0309 - Teoria Antropológica Clássica PDF
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Teoria
Antropológica
Clássica
SEMESTRE
CIÊNCIAS 2
SOCIAIS 1
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância
METROPOLITANA DE
Créditos e Copyright
SANTOS
TOJI, Simone.
Teoria Antropológica
Clássica. Simone Toji. Santos: Núcleo de Educação
a Distância da UNIMES, 2015. 102p. (Material
didático. Curso de ciências sociais).
CDD 301
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publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.
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oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.
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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
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FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO
EMENTA:
OBJETIVO GERAL:
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
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Objetivos da Unidade
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Entender a noção de cultura e o que estuda a sociologia da cultura: a cultura como
algo construído e não dado a priori. Explicitar as conexões entre a noção de cultura
e as relações de poder, tendo em vista a construção da identidade nacional. Pensar
neste o contexto o lugar da cultura para a formação Estado nacional brasileiro.
Objetivos da Unidade
Objetivos da Unidade
Objetivo da unidade
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Bibliografia Básica
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 2005.
Bibliografia Complementar
METODOLOGIA:
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio
de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e
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atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de
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textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas,
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo
ensino/aprendizagem.
AVALIAÇÃO:
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Sumário
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Aula 01 – Viajantes, relatos oficiais, missionários: primeiras impressões de um outro mundo 9
Aula 02 - A sistematização do conhecimento: o surgimento do antropólogo ...........................14
Aula 03 - Terminologia e tradições do pensamento antropológico............................................17
Resumo da Unidade I ....................................................................................................................19
Aula 04 - Os antecessores: Rivers, Haddon, Seligman e a Expedição Cambridge ao Estreito
de Torres.........................................................................................................................................21
Aula 05 - Malinowski e a consolidação do Funcionalismo .........................................................23
Aula 06 - A instituição do trabalho de campo como método de trabalho dentro da
Antropologia....................................................................................................................................26
Aula 07 - Radcliffe-Brown e a noção de estrutura social............................................................29
Aula 08 - Evans-Pritchard, os Nuer e a preocupação com os sistemas políticos africanos ...32
Aula 09 - Bateson e o Naven ........................................................................................................35
Aula 10 - Gluckman e os processos de conflito ..........................................................................37
Aula 11 - Victor Turner e a noção de drama social .....................................................................40
Aula 12 - A influência do estruturalismo francês - Leach ...........................................................42
Aula 13 - Mary Douglas e as abominações do Levítico..............................................................45
Resumo da Unidade II ...................................................................................................................47
Aula 14 - Durkheim e o olhar sociológico ....................................................................................50
Aula 15 - As Formas Elementares da Vida Religiosa, de Émile Durkheim...............................53
Aula 16 - Mauss e o fato social total - a questão da reciprocidade ...........................................56
Aula 17 - “As Técnicas Corporais”, de Marcel Mauss.................................................................59
Aula 18 - Lévi-Strauss – vida e obra ............................................................................................61
Aula 19 - O Estruturalismo e a noção de estrutura social ..........................................................63
Aula 20 - As Estruturas Elementares do Parentesco, de Lévi-Strauss, e seu impacto sobre
os estudos antropológicos.............................................................................................................65
Aula 21 - Análise estrutural de mitos ............................................................................................68
Aula 22 - O Pensamento Selvagem, de Lévi-Strauss.................................................................70
Resumo da Unidade III ..................................................................................................................73
Aula 23 - Franz Boas como pioneiro na Antropologia Americana ............................................75
Aula 24 - Cultura e personalidade ................................................................................................78
Aula 25 - Margareth Mead e a noção de ethos ...........................................................................80
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Aula 26 - Outros enfoques: Geertz e a interpretação das culturas ...........................................82
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Aula 27 - Estruturalismo e História: Marshall Sahlins .................................................................84
Resumo Unidade IV .......................................................................................................................86
Aula 28 - Os Diários de Malinowski ..............................................................................................88
Aula 29 - O “Estar Lá” – a visão de Geertz sobre a etnografia malinowskiana ........................91
Aula 30 - O nativo também faz etnografia ...................................................................................93
Aula 31 - Na Antropologia Brasileira ............................................................................................95
Aula 32 - Um poema ......................................................................................................................97
Resumo Unidade V ......................................................................................................................100
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Aula 01_Viajantes, relatos oficiais e missionários: primeiras impressões de um
outro mundo
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Nesta primeira aula, conheceremos alguns antecedentes que alimentaram
a formação de um corpo de conhecimento sobre terras longínquas e povos
diferentes dos europeus. Essa preocupação foi a semente para a criação da
disciplina específica Antropologia. Vamos passear por essas histórias!
A história das ciências está vinculada ao modo como os europeus
organizaram o conhecimento, de forma sistemática e intensiva, principalmente a
partir do século XIX. Porém, antes dessa maneira de conceber o saber, o
conhecimento era produzido de modo espontâneo e sem muitas regras de
procedimentos. No caso da história da Antropologia, o "conhecimento espontâneo"
anterior fora produzido principalmente por três tipos de agentes: os viajantes, os
cronistas oficiais e os missionários.
Corriam os séculos XV, XVI e XVII, momento em que a Europa realizava sua
expansão marítima. Ibéricos, italianos, entre muitos europeus, se aventuraram por
águas e terras desconhecidas, em busca de oportunidades vantajosas de comércio.
Lugares nos quais só se ouvia falar em lendas e histórias fantásticas eram, então,
visitadas. Povos com costumes e modos de pensar diferentes eram contatados. A
Índia, a China, o Oriente se tornaram rota da busca por especiarias. A América é
descoberta a oeste. E todo o empreendimento da colonização é posto em
movimento.
O mundo se alargara e colocou em cena novos atores - índios e nativos de
modos estranhos aos olhos europeus. Nas novas terras, o Novo Mundo, necessitava
ser conhecido. Na dinâmica colonial, a produção de documentos sobre o que era
inédito ficou a cargo de alguns sujeitos errantes. Que tal adentrar em alguns desses
relatos, tendo por referência a empresa de colonização portuguesa e o Brasil?
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Desembarcamos logo na espaçosa
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Parte, por onde a gente se espalhou,
De ver cousas estranhas desejosa,
Da terra que outro povo não pisou.
(...)
(CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. Canto V, sonetos 26 e 28. Ateliê Editorial, 1999.)
Senhor,
Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães
escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova,
que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso
minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que --
para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
(..)
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e
bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem
mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de
mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o
beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento
de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na
ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; ea parte
que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E
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trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo
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no falar, nem no comer e beber.
(CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao Rei Dom Manoel. Ed. Crisálida, 2002.)
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Por fim, chegamos ao relato de um missionário francês, que preocupado
com a salvação das almas dos silvícolas nos fornece descrições de nativos do
Maranhão:
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colocou em evidência para os europeus ocidentais. Será a Antropologia que surgirá
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mais tarde como disciplina para sistematizar e organizar esse tipo de conhecimento.
