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Psicologia, Multiculturalismo e Diversidade de Gênero: Maiara Amorim Muniz

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Maiara Amorim Muniz

Psicologia,

Multiculturalismo e

Diversidade de

Gênero
MÓDULO I - CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADESAS.

MÓDULO II - GRUPOS IDENTITÁRIOS E


MULTICULTURALISMO.
PSICOLOGIA, MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADE DE GÊNERO
Sobre a autora

Maiara Amorim Muniz, autora do material didático da disciplina Psicologia,


Multiculturalismo e Diversidade de Gênero, nasceu na cidade de São Luís -
Maranhão. É mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão (2021),
especialista em Neuropsicopedagogia e Educação Especial pela Universidade
Cândido Mendes (2017), graduada em Psicologia pela Universidade Federal do
Maranhão (2014). Atualmente, é psicóloga do Instituto Federal do Maranhão - IFMA e
professora substituta na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão -
UEMASUL. Suas áreas de concentração de estudos são Psicologia Escolar e
Inclusão Escolar.
Apresentação da disciplina

Prezado (a) estudante,


Você já se percebeu questionando o que faz de você quem você é? Quais
são as coisas que lhe tornam único, que lhe diferenciam dos demais e que fazem com
que esses outros lhe reconheçam de alguma forma? E quais aspectos lhe aproximam
e lhe fazem semelhante a certos grupos, certas forma de pensar e de agir?
Pensar sobre quem somos, quem os outros são, como vivemos e nos
relacionamos nesse mundo é algo bastante comum. Não raras vezes, ouvimos que
“somos todos iguais”. Ao mesmo tempo, também ouvimos que existem por aí muitas e
muitas formas de se e de existir no mundo e que a diversidade humana é inegável.
Igualdade e diferança são valores indissociáveis do ser humano.
Acredito que se você parar para pensar sobre os questionamentos do início
dessa nossa conversa, conseguirá identificar aspectos muito pessoais,
individualizados, mas também aspectos mais coletivos, sociais, que constroem essa
teia de (inter)relações que é você. A Psicologia, como ciência que se ocupa dos
fenômenos psíquicos e comportamento humano, precisa também contemplar em sua
práxis essas questões, pois fazem parte da constituição humana.
Assim, a proposta dessa disciplina é debater algumas temáticas
importantes no que diz respeito à diversidade humana e a Psicologia. Estudaremos
tópicos que nos farão refletir sobre a construção de identidades, processos de
subjetivação, questões relacionadas à raça, gênero e diversidade sexual, entre outros
debates, e como a Psicologia se relaciona com tudo isso.
Espero que você tenha um excelente estudo!
Módulo I: construção de identidades

Vamos iniciar a disciplina de Psicologia, Multiculturalismo e Diversidade de


Gênero com algumas reflexões importantes, que servirão de fio condutor para
assuntos futuros. Neste primeiro módulo, o nosso objetivo será a discussão sobre
identidade - ou como construímos nossa(s) identidade(s). Para tanto, alguns
conceitos técnicos serão explicados, com exemplificações para melhor entendimento.
Acreditamos que quando o conhecimento dialoga com nossa realidade e dia a dia, a
sua compreensão se torna mais natural e dinâmica.
Vale reforçar que nosso material, terá sugestões de textos complementares
e dicas de vídeo, que apesar de não serem obrigatórios enriquecerão muito seu
conteúdo. Ao final do módulo, teremos exercícios para verificar o aprendizado e
sempre alguma tarefa mais dinâmica em formato de fórum, perfeitas para incitar o
diálogo e solidificar o aprendizado.
Ao longo dos seus estudos, dificuldades podem surgir. Quando isso
ocorrer, não hesite em voltar um tópico tantas vezes quanto forem necessárias, e só
então dar seguimento às leituras. O aprendizado é uma sucessão de etapas, respeite
o seu tempo e seu processo.
A construção de identidades
Para início de conversa: De modo geral, quando se pensa
superficialmente na ideia de identidade, a sua conceituação parece ser simples:
minha identidade é aquilo que eu sou. É aquilo que as pessoas respondem quando
questionadas ou solicitadas a falarem um pouco de si como “sou mulher”, “sou
maranhense”, “sou professor”, quase como se essa identidade se esgotasse em si
mesma. Da mesma forma, a diferença seria aquilo que o outro é, quando nos
reportamos a esse outro como, por exemplo, “ele é homem”, “ela é advogada”, “eles
são holandeses” e etc (SILVA, 2000).
No entanto, não há nada de simples nesse conceito. Podemos refletir, por
exemplo, que dentro de uma afirmação de identidade como “sou maranhense”, está
implicada uma série de negações. Mas como assim? Ora, dizer “sou isso”,
necessariamente implica dizer “não sou aquilo”. Se eu digo “sou maranhense”,
implicitamente nessa afirmação está contida a ideia de que não sou paulista, por
exemplo. E mais: eu somente preciso fazer uma afirmação tal qual como essa porque
existem outras pessoas que não são maranhenses.
Percebem, então, como identidade e diferença dependem uma da outra
para fazerem sentido na nossa cadeia de significações e organização do real? É um
pouco sobre isso que iremos discutir nesse módulo. Vamos lá?
Figura 1 - Identidade: aquilo que nos diferencia?
Fonte: imagem retirada gratuitamente de https://br.freepik.com/

Afinal, o que é identidade?


Esse é um daqueles tópicos em Psicologia (e em outras ciências) que
possuem diversos pontos de vista. De modo geral, podemos entender o conceito de
identidade como o nosso “pensar ser”. Bock, Teixeira e Furtado (p.145, 2018), podem
nos auxiliar em uma conceituação bastante introdutória desse complexo conceito:

Ou seja, a identidade seria a síntese do conjunto de representações que


temos de nós mesmos. Seria, portanto, uma espécie de resultado dos conceitos que
temos a respeito de quem somos, a partir de diferentes referenciais e da nossa
relação com o(s) outro(s).
Assim, podemos refletir que a formação das identidades se dá sempre com
relação ao outro e ao grupo. Pare e pense um pouco sobre sua história de vida, sobre
os diferentes contextos que você vivenciou como família, escola, trabalho, faculdade.
Estamos constantemente sendo postos em relação com o outro, e nessa dinâmica
de vida a alteridade comparece como elemento constituinte do sujeito. Em outras
palavras, conforme coloca Souza (2014), o individuo é moldado diante/a partir da
diferença, em um processo contínuo de aproximação e distanciamento, o que leva à
reflexão de que não é possível pensar em identidades estáveis, fixas, rígidas,
consolidadas e fechadas.
Ou seja, somente é possível que paremos e pensemos a respeito de nós
mesmos (esse “quem sou eu?”) caso tenhamos uma compreensão dos códigos e
acordos sociais existentes e partilhados nos nossos contextos. É o pensar sobre nós
que sempre traz consigo a perspectiva do outro.

Figura 2 - Diferenças

Fonte: imagem retirada gratuitamente de https://br.freepik.com/

Glossário: Alteridade: Caráter ou estado do que é diferente, distinto, que é outro.


Pode ser também conceituada como o reconhecimento da individualidade e das
especificidades do outro ou de um grupo.

