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COSTA; LIMA. DIGNIDADE E DEVER MORAL

DIGNIDADE E DEVER MORAL NA FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS


COSTUMES DE KANT
Dignity and moral duty in Kant’s Grounding for the Metaphysics of Morals

Erisvanda Campos da Costa1


Silmara Natifate da Silva Lima2

RESUMO: O presente trabalho destaca a relação entre dignidade e dever moral


como qualidade e valor que identifica o homem autônomo. Dessa forma, o conceito
de liberdade e do agir moral são relevantes para demonstrar o sentido do agir livre a
partir da ação por dever, não por afetos, mas sim por leis internas racionais,
autônomas. O homem em sua dignidade não pode ser tratado como meio para uma
finalidade, mas como fim em si mesmo, pois se considera a condição de leis a priori
na ação puramente moral no valor que é sua dignidade.

Palavras-chaves: Dignidade. Dever. Moral. Liberdade. Autonomia.

ABSTRACT: The present paper highlights the connection between dignity and moral
duty as a quality and valor that identify the autonomous man. This way, the concept
of freedom and moral acting are relevant to present the sense of free acting from the
action by duty and not by affection, but instead by internal, rational and autonomous
laws. Man, in their dignity, cannot be treated as means to an end, but as an end on
themselves because the valor of their dignity is considered the condition to a priori
laws for the purely moral action.

Key-words: Dignity. Duty. Moral. Freedom. Autonomy.

1. INTRODUÇÃO

A concepção de dignidade e de dever moral em Kant, parte do exame das


propriedades intrínsecas e próprias do homem, que se manifestam a priori na
racionalidade prática, como condição de determinação da ação, consonante a
consciência de si mesmo, que pode está livre de determinação externa. O querer
como vontade precisa ser determinado de modo puro para que venha tornar-se um
querer em si, sem ser objeto de interesse particular do sujeito, mas sim que seja
promoção do querer por si mesmo. O dever, por sua vez é uma ação moral

1
Graduanda do Curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Estadual do Piauí. E-mail:
erisvandacampos@hotmail.com
2
Graduanda do Curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Estadual do Piauí. E-mail:
silmarasilvaphb@gmail.com

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determinada pela razão pura a priori, que se efetiva no agir de modo objetivo e
universal, com fim em si mesmo.
Para Kant, ―com efeito, a razão pode aqui pelo menos bastar para
determinação da vontade e possuir sempre realidade objectiva quando unicamente
se trata do querer‖ (KANT, 1995, p. 23) .Pois a ação moral não pode ser um meio
para um fim, segundo uma boa vontade o fim da ação deve ser em si mesma, como
uso da razão determinante da vontade como faculdade referente às representações
livres, que determinam sua própria causalidade como resultado de uma pura
vontade da razão prática.
Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes o pensamento moral
Kantiano busca estabelecer o fundamento do agir moral nas passagens das
seguintes secções: Transição do conhecimento moral da razão vulgar para o
conhecimento filosófico; transição da filosofia moral popular para a metafísica dos
costumes; transição da metafísica dos costumes para a crítica da razão prática pura.
Por essas passagens é possível perceber que a sistematização das secções
percorre rumo ao estabelecimento dos princípios supremos da moralidade, o homem,
a racionalidade, e a ação regida pela lei moral, sem ser submetidas às leis externas
no sentido de inclinações, mas sim, numa moral que está fundamentada no próprio
sujeito de modo a priori, em relação ao objeto (externo) da ação. Nesse sentido, é
importante demonstrar que a existência da relação entre o agir moralmente e por
dever, não pode ser determinada por ações de origem externas como inclinações do
homem, mas por leis internas racionais e autônomas, para que a máxima de sua
ação possa ser efetivada enquanto lei moral de modo objetivo, sendo a condição de
possibilidade para uma lei universal, para uma ação comum a todos.
O homem pode querer agir de modo autônomo, construindo um pressuposto
para suas próprias ações na objetivação das leis relacionadas, com sua capacidade
de discernir sobre algo, pois o valor de uma ação parte de uma determinação direta
da razão pura, que não é da mesma condição de uma razão especulativa que parte
de princípios da experiência. Segundo a professora Sallyn Sedgwick, ―Kant é
explícito sobre o tipo de propósitos que não motivam uma boa vontade. Uma boa
vontade não é motivada por objetos da faculdade da inclinação ou da faculdade de
desejar‖ (SEDGWICK, 2017, p.151). Sendo o dever um mandamento direto da razão
prática, é compatível ao valor de uma boa vontade, isto é, se faz na ação correta por
que é o certo fazer.

