Trabalho de Antropologia Cultural

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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Trabalho do Campo I

Nome: Chamido Isaquiel Jorge


Código: 708222856

Curso: Licenciatura em Administração


Publica

Disciplina: Antropologia Cultural

Turma: F

Ano de Frequência: 2ª Ano

Nampula, Maio de 2023


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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação a Distancia

Trabalho do Campo I

Tema: Antropologia Cultural, cultura, religião, doença e etnocentrismo

Docente: Mestre Isaque Eugénio

Nome: Chamido Isaquiel Jorge


Código: 708222856

Nampula, Maio de 2023

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Índice
Introdução ........................................................................................................................................ 4

A Antropologia cultural ................................................................................................................... 5

A Antropologia da Religião ............................................................................................................. 7

Origem da Antropologia da Religião............................................................................................... 9

O pensamento mágico e o surgimento das religiões ..................................................................... 11

Os desafios da Antropologia da Religião ...................................................................................... 12

Antropologia Cultural, Saúde e Doenças ...................................................................................... 12

Doença Individual, Problema Coletivo ......................................................................................... 13

O Etnocentrismo ............................................................................................................................ 14

O conceito de etnocentrismo ......................................................................................................... 14

Os tipos de etnocentrismo ............................................................................................................. 15

Conclusão ...................................................................................................................................... 16

Referências Bibliográficas ............................................................................................................. 17

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Introdução

Na contemporaneidade, existem intensas relações cambiantes entre países, culturas e economias,


mas, para a comunidade científica, essa realidade apresenta-se complexa, configurando-se,
muitas vezes, como uma dificuldade a mais para se apreender as realidades. Há que se considerar
a relevância do conhecimento científico para a busca da compreensão das formas pelas quais as
sociedades humanas estruturam sua organização societária em lugares e épocas diferentes.

Antropologia cultural tem, portanto um mesmo campo de investigação. Além disso, utilizam os
métodos (etnográficos) de acesso a esse objecto. Finalmente, são animadas por um mesmo
objectivo e uma ambição idênticos: a análise comparativa (muito mais afirmada, porém na
antropologia cultural do que na antropologia social). Mas, o que se compara no primeiro caso é o
social enquanto sistema de relações sociais, sendo que, no segundo, trata-se do social tal como
pode ser apreendido através dos comportamentos particulares dos membros de um determinado
grupo: nossas maneiras específicas, enquanto homens e mulheres de uma determinada cultura, de
pensar, de encontrar, de trabalhar, se distrair, reagir frente aos acontecimentos (por exemplo, o
nascimento, a doença, a morte).

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A Antropologia cultural

A relação entre desenvolvimento, cultura e diversidade cultural não é simples, tão pouco
imediata. As interconexões entre esses conceitos, lapidados em tempos históricos diversos,
pedem profundidade e sobretudo clareza quanto aos valores e propósitos sobre os quais são
construídas.

A palavra cultura advém do latim colere, que significa cultivar, criar. Inicialmente pela
agricultura, o cultivo dos alimentos, donde o cuidado com crianças e, por conseguinte, o culto aos
deuses, ao sagrado. Tal conexão ao desenvolvimento das potencialidades de um ser ou de alguém
vai se perdendo na história do ocidente, até que a palavra ressurge no século XVII relacionada ao
conceito de civilização, proveniente por sua vez, da ideia de vida em determinado regime civil,
portanto político. Do conjunto de práticas culturais as quais englobam técnicas, filosofias,
ciências e produções artísticas seria possível aferir e hierarquizar sociedades segundo o critério de
evolução. A aproximação desta ideia à de progresso é inevitável. No século seguinte o conceito
ganha nova abordagem pela antropologia, porém ainda vinculada ao conceito de evolução, onde o
padrão comparativo aos estudos etnológicos continua a ser a Europa ocidental (CHAUI, 2006).

Afirmar a cultura como constitutiva da sociedade e a posição da produção artística em relação a


esta tem como objectivo marcar posições por vezes esquecidas no debate político quando o
assunto se trata das políticas culturais. Nesse campo, a discussão é norteada por outros
indicadores, via de regra baseados na ideia de racionalidade. É preciso falar em planeamento, no
estabelecimento de regras e objectivos a serem atingidos, num conjunto de estratégias e em um
público que se almeja atingir. Daí, nas palavras de Ortiz, “supõe-se a existência de uma esfera
denominada cultura, e um ato cognitivo capaz de separá-la de outras conotações” (ORTIZ, 2008,
p.124).