Nessa construção e fixação de identidades, estão envolvidos processos


que dizem respeito a um saber de si e dos outros. Podemos, dessa forma, utilizar as
contribuições de Foucault (2009) que, ao debater sobre as relações de poder, coloca
que as oposições são necessárias para tecer os entendimentos sobre determinados
assuntos em nossa sociedade.
Assim, por exemplo, para se compreender o que significa a sanidade, seria
interessante investigar o que acontece no âmbito da insanidade, para compreender a
legalidade, se debruçar sobre a ilegalidade e assim por diante (FOCAULT, 2009). Em
outra análise, pode-se pensar que é na diferença que identidades são traçadas, nas
oposições, no contato com a alteridade, com o outro. Afirmar que sou isto
necessariamente implica dizer que não sou aquilo, conforme discutido em Silva
(2000), a partir de construções que se dão em processos de uma produção que é
simbólica e discursiva, imersos em um dado contexto histórico e cultural. A
compreensão que esse teórico traz sobre poder e relações de poder é bastante
complexa e presente ao longo de toda sua obra.
Essas oposições se fundamentam em torno da questão “quem somos
nós?”, e têm por objetivo principal, conforme Foucault (2009), enfrentar não uma
instituição de poder, grupo, classe ou elite, mas sim uma técnica, uma forma de poder
que se aplica à vida cotidiana, categorizando o sujeito à medida que o marca com uma
individualidade. Mas o que isso quer dizer? Foucault (2009) nos leva à reflexão que
esses processos estabelecem uma verdade sobre este indivíduo, que deve ser
reconhecida pelos demais. O poder que estamos falando aqui não é da ordem da
propriedade, da posse, mas sim do exercício: entende-se que ele se manifesta na
relação, é um modo de ação de alguns sobre outros. Em outros termos, é uma
ação sobre a ação do outro. A pergunta que fica então é: de que forma a ação das
pessoas sobre outras, ou de grupos sobre outros grupos, foi construindo e fixando
identidades?

Para refletir: Olhe as imagens a seguir, de diferentes pessoas. A partir


dessas imagens, você consegue pensar algo sobre esses indivíduos? Quem são, o
que fazem, alguns costumes que podem ter? De onde vem essas representações?
Percebe que existem um conjunto de “verdades”, um conjunto de “saberes”
socialmente partilhado acerca de pessoas e grupos?

Figura 3 - Pessoas de diferentes culturas


Fonte: imagens retiradas gratuitamente de https://br.freepik.com/

Sabe aquela famosa frase que diz que um homem não pode entrar duas
vezes no mesmo rio, pois tanto ele quanto o rio mudam constantemente? Como seria
possível então refletir e construir uma análise sobre algo como identidade? Refletir
sobre esse nosso “pensar ser” e sobre o “pensar o ser dos outros” também nos leva a
outro tópico (igualmente complexo e extenso) da Psicologia - a subjetividade e nossos
processos de subjetivação. Ou, grosso modo, o nosso “ser”.

Subjetividade e processos de subjetivação

Há muito se discute sobre a especificidade do objeto de estudo da


Psicologia. Ou seja, se debate sobre o delineamento sobre o que esta ciência se
propõe a fazer que a diferencia das demais ciências humanas, uma vez que conforme
Prado Filho e Martins (2007) dizer tão simplesmente que a Psicologia se ocupa do
estudo do homem não é suficiente - este seria o objeto em comum de todas as
Humanidades.
Neste sentido, a particularidade do olhar da Psicologia residiria na
apreensão dessa instância psicológica, ou ainda, desse sujeito psicológico inexistente
no discurso científico ocidental até o nascimento desta ciência. Falar sobre esse
sujeito é correlato à compreensão da necessidade de colocá-lo enquanto objeto
passível a ser reconhecido por um discurso científico capaz de anunciar verdades -
compartimentalizadas - sobre as instâncias que compõe esse sujeito (seja a mente, a
consciência, o desejo, etc), tornando-as de certo modo tangíveis, objetivadas
(PRADO FILHO; MARTINS, 2007).
Nesse caminhar de objetivar as instâncias psicológicas a fim de lhes
conferir status de cientificamente apreensíveis e passíveis de serem validadas, a
Psicologia assistiu a inúmeros focos de seu interesse como a mente, o fragmento
psíquico, o comportamento, as percepções, a consciência, o inconsciente, as
relações... Discursos em sua maioria embasados por noções dicotômicas entre si,
percepções distintas de homem e de mundo.

Glossário: Dicotomia- oposição entre duas coisas, geralmente entre dois conceitos.

A questão do pensamento humano sobre o seu modo de ser, sobre o seu


“si mesmo” é algo presente nas Ciências Humanas de modo geral. As pessoas podem
parar em seu cotidiano e se questionar sobre si mesmas, sobre suas formas de agir,
pensar, sentir e sobre o que tudo isso significa. Essa forma de existência humana
pode ser entendida como subjetividade.
De modo geral, o entendimento que se tem sobre subjetividade é de algo
que fala sobre o indivíduo, em relação dialética com o que é externo. Existe,
tradicionalmente, uma tendência a se apontar para algo que se configura como o
núcleo do indivíduo, seja da sua consciência, personalidade ou identidade. Esse
núcleo representaria certa estabilidade e previsibilidade, fornecendo assim bases
para a diferenciação entre os indivíduos (PRADO FILHO; MARTINS, 2007). Além
disso, a premissa da existência de algo nuclear pode vir a cumprir o papel da
necessidade de tornar objetivas, mensuráveis e tangíveis as questões subjetivas, de
modo a serem cientificamente apreendidas e, assim, validadas.
Entretanto, as visões contemporâneas foram se encaminhando para uma
percepção da subjetividade que a compreende enquanto historicamente dada, sem
núcleo ou algo que se assemelhe a uma substância permanente. Mas o que isso
significa? É uma visão de subjetividade que a encara como movimento, processo,
muito mais relacionada com o entorno e os movimentos nele existentes do que com
algo interno, fixo e inerente ao ser humano.
Gonzalez Rey (2003) compreende a subjetividade como uma organização
complexa, que permite a expressão de aspectos da vida social, que são objetivos, por
meio de sentidos subjetivos, individuais e singulares. Essa visão possibilita uma
análise complexa da esfera psicológica, na medida em que considera uma
simultaneidade do social e do individual.
Fazer referência à subjetividade como algo que é singular do sujeito não
implica em dizer que ela nasce no interior deste indivíduo. Em outros termos, embora
soe natural essa associação, não há vinculação direta entre subjetividade e
interioridade. É na articulação individual/social que repousaria essa gênese, na
medida em que não se pode excluir desse processo nenhum desses pólos
(GONZALEZ REY, 2003; PRADO FILHO, 2007; SILVA, 2009).
Então, nessa trajetória, o ser humano é ao mesmo tempo autor e
personagem - constrói ao mesmo tempo em que é construído. Esse homem, portanto,
não é um mero produto passivo do meio, ele participa ativamente desse processo de
interação, sendo então a construção da subjetividade um processo de contínuo
movimento.

