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ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

8675 - Pôster - 3ª Reunião Científica da ANPEd-Norte (2021)


ISSN: 2595-7945
GT02/GT 17 - História da Educação e Filosofia da Educação

O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO E A CONSTITUIÇÃO DO


CONHECIMENTO NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO
Clovis Marques Dias Junior - UFMA - Universidade Federal do Maranhão
Antonio Sousa Alves - UFMA - Universidade Federal do Maranhão

O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO E A CONSTITUIÇÃO DO


CONHECIMENTO NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Existe um pluralismo de possibilidades epistemológicas colocadas à disposição dos


pesquisadores em educação. O investigador deve conhecer as diversas opções para escolher o
método mais apropriado e eficiente para pesquisar seu objeto.

O objeto de estudo do presente trabalho é um destes enfoques da pesquisa em ciências


sociais: o materialismo histórico dialético e a sua aplicação na pesquisa educacional.

Pretende-se, com o trabalho, responder ao seguinte questionamento: como o método


do materialismo histórico dialético pode contribuir para compreensão da educação e funcionar
como norte para o pesquisador do campo educacional?

O texto proposto é uma revisão bibliográfica específica sobre construção do


materialismo histórico dialético como método. A teoria marxiana é o marco referencial que
dialoga com todos os demais autores que contribuem para discussão. Essa pesquisa é parte de
um referencial teórico em construção para o desenvolvimento de dissertação de mestrado
junto ao Programa de Pós-Graduação em Formação Docente em Práticas Educativas –
PPGFOPRED da Universidade Federal do Maranhão - UFMA.
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2 O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

A pesquisa moderna desenvolveu-se, inicialmente, seguindo o axioma de que nas


ciências sociais a produção do conhecimento deve partir da mesma lógica adotada pelas
ciências da natureza. Esse é o paradigma metodológico positivista defensor de “que a pesquisa
social era uma atividade neutra. O pesquisador social não deveria avaliar ou fazer
julgamentos, mas apenas discutir o que era ou existia” (SANTOS FILHO; GAMBOA, 2013,
p. 17).

Outro enfoque para a pesquisa social é oferecido pela fenomenologia, que se preocupa
em descrever, não explicar ou analisar o fenômeno, nega a neutralidade e afirma que “Tudo
aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu sei a partir de uma visão minha ou de uma
experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada”
(MERLEAU-PONTY, 1999, p. 3).

Tanto o positivismo como a fenomenologia, dentro da história do conhecimento


humano, são concepções metafísicas de percepção do universo. O positivismo acredita em
leis superiores e imutáveis que regem toda a natureza, inclusive a vida em sociedade. Na
fenomenologia, de modo semelhante, parte-se de uma filosofia transcendental.

A concepção dialética do conhecimento apresenta-se em oposição à concepção


metafísica, sustentando que para entender algo se deve estudá-lo internamente e em suas
relações com as outras coisas a sua volta inseridas na realidade (TSE-TÚNG, 2014).

Karl Marx é o primeiro autor a propor uma racionalidade dialética, uma revisão crítica
da filosofia do direito de Hegel foi o ponto de partida de seus estudos. Hegel, como idealista,
afirmava que o pensamento (a ideia ou o ideal) gerava a matéria (o material). Marx reconstrói
essa lógica apontando que o material é quem gera o ideal ao ser transportado para mente do
homem, daí fala-se que existe um materialismo na construção de Marx (MARX; ENGELS,
1998; MARX, 2008).

A obra que assinala o nascimento do materialismo histórico como metodologia das


ciências sociais é “A ideologia alemã”. Marx e Engels reelaboram a dialética hegeliana
integrada ao materialismo, realizando a reconstrução desta como materialismo histórico. Na
crítica dos autores a classe cria e forma visões de mundo (posteriormente chamadas de
superestrutura) sistematizadas por ideólogos (ou utopistas), como um resultado de ilusões e
auto ilusões, uma consciência falsa, equivocada, da realidade (MARX; ENGELS, 1998).

Os autores estabelecem a ideia da práxis, na medida que a ciência deve ser uma
atividade “revolucionária” e “prático-crítica” (MARX; ENGELS, 1998). A práxis “é um
processo, movimento que se dinamiza por contradições, cuja superação o conduz a patamares
de crescente complexidade, nos quais novas contradições impulsionam a outras superações”
(PAULO NETTO, 2011, p. 31).

No prefácio de “Contribuição à crítica da economia política” Marx estabelece um guia


para compreensão de toda base teórica de seu pensamento (MARX, 2008), sistematizados no
seguinte guia da produção social da existência:

1. Os homens entram em relações sociais independentes de suas vontades;


2. Essas relações correspondem a um grau de desenvolvimento das forças produtivas;
3. A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica;
4. A estrutura econômica é a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura política e
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jurídica (forma social de consciência);
5. Forças produtivas materiais entram em contradição com as relações de produção;
6. As classes sociais em luta operam uma revolução social;
7. Transformação gerada na base econômica modifica a superestrutura;
8. As formas ideológicas (jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas) auxiliam
e mantém as transformações materiais.

Em síntese, o Estado, que antes era compreendido sempre como uma entidade
representativa de interesses públicos, é estudado vinculado aos interesses de uma classe
dominante. As relações de trabalho, antes vistas como regidas por leis naturais, agora
decorrem de interesses de classe em contradição. As formas ideológicas, pensadas na
perspectiva metafísica e em ideais abstratos, como o de bem comum, refletem instrumentos
de manutenção ou ascensão de grupos ao/no poder (MARX, 2008).

Diversas variantes do marxismo se apresentaram posteriormente repensando o


materialismo histórico dialético, adequando a análise das categorias às condições econômicas
e sociais de seu tempo.

