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Olinda Evangelista1
Eneida Oto Shiroma2
1 Introdução
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Professora do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE)-UFSC. Mestre e Doutora em Educação-
PUC-SP. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Política
Educacional e Trabalho (GEPETO).
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Professora do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE)-UFSC. Doutora em Educação pela
Unicamp. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Coordenadora do Grupo de Estudos sobre
Política Educacional e Trabalho (GEPETO).
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Pesquisadores do Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho (GEPETO) têm trabalhado
nessa direção e alguns resultados de pesquisas podem ser encontrados no livro O que revelam os slogans
na política educacional (EVANGELISTA, 2014), no qual tematizamos os slogans “Todos pela
Educação”, “Educação ao Longo da Vida”, “Inclusão”, “Educação de Qualidade”, “Educação para alívio
da pobreza”, “sociedade do conhecimento”.
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Neste texto sistematizamos as reflexões desenvolvidas no Minicurso Trabalho e Educação:
contribuições do marxismo para a análise de políticas educacionais, ministrado no GT9 Trabalho e
Educação durante a 37ª Reunião Nacional da ANPEd, em Florianópolis em outubro de 2015. O minicurso
baseou-se nos estudos desenvolvidos pelo Gepeto, especialmente em duas publicações: “Decifrar textos
para compreender a política: subsídios teórico-metodológicos para análise de documentos” (SHIROMA,
CAMPOS; GARCIA, 2005) e “Apontamentos para o trabalho com documentos de política educacional”
(EVANGELISTA, 2012).
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Referimo-nos a documentos de vários tipos como leis, documentos oficiais e oficiosos, dados
estatísticos, documentos escolares, correspondências, livros, regulamentos, relatórios.
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As produções do grupo podem ser encontradas no site< http://www.gepeto.ced.ufsc.br>.
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Dentre os teóricosque lastreiam nosso trabalho estão Marx, Engels, Gramsci, Thompson e Mészáros.
Também nos referenciamos em pesquisadores contemporâneos como José Paulo Netto, Roberto Leher,
Virgínia Fontes, Lucia Neves, Miriam Limoeiro Cardoso, Maria Ciavatta, Gaudêncio Frigotto, Celso
Ferretti, e outros pesquisadores do GT9 que têm pesquisado as interfaces entre Trabalho, Política e
Educação. Os mencionados não esgotam o campo de autores com os quais trabalhamos, posto que as
temáticas específicas nos levam a estudar a produção acadêmica, tendo em vista entender como uma dada
problemática é abordada por diferentes perspectivas teóricas. Com o balanço da produção, pretendemos
entender os alcances e limites dessas vertentes para discutir os nossos próprios.
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explicações, históricas ou anistóricas, acerca das questões sociais que nos afligem no
presente e seus projetos de futuro.
De nosso ponto de vista, a apropriação do sentido das políticas educacionais,
seja nos documentos escritos ou nos loci de sua realização prática, se realiza lastreada
em algumas referências conceituais. Trabalhamos com categorias do materialismo
histórico não como parte de uma teoria reificada, mas como ferramentas para ler o real,
utilizando-as no processo de construção do conhecimento sobre a realidade. Conquanto
no início de uma pesquisa as categorias intelectivas possam não estar plenamente
esclarecidas, sem elas o pesquisador corre o risco de resvalar na descrição e nela
permanecer. A teoria social de Marx fornece um arcabouço teórico-metodológico para
escapar deste estágio, tendo por suporte a crítica da economia política (MARX, 2003).
Netto (2003, p.14) compreende as políticas sociais como resposta do Estado
burguês do capitalismo monopolista às demandas postas pelo movimento social,
atingido pela “questão social”. O Estado, especialmente a partir da década de 30 do
século XX, se antecipa às pressões populares a fim de evitar que tomem forma
organizada e mobilizadora, fornecendo uma solução neutralizadora dos conflitos
classistas. O Estado realiza, assim, a dupla função de garantidor do processo de
acumulação capitalista e legitimador da ordem burguesa (NETTO, 2003, p. 21). Para o
autor, as políticas sociais em geral, e as de educação em particular, constituem campos
de tensão e, em sua formulação, há embate de projetos, concepções e objetivos distintos.