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A autonomia em consonância as leis da liberdade são conjuntamente


necessárias para a determinação do agir moral em sua dignidade, sem ser sob a
faculdade da inclinação, mas por princípios a priori da razão, pois é por meio destes
princípios da constituição de uma razão moral comum que serve como direção para
uma razão prática, como formulação do dever-ser, que tem como determinação o
imperativo categórico.

2. BOA VONTADE, DEVER E DIGNIDADE.

A boa vontade é uma categoria que pertence ao uso vulgar da razão, porém é
preciso ser adequada para uma pura vontade, desta que será derivada o primeiro
princípio para o conceito de dever e que posteriormente, a primeira fórmula do
imperativo categórico. A boa vontade parte de uma distinção de uma razão moral
comum para uma razão filosófica, que Kant apresenta na primeira secção, que é a
transição do conhecimento moral da razão vulgar para o conhecimento filosófico que
tem como objetivo investigar o conceito de boa vontade e suas denominações
enquanto talentos e inclinações ou como princípios para uma pura vontade, o
interesse de buscar entender estes conceitos de uma boa vontade e uma pura
vontade se realiza no âmbito metafísico para uma condição prática pertencente ao
querer do homem como possibilidade de uma ação boa em si mesma, portanto, uma
boa vontade relaciona-se pelo ato do querer.

A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela
aptidão para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão-somente
pelo querer, isto é em si mesma, e, considerada em si mesma, deve
ser avaliadora em grau muito mais alto do que tudo o que por seu
intermédio possa ser alcançado em proveito de qualquer inclinação,
ou mesmo, se quiser, da soma de todas as inclinações (KANT,
2007a, p.23).

A boa vontade ainda está sujeita a critérios empíricos apesar de ter


princípios que sejam a priori, não é possível dizer que a boa vontade seja uma lei
moral, mas somente a ação por dever, pois ―Kant sustenta que faz parte de uma
propensão específica da vontade humana a resistência de nossas inclinações à lei
moral, e infere que a bondade da vontade para nós deve, com frequência, tomar a
forma do agir por dever e que o motivo do dever é, portanto, uma parte proeminente
e importante da vida moral‖ (WOOD, 2009, p.12). A ação praticada por dever não é

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uma ação para obtenção de algo, não é meio para se alcançar um fim, mas sim,
uma ação por um fim em si mesma. A ação contrária ao dever é condicionada por
um fim hipotético que privilegia a si próprio, subjetivo e particular, tornando-se,
oposta a função do agir por dever. O princípio de uma ação determinada por dever é
realizado por uma função a priori, objetiva e necessária, sem conceitos empíricos,
mas, por conceitos a priori da razão, que tem como definição estabelecer máximas
universais de leis morais para razão prática.

Princípios práticos são proposições que contém uma determinação


geral da vontade, a qual inclui em si várias regras práticas. São
subjectivos ou máximas quando a condição é considerada pelo o
sujeito ou lei práticas quando essa condição é reconhecida como
objectiva, isto é, válida para a vontade de todo um ser racional
(KANT, 1995, p.29)

Na segunda secção, que é a transição da filosofia moral popular para a


metafísica dos costumes, é possível identificar a máxima da lei moral por um querer,
formulada pelo o imperativo categórico, constituída ainda por uma vontade, um
querer por si mesmo e que diretamente está ligada ao dever e por meio disso, é
viável dizer que tal ação é permitida ao imperativo categórico para que governe sua
vontade, uma lei que rege a si mesmo de forma racional e a priori, ―Age apenas
segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei
universal‖ (KANT, 2007a, p.59). A Máxima da lei moral não é constituída por
experiências empíricas condicionadas por elas mesmas, pois, se assim fosse,
seriam conforme ao dever e não por dever, as ações conforme e contrárias ao dever
não podem ser universais, pois não respeitam a lei moral. ―Mesmo se ―até agora‖ a
experiência não forneceu uma prova sequer de que tenha havido, uma vez que seja,
um amigo verdadeiramente sincero, a sinceridade na amizade é, não obstante,
exigida de nós‖ (SEDGWICK, 2017, p.131). É relevante lembrar que a ação moral só
é permitida por um dever incondicional, como um caráter de ordem a si mesmo, do
próprio homem, ao contrário disso, poderia cair a uma falsa ideia de moralidade do
―eu‖, como a postura do cético frente a tal ação sem motivos nobres, mas por si
mesma ao motivar tais ações na prática.