Figura 4 - "Drawing Hands", de M. C. Escher

Fonte: Domínio público, retirado de https://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-36410021

A toda essa trama de relações que promovem a subjetividade, podemos


chamar de processo de subjetivação. Guattari (1992) discorre que a subjetividade
se constitui de modo que não se pode elencar um fator preponderante para sua
determinação. O que ocorre é uma variabilidade de fatores que influem, cada um à
sua maneira, para que essa subjetividade vá se moldando de forma peculiar. E é essa
particularidade que dá o tom de pessoalidade à subjetividade - e está ligada ao
processo de subjetivação, ao processo de apreensão singular dos contextos,
vivências, experiências...
Sabe quando nos deparamos com gêmeos que tiveram, em teoria, a
mesma educação, foram expostos aos mesmos estímulos, aos mesmos contextos e
grupos sociais, mas mesmo assim têm respostas completamente diferentes ao
mundo, são completamente diferentes em seus modos de ser e agir? É exatamente
sobre isso que se trata o processo de subjetivação.

Então, é essa vivência, essa experienciação do mundo social de cultural


que permite que construamos nosso mundo interior, a nossa subjetividade, nossa
maneira de pensar, sentir e de agir no mundo - nosso modo de ser. A forma como
apreendemos essas vivências, a forma como atribuímos significados a elas, a forma
que determinamos essa nossa subjetividade é o nosso processo de subjetivação
(GUATTARI, 1992; OLIVEIRA; TRINDADE, 2015).
Atenção!
Lemos (2007) explica que a subjetivação é resultado de uma prática
Não confunda subjetividade e personalidade! Em alguns locais esses
concreta, derivada de todas as atividades do homem, sejam aquelas em que ele é um
conceitos podem ser tidos erroneamente como sinônimos, mas d
respeito a coisas distintas. A subjetividade (e o processo de subjetiv
esse processo de tornar-se sujeito) é resultado de uma prática con
ator principal, sejam aquelas em que ele é uma espécie de espectador atravessado
por determinações sociais, históricas e culturais.
Podemos então pensar que esse processo pode nos levar para caminhos
que nos marcam de diversas formas. Nos marcam, por exemplo, de jeitos e formas
singulares, jeitos e formas que de algum modo nos tornam únicos, singulares. Por
outro lado, também podem nos marcar de jeitos e formas que nos alinham dentro de
alguma configuração mais coletiva, social e cultualmente partilhada. Nos marcam de
um modo mais normatizador.

Reveja
Retomando o que foi discutido, podemos dizer que a subjetividade não é o
ser, mas sim os modos de ser (sim, no plural!).

Vamos pensar em exemplos?


Tente fazer uma lista de coisas que você pensa que são muito
características suas, coisas que seus amigos poderiam olhar e dizer “isso define bem
quem esse(a) meu(minha) amigo(a)!”. Aqueles pontos que você sente que te
diferenciam de outras pessoas ou grupos e tente pensar também em situações que
podem ter ajudado a moldar esses pontos. Agora pense em aspectos que também
constituem quem você é, mas que por algum motivo você identifica que tem “forças”
mais coletivas envolvidas... Por exemplo, coisas que envolvam papéis sociais que
você se vê desempenhando (como mulher, como homem, como estudante, como
esposa, como esposo e assim por diante) e que acabam refletindo uma espécie de
enquadramento em uma norma.

Voltando à discussão sobre identidade: onde entra a Psicologia?

Agora que refletimos um pouco sobre subjetividade (ou mesmo


subjetividades, no plural) e subjetivação, voltemos um pouco para a questão da
identidade e onde que a Psicologia entra nisso tudo. Não parece ser muito distante
pensar na interlocução entre aquilo que a Psicologia se ocupa em estudar e as
questões concernentes à identidade, uma vez que estamos falando basicamente
daquilo que somos, certo? Mas podemos aprofundar um pouco mais essa
compreensão. Vamos lá.
No mundo complexo, fluido e rápido que vivemos, pensar sobre
construções identitárias siginifica pensar sobre diferentes formas de compreender os
significados assumidos pelos indivíduos às transformações que eles vivenciaram ao
longo de sua existência. Assim, tomando por base a Psicologia Social, esse debate
pressupõe a análise das relações que as pessoas estabelecem com o seu contexto
social, levando em consideração as tanto questões que operam de modo a manter
ordens e estruturas vigentes, quanto questões que levam a diferentes possibilidades
(MIRANDA, 2014).
Como muitos conceitos na Psicologia, a visão sobre a identidade foi se
modificando ao longo dos diversos aprofundamentos teóricos, bem como a partir das
transformações que a própria ciência psicológica sofreu, hoje indiscutivelmente
atrelada a um compromisso político de uma Psicologia historicamente pensada e
situada. Aqui, quando nos referimos à ideia de político, não estamos falando de
inclinações político-partidárias, mas sim de uma noção de ação compromissada com
a transformação de cenários, com a transformação social - e isto dentro de uma
perspectiva que compreende as características históricas dos processos.
Assim, passou-se a considerar a identidade como um conceito que parte
de uma ideia de movimento e metamorfose, e não de algo no sentido da unicidade,
rigidez ou permanência (ALMEIDA, 2006; CIAMPA, 1987; MIRANDA, 2014). Ou seja,
se discute um sujeito em constante mudança, sem determinações fechadas, em uma
construção que se dá pelos sentidos atribuídos pelo próprio sujeito às experiências
vividas.

Olhando de perto
A partir desse entendimento, podemos dizer que:
“o indivíduo não é mais algo: ele é o que faz” (CIAMPA, 1987, p.135).

Em última análise, a produção identitária ocorre por meio de processos que


fazem com que os sujeitos interiorizem certas atribuições/papéis sociais,
adaptando-os e modificando-os de acordo com seus interesses particulares (CIAMPA,
1987; MIRANDA, 2014). Ou seja, as identidades não são naturais ou, dito de outro
modo, simplesmente dadas. Elas são, sim, ativamente produzidas, são frutos de um
mundo cultural e social e das relações que dele decorrem (SILVA, 2000).
Cabe então à Psicologia o compromisso com uma formação que viabilize
uma práxis que compreenda as multideterminações dos indivíduos. Ou seja, uma
práxis que compreenda o caráter mutável da natureza humana, incluindo sua psiquê.
O estudo sobre a(s) identidade(s) fornece subsídios para a compreensão dos
diferentes posicionamentos que os indivíduos podem assumir diante dos contextos
nos quais estão inseridos, uma vez que esse processo está diretamente relacionado
com a apreensão e atribuição de sentidos aos modos particulares de ser.
Questões

1) Leia atentamente a frase de Ana Mercês Bahia Bock e marque a alternativa


correta, tendo por base os estudos da Psicologia Social sobre subjetividade.
“A subjetividade é a síntese singular que cada um de nós vai constituindo conforme
vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural.”

a) A subjetividade é formada pela relação entre o indivíduo e seu meio familiar.


b) O ser humano está em constante processo de subjetivação a partir de sua relação
com o mundo.
c) A subjetividade é a própria personalidade do indivíduo que, estabelecida, determina
pelos seus instintos e por todos os seus comportamentos ao longo da vida.
d) A formação da subjetividade é um processo passivo. O indivíduo apenas absorve
os estímulos do ambiente social e físico.

2) Visões mais contemporâneas entendem que na produção identitária:


a) O indivíduo é considerado produto e produtor, autor e personagem que se constrói
por meio da atividade social, em um dado contexto e momento histórico.
b) O indivíduo possui uma base fixa e imutável que depende do contexto em que ele
nasce, sobre a qual as vivências vão se acumulando.
c) Identidade e subjetividade se tornam um conceito similar, dizendo respeito à
mesma construção de si.
d) As vivências no seio familiar, nos anos iniciais da vida, têm mais peso do que aquilo
trazido pelos grupos sociais.

