste, de dentro para fora, da previsão de futuras vendas, do
orçamento de capital para identificar as ações mais econômicas, da alocação de recursos ao
plano de ação preferido, e da realização dos passos do planejamento de recursos. A parte de
‘análise’ se concentra sobre os três recursos representados pelos círculos mais internos -
homens, máquinas e materiais. As porções dos círculos que se sobrepõem representam a
coordenação necessária para integrar efetivamente os recursos. No centro, onde todos os
círculos se sobrepõem, está o coração da função de gerenciamento. O triângulo que envolve
os três círculos de recursos representa a seção de ‘controle’, onde cada lado do triângulo
denota uma área de controle, a saber: quantidades, qualidade e processo (RIGGS, 1970,
p.12).
37
Homens
Controle Controle
de de
qualidade quantidade
Manutenção Métodos
Gerência
Máquinas Materiais
Medições
Controle
de
Os 4 processo
Figura 1 – Representação da estrutura do livro de Riggs, que é, ao mesmo tempo, a simbolização daquele
autor para os sistemas de produção. (Adaptado de Riggs, 1970, p.12, figura 1.4 no original)
Riggs (1970, p.25) cita as principais funções de uma empresa industrial relativamente
grande. São elas: administrativa, política, compras, manufatura, pessoal, desenvolvimento de
produto, marketing, finanças e contabilidade. Segundo o mesmo autor (RIGGS, 1970, p.27),
uma outra maneira de agrupar as funções de um processo de produção é de acordo com as
suas posições relativas dentro de um processo de produção, o que é apresentado na Figura 2 –
Ciclo das funções da produção.
Figura 2 – Ciclo das funções da produção (Fonte: RIGGS, 1970, p.27, figura 2.5 no original).
39
De acordo com Krajewski & Ritzman (1999, p.3 e 4), as “entradas e saídas variam
entre as diferentes empresas. (...) Entretanto, as funções fundamentais dos processos se
mantém verdadeiras para todos os sistemas de produção”.
40
Ambiente
participação do
cliente ou
consumidor
Entradas
• trabalhadores Operações e
• gerente processos
Saídas
• equipamentos • Bens
• instalações 1 3 • Serviços
• materiais 5
2 4
• serviços
• terreno
• energia
Informações
sobre o
desempenho
Figura 3 – A gestão da produção como parte do sistema de produção (Fonte: KRAJEWSKI & RITZMAN,
1999, p.3, figura 1.1 no original)
A gestão das operações é apresentada por Krajewski e Ritzman (1999, p.4) como um
“conjunto de decisões”. São identificadas por eles cinco categorias de decisões.
A primeira categoria abrange “as decisões estratégicas, que afetam o direcionamento
futuro da companhia.” São determinadas estratégias globais, prioridades competitivas, e a
forma como os recursos devem ser dispostos em torno dos produtos ou processos
(KRAJEWSKI E RITZMAN, 1999, p.5).
A segunda categoria de decisões diz respeito aos processos. Envolve decisões sobre
os tipos de atividades que serão realizadas internamente, a quantidade de automação que será
utilizada, os métodos de melhoria que serão aplicados, as tecnologias sobre as quais se
buscará domínio, as formas de alcançar-se um patamar de liderança em mudanças
tecnológicas, e, também, sobre o gerenciamento da força de trabalho (KRAJEWSKI E
RITZMAN, 1999, p.5).
A terceira categoria abrange os aspectos de qualidade, de forma ampla.
41
Clientes Informações
Entrega de produtores
ou consumidores de mercado
produtos
Vendas a
Distribuição clientes e
provisões
Inspeção
(controle de
qualidade)
Recomenda modificações de projeto
Perdas por sucata (%) Finanças
Produtos
acabados
Orçamento
Sistema de manufatura
Recomenda alterações de projeto para melhorar a de produção
fabricação
Engenharia
de projeto
Programação do trabalho
Almoxarifados
Fornece materiais
Entrega de Planejamento e
Compras controle da Desenhos,
material produção especificações
e padrões
Controle de
estoques Programação
de material
Requisições
de materiais P&D
Fornecedores
Projeta &
Legenda: sistemas de informação testa &
reprojeta
Instruções ou ordens novos
Realimentação ou monitorização produtos
Fluxo de material
Figura 4– As funções e sistemas do sistema produtivo, que incluem (e servem ao) sistema de manufatura
(Fonte: BLACK, 1998, p. 34, figura 1-9)
Uma organização é uma associação de pessoas com o fim de, unindo suas forças,
atingirem um objetivo comum. A organização produtiva estrutura-se com vários sub-
sistemas, entre eles o subsistema de produção. Onde estão os limites que demarcam o final de
uma e o início do outro? É como perguntar onde estão os limites que demarcam a separação
entre o corpo humano e o seu sistema circulatório. Um não tem sentido e não vive sem o
outro; porém, usando as recomendações de Descartes faz-se a separação em partes para fins
44
de estudo. É claro, então, que a separação é anti-natural e arbitrária, existindo só com fins de
superar limitações intelectuais.
CAPÍTULO 4
bibliográfica. Quando uma nova proposta de S.P. surge, muito é escrito sobre o sistema em si
e sobre a sua aplicabilidade. Infelizmente, o que é comum encontrar são descrições que
pecam pela falta de rigor conceitual. Daí a necessidade desta leitura crítica.
4.4.2 Abertura
A abertura é caracterizada pela troca de energia, matéria ou informação com o meio,
segundo Bertrand & Guillemet (1988, p.47).
Um sistema produtivo deve ser, necessariamente, um sistema em constante interação
com o meio. Assim, um sistema produtivo deve conter elementos que assegurem a interação
com o meio permitindo a troca de materiais, informações e serviços com o meio.
Para a avaliação da “abertura”, as seguintes questões são relevantes:
9) Existem elementos que propiciam a troca de materiais e de serviços com o meio?
10) Existem elementos que propiciam a troca de informações e conhecimento com o
meio?
4.4.4 Fluxos
Os fluxos relativos a um sistema produtivo são tanto os fluxos internos a este quanto
os fluxos de relacionamento deste com o meio. Além desta classificação (internos e
externos), os fluxos podem ser classificados pelos elementos que são conduzidos, que podem
ser, por exemplo, de natureza material e de informações.
Assim, devem ser avaliados três aspectos: (i) a existência dos fluxos propriamente
ditos, (ii) a existência de mecanismos que favorecem a ocorrência destes fluxos, e (iii) a
eficiência destes fluxos em atingirem seus objetivos.
Aqui cabe tratar dos fluxos internos, uma vez que o item “abertura” tratou dos fluxos
externos.
Para a avaliação dos “fluxos”, as seguintes questões são relevantes:
13) Existem fluxos de informação internos? Como são operacionalizados?
14) Existem fluxos internos de materiais?
4.4.6 Teoria
A teoria é a própria explicação do sistema produtivo. Além da existência dos
conceitos, princípios e leis, conforme será explicitado a seguir, é preciso haver uma
concatenação lógica entre estes, permitindo a formação da teoria. Então, testa-se na teoria:
(i) se ela apresenta um corpo coerente; (ii) se ela é capaz de explicar; (iii) se ela é capaz de
auxiliar a prever; (iv) se ela é passível de sofrer os testes de falseabilidade.
Quanto ao quarto quesito, a falseabilidadade,
“Popper exige de uma teoria que esta apresente estrutura lógica que possa ser
testada, na prática, quanto ao seu caráter de falso ou verdadeiro. Em outras palavras,
a base da cientificidade de uma teoria consiste nela possuir estrutura lógica clara e
verificável. Porém, ele ressalta que, não importa quantas verificações sejam feitas,
não há garantias de que a teoria seja verdadeira, mas, somente, de que não foi
falseada” (PASA, 2001).
4.4.6.1 Conceitos
Para explicar o sistema produtivo, é necessário haver uma base conceitual clara,
explícita, compartilhada e coerente entre si e em relação ao todo. Assim, no que se refere à
base conceitual, um sistema produtivo deve ser avaliado considerando as seguintes questões:
20) Existe um conjunto explícito de conceitos que sustenta a teoria?
4.4.6.2 Princípios
Os princípios são as primeiras verdades aceitas, a partir das quais toda a teoria é
desenvolvida. Esses devem ser claros, explícitos, compartilhados, coerentes entre si e em
relação à base conceitual e passíveis de serem testados.
Questões:
21) Existe um conjunto explicitado de princípios que sustenta a teoria?
22) Esse conjunto de princípios é unívoco, compartilhado por todos os níveis
hierárquicos do sistema produtivo e apresenta coerência interna?
23) Os princípios são passíveis de serem testados?
4.4.6.3 Leis
A explicação teórica está apoiada primeiramente nos princípios, e é complementada
pelas leis. Estas precisam ser claras, explícitas, compartilhadas, coerentes com os princípios,
com a base conceitual e entre si. As leis também precisam ter a função de explicar e prever e
devem ser passíveis de sofrer teste.
Assim, no que se refere às leis, os sistemas produtivos devem ser avaliados
considerando as seguintes questões:
24) Existem leis explicitadas e compartilhadas por todos os níveis hierárquicos do
sistema produtivo?
25) As leis são coerentes com os princípios?
26) As leis são coerentes com a base conceitual?
27) As leis são coerentes entre si?
28) As leis podem explicar o que acontece?
29) As leis podem prever o que irá acontecer?
30) As leis podem ser testadas?
54
4.4.7.1 Método
Uma vez que um sistema de produção teve a sua teoria explicitada, tornam-se visíveis
os princípios e as leis que regem tal sistema. Estes, por sua vez, existem com uma
determinada finalidade ou objetivo. Vem, então, a necessidade de estabelecer os passos que
devem ser seguidos, respeitando-se os princípios e leis, de modo que o objetivo seja
alcançado. A prescrição destes passos constitui-se no método.
Questões:
31) Há um conjunto de métodos que possibilitem a operacionalização do sistema
produtivo?
32) Os métodos respeitam os princípios?
33) Os métodos respeitam os conceitos?
34) Os métodos respeitam as leis?
35) Os métodos são capazes de conduzir ao alcance dos objetivos propostos?
4.4.7.2 Tecnologia
Estabelecidos os métodos associados aos objetivos parciais necessários ao alcance do
objetivo ou meta maior, é preciso que sejam indicadas as possíveis tecnologias adequadas aos
métodos. Os requisitos para que uma tecnologia seja vinculada a um método são: a validade
intrínseca da tecnologia, a coerência desta com os princípios do sistema teórico, a capacidade
desta de auxiliar no alcance do objetivo do sistema produtivo.
Questões associadas?
36) Há um conjunto de tecnologias que possibilitem a operacionalização do sistema?
55
4.4.7.3 Técnica
Um sistema produtivo é munido de métodos, que são prescrições de caminhos para
atingir um determinado objetivo, além de ser munido de tecnologias, que tornam operacional
o método. Uma vez que o método é associado a uma determinada tecnologia, as minúcias do
caminho a ser percorrido precisam ser descritas. Não se diz somente o caminho, mas, cada
passo e como este deve ser percorrido. Então, têm-se as técnicas. As técnicas precisam
apresentar coerência com os princípios do sistema teórico, precisam ser claras e devem
auxiliar no alcance do objetivo do sistema produtivo.
Questões associadas:
42) Há um conjunto de técnicas que possibilitem a operacionalização do sistema?
43) As técnicas sugeridas têm validade intrínseca?
44) As técnicas são coerentes com os princípios, conceitos e leis do sistema?
45) As técnicas sugeridas ajudam a atingir os objetivos desejados?
4.4.8 Conhecimento
“No decorrer das últimas décadas, assistimos ao surgimento de uma nova economia,
moldada de modo decisivo pelas tecnologias da informática e da comunicação.
Nessa nova economia, o processamento de informações e a criação de
conhecimentos científicos e técnicos são as fontes principais de produtividade.
Segundo a teoria econômica clássica, as fontes fundamentais de riqueza são os
recursos naturais (a terra, em particular), o capital e o trabalho. A produtividade
resulta da combinação eficaz dessas três fontes através da administração e da
tecnologia. Na economia de hoje em dia, tanto a administração quanto a tecnologia
estão intrinsecamente ligadas à criação de conhecimento. Os aumentos de
produtividade não vêm do trabalho, mas da capacidade de equipar o trabalho com
novas habilidades baseadas num conhecimento novo. É por isso que a
“administração do conhecimento”, o “capital intelectual” e o “aprendizado das
organizações” tornaram-se conceitos importantes, e novos, da teoria da
administração” (CAPRA, 2002, p.112).
56
Cabe aqui investigar um pouco mais da visão atual sobre o conhecimento e de como
este é parte dos sistemas produtivos e das organizações. Há um ditado romano que indica:
Volat irrecuo cabile tempus - o tempo muda e nós mudamos com ele. Nesta mudança nasce o
conhecimento. Conhecimento abrange: criar, armazenar, difundir, utilizar.
Quanto à importância do conhecimento, Nonaka & Takeuchi (1997, p.5) revisam a
visão ocidental, citando Druker, Toffler e Quinn:
“Drucker (1993) argumenta em seu último livro que, na nova economia, o
conhecimento não é apenas mais um recurso, ao lado dos tradicionais fatores de
produção – trabalho, capital e terra – mas sim o único recurso significativo
atualmente”. (...) “Toffler (1990) corrobora a afirmação de Drucker, proclamando
que o conhecimento é a fonte de poder de mais alta qualidade e a chave para a
mudança de poder. Toffler observa que o conhecimento passou de auxiliar do poder
monetário e da força física à sua própria essência e é por isso que a batalha pelo
controle do conhecimento e pelos meios de comunicação está se acirrando no mundo
inteiro. Toffler acredita que o conhecimento é o substituto definitivo de outros
recursos”. (...) “Quinn (1992) compartilha com Drucker e Toffler a visão
semelhante de que o poder econômico e de produção de uma empresa moderna está
mais em suas capacidades intelectuais e de serviço do que em seus ativos
imobilizados, como terra, instalações e equipamento. Vai um pouco mais adiante ao
apontar que o valor da maioria dos produtos e serviços depende principalmente de
como os “fatores intangíveis baseados no conhecimento” – como know-how
tecnológico, projeto do produto, apresentação de marketing, compreensão do cliente,
criatividade pessoal e inovação – podem ser desenvolvidos”.
Quanto à forma pela qual se dá o conhecimento, Nonaka & Takeuchi (1997, p.9)
enfatizam a necessidade da experiência, e citam Levitt: “Uma criança grita de dor ao tocar o
fogão quente. (...) nunca mais a criança tocará o queimador, a não ser cuidadosamente,
mesmo que o fogão não esteja aceso”. E concluem os autores: “De fato, o aprendizado mais
poderoso vem da experiência direta”. Gelinier reforça a mesma idéia ao falar de sistemas de
gestão:
“Como construir um sistema de gestão que possa bem responder a exigências tão
complexas? Antes de mais nada, vamos eliminar a idéia de que esse sistema
complexo possa ser o fruto improvisado e perfeito de uma elaboração puramente
tecnocrática e que já nasça adulto, como Minerva, que saltou, de capacete e escudo,
da cabeça de Júpiter. É, com efeito, impossível resolver simultaneamente, e no
papel, um grande número de problemas. Quem se obstinar em fazê-lo, será levado a
esquematizar demais, a programar aceleradamente regras “que funcionam” e de tal
forma que, às vezes, importantes normas de gestão nada mais representam, de fato,
senão o subproduto, muito pouco consciente, do trabalho do especialista em
informática. O nascimento dos sistemas complexos de gestão terá muito a lucrar
seguindo o modelo oferecido pelos nossos filhos de carne e osso: quem vem ao
mundo é um “bebê-sistema”, que aplica regras de gestão muito incompletas e
tremendamente insuficientes, mas é dotado de uma capacidade de aprendizagem que
lhe permite aperfeiçoar-se, vivendo. Para falar mais precisamente, é o conjunto
interligado managers-sistema de gestão que vai se aperfeiçoando com o uso: nosso
autor (Mélèse) descreve as condições desse fecundo processo que é a educação
mútua homem-sistema” (GELINIER APUD MÉLÈSE, em prefácio, 1973, p. XI).
57
CAPÍTULO 5
Então, o Sistema Toyota de Produção veio dizer que nem sempre a produção em
massa era a maneira mais rentável de produzir; havia uma dependência com o tipo de
demanda existente. Os criadores do STP perceberam que a produção em massa havia
apresentado, até então, resultados muito bons para demandas grandes, especialmente de
poucas variedades de produtos. Entretanto, a realidade mostrou que produzir em massa era
inviável economicamente quando esta demanda alterava-se para pequenas quantidades de
variedades diferenciadas de produtos. Esta condição exigente e restritiva da demanda no
Japão levou à busca de um sistema de produção mais flexível e mais rápido em suas respostas
ao mercado. A princípio, a validade de um sistema com tais características perdura até hoje,
embora por outras razões: primeiro, o excesso de oferta; segundo, a ampla gama de
variedades de produtos que as tecnologias específicas e o desenvolvimento de produtos
viabilizam; terceiro, a competição hoje é significativamente de caráter mundial.
Da época de início do STP até a atualidade, os movimentos da economia mundial
conduziram a momentos de maior e menor demanda. Independentemente disto, a grande
competição que foi instituída pela difusão da informação e pela facilidade do transporte fez
com que se tornasse vital a capacidade de responder com agilidade aos clientes. Para
responder assim aos clientes, sem manter estoques onerosos, é preciso ser capaz, novamente,
de produzir muitas variedades em pequenas quantidades.
Modarres, Ansari & Willis (2000) afirmam que, “em um mercado cada vez mais
competitivo, muitas empresas dos Estados Unidos têm disparado práticas de manufatura do
tipo just-in-time, como uma poderosa estratégia para se manterem lado a lado com os
competidores estrangeiros, tanto em qualidade como em produtividade”. Afirmam, ainda:
“Os conceitos de just-in-time têm sido estudados por muitos pesquisadores em áreas
tais como gerenciamento (Hayes and Wheelwright 1984), uso de tecnologia e
inovação (Finkelstein 1983), controle da qualidade (Deming 1989 e Juran 1974),
gerenciamento de estoques (Hall 1983), flexibilidade na manufatura (Fitzsimmons et
60
Segundo eles, muitos estudos sugerem que ganhos substanciais podem ser obtidos pelas
empresas que aplicam práticas de manufatura Just-in-Time, tais como redução de estoques,
eliminação de rastreamento de inventário e maior qualidade.
Lau (2000) afirma, em estudo sobre a sinergia da implementação de just-in-time (JIT)
e TQM (Total quality management), o seguinte: “Tanto o just-in-time quanto o TQM têm
provido uma significativa mudança de paradigma na filosofia de gerenciamento para a efetiva
melhoria organizacional, em um mercado que hoje é competitivo e constantemente mutável”.
O estudo de Lau (2000) compreendeu uma pesquisa via questionário, realizada com 379
empresas dos Estados Unidos, exclusivamente no ramo de eletrônica e computadores. Destas,
167 apresentavam práticas de just-in-time. Este é um número que provê uma noção da
abrangência das práticas de JIT nos Estados Unidos.
Ainda, McMullen et al. (2000) dizem: “Os benefícios advindos de sistemas de
produção just-in-time bem sucedidos – tais como a redução nos níveis de inventário, e uma
melhor capacidade de responder ao mercado – já são bem documentados”.
Os mais empolgados vêem o STP como um sistema amplo e irrestrito em abrangência,
como afirmado por um de seus criadores, Shingo (1981):
“Se o Sistema Toyota de Produção for revisto do ponto de vista de um sistema
fundamental de produção e controle, este sistema poderá ser aplicado a empresas em
todos os países, como um sistema universal de controle da produção, sendo adaptado
às características de cada planta, e eu acredito que grandes resultados poderiam ser
esperados”.
Afinados com este tom, acham-se, por exemplo, Womack, Jones e Roos (1992):
“... tornamo-nos convictos de que os princípios da produção enxuta se aplicam
igualmente a todas as indústrias de todo o mundo e que a conversão para a produção
enxuta exercerá profundo efeito sobre a sociedade humana – na verdade, ela irá
transformar o mundo”.
Erhun (1999) citam Groenevelt (1993): “Os sistemas JIT têm provado que são efetivos para
auxiliar a alcançar as metas de produção em ambientes cujos processos têm alta
confiabilidade, baixos tempos de setup e baixa variabilidade na demanda”. Segundo os
próprios Akturk e Erhun (1999), as vantagens da produção JIT incluem a redução de estoques,
a redução nos tempos de atravessamento (lead-time), o aumento na qualidade, a redução nas
taxas de refugo e retrabalho, a possibilidade de acompanhar os programas de produção
(schedules), maior flexibilidade, maior facilidade para automações, e melhor aproveitamento
de homens e máquinas. Ainda, na Universidade Shu-Te, em Taiwan, Li e Barnes (2000)
dizem: “Entre as abordagens disponíveis para a melhoria do desempenho da produção, várias
técnicas de manufatura just-in-time têm sido consideradas como ferramentas efetivas para a
reformulação da manufatura tipo job shop”. Porém, há uma parte da comunidade científica
que contesta a originalidade deste sistema. Woodgate (1991, p.6) diz:
“Just-in-Time tornou-se um termo popular nos últimos anos, mas o bom
administrador sempre trabalhou para reduzir estoques, e para fazer um produto com
alta qualidade. Certamente o uso do termo aumentou o interesse nesta área e a
propaganda por si só já justifica. Porém, a filosofia não é nova nem é
universalmente aplicável. O bom gerente pode separar a moda da verdade e usar o
aspecto da moda que for útil e aplicável a sua produção em particular”.
Motta (1996), por suas próprias palavras “avalia criticamente a adoção do “Just-in-
time”(JIT) como instrumento gerencial inovador e de superação do paradigma
Taylorista/Fordista”. Em seu estudo, Motta (1996) cita Dohse, Jurgens & Malsch (1985), que
ponderam:
“... o modelo organizacional japonês não é [ênfase no original], em princípio, um
sistema gerencial mais sofisticado e portanto transferível. Ao contrário, ele é
baseado num sistema de relações trabalhistas que, por inúmeras razões, não são
aceitáveis pelos sindicatos na Europa e nos Estados Unidos. Mais ainda, Fordismo e
“Toyotaismo” não são simplesmente paradigmas alternativos para a organização da
produção, porque a organização da produção e o sistema de relações de trabalho nos
dois sistemas estão relacionados um ao outro em formas significativamente
diferentes”.