Concordamos com tal análise, pois temos em vista discutir como a política educacional
se articula a essa garantia e legitimação. O autor considera impossível analisar as
políticas educacionais sem considerar: 1) os conceitos de Estado e Sociedade Civil; 2)
as determinações econômicas das políticas sociais e, nelas, das educacionais; 3) a
circunscrição rigorosa da historicidade e desenvolvimento dos problemas que tal
política educacional anuncia que pretende resolver. O Método da Economia Política
abarca tais pressupostos fornecendo o conceitual necessário para a lida com os
documentos que examinamos em nossas pesquisas. O concreto sensorial é o ponto de
partida que permite perquirir as determinações mais simples que, na imediaticidade,
mostram-se como singularidades (NETTO, 2011, p.45). Para o autor,
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social – é, tão somente, o componente necessário para que se inicie o seu estudo e se
alcance o seu conhecimento teórico (NETTO, 2015, p.19)
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A seleção inicial dos documentos que farão parte do estudo deve seguir critérios de pertinência aos
objetivos da pesquisa proposta; levantamento e compilação dos documentos de política educacional
(nacionais e internacionais) que tratem da política, dos principais conceitos que veicula. A pesquisa pode
ser feita em base de dados, sites nacionais e internacionais, em suportes materiais diferentes, sem
esquecer as bibliotecas. Em paralelo, pode-se fazer compilação de textos (artigos, livros, teses e
dissertações, trabalhos em anais, entre outros) que discutam o conceito ou temática/problemática,
forneçam elementos para compreender a conjuntura no período analisado, textos críticos que auxiliem a
discussão do papel de dado conceito nessa política e delimitação e justificação da periodização. Além de
selecionar os textos com os quais se vai trabalhar é necessário explicitar os critérios pelos quais foram
escolhidos em detrimento de outros.
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Considerando-se que o pesquisador tenha clareza, pelo menos, da temática do trabalho, local e período a
serem abordados – todos passíveis de alteração se o estudo o exigir –, é importante a seleção inicial dos
documentos que farão parte do corpus documental final. A escolha preliminar, ainda caótica, deve
respeitar a pertinência aos objetivos inicialmente propostos, evitando-se tanto o alargamento exagerado da
busca, quanto o seu estreitamento. Nesse momento, todos os materiais encontrados podem ser
importantes e não devem ser descartados a priori.
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Dessa perspectiva deriva que não vemos o mundo como ele é; assim também a
política em sua concretude não pode ser apreendida imediatamente na documentação.
Necessitamos das mediações da teoria, da intelecção, da disciplina intelectual, da
reflexão para que possamos ultrapassar os fenômenos, descolarmo-nos de sua aparência
imediata para conhecê-los em suas determinações, isto é, alcançar sua essência. O
documento indica a essência da política, mas, ao mesmo tempo a esconde.
Necessitamos de um método para desconstruir este todo ingenuamente percebido em
sua aparência, para chegarmos à produção de teoria, de conhecimento sobre o objeto,
sua estrutura e sua dinâmica.
Precisamente um dos grandes desafios postos é o de explicitar o que o discurso
dominante esconde sob sua aparência de verdade. Por meio de análises sucessivas
buscamos chegar a representações cada vez mais simples; “do concreto inicialmente
representado passaríamos a abstrações progressivamente mais sutis até alcançarmos as
determinações mais simples” para então empreender a viagem de volta, explicando a
política como “uma rica totalidade com múltiplas determinações e relações” (MARX,
2003, p.109). Assim, não se trata de entender o significado de determinado discurso
contido num documento, nem de reproduzir suas proposições, mas de explicar a que
veio. Discursos políticos têm várias funções e operam de vários modos, sendo a
repetição de ideias-força – os slogans – pistas importantes para o pesquisador interrogar
e desocultar o consenso que pretende forjar. Expressões como “Pátria educadora”,
“Todos pela Educação”, “dar voz aos pobres”, “empoderar”, “empreender”, entre
outras, são formulações que elidem suas determinações. Tais elisões abastecem uma
percepção glosada das relações sociais de produção.
Cabe ao pesquisador interpelar o documento e verificar por que foi organizado
em torno de determinados termos e por que contém um tipo específico de
argumentação; que medida propõe, como a justifica, por que foi escolhida em
detrimento de outras, quem a financia, que mudanças acarretará, a que grupos favorece
ou prejudica? Para que foi produzido? A que fins se presta? Por qual classe social ou
fração de classe foi demandado e para qual classe social ou fração de classe foi
ordenado? Que elementos ideológicosforam utilizados para produzir o consenso em
torno da política em tela? Em outras palavras: quais as implicações de determinados
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discursos, concepções e ideologias que veiculam para a educação? Indo além: “como a
prática educativa se articula com a prática social global, constituindo-se em prática
mediadora?” (FRIGOTTO 1984, p. 23 apud CIAVATTA, 2001, p.132). Para Ciavatta
(2001, p.137),
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Este tópico corresponde à versão ligeiramente modificada do capítulo “Apontamentos para o
Trabalho com Documentos de Política Educacional”de Olinda Evangelista,publicado no
livroPesquisa em Trabalho, Educação e Políticas Educacionais (ARAÚJO; RODRIGUES, 2012).