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Assim como a noção de política, a de desenvolvimento também pertence ao domínio da
racionalidade. Desenvolvimento como categoria que se vincula ao progresso económico e
tecnológico ou a valores específicos é uma elaboração da modernidade, e ganha projecção na
medida em que as sociedades urbano-industriais ocidentais conquistam o mundo com políticas
expansionistas. É neste momento histórico em que o debate da cultura é atravessado pela
compreensão linear das trajectórias históricas dos grupos sociais, sugerindo sua hierarquização
em função de um vector temporal, cujos extremos são a barbárie e a civilização.

Por outro lado, na linha da antropologia contemporânea aqui apresentada, o


universo da cultura não comporta tal juízo de valor. “A cultura é a instância onde o
homem realiza sua humanidade” (BARROS, 2007, p.2).

Nesse sentido, Bosi afirma que “cultura é o conjunto de práticas, de técnicas, de símbolos e de
valores que devem ser transmitidos às novas gerações para garantir a convivência social”. O autor
acrescenta que “para haver cultura é preciso antes que exista também uma consciência colectiva
que, a partir da vida quotidiana, elabore os planos para o futuro da comunidade”. Tal definição dá
à cultura um significado muito próximo do acto de educar, assim, cultura seria aquilo que um
povo ensina aos seus descendentes para garantir sua continuidade e sobrevivência. Em todo
universo cultural, há regras que possibilitam aos indivíduos viver em sociedade, nessa
perspectiva, cultura envolve todo o quotidiano dos indivíduos.

Assim, os seres humanos só vivem em sociedade devido à cultura. Além disso, toda sociedade
humana possui cultura. A função da cultura, dessa forma, é, entre outras coisas, permitir a
adaptação do indivíduo ao meio social e natural em que vive. É por meio da herança cultural que
os indivíduos podem se comunicar uns com os outros, não apenas por meio da linguagem, mas
também por formas de comportamento. Isso significa que as pessoas compreendem quais os
sentimentos e as intenções das outras porque conhecem as regras culturais de comportamento em
sua sociedade.

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A Antropologia da Religião

A Antropologia da Religião, em suas fases iniciais, dedicou-se ao estudo da mitologia dos “povos
primitivos”. Este inicio se deu através do ponto de vista do “homem civilizado”, que entendia a si
mesmo como integrante de uma cultura mais evoluída estando os demais povos em estado de
infantilidade cultural e espiritual.

A própria designação “primitivo” já indicava esta visão depreciativa. Entretanto, com o passar do
tempo, todos os povos e religiões passaram a ser analisados e comparados pelos antropólogos. A
palavra “mito”, então, pelo menos para os antropólogos modernos, perdeu o sentido de “crenças
dos povos antigos” e assumiu a ideia de que todas as religiões, em certa medida, possuem
elementos mitológicos.

Existe até uma anedota sobre mitologia quando comparada com a crença pessoal: “mitologia é a
religião dos outros”. Com o tempo, a Antropologia da Religião passou a evitar esse tipo de
interpretação, pois distorcia a realidade dos povos estudados.

Apesar disso, o fenômeno religioso não deve ser entendido como algo superficial ou mera
superstição. Muito menos como crenças de um povo menos desenvolvido, afinal, trata-se de um
fenômeno universal que acompanhou todos os povos e ajudou a organizar comunidades desde o
surgimento do homem no planeta.

A civilização, como a entendemos hoje, ainda é bastante recente se compararmos com os povos
ancestrais que sobreviveram por milhares de anos com o apoio dos mitos e dos vários ritos de
nascimento, colheitas, iniciação, morte e muitos outros.

Devido a isso, o estudo das religiões atrai antropólogos, filósofos e cientistas que buscam
compreender o comportamento humano e as sociedades como um todo.

O surgimento espontâneo das religiões em absolutamente todos os povos indica, para muitos
desses pesquisadores, uma necessidade de dar sentido ao mundo, à comunidade, à realidade
aterradora e à própria morte.