Ainda que haja uma massa crítica, bem documentada na literatura, que acredita que o
Sistema Toyota de Produção é um sistema completo, original e transferível, percebe-se que
há, igualmente bem documentados, estudos que questionam com fortes e relevantes
argumentações tal completude, originalidade e transferibilidade. Portanto, acredita-se que o
Sistema Toyota de Produção possa se constituir num proveitoso estudo para experimentar a
abordagem de avaliação da consistência teórico-prática de sistemas produtivos proposta no
capítulo quatro.
62
Brox & Fader (2002) dizem: “Muitos fabricantes na indústria automobilística em torno do
mundo têm adotado o conjunto de estratégias de gestão “just-in-time” (JIT) num esforço para
melhorarem produtividade, eficiência e qualidade dos produtos”. Outras menções ao sucesso
de implantação fora do Japão aparecem em Garg & Deshmukh (1999), Hurley & Whybark
(1999) e Sale & Inman (2003).
Onde está a peça que falta para que se possa explicar que, ao mesmo tempo, um
sistema tenha um sucesso considerável junto ao meio empresarial e seja alvo de ferrenhas
críticas, e, diga-se, bem fundamentadas?
Parece que responder a estas questões passa por compreender a teoria que sustenta o
Sistema Toyota de Produção. Mas, que teoria é esta? Onde ela se encontra registrada?
O passo natural parece recorrer aos registros bibliográficos. Pesquisar livros e
periódicos que discutam o tema. No tópico Sistema Toyota de Produção, há uma vasta
literatura disponível. Então, foram buscados, inicialmente, aqueles livros escritos pelas
pessoas que estiveram mais próximas do Sistema Toyota enquanto ele era concebido: Ohno
(1997), Ohno & Mito (1986), Shingo (2000, 1988, 1987, 1986, 1981). Em seguida, a
publicação da Japan Management Association (JMA, 1986), que reúne material usado na
divulgação do Sistema Toyota no Japão. Finalmente, os demais autores que trataram do tema,
destacando como forte referência Monden (1984).
A surpresa foi que, ao final de tais leituras, não havia se estabelecido claramente a
teoria que sustenta o Sistema Toyota de Produção.
Os itens 5.1.3 e 5.1.4 tratam das possíveis causas da inexistência de uma teoria clara e
límpida. O item 5.1.5 argumenta sobre a necessidade de tal texto.
63
Como dito por Motta (1993, p.47), convive-se com a existência de “uma mistura de
conceitos contraditórios que fazem que o que está sendo exposto se torne ininteligível”.
Seria ingênuo pensar que os criadores do Sistema Toyota de Produção foram capazes
de criar o sistema e incapazes de escrever e descrever a teoria. É possível supor que, pela
forma de pensar dos japoneses a compreensão do sistema tenha transcendido a necessidade da
teoria explícita. Entretanto, tal não acontece para os ocidentais. O fato é que, aqui, no
ocidente, uma teoria concisa e clara do Sistema Toyota faz falta, pois, enquanto o objeto do
estudo está ininteligível, não há como avaliá-lo criticamente. Somente será possível discutir o
Sistema Toyota de Produção, havendo tal teoria. Porém, como construí-la, ainda que numa
forma singela, tomando como base os textos traduzidos? A proposta é tentar resgatar o
contexto histórico de surgimento do Sistema Toyota de Produção, o que foi feito no item
5.1.6. Neste item, se apresenta um mapeamento dos fatos históricos e dos fatos relativos ao
Sistema Toyota, dispondo-os na ordem cronológica de acontecimento. Neste item, respeitam-
se os termos dos originais. Procura-se manter a rastreabilidade através da apresentação
constante, junto aos excertos, das referências de origem.
Feito o item 5.1.6, enumeram-se os elementos do sistema (item 5.2) e inicia-se o
esforço da elaboração da teoria (item 5.3).
1
Taiichi Ohno – Em 1932, em meio à Grande Depressão, graduou-se Engenheiro Mecânico na Escola de
Nagoya e se uniu à Toyoda Spinning and Weaving. Em 1943 foi transferido à Toyota Motors. Em 1947, com 33
anos, ele tornou-se responsável pela principal fábrica da divisão de montagens da sede. Em 1948, ele tornou-se
responsável pela fábrica número 2 da planta de Koromo. Em 1949, tornou-se gerente de chão-de-fábrica. Em
1953, era o segundo em responsabilidade na manufatura e foi promovido a diretor da companhia.
67
mesmo sistema, tais como: Monden (1984), Womack, Jones & Roos (1992), Ghinato (1994),
Ghinato (1998), JMA (1986), Antunes (1998).
Nas palavras de Ohno (1997):
“Até mesmo meus próprios esforços para construir o Sistema Toyota de Produção,
bloco por bloco, também se baseavam na forte necessidade de descobrir um novo
método de produção que eliminasse o desperdício e nos ajudasse a alcançar os
Estados Unidos em três anos”.
O STP foi sendo construído ao longo de quase três décadas, até tomar sua forma conhecida.
A história mostra que esta necessidade de que fala Ohno decorria de o Japão estar saindo
derrotado da Segunda Guerra Mundial, precisando ser reconstruído. As bases para competir
fornecidas ao Japão eram as seguintes, comparativamente, por exemplo, aos Estados Unidos:
pequeno território, com a supervalorização do espaço físico, poucos recursos naturais,
demanda interna por poucas quantidades de diversas variedades. Nos aspectos facilitadores,
uma cultura em que a disposição para a cooperação com o grupo é inata e há disposição e
capacidade de aprender com outros povos. É dessa história que se trata no Anexo 1 desta
tese.
Ohno diz: “Na Toyota, primeiro estabelecemos o estilo Toyota de produção, que regulava o
fluxo de produção. Continuamos, então, a trabalhar no sistema Just-in-time para que as coisas
necessárias fossem providas nas quantidades necessárias, e no momento necessário. Então,
nós criamos o sistema kanban, como um meio de implementar o sistema just-in-time e
comunicar as informações (OHNO & MITO, 1986, p.98)”.
A Figura 5 apresenta os elementos conforme Monden (1984, p.2) e a Figura 6
apresenta os elementos conforme Ghinato (1994, p.148). As considerações de Antunes (1998,
p.206) são:
“Os principais componentes dos chamados Sistemas de Produção com Estoque-Zero
– SPEZ de forma geral e do Sistema Toyota de Produção de forma particular são:
a) Princípios Básicos de Construção de Sistemas de Produção com Estoque-Zero
(Definição do Conteúdo da Mudanças propostas)
- Mecanismo da Função Produção (Função-Processo e Função Operação);
- O Princípio do não-custo;
- As Perdas nos Sistemas Produtivos.
b) Conjunto de Subsistemas e Técnicas que suportam a construção dos Sistemas de
Produção com Estoque-Zero
- Subsistema de Defeito-Zero (Autonomação/CQZD/Poka-yoke);
- Subsistema de Quebra-Zero (MPT);
- Subsistema de Pré-Requisitos básicos de Engenharia de Produção (Troca Rápida
de Ferramentas, Layout celular, Operação-Padrão);
- Subsistema de Estoque-Zero (Kanban).
c) Logística de melhorias nos Sistemas de Produção com Estoque-Zero (Processo
da mudança proposto)
- A lógica do Kanban amplo (Subsistema de sincronização e melhorias);
- Utilização conjunta de todos os Subsistemas e Técnicas discutidas no item anterior.
d) Utilização de métodos de controle embasados na performance desejada do
sistema
- Custo-Alvo (Target Cost);
- Custo-Kaizen (Kaizen Costs).
e) Mecanismo de Pensamento Científico proposto por Shingo e o MIASP ao
estilo japonês.
Sistema Kanban
Produção sincronizada
Qualidade
assegurada
Redução do tempo de
Autonomação atravessamento (“lead-time”)
(“Jidoka”)
Figura 5 – Adaptado de Ghinato (1994, p.147, figura 23) com a legenda “Estrutura do Sistema Toyota de
Produção Segundo Monden (1984, p.2). É preciso fazer a ressalva de que Monden apresenta no original a
legenda “Custo, quantidade, qualidade e mão-de-obra são as melhorias do Sistema Toyota”, não
chamando de estrutura
70
Sistema “kanban”
Qualidade
assegurada Produção sincronizada
Respeito à
condição humana Redução do tempo de Quebra zero
atravessamento (“lead-time”)
Aumento da moral
dos trabalhadores Manutenção
Flexibilidade de Produção unitária em Pequeno lote Produtiva Total
mão- de-obra linhas balanceadas de produção (MPT)
(“Shojinka”)
“Nagara
”)
“Lay-out” do Operários com Operações Redução do tempo
posto de múltiplas funções padronizadas de preparação
trabalho (multifuncionalidade)
dade)
Autonomação (“Jidoka”)
5 S’s
Administração Zero Defeitos
funcional
Inspeção na fonte
Inspeção 100%
”Poka-yoke”
Lei 3 - A programação
Lei 2 - O tempo de atravessamento deve ser
deve ser nivelada
continuamente diminuído para melhorar o
Lei 1 - A produção deve ("heijunka") para ser
tempo de resposta ao mercado, com o
ser programada em adaptável. A
custo possível. Então, os elementos que
pequenos lotes, como adaptabilidade permite
compõem o tempo de atravessamento
condição necessária para menos estoques perdidos
ter seus tempos continuamente reduzidos:
a programação ser por obsolescência e o
preparação, transporte, processamento,
adaptável nivelamento permite a
inspeção, esperas por falta de sincronização,
redução das perdas de
esperas pelo tamanho do lote
oportunidade
Método b -
Técnica v -
Mapeamento pelo
Método a - TRF - A Cálculos de
Mecanismo da Técnica iii -
troca rápida de Técnica iv - Análise programação
Função Produção, Análise de valor,
ferramentas permite de tempos e nivelada, para
que permite o para diminuir o
a redução do tempo movimentos para prover a
estudo dos tempo de
de preparação, o diminuir os tempos sincronização
constituintes do processamento,
que é condição das operações que eliminando os
tempo de eliminando
necessária para afetem os tempos de tempos de espera;
atravessamento e as operações que não
produzir em atravessamento uso do "takt time"
necessidades de agregam valor
pequenos lotes e das quantidades
equipamentos e de
padronizadas
recursos humanos
Lei 3 - A
programação deve
ser nivelada
Lei 1 - A produção
("heijunka") para
deve ser Lei 4 - Os índices
ser adaptável. A
programada em de folga que geram Lei 5 - O
adaptabilidade
pequenos lotes, estoques de aproveitamento dos
permite menos
como condição segurança devem espaços deve ser
estoques perdidos
necessária para a ser reduzidos otimizado
por obsolescência e
programação ser continuamente
o nivelamento
adaptável
permite a redução
das perdas de
oportunidade
Técnica v -
Método a - TRF - A Cálculos de
troca rápida de programação
Técnica vii -
ferramentas permite nivelada, para Técnica x -
Inspeção na fonte,
a redução do tempo prover a Manutenção
auto-inspeção e
de preparação, o sincronização preventiva e Técnica viii - 5S
inspeção 100%
que é condição eliminando os manutenção
viabilizadas por
necessária para tempos de espera; autônoma
"poka-yoke"
produzir em uso do "takt time" e
pequenos lotes das quantidades
padronizadas
Técnica ix -
Técnicas de
previsão de Técnica ii - Estudo
demanda, não de "layout" celular e
específicas do STP, tecnologia de grupo
usadas para prever
recursos
Lei 7 - É preciso
prover meios para
ampliar a
Lei 9 - O "layout"
Lei 6 - É preciso autonomia dos Lei 8 - Os
irá priorizar o
mapear o processo equipamentos, de funcionários devem
aproveitamento da
produtivo para modo que os ser multifuncionais
mão-de-obra em
visualizar as reais mesmos substituam para assegurar
relação ao nível de
necessidades de as pessoas em flexibilidade
utilização dos
mão-de-obra tarefas repetitivas, ("shojinka")
equipamentos
ou aceitem a
simultaneidade de
controle ("nagara")
Método b -
Mapeamento pelo
Mecanismo da
Função Produção, Técnica vii -
Técnica xi - Técnica x -
que permite o Inspeção na fonte,
Técnicas de Manutenção Técnica ii - Estudo
estudo dos auto-inspeção e
controle via preventiva e de "layout" celular e
constituintes do inspeção 100%
autonomação manutenção tecnologia de grupo
tempo de viabilizadas por
("jidoka") autônoma
atravessamento e as "poka-yoke"
necessidades de
equipamentos e de
recursos humanos
Lei 13 - Os
equipamentos
Lei 10 - A
devem estar sob
padronização das Lei 11 - As pessoas
Lei 12 - Os controle. Deve
operações deve ser precisam estar sob
procedimentos de existir
buscada, como rigoroso controle da
planejamento e simultaneidade
forma de extrair do organização, uma
controle da entre controle e
operador o vez que elas detém
produção devem execução. Quando
conhecimento, um poder
estar possível, o
tornando este significativo sobre
permanentemente controle deve
conhecimento de os resultados do
visíveis a todos antecipar a
domínio da sistema produtivo
execução, através
corporação
da inspeção sobre as
causas
Técnicas xiv -
Técnica xv -
Explicitação visual -
Método e - "kanban" para
cartazes de todos os
Estabelecimento de informar a Técnica x - Técnica xi -
procedimentos-
relações de longo programação e Manutenção Técnicas de
padrão, tornando-os
prazo com os mantê-la preventiva e controle via
um "gabarito"
empregados; por controlável por manutenção autonomação
permanentemente
exemplo, emprego visibilidade autônoma ("jidoka")
disponível para a
vitalício constante em todos
fiscalização do
os pontos da linha
funcionário
Técnica xiii -
"Andon" para a Técnica vii -
Método d -
parada da linha, Inspeção na fonte,
Método c - Administração Técnica xii -
vinculada à auto-inspeção e
Atividades de funcional Sistemas de
autonomação inspeção 100%
pequenos grupos ("kinohbetsu sugestões
aplicada às pessoas, viabilizadas por
kanri")
ou seja, poder de "poka-yoke"
parar a linha
5.3.1 Princípio 1
O princípio 1 diz que “a produção deve ser programada em função do tempo de
atravessamento para atender a demanda no momento exato, operacionalizando o conceito Just
in time”.
Just in time significa produzir as quantidades necessárias, das variedades requeridas,
com a qualidade exigida e para o momento exato da demanda, sem atraso nem antecipação.
Este conceito busca uma situação ideal em que a produção estaria perfeitamente sincronizada
com a demanda, sem que os clientes precisassem esperar. Realizar esta sincronização, então,
ficaria a cargo da produção, que deve aumentar a sua rapidez de resposta diminuindo os
tempos de atravessamento.
É interessante observar que o conceito de produzir Just in time requer a percepção de
que a demanda e a programação são fenômenos que, a priori, são independentes. A função
que relacionará a “informação sobre a demanda” com a “programação da produção” é uma
função artificial, criada pelos homens. Da maior ou menor habilidade de criar uma função
capaz de relacionar ambas, é que derivam os resultados financeiros, de qualidade e de prazo,
enfim, de satisfação dos clientes. Há, para cada situação, diferentes funções que se podem
estabelecer. Porém, umas serão melhores que as outras. Ao fazer esta distinção é que os
produtores percebem que está a seu cargo um papel importante. Recorrendo a um exemplo
negativo, imagine-se que alguém acredite que demanda e programação estão vinculadas
naturalmente, sem a intervenção do homem. Então, esta pessoa observaria a demanda e
imediatamente programaria grandes lotes para atender grandes quantidades demandadas.
Então, por omissão, ela estaria aceitando como verdadeira uma relação direta entre os dois
fenômenos. É o que fazem aqueles que enxergam que produzir em grandes lotes está atrelado
diretamente à existência de grandes massas consumidoras. Alguém pode perguntar, então,
por que durante algum tempo a produção em massa teve sucesso. Para responder é preciso
notar que, algumas vezes, a demanda é naturalmente mais estável, como ocorreu no auge da
produção em massa. Quando isto ocorre, a programação tem tempo para se ajustar e, uma vez
ajustada, funciona bem por muito tempo. Porém, quando a demanda é um fenômeno variável
e imprevisível, há a necessidade de que as decisões de ‘como programar’, a partir da
informação de demanda, sejam muito mais elaboradas. Veja-se a história. A percepção de
independência entre demanda e programação nasceu da observação dos japoneses de que a
demanda de seus mercados era diferente da demanda existente nos Estados Unidos. Kiichiro
78
como auferir os benefícios de escala oferecidos pelas máquinas dedicadas, cuja tecnologia
requeria grandes lotes. A única forma de estabelecer uma relação economicamente viável
entre demandas relativamente pequenas e a produção era através de pequenos lotes. Porém,
isso requeria desenvolver outras formas de produzir, incluindo equipamentos diferentes. Vê-
se que os ganhos de escala não são intrinsecamente contestados, como se confirma ao ler
Shingo (1981, p.125): “O Sistema Toyota de Produção não é uma antítese à “produção em
massa”, mas, isto sim, é uma antítese à “produção em grandes lotes”. Somente estavam sendo
contestados os ganhos de escala associados ao lote grande. Isto porque, se trabalhar com
grandes lotes diminuía o efeito de longos tempos de preparação, ao mesmo tempo trazia o
malefício da geração de estoques nas mais diversas formas (por produção antecipada, pelo
tamanho do lote, etc). Já, a observação da linha de produção, por exemplo, não trazia
nenhuma contradição intrínseca ao trabalho com pequenos lotes. Não poderia ser
implementada tão facilmente para vários tipos de produtos quanto era para um único, mas, era
viável. Para implementá-la, foi preciso criar o kanban.
A necessidade de programar em pequenos lotes deu ao Sistema Toyota a possibilidade
de enxergar a independência dos fenômenos e ousar propor programar pequenos lotes também
para grandes demandas.
O fato de programar pequenos lotes viabiliza que a programação seja adaptável. Pode
se comparar a concretização da produção com a formação de uma imagem no computador.
Se esta imagem é construída por muitos pontos, cada ponto representa uma pequena
contribuição à figura como um todo. Apagar um “pixel” errado implica em corrigir pouca
informação. Da mesma forma, mudar um lote errado implica em pouca perda. Porém, se a
imagem trabalha com menos “pixels”, a imagem tem menor resolução. Um problema numa
área da imagem implica numa grande perda na figura como um todo. Um problema num
grande lote implica num grande problema na produção. Ainda usando o paralelo, uma
imagem composta de muitos “pixels” é rica em detalhes, da mesma forma que uma
programação em pequenos lotes pode ser complexa em variedades e adaptável.
O Método “a” que é a “TRF - troca rápida de ferramentas” permite a redução do
tempo de preparação, o que é condição necessária para produzir em pequenos lotes. A “troca
rápida de ferramentas” ou TRF é um método, uma vez que prescreve passos a serem seguidos
para se obter um menor tempo de preparação. Ela não configura uma técnica, uma vez que
não arbitra as tecnologias a serem usadas. É possível percorrer os passos propostos neste
método operacionalizando-os com tecnologias mais ou menos sofisticadas e caras. As
tecnologias podem ser desde a mais simples restrição mecânica (gabaritos, dispositivos de fim
81
como desafios de melhoria. Na segunda situação, P é menor ou igual a D. Isto significa que
o produtor pode esperar a confirmação da demanda para disparar a produção. Cabe ressaltar
que, ao se fazerem as explicações teóricas, apenas as situações limite são exploradas, pois o
objetivo é a compreensão. Fica claro que existem situações intermediárias. Por exemplo,
uma produção pode precisar antecipar parcialmente a produção, preferencialmente nos
processamentos que não geram diferenciação, e disparar os processos que configuram o tipo
do produto para o momento em que se confirma a demanda. É o caso, em automóveis, de
antecipar a produção de chassis e motores de uso comum, esperando os pedidos para disparar
a produção do carro modelo Opala ou Caravan, e, numa pizzaria, de confeccionar as bases de
massa e deixar para disparar a produção somente quando o cliente solicita uma calabreza ou
napolitana.
Produzir sem antecipação nem atraso é implementar o conceito de produzir just in
time, o que só é possível atuando sobre os elementos que afetam P, ou seja, o tempo de
atravessamento. Como o Sistema Toyota analisa a produção sob a ótica de rede de processos
e operações, a análise associada ao tempo de atravessamento é a análise de processo. A
inteligência desta análise de rede consiste exatamente no fato de que ela também considera as
operações quando estas estão afetando o fluxo de processamento, logo, o tempo de
atravessamento. Então, cada uma das operações (processamento, inspeção, transporte, espera)
pode estar contribuindo para o tempo de atravessamento ou não; cabe a análise individual. Já,
os mesmos quatro fenômenos (processamento, inspeção, transporte, espera), estando no eixo
dos processos, necessariamente afetam o tempo de atravessamento.