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Referimo-nos a documentos oficiais e oficiosos de política educacional publicados em suporte de papel
ou eletrônico: leis, documentos oficiais e oficiosos, dados estatísticos, documentos escolares,
correspondências, livros de registros, regulamentos, relatórios, livros, textos e correlatos. Contudo,
documento pode ser qualquer tipo de registro histórico – fotos, diários, arte, música, entrevistas,
depoimentos, filmes, jornais, revistas, sites, e outros – e compõe a base empírica da pesquisa, neste caso
aquele destinado à difusão de diretrizes políticas para a educação e será analisado como fonte primária.
Ressalte-se que não há “superioridade” de um documento sobre outro. Todos os documentos são
importantes quando definidos no âmbito de um projeto de produção de conhecimento cuja finalidade seja
a de compreender objetivamente o mundo e sobre ele agir conscientemente.
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McNally (1999, p. 33) cita como extremo dessa perspectiva uma passagem do romance Nice Work, de
David Lodge, em que se afirma: “somos aquilo que nos fala”.
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O autor refere Marx e Engels em A ideologia alemã: “a língua é tão antiga quanto a consciência, é a
consciência prática, real, que existe também para outros homens.” (MCNALLY, 1999, p. 35).
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são indeléveis tanto na atribuição de sentidos à linguagem quanto na sua supressão. Este
é um alerta necessário, pois estamos cercados por discursos que apresentam uma face
humanitária da política, aparentemente preocupada em combater as injustiças, a
pobreza, incluir os excluídos, representantes de uma abordagem que deliberadamente
descarta a relação entre classes sociais. São facetas do capitalismo humanizado presente
em parte substantiva dos documentos nacionais e internacionais sobre educação e,
também, da literatura da área. Nestas circunstâncias, o pesquisador precisa ter claro que
o discurso sobre o real não é o real; um discurso é histórica e concretamente produzido e
seu conteúdo e forma de disseminação obedecem à determinada intencionalidade
McNally (1999, p. 44) assinala que “Vivemos imersos em um mundo de
conceitos que pressupõem alguma visão geral das coisas”, isto é, as condições
objetivadas na relação social entre situações de classe diferentes, na relação entre capital
e trabalho, geram atribuições de sentidos diferentes à linguagem, assim como
possibilidades diferentes de elaboração de compreensões do mundo, sem se afirmar, de
resto, que os sujeitos se encontram presas de suas circunstâncias históricas. O
pensamento do autor corrobora a premissa gramsciana de que “tôda linguagem contém
os elementos de uma concepção de mundo e de uma cultura” e por isso mesmo expressa
a “maior ou menor complexidade da [...] concepção de mundo” de um sujeito histórico
(GRAMSCI, 1966, p. 13). Sua célebre frase – todos os homens são “filósofos” – gerou
inúmeros desdobramentos. Destaca-se o entendimento de que a filosofia está contida
“[...] na própria linguagem, que é um conjunto de noções e de conceitos determinados e
não, simplesmente, de palavras gramaticalmente vazias de conteúdo” (GRAMSCI,
1966, p. 11). Pode-se aduzir, então, que todo portador de linguagem é portador de
filosofia, entendida como concepção de mundo, como consciência historicamente
produzida. Se todo ser humano é portador de consciência, esta tanto pode aprisioná-lo
em razão de seus limites na apreensão concreta do mundo, quanto libertá-lo dos grilhões
que essa existência produz. Contudo, como assinala Gramsci (1966), a consciência
humana é heteróclita, razão pela qual as concepções essenciais de mundo – derivadas da
mútua determinação entre capital e trabalho – podem compô-la, em graus variados, em
função de sua inserção contraditória no mundo.