3) Analise a afirmação a seguir:


“A subjetivação pode ser considerada a parte passiva do processo a partir do qual a
subjetividade é moldada.”
a) Correta
b) Incorreta
4) Gonzalez Rey compreende a subjetividade como uma organização complexa
que viabiliza a expressão de aspectos da vida social por meio de sentidos
subjetivos e singulares. Isso significa que
a) A objetividade do social exerce uma primazia sobre os aspectos subjetivos,
determinando-os.
b) Subjetividade e interioridade se integram em uma coisa só, una, em uma relação
direta.
c) Os aspectos subjetivos, internos, têm primazia sobre os aspectos objetivos do real.
d) É na articulação individual/social que nasce a subjetividade.

5) (IBFC - SEED RR 2021) Tomaz Tadeu da Silva, escreve sobre a produção


social da identidade e da diferença, numa interface da sociologia com a
psicologia social. A esse respeito, analise as afirmativas abaixo:

I. Não se pode afirmar que identidade e diferença estejam em relação de estreita


dependência. As afirmações trazidas pela identidade não necessita da diferença para
existir, pois a identidade é um conceito, uma referência que se esgota em si mesma.

II. Para o autor, a identidade é simplesmente aquilo que se é: ‘sou brasileiro’, ‘sou
negro’, ‘sou heterossexual’, ‘sou jovem’, ‘sou homem’. A identidade assim entendida
parece ser uma positividade (‘aquilo que sou’), uma característica independente, um
‘fato’ autônomo. Nessa perspectiva a identidade só tem como referência a si própria:
ela é autocontida e auto-suficiente.

III. Para o autor, a diferença é concebida como uma entidade independente. Ao


contrário da identidade, a diferença é aquilo que o outro é: ‘ela é italiana’, ‘ela é
branca’, ‘ela é homossexual’, ‘ela é velha’, ‘ela é mulher’. Nessa perspectiva, a
diferença é também autoreferenciada, como algo que remete a si própria.

IV. Em geral, a diferença é considerado um produto derivado da identidade. Nessa


perspectiva, a identidade é referência, é o ponto original relativamente ao qual se
define a diferença. Isto reflete a tendência de tomar aquilo que somos como sendo a
norma pela qual descrevemos ou avaliamos aquilo que não somos.

Estão corretas as afirmativas:


a) III apenas
b) IV apenas
c) I, II, III e IV
d) II, III e IV apenas

6) (CESPE/CEBRASPE - ALE CE) No que se refere à temática da identidade e da


diferença, julgue os próximos itens

(I) O preconceito e a segregação que, por vezes, sofrem as pessoas portadoras de


deficiência são emblemáticos do resultado da relação entre identidade e diferença:
por não serem identificadas com o padrão estabelecido em sociedade, tais pessoas
são colocadas em um lugar social de diferenciação

(II) A noção de identidade não propicia o reconhecimento das distinções individuais,


visto que representa a identificação com o que está estabelecido na cultura e no meio
social.

a) Somente I está correto.


b) Somente II está correto
c) Ambos estão incorretos
d) Ambos estão corretos.

7) A complexa discussão sobre o conceito de identidade não envolve apenas a


Psicologia. A partir da reflexão sobre identidade e diferença trazida por autores
como Silva (2000) e Souza (2014), podemos entender que

a) O indivíduo, incluindo sua identidade, é moldado com relação ao outro.


b) Identidade e diferença não mantém uma relação de interdependência, sendo
categorias fechadas que se esgotam em si mesmas.
c) A diferença não existe, tudo parte da visão positiva da identidade.
d) É possível pensar sobre identidade e diferença em sua interdependência, sendo
que a construção dessas categorias se dá independente do contexto histórico.
8) Sobre a subjetividade, é incorreto afirmar que
a) É uma espécie de síntese subjetiva das vivências objetivas do mundo.
b) A diferenciação entre subjetividade e personalidade é meramente didática: na
prática dizem respeito ao mesmo fenômeno que é a capacidade humana de dar
sentido às vivências e se expressar.
c) A subjetivação é aquilo que fornece o tom pessoal e indiviualizante à subjetividade,
pois diz respeito ao modo como as diferentes relações são processadas e
internalizadas por cada um.
d) A subjetivação é uma prática concreta, que ocorre a todo momento.

9) Analise a afrimação a seguir, a partir das discussões desse módulo


“o indivíduo não é algo isolado, mas sim um produto do complexo de relações
que ele estabelece com os outros e consigo mesmo. O pensar sobre si só é
possível a partir da perspectiva do outro, a partir do reconhecimento do outro.

a) Correta
b) Incorreta

10) (CESPE) A respeito do processo de formação da identidade, julgue a


afirmação a seguir:
“O estudo da identidade de indivíduos, grupos ou coletividades permite
compreender o posicionamento desses sujeitos diante do contexto em que
estão inseridos”
a) Correta
b) Incorreta
PROPOSTA DE FÓRUM

Assistam ao documentário “Promessas de um novo mundo”, disponível no Youtube


(opções de link abaixo) e discutam impressões sobre o filme, a partir das reflexões
sobre construção de identidades.

Links:
https://www.youtube.com/watch?v=z1J-_dGfKvw parte 1
https://www.youtube.com/watch?v=aEfmMqB3b7Q parte 2

https://www.youtube.com/watch?v=2yDP3FWGI5E completo (qualidade de


legenda um pouco inferior)

Sinopse:
Retrata a história de sete crianças israelenses e palestinas em Jerusalém que, apesar
de morarem no mesmo lugar, vivem em mundos completamente distintos, separados
por diferenças religiosas. Com idades entre 8 e 13 anos, raramente elas falam por si
mesmas e estão isoladas pelo medo. Neste filme, suas histórias oferecem uma nova e
emocionante perspectiva sobre o conflito no Oriente Médio.
REFERÊNCIAS

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias:uma introdução ao


estudo de Psicologia. 15a ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2018.

CIAMPA, A. C. Identidade. In: LANE, S. T. M.; CODO, W. (Orgs.) Psicologia Social:


o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984.

CIAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina. São Paulo:


Brasiliense, 1987.

GUATARRI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed 34, 1992.

GONZALEZ REY, F. Sujeito e subjetividade. São Paulo: Thomson, 2003.

LEMOS, F. C. S. História, cultura e subjetividade: problematizações. Revista do


Departamento de Psicologia. UFF, v. 19, p. 61-68, 2007.

MIRANDA, S. F. Identidade sob a perspectiva da psicologia social crítica: revisitando


os caminhos da edificação de uma teoria. Revista de Psicologia, v. 5, n. 2, p.
124-137, 2014.

OLIVEIRA, A. L; TRINDADE, E. Apontamentos acerca da subjetividade e dos


processos de subjetivação no mundo contemporâneo e suas repercussões na clínica
psicoterápica. Revista Psicologia e Saúde, 2015.

PRADO FILHO, K.; MARTINS, S. A subjetividade como objeto da(s) psicologia(s).


Psicol. Soc., Porto Alegre , v. 19, n. 3, p. 14-19, Dec. 2007

SILVA, F. G. Subjetividade, individualidade, personalidade e identidade: concepções


a partir da psicologia histórico-cultural. Psicol. educ., São Paulo , n. 28, p. 169-195,
jun. 2009 .