Inicialmente, o método “b” que é o “Mapeamento pelo Mecanismo da Função
Produção”, permite o estudo dos constituintes do tempo de atravessamento. O aprimoramento
da produção passa pelo mapeamento da mesma e posterior análise. O Sistema Toyota
recomenda que a produção seja mapeada tendo como modelo teórico o chamado “Mecanismo
da Função Produção”, que explica a produção como uma rede de processos e operações. Os
processos são o fluxo do objeto da produção transformando-se de matéria-prima em produto
ao longo do tempo e do espaço simultaneamente. As operações consistem do fluxo dos
sujeitos da produção (homens e máquinas) ao longo do tempo e espaço. A explicação
detalhada de tal modelo teórico é apresentada recorrentemente em Shingo (1981, p.3) e
Shingo (1988, p.4). Shingo afirma que há uma diferença conceitual fundamental entre a sua
compreensão e a compreensão do Ocidente sobre o que sejam processos e operações:
“Hoje, na Europa e Estados Unidos, o relacionamento entre processos e operações é
tipicamente definido como segue: os processos são as macro unidades de análise da
produção; as operações são as micro unidades na análise da produção. O Oeste,
83
Uma explicação possível para o equívoco de se acreditar que melhorias locais da produção
automaticamente conduzam a melhorias globais pode ser buscada na produção em massa. Na
realidade inicial da produção em massa, a simplicidade decorrente da organização em linhas
dedicadas a um único produto fazia com que, ao se entrar na planta, fosse possível enxergar
fisicamente o fluxo do objeto da produção. Essa simplicidade permitia que operações gargalo
fossem facilmente identificadas, ou seja, era visível o fluxo de transformação de materiais em
produtos, os tais “processos” de Shingo. O próprio mapeamento segundo o Mecanismo da
Função Produção, se fosse aplicado, conduziria a uma simplificação que chegaria quase ao
eixo simples onde os ocidentais sobrepunham processos e operações de que Shingo falou. Se
quanto ao mapeamento a realidade era relativamente simples, a análise também era reduzida a
uma menor complexidade. Maximizar a produtividade das máquinas e pessoas conduzia a
bons resultados, mesmo que o foco principal fosse os bens. Se o equívoco não causava
maiores danos a uma realidade simples, o mesmo não ocorreria na nova realidade de
demandas variadas. Entrando numa planta, o que se via eram as máquinas e pessoas
trabalhando. Mas, impossível saber se um operário ou máquina estava trabalhando num
Mercedes modelo C180 ou E320, ambos em produção naquele dia. As operações (sujeitos da
produção atuando) eram visíveis. Os processos, porém, já não mais dispostos em linhas
físicas, não eram visíveis a olho nu. Era preciso criar um mapa; desenhar no papel o processo
de transformação do objeto de produção. Esse mapeamento do processo de produção tornava
possível às pessoas retornarem a análise da produção ao seu foco natural: o objeto da
produção, ou seja, o bem fabricado. Essa era a recomendação de Shingo. Shingo (1988, p.5)
detalhou a análise de processos e operações, apoiando-se, para o desenvolvimento de sua
teoria, nos quatro fenômenos identificados por Gilbreth: processamento, inspeção, esperas e
transportes. Os detalhamentos são vistos em Shingo (1981) nos capítulos 2 e 3. Uma vez feito
o mapeamento da produção, obtém-se a rede de processos e operações. O mesmo autor
afirma que as melhorias mais significativas obtidas na produção serão aquelas que partirem de
uma análise de processo. Se a análise de processo é aquela que tem em seu foco o produto em
transformação, e, se o sistema capitalista busca resultados associados aos produtos, parece
84
razoável que esta análise tenha prioridade. A análise de operações, por sua vez, vem num
segundo momento, já que seu foco está nas pessoas e equipamentos. Mas, dado que se trata
de uma rede, nada impede que em determinados momentos a melhoria das operações acarrete
a melhoria de processos. A análise de processo implicará na análise dos quatro fenômenos
constituintes da produção (processamento, espera, inspeção, transporte).
A técnica “i” ou “Gráfico de análise de processos” auxilia a mapear tais constituintes.
Shingo (1981, p.9, figura 2) apresenta “um exemplo de análise de um processo prático”. A
figura apresentada por Shingo consiste num gráfico de análise de processos. Neste gráfico, há
o fluxograma descrevendo o processo de produção de uma determinada peça, usando
símbolos representando os fenômenos de processamento, inspeção, espera e transporte. As
colunas paralelas ao fluxograma da peça contêm as informações de tempos, distâncias,
tamanhos de lote, equipamentos usados, operadores, produto ao qual a peça pertence, etc. Ou
seja, o preenchimento da folha é uma técnica de mapeamento da produção que requer um
conjunto bastante completo de informações. A técnica peca por não propor explicitamente os
passos de coleta de dados para o preenchimento. Pode se depreender que as tecnologias
usadas para a implementação desta técnica sejam bastante simples, tais como observação
visual e cronometragem. Deve auxiliar na análise do fluxo, abrangendo os quatro fenômenos
da produção.
O método “a” que é a “troca rápida de ferramentas” permite a redução do tempo de
preparação que faz parte da operação e que pode afetar o tempo de atravessamento.
O transporte pode ter seu tempo reduzido com o auxílio da técnica “ii” que é o
“Estudo de layout celular e tecnologia de grupo”. Através de modificações no layout pode se
reduzir o trajeto a ser percorrido Após, pode ser feito uso equipamentos que acelerem o
percurso do trajeto. O trajeto é elaborado para permitir o fluxo mais simplificado possível.
Os estudos de layout, no Sistema Toyota, visam melhorar o transporte e o fluxo, mas
consideram fortemente o aproveitamento da mão-de-obra.
O processamento naturalmente afeta o tempo de atravessamento, pois ocorre
exatamente sobre o objeto da produção, e pode ser melhorado pela técnica de análise de valor
– técnica “iii”. A Análise de Valor estuda o produto em si e quais os processamentos que este
deve sofrer. Shingo (1988, p.313) trata da análise de valor, mas é sabido que a mesma foi
desenvolvida nos Estados Unidos, na época da Segunda Guerra Mundial, por Lawrence Miles,
na General Electric.
Quanto à inspeção, ela afeta o tempo de atravessamento tanto pela sua duração
(diretamente proporcional) quanto pela sua eficácia (inversamente proporcional). Quanto
85
mais eficaz a inspeção, menor o tempo de atravessamento, uma vez que não haverá
retrabalhos ou refugos, permitindo, assim, uma programação fluida. A técnica “vii”, ou
“Inspeção na fonte, auto-inspeção e inspeção 100% viabilizadas por poka-yoke, é responsável
por reduzir os tempos associados à inspeção. O conceito de poka-yoke consiste em garantir a
realização de determinada atividade impedindo falhas ou erros. O conceito é
permanentemente associado à operacionalização na forma de dispositivos com tecnologias de
implementação barata. Se as inspeções via poka-yoke incorporam os passos específicos de
uma ação e ainda recomendam a tecnologia de implementação elas preenchem os requisitos
para serem chamadas de técnica. A técnica de inspecionar via poka-yoke operacionalizou
avanços conceituais importantes a respeito da inspeção em si. Quanto à etapa do processo em
que ela deve ser realizada, vigorava o conceito primitivo da inspeção por julgamento, que
ocorria quando o produto já havia sofrido o processamento; aceitava-se ou rejeitava-se o
produto. Um aprimoramento foi a inspeção informativa, que, embora ainda ocorresse pós
processamento, tinha a função de parar o processo e disparar uma informação do defeito para
que a etapa geradora do mesmo efetuasse as correções. As duas anteriores eram reativas. O
avanço maior ocorreu quando o enfoque passou a ser pró ativo, com a inspeção na fonte. Esta
consiste em inspecionar e garantir que os ajustes e regulagens de equipamentos, ou, por outro
lado, que os procedimentos das pessoas ocorram em conformidade com os padrões que
conduzirão à boa qualidade. Por exemplo, um elástico precisa ter uma capacidade de
aumentar seu tamanho em 33%. Sabe-se, por estudos, que o equipamento de fabricação
somente conseguirá conferir esta elasticidade se estiver trabalhando sob condições de
umidade do ar entre 60% e 80%. Ao invés de inspecionar a elasticidade, inpeciona-se o ajuste
da umidade da sala e garante-se a qualidade na fonte. Conceitualmente, a inspeção foi
modificada também quanto ao sujeito. Ou seja, ao invés de ser realizada pelo processo
seguinte – inspeção sucessiva – ela passa a ser realizada pelo próprio processo – auto-
inspeção. O que permitiu eliminar o efeito psicológico do sujeito inspecionar seu próprio
trabalho foram os dispositivos poka-yoke. Outra mudança foi em relação às quantidades
inspecionadas. Deixa-se a amostragem pela inspeção 100%. Esta técnica atua sobre a duração
da inspeção e também sobre o fluxo por garantir a qualidade. É a qualidade assegurada que
permite que a programação seja enxuta, ou seja, com reduzidos estoques de proteção e de
antecipação.
A técnica “iv” ou “análise de tempos e movimentos” ajuda a diminuir os tempos das
operações que afetem os tempos de atravessamento. A análise de tempos e movimentos, de
Taylor e dos Gilbreth’s, é recomendada para que, posteriormente, possam ser elaboradas as
86
operações padronizadas. Deve auxiliar na análise do fluxo sob o enfoque de operação. Desde
que a operação faz parte da rede, melhorias nela podem conduzir a melhorias no processo.
A técnica “vi” ou “folhas de operação padrão” diminui os tempos de operação que
podem estar afetando o tempo de processamento.
Finalmente, as esperas também contribuem na formação do tempo de atravessamento.
As “esperas devido ao lote inteiro” esperando o processamento resultam do desbalanceamento
e as “esperas devido ao tamanho do lote” resultam do tamanho do lote de transferência. O
Sistema Toyota também percebe que os conceitos de lote de produção e de lote de
transferência são essencialmente diferentes. Esta percepção gera opções de decisão de
tamanhos diferentes entre estes lotes. Uma peça cujo lote de transferência é de mesmo
tamanho que o lote de produção terá somados ao seu tempo de atravessamento, não somente o
seu tempo de processamento, mas, também, os tempos de processamento das demais peças de
seu lote de produção. Já, no outro extremo, uma peça cujo lote de transferência seja unitário,
terá somada a seu tempo de atravessamento somente o seu próprio tempo de processamento.
É importante perceber que, no primeiro caso, em que lotes de processamento e de
transferência são de mesmo tamanho, estará se incorrendo na geração de um tipo de estoque
chamado de “estoque devido ao tamanho do lote”.
Para atuar sobre as esperas devido ao desbalanceamento, faz-se uso da técnica “v” ou
“cálculos de programação nivelada”. Através desses cálculos, é possível prover a
sincronização que elimina os tempos de espera. O uso do "takt time" e das quantidades
padronizadas, além da técnica “vi” ou “folhas de operação padrão” auxilia a reduzir os
tempos de espera.
A lei 3 diz que “A programação deve ser nivelada (heijunka) para ser adaptável. A
adaptabilidade permite menores estoques perdidos por obsolescência e o nivelamento permite
a redução das perdas de oportunidade”.
O Sistema Toyota, para ser mais flexível, precisa ter uma programação adaptável a
mudanças na demanda ao longo do tempo. Para que ele possa usar um controle retroativo
para adaptar a programação, é preciso que ela seja intrinsecamente adaptável e que disponha
de uma técnica capaz de informar a adaptação, no caso, o kanban.
Para que se alcance uma programação adaptável é preciso gerar originalmente um
programa nivelado, o que é obtido com a técnica “v” ou “cálculos de programação nivelada”.
A programação nivelada da Toyota consiste numa distribuição de cada um dos tipos a serem
produzidos de forma eqüidistante ao longo das horas de trabalho disponíveis. Se cada tipo
fosse representado por uma pedra colorida diferente, a sobreposição dos diversos tipos
87
5.3.2 Princípio 2
O princípio 2 diz que “Os estoques devem ser reduzidos continuamente, não somente
pelas perdas diretas que representam, mas, pelas perdas que indiretamente deles decorrem e
que são: de espaço físico, de oportunidade e de ocultamento das ineficiências”.
Os estoques de proteção podem e devem ser eliminados uma vez que sua única razão
de ser é o encobrimento de ineficiências. São compreendidos como estoques de proteção,
todos aqueles cuja função pode ser eliminada com o aumento da eficiência da produção. O
Sistema Toyota de Produção quer a eliminação dos estoques de proteção, uma vez que eles
encobrem as perdas e garantem a continuidade e alastramento das mesmas.
Tradicionalmente, na literatura de produção, a barreira ou pulmão gerados pelos estoques
eram vistos como necessários e aceitáveis. Dias (1993, p.23) afirma que: “Sem estoque é
impossível uma empresa trabalhar, pois ele funciona como amortecedor entre os vários
estágios da produção até a venda final do produto”. Slack et al. (1997, p.380) complementam:
“Os gerentes de produção usualmente têm uma atitude ambivalente em relação a
estoques. Por um lado, eles são custosos e algumas vezes empatam considerável
quantidade de capital. Também são arriscados porque ítens mantidos em estoque
podem deteriorar, tornar-se obsoletos ou apenas perder-se e, além disso, ocupam
espaço valioso na produção. Por outro lado, proporcionam alguma segurança em
um ambiente complexo e incerto” (SLACK et al., 1997, p.380).
Slack et al. (1997, p.383) falam sobre o estoque isolador deixando claro que a função
deste inclui a compensação por quebras e perturbações no processo:
“De maneira similar, dois estágios em um processo de produção podem produzir
exatamente à mesma taxa em média, mas o tempo de processamento individual pode
variar mais além da média. Essa variação poderia ser ou por causa da variação
humana natural no tempo de processar, ou, talvez, por quebras ocasionais ou outras
perturbações do processamento normal. Novamente, um estoque entre os dois
processos será necessário para compensar essas incertezas, se o segundo processo
precisa continuar trabalhando sem interrupção” (SLACK et al., 1997, p.383).
Davis, Aquilano & Chase (2001, p.470) apresentam um item intitulado “objetivos do
estoque”. Este inicia dizendo: “as organizações mantêm estoques por diversas razões”.
Entre elas, a primeira é a proteção contra as incertezas, que podem vir do fornecimento da
matéria-prima ou da produção. Leia-se:
“A incerteza também ocorre no processo de transformação. Aqui, os estoques em
processo (ou intermediários) absorvem a variabilidade que existe entre os estágios
do processo, fornecendo, desta forma, independência entre as operações e
melhorando a eficiência”.
É interessante ler que “os estoques em processo absorvem a variabilidade”. É claro que eles
não a absorvem. Ela continua existindo. A originalidade do Sistema Toyota de Produção foi
89
perceber que, ao mesmo tempo que os estoques protegem a produção de ter expostas suas
feridas aos clientes, eles abafam a podridão e impedem a cura.
As tradicionais “sete perdas” do Sistema Toyota, segundo a Japan Management
Association (1986, p.17), são: (1) por superprodução, (2) por espera, (3) por transporte, (4)
no processamento em si, (5) por estoques desnecessários, (6) por movimentação
desnecessária, (7) por fabricação de defeituosos. Destas, três têm relação direta com os
estoques de proteção.
A primeira, por superprodução (quantitativa ou por antecipação), é exatamente um
sinônimo de “gerar estoques de proteção quanto às incertezas de quantidades ou de
momentos” de demanda pelos processos seguintes. A sétima perda, por fabricação de
defeituosos, é encoberta pelos estoques de proteção. Ou seja, a superprodução (perda 1) vai
compensar os defeituosos. A quinta perda, por estoque, abrange, entre outros, os estoques de
proteção.
Deve ficar claro que o Sistema Toyota distingue entre os diferentes tipos de estoques.
Os mais graves são aqueles que escondem as falhas do processo produtivo, e que estão
completamente sob a força de definição da organização. Há, entretanto, outros tipos de
estoques. Há os que decorrem de restrições intrínsecas ao material em si, relacionadas a
sazonalidades; há aqueles que estão associados à otimização de meios de transporte; há
outros decorrentes do poder econômico de fornecedores que impõem compras mínimas. Cada
caso deve ser tratado com ações apropriadas, na medida do possível, dado que as restrições
são agora externas.
É interessante observar, entretanto, que mesmo Shingo (1988, p.353) faz a ressalva de
que a organização fará uso dos estoques até o momento de estar apta a responder à demanda
adequadamente sem usá-los:
“Durante a implementação da produção sem estoques, manter o atual nível de
inventários como um estoque de amortecimento alivia a insegurança psicológica
associada à mudança e assegura uma transição suave”.
Isto mostra que há um primeiro momento, na busca permanente pela redução de estoques, em
que é preciso admitir a existência dos mesmos. O primeiro avanço, então, é quantificar o
tamanho do estoque. Se alguém quisesse enxergar a produção como algo “com” ou “sem”
estoques, haveria contradição nas afirmações de Shingo. Elas desaparecem na medida em que
a realidade impõe a continuidade entre estes dois estados absolutos.
Para apoiar o princípio 2, tem-se a lei 1, que diz “A produção deve ser programada em
pequenos lotes, como condição necessária para a programação ser adaptável”. Ela vem
90
Uma vez definida a demanda para o dia, é feita a programação da produção, apoiada em
pesados algoritmos e em recursos computacionais. MacMullen, Tarasewich e Frazier (2000),
91
5.3.3 Princípio 3
O Princípio 3 diz que “A necessidade de mão-de-obra deve ser reduzida
continuamente”.
A necessidade de mão-de-obra deve ser reduzida uma vez que a Toyota trabalha com o
conceito de emprego vitalício e remuneração proporcional ao tempo de trabalho. Estes são
elementos que conduzem ao aumento do custo dos recursos humanos, implicando na
necessidade de uma forte racionalização do uso do trabalho humano.
Este princípio tem origens e manutenção culturais e históricas. A história da Toyota
mostra que em abril de 1950 iniciou-se uma disputa de 3 meses com a mão-de-obra sobre a
redução da força de trabalho, seguida pela renúncia do presidente da Toyota, Kiichiro
Toyoda, que assumiu a responsabilidade pela greve (OHNO, 1997).
“Os empregados remanescentes receberam duas garantias. Uma foi o emprego
vitalício; a outra, pagamentos gradualmente crescentes, conforme o tempo de
serviço, e não a função específica no emprego, e vinculados à rentabilidade da
companhia pelo pagamento de bônus” (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.45).
Por outro lado,
“os empregados também concordaram em ser flexíveis na atribuição das tarefas e
ativos na promoção dos interesses da companhia”.
“De volta à fábrica, Taiichi Ohno se deu conta das implicações desse compromisso
histórico: a força de trabalho se transformara num custo fixo tanto quanto, a curto
92
Ouchi (1986, p.56) trata ainda do impacto das fortes relações existentes no trabalho:
“As pessoas que vivem no dormitório de uma empresa, que jogam em sua equipe de beisebol,
que trabalham juntas em cinco comitês diferentes, e sabem que a situação continuará sendo
essa pelo resto de suas vidas, desenvolverão um relacionamento único”.
Cabe destacar que os recursos humanos no Japão da época de surgimento do Sistema
Toyota se distinguiam entre os empregados fixos (que usufruíam os benefícios citados acima)
e os empregados temporários. O fato de se estar tratando de uma mão-de-obra de caráter
permanente viabilizava fortes investimentos em educação e treinamento, trazia à tona a
identificação da pessoa com a empresa, tornava o empregado leal e comprometido. A
existência de corporações fortemente relacionadas permitia a transferência de empregados
permanentes entre diversas empresas do mesmo grupo, sem que houvesse demissão.
O enunciado deste princípio ressalta que a “necessidade” da mão-de-obra deve ser
reduzida. Isto é muito diferente da mão-de-obra ser reduzida (há sempre a ressalva das
categorias temporárias). O Sistema Toyota apóia-se significativamente em características
como cooperação, comprometimento e lealdade do ser humano. Estas somente são obteníveis
93
num contexto em que a mão-de-obra permanente, ou seja, as pessoas, não serão demitidas.
Monden (1984, p. 33) diz:
“Por outro lado, se a demanda diminui a adaptação é consideravelmente mais difícil,
mas as etapas podem ser alcançadas. Em processos de fabricação de peças, o
número de máquinas manuseadas por operários simples aumenta porque os
operários temporários são demitidos. Na linha de montagem, o ciclo de tempo
aumenta até reduzir a quantidade de demanda. Como então a mão-de-obra excessiva
pode ser utilizada? A Toyota acredita que é melhor os operários “descansarem” do
que produzirem estoques desnecessários. Os exemplos seguintes são de atividades
que podem ser organizadas durante um período de baixa: transferência de operários
para outras linhas, redução nas horas extras, reuniões de círculos de controle de
qualidade, praticar ações de trocas de ferramentas, melhorar as ferramentas e
instrumentos, manutenção na fábrica e fabricação de peças que são adquiridas de
fornecedores”.
O trecho citado ilustra tanto a separação entre operários temporários e vitalícios, como a não
demissão dos vitalícios. Cabe acrescentar que, a existência de corporações interligadas
permite a transferência de empregados entre empresas relacionadas.
A busca deste princípio apóia-se na aplicação de diversos conceitos: autonomação,
separação homem-máquina , poka-yoke e multifuncionalidade.
A lei 6 diz que “É preciso mapear o processo produtivo para visualizar as reais
necessidades de mão-de-obra”. Este mapeamento é feito com o auxílio do Método “b”, ou
seja, o mapeamento pelo Mecanismo da Função Produção.
A lei 7 diz que “É preciso prover meios para ampliar a autonomia dos equipamentos,
de modo que os mesmos substituam as pessoas em tarefas repetitivas, ou aceitem a
simultaneidade de controle (nagara)”.
Ela é implementada pela técnica “xi” ou “técnicas de controle via autonomação
(jidoka)”. O conceito de autonomação deve ser embutido nas máquinas, pois este é um dos
elementos que viabiliza o conceito de separação homem-máquina. Autonomação significa
dotar as máquinas com a capacidade de detectarem e reagirem a determinadas condições.
Então, nestas condições específicas, as máquinas passam a ter um grau de “autonomia”, ainda
que pré-estabelecido, e torna-se viável a separação homem-máquina. A Japan Management
Association (1986, p. 17), ao tratar da “sexta perda” identificada pelo Sistema Toyota – a
perda por espera – diz:
“A perda por espera é criada quando um trabalhador fica ocioso servindo como o
fiscal de uma máquina automatizada ou quando um trabalhador não pode fazer nada
construtivo manualmente porque a máquina está operando” (JMA, 1986, p.17).
Vê-se, então, que o uso da autonomação elimina esta perda. Ainda, Shingo (1988, p.391) diz:
“Sendo necessário escolher, as taxas de operação das máquinas são sempre
sacrificadas com o objetivo de eliminar os tempos de espera dos trabalhadores no
Sistema Toyota de Produção. O raciocínio básico é que as máquinas ficam livres de
94
custos após a depreciação, mas, os trabalhadores precisam ser pagos para sempre e
com salários que crescem com o passar do tempo”.
“O Sistema Toyota de Produção não considera a diminuição nas taxas de operação
das máquinas como um sério problema; a prioridade é dada à eliminação da
inatividade humana. Nas chamadas “sete perdas”, uma atenção significativa é dada
às perdas que ocorrem quando as pessoas ficam ociosas esperando” (SHINGO,
1988, p.391).
O Sistema Toyota sugere que a implementação da autonomação deva ser feita com
tecnologias que permitam a criação de dispositivos baratos. Compara, então, a autonomação
com a automação. Esta última, no limite, torna a máquina independente do homem, mas
requer tecnologias cuja implementação tem um custo infinitamente mais alto do que a
primeira. A idéia da autonomação é atribuída a Sakichi Toyoda, que, em 1901, inventou um
tear que possuía a capacidade de parar sob duas condições: quando a quantidade desejada de
tecido havia sido alcançada ou quando um fio se rompia. Na primeira condição, o tear devia
parar por já ter produzido o que era desejado. Na segunda condição, a parada do tear impedia
a produção de um tecido defeituoso. Monden (1984, p.1) diz:
“Autonomação (Jidoka em japonês) pode ser livremente interpretada como controle
autônomo de defeitos. Ela apóia o just in time por nunca permitir que unidades
defeituosas de um processo sigam o fluxo e atrapalhem o processo subsequente”.
falhas, ou seja, que impede a ocorrência de anormalidades. O poka-yoke também traz em seu
conceito a concepção de que as tecnologias a serem usadas devem ser de implementação
barata. Os dispositivos poka-yoke realizam tarefas simples, enfadonhas, repetitivas,
perigosas. Fazendo isto eles liberam a força de trabalho dos seres humanos, muito mais
valiosa e cara, para atividades mais nobres; resultando numa economia de mão-de-obra.