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Aula 02_A sistematização do conhecimento: o surgimento do antropólogo
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Em nossa segunda aula, acompanharemos a Antropologia ganhar status de
ciência.
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sociedade europeia ocidental era o modelo de povo civilizado, todos os outros povos
acabaram sendo
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classificados como primitivos ou selvagens. Afora
consequências políticas e morais de tais pressupostos, o termo “primitivo” adentrou
as
a disciplina, não sendo raro até hoje ouvir que a Antropologia é o “estudo das
sociedades primitivas”. Porém, o uso do termo primitivo não carrega mais o valor
pejorativo do evolucionismo. Os principais antropólogos evolucionistas foram Lewis
Henry Morgan e Edward Burnett Tylor.
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A partir do século XIX, a Antropologia se estabelece como ciência e
seus profissionais, os antropólogos, voltavam suas mentes para ideias de correntes
de pensamento como o Evolucionismo e o Difusionismo.
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Aula 03_Terminologia e tradições do pensamento antropológico
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Finalizando esta unidade, aprenderemos algumas variações na
designação do pensar e fazer antropológico, segundo as tradições britânica,
francesa e americana. Vamos primeiramente obter uma visão abrangente da
questão.
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apesar das diferentes denominações e variações, elas ajudaram a formar o corpo de
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conhecimento que é a Antropologia.
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Resumo da Unidade I
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Nesta primeira unidade, tomamos contato com o contexto histórico e de
formação da Antropologia enquanto saber científico. Antes dela, relatos de viajantes,
missionários e cronistas oficiais produziram o conhecimento de lugares distantes e
populações diferentes do ambiente europeu.
A Antropologia nasceu dentro da dinâmica do empreendimento colonialista e
correntes de pensamento como o Evolucionismo e o Difusionismo estavam em voga
nessa época.
Para a formação da Antropologia como ciência cada lugar desenvolveu uma
variação de termo para a disciplina. Na França, primeiramente foi chamada de
Etnologia. No Reino Unido, estabeleceu-se como Antropologia Social e nos EUA
ficou conhecida como Antropologia Cultural. Essas três tradições de pensamento
formam a chamada Antropologia Clássica.
Glossário da Unidade I
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Evolucionismo: corrente de pensamento dentro da antropologia baseada nas
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ideias de Charles Darwin, de A Evolução das Espécies, e em Comte e Spencer, que
transpuseram noções como evolução, competição, adaptação, para o plano da
sociedade dos homens. Nesse sentido, surgiram ideias como a de progresso da
civilização. Estudos sobre raça e progresso das sociedades foram desenvolvidos.
Escola Sociológica Francesa: grupo de estudiosos, liderados por Émile
Durkheim, que teve papel determinante no desenvolvimento da antropologia como
ciência no final do século XIX.
Difusionismo: corrente de pensamento que se caracterizava por selecionar
certo elemento de um grupo social e verificar se teria sido emprestado ou
transformado de uma outra sociedade matriz, de modo histórico e geográfico.
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Aula 04_Os antecessores: Rivers, Haddon, Seligman e a Expedição Cambridge
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ao Estreito de Torres
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1910-11, com a participação de Alfred Radcliffe-Brown. Além disso, transformou a
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área da Oceania em foco para o desenvolvimento teórico da Antropologia.
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Aula 05_Malinowski e a consolidação do Funcionalismo
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Em nossa quinta aula, conheceremos o trabalho de Bronilaw Malinowski e
sua contribuição aos estudos antropológicos.
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Nesta aula, vamos analisar alguns conceitos do citado Funcionalismo e
deixaremos a próxima aula para aprofundar as atribuições do trabalho de campo
como novo método de pesquisa.
Vamos apreciar esse corpo teórico por meio da obra Argonautas do Pacífico
Ocidental.
Em sua obra seminal, Malinowski nos coloca em contato com os grupos
trobriandeses, localizados na Melanésia. Para o autor, a sociedade trobriandesa
deveria ser explicada por meio das atividades que desenvolve e não por hipóteses
históricas que não poderiam ser comprovadas, já que esses grupos não possuíam
escrita. Desse modo, é enfatizada uma abordagem sincrônica das instituições
sociais, ou seja, a sociedade é explicada a partir das ações e referências que
elabora no presente. Ao mesmo tempo, todas as atividades realizadas pelas tribos
das Ilhas Trobriand estão articuladas entre si, de maneira que todas as partes da
sociedade são interdependentes. Assim, nos agrupamentos trobriandeses, a
instituição que melhor demonstra essa interligação entre partes sociais é o kula.
O kula se refere ao sistema de trocas desenvolvido pelas tribos trobriandesas, que
não visa apenas o caráter econômico, mas também tem caráter cerimonial. A troca
no kula não se satisfaz na troca de produtos, mas é também uma forma dos nativos
se relacionarem e celebrarem os encontros. Como as populações pesquisadas
vivem em ilhas, as trocas são realizadas por meio de canoas. Assim, a construção
de canoas e as práticas religiosas estão relacionadas para a execução do kula.
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Desse modo, se a sociedade é considerada uma totalidade cujas partes
estão articuladas, a interligação é assegurada porque cumpre uma função para
manter o todo social e para satisfazer as necessidades dos indivíduos envolvidos.
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Aula 06_A instituição do trabalho de campo como método de trabalho dentro
da Antropologia
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Dessa maneira, o isolamento do antropólogo de sua sociedade original e a
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imersão na cultura do pesquisado, de modo ativo, servirão de base para constituir
um trabalho de campo intensivo e acurado.
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Reflexão: Compare métodos de trabalho de ciências diferentes da
Antropologia. O que dá a objetividade e a legitimidade desses estudos em
comparação à Antropologia?
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Aula 07_Radcliffe-Brown e a noção de estrutura social
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Nesta aula vamos acompanhar o desenrolar da teoria antropológica na
Grã-Bretanha por meio do autor Radcliffe-Brown, que ficou conhecido por
desenvolver um tipo de teoria estrutural funcionalista. Vamos conhecer alguns de
seus conceitos.
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As relações sociais entre as pessoas são controladas por normas e regras. A
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essas normas e comportamento estabelecidas numa certa forma de vida social dá-
se o nome de instituição social. Assim, as regras de comportamento que um
homem deve ter com relação a seus filhos é um tipo de instituição social como a
paternidade.
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Importante: Podemos dizer que Malinowski enfatiza aspectos da vida
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psicológica do homem no sentido de que ele volta-se para inclinações humanas para
explicação dos fenômenos (a troca, nesse sentido, é um fenômeno humano).
Enquanto isso, Radcliffe-Brown interpreta os comportamentos como parte das
relações sociais que nos fazem humanos (a troca, nesse sentido, é uma
manifestação empírica de uma relação social). São leituras filosóficas para pensar
os comportamentos humanos um pouco distintas uma da outra, mas ambos ainda
são considerados antropólogos.
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Aula 08_Evans-Pritchard, os Nuer e a preocupação com os sistemas políticos
africanos
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Os Nuer eram grupos que ocupavam a África Oriental, juntamente com outros
agrupamentos que se localizavam nas proximidades dos cursos d´água do rio Nilo.