Recorremos a esta breve digressão com o intuito de sinalizar nossa compreensão
de que a história se constrói por relações sociais concretas e não por divergências
discursivas (MCNALLY, 1999, p. 39). Importante ressaltar que as relações sociais, as
relações entre interesses antagônicos, entre perspectivas de classes divergentes – entre
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Esse é um ponto de partida sem o qual não se chega à objetividade que conforma
o documento e a política, pois discursos não são “aleatórios e arbitrários” (MCNALLY,
1999, p. 43). Pensando nesta esteira, se os documentos veiculam discursos que não são
aleatórios, nem arbitrários, qual o seu sentido? Thompson (1981, p. 57-58) argumenta
que eles ajudam “a conhecer quem somos, porque estamos aqui, que possibilidades
humanas se manifestaram, e tudo quanto podemos saber sobre a lógica e as formas de
processo social.” Trabalhar com documentos supõe, portanto, considerá-los resultado de
práticas sociais e expressão da consciência humana possível em um dado momento
histórico. Compreendê-los pode significar avançar na direção da apropriação, segundo
Gramsci (1966, p. 12), da “consciência daquilo que somos realmente”, consciência
concebida como “produto do processo histórico até hoje desenvolvido” do qual é
preciso fazer o “inventário”.
Marx (1978, p. 41) nos Manuscritos econômico-filosóficos apresenta uma
passagem preciosa para o entendimento da questão:
E como tudo que é natural deve nascer, assim também o homem possui seu ato
de nascimento: a história, que, no entanto, é para ele uma história consciente, e
que, portanto, como ato de nascimento acompanhado de consciência é ato de
nascimento que se supera.
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O sentido atribuído à hegemonia é o de “concepção de mundo”. Não se trata, neste momento, de seu
sentido de dominação, de exercício do poder, segundo perspectiva gramsciana.
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Referência a “Sartre aujourd’hui”, l’Arc, traduzido para o inglês em Telos, 1971.
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Entre as tarefas do pesquisador está a de envidar todos os esforços para encontrar fontes significativas.
Não se desiste de uma trajetória de pesquisa sem que seja necessário. De outro lado, o pesquisador não
pode dar conta de todas as fontes existentes. Escolhas são necessárias e devem obedecer a critérios
derivados da intencionalidade da investigação. Sendo impossível ter acesso a todos os documentos que se
relacionam ao tema, é fundamental que se possa encontrar e conhecer os que o determinam
historicamente e sem os quais a pesquisa não avança em direção ao conhecimento.
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e sofrem objetivações específicas pelo que se deve evitar confundir a sua existência com
a do documento em exame. A objetividade do pesquisador – “produto do processo
histórico até hoje desenvolvido” (GRAMSCI, 1966, p. 12) – não pode ser perdida de
vista, pois é necessária para o trânsito que fará de uma fonte a outra, sem perder a
capacidade de análise e distanciamento. Thompson (1981) chama a atenção para a
necessária “vigilância metodológica” do sujeito sobre si e sua relação com o tema e
fontes de pesquisa. Documentos oferecem pistas, sinais, vestígios e compreender os
significados históricos dos materiais encontrados é sua tarefa17. Importará compreender
sua posição em relação à sua história, à história de seu tema e à história da produção de
sua empiria.
Deparamo-nos aqui com outro problema: o das temporalidades inscritas no
trabalho do pesquisador. A primeira está no tempo de produção das fontes primárias,
das marcas originais de sua determinação histórica. A segunda está impressa nas fontes
secundárias cujas interpretações são produzidas em seu tempo sobre o tempo das fontes
primárias que analisa. A terceira é a do pesquisador que, vivendo num dado momento,
relaciona-se com o tempo das fontes e o tempo das análises que sobre elas se
produziram. Envolvido nessa tríplice temporalidade, o conhecimento produzido pelo
pesquisador em seu tempo será mediado pela análise da produção “do” período e
“sobre” o período. Fontes e pesquisador sofrem objetivações que lhes são específicas e
precisam estar claras para o sujeito18.
17
A inquirição é um dos momentos fundamentais de teorização no processo de investigação.
18
Para maior clareza citamos um exemplo. No caso da década de 1930, o pesquisador lida com o material
produzido nessa década; com a produção sobre a década, que pode ser escolhida, posto que tal década foi
discutida em anos subsequentes; e com a sua própria temporalidade. O cuidado a ser tomado refere-se à
possibilidade de o pesquisador tomar a interpretação sobre a década de 1930 como expressão objetiva das
questões daquele período, perdendo de vista os elementos que sua empiria apresenta e que poderiam
permitir contestar a leitura em questão. Este é um dos aspectos. Há outros que são complexos,
particularmente quando se trata de pesquisa que contempla o tempo do próprio pesquisador. Pode-se
confundir conhecimento objetivo com defesa dos interesses que originaram este ou aquele documento. De
outro lado, pode ocorrer que a fonte seduza o pesquisador, levando-o a perder de vista os interesses que a
produziram. É o caso do Relatório Delors (1999) que teve seu espírito “humanista” de civilização do
capitalismo legitimado na área educacional. Cabe aqui uma passagem de Marx (1980, p. 5-6): “Nós, de
nossa parte, nos embuçamos com nosso capuz mágico, tapando nossos olhos e nossos ouvidos, para poder
negar as monstruosidades existentes.”