Na realidade, é absolutamente impossível encontrar na experiência


com perfeita certeza um único caso em que a máxima de uma acção,
de resto conforme ao dever, se tenha baseado puramente em
motivos morais e na representação do dever. Acontece por vezes na

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verdade que, apesar do mais agudo exame de consciência, não


possamos encontrar nada, fora do motivo moral do dever, que
pudesse ser suficientemente forte para nos impelir a tal ou tal boa
acção ou a tal grande sacrifício (KANT, 2002, p.40).

A ação por dever está fora da influência de qualquer inclinação externa, a


mesma possibilita a distinção entre o fim e o meio de uma determinada ação, pois
ação deve ter o fim em si mesmo, e nunca ser meio para alcançar algo, pois, a
pessoa na sua dignidade humana não é instrumento para atingir um fim e não deve
ser atribuída a nenhum preço. Pois a pessoa possui seu devido valor 3 enquanto
pessoa. O imperativo categórico em umas de suas definições possui a seguinte
máxima: ―Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na
pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca
simplesmente como meio‖ (KANT, 2007a, p.69). Portanto, contemplando a definição
de dignidade humana como fim em si mesmo e jamais como meio,
independentemente de suas características casuais enquanto pessoas, mas pelo
simples fato de serem pessoas, são dignas e autônomas que pertencem à mesma
concepção de fim, mesmo que, no entanto, não façam uso da razão por
causalidades externas ou internas.
O homem em sua dignidade não pode ser tratado como meio para uma
finalidade, mas como fim em si mesmo, pois se deve considerar a condição de leis a
priori na ação puramente moral no valor que é sua dignidade e ação moral por dever,
―Ora a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um fim em
si mesmo, pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins.
Portanto a moralidade, e a humanidade enquanto capaz de moralidade são as
únicas coisas que têm dignidade‖ (KANT, 2007a, p.78). Para Kant o conceito de
dignidade está inserido no contexto da ação moral e por dever, Kant desenvolve
uma moral pautada no homem e na razão, pois o homem é o único animal capaz de
possuir a faculdade de liberdade por ser racional e autônomo, portanto, pode agir e
se governar livre das demandas da sensibilidade, tornando suas ações
incondicionadas sem influências externas e hipotéticas. Agir incondicionalmente

3
Valor para Kant (2007a, p. 78) designa uma dimensão intrínseca da pessoa humana, pois, somente
as pessoas concernem ao valor acima de tudo e por esse motivo, não há nenhum preço e jamais
deve haver sob as pessoas.

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significa não agir com a condição para alcançar algo, mas, sim por causa de um
dever.
A dignidade do homem concerne à ideia de que o homem é um fim em si
mesmo e não um meio, portanto, ele não pode ser condição para algo, pois possui
em si a faculdade de liberdade e a razão. A ideia de dignidade também está
relacionada à felicidade, além de estar na ação por um fim em si mesmo, portanto
na ação moral. A moralidade constitui-se, na própria condição da dignidade e
sucessivamente na própria condição de felicidade.

3. A AÇÃO POR RESPEITO À LEI MORAL

A ação moral é ordenada por dever determinada pelo imperativo categórico,


à vontade no cumprimento ao dever é sempre por respeito à lei moral, é exatamente
por isso, que a ação deve partir de um querer particular enquanto lei moral, para a
possibilidade de ser universalizada, ―Devo proceder sempre de maneira que eu
possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal‖ (KANT,
2007a, p.33). É necessário que o homem aja de tal forma que esteja desprovido de
qualquer ação que o leve fazer por algum privilégio ou apego, em outras palavras,
por conformidade, a ação conforme a lei não possui nenhum valor que tenha a
pretensão de ser moral e universalizada e por esse motivo Kant ressalta que a ação
deve ser objetiva em um juízo determinante de caráter objetivo e não subjetiva
conduzida por inclinações externas.