Evans-Pritchard estabeleceu contato com esse grupo justamente no momento em
que eles combatiam tropas britânicas e soldados do governo do Sudão. O
antropólogo fez inúmeras incursões junto aos Nuer em 1930, 1931, 1935 e 1936,
que foram interrompidas devido falta de financiamento ou aos problemas de conflito
com as tribos, mas juntando todo o período declara que realizou quase um ano de
pesquisa.
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sustentavam da caça e da roça. No tempo das secas, eles migravam para perto das
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margens dos rios e se alimentavam da pesca. Os Nuer não concebiam um tempo
abstrato, eles marcavam o tempo por meio das atividades, a hora de levar o gado
para pastar, o momento de se mudar para os rios. Por isso, eles não lutavam contra
o tempo, o tempo eram as próprias atividades que realizavam.
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Importante: Note que o autor, assim como Radcliffe-Brown e Malinowski,
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está preocupado em entender as relações sociais a partir do que é apresentado
pelos nativos e não a partir de comparações históricas ou culturais, seguindo uma
postura crítica em relação ao evolucionismo cultural e ao difusionismo,
respectivamente. Evans-Pritchard mostrou como uma sociedade sem Estado se
organiza e organiza suas relações com outros grupos ao estudar os Nuer.
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Aula 09 - Bateson e o Naven
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Nesta parte, iremos conhecer a obra de Gregory Bateson em Naven, cuja
elaboração teórica ficou esquecida dentro da história da disciplina, mas atualmente
começa a ser redescoberta, dada sua originalidade. Vamos resgatá-la.
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Resumo: Aqui vimos a contribuição de Gregory Bateson, na sua obra Naven,
que trata da cultura dos povos Iatmul da Nova Guiné, por meio de um rito de
zombaria, cujo elemento afetivo é importante para entender os outros aspectos da
cultura.
Reflexão: Você conhece algum outro autor que ficou muitos anos
esquecidos e só depois de muitos anos sua obra é redescoberta. Por que você acha
que isso acontece?
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Aula 10_Gluckman e os processos de conflito
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Esta aula apresentará a evolução da Antropologia Social Britânica para os
problemas de conflito, processo e integração ritual por meio da obra de Max
Gluckman.
Max Gluckman nasceu na África do Sul, foi para a Universidade de Oxford em
1934 para realizar seu doutorado em Antropologia. Realizou trabalho de campo
entre os Zulus entre 1936 e 1938 e, em 1940, publicou seu primeiro ensaio na
obra Sistemas Políticos Africanos, organizada por Fortes e Evans-Pritchard. Lá, já
demonstrava sua preocupação com as formas de oposição e conflito. A partir de
1939, colaborou para o desenvolvimento do Instituto Rhodes Livingstone e transferiu
seus estudos dos grupos zulus para os grupos da África Central.
Em 1949, Gluckman foi nomeado professor na Universidade de Manchester
para criar o novo departamento.
Nas análises de Gluckman, os ritos apresentam-se como pontos privilegiados
para a observação da dinâmica social. A vida social possui uma estabilidade
dinâmica, e não estática, da qual os conflitos podem restabelecer o equilíbrio social.
Ao discorrer sobre rituais de rebelião no sudeste da África, o autor nos
mostra formas institucionalizadas de conflitos com função de integração social. Isto
significa que existem cerimônias, que apresentam propositalmente elementos de
tensão social para confirmar a estrutura do sistema social.
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postas em movimento para revitalizar a estrutura social. Cerimônias que afirmam o
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conflito e a tensão, como as dos grupos zulus, que acabam por representar
simbólica e dramaticamente as relações sociais, em toda a sua ambivalência,
conseguem levar à unidade e prosperidade da sociedade e não à mudança social.
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grupos culturais e que há um processo histórico interno a cada sistema que explica a
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relação de forças entre seus membros.
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Aula 11_Victor Turner e a noção de drama social
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Na aula que segue, vamos estudar como a preocupação sobre os
processos sociais de conflitos na Antropologia Social Britânica desemboca na
elaboração teórica sobre o simbolismo social principalmente através da noção de
drama social na obra de Victor Turner.
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conflito, o autor dará o nome de drama social. Essas situações são mais evidentes
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quando ocorrem rituais coletivos, porém podem estar presentes também em eventos
históricos ou políticos. Os dramas sociais são carregados de símbolos – símbolos
culturais, símbolos rituais – que são originados e ao mesmo tempo sustentam os
processos temporais de mudanças nas relações sociais. Símbolos instigam a ação
social e por isso participam das transformações que os dramas sociais colocam em
movimento.
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Aula 12 _ A influência do estruturalismo francês - Leach
SANTOS
Nesta aula, vamos acompanhar o impacto que a obra de Lévi-Strauss,
antropólogo francês, causa na Antropologia Social Britânica, influenciando os
trabalhos de autores como Edmund Leach e Mary Douglas.
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A partir da década de 1960, Leach se mostra mais íntimo das elaborações
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teóricas do Estruturalismo e experimenta o método. A sua contribuição particular
consistiu em ampliar a gama de aplicações e em racionalizar o método em alguns
aspectos. Nas oposições binárias do método estruturalista, existe um terceiro termo
que não é A nem é B. Devido sua natureza anômala, esse terceiro elemento é
cercado de tabus e proibições. Por exemplo, os animais podem ser classificados em
animais de estimação, animais de lavoura, animais selvagens etc. Quanto mais
íntimo da relação com os homens, menor a propensão do homem de se alimentar do
animal. Assim não se come os animais de estimação, mas se come os animais de
caça em situações especiais de apuro.
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Reflexão: Tente enumerar alguns personagens ou objetos que são foco
de tabu, proibição ou são olhados com suspeitas, como o lobisomem, uma
encruzilhada, entre outros. O que os fazem anômalos? Quais os elementos que eles
carregam, que normalmente não são vistos juntos e ao mesmo tempo?
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Aula 13_Mary Douglas e as abominações do Levítico
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Como anunciado na aula anterior, continuamos a acompanhar a influência do
estruturalismo francês sobre a Antropologia Social Britânica, agora enfocando a obra
de Mary Douglas.
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impuros porque que têm teriam duas mãos e dois pés, mas andam com todos os
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quatros. Os animais que rastejam são impuros porque se movem como peixes, mas
andam sobre a terra.
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Resumo da Unidade II
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A Unidade II tratou de apresentar os principais autores e temas
desenvolvidos pela Antropologia Social Britânica clássica.
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rebelião, isto é, formas institucionalizadas de demonstrar os conflitos sociais, de
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maneira que tal prática acaba por reforçar a unidade do sistema social.
Com Victor Turner, a Antropologia Social Britânica desenvolveu o conceito de
drama social, a partir das noções de processo social e processos de conflito social,
de modo a enfatizar o aspecto simbólico da ação humana.