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E mesmo hoje não existe nação que não tenha nas religiões (ou nos mitos) um dos pilares
culturais de sua formação. Então, de forma alguma as religiões são um objeto de estudo
superficial.

Sobre isso, a autora Maria Lúcia Aranha diz:

O mito é uma intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o


homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações
racionais, mas na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da
afetividade. A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas
acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA &
MARTINS, 2002)

Um dos mais conhecidos estudiosos dos mitos e das religiões, o filósofo romeno Mircea Eliade,
afirma que uma das principais funções dos mitos é estabelecer modelos para as atividades mais
importantes de qualquer comunidade, como os nascimentos e casamentos, inclusive dando um
sentido existencial à morte. Vejamos o que diz Eliade sobre isso:

A forma sobrenatural de descrever a realidade é coerente com a maneira mágica pela qual o
homem age sobre o mundo, como, por exemplo, com os inúmeros ritos de passagem do
nascimento, do casamento, da morte, da infância para a idade adulta. Quando acaba de nascer, a
criança só dispõe de uma existência física; não é ainda reconhecida pela família nem recebida
pela comunidade. São os ritos que se efetuam imediatamente após o parto que conferem ao
recém-nascido o estatuto de „vivo‟ propriamente dito; é somente graças a estes ritos que ele fica
integrado na comunidade dos vivos. No que diz respeito à morte, os ritos são tanto mais
complexos quanto se trata não somente de um „fenômeno natural‟ , mas também de uma
mudança social: o morto deve enfrentar certas provas post-mortem e ser reconhecido pela
comunidade dos mortos e aceito entre eles (ELIADE, 1999).

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Origem da Antropologia da Religião

Mural de animais totêmicos da cultura aborígene. Os povos nativos da Austrália foram a principal
fonte de pesquisa do antropólogo francês Émile Durkheim, considerado o pioneiro da
Antropologia da Religião.

A Antropologia da Religião é uma ramificação da Antropologia, que é o estudo que busca o


conhecimento do ser humano em sua totalidade (do grego anthropos=homem e logos=estudo). O
que significa dizer que a Antropologia procura entender a relação entre os indivíduos e culturas,
suas histórias, linguagens, valores, crenças ou costumes; incluindo a origem, a evolução e as
ações da humanidade.

Os primeiros filósofos já faziam perguntas a respeito do impacto das relações sociais sobre o
comportamento humano. Neste período é que se começa a falar que tudo o que existe possui uma
“medida humana”, quer dizer, o ser humano é o centro da discussão acerca do mundo. Os antigos
escritores gregos relataram passagens a respeito das culturas com as quais mantinham contato
pela vizinhança ou pela guerra, que eram diferentes das suas tradições.

Podemos dizer que nesses textos, encontramos os primeiros vestígios daquilo que hoje chamamos
de Antropologia, porque eram relatados costumes e tradições que pertenciam a um determinado
povo. No que tange a nossa história brasileira, podemos tomar como exemplos a carta de Pero
Vaz de Caminha e os retratos de Jean-Baptiste Debret como valiosos registros antropológicos.

Entretanto, o antropólogo François Laplantine afirma que “o homem nunca parou de interrogar-se
sobre si mesmo. Em todas as sociedades existiram homens que observavam homens. Mas o
projeto de fundar uma ciência do homem uma Antropologia é recente”.

Todos os campos do conhecimento se interessam pelo homem, por isso foram surgindo, ao longo
da história da humanidade, uma série de subdivisões que se propuseram a esta investigação. Na
Antropologia, isso gerou várias ramificações, dentre as quais se situa a Antropologia da Religião.
Algumas delas são:

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 Antropologia Filosófica é a disciplina da Filosofia que tem a tarefa de responder à
seguinte pergunta: “O que é o homem?” Seu enfoque se faz pelo seu objeto formal, ou
seja, o estudo da essência do homem.

 Antropologia Teológica No cristianismo, é a parte da teologia que trata dos vários


aspectos do ato criador de Deus em Jesus Cristo. Para o cristianismo, o homem é o centro
da criação e foi salvo em Jesus, por isso deve responder com o seu comportamento cristão
ao amor e aos benefícios de Deus na esperança da plenitude futura.