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Trata-se, então, de encontrá-las, sem endeusá-las ou descartá-las aleatoriamente.
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Para se pensar com maior precisão no corpus documental é preciso definir local e período da pesquisa, o
que se consegue com os aportes teóricos preliminares e com algum domínio da “história” do tema. Ainda
que o lócus e o tempo sejam provisórios, eles permitirão localizar e selecionar fontes, o que depende de
inúmeras variáveis, entre elas a de sua acessibilidade, dado que as fontes estão dispersas e nem sempre
disponíveis imediatamente. No caso do Brasil este é um problema bastante grave. Inúmeros fundos
documentais foram destruídos; outros foram retirados de seus lugares de guarda e apropriados
privativamente; outros são mantidos em condições degradantes e sofrem risco de perda; outros são
jogados fora por desconhecimento de sua importância na preservação da memória nacional; milhares
foram vendidos como papel velho; outros existem, mas estão perdidos ou inacessíveis à consulta pública.
Fazer pesquisa no país em condições tão adversas requer do pesquisador um profundo compromisso com
a consecução da verdade histórica. Temos aqui que se se deve encontrar onde os documentos dormem, ou
hibernam, deve-se também saber que nunca todos serão encontrados, mesmo porque não é possível saber-
se quais serão “todos”.
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Segundo Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 428) “no início dos anos de 1990, predominaram os
argumentos em prol da qualidade, competitividade, produtividade, eficiência, e eficácia; ao final da
década percebe-se uma guinada do viés explicitamente economicista para uma face mais humanitária na
política educacional, sugerida pela crescente ênfase nos conceitos de justiça, equidade, coesão social,
inclusão, empowerment, oportunidade e segurança.”
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está e as vozes que pretendem calar. Ler nas entrelinhas parece recomendação supérflua,
entretanto deve-se perguntar-lhe o que oculta23 e por que oculta: fazer sangrar a fonte.
Convencidos de que toda fonte traz uma compreensão de mundo e gera uma
leitura e que toda leitura tem comprometimento, perguntamos: onde reside a
objetividade da fonte e de sua interpretação? O conhecimento acumulado é passível de
crítica, de revisão ou deve ser ignorado? Questões desse gênero não podem ser feitas
quando se ignora o conhecimento acumulado e a problemática que, de fato, se está
investigando. O risco a enfrentar, neste caso, é o de extrair conclusões assentadas na
ignorância sobre o tema, afirmações desprovidas de uma base empírica. Como
assinalado, a produção existente é importante, mas é necessário evitar a confusão entre
“análises da realidade” com a realidade propriamente dita, pondo-se em causa a
objetividade da realidade e a do documento24.
23
A análise crítica de documentos de política educacional requer que se problematize as concepções de
“aluno”, “escola”, “aula”, “ensino”, “professor”, “competência”, “gestor”, “qualidade”, “sociedade civil”,
“aprendizagem”, expressas ou ocultas no texto.
24
Para Semeraro (2001, p. 97), é preciso “enxergar a complexidade do real, [...] a multiplicidade de suas
partes, suas contradições fundamentais, seus nexos mais profundos e os caminhos para a recomposição do
mundo a um nível superior e mais avançado de compreensão e unidade.”
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Trata-se então de admitir, com Gramsci, que todos os homens são filósofos, isto
é, capazes de pensar, de teorizar25. Entretanto, teorizar no campo da pesquisa não pode
consistir em lidar com os elementos do senso comum. É preciso um aporte teórico que
favoreça análises objetivas do real objetivo26. Considerando, com Thompson, que a
teoria é uma sucessão de hipóteses que se desconfirmam ou se confirmam, num
movimento continuamente aberto, não pode ser tomada como premonitória. Não existe
“uma verdade” como lugar abstrato e universal. As categorias de pensamento são
mobilizadas para a compreensão do tema de estudo e não para seu encarceramento
empirista ou idealista. Desse modo, se não existe um “quadro” teórico cristalizado,
imutável, possível de ser “usado” em qualquer situação, não existe uma empiria que
nele se encaixe apesar dele. A teoria deve estar aberta para favorecer o pensar e repensar
a empiria, as fontes, os documentos, e para repor-se a si própria como instrumento de
intelecção27.
