Le Peintre de La Vie Moderne, Charles Baudelaire
Le Peintre de La Vie Moderne, Charles Baudelaire
Le Peintre de La Vie Moderne, Charles Baudelaire
Paris: Le
Livre de Poche, 2016, p. 503-552.
Cada época possui sua graça particular. Pode-se aplicar a mesma observação às
profissões, ressalta Baudelaire: cada qual extrai sua beleza exterior das leis morais a que
está submetida. Em algumas, essa beleza será marcada pela energia; em outras, trará os
sinais visíveis do ócio. É como o emblema do caráter, a inscrição da fatalidade. O
militar, considerado em sua generalidade, tem sua beleza, como o dândi e a mulher
galante a têm, com um gosto essencialmente diferente, mas o dandismo não é sequer,
como parecem acreditar muitas pessoas sensatas, um amor desmesurado pela
indumentária e pela elegância física. Para o perfeito dândi, essas coisas são apenas um
símbolo da superioridade aristocrática de seu espírito. Por isso, a seus olhos ávidos por
distinção, a perfeição da indumentária consiste na simplicidade absoluta, simplicidade
que o militar igualmente tem por exercer atividades em conjunto com outras pessoas, o
que é a melhor maneira de se distinguir. O tipo de beleza do dândi consiste sobretudo no
ar frio que vem da inabalável resolução de não se emocionar, é como um fogo latente
que se deixa adivinhar, que poderia – mas não quer – se propagar. É o que essas
imagens expressam com perfeição, conclui Baudelaire a respeito do dandismo.
A moda deve ser considerada um sintoma do gosto pelo ideal, que flutua no
cérebro humano acima de tudo o que a vida natural nele acumula de grosseiro, terrestre
e imundo, como uma deformação sublime da natureza. Assim, podemos observar que
todas as modas são encantadoras, cada uma sendo um esforço novo, mais ou menos
bem-sucedido, em direção ao belo, uma aproximação qualquer a um ideal cujo desejo
lisonjeia o espírito humano insatisfeito.
Baudelaire encerra a obra falando de C. G., sigla que aparece desde o início. O
crítico afirma que C. G. (Constantin Guys) tem um mérito profundo que lhe é peculiar,
e que ele teria voluntariamente desempenhado uma função que outros artistas
desdenharam (e que cabia sobretudo a um homem do mundo preencher). C. G., segundo
Baudelaire, buscou por toda parte a beleza passageira e fugaz da vida presente, o caráter
daquilo que o leitor lhe permite chamar de Modernidade. Frequentemente estranho,
violento e excessivo, mas sempre poético, ele soube concentrar em seus desenhos o
sabor amargo ou capitoso do vinho da vida, diz Baudelaire.