 Antropologia Física enfatiza as abordagens descritivas e tipológicas dos povos, baseadas


na morfologia, como a coleta de medidas antropométricas da face, crânio, tronco e
membros das populações pesquisadas.

 Antropologia Ecológica nova disciplina que dá enfoques ecológicos à Antropologia,


abrindo-se para o terreno dos valores éticos, dos conhecimentos práticos e dos saberes
tradicionais.

 Antropologia Médica é parte da Antropologia que considera que a saúde e o que se


relaciona a ela (conhecimento do risco, idéias sobre prevenção, noções sobre causalidade,
idéias sobre tratamentos apropriados etc.) são fenômenos culturalmente construídos e
culturalmente interpretados.

 Antropologia da alimentação – analisa a produção antropológica referente às práticas,


hábitos e concepções de consumo alimentar de segmentos de trabalhadores rurais e
urbanos.

 Antropologia Cultural ou Social – é a área da Antropologia que estuda a cultura e a


sociedade. Estuda-se aqui o comportamento do homem, sobretudo, aqueles que dizem
respeito às atitudes padronizadas e rotineiras. A cultura é vista aqui, não como uma
erudição ou sofisticação, mas como a forma de vida de um grupo de pessoas.

 Antropologia da Religião – é considerada por alguns como uma parte dos estudos
realizados pela Antropologia Cultural ou Social, que pretende fazer uma análise sobre o
mundo simbólico da religião.

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Émile Durkheim e Marcel Mauss: da magia à religião

Arte aborígene contemporânea representando a ave Australian Magpie como um animal


de poder (ou animal totêmico) , conforme a tradição dos povos nativos da Austrália.
Émile Durkheim (1858-1917), antropólogo francês, procurou imprimir uma abordagem
racional à investigação da religião primitiva, vendo na religião uma divinização da
sociedade e das suas estruturas.

O pensamento mágico e o surgimento das religiões

Pinturas rupestres encontradas em Red Rock Canion, no estado de Nevada, nos EUA. Nos
autores citados acima, a importância do “pensamento mágico” é fundamental. Considera-se
“pensamento mágico” a ideia expressa, desde a pré-história, de que existe uma relação de causa e
efeito entre gestos simbólicos e ocorrências futuras. Desta forma de pensar teriam nascido as
religiões. Por exemplo: hoje especula-se que as pinturas rupestres encontradas nas cavernas não
são apenas um registro da comunidade, mas uma representação (ou intenção) do que era desejado
para o futuro como sucesso na caça e fartura, conforme surge frequentemente nas gravuras.

A Antropologia da Religião, é muito comum mesmo no dia de hoje. Isso pode ser constatado em
muitas religiões quando é realizada uma oferta, oração ou gesto ritual buscando algum benefício
futuro. Ou mesmo quando se acredita que um êxito foi resultado das atividades religiosas.

Comparando as diversas religiões conhecidas em sua época e examinando as teorias correntes


sobre a origem da religião, Durkheim conclui que o único elemento essencial, presente em todas
as religiões conhecidas, é a radical distinção entre e o sagrado e o profano. Durkheim, então,
afirma a existência de uma dualidade essencial:

“O sagrado e o profano foram sempre e por toda parte concebidos pelo espírito
humano como gêneros separados, como dois mundos entre os quais não há nada
em comum”. (DURKHEIM – 1989) Segundo o autor, todas as crenças religiosas
têm em comum a classificação dos fenômenos em dois tipos opostos, ou seja: ou
são sagrados, ou são profanos.“A divisão do mundo em dois domínios,

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compreendendo um sagrado e outro profano, tal é o traço distintivo do pensamento
religioso”. (DURKHEIM – 1989).

Os desafios da Antropologia da Religião

Quando o antropólogo se debruça sobre a religião de um povo ou se dedica a estudar aspectos


religiosos presentes em determinada cultura, ele de fato está se aproximando de uma pequena
parcela da experiência humana com o sagrado. “Sagrado”, neste texto, refere-se àqueles aspectos
de todas as culturas que tentam lidar com o temor existencial provocado pelo desconhecido, nos
moldes definidos por Mircea Eliade e Rudolf Otto e talvez percebido por todos os seres humanos.

