Competências Enem PDF
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Competência II: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de
conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo;
O tema deve ser apresentado por meio de argumentação consistente, a partir de um repertório
sociocultural produtivo, e apresentar excelente domínio do texto dissertativo-argumentativo para
conseguir a nota máxima nesse conceito.
REPERTÓRIO
• ser legitimado: significa que ele precisa ser aceitável na sociedade. Por exemplo,
segundo.
• ser pertinente: quando o repertório relaciona-se diretamente com o assunto
abordado no tema. Por exemplo, num tema sobre educação, é pertinente citar uma
• ser produtivo: significa que o repertório deve ter uma reflexão, ou seja, você
precisa relacionar o conhecimento com o tema que está sendo discutido. Muita
Fonte: https://g1.globo.com/educacao/enem/2021/noticia/2022/04/08/espelhos-da-redacao-do-
enem-2021-sao-divulgados.ghtml
Análise da redação
Nesse primeiro exemplo, perceba que a participante apresenta logo no primeiro parágrafo um
repertório sociocultural produtivo ao tema – o livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. Fernanda faz
uso da narrativa ficcional para contextualizar o tema e associá-la à realidade no Brasil – a falta de
acesso à cidadania.
A estudante ainda traz outros dois repertórios ao longo da redação (o pensamento de um historiador
e de uma antropóloga) para fundamentar a sua redação, mostrando assim uma ampla bagagem
cultural (veja os repertórios destacados em negrito). Além disso, no último parágrafo, ela desenvolve
uma proposta de intervenção completa contendo ação, agente, modo/meio, finalidade e detalhamento.
1 – Enem 2021 – Redação nota 1000
Tema: “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”
Participante: Fernanda Quaresma.
“Em ‘Vidas secas’, obra literária do modernista Graciliano Ramos, Fabiano e sua família
vivem uma situação degradante marcada pela miséria. Na trama, os filhos do protagonista não
recebem nomes, sendo chamados apenas como o ‘mais velho’ e o ‘mais novo’, recurso usado pelo
autor para evidenciar a desumanização do indivíduo. Ao sair da ficção, sem desconsiderar o contexto
histórico da obra, nota-se que a problemática apresentada ainda percorre a atualidade: a não garantia
de cidadania pela invisibilidade da falta de registro civil. A partir desse contexto, não se pode hesitar
– é imprescindível compreender os impactos gerados pela falta de identificação oficial da população.
Com efeito, é nítido que o deficitário registro civil repercute, sem dúvida, na persistente falta de
pertencimento como cidadão brasileiro. Isso acontece, porque, como já estudado pelo historiador
José Murilo de Carvalho, para que haja uma cidadania completa no Brasil é necessária a
coexistência dos direitos sociais, políticos e civis. Sob essa ótica, percebe-se que, quando o pilar
civil não é garantido – em outras palavras, a não efetivação do direito devido à falta do registro em
cartório –, não é possível fazer com que a cidadania seja alcançada na sociedade. Dessa forma, da
mesma maneira que o ‘mais novo’ e o ‘mais velho’ de Graciliano Ramos, quase 3 milhões de
brasileiros continuam por ser invisibilizados: sem nome oficial, sem reconhecimento pelo Estado e,
por fim, sem a dignidade de um cidadão.
Além disso, a falta do sentimento de cidadania na população não registrada reflete, também,
na manutenção de uma sociedade historicamente excludente. Tal questão ocorre, pois, de acordo
com a análise da antropóloga brasileira Lilia Schwarcz, desde a Independência do Brasil, não
há a formação de um ideal de coletividade – ou seja, de uma ‘Nação’ ao invés de, meramente,
um ‘Estado’. Com isso, o caráter de desigualdade social e exclusão do diferente se mantém,
sobretudo, no que diz respeito às pessoas que não tiveram acesso ao registro oficial, as quais,
frequentemente, são obrigadas a lidar com situações humilhantes por parte do restante da sociedade:
das mais diversas discriminações até o fato de não poderem ter qualquer outro documento se, antes,
não tiverem sua identificação oficial.
Portanto, ao entender que a falta de cidadania gerada pela invisibilidade do não registro
está diretamente ligada à exclusão social, é tempo de combater esse grave problema. Assim,
cabe ao Poder Executivo Federal, mais especificamente o Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (agente), ampliar o acesso aos cartórios de registro civil (ação). Tal ação deverá
ocorrer por meio da implantação de um Projeto Nacional de Incentivo à Identidade Civil (modo/meio),
o qual irá articular, junto aos gestores dos municípios brasileiros, campanhas, divulgadas pela mídia
socialmente engajada, que expliquem sobre a importância do registro oficial para garantia da
cidadania, além de instruções para realizar o processo (detalhamento), a fim de mitigar as
desigualdades geradas pela falta dessa documentação (finalidade). Afinal, assim como os meninos
em ‘Vidas secas’, toda a população merece ter a garantia e o reconhecimento do seu nome e
identidade.”