Muitas vezes a autonomação é implementada via dispositivos poka-yoke. No entanto, nem
todo o dispositivo que implementa o conceito poka-yoke conduz à autonomação, e nem todo o
equipamento que conduz à autonomação é um dispositivo poka-yoke.
Pela lei 8, “Os funcionários devem ser multifuncionais para assegurar flexibilidade
(shojinka)”. Os empregados devem ser multifuncionais para que possam ter seu uso
racionalizado na planta. Empregados multifuncionais são aptos a realizarem diversas funções,
adaptando-se às necessidades. O alto comprometimento dos funcionários, decorrente do
emprego vitalício e da remuneração proporcional ao tempo, permite que estes se submetam às
exigências da multifuncionalidade. A existência de sindicatos por empresa, também permite
negociações que tratem de questões como cargos e funções associando-as diretamente às
especificidades da planta. Os altos níveis educacionais do Japão tornaram viável se pensar em
forte treinamento dos recursos humanos. Esta base educacional veio sendo firmada desde
muito tempo, como pode se ver no trecho a seguir.
“Os novos chefes reconheceram desde o início que um Estado moderno necessitava
urgentemente de um amplo programa de educação popular. Desde 1871 criaram um
Ministério de Educação, que imediatamente lançou um ambicioso programa de
educação universal tanto para meninos como para meninas. Gradativamente a
educação obrigatória se estendeu a seis anos, pois foi necessário algum tempo para
formar professores e criar as instalações necessárias. Até 1907, nem todas as
crianças tinham acesso à escola” (REISCHAUER, 1986, p.116).
“Um sinal disto [riqueza per capita] pode ser visto na alta taxa de alfabetização, que
na primeira metade do século XIX havia chegado a 35%, que era uma cifra
comparável aos países ocidentais da época” (REISCHAUER, 1986, p.90).
5.3.4 Princípio 4
O princípio 4 diz que “As informações, as pessoas, os procedimentos de planejamento
e controle da produção e os equipamentos devem estar sob controle sistemático e rigoroso,
uma vez que o Sistema Toyota foi planejado para trabalhar sempre próximo dos limites”.
A lei 10 diz que “A padronização das operações deve ser buscada, como forma de
extrair do operador o conhecimento, tornando este conhecimento de domínio da corporação”.
Esta lei vem da época de Taylor, no início do século XX:
“À gerência é atribuída, por exemplo, a função de reunir todos os conhecimentos
tradicionais que no passado possuíram os trabalhadores e então classificá-los, tabulá-
los reduzi-los a normas, leis ou fórmulas, grandemente úteis ao operário para
execução do seu trabalho diário” (TAYLOR, 1995, p.40).
Para operacionalizar essa lei 10, faz-se uso da técnica “xiv” ou “explicitação visual
através de cartazes de todos os procedimentos-padrão”.
A lei 11 diz que “As pessoas precisam estar sob rigoroso controle da organização, uma
vez que elas detêm um poder significativo sobre os resultados do sistema produtivo”.
O método “e” – “estabelecimento de relações de longo prazo com os empregados; por
exemplo, emprego vitalício” é fundamental no controle sobre as pessoas. Na discussão que se
fez no item 5.3.3, tratou-se do emprego vitalício. Tanto o emprego vitalício como o sistema
de remuneração por tempo de serviço estabelecem efeitos de controle sobre as pessoas, uma
vez que a sobrevivência da empresa passa a ter uma relação direta com os interesses dos
funcionários.
O método “c” ou “atividades de pequenos grupos” é outro elemento que auxilia a
manter o controle sobre as pessoas. A realização das atividades de pequenos grupos faz com
que as pessoas reforcem o vínculo de comprometimento com a empresa. Mas, o principal
controle consiste no fato de que as pessoas se sentem induzidas a participarem das atividades,
uma vez que a ampla difusão faz com que aqueles que não participam acabem por destacar-se
negativamente no grupo, o que é indesejado.
97
fluidez. Para fins de análise, novamente, não são tratados neste momento todos os requisitos
de operação do kanban. Mas, basta dizer que o kanban ‘ordena’ o que fazer; contudo, se não
houver capacidade ou vontade para o cumprimento de tais ordens, nada acontecerá.
O kanban surge no Sistema Toyota em 1953, quando ocorre a implantação na oficina
da fábrica principal. Somente em 1962, com a nomeação de Ohno para gerente da fábrica
principal, o kanban foi implementado na forja e na fundição, tornando-se utilizado em toda a
planta (OHNO, 1997). Antes do kanban, a maioria dos elementos do Sistema Toyota estava
estabelecida (ver quadro 12). Isto é bastante coerente, uma vez que o kanban vai informar e
ordenar o que fazer. Porém, tornar em ação a ordem do kanban depende da existência de uma
infra-estrutura prévia. Quando se compreende que o kanban controla grande parte das
informações do Sistema Toyota concernentes à programação, vê-se que a relação entre ambos
é significativa. A partir daí fica visível que o Sistema Toyota antes e depois do kanban não é
o mesmo. Embora o conceito de just-in-time surja na década de 40, é somente com o kanban,
em 1953, que a inversão do fluxo de controle, o dito “puxar” a produção, passa a ocorrer em
alguns segmentos da planta.
Um estudo a ser feito diz respeito à associação entre o controle exercido pelo kanban e
o controle exercido sobre as pessoas da produção. O kanban requer uma aderência completa
às regras por parte das pessoas. Essa aderência ocorre somente se as pessoas estão sujeitas a
elementos outros de controle que as sujeitem e convençam a seguir as regras. Pessoas cuja
cultura e condições sociais não favoreçam a sujeição às regras de controle do kanban irão
conduzi-lo ao insucesso, tornando evidente a falta de robustez deste às variabilidades
comportamentais dos seres humanos. O kanban, observada a teoria de sistemas de controle, é
um sistema realimentado e, como tal, oferece melhor resposta no que diz respeito ao erro, ou
seja, à diferença entre o observado e o desejado. Porém, todos os sistemas realimentados
apresentam menor robustez uma vez que precisam ter sensibilidade às variações. É claro que
se desejaria um sistema robusto ao meio, ou seja, insensível somente aos sinais indesejados, e
sensível somente aos sinais de erro. Young (1992) discute a respeito do controle exercido
sobre o comportamento dos japoneses dentro da planta:
“[...] Weisz e seus colegas (1984) caracterizaram os métodos da manufatura
japonesa como métodos que contam com o controle secundário. Sob o controle
secundário, os indivíduos aumentam suas recompensas acomodando-se ao ambiente
existente, através do ajuste das suas expectativas, objetivos e atitudes. O sistema de
controle secundário induz os indivíduos a subordinarem suas necessidades a um
indivíduo ou a uma força mais poderosos, tais como o grupo de trabalho ou o chefe”.
momento em que ele assume a gerência da planta principal, em 1962. Sobre isso, Ohno
(1988, p. 52) diz:
“No início todos resistiram ao kanban porque ele parecia contradizer a sabedoria
tradicional. Portanto, tive que experimentar o kanban dentro da minha própria
esfera de autoridade. [ ] Em 1962, fui nomeado gerente da fábrica principal. Só
então o kanban foi implementado na forja e na fundição, fazendo com que ele,
finalmente se tornasse um sistema utilizado em toda a planta. Demorou 10 anos
para estabelecer o kanban na Toyota Motor Company. [ ]Eu podia gritar com um
supervisor sob a minha jurisdição, mas não com um do departamento próximo.
Assim, fazer com que as pessoas compreendessem naturalmente levou muito
tempo”.
Sobre o kanban, também é relevante dizer que ele é suportado por um conceito
simples, ou seja, a informação transmitida visualmente e ponto a ponto. Este conceito, que
suporta o kanban, mas ao qual o kanban não se reduz, é amplamente aplicável nas mais
diversas áreas por ser simples, porém, também tem sua robustez fragilizada por apoiar-se na
confiança no elemento humano.
A “lei 13” indica que “Os equipamentos devem estar sob controle. Deve existir
simultaneidade entre controle e execução. Quando possível, o controle deve antecipar a
execução, através da inspeção sobre as causas”. O controle permanente sobre os
equipamentos torna-se possível quando são utilizadas as técnicas “vii”, ou “inspeção na fonte,
auto-inspeção e inspeção 100% viabilizadas por poka-yoke", e “xi”, ou “Técnicas de controle
via autonomação (jidoka)”. A técnica “x”, ou “Manutenção preventiva e manutenção
autônoma”, faz com que o próprio operador assuma a responsabilidade por “ouvir a voz da
máquina”, uma vez que ele é que passa todo o dia e todos os dias no entorno dela, tornando-se
apto a realizar o controle da mesma no que tange à manutenção. Ao assumir a
responsabilidade e dedicar a sua atenção à máquina, o operador passa a encontrar
possibilidades de melhorias, o que é aproveitado na forma da técnica “xii”, ou “Sistemas de
sugestões”.
Finalmente, a técnica “xiii”, ou "Andon para a parada da linha, está vinculada à
autonomação aplicada às pessoas, ou seja, poder de parar a linha”. Essa técnica faz com que
o andamento da produção esteja sendo permanentemente sinalizado, estando visível a todos.
5.3.5 Tecnologias
O Sistema Toyota rearranjou a ordem das tomadas de decisão, de modo que os
objetivos novamente foram colocados como ponto de partida. As tecnologias são meios para
se atingir o fim maior de uma produção bem sucedida. Desta forma, foi possível perceber
100
que, para uma produção em que se desejam praticar volumes relativamente pequenos de
grandes variedades, pode ser interessante ter à disposição tecnologias diferentes daquelas da
produção em massa. Há uma relativização da tecnologia em relação ao objetivo de pequenos
lotes e as grandes máquinas dedicadas a gerarem economicamente grandes lotes a cada
“setup” deixam de ser as melhores a priori.
“A Toyota tem desenvolvido com êxito instalações para resolver o conflito entre
variedades de modelos e o ideal da produção nivelada: isto é, máquinas com
múltiplas funções na linha. O propósito de uma máquina exclusiva é um eficaz meio
de redução dos custos de produção em massa, mas isto não é adequado para
produções variadas e de curta duração. Assim, é necessário adicionar um mínimo de
instrumentos e ferramentas para uma máquina exclusiva, tornando-a um tipo de
máquina de múltiplos propósitos, necessárias nas fábricas da Toyota” (MONDEN,
1984, p.35).
Mas, a produção nivelada também contempla tecnologias caras e complexas como aquelas
necessárias aos Sistemas Flexíveis de Manufatura (FMS).
Analisando outro aspecto, quando se escolhe valorizar a força de trabalho, priorizando
a ocupação desta, a opção é, muitas vezes, deixar as máquinas ociosas. Para que esta decisão
permaneça atendendo o objetivo de redução de custos, é preciso reduzir o custo da hora-
máquina, uma vez que, pelo menos no Japão, não há como reduzir o custo da hora-homem.
Isso implica, muitas vezes, em máquinas mais simples e baratas. Shingo (1988, p.391) diz:
“Taxas de operação de homens e máquinas – [...] Isto significa que a Toyota tem
mais máquinas do que outras companhias, para gerar a mesma saída de produtos.
Isto inevitavelmente significa estar trabalhando com menores taxas de operação das
máquinas. [...] Dada a escolha, as taxas de operação das máquinas sempre são
sacrificadas com vistas a eliminar ociosidade dos trabalhadores. A razão básica é
que as máquinas são sujeitas à depreciação com o tempo, mas os trabalhadores
sempre precisarão ser pagos e com salários que tendem a aumentar com o tempo”.
Finalmente, talvez a mais original e rica das características do Sistema Toyota seja
aquela pela qual são usadas intensivamente as mais diversas tecnologias que se apóiam sobre
a cognição visual. Os elementos de controle visual, que usam as cores, as formas e os
volumes, são fácil e rapidamente compreendidos pelo ser humano. E, por sua natureza,
também são bastante afeitos às tecnologias baratas, como cartões, lâmpadas, cartazes, linhas
pintadas no chão, marcadores, contenedores.
Cabe destacar que se está tratando de tecnologias de implementação de controles de
manufatura e de tecnologias relativas a volumes de produção em equipamentos dedicados.
Nada foi dito no sentido de que o Sistema Toyota não esteja continuamente trabalhando em
tecnologias mais avançadas e inovadoras.
Auto Inspeção – Esta classificação diz respeito ao sujeito que realiza a inspeção. Ao invés da
inspeção ser realizada pelo processo seguinte – inspeção sucessiva – ela passa a ser realizada
pelo próprio processo – auto-inspeção. Para fugir dos efeitos psicológicos do sujeito
inspecionar seu próprio trabalho, recorre-se aos dispositivos poka-yoke.
Autonomação – Grau de autonomia atribuído aos sujeitos da produção. Quando os sujeitos
são máquinas e equipamentos, é vinculada ao uso de tecnologias de implementação
relativamente barata.
Inspeção 100% – Esta classificação diz respeito às quantidades inspecionadas. A inspeção
avança da amostragem para a inspeção 100%. O elemento que viabiliza esta mudança são os
dispositivos poka-yoke.
Inspeção informativa – Esta classificação diz respeito à etapa do processo em que a inspeção
é realizada. Ela é um aprimoramento da inspeção por julgamento. Embora ainda ocorra pós-
processamento, tem a função de parar o processo e disparar uma informação do defeito para
que a etapa geradora do mesmo efetue as correções. Ainda é uma inspeção reativa.
Inspeção na fonte – Esta classificação diz respeito à etapa do processo em que a inspeção é
realizada. Ela representa um avanço conceitual; o enfoque passa a ser pró-ativo. A inspeção
na fonte consiste em inspecionar e garantir que os ajustes e regulagens de equipamentos, ou,
por outro lado, que os procedimentos das pessoas ocorram em conformidade com os padrões
102
que conduzirão à boa qualidade. Por exemplo, um elástico precisa ter uma capacidade de
aumentar seu tamanho em 70%. Sabe-se, por estudos, que o equipamento somente conseguirá
conferir esta elasticidade se estiver trabalhando sob condições de umidade do ar entre 60% e
80%. Ao invés de inspecionar a elasticidade, inspeciona-se o ajuste da umidade da sala e
garante-se a qualidade na fonte.
Inspeção por amostragem – Esta classificação diz respeito às quantidades inspecionadas.
Como o próprio nome diz, apenas amostras são inspecionadas. Porém, as amostragens são
suportadas pelas recomendações estatísticas.
Inspeção por julgamento – Esta classificação diz respeito à etapa do processo em que a
inspeção é realizada. A inspeção por julgamento é um conceito mais primitivo. Ela é
realizada quando o produto já sofreu o processamento; nesta inspeção, apenas aceita-se ou
rejeita-se o produto.
Inspeção sucessiva – Esta classificação diz respeito ao sujeito que realiza a inspeção. A
inspeção é realizada pelo sujeito do processo subsequente, como se o funcionário ou
equipamento do processo seguinte fosse o fiscalizador da qualidade do produto do processo
anterior.
Just-in-time – Produzir para o momento exato da necessidade, sem antecipação nem atraso.
Objetos da produção são os produtos em qualquer estágio desde matéria-prima até estarem
acabados.
Operações consistem dos homens e máquinas atuando ao longo do tempo e espaço.
Poka-yoke consiste em garantir a realização de determinada atividade impedindo falhas ou
erros. O conceito é permanentemente citado associado à operacionalização na forma de
dispositivos, cujas tecnologias sejam de implementação barata.
Processamento consiste das atividades de transformação do objeto em si, ou seja, modifica-
se a forma, cor, função, consistência. Exemplificando, o processamento em si consiste de
corte, estampa, usinagem, tratamentos térmicos, pintura, montagem.
Processos são o fluxo do objeto da produção transformando-se de matéria-prima em produto
ao longo do tempo e do espaço simultaneamente.
Sujeitos da produção são os homens e máquinas.
Tempo de atravessamento é o tempo decorrido desde que a matéria-prima entra em processo
até o momento em que ela sai como produto acabado.
103
CAPÍTULO 6
1) Quando o sistema produtivo foi desenvolvido, ele foi capaz de responder às demandas
existentes naquele momento histórico?
Sim. A literatura que descreve a época vem ressaltar as excelentes respostas que o
Sistema Toyota foi capaz de dar às demandas próprias do mercado do Japão, interno e
exportador. A crise do petróleo, no início dos anos 70, contribuiu muito para tornar visíveis
os resultados da Toyota, dado o contraste com as dificuldades da maioria das empresas no
Japão e no mundo. Ohno (1997, p.3) diz:
“A crise do petróleo no outono de 1973, seguida de recessão, afetou governos,
empresas e sociedades no mundo inteiro. Em 1974, a economia japonesa havia
caído para um nível de crescimento zero e muitas empresas estavam com problemas.
Mas na Toyota Motor Company, embora os lucros tenham diminuído, ganhos
maiores do que os de outras empresas foram mantidos em 1975, 1976 e 1977. A
diferença cada vez maior entre ela e outras companhias fez com que as pessoas se
perguntassem sobre o que estaria acontecendo na Toyota”.
104
como a questão social: se os operários não são uma massa assalariada, qual será o seu
posicionamento na sociedade? A robustez do princípio três é discutível, e mais uma prova é o
fato de que muitas organizações buscam atuar em países onde a mão-de-obra é mais barata. É
claro que, ao fazerem esta escolha, eles possivelmente também estejam escolhendo trabalhar
com um sistema produtivo que apresente menor dependência ao comprometimento das
pessoas e ao seu nível educacional.
O quarto princípio é robusto para ser transposto a outros contextos, uma vez que
quanto mais um sistema estiver trabalhando próximo a seus limites, maior será a necessidade
desse ser mantido sob controle. Cabe a ressalva de que, embora o princípio seja aplicável a
outros contextos, a sua implementação nem sempre o é. Isso é facilmente verificável quando
se observa que um dos elementos que deve estar sob controle são as pessoas. Se as pessoas
mudam significativamente em função do contexto histórico-cultural, o grau de dificuldade e
as formas de operacionalizar o controle sobre as pessoas também mudarão sensivelmente.
3) Os conceitos que suportam o sistema produtivo são robustos para serem transportados a
outros contextos histórico-culturais?
O item 2.9.4 diz que ‘o conceito é uma representação mental, expressa em palavras,
que se origina de uma abstração sobre os objetos, fatos ou fenômenos observados no mundo
real. Uma vez criado o conceito, o caminho inverso à abstração também ocorre. Ou seja, o
ser humano que lê o conceito, logo deve ter seu pensamento remetido à imagem do objeto,
fato ou fenômeno real de que o conceito foi extraído e abstraído’.
Sobre os conceitos no Sistema Toyota, algumas observações precisam ser feitas. No
item 5.3.5, o que se observa é que os conceitos apresentados se abstiveram de incluir qualquer
menção à classificação. Ou seja, o conceito apresenta a transposição pura da idéia, mas se
abstém de tratar da classificação em princípio, lei, método, técnica, etc. É claro que isto não
aconteceu casualmente, mas em decorrência da dificuldade intrínseca à tradução e
transposição de termos entre duas culturas tão distintas quanto a oriental e a ocidental.
Se, para fins de análise, o problema foi separado em conceito puro (apresentados no
item 5.3.5) e classificação do conceito (em princípio, lei, método, etc), na vida real o
problema classificatório, que faz parte da conceituação, permanece. Por conseguinte, a
dificuldade de transposição dos conceitos para outros contextos histórico-culturais existe,
como discutido nos itens 5.1.3 e 5.1.4.
porém, no que diz respeito à simultaneidade de controle ou nagara, a lei 7 terá a sua plenitude
alcançada somente se atendidos os requisitos relativos à mão-de-obra, os quais são fortemente
sensíveis às variações de contexto histórico-cultural.
A Lei 8, ou “Os funcionários devem ser multifuncionais para assegurar flexibilidade
(shojinka)”, não é robusta à transferência entre contextos histórico-culturais. A
multifuncionalidade depende da aceitação das pessoas. O que define o grau de disposição das
pessoas para se submeterem a tarefas variadas e para se submeterem ao ritmo de trabalho
frenético que decorre do preenchimento pleno do tempo disponível do operário, são as
condições de trabalho e os vínculos de longo prazo estabelecidos com a empresa. Esses
vínculos podem ser diretos ou indiretos. Os vínculos diretos são aqueles da pessoa com a
empresa. No Japão, os empregos por toda a vida e a remuneração proporcional ao tempo de
trabalho fazem com que o vínculo direto seja fortalecido nos dois sentidos: a empresa tem
razões para investir no aprimoramento do empregado e o empregado tem uma forte
identificação do seu sucesso com o sucesso da empresa. Os vínculos indiretos se dão pelos
sindicatos. O estabelecimento de sindicatos por empresa, no Japão, é outro fator que favorece
a existência do interesse comum de patrão e empregados pelo sucesso da empresa. Young
(1992) aborda o tema:
“Drucker (1987) discutiu o problema da existência de regras sindicais e
classificações de cargos e a implementação dos sistemas Just in time. Devido às
regras sindicais que proíbem os trabalhadores de realizarem tarefas que não fazem
parte da descrição de seu cargo, os trabalhadores precisam esperar até que uma nova
classificação de cargos esteja disponível. Tais regras suspendem a produção e
complicam a realização de treinamentos cruzados”.
A Lei 11, ou “As pessoas precisam estar sob rigoroso controle da organização, uma
vez que elas detêm um poder significativo sobre os resultados do sistema produtivo” é
específica do contexto de surgimento do Sistema Toyota. Primeiro, a questão da necessidade
de controle sobre as pessoas decorre do poder relativo a essas atribuído pelo Sistema Toyota.
O comportamento das pessoas, no Sistema Toyota, afeta diretamente e com grande impacto, o
andamento da produção. Exemplifica-se através da técnica kanban, cujos requisitos incluem
explicitamente a aderência das pessoas às normas. Segundo, a própria operacionalização da
lei 11 está sujeita ao contexto histórico-cultural.