SILVA, T. T. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T. T.


(org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes,
2000. p. 103-133
MÓDULO II
GRUPOS IDENTITÁRIOS E MULTICULTURALISMO
Módulo II: Grupos identitários e multiculturalismo

Bem-vindos a mais um módulo da disciplina Psicologia,


Multiculturalismo e Diversidade de Gênero! No módulo anterior, discutimos
algumas noções sobre a construção de identidades. Vimos que as reflexões
sobre o conceito de identidade não se restringem à Psicologia e tampouco
são recentes. Além disso, chegamos à conclusão de que os estudos foram se
encaminhando para uma concepção de identidade como um processo e não
como algo fixo, rígido e imutável.
Ao olharmos para nosso mundo atual, com tantas confluências de
diversas culturas, etnias, gênero, podemos questionar como podem existir
grupos que compartilham certas características identitárias, não é mesmo?
As trocas de informações e o acesso a diferentes culturas, ideias, formas de
ser, de agir e de pensar parecem ter se tornado muito mais fluidas, rápidas e
constantes nesse nosso tempo.
No ano de 2022, por exemplo, ocorreu a Copa do Mundo da FIFA
no Qatar. Participaram desse evento 32 seleções, e a cerimônia de abertura
congregou, em um mesmo espaço, diferentes manifestações culturais. Segue
abaixo um recorte desse momento.

Figura 1- Abertura da Copa do Mundo FIFA 2022


Fonte: Foto de Marcos Paulo Lima/CB/D.A Press, retirado de
https://www.correiobraziliense.com.br/esportes/2022/11/5053122-banda-de-k-pop-bts-e-
morgan-freeman-fazem-a-abertura-da-copa-do-mundo.html

Como pensar em identidades em um mundo assim? Nesse módulo


iremos refletir um pouco sobre grupos identitários e multiculturalismo.
Pensando sobre grupos identitários

Para início de conversa: Importante relembrar a noção que


trabalhamos no módulo passado a respeito de identidade: estamos falando
de uma complexa categoria, um conceito que não se esgota na Psicologia e
que diz respeito à construção de uma “noção de si” pelo ser humano. Essa
construção se dá a partir da apropriação de diferentes relações que ocorrem
em um dado contexto sócio-histórico, sempre em uma relação com o outro.
Outra característica é que esse processo ocorre constantemente
Entre várias formas de se pensar a construção, circulação e
fixação de identidades, podemos tomar como base algumas pontuações
importantes. Nesse caminho, é necessário que levemos em conta alguns
elementos:
➔ Os atores sociais que de algum modo estão articulados a
grupos;
➔ Os motivos que levam a disputas de pertencimento (ou não) a
esses grupos
➔ Os contextos históricos, sociais e culturais nos quais esses
grupos são produzidos e que também contribuem para sua
produção (ENNES; MARCON, 2014).
É comum vermos o termo identidade sendo empregado como um
sinônimo de diversidade cultural. No entanto, essa visão leva a um errôneo
caminho de se enxergar a identidade como um produto da
contemporaneidade, apartada de sua dimensão de construção política e
social. Longe de ser isso, é necessário que pensemos “os processos
identitários a partir de uma perspectiva situacional, relacional e contrastiva na
qual as disputas sociais ocupam um lugar central na constituição da ideia de
diferenças e dos sentimentos de pertença” (ENNES; MARCON, p.286 ,2014).
Mas afinal, o que queremos dizer com isso?
Essa discussão nos leva à reflexão de que os processos
identitários, ou a construção de grupamentos de identidades, não se dão
meramente por um conglomerado de elementos que caracterizam certos
grupos como etnia, gênero, tradições. Estamos falando de um complexo
processo que envolve esses diferentes marcadores, mas que culmina em
espécie de localização social.

“Os processos de localização social caracterizam-se, também, pela


produção da diferença e do sentimento de pertencimento, de
indivíduos e de grupos sociais, dando origem, em suas relações, às
identificações. Essas relações são mediadas por fronteiras materiais
ou simbólicas que funcionam como elementos definidores e
demarcadores do eu/nós e do nós/outros. Tais fronteiras são
socialmente construídas e são ressignificadas em razão das
mudanças dos contextos sociais e históricos.” (ENNES; MARCON,
p.289, 2014)

Para além então de traços e características em comum, estamos


falando de aspectos que decorrem das relações de poder construídas no
cotidiano. O processo de afirmar identidades e marcar diferenças implica,
necessariamente, no binômio incluir/excluir. Ou seja, a identidade e a
diferença são declarações sobre quem pertence e sobre quem não pertence,
e essa divisão desemboca em um processo de classificação da vida social.
De certo modo, significamos, dividimos, ordenamos e
classificamos o mundo social em grupos. Identidade e diferença estão
intimamente relacionadas ao modo como as diferentes sociedades produzem
e utilizam essas classificações (SILVA, 2000). Lembram da discussão que
Foucault (2009) traz sobre o saber/poder? De modo diferentes grupos -
hegemônicos - foram tecendo, construindo e fortalecendo saberes (e
poderes), verdades sobre si e sobre os demais?
Olhando de perto: “As classificações são sempre
feitas a partir do ponto de vista da identidade. Isto é, as
classes nas quais o mundo social é dividido não são
simples agrupamentos simétricos. Dividir e classificar
significa, neste caso, também hierarquizar. Deter o
privilégio de classificar significa também deter o
privilégio de atribuir diferentes valores aos grupos
assim classificados.” (SILVA, 2000,s/p)

Nesse sentido, refletimos também sobre a ideia de normalização.


Esse seria o processo de eleger, de forma arbitrária, uma identidade
específica como ponto de partida em relação ao qual todas as demais
identidades serão analisadas, classificas e hierarquizadas. Lembram da
discussão no módulo passado sobre as relações de poder que Foucault
(2009a, 2009b) traz? Então, estamos falando dessas relações, que decorrem
de um modo de agir de uns sobre os outros.

Glossário: Arbitrário - É a característica de uma decisão que não se pauta


em princípios da lógica, não acompanha nem depende de regras lógicas.

Uma reflexão interessante sobre essa fixação de identidades,


normalização e construção de diferentes grupamentos identitários, a partir
tanto de características em comum como também da localização social
desses grupos, é a ideia de que essa hierarquização coloca a identidade
“ponto de partida”, “normal”, quase como sendo única. Mas como assim?
Silva (2000) discute que essa identidade “normal” tem tamanha força que ela
é tida como natural, é lida como A identidade, e não como UMA entre várias
identidades.
Vamos a exemplos simples: quantas vezes vemos a artistas do
eixo norte-nordeste sendo chamados de “artistas regionais”, ao passo que
artistas do eixo sul-sudestes são “artistas brasileiros”? Quantas vezes
nomeamos como “étnica” ou “exótica” a cultura de países africanos, ao passo
que a cultura dominada por características estadunidenses sequer recebe um
nome específico?

Para refletir: olhem as imagens abaixo e tentem anotar/refletir


sobre características identitárias grupais, a partir das noções que discutidas.