Eu afirmo, porém que neste caso tal acção, por conforme o dever,
por amável que ela seja não tem, contudo nenhum verdadeiro valor
moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, por exemplo, o
amor das honras que, quando por feliz acaso topa aquilo que
efetivamente é de interesse geral e conforme o dever, é
consequentemente honroso e merece louvor e estímulo, mas não
estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda que
tais acções se pratiquem, não por inclinações, mas por dever (KANT,
2007a, p. 113).

Obedecer à lei moral é o mesmo que agir por meio de uma faculdade de
auto-avaliação da postura do sujeito, este que tem como dever o sentimento que é
aceitável e indispensável para o cumprimento do mesmo, o respeito ao dever, a qual
a ação se realiza como máxima em si, pois ela é feita por dever e por respeito à lei.

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Dever é a necessidade de uma acção por respeito à lei. Pelo objecto,


como efeito da acção em vista, posso eu sentir em verdade,
inclinação, mas nunca respeito, exactamente porque é simplesmente
um efeito e não a actividade de uma vontade‖ (KANT, 2007a, p.31)

À vontade como razão a priori se realiza no uso da razão prática e por meio
dela determina a ação e as vontades externas referentes às inclinações, é através
da ação por dever que o homem passa ser legislador de sua própria lei, na
determinação da máxima do imperativo categórico. ―O imperativo categórico seria
aquele que nos representasse uma acção como objetivamente necessária por si
mesma, sem relação com qualquer outra finalidade‖ (KANT, 2007a, p.50). Ou seja,
para que a ação possa ser realizada como síntese de formalidade universal, como
objetivo fazer o sujeito detentor da consciência do puro dever, de uma ação
necessária e por si mesma.
O respeito ao dever é formal para si mesma e para com o outro, não
infligindo naquilo que é externo e pertencente a ele próprio, mas a própria ação. ―A
ação é realizada não apenas conforme um princípio objetivo de determinação válido
universalmente, mas também pelo dever, com um sentimento de respeito pela
própria lei moral" (TERRA, 2004, p.14).O homem na ação por dever, que é o próprio
imperativo categórico tem como condição sua própria liberdade e a vontade como
representação da lei moral, tendo como máxima em comum para universalidade.

4. AÇÃO POR DEVER E IMPERATIVO CATEGÓRICO

O imperativo categórico é uma proposição ―sintética a priori‖ que provém de


uma vontade livre e em si mesma, sem inclinações externas, o dever categórico de
uma ação tem a devida importância na determinação frente à possibilidade da razão
prática na síntese da concepção de dignidade humana, pois, é por meio da ação por
dever que se torna possível a ordenação da dignidade humana enquanto
entendimento e razão prática na autonomia do sujeito constituidor e avaliador de si
mesmo.
O Imperativo categórico como proposição sintética e a priori é formulada
dentro de uma lógica transcendental para uma prática universal, onde o sujeito
frente ao objeto não o deixa determiná-lo, mas sim, pela a própria razão como
entendimento e conhecimento da sua natureza, não por ações empíricas, mas, por
intuições de representações como condição do próprio entendimento humano para
as proposições por formuladas por dever a lei moral.
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E esse dever categórico representa uma proposição sintética a priori,


porque acima da minha vontade afectada por apetites sensíveis
sobrevêm ainda a ideia dessa mesma vontade, mas como
pertencente ao mundo inteligível, pura, prática por si mesma, que
contém a condição suprema da primeira, segundo a razão; mais ou
menos como às intuições do mundo sensível se juntam conceitos do
entendimento, os quais por si mesmos nada mais significam senão a
forma de lei em geral, e assim tornam possíveis proposições
sintéticas a priori sobre as quais repousa todo o conhecimento de
uma natureza (KANT, 2007a, p.104).

O dever como máxima da lei universal se faz pela a lei no campo da moral e
prática, como possibilidade de condição própria do homem e sua autonomia, o
homem que conhece somente o fenômeno e que pertence ao espaço e tempo,
faculdade de entendimento e não o nôumenon que é atemporal, mas que, no
entanto, pode ser pensado, ―a coisa em si‖ o sujeito perante as sensações externas
como inclinações, não podem ser determinantes para o homem, é a razão que
determina e tem a possibilidade de investigação frente o que é externo, como
potencialidade de uma lei moral.
A pura vontade é pré-orientada para uma ação, a partir da reflexão e auto-
reflexão de determinar e constituir máximas como condição da liberdade
transcendental e autônoma, firmada em uma ética por dever é constituída pela
própria capacidade racional do homem como lei universal sintética e a priori.