Efetivamente é imenso o campo das coisas sagradas, e isso torna impraticável para a
Antropologia da Religião abarcar todas as situações e processos culturais contidos nesse âmbito.
Por isso, é preciso para fins analíticos “fragmentar‟ o sagrado para que os estudos de campo
sejam feitos; para que seja possível construir conhecimento.

É importante destacar que os trabalhos no campo da Antropologia da Religião lidam efetivamente


com manifestações concretas da experiência religiosa, observáveis e acessíveis à análise. Este
modo analítico de investigação, contudo, representa a própria limitação do antropólogo, que é, ele
mesmo, fruto de uma sociedade baseada no modo racional e científico de pensar. Portanto, por
mais que o antropólogo se esforce, e por tudo que foi dito aqui, suas vivências e intuições mais
profundas sobre o tema são de difícil comunicação.

Antropologia Cultural, Saúde e Doenças

Os estudos clássicos de Mauss (2003) ressaltam a concepção sobre o corpo como parte de
processo sociocultural, manifestando um momento histórico específico, no qual o mesmo
funciona como um vetor semântico das relações que o homem constrói com si mesmo e com o
mundo. Levi-Strauss (1976) também chamou a atenção para o fenômeno da doença e cura como
uma possibilidade de a cultura reorganizar a desordem e confusão do corpo através de
interpretações que tornem estes estados em um todo coerente.

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Deste modo, a corporeidade humana não se reduz nem se explica apenas por fatores biológicos,
sendo estes apenas causas necessárias, mas não suficientes para dar conta do corpo enquanto
fenômeno social.

O imperativo que a noção de “eu” exerce na sociedade contemporânea tem cristalizado a ideia de
individuus enquanto entidade não divisível e representada perfeitamente no corpo mecânico .
Está é uma premissa central no ideário individualista o indivíduo é um ser único e irredutível.
Isso tem levado muitos estudos epidemiológicos a conclusões mecanicistas sobre o acesso aos
serviços de saúde (POOLE and ROTHMAN, 1998).

Por causa dessas aporias conceituais – becos sem saída – cada vez mais as ciências sociais, em
especial a Antropologia, tem sido convocado por estudiosos da saúde para desatar os nós
conceituais com os quais concepções meramente biomédicas têm se confrontado ao investigar a
demanda por serviços de saúde (ATKINSON, 1993).

Doença Individual, Problema Coletivo

Um ponto importante desta investigação é a compreensão da doença enquanto acontecimento


individual, mas também familiar. Tem enfatizado o papel da rede familiar e comunitária no
cuidado com a saúde de seus membros. Certamente cada membro da família mobiliza uma rede
de suporte diferente, mas devemos considerar a doença também como uma mudança na
organização familiar.

Destaca-se ainda não apenas a influência da família sobre seus membros, mas também a relação
da família com o conjunto das relações sociais. DaMatta (1987) chama a atenção para este ponto
fundamental: a relação familiar como paradigma para a compreensão das relações sociais no
Brasil. A família enquanto valor central na sociedade brasileira nos permite compreender
algumas premissas essenciais a respeito dos itinerários terapêutico uma vez que lança luz sobre a
relação dos indivíduos com a res publica – a coisa pública. Isso porque a relação dos indivíduos
com as instituições públicas e sociais são fortemente marcados pela lógica pessoal de base
familista.

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Assim, se um membro da família está doente todos os membros da família tem o dever moral de
acionar suas redes de contatos em busca de auxílio, não sendo raro o relato de pacientes que
conseguiram atendimento através de ajuda de “um conhecido/amigo/colega” que trabalha em
determinado serviço público de saúde.

O Etnocentrismo

Antes de definir o que é etnocentrismo, é preciso entender o conceito de cultura e como ele está
interligado com o conceito de etnocentrismo. Cultura é um conceito amplo, existem vários tipos
de definições.

Para o antropólogo Franz Boas:

“Cultura abrange todas as manifestações de hábitos sociais de uma comunidade, as


reacções do indivíduo afectado pelos hábitos do grupo em que vive e o produto
das actividades humanas, como determinado por esses hábitos.” (Boas, 1930,
tradução própria)

A palavra etnocentrismo é um conceito que vem dos radicais “etno” (etnia) e “centrismo”
(centro), portanto, etnocentrismo é o ato de julgar a cultura do outro baseado na sua própria
crenças, moral, leis, costumes e hábitos.