Figura 2 - Criança negra com megafone

Fonte: retirado de FreePik


Figura 3 - Participantes de movimento pelo orgulho LGBTQIA+
Fonte: retirado de FreePik

Figura 4 - Indígenas em protesto

Fonte: Edgar Kanaykõ/ Cobertura colaborativa – Apib, retirado de


https://apiboficial.org/2022/04/14/atl-2022-povos-indigenas-unidos-movimento-e-luta-
fortalecidos/
Ao pensarmos sobre identidade e grupos identitários, algumas
categorias, grupos e definições costumam vir à mente. Entre elas, figuram as
discussões sobre questões raciais.
Nossas reflexões, pautadas nos autores aqui citados e também as
leituras indicadas, permitem que identifiquemos que a história da humanidade
foi e é marcada pela eliminação (seja física ou simbólica) do “outro”, a partir
de conceitos e visões universalizantes, normativas e homogenizantes. Nessa
seara, o conceito de raça se constitui como uma questão que divide opiniões
entre os pesquisadores - assim como diversos temas nas Ciências Humanas.
Se por um lado há aqueles que negam a existência do conceito ou o
vinculam a questões ligadas exclusivamente à biologia, outros expõem o
caráter social e político existente na construção desse conceito.
Neste ponto, recorremos a Boaventura de Sousa Santos e suas
reflexões no que tange a forma como o pensamento ocidental exerce
primazia sobre o mundo, o organizando, classificando e, consequentemente,
hierarquizando. Existiria uma linha abissal, que consiste em um sistema de
distinções. O mundo, por assim dizer, estaria dividido em linhas que repartem
a realidade social em dois lados distintos e bem definidos: deste lado e do
outro lado da linha. (SANTOS, 2007). O “outro lado da linha”, partindo dessa
visão hierarquizada de mundo, desaparece como realidade possível. A
característica fundamental do pensamento abissal, segundo Santos (2007), é
a impossibilidade de co-presença dos dois lados da linha, sendo que essa
exclusão “do outro lado da linha” como realidade possível diz respeito à
exclusão de tudo aquilo que figura neste espaço - saberes, possibilidades de
leituras da realidade, possibilidades de construções de subjetividade(s)... é
mais do que negar, é nem sequer levar em consideração que há a
possibilidade de existência de outros modos, para além do que está “desse
lado da linha”.
Atenção: Essa é uma reflexão densa, complexa, que convoca a
profundas e necessárias modificações no nosso modo de pensar o mundo e
os saberes nele produzidos. Nesse sentido, reforçamos a importância de
leituras complementares da obra de autores que tratam da temática, uma vez
que neste material não será possível exaurir o tema.
Multimidia: veja nossa indicação “INQUÉRITO e Boaventura de
Sousa Santos | Linha Abissal”. Não esqueça de ler a descrição do vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=AlHnMgu_Hys
Quando essa linha abissal se aplica à cor da pele humana, essa
cor passou a determinar características tidas como naturais, tidas como a
norma, segundo as quais certos trânsitos sociais são construídos (SANTOS,
2021). O bom e o ruim, o evoluído e o selvagem, o positivo e negativo
vinculados a características da cor da pele e isso vai moldando o fenômeno
do racismo.
Sobre esse tópico, vale refletir que

“O preconceito racial é um fenômeno de grande complexidade. Por isso,


costume compará-lo a um iceberg cuja parte visível corresponderia às
manifestações do preconceito, tais como as práticas discriminatórias que
podemos observar através dos comportamentos sociais e individuais.
Práticas essas que podem ser analisadas e explicadas pelas ferramentas
teórico-metodológicas das ciências sociais que, geralmente, exploram os
aspectos e significados sociológicos, antropológicos e políticos, numa
abordagem estrutural e/ou diacrônica. À parte submersa do iceberg
correspondem, metaforicamente, os preconceitos não manifestos,
presentes invisivelmente na cabeça dos indivíduos, e as consequências
dos efeitos da discriminação na estrutura psíquica das pessoas.”
MUNANGA, 2002, p. 11

Em síntese, partindo dessa forma de analisar esse fenômeno, o


desenvolvimento do conceito de raça estaria vinculado essencialmente à
expansão e dominação ocidental no mundo, que alastrou uma visão
classificatória desse mundo. A construção desse iceberg se daria, grosso
modo, a partir dessa classificação.
Para refletir: para pensar como isso tudo opera no cotidiano
podemos nos recordar de como os padrões estéticos brancos, especialmente
aqueles euro centrados, se impõe na vida das pessoas. Carone e Bento
(2002) nos colocam a refletir sobre a questão do branqueamento e trazem
para debate as pressões culturais que levam pessoas afrodescendentes a se
adequarem às regras sociais brancas, para serem aceitas.

Multiculturalismo: pensando em um mundo diverso

Vamos iniciar traçando algumas breves conceituações. A


discussão sobre multiculturalismo é complexa e bastante extensa no que diz
respeito a conceituações. Assim, iremos mencionar aqui algumas
abordagens do multiculturalismo, discorridas por Candau (2007):

⚫ A abordagem assimilacionista parte da ideia de que vivemos em uma


sociedade multicultural, no sentido descritivo. Isso significa dizer que o
multiculturalismo é tido como uma característica das sociedades atuais,
quase um “vivemos em sociedades multiculturais e ponto, é isto”. Nesta
sociedade multicultural, as oportunidades não são iguais para todos e os
grupos marginalizados não têm acesso a determinadas coisas. Assim,
seria necessária uma política que visasse a assimilação, a integração
desses grupos à cultura hegemônica e dominante, porém sem mudanças
na matriz, na base da sociedade. Visa-se uma universalização.

⚫ O multiculturalismo diferencialista parte da ideia de que o processo de


assimilação nega e silencia as diferenças. Assim, a proposta seria
enfatizar o reconhecimento das diferenças, garantindo (por exemplo)
espaços próprios e específicos em que as diferentes culturas possam se
expressar. Isso garantiria que as raízes fossem preservadas. Algumas
críticas a essa visão dizem que ela carrega uma concepção estática e
essencialista das identidades, ao momento que por um lado se enfatiza
acesso a diretos socioeconômicos e por outro se fortalece o discurso pela
construção de espaços próprios, culturalmente homogêneos.

⚫ A terceira perspectiva é a intercultural, que parte da premissa da


interação entre as várias culturas, defendendo políticas que visam
empoderar e promover a visibilidade dos diferentes segmentos
socioculturais. A busca seria por uma sociedade mais democrática e
justa, que prega o reconhecimento do outro, compreendendo que existem
raízes e bases culturais, mas que estas são dinâmicas.