Por fim, a influência do método estruturalista de Lévi-Strauss sobre alguns
antropólogos britânicos como Edmundo Leach e Mary Douglas produziu trabalhos
inovadores, ampliando o alcance do método estruturalista.
Glossário da Unidade II
Estrutural-funcionalismo: teoria antropológica que trabalha com os
conceitos de estrutura social, instituição, função social e processo social.
Etnografia: obra escrita com o relato da experiência em campo realizada pelo
antropólogo, articulada de análise social.
Funcionalismo: arcabouço teórico que considera a sociedade como um todo
formado por partes articuladas, que se relacionam porque atendem às funções
sociais.
Observação participante: quando o antropólogo deve tentar se integrar à
vida cotidiana do grupo que escolheu estudar, tomando parte dos afazeres e
eventos quando possível.
Trabalho de campo: método da Antropologia para obter informações e dados
para pesquisa.
CIÊNCIAS SOCIAIS 48
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GLUCKMAN, Max. “Rituais de rebelião no sudeste da África”. In: Cadernos de
Antropologia. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1974.
SANTOS
KUPER, Adam. Antropológos e Antropologia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.
LEACH, Edmund - "O nascimento virgem". In: Edmund Leach. Coleção Grandes
Cientistas Sociais, São Paulo, Ática, 1983.
MALINOWSKI, Bronislaw. "Introdução" e Cap. III - "Características essencias do
Kula", In: Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo: Abril, Coleção Os
Pensadores, 1977 ,.
RADCLIFFE-BROWN, Alfred. Cap. 1 - "O irmão da mãe na África do Sul"; Cap.6- "A
teoria sociológica do totemismo". Cap. 9 - "Sobre o conceito de função nas Ciências
Sociais"; Cap. 10 - "Sobre a Estrutura Social". In: Estrutura e função na sociedade
primitiva. Petrópólis: Vozes 1973,.
RADCLIFFE-BROWN, Alfred - "Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e
Casamento". "O método comparativo em Antropologia Social". In: Radcliffe-Brown.
Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo: Ática, 1978.
TURNER, Victor. “Liminaridade e Communitas" e "Ruptura e continuidade em uma
sociedade africana". In: O processo ritual. Petrópólis: Vozes, 1974.
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Aula 14_Durkheim e o olhar sociológico
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A partir desta aula, iremos conhecer a tradição de pensamento da escola
francesa, começando por Émile Durkheim.
Émile Durkheim nasceu em 1858 e foi o criador da disciplina de Sociologia na
França. Foi a partir da sua preocupação em tornar a Sociologia uma ciência legítima,
que desenvolveu seus trabalhos teóricos. Para ele, cabia à Sociologia estudar
os fatos sociais. Em As regras do método sociológico, ele descreve que os fatos
sociais devem ser tratados como coisa, isto é, devem ser considerados como
fenômenos exteriores aos indivíduos, não passíveis de intervenção pela psicologia
individual. Isso seria tão patente, que os fatos sociais exerceriam uma pressão
coercitiva sobre os indivíduos. Um fato social se constitui quando expressa as
crenças e os modos de conduta instituídos pela coletividade. À sociologia caberia
estudar esses fenômenos e representações de caráter coletivo. Um fato social só
pode ser explicado por outro fato social.
Obras como Da Divisão do Trabalho Social e O Suicídio influenciaram
cientistas sociais no mundo todo, como bem vimos no estrutural funcionalismo, da
Antropologia Social Britânica. Sua idéia de ordem moral, na qual são evidenciadas
regras de comportamento coletivas, como normas e sanções, ecoou nas
formulações antropológicas britânicas.
Para Durkheim, existem dois modelos de sociedades: as sociedades
segmentares e as sociedades modernas. As sociedades segmentares desenvolvem
relações entre os indivíduos do tipo da solidariedade mecânica, isto é, relações por
similitude, em que a maioria das pessoas possui cada uma as mesmas atribuições.
Seria uma sociedade de morfologia homogênea e simples. O indicador da
solidariedade mecânica seria o direito repressivo. As sociedades modernas
desenvolvem relações de diferença entre seus indivíduos, chamada solidariedade
orgânica. Morfologicamente heterogêneas, as sociedades modernas seriam
complexas e seu indicador é o direito restitutivo. A divisão do trabalho social faz
parte do modelo de solidariedade orgânica e sua função seria a coesão social,
manter a ordem social.
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É através da obra, As Formas Elementares da Vida Religiosa, que
Durkheim irá se aproximar dos estudos antropológicos ao tratar do sistema totêmico
das tribos australianas. Essa obra será objeto de análise na próxima aula.
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[1] DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: O sistema totêmico
na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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Aula 15_As Formas Elementares da Vida Religiosa, de Émile Durkheim
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Nesta aula, iremos nos deter na citada obra de Durkheim, trabalho de
referência dentro dos estudos de religião e teorias do conhecimento.
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determinadas. Entre esses dois tipos de fatos há exatamente a diferença
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que separa o pensamento do movimento.[2]
Portanto, longe de o ideal coletivo que a religião exprime dever-se a não sei
que poder inato do indivíduo, foi antes na escola da vida coletiva que o
indivíduo aprendeu a idealizar. Foi ao assimilar os ideais elaborados pela
sociedade que lê se tornou capaz de conceber o ideal. Foi a sociedade, que
arrastando-o em sua esfera de ação, suscitou-lhe a necessidade de se alçar
acima do mundo da experiência e, ao mesmo tempo, forneceu-lhe os meios
de conceber outro mundo.[3]
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E por isso, se sociedades primitivas têm religião e esta é a origem do
SANTOS
pensamento lógico, então, primitivos também têm pensamento lógico através de
suas representações coletivas. Em última instância, qualquer grupo que se coloque
como coletivo tem a capacidade de engendrar vida lógica.
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Aula 16_Mauss e o fato social total - a questão da reciprocidade
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Na sessão presente, vamos conhecer o desenvolvimento teórico da
antropologia na França, por meio de um discípulo de Durkheim, Marcel Mauss.
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Assim, Mauss desenvolverá o conceito de fato social total.
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Resumo: Com Mauss, acompanhamos o desenvolvimento da
Antropologia francesa com um discípulo de Durkheim e a retoma do tema da
reciprocidade sob o conceito de fato social total, em que a análise visa apreender os
múltiplos planos da vida social que se expressam juntas e ao mesmo tempo num
dado fenômeno.
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Aula 17_“As Técnicas Corporais”, de Marcel Mauss
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Continuando a conhecer a obra de Marcel Mauss, nesta aula, vamos
apreciar seu artigo “As Técnicas Corporais”, seminal para pensar a influência social
sobre o corpo.
CIÊNCIAS SOCIAIS 59
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realiza movimentos com os braços e os troncos para atirar o objeto, e ainda
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performa o tiro de acordo com um estilo de jogo que é coletivo, como no beisebol.
[1] MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a Dádiva”. In: Sociologia e Antropologia. São
Paulo, EDUSP, 1974, vol. 2, p. 211.
[2] MAUSS, Marcel. “Técnicas Corporais”. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo,
EDUSP, 1974, p. 217.