A leitura nos permite apreender no documento as pistas para compreender a
racionalidade política pesquisada. Um trabalho cuidadoso de análise busca a gênese da
política, revela as ideias mestras que estão na sua origem ou motivação para
determinada reforma. Neste trabalho paciencioso é fundamental pensar a política na
história, nos embates que se manifestam na produção e aprovação de um texto político,
mas que não se originam no parlamento ou Conselhos. Quais as suas determinações?
Por que aquela política está sendo criada neste momento histórico? A quem interessa? O
que vem amenizar ou induzir?
Estudar uma política requer descobrir os sujeitos, individuais ou coletivos, de
sua formulação, sabendo que não operaram espontaneamente. É preciso localizar as
forças políticas que dão forma àquelas determinações, quem promove ou obstaculiza tal
política, quem são seus implementadores, como se efetiva, que segmentos serão
atingidos e qual sua participação no ciclo da política. Investigar suas origens requer
25
Semeraro (2001, p. 101) assinala que, para Gramsci, “na consciência dos oprimidos há um amálgama
contraditório de valores, em parte absorvido da visão de seus governantes e, em parte, derivados do
próprio saber popular e das próprias experiências sociopolíticas.”
26
Thompson (1981, p. 55) afirma: “A pátria da teoria marxista continua onde sempre esteve, no objeto
humano real, em todas as suas manifestações (passadas e presentes); [...].” Dessa formulação resulta que
devemos evitar os lamentos pelo que a realidade não é, isto é, cobrar da realidade algo que nela não está
inscrito, embora fosse desejado pelo sujeito.
27
Não se trata de pretender que o real se encaixe na teoria; menos ainda de que a empiria em si apresente
a “verdade”. O que está em causa é a relação teoria-empiria e as condições dessa relação, pela intervenção
do sujeito, produzir as condições de apreensão da realidade e de sua transformação. O método é, “ao
mesmo tempo, [...] lógica e método argumentativo, [...] princípio do conhecimento e instrumento de ação,
[...] modalidade constitutiva do próprio real.” (SEMERARO, 2001, p. 102).
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Segundo Duarte (2005, p. 98), “Não se pode reduzir uma teoria a um glossário dos conceitos com os
quais ela trabalha, pois o próprio significado dos conceitos depende das relações existentes entre eles no
escopo da teoria. Mas eu me arriscaria a afirmar que alguns conceitos são necessários para a constituição
de uma teoria crítica em educação, tais como: dialética, totalidade, contradição, mediação, historicidade,
universalidade, sociabilidade, conhecimento, materialismo, idealismo, empírico-abstrato-concreto,
trabalho, atividade consciente, objetivação, apropriação, humanização, alienação, fetichismo, divisão
social do trabalho, propriedade privada, mercadoria, relações de produção, forças produtivas, capital,
ideologia, hegemonia, luta de classes, consciência, individualidade (ou personalidade) em-si e
individualidade (ou personalidade) para-si, gênero humano, esferas de objetivação do gênero humano,
cotidiano e não cotidiano, trabalho educativo, pedagogias críticas (e não críticas), especificidade da
educação escolar, entre outros. Essa listagem é apenas exemplificativa, não esgotando o rol dos conceitos
necessários a uma teoria crítica em educação e não significando que toda a pesquisa crítica em educação
deva trabalhar explicitamente com todos esses conceitos. Mas se a explicitação de todos eles não é
indispensável a uma pesquisa crítica em educação, por outro lado, a recusa de alguns desses conceitos
pode ser sintoma de uma adesão espontânea ou consciente à ideologia dominante.”
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Para Thompson (1981, p. 49) o conhecimento é sempre: “a) provisório e incompleto (mas não, por isso,
inverídico), b) seletivo (mas não, por isso, inverídico), c) limitado e definido pelas perguntas feitas às
evidências (e os conceitos que informam essas perguntas), e, portanto, só ‘verdadeiro’ dentro do campo
assim definido.”
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[...] hay fines o intenciones que aspiran a realizarse, y, por tanto, una actividad de la
conciencia que se despliega tanto em la producción del proyecto de que se parte como
en nel processo práctico de su realización, y, finalmente, en el resultado de éste en
cuanto que en él se objetiva o materializa el sujeto.