Nas últimas décadas, é possível perceber uma mobilização


crescente dos diferentes movimentos sociais na intencionalidade de
denunciar desigualdades e a exclusão de grupos considerados minoritários,
que têm lutado pelo reconhecimento de suas culturas. Vale mencionar que
esse desejo por reconhecimento não está vinculado a um desejo pela
construção de um mundo igualitário, no sentido de um mundo homogenizado
com tendência à uma universalização de culturas. Mais do que isso, os
movimentos têm lutado pela construção de políticas de valorização e
reconhecimento das diferenças humanas (KRETZMANN, 2007)

“O multiculturalismo surge, então, como um desafio para as democracias


liberais, fortemente apoiadas em ideais de igualdade, mas que agora se
deparam com duras críticas dirigidas aos seus governos e instituições
públicas. Como dar respostas às inúmeras e crescentes reivindicações,
baseadas na etnia, na raça, na religião, na sexualidade, no gênero ou em
qualquer área de identificação cultural que clama por reconhecimento?”
(KRETZMANN, 2007, p. 9)

No entanto, a afirmação da existência de diferentes culturas e a


luta na contramão de uma pretensa homogenização e assimilação não deve
ser reduzida a uma visão essencialista das culturas e das identidades, como
se estas fossem simplesmente dadas e existissem no tempo e no espaço de
forma apartada - grupos identitários fechados em si mesmos. Pelo contrário,
parte-se de uma visão que considera sim que cada cultura, cada grupo
identitário, possui raízes mas que estas são históricas e dinâmicas. Há,
portanto, um grau de hibridismo cultural (CANDAU, 2007).
Essa perspectiva do multiculturalismo, compreende, portanto, que
existe um processo dinâmico e permanente de comunicação, relação e
aprendizagem entre diferentes culturas, baseado em princípios de respeito e
legitimidade mútua. Nesse sentido, o ideal de justiça não está vinculado a
uma busca pela igualdade homogenizadora, mas sim pelo respeito à
diferença, à identidade e pela superação do monoculturalismo ocidental que
é tido como norma (CANDAU, 2007; KRETZMANN, 2007; SANTOS; NUNES,
2003).

Figura 5 - Diferentes exemplos de culturas

Fonte: retirado de https://www.escrevologoexisto.com/2014/05/12/multiculturalismo/

Boaventura de Sousa Santos e João Arriscado Nunes, em uma


importante discussão e conceituação sobre multiculturalismo, trazem o
seguinte questionamento:
Como é possível, ao mesmo tempo, exigir que seja reconhecida a
diferença, tal como ela se constituiu através da história, e exigir que os
“outros” nos olhem como iguais e nos reconheçam os mesmos direitos
de que são titulares? Como compatibilizar a reivindicação de uma
diferença enquanto coletivo e, ao mesmo tempo, combater as relações
de desigualdade e de opressão que se constituíram acompanhando
essa diferença? Como compatibilizar os direitos coletivos e os direitos
individuais?
(SANTOS; NUNES, 2003, p.25)

Partindo disso, é possível pensar que a questão multicultural - e


possíveis respostas a esses questionamentos - estão presentes em maior ou
menor grau em sociedades caracterizadas pela presença de instituições
democráticas, população heterogênea e economia que se caracteriza por um
viés pós-industrial, globalizado ou em vias de globalização (KRETZMANN,
2007). Levando em consideração as diversas reflexões já feitas tanto nesse
Módulo, quanto no anterior, é justamente nessas sociedades - diversas - que
há uma forte dinâmica de apartação social e cultural, que lança grupos
socioculturais em espaços segregados, diferenciados.

Figura 6 - Posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023, em representação


simbólica da diversidade do povo brasileiro
Fonte: Foto: AP Photo/Eraldo Peres, retirado de
https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/01/01/lula-toma-posse-diante-de-centenas-de-
milhares-em-brasilia-reafirma-compromissos-de-combate-a-pobreza-e-defende-a-
democracia.ghtml

Em síntese, quando nos referimos a sociedades multiculturais,


estamos falando de contextos que abrigam diferentes povos/grupos
identitários. Nesses cenários, as relações existentes entre os diferentes
grupos - que possuem diferentes origens e expressões culturais - podem ser
harmoniosas ou de conflito. Esse fenômeno não pode ser compreendido
apartado das discussões sobre a globalização, processo que estreitou as
fronteiras entre os diferentes povos e trouxe consigo uma forte tendência à
hegemonização de padrões culturais.
Olhando de perto: “Globalização: Esse fenômeno está associado
à transformação e à aceleração das relações econômicas, industriais e
financeiras, dos meios de comunicação e de transporte e das tecnologias,
levando-os a atingir escalas globais, à constituição de redes mundiais
amplamente interdependentes que ultrapassam as fronteiras nacionais e até
mesmo culturais.” (ZORZI, 2012, p. 26).
Assim, há nessas sociedades uma crescente luta pelo
reconhecimento das diferenças. O multiculturalismo emerge, então, das
reivindicações de grupos minoritários, que sofreram opressões históricas em
seus territórios. A exemplo, podemos citar pessoas afrodescendentes e
populações indígenas.
Atividades

1) Os estudos contemporâneos acerca dos processos identitários


identificam alguns aspectos relevantes nesse processo. De acordo com
o que foi estudado, julgue a afirmativa abaixo:
“ Os contextos históricos, sociais e culturais nos quais grupos
identitários são produzidos têm pouca relevância.”

a) Verdadeiro
b) Falso

2) Para Candau (2007), o multiculturalismo pode ser dividido em


algumas abordagens. Em uma delas, a visão defendida é a de que o
multiculturalismo é uma característica inerente das sociedades atuais.
Nestas sociedades, os diferentes grupos sociais não têm acesso às
mesmas oportunidades, e seriam necessárias políticas capazes de
promover a integração desses grupos. Estamos falando da abordagem
a) integrativa
b) diferencialista
c) assimilacionista
d) intercultural

3) Uma forma de se considerar o multiculturalismo têm comparecido


fortemente nos estudos das últimas décadas, a partir uma mobilização
crescente dos diferentes movimentos sociais na intencionalidade de
denunciar desigualdades e a exclusão de grupos considerados
minoritários. A partir dos nossos estudos, é possível dizer que essa
visão defende que

a) Existem raízes vinculadas às diferentes culturas, mas estas são dinâmicas


e historicamente situadas.
b) É urgente a valorização das raízes das diferentes culturas, por meio de
ações que criem espaços únicos onde elas podem ser vivenciadas.
c) Existe um processo permanente de troca e aprendizado entre diferentes
grupos e culturas. Isso contribui para que traços originários sejam
invisibilizados, criando uma massa homogênea.
d) Não é possível se falar em raízes ou bases das culturas, visto que elas
estão sempre se modificando.

4) Algumas críticas feitas a uma abordagem, uma forma de se


compreender o multiculturalismo, dizem que esta defende uma ideia
estática e essencialista das identidades, ao enfatizar processos que
seriam antagônicos entre si: por um lado reforça o acesso a diretos
socioeconômicos e por outro defende a importância da construção de
espaços próprios, culturalmente homogêneos nos quais as diferentes
culturas possam se manifestar livremente. Estamos falando da
abordagem:
a) Intercultural
b) Assimilacionista
c) Diferencialista
d) Prescritiva

5) Para os estudos multiculturais, qual a relevância dos debates sobre


globalização?

a) Muito relevantes, pois são conceitos que podem ser considerados


sinônimos. O fato de ambos aparecerem na literatura está vinculado somente
à uma escolha dos autores sobre qual termo usar.
b) Pouco relevantes, pois a globalização diz respeito ao processo que
aproximou diferentes culturas em quesitos econômicos, sociais e culturais e o
multiculturalismo é algo inerente às somente das sociedades democráticas.
c) Pouco relevantes, pois a aceleração das relações não culmina por si só na
coexistência de diferentes culturas.
d) Muito relevantes, tendo em vista que dizem respeito a processo que
estreitou as fronteiras entre os diferentes povos e trouxe consigo uma forte
tendência à hegemonização de padrões culturais. Nas sociedades têm se
visto forte movimentos no sentido do reconhecimento das diferenças, mesmo
com o estreitamento das fronteiras.