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Aula 18 _Lévi-Strauss – vida e obra
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Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, em 1908 e faleceu em 2009.
Iniciou seus estudos em Direito e Filosofia na Universidade de Sorbonne, em Paris.
Não completou os estudos em Direito, conseguindo a licenciatura em Filosofia no
ano de 1931. Após alguns anos de professorado em escolas secundárias, aceitou o
convite para integrar uma missão cultural ao Brasil. No Brasil, lecionou de 1934 até
1938.
Após um período como adido cultural na embaixada francesa de Washington,
nos EUA, Lévi-Strauss retornou a Paris em 1948. Foi então que recebeu seu grau de
Doutor pela Sorbonne, ao apresentar (dentro da tradição francesa) duas teses, uma
'maior' e outra 'menor'. Elas foram Família e vida social entre os Nambikwara e As
Estruturas elementares do parentesco.
Em 1959, Lévi-Strauss foi nomeado para a cadeira de Antropologia Social do
Collège de France. Por volta desse período publicou Antropologia Estrutural, uma
coleção de ensaios em que oferece tanto exemplos como manifestos programáticos
do estruturalismo. Começou a organizar uma série de instituições destinadas a
estabelecer a Antropologia como disciplina de estudos na França, como o
Laboratório para Antropologia Social e o jornal l'Homme, onde os pesquisadores
publicavam o resultado de suas pesquisas.
Em 1962, Lévi-Strauss publicou aquele que para muitas pessoas é seu
trabalho mais importante, O Pensamento Selvagem. Na primeira parte do livro ele
descreve sua teoria da cultura e do pensamento. Já como celebridade mundial, Lévi-
Strauss passou a segunda metade da década de 1960 trabalhando em um projeto
maior, um estudo apresentado em quatro volumes intituladoMythologiques.
Lévi-Strauss é doutor honoris causa de diversas universidades pelo mundo.
Mesmo aposentado, Lévi-Strauss continuou a publicar ocasionalmente volumes de
meditações sobre artes, música e poesia, bem como reminiscências de seu
passado. Sua última publicação, ainda em vida, foi o livro O suplício de Papai Noel.
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Resumo: Nesta aula, acompanhamos a vida e a produção intelectual de
um dos mais influentes pensadores da Antropologia Francesa, Claude Lévi-Strauss.
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Aula 19 _O Estruturalismo e a noção de estrutura social
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Nesta aula, vamos analisar a noção de estrutura que Lévi-Strauss se
propôs a desenvolver em seu método de análise estrutural.
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Para o autor, não só assuntos relacionados ao parentesco são passíveis de
serem abordados pelo método estruturalista: ele poderia ser aplicado a problemas
etnológicos diversos. Mais à frente, acompanharemos a aplicação da análise
estrutural sobre os mitos.
Uma das críticas ao método estrutural é sua inabilidade em lidar com a noção
de tempo histórico. Mas para Lévi-Strauss, o tempo histórico seria um plano que
estaria incluído dentro da explicação “nativa”. Pois o autor identifica que há
sociedades que identificam um tempo histórico contínuo e cumulativo - como a
ocidental; e há sociedades que vêm um tempo a-histórico, circular e recorrente -
como muitas sociedades tribais. Desse modo, o tempo histórico não seria uma
categoria universal e inconsciente.
Reflexão: Pense no seu cotidiano e sugira algo que possa ser considerada
como “teoria nativa”? Lembre-se que para ser uma teoria, é preciso que seja
compartilhada por um grupo e não individual.
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Aula 20_As Estruturas Elementares do Parentesco, de Lévi-Strauss, e seu
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impacto sobre os estudos antropológicos.
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O elemento que pode realizar a passagem do estado de natureza para o de
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cultura é a regra de proibição do incesto, regra que não permite o casamento entre
pais e filhos e entre irmãos. Pois se a cultura se caracteriza pela presença de regras,
e a natureza pela universalidade, o tabu do incesto se apresenta como regra, ao
mesmo tempo que possui caráter universal.
A regra de proibição do incesto faz com que cada homem renuncie a um certo
número de mulheres, como sua mãe, suas irmãs e suas filhas, liberando-as para
outrem. Ao mesmo tempo, se todos os homens assim o fazem, cada homem
também recebe um número de mulheres que lhe é permitido casar. Desse modo, a
proibição do incesto cria o fato cultural da possibilidade de alianças matrimoniais,
fora do grupo consanguíneo. É a partir dessa regra que os grupos humanos
organizam diferentes modos de endogamia – casamento dentro do grupo social – e
exogamia – união de aliança fora do grupo social.
A regra de proibição do incesto fundamenta a troca entre os grupos sociais.
Pois a partir de uma interdição, é possível realizar a reciprocidade.
Retomando o tema da reciprocidade, já trabalhado por Malinowski e Mauss,
Lévi-Strauss, leva a conceber a integração da sociedade como um modelo de
comunicação, pois se a linguagem se faz na troca de signos, o parentesco se
estrutura na troca de pessoas e bens, por meio da proibição do incesto.
O início da sociedade se articula com o início do pensamento simbólico,
quando se realiza a passagem da natureza à cultura.
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do pensamento lógico, em que a passagem da natureza à cultura leva à troca de
SANTOS
bens, mulheres e signos linguísticos.
Importante: Seguindo uma leitura rousseauniana da nossa natureza humana,
Lévi-Strauss considera que o início da sociedade se articula e coincide com o início
do pensamento simbólico porque o homem é um ser eminentemente racional,
cultural e social. Nesta perspectiva, o homem no estado de natureza como foi
abstraído pelos filósofos contratualistas não é objeto da antropologia porque é
somente uma abstração. Sua teoria também é uma crítica aos estudos
evolucionistas culturais e difusionistas, por partir da ideia de que o homem que não
pensa e não se relaciona em sociedade é uma mera abstração e partindo da ideia
de que a história só pode ser lida a partir da fala nativa.
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Aula 21 _ Análise estrutural de mitos
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A seguir, tomaremos contato com o modo de proceder da análise
estrutural no objeto em que mais frutificou: os mitos. Vamos conhecê-lo.
“O mito é linguagem, mas uma linguagem que tem um nível elevado, e onde o
sentido chega, se é lícito dizer a decolar do fundamento linguístico sobre o qual
começou rolando.”[1]
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O mito é formado de unidades constitutivas chamadas mitemas. Os
mitemas são conjuntos de orações que expressam uma determinada relação entre
alguns dos elementos da história, como relação de proximidade entre personagens,
relação de agressividade, etc.
Assim, ao nos depararmos com um mito, decompomo-lo nos mitemas, que
expressam um tipo de relação entre os elementos. Então organizamos os mitemas
em colunas segundo o tema de suas relações: proximidade repulsa, idade
avançada, travestismo, ou que seja. Ao dispor assim, nos deparamos com a uma
nova organização de sentidos dentro da história, e tal rearranjo nos permite chegar a
um significado mais amplo e universal, que, antes, não era evidente.