Não há dúvida de que o sujeito que pesquisa, ser social, para dimensionar as
implicações e desdobramentos teórico-práticos da consecução da finalidade de seu
trabalho deve ser preparado, de acordo com Vieira Pinto (1979, p. 282),
para que, cada vez mais lucidamente, compreenda o significado das finalidades na ação
humana, e particularmente na execução do trabalho científico. Importa entender a
finalidade do trabalho científico enquanto processo histórico, vendo nele o
desenvolvimento, a criação contínua da razão, pela série de fins propostos, alcançados,
superados e logo substituídos por outros, que se originam exatamente da consciência de
haverem superado os anteriores.
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30
Os questionamentos fecundam a análise crítica de documentos; contribuem para a construção do
problema de pesquisa e de hipóteses de trabalho. Muitos podem ser feitos: como determinados conceitos
são definidos? A definição é sempre a mesma nos vários documentos desta instituição e de outras, de
agora e de outrora? A definição é sempre a mesma na mesma instituição em diferentes períodos? Que tipo
de argumentos é utilizado? Que fontes e dados são citados nos documentos? Que tipologias ou
classificações adotam? O que propõem? O que criticam? Que problemas e crises mencionam? Como os
explicam? A que atribuem suas causas? Que soluções propõem para superá-las? Qual a relação entre o
que apontam como problema e as medidas que prescrevem? Quais os resultados dessa política? Há outros
efeitos que possam ser atribuídos à sua implantação? Qual a articulação com outras políticas setoriais,
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Martins (2008, p. 148) assinala “que a realidade é sempre mais rica do que a ideia que
construímos dela, isto é, o conhecimento não é a realidade mesma, com todas as suas
nuanças, sua concretude [...]”; sendo assim, temos com ponto de partida que é
necessário fazer as questões centrais, mas sabendo-se que não serão feitas todas as
possíveis e que não se poderá responder a todas as indagações, no início do processo e,
mesmo, no seu final, mas é preciso tê-las no horizonte de reflexão. A organização das
questões, das próprias dúvidas contribui para patamares sempre mais elevados de
reflexão. Se muitas interrogações não obterão respostas e novas nascerão e outras serão
descartadas, é nesse processo dinâmico que se construirão hipóteses explicativas
razoáveis e formas adequadas de abordar, descrever e interpretar a empiria. Desse
movimento faz parte o recorte preliminar do tema de estudo, mesmo que ao longo do
caminho sofra alterações, assim como o período abordado – e até mesmo completo
abandono em favor de outra problemática que pode aparecer. O afinamento da temática
dá-se no tempo e exige um amadurecimento dela própria, bem como do pesquisador e
isto requer muita lida com os documentos norteadores da política que se investiga.
A documentação pode ser entendida como produto e expressão de conflitos
sociais, arena de luta, histórica; portanto, síntese de relações sociais concretas. Tendo-se
claro que o documento não é a política, deve ser analisado no âmbito e como resultado
de relações hegemônicas marcadamente burguesas. Documentos governamentais são
produzidos por órgãos e instituições vocacionados à defesa dos interesses dominantes
no confronto com os interesses das classes subalternas na relação entre oferta e
demanda de educação. Tais materiais expressam diretrizes para a educação e articulam
interesses, projetam políticas, induzem intervenções sociais, razão pela qual é
importante não incorrer no erro de circunscrever o estudo da política à análise de
documentos produzidos pelo aparelho de Estado. Cotejá-los com a documentação
produzida por aparelhos privados de hegemonia31, como a mídia, fundações
outrosprojetos? Como a política educacional em tela se articula com a dimensão macroeconômica, com a
política econômica?
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Coutinho (2011, p. 26), ao distinguir Sociedade Política de Sociedade Civil, esclarece que “enquanto a
sociedade política tem seus portadores materiais na burocracia militar e executiva, os portadores materiais
da sociedade civil são o que Gramsci chama de “aparelhos ‘privados’ de hegemonia”, ou seja, organismos
sociais relativamente autônomos em face do Estado em sentido estrito.” A adesão a esses organismos é
voluntária e por seu intermédio, no âmbito da sociedade civil, as classes “buscam exercer sua hegemonia,
isto é, buscam ganhar aliados para suas posições através da direção político-intelectual e do consenso.”
(COUTINHO, 2011, p. 26). Para Mendonça (2014, p. 34), “O conceito de Estado ampliado permite
verificar a estreita correlação existente entre as formas de organização das vontades (singulares e,
sobretudo, coletivas), a ação e a própria consciência (sociedade civil) – sempre enraizadas na vida
socioeconômica – e as instituições específicas do Estado em sua acepção restrita (sociedade política).”