A Lei 12, ou “Os procedimentos de planejamento e controle da produção devem estar
permanentemente visíveis a todos” tem uma relação próxima com a forma de programação do
Sistema Toyota. A maior necessidade de visibilidade decorre de uma grande necessidade de
controle. A forte necessidade de controle, por sua vez, está associada ao fato de que, no
Sistema Toyota, a programação é feita para estar mais proximamente sincronizada com a
demanda, funcionando com menos folgas e apoiando-se na realimentação para melhorar a
precisão da resposta. Sabe-se que para melhorar a precisão da resposta via realimentação, é
preciso aumentar a sensibilidade do sistema; contudo, um sistema assim torna-se mais
sensível também a ruídos, precisando estar sustentado por um forte controle. Sistemas de
produção que programam suas produções apoiando-se na antecipação, suportados por
polpudos estoques de segurança e com uma programação puramente direta, sem
realimentação, estão partindo de pressupostos de menor controle, e, portanto, podem abrir
mão da lei 12.
A Lei 13, ou “Os equipamentos devem estar sob controle. Deve existir simultaneidade
entre controle e execução. Quando possível, o controle deve antecipar a execução, através da
inspeção sobre as causas”, é robusta aos diversos contextos, uma vez que trata simplesmente
de tornar os equipamentos mais aptos a produzirem sem erro.
podem ser executadas enquanto o mesmo opera. O método não requer características
diferenciadas da mão-de-obra.
O Método (b), ou “Mapeamento pelo Mecanismo da Função Produção, que permite o
estudo dos constituintes do tempo de atravessamento e as necessidades de equipamentos e de
recursos humanos” apresenta grande robustez ao contexto histórico-cultural. Trata-se tão
somente de recomendar a forma como deve ser feita a “leitura” e o mapeamento dos
fenômenos da produção.
O Método (c), ou “Atividades de pequenos grupos” é bastante sensível à mudança de
contexto. As atividades de pequenos grupos estão vinculadas ao espírito de equipe, ao
comprometimento e à motivação dos funcionários. Mais do que isso, o andamento e os
resultados dessas atividades estão associados aos níveis educacionais e ao potencial de
aprendizagem das pessoas. Finalmente, o quanto as pessoas se sentem impelidas a
participarem de tais atividades, depende do quanto a aprovação pelo grupo é importante para
elas. Todos esses aspectos dependem diretamente do contexto histórico-cultural em que as
pessoas estão inseridas.
O Método (d), ou “Administração funcional (kinohbetsu kanri)”, é dependente do
contexto, uma vez que as questões culturais afetam a forma como as pessoas interpretam as
relações de poder e autoridade.
“Grupos Funcionais não agem como equipes de projeto ou forças-tarefa. Mais
precisamente, são unidades formalmente constituídas, tomadoras de decisão, cujo
poder atravessa linhas e controle departamentais para amplas funções da corporação.
Consistindo tipicamente de gerentes de departamento de todas as partes da empresa,
cada Grupo Funcional considera problemas globais da empresa como gerenciamento
de custos e da produção e garantia da qualidade, respectivamente” (MONDEN,
1984, p.93).
massa; (2) sugere-se que aquelas associadas à autonomação e aos dispositivos poka-yoke
sejam de implementação barata; (3) o uso dos elementos visuais permite o aumento da
eficiência e a diminuição dos custos de implementação. -Nenhuma dessas considerações
diminui a possibilidade de transferência a outros contextos.
A técnica “viii”, ou “5S”, não é robusta à transferência entre contextos uma vez que
requer um grande comprometimento por parte das pessoas. Talvez o quinto “S” ou shitsuke
resuma em si a dependência das pessoas, quando trata da “disciplina para manter em
andamento os quatro primeiros “S” (Lean Lexico, 2003).
As técnicas “ix”, ou “técnicas de previsão de demanda, não específicas do STP, usadas
para prever recursos”, são de caráter objetivo, quantitativo e têm formulações matemáticas.
Elas são robustas à transferência.
A técnica “x”, ou “Manutenção preventiva e manutenção autônoma”, tem seu sucesso
dependente do comprometimento por parte das pessoas, o que necessariamente é dependente
do contexto. Não é impossível de ser levada a outros contextos, mas é sensível aos contextos.
A técnica “xi”, ou “técnicas de controle via autonomação (jidoka)”, é implementada
via dispositivos. Sob esse enfoque, ela é transferível.
A técnica “xii”, ou “Sistemas de sugestões”, é fortemente dependente do contexto. Ela
envolve aspectos relativos à criatividade, ao compartilhamento de conhecimento com a
organização, ao comprometimento e à necessidade de aceitação e reconhecimento por parte
dos colegas e da empresa.
A técnica “xiii”, ou “Andon para a parada da linha, vinculada à autonomação aplicada
às pessoas, ou seja, poder de parar a linha”, não é robusta à transferência entre contextos. Ela
está associada a dois aspectos que poderiam parecer contraditórios: ao mesmo tempo em que
ela delega poder, ela submete às pessoas a um tipo especial de controle. Esse controle
acontece de forma indireta: a pessoa tem o poder de parar a linha ao detectar uma
anormalidade, ou seria melhor dizer, o dever de parar a linha. Diz-se dever, porque parar a
linha atrai todas as atenções. Se não se deseja tal tipo de atenção, se realiza um esforço
extremado para que não seja necessário fazer a parada. Porém, este raciocínio somente é
viável de acontecer em contextos culturais nos quais agir com lealdade à empresa seja uma
atitude valorizada pelo “organização informal”, ou seja, o grupo de colegas. Num contexto
diferente do japonês, em que as pessoas que demonstram muito apego à organização são
consideradas traidoras do grupo e são punidas pela “organização informal’, o efeito é inverso.
A técnica “xiv”, ou “Explicitação visual - cartazes de todos os procedimentos-padrão,
tornando-os um "gabarito" permanentemente disponível para a fiscalização do funcionário”,
depende dos procedimentos de implementação, os quais devem contemplar a participação dos
funcionários de modo que esses sintam-se autores e não objetos de controle.
A técnica “xv”, ou “kanban para informar a programação e mantê-la controlável por
visibilidade constante em todos os pontos da linha”, não tem robustez para ser transferida
112
entre quaisquer contextos. A técnica em si, como descrita originalmente no Sistema Toyota,
depende da informação transmitida retroativamente, ponto a ponto, pelas pessoas.
Novamente, a confiabilidade da informação transmitida é completamente dependente das
pessoas. O que confere algum grau de controle, é o controle chamado de secundário por
Young (1992):
“Em contraste à caracterização da manufatura empurrada, que opera sob controle
primário, Weisz e seus colegas (1984) caracterizam os métodos de manufatura
japoneses como sendo dependentes do controle secundário. Sob o controle
secundário, os indivíduos sentem-se mais gratificados à medida em que acomodam-
se ao ambiente existente, ajustando suas expectativas, objetivos e atitudes. Os
sistemas de controle secundário induzem os indivíduos a subordinarem as suas
necessidades a um indivíduo ou a uma força mais poderosos, ou seja, ao grupo de
trabalho ou à empresa. Esses autores (Weisz et al., 1984) discutiram duas formas de
controle secundário presentes nas empresas japonesas, e que são relevantes nessa
discussão – a forma de controle vicário e a forma preditiva. A forma de controle
vicário consiste de a pessoa alinhar-se aos outros indivíduos, à equipe ou à
organização para se sentir psicologicamente participante do grupo. Atos de lealdade
tais como cantar o jingle da empresa, vestir o uniforme e seguir os slogans são
exemplos da forma de controle vicário sobre o comportamento. A forma preditiva
de controle está relacionada a antecipar os fatos para controlar o impacto que terão.
Um exemplo do controle preditivo é o sistema Ringi, através do qual os japoneses
chegam a um consenso. Nesse sistema, a média gerência submete uma proposta a
todos os indivíduos e unidades que serão afetados por ela. A cada um é permitido
oferecer sugestões de modificações à proposta, porém, linhas claras de autoridade e
status são seguidas, para evitar ansiedades, incertezas e conflitos. Fica entendido
que, por conseqüência, quaisquer poder que os indivíduos poderiam ter acaba
ficando subordinado aos superiores”.
planta como entre plantas. Além dessa, que é própria do Sistema Toyota, meios
convencionais são usados para informar. Também na troca de elementos materiais, além dos
meios convencionais, uma característica própria deve ser destacada: o cuidado com o layout,
internamente, e com a localização física, externamente, para reduzir as perdas por transporte.
Esta atenção fica expressa visivelmente no momento de escolha da localização relativa entre a
planta e os fornecedores, que permite uma sistemática de trocas que racionaliza os custos. A
particularidade geográfica do Japão ser um país pequeno, limita de início as distâncias em
questão, fato que não se repete em países como o Brasil ou os Estados Unidos. No entanto,
para a Toyota a realidade eram as distâncias do Japão, e isto influenciou o desenvolvimento
da rede de fornecedores. Houve uma redução do número de fornecedores, que viabilizou o
estabelecimento de um relacionamento contratual mais equilibrado com estes. Essa relação
contratual e de lealdade tornou possível uma maior regularidade e previsibilidade dos pedidos,
estimulou a excelência em qualidade, eliminando inspeções no recebimento, permitiu a
exigência de exatidão das quantidades e de pontualidade nas entregas e viabilizou a
diminuição do volume de formulários. Schonberger (1984, p.204) diz: “O que faz a felicidade
de uma fornecedora é o contrato exclusivo (ou quase exclusivo), a longo prazo e invariável,
pontos característicos dos contratos de compra JIT”. Quanto à distância entre a fornecedora e
a compradora Schonberger (1984, p.204) diz:
“Relacionam-se com isso tudo (os contratos) as vantagens recíprocas que as duas
colhem quando a fornecedora se situa próxima à fábrica da compradora. Tanto para
a compradora como para a fornecedora, quanto mais o contrato “JIT” se aproximar
da entrega peça-por-peça maiores serão as economias proporcionadas na
manutenção dos estoques, bem como outras vantagens. Todavia, raramente se
justificará a entrega peça-por-peça pura, pois uma quantidade tão pequena
provavelmente irá contrariar a economia do transporte da carga unitária”.
10) Existem elementos que propiciam a troca de informações e conhecimento com o meio?
Sim. Como foi citado na questão anterior, o kanban. O kanban propicia tal troca no
âmbito dos estágios internos da produção, avançando até o fornecedor. Schonberger (1984,
p.205) mostra diversas vantagens propiciadas pela proximidade tanto física como contratual
entre comprador e fornecedor: além da coordenação facilitada, há as vantagens de
comunicação e de troca de informações e conhecimentos. Diz Schonberger:
“Quando têm as respectivas fábricas próximas entre si, a fornecedora e a
compradora muito poderão lucrar (além de no baixo custo do transporte dos
materiais que comerciam) coordenando suas atividades. Elas não precisarão recorrer
a custosos interurbanos para falar-se, e assim terão condições de comunicar-se mais
vezes. [ ] Mais expressivas ainda serão talvez as vantagens que a coordenação
estreita proporcionará na área técnica e da qualidade. Quando a fábrica fornecedora
está próxima, os técnicos e as equipes controladoras da qualidade podem visitar-se
114
amiúde. Geralmente, os problemas técnicos são com isso resolvidos mais depressa,
enquanto as questões relativas à qualidade se liquidam na hora”.
Outro canal de informação aproveitado pela Toyota é a sua rede de distribuição, que é
usada para conhecer o cliente de modo a torná-lo fiel à marca Toyota ao longo de sua vida.
está se falando exatamente do que é proposto por Shingo via planejamento, controle e
monitoramento. Shingo destina estas funções à média gerência.
A segunda evidência do funcionamento do Sistema Toyota de Produção em
estabilidade dinâmica, com retroação e regulação é o kanban. Estritamente falando, esta
“segunda evidência” nada mais é do que a primeira aplicada no nível operacional. A regra de
funcionamento do kanban estabelece um equilíbrio dinâmico: no entorno do posto de
trabalho, a flutuação do número de peças em estoque (em espera ou em processo) é
estabelecida pelo número de cartões em circulação. O “puxar” da produção feito pelo kanban
é exatamente um fluxo reverso, uma alimentação a “retro”, uma realimentação. A regulação,
por sua vez, precisa acontecer através da técnica usada para calcular o número de cartões a
circularem.
Adicionalmente, dois elementos vêm implementar as características de estabilidade
dinâmica, retroação e regulação. As técnicas de controle (e inspeção) que usam dispositivos
de autonomação e dispositivos poka-yoke. Shingo (1988, p.228) diz: “Seguindo esta linha de
pensamento, fica claro o propósito de estabelecer dispositivos poka-yoke elaborados para o
controle e a implementação. O poka-yoke é um meio efetivo de corrigir flutuações de
qualidade”.
que pode ser depreendido da observação das figuras 8 a 11. Não se afirma a inexistência
desses métodos e técnicas, pois, uma vez que a Toyota produz sob esses princípios, deve ter
desenvolvido ou encontrado as técnicas necessárias e suficientes. Mas, a ausência de
literatura que descreva tais técnicas, também não permite afirmar a existência das mesmas.
Isso mostra que a teoria é incompleta e não explica tudo o que acontece.
Adicionalmente, questões determinantes da aplicabilidade do Sistema Toyota não são
consideradas com profundidade: veja-se a questão humana e cultural. O Sistema Toyota
busca um funcionamento com resposta precisa, e, para tanto, usa elementos de retroação e
regulação. Estes elementos, como se viu, são fortemente apoiados na confiança de que as
pessoas seguirão as regras estabelecidas, como na técnica kanban e nas técnicas de controle
visual. Apóia-se, portanto, na pessoa, cuja disposição ou não para ser controlada e cujas
formas de controle a que se sujeitará, são aspectos eminentemente culturais, históricos e
sociais. Esta falta de robustez não é tratada com a devida relevância. Motta (1996), conclui:
“Por isso, e tendo em vista tudo o que foi discutido, este autor está convencido de
que qualquer esforço no sentido de compreender e transplantar o Just-in-Time para a
realidade brasileira, há que, além de eliminar as considerações falaciosas a respeito
dessa técnica gerencial, analisar, apreender e criticar os elementos sócio-culturais
embutidos na organização empresarial japonesa que são, efetivamente, a base do seu
sucesso”.
22) Esse conjunto de princípios é unívoco, compartilhado por todos os níveis hierárquicos do
sistema produtivo e apresenta coerência interna?
Se não há um conjunto explícito, não há como concluir sobre o compartilhamento
deste entre os diversos níveis.
24) Existem leis explicitadas e compartilhadas por todos os níveis hierárquicos do sistema
produtivo?
Não. As leis apresentadas nos itens 5.3.1 a 5.3.4 não são apresentadas de forma
explícita ao longo da literatura. O que parece conferir coesão à empresa é o
comprometimento e a lealdade decorrentes das relações de longo prazo estabelecidas com os
empregados.
Sim. As técnicas identificadas guardam boa coerência com as leis que elas atendem,
conforme argumentado na seção 5.3.
46) O sistema produtivo possui mecanismos para criar, armazenar, difundir e utilizar o
conhecimento?
Este é um aspecto não discutido suficientemente na literatura. A forte vinculação do
Sistema Toyota às teorias de Taylor, que recomenda que os conhecimentos dos operários
sejam absorvidos pela empresa, faz crer que haja tais mecanismos. Outro indício desses
mecanismos são as discussões de Nonaka e Takeuchi (1997). Algumas técnicas, como análise
de valor, sistemas de sugestões e atividades de pequenos grupos também valorizam o
conhecimento e a criatividade das pessoas.
47) O sistema produtivo valoriza os recursos humanos internos como elementos capazes de
criarem conhecimento?
Novamente, não é aprofundada a discussão sobre esse aspecto. Porém, técnicas como
análise de valor, sistemas de sugestões e atividades de pequenos grupos também valorizam o
conhecimento e a criatividade das pessoas. Adicionalmente, parece que as relações de longo
prazo favorecem o investimento na educação e treinamento das pessoas, o que, certamente
resulta em pessoas melhor preparadas para criarem conhecimento.
Quadro 1 – Características de um sistema produtivo analisadas para o caso da Toyota, mostrando o grau
de aprimoramento das mesmas (forte, médio, fraco, inexistente)
Aspecto Avaliação
Capacidade do sistema para atender as demandas à época do seu surgimento Forte
Robustez do sistema para ser transportado a outros contextos histórico-culturais Fraco
Totalidade – existência de interação entre os elementos do sistema Forte
Abertura – existência de elementos que viabilizam trocas com o meio Forte
Finalidade – objetivos claros Forte
Equifinalidade - atingir objetivos através de diferentes configurações Inexistente
Fluxos – trocas internas de materiais e informações Forte
Estabilidade dinâmica, retroação e regulação Médio
Teoria - poder de explicação, poder de previsão e coerência Fraco
Teoria - testes de falseabilidade Inexistente
Conceitos - conjunto suficiente, coerente, unívoco Fraco
Princípios - conjunto suficiente e coerente Forte
Leis - suficientes, claras e coerentes Médio
Métodos - suficientes, claros, coerentes Fraco
Tecnologias - suficientes, claras, coerentes Inconclusivo
Técnicas - suficientes, claras, coerentes Fraco
Conhecimento - mecanismos para criar, armazenar, difundir e utilizar Inconclusivo
Valorização das pessoas Demanda estudo
modo que na diagonal superior da matriz tem-se a visibilidade das interações, mostrando, por
exemplo, o forte grau de interação dos aspectos nove a dezoito, ou seja, aqueles que tratam
especificamente da teoria.
A vigésima coluna mostra, novamente, os pesos (P) de cada aspecto. Ela é idêntica à
segunda linha.
A coluna seguinte (G) mostra em que grau determinado aspecto atingiu o que dele era
requerido. Esta coluna é preenchida com a seguinte escala: forte (9), médio (6), fraco (3) ou
inexistente (0). Nesta matriz, os elementos inconclusivos foram avaliados com grau
intermediário, para não prejudicar a ilustração.
A vigésima-segunda coluna (ST) mostra uma soma ponderada das interações entre um
aspecto ou fator e os demais. A ponderação é feita de tal modo que uma interação com um
fator mais importante tenha maior impacto. Por exemplo, para a quarta linha, ou seja, o
terceiro fator: multiplica-se o peso do aspecto 1 (Peso=4) pelo valor da interação entre ele e o
aspecto 3 (=0). Isto é repetido para o aspecto 2. Multiplica-se o peso do aspecto 2 (Peso=2)
pelo valor da interação entre ele e o aspecto 3 (=0). Repete-se isto para o próprio fator 3, ou
seja, o Peso=4 e a interação é (=9). Repete-se até o décimo-oitavo fator. Então, somam-se as
parcelas e obtém-se o valor de ST=237 para o aspecto 3.
A coluna seguinte (T) resulta da multiplicação da coluna P (peso do aspecto) pelas
colunas G (grau de atingimento dos objetivos) e ST (impacto devido à interação com os
demais aspectos). Continuando o exemplo, o valor T=8532 resulta da multiplicação da
importância do aspecto 3 (Peso=4) pelo grau de atingimento dos objetivos do aspecto 3 (G=9)
e por ST=237. O resultado é: T = ST X Peso X G = 237 X 4 X 9 = 8532. O impacto relativo
deste aspecto, atualmente, para a consistência teórica global é dado, em percentual, na última
coluna. Ou seja, 6%.
A célula em destaque na última linha apresenta um valor representativo do percentual
global em que o sistema produtivo está apresentando consistência teórica. Para a aplicação
em questão, o valor obtido foi 61%.
Há que se destacar que a matriz da Figura 12 representa um avanço no sentido de
viabilizar, por exemplo, a realização de atividades de discussão entre especialistas, simulando
pesos diferentes e observando o impacto que determinado aspecto tem sobre o resultado final.
O preenchimento dos valores da matriz tem um caráter mais ilustrativo do que conclusivo.
Tanto a confecção final da matriz como o seu preenchimento poderiam ser melhorados, por
exemplo, pela execução de atividades de Focus Group. Oliveira e Freitas (1997) aprofundam
a discussão da realização de Focus Group.
128
QUESTÕES 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 15) 16) 17) 18) P G ST T %
Peso 4 2 4 4 4 1 4 4 4 4 4 4 4 4 1 4 4 4
1) demandas
da época 9 0 0 0 3 0 3 6 6 1 6 3 3 9 9 9 6 3 4 9
277 9972 7
2) robustez a
contextos 0 9 0 6 6 0 1 6 9 6 9 9 6 6 6 6 9 9 2 3
376 2256 2
3) totalidade
0 0 9 0 3 6 0 6 9 6 6 3 3 3 3 3 3 3 4 9
237 8532 6
4) abertura
0 6 3 9 3 1 6 9 3 3 3 3 3 3 3 3 6 9 4 9
280 10080 7
5) finalidade
3 6 6 3 9 0 6 9 9 9 9 9 9 9 3 9 9 9 4 9
483 17388 12
6)
equifinalidade 0 0 0 1 0 9 3 9 1 1 1 1 1 1 1 1 9 9 1 0
162 0 0
7) fluxos
3 1 6 6 6 3 9 9 1 1 1 6 3 6 3 6 3 3 4 9
284 10224 7
8)
estabilidade 6 6 9 9 9 9 9 9 1 1 3 9 3 3 1 3 6 6 4 6
dinâmica, 366 8784 6
9) teoria -
explicação, 6 9 6 3 9 1 1 1 9 9 9 9 9 9 3 9 9 9 4 3
previsão e 450 5400 4
10) testes de
falseabilidade 1 6 6 3 9 1 1 1 9 9 9 9 9 9 3 9 9 9 4 0
para a teoria 424 0 0
11) conceitos
6 9 3 3 6 1 1 3 9 9 9 9 9 9 9 9 9 6 4 3
428 5136 4
12) princípios
3 9 3 3 9 1 6 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 6 4 9
472 16992 12
13) leis
3 6 3 3 9 1 3 3 9 9 9 9 9 9 6 9 9 6 4 6
427 10248 7
14) métodos
9 6 3 3 9 1 6 3 9 9 9 9 9 9 6 9 9 9 4 3
475 5700 4
15)
tecnologias 9 6 3 3 3 1 3 1 3 3 9 9 6 6 9 9 9 9 1 6
362 2172 2
16) técnicas
9 6 3 3 9 1 6 3 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 4 3
478 5736 4
17)
conhecimento
6 9 3 6 9 9 3 6 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 4 6
492 11808 8
18)
valorização 3 9 3 9 9 9 3 6 9 9 6 6 6 9 9 9 9 9 4 6
das pessoas 456 10944 8
61 141372
CAPÍTULO 7
7 CONCLUSÃO
7.1 Conclusões
No momento de apresentar as conclusões de um trabalho, é preciso confrontá-las com
os objetivos propostos. É uma prática relativamente comum, ao chegar-se ao final de um
trabalho acadêmico, reorientar os objetivos escritos no momento inicial, de tal modo que um
casamento perfeito se ache entre a conclusão e tais objetivos, como se no decorrer do caminho
nenhum percalço tivesse ocorrido. A verdade não é tão simples e, por isso mesmo, é mais
interessante. A opção neste trabalho foi o confronto franco entre o que se propôs e o que se
alcançou.