Um dado muito importante para Lévi-Strauss é que na análise estrutural dos
mitos não importa qual versão do mito seja empregada, porque não haveria versões
verdadeiras, todas seriam válidas, já que o método estrutural se preocupa em extrair
o sentido não expresso e inconsciente do mito.
[1] LÉVI-STRAUSS, Claude. “A estrutura dos mitos”. In: Antropologia Estrutural. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970.
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Aula 22_O Pensamento Selvagem, de Lévi-Strauss
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Nesta aula, mais uma vez, vamos nos ater sobre uma das obras de Lévi-
Strauss, O Pensamento Selvagem. Vamos analisá-la.
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necessárias, objeto de toda ciência, neolítica ou moderna, pudessem ser
SANTOS
atingidas por dois caminhos diferentes: um muito próximo da intuição
sensível e outro mais distanciado.[1]
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não está carregando os termos de qualificações que o denigrem em detrimento do
SANTOS
pensamento científico. Ao contrário, a brincadeira feita com esses termos indica que
o pensamento baseado no arranjo de elementos concretos é mais livre (usando a
metáfora do “selvagem”) que o pensamento científico. Segundo o autor, o
pensamento científico parte de estruturas para criar operações racionais, portanto,
está “preso” a estas estruturas. Tais estruturas seriam os símbolos e conceitos
(números, conceitos filosóficos e científicos). No caso da ciência do concreto,
fenômenos e materiais naturais servem como elementos para construir reflexões
sobre o universo que nos cerca. Segundo o autor, ambas as formas de pensar são
racionais, somente a forma como operam são diferentes.
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Resumo da Unidade III
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O início dos estudos antropológicos na França se deu dentro do
desenvolvimento da Sociologia como disciplina científica, por meio do trabalho de
Émile Durkheim. Este realizou estudos de caráter sociológico e antropológico e
formou outros pesquisadores, como Marcel Mauss. Sua contribuição é denominada
como Escola Sociológica Francesa. Apreciamos sua obra As Formas Elementares
da Vida Religiosa.
Com Mauss nos envolvemos com sua noção de fato social total e o tema da
reciprocidade, além de adentrar pelo seu artigo “Técnicas Corporais”.
Depois, pudemos nos familiarizar com a noção de estrutura social vista a
partir do Estruturalismo de Lévi-Strauss. Tal idéia faz menção a modelos
inconscientes que sustentam a cultura e que o método estruturalista permite atingir.
Estudamos os trabalhos Estruturas Elementares do Parentesco e Pensamento
Selvagem.
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Totemismo: religião de sociedade primitivas, como as australianas e norte-
SANTOS
americanas, que tinham como referência animais e plantas.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Totemismo hoje. São Paulo: Abril Cultural, Coleção "Os
Pensadores", 1976.
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Aula 23 - Franz Boas como pioneiro na Antropologia Americana
SANTOS
A partir daqui, vamos experienciar os trabalhos da Antropologia
Culturalista nos Estados Unidos. Comecemos esta aula com o antropólogo Franz
Boas.
Franz Boas nasceu em 1858 e era alemão de origem judaica. Formado na
Alemanha, como geógrafo e psicofísico, estudou Geografia com Friedrich Ratzel
(1844-1904) que afirmava que o meio ambiente era o fator determinante da cultura.
Emigrou para os E.U.A., onde desenvolveu a sua carreira científica de
antropólogo. Realizou muito cedo trabalho de campo, viajando até ao Ártico para
estudar as sociedades esquimós.
Deu aulas na Universidade de Columbia e foi diretor do American Museum of
Natural History, em Nova York. Formou antropólogos como Melville Herskovits,
Alfred L. Kroeber, Robert Lowie, Edward Sapir, Margaret Mead, Ruth Benedict e
Clyde Kluckhohn.
Boas é conhecido por inspirar as mais diversas vertentes antropológicas,
como se pode observar por meio de seus discípulos, que desenvolveram, cada um,
diferentes estudos. Kroeber encaminhou-se para a Antropologia Física, Sapir
aprofundou estudos sobre a língua das sociedades não-ocidentais, Mead e
Benedict, investigaram a relação entre personalidade e cultura.
Para Boas, a tarefa do antropólogo era investigar as tribos primitivas que
careciam de história escrita, descobrir restos pré-históricos, estudar tipos humanos e
a linguagem.
De todas as suas idéias, a formulação do conceito de etnocentrismo e a
necessidade de estudar cada cultura singularmente por seus próprios termos
exercem, ainda nos dias de hoje, uma enorme influência nos estudos
antropológicos. Em sua obra, Boas se contrapôs aos evolucionistas, que
compreendiam as culturas das sociedades não-caucasianas como inferiores. É
através de seus estudos que a idéia de uma escala evolutiva das sociedades
partindo de agrupamento de homens "selvagens" ou "naturais" e chegando as
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"sociedades civilizadas" européias vai sendo gradualmente abandonada pelos
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estudos antropológicos.
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Reflexão: Quais as características são semelhantes e quais são diferentes
no modo de realizar trabalho de campo entre Malinowski e Franz Boas?
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Aula 24_Cultura e personalidade
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Nesta sessão, vamos conhecer o trabalho de Ruth Benedict, que
juntamente com Margareth Mead, foi discípula de Boas e desenvolveu trabalhos
com a preocupação sobre a relação entre a cultura e a personalidade individual.
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Os padrões de hábitos e comportamento são os elementos que determinam a
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particularidade de dada cultura. Cada cultura seleciona os elementos que podem
integrar o seu arranjo cultural, que a autora nomeia como configuração. A cultura é
um todo articulado, nos quais quanto mais os padrões culturais e os modelos
emocionais e intelectuais se mostrarem homogêneos, mais integrada se mostrará a
cultura.
Ruth Benedict, seguindo ao filósofo Nietszche, distinguiu dois tipos de
culturas, entre os índios norte-americanos:
a) Dionisíacas (i.e. ameríndios), que enfatizam o êxtase e a violência.
b) Apolíneas (i.e. os zunhi), que destacam a moderação e o equilíbrio.
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Aula 25 - Margareth Mead e a noção de ethos
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Dando continuidade aos estudos de personalidade e cultura na
Antropologia Culturalista Norte-Americana, vamos ver o trabalho de Margareth
Mead.
Margareth Mead também foi aluna de Ruth Benedict, finalizando seus estudos
de Antropologia na Universidade de Columbia em 1929. Em 1925, ela realizou
trabalho de campo na Polinésia.
Na Nova Guiné, ela analisou pelo menos três grupos sociais: os Arapesh, os
Mundugumor e os Tchambuli. Ela observou que entre os Arapesh, tanto homens
quanto mulheres eram pacíficos no temperamento e que ambos não guerreavam.
Entre os Mundugumor, era o oposto, tanto homens quanto mulheres tinham um
temperamento guerreiro. Já os Tchambuli, os homens gostavam de se adornar e as
mulheres trabalhavam e tinham senso prático.
