A Ética em Kant

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A Ética em Kant

O motivo fundamental da moralidade só pode ser o respeito pela lei moral


em si mesma

Kant

No pensamento de Immanuel Kant (1724 – 1804), filósofo alemão, a razão possui


uma dimensão prática, pois determina seu objeto mediante a ação, ou seja, a razão
é criadora do mundo moral. Mas não só. Em Kant a razão elabora normas morais, e
como tais devem ser obedecidas como deveres.

Kant apresenta suas reflexões acerca da moral nas obras Fundamentação da


metafísica dos costumes (1785) e na Crítica da razão prática (Kritik der praktischen
Vernunft de 1788) na qual analisa os fundamentos e a natureza da lei moral. Na
Fundamentação, Kant afirma que a ação moralmente boa seria a que obedecesse
unicamente a lei moral em si mesma. Tal lei moral seria estabelecida pela razão
(pois, ela é legisladora). Mas não só. Para Kant, a vida moral somente é possível na
medida em que a razão estabeleça, por si só, aquilo que deva ser obedecido no
terreno da conduta.

Contudo, o que são qualificativos morais? Por qual motivo são aplicáveis apenas à
pessoa humana e não aos objetos, por exemplo? Bom, mau, moral, imoral,
meritoso ou não meritoso etc. são exemplos de qualificativos morais que cabem
tão somente aos homens, pois estes realizam atos e na realização desses atos o
homem faz algo, estatui uma ação e nessa ação podemos distinguir dois elementos:
aquilo que o homem faz efetivamente e aquilo que quer fazer.

Nesse sentido, os qualificativos morais correspondem ao que o homem faz ou


aquilo que quer fazer? Exemplificando: se uma pessoa comete um homicídio
involuntário, não se pode qualificar de bom ou de mau aquele que o cometeu. Não
se pode qualificar de bom ou de mau o conteúdo efetivo dos atos humanos, ou seja,
a matéria dos atos. O que se qualifica de bom ou de má é a vontade mesma do
homem.
Em Kant, portanto, a vontade humana é a que pode ser boa ou má unicamente.
Logo, temos, então, uma vontade boa e uma vontade má.

Todavia, o que é uma vontade boa? A resposta para essa pergunta passa pelo fato
de que em Kant todo ato voluntário se apresenta à razão na forma de imperativo. O
que isso quer dizer? Quer dizer que todo ato antes de iniciar-se aparece a nossa
consciência sob a forma de mandamento: “isto deve ser feito” ou “faça isto”, por
exemplo.

“Honra teus pais” ou “não mates” são mandamentos morais bem conhecidos ou
em outras palavras são imperativos, pois nos ordenam à ação. Na filosofia moral de
Kant tais imperativos são classificados como categóricos, pois tal mandamento não
está colocado sob condição alguma. A vontade boa, ou melhor, ainda a boa
vontade é o conceito fundamental da moral, segundo Kant, pois consiste em
escolher aquilo que a razão reconhece como bom, independentemente de sua
inclinação.

Convêm aqui distinguir entre legalidade e moralidade. Todo ato que esteja de
acordo com a lei implica na legalidade. Porém, isso não quer dizer que uma ação
legal seja moral. Para que um ato seja considerado moral é necessário que ocorra
algo não na ação em si, mas exatamente no momento que antecede a ação na
vontade do executor.

Se um indivíduo obedece a lei por temer o castigo da transgressão ou para obter


uma possível recompensa, podemos dizer que a vontade desse indivíduo não é
moral. Quem age de acordo com a lei por temor ou visando uma dada recompensa
perde todo o valor moral. Qual ato moral, então é válido na filosofia de Kant? É
quando a pessoa realiza o ato determinada a realizá-lo unicamente porque esse é o
ato moral devido. Eis um ato de pleno mérito moral.

Nesse sentido, Kant rejeita as concepções morais que predominam até então, quer
seja da filosofia grega, quer seja da filosofia cristã, e que norteiam a ação moral a
partir de condicionantes como a felicidade ou o interesse. Exemplificando: não faz
sentido agir bem com o objetivo de ser feliz ou evitar a dor, ou ainda para alcançar
o céu ou não merecer a punição divina. O agir moral, portanto, se funda
exclusivamente na razão.

A vontade humana é verdadeiramente moral quando regida pelos imperativos


categóricos (tese fundamental da Fundamentação da metafísica dos costumes)
que são chamados assim por serem incondicionados, ou seja, não valem para
certas ocasiões e valeriam para outras, pois valem para todas as circunstâncias de
todas as ações morais e porque são voltados para a realização do dever moral. Os
imperativos categóricos são absolutos e necessários fundamentos da ação moral.

O dever não se apresenta a nós como um conjunto de conteúdos fixos que


definiriam a essência de cada uma das nossas ações a serem praticadas ou
evitadas em todos os momentos de nossa vida. O dever não é um catálogo de
virtudes nem uma lista de “faça isto” e “não faça aquilo”. O dever é uma forma
que deve valer para toda e qualquer ação moral. Kant define o dever como a
necessidade de realizar uma ação por respeito à lei. Por isso o dever é um
imperativo categórico, pois ordena incondicionalmente já que é a lei moral interior.
É o dever mesmo que é o bem, não tendo outra justificativa senão ele mesmo. “A
maior perfeição moral possível do homem é a de cumprir seu dever, e por dever”.

Eis a fórmula geral ou princípio do imperativo categórico: “Age em conformidade


apenas com aquela máxima pela qual possas querer ao mesmo tempo que ela se
torne lei universal” Trata-se de um princípio formal e universal, estabelecendo que
só devemos basear nossa conduta em valores que todos possam adotar, embora
não prescrevendo especificamente quais são esses valores. Desta fórmula ou
princípio Kant deriva outras três máximas (que são princípios subjetivos nos quais
um indivíduo orienta sua conduta morais que exprimem a incondicionalidade dos
atos realizados por dever:

1) Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei
universal da natureza.
2) Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na
pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio.
3) Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos
os seres racionais.

A primeira máxima afirma a universalidade da conduta ética, a segunda máxima


afirma a dignidade dos seres humanos como pessoas enquanto que a terceira
máxima afirma que a vontade que age por dever institui um reino humano de seres
morais dotados de uma vontade legisladora autônoma.

Percebe-se que os imperativos categóricos não apresentam o conteúdo particular


de uma ação a ser realizada de modo específico, mas a forma geral das ações
morais. Os imperativos categóricos não nos diz para praticarmos esta ou aquela
ação específica, mas nos diz para sermos éticos cumprindo o dever (as três
máximas, é claro). Ao agir devemos indagar se nossa ação está ou não de acordo
com os fins morais, ou seja, com as máximas do dever. Daí, Kant entender que o
homem possui uma razão prática. Prática, por quê? Pois tal razão é aplicada no
campo da ação humana, permitindo que o homem tome suas decisões ao agir
baseado em princípios.

Kant, então, é o filósofo da moral do dever, pois ele representa a lei moral como um
imperativo categórico, necessária, objetiva e universalmente válida: o dever é uma
necessidade de se realizar uma ação por respeito à lei”

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