Nestas retomadas do pensamento marxista pode-se destacar o socialismo como


movimento operário e a posição de Lenin que restabelece a unidade dialética entre ciência e
revolução (LOWY, 2000); o marxismo historicista de Lukács (2003), para quem todo
conhecimento da sociedade está ligado intimamente à consciência de classe e o método não é
apenas instrumento de conhecimento, mas um meio de ação.

Posteriormente, Gramsci (1982) percebeu que a revolução por meio da luta de classes
transformava os modos de produção e a estrutura. Entretanto, a transformação deveria
começar pela superestrutura, uma mudança na forma de pensar. As classes exploradas que
absorvem o discurso dominante precisam ser conscientizadas, por meio de uma
intelectualidade orgânica, de toda essa lógica da totalidade para resistir e confrontar à
ideologia que oprime.

Por fim, na teoria crítica da Escola de Frankfurt, Habermas (1983) propõe uma
reconstrução do materialismo histórico, desmontando a teoria original, a recompondo,
atualiza para atingir a meta que ela própria fixou, sendo essa a dialética natural do saber
científico.

3 A PESQUISA EM EDUCAÇÃO E O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

A pesquisa educacional trabalha com pessoas em seu processo de vida. O ser é


inserido em uma totalidade, que significa “realidade como um todo estruturado, dialético, no
qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos, conjunto de fatos) pode vir a ser
racionalmente compreendido” (KOSIK, 1976, p. 44).

A análise da totalidade não se restringe a um exame ingênuo do todo e das partes, a


dialética passa pela contradição marcante das estruturas que se influenciam em um processo
histórico. Por esse motivo a pesquisa em educação demanda uma base teórica consistente, que
leve em conta o processo educacional em toda sua complexidade, relacionando-o ao
desenvolvimento das pessoas e das sociedades. O materialismo histórico dialético tem uma
proposta metodológica que atende a essas necessidades.
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Na pesquisa educacional, o pesquisador deve adotar uma perspectiva crítica da
realidade. Frigotto (2004, p. 81) esclarece que “a reflexão teórica sobre a realidade não é uma
reflexão diletante, mas uma reflexão em função da ação para transformar”. E continua “[…] a
preocupação fundamental da perspectiva crítica é refletir, pensar, analisar a realidade com o
objetivo de transformá-la”. Essa mudança das circunstâncias e da atividade humana é
efetivada por meio da práxis.

A pesquisa em educação deve promover uma tomada de consciência de que o


processo educacional institucionalizado integra uma lógica de reprodução estabelecida
historicamente pela ordem do capital. Essa lógica pode ser rompida, desconstruindo a relação
hierárquica em que a educação se submete ao trabalho, promovendo uma universalização e
visando uma ordem social qualitativamente diferente. (MÉSZARÓS, 2008).

Frigotto (2004) sistematiza alguns passos primordiais que o pesquisador deve seguir
para aplicar o enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional: reconhecer
sua problemática da pesquisa dentro da totalidade; realizar o resgate crítico da produção
teórica já produzida sobre a problemática; organizar e discutir os conceitos e as categorias no
movimento do real no plano histórico; estabelecer conexões, mediações e contradições dos
fatos que constituem a problemática pesquisada; e, por fim, realizar a síntese da investigação,
permitindo a práxis, em que o conhecimento ampliado permite uma ação e serve de base para
uma nova ampliação.

Desta forma, a pesquisa educacional delineada pela matriz epistemológica materialista


considera a educação e a escola em um processo de contradição e faz uma crítica do real. O
método não é abstrato, é ato concreto que permite a análise crítica do modelo educacional,
gerando a práxis que transforma a realidade.

4 CONCLUSÃO

Pelo levantamento bibliográfico é possível sintetizar que nas ciências humanas e


sociais predominam três grandes correntes teóricas que funcionam como aporte metodológico
para o pesquisador: o positivismo, a fenomenologia e o materialismo histórico dialético.

Das diversas visões epistemológicas propostas para as ciências humanas e sociais o


materialismo histórico dialético tem uma proposta metodológica que favorece a constituição
do conhecimento nas pesquisas em educação, na medida em que o pesquisador educacional
deve adotar uma postura crítica da realidade.

O marxismo estabelece a ideia da práxis, na medida que a ciência deve se reconhecer


em um processo dinamizado por contradições, cuja superação conduz a novas contradições
que impulsionam a outras superações.

A pesquisa em educação pelo enfoque materialista histórico dialético não se limita a


descrever o objeto de estudo, deve promover uma tomada de consciência de que o processo
educacional institucionalizado integra uma lógica de reprodução estabelecida historicamente,
a qual pode ser rompida promovendo uma ordem social qualitativamente diferente.

REFERÊNCIAS
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FRIGOTTO, Gaudêncio. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa


educacional. In: FAZENDA, I. Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez,
2004.

GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1982.

​HABERMAS, Jürgen. Para a reconstrução do materialismo histórico. São Paulo: Editora


Brasiliense, 1983.

KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

LOWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchhausen:


Marxismo e Positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez, 2000.

LUKÁCS, György. Historia e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. 2 ed. São Paulo: Expressão
Popular, 2008.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins


Fontes, 1999.

MÉSZARÓS, István. A educação para além do capital. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2008.

PAULO NETTO, José. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão
Popular, 2011.

SANTOS FILHO, José C.; GAMBOA, Silvio S. Pesquisa educacional: quantidade-


qualidade. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2013.

TSÉ-TUNG, Mao. Sobre a contradição. Rio de Janeiro: Expresso Zahar, 2014.

Palavras-chave: Materialismo Histórico Dialético; Metodologia da Pesquisa; Pesquisas em


Educação.

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