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a)
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Culturas pós-figurativas: onde os filhos aprendem, em primeiro lugar, com
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os pais. O novo é uma continuação e repetição do velho, negando-se a mudança.
Os velhos e os avôs têm muita importância. A mobilidade social é reduzida e o
passado forma um continuum com o presente e o futuro. Cultura da família extensa.
[1] MEAD, Margaret. Sexo e temperamento. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1976
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Aula 26 _Outros enfoques: Geertz e a interpretação das culturas
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Nesta sessão, veremos a experiência singular de Clifford Geertz dentro da
Antropologia Americana, que, junto de Franz Boas, foi um dos antropólogos mais
influentes. Vamos conhecê-lo.
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grandes vôos intelectuais, como querem os estuturalistas chegar às categorias
SANTOS
universais de pensamento.
Ao postular que a cultura é pública e que o etnógrafo não é o único herói que
pode construir significados por meio dela, Geertz também critica a autoridade do
pesquisador sobre o pesquisado, abrindo as portas para toda uma geração de
antropólogos discutir as relações do etnógrafo e de seus nativos.
[1] GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. LTC: Rio de Janeiro, 1989,
Cap.1, p.4
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Aula 27_Estruturalismo e História: Marshall Sahlins
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Aqui, vamos ver outra vertente desenvolvida na Antropologia Americana,
agora com o antropólogo Marshall Sahlins.
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por grupos específicos, sabe-se que os homens criativamente repensam seus
SANTOS
esquemas convencionais. É nesses termos que a cultura é alterada historicamente
na ação.” (SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1990).
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Resumo Unidade IV
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Iniciamos nosso passeio pela Antropologia Culturalista Norte-
Americana por meio da vida e trabalhos realizados por Franz Boas, pioneiro nos
estudos antropológicos nos Estados Unidos.
Com Ruth Benedict, que foi discípulas de Boas, acompanhamos seus trabalhos
sobre a relação entre a cultura e a personalidade individual, por meio do conceito de
padrões de cultura.
Também na mesma direção de estudos de cultura e personalidade, vimos o trabalho
de Margareth Mead, que desenvolveu trabalhos por meio do conceito de ethos,
estilo de cultura.
Geertz contribuiu para uma antropologia que se preocupe com os significados
colocados em movimento pelos homens, além de sua consideração sobre a
etnografia por meio da noção de descrição densa.
Marshall Sahlins, que conseguiu articular estrutura e história em sua contribuição
aos estudos antropológicos.
Glossário da Unidade IV
Descrição densa: modo de registrar os vários níveis de significado possíveis das
categorias culturais, escolhendo entre as estruturas de significação e determinando
sua base social e importância. O trabalho de etnografia.
Ethos: o modelo de ação e afetividade que orienta o comportamento dos indivíduos
numa determinada cultura
Padrões de cultura: conceito que formula a existência de um modelo de
comportamento e sentimento, que sirva de molde para os indivíduos de uma cultura
particular.
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Relativismo cultural: idéia de que não há culturas superiores nem inferiores. Os
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sistemas de valores devem compreender-se dentro do contexto particular de cada
cultura e não de acordo com os padrões da cultura do antropólogo.
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Aula 28 _Os Diários de Malinowski
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Nesta aula, vamos problematizar os parâmetros construídos classicamente
para um elemento que se incorporou à Antropologia, de maneira quase identitária à
disciplina, o trabalho de campo. Vamos ao imbrólio.
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dois períodos do trabalho de campo do autor no Pacífico Sul: de setembro de 1914 a
SANTOS
agosto de 1915, na região de Mailu, e de outubro de 1917 a julho de 1918, nas Ilhas
Trobriand, totalizando 19 meses. Com certeza, Malinowski não escreveu os diários
com a intenção de publicá-los.
Tomando contatos com esses escritos, vemos que o pesquisador das Ilhas
Trobriand não teve a estadia edílica descrita nos Argonautas. Escrito em polonês,
por vezes encontramos um Malinowski, mal-humorado, entediado e até enfurecido
com os nativos. A simpatia extrema pelos nativos e seu modo de vida que lemos
nos Argonautas contrasta com o tratamento que no Diário Malinowski dedica aos
seus informantes, chamando-os muitas vezes de insolentes, atrevidos e estúpidos.
"Esforcei-me por afastar os olhos do livro e mal pude acreditar que estava
entre selvagens neolíticos, e sentado aqui pacificamente enquanto coisas terríveis
ocorriam lá (na Europa)".
(...)
"De modo geral, meus sentimentos para com os nativos decididamente
tendem para 'Exterminar os brutos' ".
(...)
"Pensei na minha posição atual com relação ao trabalho etnográfico e aos
nativos. Meu desapreço por eles, minha saudade da civilização”. [1]
A partir de então, os antropólogos entraram em debate sobre a natureza e a
legitimidade do trabalho de campo.
Sem entrar em julgamentos morais, os Diários de Malinowski revelaram com
contundência que a etnografia também é uma construção, mais precisamente uma
construção literária. Mostrou também as dificuldades que o antropólogo vive em
campo, não sendo, de fato, nenhum herói. Essas discussões irão ganhar fôlego com
toda uma geração de antropólogos, que irão questionar as bases de legitimidade e
autoridade da disciplina e do ofício de antropólogo.
CIÊNCIAS SOCIAIS 89
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Resumo: No texto acima, vimos o impacto que a publicação dos diários de
campo de Malinowski teve sobre o paradigma clássico do trabalho de campo.
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Aula 29 _O “Estar Lá” – a visão de Geertz sobre a etnografia malinowskiana
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Seguindo com a discussão sobre o trabalho de campo e a etnografia, a
seguir vamos acompanhar a opinião de Geertz a respeito.
Geertz foi um autor seminal sobre as discussões em torno do trabalho de
campo. Sua obra forneceu subsídios para rediscutir as relações entre pesquisador e
pesquisado, ao admitir que o trabalho do antropólogo é escrever etnografias.
A partir daí muitos outros pesquisadores se debruçaram sobre o tema de
como escrevem os etnógrafos. Porém, Geertz tem sua própria posição. Vamos
acompanhá-la.
Geertz não é tão radical quanto são alguns estudiosos, que consideram que o
trabalho de etnografia seja apenas imagens e um mero jogo de palavras. Para ele, o
que convence em um trabalho etnográfico não é o estilo da escrita, mas é a ideia
do estar lá.
A capacidade dos antropólogos de nos fazer levar a sério o que dizem tem
menos a ver com uma aparência factual, ou com um ar de elegância
conceitual, do que com sua capacidade de nos convencer de que o que eles
dizem resulta de haverem realmente penetrado numa outra forma de vida
(ou, se você preferir, de terem sido penetrados por ela) – de realmente
haverem, de um modo ou de outro, ‘estado lá’. E aí, ao nos convencer de
que esse milagre dos bastidores ocorreu que entra a escrita. [1]
CIÊNCIAS SOCIAIS 91
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mínimo, pouco mais do que uma reserva de passagens e q permissão para
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desembarcar, a disposição de suportar uma certa dose de solidão, invasão
de privacidade, desconforto físico, uma certa serenidade diante de
excrecências corporais estranhas e febres inexplicáveis, a capacidade de
permanecer imóveis para receber insultos artísticos, e o tipo de paciência
necessária pra sustentar uma busca interminável de agulhas invisíveis. E o
tipo autoral do estar lá vem ficando cada vez mais difícil.[2]
CIÊNCIAS SOCIAIS 92
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Aula 30_O nativo também faz etnografia
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Nesta sessão, veremos o surgimento da preocupação dos antropólogos de
que os “nativos” também realizam pesquisa antropológica.