O conceito segundo o qual todo o ser racional deve considerar-se


como legislador universal por todas as máximas da sua vontade para,
deste ponto de vista, se julgar a si mesmo e às suas acções, leva a
outro conceito muito fecundo que lhe anda aderente e que é o de um
Reino dos Fins. Por esta palavra reino entendo eu a ligação
sistemática de vários seres racionais por meio de leis comuns. Ora
como as leis determinam os fins segundo a sua validade universal,
se se fizer abstracção das diferenças pessoais entre os seres
racionais e de todo o conteúdo dos seus fins particulares, poder-se-á
conceber um todo do conjunto dos fins (tanto dos seres racionais
como fins em si, como também dos fins próprios que cada qual pode
propor a si mesmo) em ligação sistemática, quer dizer, um reino dos
fins que seja possível segundo os princípios acima expostos (KANT,
2007a, p.75- 76).

A pessoa na sua capacidade reflexiva e sem influências externas possa


constituir suas próprias ações e verificá-las e modificá-las como possibilidade de

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auto-correção, cabível pensar pelo princípio de dever categórico que é de âmbito


universal e necessário, uma formulação para o pensamento crítico do sujeito, pensar
a ética e as ações que norteiam esse pensamento, equivale a pressupostos éticos
para fundamentação de direitos e princípios morais diferentes dos postulados 4 da
razão prática, mas sim, uma lei que determina a vontade de uma ação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A liberdade constitui a dignidade da pessoa humana, da qual não pode jamais


se refere como meio ou coisa, no sentido de que, é inerente tal autonomia,
independente de causalidade externas da pessoa, ou até mesmo internas, pois isto
não retira seu valor enquanto pessoa humana, enquanto sua dignidade, enquanto o
fim em si mesmo, ainda que não seja provida da faculdade de entendimento, porém,
é evidente que os demais em suas faculdades possam fazer uso da razão em
detrimento ao dever moral e discernir tais posturas frente às demais situações.
Por este motivo é relevante pensar que tal pessoa humana em seu pleno uso
da razão pode determinar a ação moral, ou melhor, um dever moral como máxima
sintética e a priori, como condição de possibilidade de constituir uma lei moral
comum a todos, não por um vir a ser, em busca de fins, mas por um Dever-ser como
fim em si mesmo. O imperativo categórico que é universalmente e necessário por si
só, isto é, que faz o homem ser digno de tal autonomia perante a si mesmo posterior
à humanidade, como condição de estabelecer uma ação moral por lei, um novo
princípio causal para o mundo humano que se direcionar para um “reino dos fins”

REFERÊNCIAS

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Paulo


Quintela. Lisboa: Edições 70, Lda, 2007a.

______. Ideia de uma história universal com um propósito cosmopolita.


Tradução: Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2007b.

______. Crítica da Razão Prática. Tradução: Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1995.

______. Crítica da Razão Pura. Tradução: Valério Rohden e UdoBaldurMoosburger.


São Paulo: Abril Cultural, 2005. - (Coleção Os Pensadores).

4
São proposições relativas à liberdade, imortalidade da alma e Deus, que não são dogmas teóricos,
mas pressupostos de sentido prático que podem formular conceitos como projeção para uma
realidade objetiva como possibilidade afirmativa.

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MARITAIN, Jacques. A filosofia moral. Tradução: Alceu Amoroso Lima. Rio de


Janeiro: Edições Agir, 1964.

SANDEGWICK, Sally. Fundamentação da metafisica dos costumes: Uma chave


de leitura. Tradução de Diego Kosbiau Trevisan. – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes,
2017. – (Coleção chaves de leituras).

TERRA, Ricardo R. Kant & o direito / Ricardo Terra. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2004.

WOOD, Allen. A boa vontade. Tradução: Vera Cristina de Andrade Bueno. Studia
Kantiana, Revista da Sociedade Kant Brasileira, Santa Maria, v.9, 2009, p.7-40.

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