O objetivo geral era desenvolver uma forma de verificar a consistência teórica de um
sistema produtivo. O primeiro objetivo específico consistia em criar uma abordagem capaz
de identificar a presença ou não, numa proposição, dos elementos teóricos e práticos
necessários e suficientes à conformação teórica de um sistema produtivo, permitindo expor
inconsistências porventura existentes. O segundo objetivo específico era realizar uma
aplicação sobre o Sistema Toyota de Produção, para testar a força da proposta.
Paralelamente, o estudo do Sistema Toyota de Produção, realizado durante a aplicação,
permitiria o aperfeiçoamento da sua forma teórica.
O caminho para compreender um sistema produtivo passou pelo estudo dos sistemas
em geral e suas características. Neste ponto, foi preciso assumir uma decisão que a princípio
poderia parecer paradoxal. Esta decisão consistiu de tratar de forma analítica, decompondo
em partes, aquilo que claramente se sabe que, no todo, transcende as partes. Seria paradoxal
se fosse uma opção, mas é uma restrição cognitiva. Seres humanos têm uma capacidade
130
anterior à ação é relevante, as falhas destes autores em prover material para debate ficam
evidentes.
A partir do que foi encontrado, procurou se suprir esta lacuna. A primeira tarefa
consistia em definir o que era um sistema produtivo. Nesse momento, o que se percebeu foi
que há infinitas respostas, todas elas corretas. É uma questão que envolve escolher sob qual
prisma se está olhando o sistema produtivo, e, a partir de tal prisma, determinar quais os
aspectos que serão considerados com um foco mais definido. É uma tarefa difícil, pois está
sujeita, novamente, à restrição de que somente se consegue olhar por um lado do prisma de
cada vez, e a realidade é muito maior do que aquela que se pode ver e mapear. Aceitando a
restrição, a opção foi olhar o sistema produtivo sob o prisma que abrange a transformação da
matéria-prima em produto acabado, o que se dá no chão-de-fábrica; pelas funções
tradicionais, estaria se falando em manufatura ou operação e planejamento e controle da
produção.
A primeira parte do primeiro objetivo específico havia sido alcançada. Faltava
elaborar uma abordagem capaz de dizer até que ponto determinada proposição constituía um
sistema de produção, do ponto de vista do atendimento de uma teoria estabelecida. Para tal,
foi elaborada uma avaliação composta de quarenta e sete perguntas, abrangendo: i) as
características dos sistemas em geral relevantes para os sistemas de produção, ii) os
elementos da teoria do conhecimento necessários para a explicação de um sistema produtivo,
iii) outros aspectos, como contexto cultural de surgimento e possibilidade de transferência a
outras culturas. É importante mencionar que esta avaliação foi elaborada tendo em vista os
resultados obtidos nos parágrafos anteriores, referentes a características de um sistema
produtivo e elementos de um sistema teórico. Criada a abordagem, era recomendável testá-la.
Então, o teste da abordagem veio ao encontro do atingimento do segundo objetivo específico:
realizar uma aplicação sobre o Sistema Toyota de Produção, para testar a força da proposta.
E, paralelamente, pelo estudo do Sistema Toyota de Produção durante a aplicação,
aperfeiçoar a forma teórica deste.
No momento da primeira tentativa de submeter a teoria do Sistema Toyota à avaliação
pela abordagem, percebeu-se que ela não atendia aos critérios mínimos de teste, uma vez que
não apresentava coerência entre os termos que designavam os elementos nem clareza de
relacionamento entre estes. Então, se fez necessária uma elaboração da teoria subjacente ao
STP.
A elaboração da teoria do Sistema Toyota de Produção partiu da leitura das obras de
Shingo, Ohno, Monden, Womack, Jones & Roos e Ghinato, principalmente. Durante a leitura
132
descompasso quantitativo: muito poucas técnicas existem para construir o que os princípios
prevêem. Isto significa que uma empresa que desejasse implementar o Sistema Toyota
precisaria completar as lacunas e desenvolver, internamente, várias técnicas. Identificou-se,
também, que o contexto cultural é determinante para a viabilidade ou não do funcionamento
do Sistema Toyota. Observou-se que o elemento humano ocupa um papel significativo no
STP. Para que este ser humano se comporte como desejado, ele é sujeito a diversas formas de
controle somente aplicáveis em condições similares àquelas presentes na cultura do Japão.
Então, alcançou-se o segundo objetivo específico.
Neste ponto, o que se vê é que a abordagem de avaliação proposta, composta de quatro
passos, se mostrou capaz de avaliar a consistência teórica de um sistema produtivo, no caso, o
Sistema Toyota, mostrando suas deficiências. Então, alcançou-se o objetivo geral, ou seja,
desenvolveu-se uma forma de verificar a consistência teórica de um sistema produtivo. A
utilidade da abordagem consiste na possibilidade de que as configurações que se auto-
denominam sistemas produtivos possam ser expostas a análises objetivas, eliminando assim
as figuras de retórica que dizem, por exemplo, que os princípios de um determinado sistema
produtivo são amplamente aplicáveis e transferíveis às diversas realidades, quando nem ao
menos os autores se detiveram a explicitar com clareza quais sejam estes princípios.
Alguma auto-crítica cabe ser feita. Esta diz respeito aos termos usados na elaboração
da estrutura teórica genérica. Será que é correto usar “leis” para elementos de um campo de
conhecimento que é, na realidade, a aplicação de diversos campos de conhecimento, não
sendo puro e, portanto, não sendo considerado por muitos como “ciência”? Será que
“recomendações primeiras” podem ser chamadas de “princípios”, pelo mesmo argumento
anterior? A diversidade de autores mostra que não há consenso, hoje, sobre o que seja
“ciência”. Quanto à auto-crítica, a resposta que se coloca é que talvez estes, efetivamente,
não sejam os melhores termos, uma vez que historicamente vêm sendo usados no campo das
ciências básicas (tais como Matemática e Física), e que sempre haverá aqueles que acreditam
numa ciência pura, livre de subjetividades. Porém, esta autora não compartilha da crença de
que determinados campos de conhecimento devam ser tratados como ciência e outros não,
simplesmente usando como critério a essência do que se estuda. Então, aceita-se como válido
o uso de termos como princípios e leis num campo de conhecimento reconhecido como
técnico e aplicado, ainda que estes termos possam causar alguma controvérsia. Mais ainda,
acredita-se que as áreas técnicas e aplicadas requerem um esforço maior para estabelecer seus
contornos teóricos. Contudo, os pesquisadores dessas áreas não podem furtar-se ao desafio de
134
estabelecer suas estruturas teóricas, uma etapa fundamental – imprescindível – para viabilizar
o alcance a patamares mais elevados do conhecimento.
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139
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141
ANEXO
Mundo
No campo da produção automobilística, 1900 a 1909 foram anos de produção
artesanal. Porém, o início das atividades de Henry Ford veio ser o prenúncio da produção em
massa. “O modelo T da Ford, em 1908, foi o vigésimo projeto de um período de cinco anos”
(WOOMACK, JONES E ROOS, 1992, p.14). As atividades de Ford nesses anos foram
bastante intensas, formando a base da indústria que floresceria nas décadas seguintes.
142
Japão
É interessante voltar no tempo até o Período Tokugawa ou Edo (1600-1867). Alguns
fatos marcam mudanças que viriam. Reischauer (1986, p.90) diz explica que no século XVII
houve um significativo crescimento econômico e, ao mesmo tempo, uma estabilização no
crescimento da população. Isto gerou uma contínua melhoria do nível de vida. Sugere-se
como explicação o fato de que no Japão se aceitava a herança por adoção. “Em outros países
era necessária uma grande quantidade de filhos para garantir a continuação da família e
assegurar segurança aos pais na velhice” (REISCHAUER, 1986, p.90). No Japão, um genro,
o filho de um parente ou qualquer pessoa completamente estranha podia servir como herdeiro.
“Assim era possível reduzir o tamanho das famílias, mesmo que por infanticídio, como
ocorria com as famílias dos camponeses pobres” (REISCHAUER, 1986, p.90).
“De qualquer forma, a população japonesa permaneceu estável durante um século e
meio, enquanto a produção aumentava. Como resultado, os japoneses se tornaram
possivelmente o povo mais rico per capita do que qualquer povo asiático. Um sinal
disto pode ser visto pela taxa de alfabetização que, na primeira metade do século
XIX, havia chegado a 35%, ou seja, uma cifra perfeitamente comparável aos países
ocidentais da época” (REISCHAUER, 1986, p.90).
O período Tokugawa foi marcado também por uma crescente produção industrial. Houve o
seguimento de doutrinas neo-confucianas que ressaltavam o valor moral da autoridade política
e a necessidade de uma lealdade absoluta. Havia pessoas que procuravam uma interpretação
mais prática dos valores confucianos. Também ocorreu o surgimento de uma consciência
nacional e o interesse pela linhagem imperial.
É importante ressaltar que o conhecimento histórico que se recomenda na abordagem
de avaliação dos sistemas produtivos é muito maior do que aquele que se possa resumir em
alguns tópicos. A compreensão de um determinado ambiente requer a leitura de obras
completas, de mais de um autor, sobre o período. Do contrário, se estaria incorrendo numa
simplicação ingênua. O que se pretende nestes tópicos é dar realce a alguns pontos
percebidos como relevantes e não escrever sobre tudo o que foi estudado e que consiste
essencialmente em obras históricas disponíveis. Voltando à leitura, Reischauer (1986, p.98)
diz:
“De muitas maneiras, o período Tokugawa foi marcado por mudanças lentas, mas,
notáveis. Foi quando se estabeleceram as bases econômicas, sociais e intelectuais
do Japão moderno. Os japoneses tiveram a oportunidade de elaborar e aperfeiçoar a
sua própria herança cultural. Foram estimulados por novas influências da China e,
em menor grau, do Ocidente. Em que pese o seu relativo isolamento em relação ao
mundo e a estabilidade de seu sistema político feudal, a economia e a sociedade não
estagnaram. Ao contrário, deram sinais de contínuo crescimento e constante
inquietude. (...) As claras linhas traçadas entre as classes foram se apagando quando
os samurais, empobrecidos, passaram a se casar com as filhas de comerciantes ricos
143
Nas primeiras décadas Meiji, houve uma preocupação em aprender com o Ocidente, e
estudantes selecionados foram enviados ao exterior. Durante o decênio de 1870 a 1880 houve
uma grande inclinação a tudo o que era ocidental, com o lema “civilização e ilustração”.
Além disso, a educação interna mereceu destaque.
144
Toyota
A Toyota Motor Company ainda não existia. Mas, em 1901, Sakichi2 Toyoda, que
viria a ser o fundador da corporação Toyota, já começava a pensar em inventar um tear auto-
ativado (OHNO APUD GHINATO, 1994, p.92).
Década de 10
Mundo
De agosto de 1914 a novembro de 1918, o mundo viveu a I Guerra Mundial, conflito
que envolveu, de um lado, as ‘potências aliadas’ (França, Reino Unido, Rússia, Itália, Estados
2
Sakichi Toyoda – (1867-1930) – Pai de Kiichiro Toyoda e tio-avô de Eiji Toyoda - Fundador da Toyota
Industries Corporation e da Toyota Spinning and Weaving Company. Instigou Kiichiro a ingressar na produção
de automóveis. Em 1896 inventou o primeiro tear japonês movido a energia, e, em 1924 ele inventou o tear
automático tipo G da Toyota com troca de lançadeira sem parada da máquina, considerado o melhor do mundo
na época. (http://www.toyota-industries.com em 2003)
145
Japão
Em 1911 o Japão restabelece a igualdade jurídica com o Ocidente, retomando a
autonomia sobre as tarifas de comércio exterior. Em 1914 a I Guerra Mundial deu ao Japão
uma oportunidade de expansão. Em 1918, o Japão saía da I Guerra como principal rival da
Inglaterra pelo domínio da China. Comercialmente, a Primeira Guerra também deu ao Japão
os mercados da Ásia, pois estes encontravam-se isolados das fábricas da Europa.
Toyota
Em 1910, Sakichi Toyoda visita os Estados Unidos pela primeira vez. “Durante seus
quatro meses na América, Sakichi deve ter entendido o que era um automóvel e como ele
poderia se tornar. Ao retornar ao Japão, ele freqüentemente dizia que agora estavam na era do
automóvel”. Concordando com os desejos de seu pai Sakichi, o filho Kiichiro3 entraria no
negócio de carros (OHNO, 1997).
Em 1918, Sakichi Toyoda fundou a Toyoda Spinning and Weaving Co., um
empreendimento da família Toyoda no setor têxtil (Tom Raytel, 1996, http://
www.courierpress.com / toyota/ toy 032096.html).
Década de 20
Mundo
Iniciam os anos 20:
“Nos anos 20, a economia norte-americana iniciou um novo período de expansão.
Com esta expansão, veio também um novo fenômeno e o mercado mudou. As
mudanças no mercado automobilístico podem ser separadas em quatro categorias:
estabelecimento de um plano de vendas, o comércio envolvendo carros usados, a
chegada dos modelos sedan e o aparecimento dos modelos anuais” (SLOAN APUD
OHNO & MITO, 1986, p.64 e 65).
3
Kiichiro Toyoda – (1894-1952) - Filho de Sakichi Toyoda e tio de Eiji Toyoda; participou ativamente na
fundação da Toyota Motor Company e na criação do Sistema Toyota de Produção.
147
1914 a 1918 De agosto de 1914 a novembro de 1918, o mundo vive a I Guerra Mundial. De um lado,
estavam as ‘potências aliadas’ (França, Reino Unido ,Rússia, Itália, Estados Unidos, Japão,
Romênia, Sérvia, Montenegro, Grécia, Brasil, Portugal) e, de outro, os ‘impérios centrais’
(Alemanha e Áustria-Hungria, auxiliadas pela Turquia e Bulgária).
1914 a 1924 Entre 1914 e 1924, as inovações industriais de Henry Ford e Alfred Sloan destruíram uma
vigorosa indústria norte-americana: a produção artesanal de veículos motorizados. Durante
esse período, o número de companhias automobilísticas caiu de mais de 100 para cerca de
uma dúzia, das quais três – Ford, General Motors e Chrysler – representavam 90 por cento de
todas as vendas.
1915 Aproximadamente em torno deste ano o operário era intercambiável. Isso porque a
especialização do trabalho tinha chegado ao ponto em que um montador precisava de apenas
poucos minutos de treinamento.
Em Highland Park, Ford introduziu duas máquinas dedicadas, que produziam lotes de 15 e 30
peças. Toda a habilidade em usinar passou a se incorporar na máquina e o custo do processo
despencou.
1918 Sakichi Toyoda fundou a Toyoda Spinning and Weaving Co.
1919 A linha de montagem final de William Morris, fundador da Oxford Motor Company (e sua
subsidiária MG) apresentava, em 1919, 18 tarefas distintas, enquanto que a linha de
montagem de Ford, em 1914, possuía 45 tarefas distintas.
A Ford estava presente em inúmeros países. Instalou sua primeira unidade de montagem no
Brasil em 1919. Os kits encaixotados iam por navio de Detroit ao porto de Santos e os
automóveis Ford eram montados um a um na fábrica do bairro Ipiranga em São Paulo.
“Em 1927, último ano de produção do modelo T, Ford se defrontava com uma
demanda em queda, as vendas já não cobrindo os custos. (A demanda caiu porque a
General Motors estava oferecendo um produto mais moderno por um preço um
pouquinho maior. Além do mais, um automóvel GM de um ano anterior custava
menos do que um Ford novo)”. (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.25)
Japão
No âmbito dos empreendimentos e da indústria, Sakichi Toyoda se refere
enfaticamente à idéia de que o povo japonês devia desafiar o mundo com sua inteligência
(OHNO, 1997). Em 1921, o príncipe herdeiro Hirohito viaja à Europa, e, em novembro,
assume como príncipe regente. Em 1923 ocorre o grande terremoto de Kanto, que destrói
metade de Tókio e parte de Yokohama, causando 130.000 mortes. Em 1925 é instituído o
voto “universal” para os homens. Em 1926 morre o imperador Taisho e Hiroito assume.
O regresso dos europeus aos mercados da Ásia trouxeram dificuldades ao Japão.
Muitos bancos quebraram em 1927 e, em 1929, começou a depressão mundial, afetando
sensivelmente o comércio exterior. Entre 1925 e 1931 os preços do arroz e da seda tiveram
quedas acentuadas, levando a população rural a viver no limiar da fome. A economia
apresentava um caráter bipolar. Enquanto algumas empresas viviam numa realidade muito
produtiva e moderna, as empresas tradicionais, as empresas de serviços e a agricultura
apresentavam baixa produtividade. O Japão rural se mostrava muito atrasado em relação às
cidades. No período que seguiu a Primeira Guerra Mundial as dificuldades favoreciam o
surgimento de atritos entre empregados e patrões. Ao final dos anos 20, uns 300.000
trabalhadores já se encontravam organizados em sindicatos. Após a Primeira Guerra, um
grave problema do Japão era a dependência de fontes externas de matéria-prima e energia e a
necessidade de mercados externos para absorverem sua produção (REISCHAUER, 1986,
p.158 e 159).
149
1920 Ford atingiu o pico de produção de 2 milhões de veículos iguais num ano.
1922 a 1924 Sakichi Toyoda se refere enfaticamente à idéia de que o povo japonês devia desafiar o mundo
com sua inteligência.
1923 Pico da produção do modelo T. Ford produziu 2,1 milhões de chassis para esse modelo, cifra
que se revelou um marco da produção em massa padronizada.
1925 Sloan concebeu uma solução estratégica para os problemas da companhia: desenvolveu uma
faixa de cinco modelos de produtos.
1926 Devido às políticas governamentais e às barreiras alfandegárias, em 1926 os automóveis de
Ford eram montados em mais de 36 cidades norte-americanas e em 19 outras nações.
O novo mercado dos Estados Unidos exigia um carro constantemente aperfeiçoado para todos.
Ford se defrontava com uma demanda em queda, as vendas já não cobrindo os custos.
General Motors oferecia um produto mais moderno por um preço um pouquinho maior.
Até 1927, quando as vendas do modelo T entraram em colapso, Henry Ford enfrentava o
constante problema de encontrar, na região de Detroit, mão-de-obra qualificada suficiente para
suas operações de ferramentaria.
1929 Kiichiro Toyoda visitou a Ford.
Anos 20 A economia norte-americana iniciou um novo período de expansão e o mercado mudou:
estabelecimento de plano de vendas, o comércio de carros usados, modelos sedan e modelos
anuais.
Brasil - Grande expansão dos veículos em circulação no país. A frota passou de 30 mil
veículos para 250 mil veículos em 1930.
Toyota
150
Década de 30
Mundo
“Em 1930, o mundo viu o mercado de capitais de Nova Iorque despencar” (OHNO,
1997). “Viu-se um país atrás do outro erigindo barreiras comerciais após o colapso da
economia mundial em 1929” (WOMACK, JONES E ROOS, 1992, p.209).
Ford, em 1931, atingiu a integração vertical em seu complexo de Rouge, em Detroit.
Já no início dos anos 30, ele havia estabelecido três sistemas de fabricação totalmente
integrados na Inglaterra, Alemanha e França. “Tais companhias manufaturavam produtos
especiais de acordo com o gosto de cada país, sendo administrados por gerentes nativos,
procurando minimizar a interferência de Detroit” (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.21 a
23).
Em 1933, ocorre a ascensão de Hitler ao poder. Inicia-se, em 1939, a II Guerra
Mundial, envolvendo os países aliados (Reino Unido, França, Estados Unidos, entre outros) e
o eixo (Itália – Alemanha – Japão), conflito que duraria até 1945.
Japão
No Japão, o ambiente social era violento. O Primeiro Ministro Inukai foi assassinado
(OHNO, 1997). A depressão econômica mundial decorrente da queda do mercado de capitais
de Nova Iorque afetou profundamente a economia japonesa. Os negócios iam mal,
desemprego crescente. Reischauer (1986, p.165) explica o militarismo japonês pelas
condições impostas ao Japão pelo imperialismo depredatório do Ocidente. As condições
internas economicamente não estavam satisfatórias na segunda metade da década de 20. A lei
de 1924 dos Estados Unidos impedindo os japoneses de obterem a cidadania norte-americana
despertou um sentimento nacionalista, devido ao racismo sofrido. O militarismo representava
alguns valores que iam ao encontro da classe rural. O exército começou a manifestar-se como
151
um poder, ao qual a ordem estabelecida procurava acomodar-se. Era o exército que estava
determinando os rumos da política exterior.
No setor industrial, em maio de 1936, com a promulgação da lei das empresas de
produção de automóveis, os fabricantes passaram a ter proteção e assistência do governo. A
indústria têxtil japonesa estava lutando para competir no comércio mundial. Várias medidas
estavam sendo implementadas visando reduzir custos. Assim, a indústria têxtil japonesa já
tinha uma visão global e estava racionalizando ativamente seus métodos de produção. Em
comparação, a história automobilística era recente (OHNO, 1997). “Antes da II Guerra
Mundial, o Sr. Soichiro Honda entrou em contato direto com os carros europeus e norte-
americanos e familiarizou-se com a força e a capacidade surpreendentes destas máquinas.
Então, após a guerra, ele iniciou do zero e recusou-se a ser um subcontratado da Toyota,
escolhendo ser independente. Ele já sabia como as máquinas deveriam ser, quer fossem
automóveis ou motocicletas”. Durante a guerra, ele ficou restrito pelo governo e pelo
exército, ficando livre para trabalhar somente após o final da mesma (OHNO & MITO, 1986,
p.92)
Toyota
Foi vendida, em 1930, a patente do tear de Sakichi, capaz de parar automaticamente
quando a quantidade programada de tecido fosse alcançada ou quando os fios longitudinais ou
transversais da malha fossem rompidos. Essa patente foi vendida para a Platt Brothers da
Inglaterra e o dinheiro foi todo aplicado nas pesquisas para a fabricação de automóveis
(OHNO APUD GHINATO, 1994, p.91).