Por exemplo: achar que a cultura ocidental é o modelo de sociedade correta e a cultura do oriente
médio é errada ou vice-versa.

O conceito de etnocentrismo

O antropólogo britânico Edward Tylor (1832-1917) em seus estudos utilizava a corrente


evolucionista que embasava a existência de cultura superior e inferior. A corrente evolucionista
acredita que a sociedade começa de forma primitiva até chegar ao progresso.

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Conforme as palavras de Edward Tylor:

Comparando os vários estágios de civilização entre as raças conhecidas da história, com


ajuda da inferência arqueológica derivada dos restos de tribos pré-históricas, parece
possível formar uma opinião, ainda que grosseira, sobre uma condição anterior geral do
homem. Do nosso ponto de vista, essa condição deve ser tomada como a primitiva,
mesmo que na realidade, algum estágio ainda mais remoto possa ter existido antes dela.
Essa condição primitiva hipotética corresponde, em considerável medida, à das tribos
selvagens modernas que, apesar da diferença e distância entre si, têm em comum certos
elementos de civilização que parecem resíduos de um estágio anterior da raça humana em
geral. Se essa hipótese for verdadeira, então, apesar da contínua interferência da
degeneração, a tendência central da cultura, desde os tempos primevos até os modernos,
foi avançar, a partir da selva geria, na direcção da civilização (TYLOR, 2005).

Entretanto, o etnocentrismo sempre existiu. Os europeus acreditavam que a cultura europeia era a
certa e que todas as outras culturas deveriam compartilhar dos mesmos valores. Ao longo da
história vários momentos etnocêntricos foram acontecendo, a exemplo a Segunda Guerra
Mundial com o Nazismo, que acreditava na superioridade da raça ariana sobre as outras, e a
Guerra Fria onde os Estados Unidos da América – EUA e União Soviética competia para impor
qual cultura era melhor.

Os tipos de etnocentrismo

O etnocentrismo existe até hoje e pode ser expressado de diversas formas, desde as mais
explícitas e até veladas. São práticas para classificar, subjugar e inferiorizar outras culturas. A sua
narrativa é sempre impor uma opinião, julgamento, doutrina, moral, valores, segundo a sua
própria visão de mundo ou de determinado grupo. Ela não busca compreender o mundo na visão
do outro, e sim utilizar a violência verbal ou física.

São exemplos de etnocentrismo a intolerância religiosa e a xenofobia. No caso da intolerância


religiosa, ou etnocentrismo religioso, o intolerante acredita que sua religião é a certa e todas as
outras devem seguir os mesmos preceitos.

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Conclusão

Concluído a antropologia em geral tem origem do grego “estudo do homem”. Comummente


denominada “a mais científica das humanidades e a mais humana das ciências”. Que busca
desenvolver uma observação holística da humanidade, incluindo factores que norteiam a
sociedade. Destaca que a antropologia, como espaço de análise, denomina-se a partir de vários
campos: A antropologia física que trabalha as questões relativas à evolução humana, com
inquietações em esclarecer as razões das contradições das populações humanas. A antropologia
social que destaca as dimensões sociais da vida humana.

O ser humano é um ser social, que integra uma sociedade e estrutura seu olhar de mundo. É a
antropologia cultural que enfatiza uma ordem de símbolos, ideias e significados que constrói uma
cultura. Estes campos que concretizam a Antropologia social e cultural, originam a antropologia
médica que direcciona-se para a medicina e em outras ciências naturais, preocupando-se com as
manifestações biológicas principalmente associada à saúde e à doença.

Os antropólogos trabalham com aspectos relacionados à alimentação, cuidados corporais, morte,


concepções, doenças e plantas medicinais. Assim pensando exclusivamente na doença, Minayo
comenta que “a doença exprime hoje e sempre um acontecimento biológico e individual e uma
angústia que pregava o corpo social, confrontando com as turbulências do homem enquanto ser
total” A doença remete-se à maneira que as pessoas situam-se diante ou assumem a situação de
enfermidade .

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Referências Bibliográficas

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Perseu Abramo, 2006.
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