A partir dos anos 1970, além da discussão sobre a escrita da etnografia, outra
questão veio à tona para problematizar o fazer antropológico: a de que os “nativos”
também realizam pesquisa antropológica.
Os antropólogos tradicionalmente foram sempre provenientes da Europa e dos
Estados Unidos, devido até a história de formação da disciplina. Porém, a partir dos
anos 1970, iniciou-se o movimento de independência de inúmeros países asiáticos e
africanos, espaços sempre explorados como lugares foco das pesquisas
antropológicas. Além da reivindicação de autonomia política, muitos pesquisadores
africanos e asiáticos começaram a aparecer e a questionar a antropologia clássica.
Agora uma Antropologia emergente fazia parte do debate científico e os nativos,
que outrora foram tratados como objeto de pesquisa, agora se tornavam sujeitos da
pesquisa.
É nesse momento que a definição clássica de que a Antropologia era a ciência
que estudava as sociedades primitivas ficou inapropriada de vez. Pois se já quase
não havia sociedades primitivas, mas grupos e países que se “ocidentalizavam”,
tomavam contato das influências ocidentais, reivindicavam autonomia e, agora,
também realizam pesquisas, então o termo sociedades primitivas entrou em crise.
Assim, a disciplina, além de se repensar metodologicamente, também teve de se
repensar tematicamente. Não é à toa que estudos sobre “as sociedades complexas”
ou a antropologia de dimensão urbana começaram a se consolidar.
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foram objetos clássicos dos estudos antropológicos e uma reivindicação de
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autonomia científica, agora os nativos também eram sujeitos de conhecimento.
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Aula 31_ Na Antropologia Brasileira
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Após apreender as tradições de pensamento antropológico clássico,
vamos problematizar o caso do Brasil frente a elas.
Passamos por todo esse percurso de estudo pelas tradições de pensamento
antropológico da Antropologia Social Britânica, da Escola Sociológica Francesa e do
Estruturalismo Francês e do Culturalismo Norte-Americano e variantes americanas
porque elas influenciaram e influenciam a antropologia brasileira.
A história da Antropologia brasileira tem sua particularidade, mas sempre
dialogou com a bagagem clássica.
No Brasil, os clássicos da Antropologia ajudaram a discutir questões como a
raça. A mestiçagem como degeneração e a mestiçagem como salvação. Gilberto
Freyre, por exemplo, foi aluno de Franz Boas.
Também os estudos sobre os índios brasileiros tiveram impulso a partir dos
clássicos. Lévi-Strauss foi professor de antropologia da Universidade de São Paulo e
sua abordagem teórica estruturalista foi muito atuante para explicar muitas
sociedades indígenas brasileiras.
A grande particularidade dos estudos antropológicos brasileiros em relação aos
clássicos é que os “objetos” de pesquisa estão presentes em território nacional.
Além do que, os intelectuais estão sempre muito preocupados por pensar a questão
da identidade nacional. É como se os pesquisadores no Brasil estivessem sempre
preocupados em conhecer o próprio país. A questão "Que país é esse?" ou então "O
que faz do Brazil, Brasil?". Temos olhos constantemente voltados para nós mesmos.
De qualquer forma, os clássicos aqui tratados sempre figuram como referências
para discutir a antropologia feita no Brasil.
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Norte-Americana são referências para a Antropologia feita no Brasil e por isso sua
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importância em conhecê-los.
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Aula 32 - Um poema
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Finalizando a disciplina, apresentamos um poema de Rudyard Kipling,
autor britânico do século XIX, que esteve na Índia e em outros lugares do Oriente e
tem uma obra voltada para esses encontros com o desconhecido e para a
alteridade. Vamos ao poema:
MANDALAY
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Com seu braço sobre meu ombro e seu rosto sobre o meu
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Assistíamos aos navios e os hathis empinhando madeira
Elefantes estavam empilhando madeira
No sludgy, squdgy lago
Onde o silencio suspende aquele peso que você tanto teme dizer!
Na estrada para Mandalay...
Mas tudo isso passou – há muito tempo e lá longe
E não há ônibus circulando de Bank para Mandalay
E estou aprendendo o que o soldado de dez anos fala
“Se você ouvir o Oriente chamando, você não deve segui-lo por nada.”
Não! Você não deve segui-lo por nada,
Mas então vem o cheiro de alho
E o brilho do sol e as palmeiras e os sinos dos templos
Na estrada para Mandalay...
Estou cansado de gastar as solas nas pedras do asfalto
E a barulhenta chuva inglesa acorda a febre de meus ossos
Por isso eu ando com cinqüenta camareiras de Chelsea a Strand,
E elas falam um monte de amor, mas o que elas entendem?
Rosto forte e mão robusta
Lei! O que elas entendem?
Eu tenho uma camareira mais doce e diligente numa terra mais limpa e mais verde
Na estrada para Mandalay...
Navegue-me a algum lugar à leste de Suez, onde o melhor parece o pior,
Onde não há os Dez Mandamentos e um homem pode aplacar sua sede;
Porque os sinos dos templos estão tocando e é lá que eu queria estar—
Perto do velho Pagoda, fitando preguiçosamente o mar,
Na estrada para Mandalay,
Onde a velha Flotilla tem,
Com nossa enfermidade sob as tendas quando nós fomos para Mandalay
Na estrada para Mandalay
Onde os peixes-voadores brincam,
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E a manhã sobe como um trovão fora da China através da Baía!(tradução livre:
Simone Toji)
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Reflexão: Quais as imagens sobre o Oriente são levantadas? E Sobre o
Ocidente?
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Resumo Unidade V
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Vimos o impacto que a publicação dos diários de campo de Malinowski
teve sobre o paradigma clássico do trabalho de campo. Pudemos perceber com
Geertz que o trabalho de campo não se resume ao “estar lá”, é também preciso
escrever a etnografia e realizar uma construção sobre o trabalho de campo. E
finalizamos constatando que as tradições de pensamento como a Antropologia
Social Britânica, a Antropologia Francesa e a Antropologia Culturalista Norte-
Americana são referências para a Antropologia feita no Brasil e por isso sua
importância em conhecê-los.
Terminamos, então, com um poema de Kipling e usa visão sobre o oriente
como contraponto ao ocidente e de como este ocidente vê um oriente mágico,
mitificado, exótico...
Espero que tenham gostado da disciplina e que possam pensar e repensar a
antropologia a partir dela.
Glossário da Unidade V
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