Em 1930, ocorre o falecimento de Sakichi Toyoda.
Em 1932, Ohno entra para a Toyoda Spinning and Weaving.
Em 1933, Kiichiro, filho de Sakichi, anunciou o objetivo de desenvolver carros
nacionalmente, dizendo: “Nós aprenderemos técnicas de produção do método americano de
produção em massa. Mas nós não iremos copiá-los como são. Usaremos as nossas próprias
pesquisa e criatividade para desenvolver um método de produção que seja adequado à
situação do nosso próprio país.”
152
O ambiente social no Japão era violento e o Primeiro Ministro Inukai foi assassinado.
A depressão econômica mundial decorrente da queda do mercado de capitais de Nova Iorque
afetou profundamente a economia japonesa. Os negócios iam mal, desemprego crescente.
Ocorre o falecimento de Sakichi Toyoda, o fundador da Corporação Toyota.
Ohno diz que a corporação da família Toyoda já sabia, mesmo que inconscientemente, que o
seu mundo corporativo era orientado globalmente. Foi vendida a patente do tear de Sakichi e
o dinheiro foi todo aplicado nas pesquisas para a fabricação de automóveis.
1931 Ford atingiu a integração vertical em seu complexo de Rouge, em Detroit.
1938 A indústria têxtil japonesa estava lutando para competir no comércio mundial, com medidas
para reduzir custos. A indústria têxtil japonesa tinha uma visão global; a história
automobilística era recente.
Antes e durante a II Guerra Mundial, Kiichiro Toyoda fez uma tentativa de produzir
automóveis em massa internamente, mas, enquanto as quantidade de caminhões eram
relativamente altas, as de carros de passageiros deixavam muito a desejar.
1939 Inicia-se a II Guerra Mundial.
Anos 30 No início dos anos 30, Ford tinha três sistemas de fabricação totalmente integrados na
Inglaterra, Alemanha e França, administrados por gerentes nativos, minimizando a
interferência de Detroit. No final dos anos 30, instada pelo governo japonês, a Toyota iniciou-
se na indústria de veículos motorizados, especializando-se em caminhões militares.
153
Ohno acredita que esta foi a origem da idéia de Just-in-time (JIT) de Kiichiro. Kiichiro diz
que seu antecessor, Sakichi, havia dito que servira seu país com o tear, e que Kiichiro deveria
servir com o automóvel (OHNO, 1988).
Em novembro de 1935 a Toyota Motors anunciou seu projeto-piloto em automóveis
numa cerimônia em Shibaura, Tóquio (OHNO & MITO, 1986, p. 26). Num discurso feito em
setembro de 1936, Kiichiro afirma que a maior parte da preparação para a fabricação de
automóveis estava concluída em 1933 (OHNO, 1997). O ano de 1937 marca a fundação da
Toyota Motor Company (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.39).
“No final dos anos 30, instada pelo governo, a companhia iniciou-se na indústria de
veículos motorizados, especializando-se em caminhões militares” (WOMACK, JONES &
ROOS, 1992, p.40). Antes e durante a II Guerra Mundial (1939-1945), Kiichiro Toyoda
liderou dois grupos de engenheiros de automóveis e gerentes de negócios numa tentativa de
produzir automóveis em massa internamente. Mas, enquanto a quantidade de caminhões
estava atingindo quantidades relativamente altas, a produção de carros de passageiros deixava
muito a desejar (OHNO, 1997).
Década de 40
Mundo
Desenrola-se a II Guerra Mundial, que iniciara em 1939 e terminaria em 1945, com a
derrota do eixo (que incluía o Japão) e com a vitória dos países aliados (participaram Reino
Unido, França, Estados Unidos, URSS). Em 1941, os japoneses precipitam a entrada dos
Estados Unidos na II Guerra ao bombardearem Pearl Harbor. Em 1944, ocorre o
desembarque da Normandia; era 6 de junho, o dia “D”.
Japão
Em 1937, o Japão esteve envolvido em conflitos com a China. Em 1936 assinou o
Pacto anti-Komintern com a Alemanha nazista.
Em 1938 envolveu-se em batalha com a URSS e foi derrotado.
Em 1940, a queda da França permitiu a expansão do Japão ao Vietnã do Norte.
154
Reischauer (1986, p.210) continua explicando que, muito mais importantes que as
relações ainda mantidas entre as companhias dos zaibatsu, eram as associações existentes
entre as empresas de aço, energia elétrica e bancos. Foi feito um esforço para desenvolver a
consciência dos trabalhadores. A legislação trabalhista foi revisada. Isso levou a um
movimento trabalhista forte e exigente. Em 1949, mais de 6.500.000 trabalhadores haviam
ingressado nos sindicatos.
Após 1945,
“a economia do país, devastada pela guerra, estava ávida por capitais e trocas
comerciais, sendo quase impossível compras maciças das tecnologias de produção
ocidentais mais recentes. O mundo exterior estava repleto de imensos produtores de
veículos motorizados, ansiosos por operarem no Japão, e dispostos a defenderem
seus mercados consagrados contra as exportações japonesas. Essa última
dificuldade provocou uma resposta do governo japonês, que logo proibiu
investimentos externos diretos na indústria automobilística japonesa. Tal proibição
foi vital na conquista, pela Toyota e outros entrantes da indústria automobilística
155
Toyota
“Durante a II Grande Guerra, esta [a padronização] foi a atividade mais essencial
nas plantas de produção da Toyota. Os mecânicos experientes estavam sendo
enviados aos campos de batalha, deixando mulheres e trabalhadores não
familiarizados com as máquinas. Isto tornou indispensável que as operações fossem
padronizadas. Não seria exagero dizer que assim nasceu o estilo Toyota de gestão
no local de trabalho. No que diz respeito ao projeto do Sistema Toyota de Produção,
dispensou-se atenção à verificação de detalhes dos equipamentos, ao
posicionamento das máquinas, à melhoria dos métodos de processamento, a
inovações em automação, ao aprimoramento de ferramentas, à reavaliação de
operações de transporte, à racionalização de estoques acabados e em processo e à
eliminação total de perdas. Foram inventados dispositivos poka-yoke que impediam
automaticamente os defeitos, os erros operacionais e as condições perigosas que
causavam acidentes” (OHNO & MITO, 1986, p.82).
Em 1942, a Toyoda Spinning and Weaving foi fechada. Em 1943, Ohno foi
transferido para a Toyota Motor Company, onde se estavam produzindo automóveis para o
esforço de guerra - II Guerra Mundial - (OHNO, 1997).
O Japão perdeu a guerra e sofreu a ocupação norte-americana. Nos anos 40,
“Devido a problemas macroeconômicos no Japão - as forças de ocupação haviam
decidido enfrentar a inflação restringindo o crédito, mas exageraram na dose
provocando, em vez disso, uma depressão - o nascente empreendimento
automobilístico da Toyota mergulhou num atoleiro, exaurindo rapidamente os
empréstimos de seus banqueiros”.
156
1943 Ohno foi transferido para a Toyota Motor Company, onde se estavam produzindo automóveis
para o esforço de guerra (II Guerra Mundial).
1944 Desembarque aliado na Normandia – dia “D”.
A economia do Japão estava devastada pela guerra. O mundo exterior estava repleto de
produtores de veículos motorizados, ansiosos por operarem no Japão e dispostos a defenderem
seus mercados contra as exportações japonesas. O governo japonês proibiu investimentos
externos diretos na indústria automobilística japonesa, o que foi vital para a indústria
automobilística japonesa.
Brasil - De 1930 a 1945, diminuiu a frota em circulação no Brasil e aumentou a idade média
dos veículos.
1946 O governo japonês, pressionado pelos norte-americanos, fortaleceu os direitos dos sindicatos e
fazendo a balança se inclinar para o lado dos empregados.
1949 A produção doméstica do Japão foi de 25622 caminhões e 1008 carros de passeio.
Outubro –Kiichiro Toyoda viu a possibilidade de seu desejo de produzir automóveis em massa
ser concretizada, com a restrição à produção de pequenos carros de passageiros sendo
suspensa e com o controle de preços sendo abolido.
Um colapso nas vendas forçou a Toyota a dispensar grande parte da força de trabalho.
Do final dos anos 40 até o início dos anos 60, com todos em oposição, o STP foi chamado “o
abominável sistema de Ohno”.
“A Toyota Motor Sales foi criada na crise de 1949, por insistência dos banqueiros da
Toyota, que acreditavam que uma companhia de vendas separada estaria menos
propensa a elaborar previsões de vendas otimistas demais que levassem a uma
produção excessiva, do que o sistema anterior, em que o marketing não passava de
mais uma divisão da Toyota Motor Company” (WOMACK, JONES & ROOS,
1992, p. 62).
Década de 50
Mundo
Em 1955, “três grandes empresas – Ford, GM e Chrysler – eram responsáveis por 95 por
cento de todas as vendas, e seis modelos representavam 80 por cento de todos os carros
vendidos”. Mas, “1955 foi também o ano em que começou a queda” nos Estados Unidos.
“A fatia de mercado abocanhada pelas importações iniciou seu contínuo crescimento. (...)
Uma importante razão pela qual as “Três Grandes” estavam perdendo sua vantagem
competitiva foi que em 1955 a produção em massa já se tornara comum nos países de todo o
mundo (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.31). Ao final dos anos 50, Wolfsburg (VW),
Flins (Renault) e Mirafiori (Fiat) estavam produzindo numa escala comparável à das grandes
instalações de Detroit. Os Europeus colheram sucessos nos mercados estrangeiros, até 1970
(WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.31 a 35).
Quanto às relações de trabalho, em março de 1956 o salário mínimo, por um ato do
Congresso norte-americano, passou a ser de um dólar por hora ou oito dólares por dia. Mas o
impacto disto não foi tão grande, proporcionalmente, quanto o ato de Ford de prover um
salário de cinco dólares ao dia quarenta anos antes (SORENSEN, 1956 apud OHNO &
MITO, 1986, p.116).
Japão
158
Toyota
Em abril de 1950 iniciou-se uma disputa de 3 meses com a mão-de-obra sobre a
redução da força de trabalho, seguida pela renúncia do presidente da Toyota, Kiichiro
Toyoda, que assumiu a responsabilidade pela greve (OHNO, 1997).
“Os empregados remanescentes receberam duas garantias. Uma foi o emprego
vitalício; a outra, pagamentos gradualmente crescentes, conforme o tempo de
serviço, e não a função específica no emprego, e vinculados à rentabilidade da
companhia pelo pagamento de bônus” (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.45).
Por outro lado,
“os empregados também concordaram em ser flexíveis na atribuição das tarefas e
ativos na promoção dos interesses da companhia”.
“De volta à fábrica, Taiichi Ohno se deu conta das implicações desse compromisso
histórico: a força de trabalho se transformara num custo fixo tanto quanto, a curto
159
Ainda em 1950, Eiji Toyoda (sobrinho de Kiichiro) saiu para uma peregrinação de três
meses até a fábrica Rouge da Ford, em Detroit. De volta a sua cidade, Nagoya, Eiji Toyoda e
seu gênio da produção, Taiichi Ohno, logo chegaram à conclusão de que a produção em
massa jamais funcionaria no Japão. Em junho de 1950, surgem demandas especiais
originadas pela guerra da Coréia, mas ainda se está longe da produção em massa. (...) A
Guerra da Coréia trouxe a salvação, com uma súbita demanda. Mas, era preciso aumentar a
produção sem admitir pessoas (recentemente demitidas), e isso só seria possível via
eliminação de perdas (OHNO & MITO, 1986, p.8). “Como atender a demanda por
caminhões?” ( ) Havia escassez desde matéria-prima até peças (OHNO, 1997, p.32).
“Como a Toyota fabricava chassis, quando muitas peças não chegavam em tempo ou
nas quantidades certas, o trabalho de montagem atrasava. Eram forçados a juntar as
peças que estavam chegando de modo intermitente e irregular e fazer a montagem
no final do mês” (OHNO, 1997, p.33).
O que era desejado era que se pudesse operar o Sistema Toyota de Produção estabelecendo-se
um fluxo de produção e uma forma de manter um constante suprimento externo de matérias-
primas para as peças a serem usinadas. “Porque havia escassez de tudo achou-se correto
aumentar a força de trabalho e o número de máquinas para produzir e estocar ítens. Na época,
estava-se fazendo não mais do que 1000 a 2000 carros por mês, e mantendo um estoque de
um mês em cada processo” (OHNO, 1997, p.33). Era previsível que, se houvesse um
aumento na produção, haveria problemas. Para evitar esse problema em potencial, buscaram-
se formas de nivelar a produção. Buscou-se, também, uma cooperação dos fornecedores
(OHNO, 1997, p.33).
Para contrabalançar os problemas de altos custos de estocagem para os fornecedores
e peças defeituosas fornecidas, e atender a um aumento da demanda nos anos 50, a
Toyota começou a estabelecer um novo enfoque, de produção enxuta, para o
suprimento de componentes. O primeiro passo consistiu em organizar os
fornecedores em níveis funcionais. Às firmas de cada nível correspondiam
diferentes graus de responsabilidade (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.51).
4
Tanto no livro de Ohno (1997) como no livro de Ohno & Mito (1986), aparecem duas informações conflitantes.
Em alguns pontos aparece que a visita aos EUA que inspirou o supermercado teria ocorrido em 1953 e em outros
pontos aparece como ocorrida em 1956. Por sintonizar melhor com as demais informações, acredita-se que o
ano correto seja 1953.
160
Abril – Toyota – Inicia-se uma disputa de 3 meses com a mão-de-obra sobre a redução
da força de trabalho, seguida pela renúncia do presidente da Toyota, Kiichiro Toyoda
(filho do fundador Sakichi), que assumiu a responsabilidade pela greve. Os empregados
remanescentes receberam duas garantias: emprego vitalício e pagamentos conforme o tempo
de serviço e vinculados à rentabilidade da companhia. Em contrapartida, concordaram em ser
flexíveis na atribuição das tarefas e ativos na promoção dos interesses da companhia. A força
de trabalho se transformara num custo fixo tanto quanto, a curto prazo, a maquinaria da
companhia, e, a longo prazo, o que era ainda mais importante.
Eiji Toyoda (sobrinho de Kiichiro) saiu para uma peregrinação de três meses até a fábrica
Rouge da Ford, em Detroit. De volta a sua cidade, Nagoya, Eiji Toyoda e seu gênio da
produção, Taiichi Ohno, logo chegaram à conclusão de que a produção em massa jamais
funcionaria no Japão.
1951 Final da ocupação norte-americana ao Japão. Com a partida dos americanos, o zaibatsu cedeu
lugar a nova forma de finanças industriais, o kereitsu.
Três grandes empresas – Ford, GM e Chrysler – eram responsáveis por 95 por cento de todas
as vendas, e seis modelos representavam 80 por cento de todos os carros vendidos.
Foi também o ano em que começou a queda. A fatia de mercado abocanhada pelas
importações iniciou seu contínuo crescimento. Uma importante razão pela qual as “Três
Grandes” estavam perdendo sua vantagem competitiva foi que em 1955 a produção em massa
já se tornara comum nos países de todo o mundo.
Crescimento alto versus lento – O Japão entrou num período de crescimento excepcional em
comparação com a situação da economia mundial da época. Reischauer (1986, p.244) fala
deste grande crescimento, que chegou a ocorrer a taxas reais de 10%. Ele explica como
alguns dos fatores, a disposição que os Estados Unidos tiveram, no pós-guerra, de favorecer a
obtenção de modernas tecnologias a baixos custos. Também o fato de o Japão estar sendo
ajudado financeiramente pelos Estados Unidos (as despesas de defesa estavam a cargo dos
EUA) significava um favorecimento. A existência de mão-de-obra capacitada, alguns
protecionismos que protegiam o Japão e a abertura dos mercados dos EUA no pós-guerra
também são citados como fatores prováveis deste crescimento, sem esquecer, é claro, a guerra
da Coréia.
1956 Em março o salário mínimo nos EUA, por um ato do Congresso, passou a ser de um dólar por
hora ou oito dólares por dia. Mas o impacto foi menor do que aquele causado 40 anos antes,
por Ford, ao instituir o salário de cinco dólares ao dia.
5
Tanto no livro de Ohno (1997) como no livro de Ohno & Mito (1986), aparecem duas informações conflitantes.
Em alguns pontos aparece que a visita aos EUA que inspirou o supermercado teria ocorrido em 1953 e em outros
pontos aparece como ocorrida em 1956. Por sintonizar melhor com as demais informações, acredita-se que o
ano correto seja 1953.
163
Mas, o que mais o impressionou foi o quanto prevaleciam os supermercados nos Estados
Unidos (OHNO, 1997). O funcionamento de reposição na medida em que ocorria o consumo,
observado por Ohno nos supermercados, o inspirou na elaboração do Kanban.
A Toyota aceitou a candidatura ao Prêmio Deming em 1956 (OHNO & MITO, 1986,
p.121).
No final da década (1959), iniciou-se um período de quinze anos durante o qual “o
Japão viveu um crescimento econômico com rapidez incomum” (OHNO, 1997, p.24).
“Os métodos de produção da Toyota agruparam-se na forma de um sistema durante o
período de rápido crescimento que ocorreu do final dos anos 50 até o início dos anos 70”
(OHNO & MITO, 1986, p.24).
Década de 60
Mundo
Em 1963, Sloan e seus colaboradores na General Motors criaram um departamento de
criação.
“Eles se preocupavam com cores, “inventavam” novas cores, e davam nomes
afrodisíacos às cores. Pela primeira vez as equipes de design incluíam mulheres.
Não há muito a dizer; as leis dos modistas de Paris se tornaram um fator na indústria
automobilística” (SLOAN apud OHNO & MITO, 1986,p.66).
Japão
Em 1962 o Japão estava em total crescimento. Nos dois primeiros trimestres de 1965
a economia do Japão expandiu-se (OHNO, 1997). A manufatura no Japão avançou muito nos
anos pós II Grande Guerra (pós 1945).
“No final dos anos 60, seguindo a implementação do controle de qualidade, o
movimento zero defeito (ZD) foi importado dos Estados Unidos e espalhou-se
rapidamente pelas companhias japonesas. ZD era uma técnica de produção e uma
rotina de gestão desenvolvida em 1962 pela Martin Company, uma companhia de
tecnologia aeroespacial”.
“O ZD no estilo norte-americano foi primeiro introduzido no Japão em 1965 pela
Nihon Electric, onde evoluiu de uma forma singularmente japonesa. Desde o final
dos anos 40, os conceitos de controle de qualidade dos Estados Unidos vinham
sendo implementados agressivamente no Japão, onde as companhias começaram
ativamente a desenvolver seus próprios círculos de atividades de controle de
qualidade. A Nihon Electric também havia adotado os círculos de controle de
qualidade (CCQ) desde o início. Com a introdução do movimento ZD, ela
estabeleceu a gestão ZD Nihon Electric, que dependia completamente do
envolvimento dos empregados. Estruturalmente, era baseada nas atividades de
pequenos grupos de controle de qualidade (CCQ) e estes pequenos grupos eram
chamados de grupos ZD (OHNO & MITO, 1986, p.121,122).
Toyota
Diz Ohno, sobre a formação do Sistema Toyota de Produção:
“Baseado em minhas experiências em plantas produtivas, eu sei que no início as
pessoas tendem a resistir às mudanças, quer sejam pequenas ou grandes mudanças,
tornando a atmosfera pouco afeita à implementação de modificações. Entretanto, se
os empregados eram frenéticos, eu ficava louco! No final, impusemos nosso modo
de fazer e persuadimos as pessoas. Todo o processo de desenvolvimento do Sistema
Toyota de Produção foi assim. Do final dos anos 40 até o início dos anos 60, com
todos em oposição, o STP foi chamado “o abominável sistema de Ohno”. As
pessoas recusavam-se a chamá-lo de Sistema Toyota de Produção. Quando eu
confirmei a validade do sistema e tentei implementá-lo, todos objetaram
veementemente” (OHNO & MITO, 1986, p.97).
Sobre o TQC:
"Antes do TQC, para eliminar as perdas totalmente, houve planejamento e muito
trabalho para implementar o STP. Partiu-se seriamente para a implantação do TQC
no início dos anos 60, ganhando o prêmio Deming em 1965 e aspirou ao Japan
Quality Control Award em 1970. Muito antes de sua implementação, as técnicas do
estilo de manufatura Toyota ou Ohno foram colocadas constantemente em
165
extenuantes testes. Pela época em que o TQC foi implementado, estas técnicas
haviam sido promovidas passando a serem chamadas de Sistema Toyota de
Produção. O TQC ajudou a disseminar e estabilizar este sistema (OHNO & MITO,
1986, p.100)
Ohno diz que até esta época era possível vender tudo o que era produzido no Japão.
Década de 70
Mundo
“Os sistemas europeus de produção em massa foram afetados, nos anos 70, por
salários crescentes e jornada semanal de trabalho em constante diminuição. Os
fabricantes europeus de carros conduziram, ainda, algumas experiências alternativas
de trabalho participativo, a exemplo da fábrica da Volvo em Kalmar, que –
revivendo o salão de montagem de Henry Ford de 1910 – reintroduziu técnicas
artesanais, atribuindo a pequenos grupos de trabalhadores a responsabilidade pela
montagem de um veículo completo” (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.35).
Ohno & Mito (1986, p.46) afirmam: “Durante o período de rápido crescimento que se
estendeu no Japão desde o final dos anos 50 até o início dos anos 70, e nos Estados Unidos,
no período desde a grande depressão de 1930 até o final dos anos 70, não se conhecia o
sentido da escassez material”.
Em 1973, a crise do petróleo, seguida de recessão, afetou governos, empresas e
sociedades em todo o mundo (OHNO, 1997).
Quanto à produção automobilística, ocorreu a primeira tentativa da Ford de padronizar
em bases globais, com o Escort, introduzido em 1979:
“Uma equipe internacional de projetistas foi incumbida de desenvolver tal carro,
com contribuições de todas as companhias da Ford operando no mundo. Os
europeus da Ford of Europe e os norte-americanos da North America Automotive
Operations conseguiram introduzir uma variedade de mudanças no carro “mundial”,
adaptando-o aos gostos e hábitos de fabricação europeus e norte-americanos. No dia
do lançamento, os dois Escorts, ainda que praticamente indistinguíveis na aparência
externa, compartilhavam de apenas duas peças: o cinzeiro e um suporte no painel de
instrumentos” (WOMACK, JONES E ROOS, 1992, p.210).