6) (UEMG - 2019) Em uma visita ao Brasil em 1869, Joseph Arthur


Gobineau, responsável pela criação das teorias raciais, fez o seguinte
depoimento: Nem um só brasileiro tem sangue puro porque os
exemplos de casamentos entre brancos e negros são tão disseminados
que as nuances de cor são infinitas, causando uma degeneração do tipo
mais deprimente tanto nas classes baixas como nas superiores.

(CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (Org.). Psicologia social do racismo:


Estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. RJ: Vozes, 2002.
p. 14.)

O pensamento de Gobineau, que influenciou setores da elite brasileira


no final do século XIX, alimentou um imaginário

a) contrário às práticas que poderiam estimular o racismo.


b) favorável à manutenção da exclusão social dos negros.
c) pessimista sobre a migração de europeus para o Brasil.
d) realista no que se refere à formação do povo brasileiro.

7) Para Silva (2000), as classificações sempre são feitas a partir da


identidade. Isso significa que
a) Existem naturalmente identidades boas e ruins, e a partir disso se organiza
o mundo social.
b) A diferença não existe, na realidade, pois é fruto da identidade.
c) Ocorre o que se entende por normalização, que seria o processo de eleger
de forma arbitrária, uma identidade específica como ponto de partida em
relação ao qual todas as demais identidades serão organizadas.
d) As classes e grupos que o mundo se divide são simétricas e derivadas da
natural organização e hierarquização que ocorre nas relações de poder.
8) Analise a assertiva a seguir:
“O multiculturalismo pode dividido em três correntes: a assimilacionista,
a diferencialista, e o multiculturalismo intercultural, denominado
interculturalidade. A abordagem assimilacionista entende a sociedade
como multicultural, no sentido descritivo, em que os indivíduos não
dispõem das mesmas oportunidades, ou seja, em que não existe
igualdade de oportunidades. Por outro lado, a partir de uma concepção
diferencialista, entende-se que a ênfase sobre a assimilação teria como
consequência a negação da diferença, e, dessa forma, propõe que a
ênfase recaia sobre a diferença e que sejam garantidos espaços para
que as identidades culturais possam se expressar. Já o
multiculturalismo intercultural, privilegia a interculturalidade,
considerando a mesma como a mais apropriada para o
desenvolvimento de uma sociedade capaz de promover uma articulação
entre políticas de igualdade com políticas de identidade.”
a) Correta
b) Incorreta

9) Na metáfora do iceberg usada por Munanga (2007) para falar sobre o


racismo, a parte submersa desse iceberg representa
a) os atos racistas não punidos pela sociedade
b) os atos de menor importância, pois não aparecem no cotidiano
c) os preconceitos não manifestos, mas presentes no imaginário e as
consequências psíquicas da discriminação
d) os preconceitos observáveis nos comportamentos sociais, que sustentam
toda a trama do racismo.

10) De acordo com os estudos desse módulo, qual seria um possível


caminho para responder ao questionamento “Como dar respostas às
inúmeras e crescentes reivindicações, baseadas na etnia, na raça, na
religião, na sexualidade, no gênero ou em qualquer área de identificação
cultural que clama por reconhecimento?(KRETZMANN, 2007, p. 9)”?

a) esse ideal de justiça não está vinculado a uma busca pela igualdade
homogenizadora, mas sim pelo respeito à diferença, à identidade e pela
superação do monoculturalismo ocidental que é tido como norma
b) esse ideal de justiça não está vinculado a uma busca pela igualdade
homogenizadora, mas sim pelo respeito à diferença, à identidade e pela
criação de espaços exclusivos onde as diferentes identidades tenham
respeito e segurança
c) esse ideal de justiça está vinculado a uma busca pela igualdade
homogenizadora, uma vez que é necessário um ponto de partida, uma norma
a partir da qual o mundo se organiza.
d) esse ideal de justiça está vinculado a uma busca pela igualdade
homogenizadora, a partir do respeito à diferença, à identidade e pela
superação do monoculturalismo ocidental que é tido como norma

Proposta de fórum:

As discussões desse Módulo são densas e complexas. Não se esgotam


neste breve material e para uma boa formação acadêmica é
extremamente necessário que vocês busquem aumentar o repertório a
partir de estudos autônomos na área, baseando-se nas discussões
levantadas.

Dito isso, a proposta desse fórum é ampliar as discussões teóricas para


questões práticas. Vamos assistir ao documentário “Escolarizando o
Mundo - O Último Fardo do Homem Branco”, disponível no YouTube, e
trazer nossas análises, percepções e articulações com a temática.

Sinopse:
Dirigido e editado por Carol Black, o documentário Escolarizando o mundo: o
último fardo do homem branco (2010) é uma coprodução dos EUA e da Índia.
O vídeo mostra como a educação escolar tem servido, ao longo dos últimos
séculos, à colonização e à homogeneização cultural de muitos povos
tradicionais. Filmado principalmente em Ladakh, região situada no sudeste da
Ásia, o vídeo traz importantes reflexões sobre o papel que cumprem muitos
projetos de escolarização voltados para as populações tradicionais de todo o
mundo. - retirado de https://sgmd.nute.ufsc.br/content/secadi-formacao-
continuada-pbf/mod-3/saibaescolarizando-mundo.html

Link: https://www.youtube.com/watch?v=3Xux89-8MX4
Referências

CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática


pedagógica. In: MOREIRA, Antonio Flavio; CANDAU, Vera Maria (org).
Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. 2 ed.
Petrópolis, RJ: Vozes.

CARONE, I. BENTO, M. A. Psicologia Social do Racismo: estudos sobre


branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, Editora Vozes, 2002.

ENNES, Marcelo Alario; MARCON, Frank. Das identidades aos processos


identitários: repensando conexões entre cultura e poder. Sociologias, v. 16,
p. 274-305, 2014.

FOUCAULT, Michael. O sujeito e poder. In: DREYFUS, H. L.; RABINOW, P.


Michael Foucault, uma trajetória filosófica: Para além do estruturalismo e
da hermenêutica. 2a ed. Revista. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2009a.

FOUCAULT, Michael. Vigiar e punir: História da violência nas prisões. 36. ed.
Petrópolis: Vozes, 2009b.

KRETZMANN, Carolina Giordani. Multiculturalismo e diversidade cultural:


comunidades tradicionais e a proteção do patrimônio comum da
humanidade. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Direito), Universidade
de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2007.

MUNANGA, Kabengele. Prefácio. In: CARONE, I. BENTO, M. A. Psicologia


Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil.
Petrópolis, Editora Vozes, 200

SANTOS, Boaventura de Sousa. A política da cor: o racismo e o colorismo.


Jornal de Letras, 5 a 18 de maio, 2021. Disponível em
https://www.boaventuradesousasantos.pt/media/Boaventura_A%20pol%C3%
ADtica%20da%20cor%20-
%20o%20racismo%20e%20o%20colorismo_JL_5Maio21.pdf. Acesso em 09
jan 2023.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das


linhas globais a uma ecologia de saberes. Novos estudos CEBRAP, p. 71-
94, 2007.

SILVA, T. T. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T. T.


(org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis:
Vozes, 2000.

ZORZI, José Augusto. Estudos culturais e multiculturalismo: uma


perspectiva das relações entre campos de estudo em Stuart
Hall. Trabalho de conclusão de curso para obtenção de Licenciatura em
História pela UFRG, 2012

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