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Segundo a autora, “a transformação social e do Estado nas sociedades capitalistas ocidentais só pode ser
obtida, para Gramsci, a partir da multiplicação dos aparelhos de hegemonia da sociedade civil – ou seja,
das visões de mundo/projetos (ou vontades coletivas organizadas) – que disputam entre si, todo o tempo,
a manutenção de um projeto hegemônico ou a imposição de um contra- hegemônico, em busca da
hegemonia.” (Mendonça, 2014, p. 38). Continua: “A despeito de menos clara e mais complexa nos
Cadernos, a noção de sociedade civil implica no conjunto dos organismos chamados de ‘privados’ ou
‘aparelhos privados de hegemonia’, no sentido da adesão voluntária de seus membros. Dentre esses
aparelhos Gramsci destaca igrejas, associações privadas, sindicatos, escolas, partidos e imprensa. É em
torno a eles que se organizam as vontades coletivas, seja dos grupos dominantes, seja dos dominados.
(Mendonça, 2014, p. 35).
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Referimo-nos a documentos produzidos por técnicos do aparelho de Estado, de organizações
multilaterais, intelectuais acadêmicos, assim como por outros intelectuais orgânicos, não necessariamente
vinculados formalmente a essas organizações.
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pode ser o fiel da balança na avaliação de uma política pública que, no modo de
produção capitalista, busca amenizar, mas não pode extinguir as contradições que lhe
são inerentes. O quinto lembrete chama a atenção para o cuidado com análises que
reproduzem a tese da imposição externa de diretrizes educacionais. Considerar as
proposições políticas internacionais como determinantes da Educação brasileira
significaria colocar o país como refém das recomendações internacionais, não
reconhecendo os interesses da burguesia interna – e os interesses específicos de suas
frações – na implantação de determinado conjunto de políticas. Situaríamos, assim, os
governos, os legisladores e os profissionais da educação como meros implementadores
de proposições internacionais. Essa abordagem prescinde dos elementos de mediação,
das resistências internas, das contradições e do agir humano, aspectos que não podem
ser negligenciados quando o objetivo é “expor adequadamente o movimento real” e
transformá-lo.
6 Considerações finais
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dinâmica da produção das condições materiais a partir das quais a política educacional
se articula e desenvolve (NETTO, 2015, p. 20). Um excerto do “Posfácio da 2ª. Edição”
de O Capital é esclarecedor:
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Moraes (2007, p. 1-2) indica que a frase de Thompson em 1996 foi recuperada por Christopher Norris.
O filósofo “detalhou as consequências negativas e positivas da teoria. Por um lado, a teoria pode acentuar
o ceticismo generalizado sobre o conhecimento, a verdade e a justiça, tornando-os sem sentido e, em
decorrência, trazer uma boa dose de irracionalismo, cinismo e niilismo [...]. Mas, em seu lado positivo, a
teoria pode nos oferecer as bases –racionais e críticas –para rejeitar muito do que a nova direita nos
apresenta como sabedoria política realista. Ela pode nos ajudar a compreender que o “pensamento único”
representa interesses socioeconômicos e políticos precisos, disfarçados sob um espúrio apelo aos valores
do individualismo predatório, conservador e consumista, e a criticar o mercado, demonstrando seu caráter
incompatível com uma sociabilidade genuinamente humana. Do ponto de vista da Educação, ela pode
contribuir para desnudar a lógica do discurso que, ao mesmo tempo em que afirma a sua centralidade,
elabora a pragmática construção de um novo vocabulário que ressignifica conceitos, categorias e termos,
de modo a torná-los condizentes com os paradigmas do realismo empírico que referenciam as pesquisas,
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7 Referências
reformas, planos e propostas para a educação brasileira e latino-americana, para mencionar as que nos
tocam de imediato”.
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“Interessa-nos, aqui, denunciar e desacreditar este conjunto de interpretações que, por sua incapacidade
constitutiva de compreender os profundos desajustes sociais e educacionais como resultado das próprias
relações sociais, acaba por atribuir a sua existência seja à natureza, ao Estado, à perversão da vontade
privada, à incompetência do professor, às precárias condições da escola etc. Aliás, é este o contexto da
crítica ao perfil tradicional do professor “esclarecido” – o que possui uma visão global do saber, conhece
seus fundamentos, possui critérios epistemológicos, exerce sua racionalidade crítica e, sobretudo, está
investido d o direito de ensinar – e à escola, como efetivação prática dessa racionalidade.” (MORAES,
2007, p. 7).
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