Japão
Somente com a crise do petróleo é que foi desencadeado o processo de uma
compreensão, pelas empresas no Japão, da fragilidade dos seus sistemas produtivos. A
Mazda, por exemplo, só veio a adotar plenamente as concepções de Ohno de administração
fabril e de sistemas de suprimento, ao deparar-se com a crise em 1973, quando as exportações
dos carros de motor Wankel, “bebedores” de gasolina, entraram em colapso. Em 1974 a
economia japonesa estava com crescimento zero (OHNO, 1997).
“Mais tarde, passando ao final da década de 70, pode se dizer que, em comparação
com o período fortuito de grande crescimento econômico dos anos 60 e início dos
anos 70, a economia do Japão no final dos anos 70 e início dos anos 80 era uma
economia madura, que tinha a necessidade de regular-se com o uso harmonioso de
freio e acelerador. Porém, comparada à estagnação do oeste europeu e de nações
como os Estados Unidos, a economia japonesa manteve-se próspera, e o atrito entre
o oeste e o leste avançou de superaquecido para explosivo” (OHNO & MITO, 1986,
p.85)
Toyota
A Toyota concorreu ao prêmio Japan Quality Control em 1970 (OHNO & MITO,
1986, p.121). “Com a crise de 1973, o STP se estabeleceu firmemente na Toyota” (OHNO &
MITO, 1986, p.84). Na Toyota, onde vinham sendo alcançados aumentos da produção
anualmente, desde a década de 30, foi necessário reduzir a produção para 1974. De 1975 a
1977 os lucros diminuíram na Toyota Motor Company, mas foram maiores do que os de
outras empresas (OHNO, 1997, p.3). Nesta época, os fornecedores da Toyota começaram a se
aproximar da companhia para perguntar sobre o Sistema Toyota de Produção (OHNO &
MITO, 1986, p.8).
“No final dos anos 70, o STP começou gradualmente a se difundir além das empresas
afiliadas para outras companhias fabricantes de automóveis e, até mesmo, para outros tipos de
indústrias. Ele tornou-se a imagem de um modelo de sistema de gestão japonês” (OHNO &
MITO, 1986, p.84).
As firmas japonesas, além da Toyota, também adotaram a maior parte dos princípios da
produção enxuta, ainda que tenham levado vários anos para isso.
1974 Economia japonesa estava com crescimento zero.
Na Toyota, onde vinham sendo alcançados aumentos da produção anualmente, desde a década
de 30, foi necessário reduzir a produção para 1974.
1975 Na Toyota Motor Company os lucros diminuíram, mas foram maiores do que os de outras
empresas. Entre 1975 e 1977, foi a fase em que os resultados passaram a melhorar e aumentar,
fazendo os fornecedores da Toyota aproximarem-se da companhia perguntando sobre o
Sistema Toyota de Produção.
1979 A trilha de desenvolvimento das empresas automotivas japonesas, calcada nas exportações,
teve final abrupto após 1979, quando a economia mundial estagnou. O desequilíbrio da
balança comercial com a América do Norte e Europa atingiu proporções inimagináveis, e
barreiras comerciais foram erigidas.
Japão – Economia no final dos anos 70 e início dos anos 80 era madura. Comparada à
estagnação do oeste europeu e de nações como os Estados Unidos, manteve-se próspera, e o
atrito com o oeste tornou-se explosivo.
No final dos anos 70, o STP começou gradualmente a se difundir além das empresas afiliadas
para outras companhias fabricantes de automóveis e, até mesmo, para outros tipos de
indústrias. Ele tornou-se a imagem de um modelo de sistema de gestão japonês.
Brasil – No início dos anos 70, com a escalada do preço do petróleo, o governo exigiu que a
indústria introduzisse motores movidos a álcool, exigência que concentrou as energias no
desenvolvimento de produtos numa tecnologia que não encontrou mercado em nenhuma outra
parte do mundo. Ao mesmo tempo, o número de anos em que cada modelo era mantido em
produção ascendeu para 14 anos no Brasil, quase quatro vezes o padrão japonês.
Brasil – A década de 1970 marcou então a consolidação das três grandes (VW, GM e Ford),
responsáveis, já ao final da década de 1960 por cerca de 90 % da produção.
Década de 80
Mundo
A ameaça da competência japonesa na área automobilística fez com que quotas fossem
impostas às importações japonesas na Grã-Bretanha, França e Itália, no começo da década de
1980 (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p. 214).
A partir desta década, a difusão da produção enxuta no mundo atingiu o ponto da
produção em massa na década de 1920. Os líderes na prática do novo método
viram-se compelidos a aumentar a participação no mercado mundial através de
investimentos diretos na América do Norte e Europa (WOMACK, JONES & ROOS,
1992, p. 59).
problema não era primordialmente cíclico, ainda que a baixa do mercado de 1980
fosse a pior desde a década de 1930. Concluíram eles que os japoneses estavam
realizando algo fundamentalmente novo.
( ) Decidiram viajar para o Japão, para verem com os próprios olhos, viagem que se
tornou viável com a compra, pela Ford, de 24 por cento da Mazda, em 1979”
(WOMACK, JONES E ROOS, 1992, p.232 e 233).
“A grave crise da Ford nos Estados Unidos em 1982 ameaçava a própria sobrevivência da
companhia” (WOMACK, JONES E ROOS, 1992, p. 233). Empréstimos maciços da Ford of
Europe sustentaram a Ford na grande depressão automobilística norte-americana de 1980 a
1982 (WOMACK, JONES E ROOS, 1992, p. 209). A Ford desenvolveu a confiança dos
operários na gerência da planta, que não poupou esforços para assimilar os princípios da
produção enxuta. Na década de 1980, a Ford conseguiu implementar vários elementos da
produção enxuta, e os resultados logo se fizeram sentir sobre o mercado. “Ironicamente, a
Ford Motor Company constituiu o melhor exemplo, modificando bastante suas fábricas e
tornando-se quase enxuta nos anos 80” (WOMACK, JONES E ROOS, 1992, p. 238). “A
Ford também começou um sistema de avaliação sistemática dos fornecedores, denominado
Q1. Ao Q1, logo se seguiram o programa Spear, da GM, e Pentastar, da Chrysler”
(WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.152).
“Já, o enfoque da GM, no início dos anos 80 fora descobrir tecnologias avançadas para
se livrar dos trabalhadores” (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.90).
“A GM estava rica em 1980. Ainda que perdesse 1 milhão de dólares em 1982,
continuava pouco endividada, sendo, de longe, a maior companhia mundial. Para
contornar os seus problemas, ela foi se retirando de um segmento de mercado após o
outro, além de tentar gigantescos saltos de produtividade, introduzindo qualquer
nova tecnologia de produção disponível ao lançar novos modelos, como o GM-10”
(WOMACK, JONES E ROOS, 1992, p.72).
compartilhados – que atingiram o mercado entre 1983 e 1987, Clark constatou que
um carro japonês totalmente novo exigia, em média, 1,7 milhão de horas de trabalho
de engenharia, consumindo 46 meses desde o projeto inicial até as entregas aos
clientes. Em contraste, o projeto típico norte-americano e europeu de complexidade
comparável e de mesmo percentual de peças adaptadas e compartilhadas gastava 3
milhões de horas de engenharia e consumia 60 meses (WOMACK, JONES &
ROOS, 1992, p.104). O desempenho das “Três Grandes” no final de 1989 (GM,
Ford e Chrysler) em relação a Takaoka (montadora da Toyota) era de 48 por cento a
mais de trabalho e 50 por cento a mais de defeitos (WOMACK, JONES & ROOS,
1992, p.76).
Japão
No Japão:
“o rápido crescimento havia chegado à indústria automobilística pelo final dos anos
70. O mercado doméstico japonês havia amadurecido e o crescimento estava
estabilizado, mas, o mercado de exportação havia explodido. As estatísticas
mostram claramente a situação. Em 1975, o Japão produziu 4,57 milhões de
automóveis, dos quais 40% ou 1,83 milhões foram para exportação. Em 1980, dos
7,03 milhões de automóveis produzidos, 56% ou 3,94 milhões foram exportados.
Das exportações, 40% foram para os Estados Unidos. ( ) As exportações
continuaram a crescer até que atritos comerciais com os Estados Unidos e Europa
surgiram e, em 1981, foram estabelecidas restrições às importações de carros
japoneses por parte de Estados Unidos. Desde 1981, então, a produção doméstica de
carros no Japão alcançou um teto. Os fabricantes japoneses, então, apressaram-se a
investir capital e construir plantas diretamente nos Estados Unidos (OHNO &
MITO, 1986, p.13).
and Prosperity. Ela procurava por um sistema de gestão viável na nova era de informação,
baseado nos fundamentos do Sistema Toyota de Produção, e contava com representantes de
diversas corporações japonesas (OHNO & MITO, 1986, p.123).
Toyota
“O presidente da Toyota, Shoichiro Toyoda, recebeu o prêmio Deming em 1981”
(OHNO & MITO, 1986, p.121).
“A Toyota Motor Sales foi refundida com a Toyota Motor Company no final dos anos
80, formando a Toyota Motor Corporation” (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p.62).
Década de 90
Mundo
Womack, Jones & Roos previam:
“os produtores enxutos precisarão, nos anos 90, criar sistemas de fabricação
integrados – do projeto no papel até os sistemas de manufatura do carro acabado -
nos três grandes mercados mundiais: América do Norte, Europa e leste asiático
(centrado no Japão). Esse processo está mais adiantado na América do Norte, onde
as firmas japonesas abriram suas primeiras montadoras em 1982. Um número de 11
estavam em operação no final da década, representando, em 1990, pouco mais de 20
por cento da montagem de automóveis na América do Norte. ( ) Realizar todo o
serviço num imenso salão certamente é impossível. Tampouco seria possível numa
área tão apertada como Toyota City, mas o padrão geográfico da produção enxuta na
América do Norte já está definido. As montadoras transplantadas (com exceção da
NUMMI) reúnem-se num raio de quase 500 quilômetros no meio-oeste americano-
canadense” (WOMACK, JONES & ROOS, 1992, p. 199).
Quanto à globalização,
“a Ford ainda lidera6 indiscutivelmente todas as companhias, inclusive as japonesas,
na sua consolidação como uma organização genuinamente global, com atividades de
produção e projeto em todos os três mercados. Quanto à Chrysler, sua limitada
presença industrial fora da América do Norte reduz-se a um acordo com a Steyr
austríaca, para montar vans Chrysler (começando em 1991). A General Motors tem
uma forte presença na Europa e no Brasil, mas continua administrando tais
6
O ano desta edição é 1992.
173
Em 1980, a Ford Motor Company sofria de uma crise. A Ford e a liderança do sindicato UAW
perceberam que o problema não era primordialmente cíclico, ainda que a baixa do mercado de
1980 fosse a pior desde a década de 1930. Decidiram viajar para o Japão, para verem com os
próprios olhos, viagem que se tornou viável com a compra, pela Ford, de 24 por cento da
Mazda, em 1979.
Atritos comerciais com os Estados Unidos e Europa surgiram e, em 1981, foram estabelecidas
restrições às importações de carros japoneses por parte de Estados Unidos. Os fabricantes
japoneses, então, apressaram-se a investir capital e construir plantas diretamente nos Estados
Unidos.
O primeiro investimento japonês relevante no estrangeiro foi da Honda, com seu complexo de
Marysville, no estado norte-americano de Ohio, começou as operações de montagem.
1984 GM decidiu que precisava aprender sobre a produção enxuta com seu mestre e convenceu a
Toyota a gerenciar a fábrica da NUMMI, que seria reaberta.
1986 A constituição da Autolatina em 1986, unindo a Ford e a VW do Brasil e Argentina,
contribuiu para racionalizar e integrar a produção nos dois países.
A GM estava rica, sendo, de longe, a maior companhia mundial. Para contornar os seus
problemas, ela foi se retirando de um segmento de mercado após o outro. Mais tarde, os
investidores institucionais se mostraram temerosos de que a GM estivesse lentamente se
autoliquidando. A chance de aprendizagem da GM foi a joint-venture com a Toyota, na
Califórnia.
A Ford, pioneira da produção em massa há 75 anos, está praticamente tão enxuta, em suas
montadoras na América do Norte, como as fábricas japonesas transplantadas para lá.
Brasil – No início da década de 1980, o sucesso japonês começou a ficar mais evidente e a
disposição de imitá-lo se acentuou no Brasil. Entretanto, o isolamento do país levou a
enxergar-se apenas a ponta do iceberg e muitas empresas acabaram identificando o sucesso
japonês com uma de suas técnicas, os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ), tidos como a
grande arma competitiva. O movimento dos CCQs fracassou pela falta de reciprocidade e
confiança entre as partes, além da falta de preparo técnico efetivo dos trabalhadores.
Por um breve período, em meados dos anos 80, a indústria brasileira julgou ter descoberto
uma nova estratégia: aproveitar-se de seus baixos salários para exportar carros baratos para a
Europa e Estados Unidos. Tratava-se de uma variante latina da estratégia coreana, com o
mesmo padrão de grandes esperanças, baseadas nas vendas iniciais, seguidas de desespero,
quando o câmbio mudou e deficiências nos veículos anularam uma vantagem inicial no preço.
As vendas do Fox no mercado norte-americano, por exemplo, caíram de um pico de 60 mil
unidades em 1987, para 40 mil, em 1989.
A Toyota Motor Sales foi refundida com a Toyota Motor Company no final dos anos 80,
formando a Toyota Motor Corporation.
175
Em 1990, a Toyota oferecia aos consumidores de todo o mundo tantos produtos quanto a
General Motors, ainda que tivesse a metade do tamanho desta.
1992 A Ford liderava todas as companhias, inclusive as japonesas, na sua consolidação como uma
organização genuinamente global, com atividades de produção e projeto em todos os três
mercados.
A Chrysler tinha sua presença industrial fora da América do Norte limitada a um acordo com
a Steyr austríaca, para montar vans Chrysler (começando em 1991).
Infelizmente, nos últimos vinte anos (de 1972 a 1992), o Brasil tem tido um histórico de
estagnação. Conforme observamos, os complexos de produção em massa construídos no
Brasil foram uma notável realização, comparados com a alternativa: dependência completa
das importações. Entretanto, essas fábricas estão bem defasadas (em 1992) do padrão mundial
em produtividade e qualidade dos produtos.
É bem verdade que a engenharia de suprimentos, aliada aos contratos a longo prazo (três a
cinco anos, em vez de um ou menos), padrões mais exigentes de qualidade, entregas mais
freqüentes e fonte única de vários componentes caracterizam um novo sistema norte-
americano de suprimentos do início da década de 90. Porém, que tais evoluções não nos dêem
a falsa impressão de que os fornecedores ocidentais estejam mudando para o fornecimento
enxuto.
Sakichi Toyoda ensina a aplicar a inteligência humana às máquinas para faze-las trabalharem
para as pessoas. Idéia do tear auto-ativado (Ohno, 1997).
1947 a 1949 É aplicada a multifuncionalidade, associada às modificações de layout. O uso da
multifuncionalidade evidencia a presença da autonomação, que lhe serve de suporte.
1950 A autonomação é utilizada e também ocorrem inovações em automação.
1962 Controle total das tarefas das máquinas e poka-yoke (Ohno apud Shingo, 1981).
1966 Na planta Kamigo a linha completamente transformada para “trabalho cerebral convertido em
automação” (Ohno apud Shingo, 1981).
1967 Desde ano em diante, a autonomação está firmemente estabelecida.
179
1950 Em abril ocorre uma disputa de 3 meses com a mão-de-obra sobre a redução da força de
trabalho (Ohno, 1997). Os empregados remanescentes receberam duas garantias. Uma foi o
emprego vitalício. Por outro lado, os empregados também concordaram em ser flexíveis na
atribuição das tarefas e ativos na promoção dos interesses da companhia. De volta à fábrica,
Taiichi Ohno se deu conta de que a força de trabalho se transformara num custo fixo tanto
quanto, a curto prazo, a maquinaria da companhia, e, a longo prazo, o que era ainda mais
importante (Womack, Jones & Roos, 1992, p.45).
Em junho, surgem demandas originadas pela guerra da Coréia. Mas, era preciso aumentar a
produção sem admitir pessoas (recentemente demitidas), e isso só seria possível via
eliminação de perdas. (Ohno & Mito, 1986, p.8)
1975 Todos os trabalhadores temporários haviam sido convertidos para trabalhadores permanentes,
situação que durou até 1989 (Womack, Jones & Roos, 1992, p.93).
Anos 70 A Toyota e outras companhias automobilísticas chegaram a empregar consideráveis números
de trabalhadores temporários por muitos anos ao lutarem para responder à crescente demanda,
e resistirem em dar status vitalício ao emprego dos trabalhadores que não tinham certeza de
poderem manter. Entretanto, tal prática chegou ao fim nos anos 70, quando as firmas
japonesas conquistaram a confiança de que seu crescimento não era acidental, mas sustentado
(Womack, Jones & Roos, 1992, p.61).
1989 A Toyota, num esforço para atender à explosão da demanda de automóveis no Japão,
novamente contratou trabalhadores sem garantias permanentes (Womack, Jones & Roos,
1992, p.93).
Quadro 15 - Qualidade: Controle da Qualidade Total (TQC); Defeito Zero (ZD); Círculos de Controle de
Qualidade (CCQ); Controle Estatístico da Qualidade (SQC) e seu histórico
Fontes consultadas: Ohno (1997), Ohno apud Shingo (1981) e Ohno & Mito (1986)
Ano Qualidade: Controle da Qualidade Total (TQC); Defeito Zero (ZD);
Círculos de Controle de Qualidade (CCQ); Controle Estatístico da
Qualidade (SQC)
1945 Qualidade nos fornecedores – Preocupação de produzir mercadorias com alta qualidade; os
fornecedores foram auxiliados pela Toyota neste sentido (Ohno, 1997).
1946 Chegada de Deming. As técnicas de controle de qualidade foram disseminadas pelo Japão.
Mais tarde, efetivou-se o Controle Estatístico da Qualidade (SQC) entre as corporações
japonesas (Ohno & Mito, 1986, p.121)
Adotando o TQC (Total Quality Control) e o ZD (Zero Defect) após a II Grande Guerra, o
Japão progrediu e desenvolveu seus círculos de controle de qualidade (CCQ) ou atividades de
pequenos grupos (Ohno & Mito, 1986, p.100)
Desde o final dos anos 40 os conceitos de controle de qualidade vinham sendo implementados
no Japão (Ohno & Mito, 1986).
1956 Toyota aceitou a candidatura ao Prêmio Deming (Ohno & Mito, 1986, p.121).
1959 a 1979 Desde o final dos anos 50, e ao longo dos anos 60 e 70, o controle de qualidade se infiltrou e
as atividades dos círculos de controle de qualidade (CCQ) se difundiram e passaram dos
produtos à gestão. O estilo norte-americano de controle de qualidade se tornou parte de um
TQC japonês (Ohno & Mito, 1986, p.100).
1965 Toyota, que partira para a implementação do TQC no início dos anos 60, ganhou o prêmio
Deming (Ohno & Mito, 1986, p.100).
O ZD foi introduzido no Japão pela Nihon Electric e espalhou-se rapidamente (Ohno & Mito,
1986, p.121).
1986 O TQC continua a estimular a inovação no Japão; tem se estabelecido como a mais efetiva
técnica de gestão japonesa; está num processo de ser amplamente exportada (Ohno & Mito,
1986, p.121).
181
1949-1950 Ohno deu primeiro passo na direção do just-in-time. Para estabelecer o fluxo de produção,
rearranjou as máquinas (Ohno, 1997).
1953 Do supermercado pegou-se a idéia de que o processo final (cliente) vai até o processo inicial
(supermercado) para adquirir as peças necessárias (gêneros) no momento e na quantidade que
precisa. Em 1953 implantou-se este sistema com a esperança de que auxiliasse na obtenção do
JIT. (Ohno, 1997).
1955 Produzir a quantidade exata necessária (Ohno, 1997).
Ohno organizou as máquinas em linhas paralelas ou em forma de L e tentou fazer com que um
trabalhador operasse 3 ou 4 máquinas. Encontrou forte resistência dos trabalhadores (Ohno,
1997).
1949 – 1950 Ohno, para estabelecer o fluxo de produção, rearranjou as máquinas e adotou um sistema
multi-processo com um operador para 3 ou 4 máquinas (Ohno, 1997).
No final da década de 1950, Ohno havia reduzido o tempo para trocar moldes de um dia para
três minutos, e eliminado a necessidade de especialistas na troca de moldes (Womack, Jones
& Roos, 1992, p.43).
1962 Tempo de troca de ferramentas da prensa da planta principal reduzido para 15 minutos (Ohno
apud Shingo, 1981).
1969 Troca de ferramentas em menos de 3 minutos (Ohno, 1997).
1971 Planta principal e planta Motomachi: tempo para troca de ferramentas da prensa é de 3
minutos (Ohno apud Shingo, 1981).
1955 Andon e botão de parada linha na montagem da planta principal (Ohno apud Shingo, 1981).
1980 Cada funcionário apresentou, em média, 10 sugestões, sendo que o aproveitamento das
sugestões foi de 94% (Monden, 1984, p.75).
187
1962 Ohno pressionava os supervisores praticamente à força para que entendessem o kanban
(Ohno, 1997).
Ohno foi nomeado gerente da fábrica principal; só então o kanban foi implementado na forja e
na fundição, fazendo com que, finalmente se tornasse um sistema utilizado em toda a planta.
Conseguiu-se instalar o kanban em toda a empresa. Demorou 10 anos para estabelecer o
kanban na Toyota Motor Company. Ohno explica que, embora seja bastante tempo, isto era
natural, uma vez que estavam sendo introduzidos conceitos completamente novos. Era
necessário o envolvimento e o entendimento por parte de todos, desde gerentes, passando por
supervisores, até os operários. Ohno pressionava os supervisores praticamente à força para
que entendessem o kanban (Ohno, 1997).
1973 Fornecedores foram ensinados a produzir usando kanban. Antes da crise de 1973, estes já
estavam sendo ensinados a produzir em fluxo contínuo (Ohno, 1997).
1982 Kanban havia sido aplicado a 98% dos fornecedores, mas somente 50% dos fornecedores
estarem utilizando o kanban em processo em suas próprias fábricas (Monden, 1984, p.19).
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