Faculdade de Educação Mestrado em Educação: Análise Do Quotidiano Escolar
Faculdade de Educação Mestrado em Educação: Análise Do Quotidiano Escolar
Faculdade de Educação Mestrado em Educação: Análise Do Quotidiano Escolar
Mestrado em Educação
Discentes:
Alice Kufa
Almeida Tomás
Cremilda Lima
Mendes Paruque
Nilza Ussaca
Maputo
Março, 2023
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Mestrado em Educação
O Docentes:
Discentes
Alice Kufa
Almeida Tomás
Cremilda Lima
Mendes Paruque
Nilza Ussaca
Maputo
Março, 2022
ÍNDICE
Introdução.....................................................................................................................1
1. O desinteresse dos alunos no quotidiano escolar......................................................2
1.1. Quotidiano escolar e educação multicultural.........................................................5
1.2. Quotidiano escolar e a educação multicultural segundo Banks.............................7
1.3. Quotidiano escolar como estratégia na transformação curricular..........................8
1.4. A motivação e o quotidiano escolar.......................................................................9
1.5. Motivação no quotidiano escolar.........................................................................10
1.6. Quotidiano escolar como espaço de socialização e sociabilidade.......................11
1.7. O quotidiano escolar: uma análise sócio-cultural................................................13
Conclusão...................................................................................................................15
Referências Bibliográficas..........................................................................................17
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Introdução
O quotidiano escolar pode ser entendido como um espaço complexo de interações,
com demarcação de identidades e estilos, sendo assim, esses sujeitos tendem a
transformar os espaços físicos em espaços sociais e culturais. Por isso, quando se fala de
quotidiano escolar, fala-se de uma complexa construção do indivíduo (aluno) na esteira
política, económica e cultural.
A escola é o espaço de socialização e sociabilidade entre jovens e adolescentes,
com múltiplas realidades e pensamentos diferentes, onde participam grupos distintos.
Investigar o cotidiano escolar consiste em buscar os significados atribuídos pelos
sujeitos participantes desse ambiente aos movimentos de interação encontrados dentro
da escola, como eles vêm esse espaço, quais as perspectivas e angústias trazidas para
dentro da instituição, como esse espaço é utilizado, não apenas como lugar de aquisição
de conhecimento, relação essa dada entre professor e aluno dentro da sala de aula, mas
também os outros espaços fora da sala de aula.
Tratando-se de um tema pouco explorado em Moçambique e com raridade
bibliográfica, este trabalho procura discutir a questão do quotidiano escolar virado para
moçambique numa perspectiva crítica; ou seja, ao se ler este trabalho encontram-se
questionamentos e propostas do que não está a acontecer e que devia acontecer no
quotidiano escolar moçambicano.
Aproveitamos as liçoes de alguns teóricos como Rancière (2005) e Banks (1997).
O primeiro, faz uma forte crítica sobre o currículo ao questionar “porque os alunos têm
desinteresse pela escola?” Na sua linha de defesa, procura descrever como os
professores ensinam e se os alunos aprendem o que são ensinados. Se não, porquê?
Enquanto o segundo teórico, Banks, propõe um modelo próprio de educação
multicultural para ser um referente no dia-a-dia das salas de aula, baseado em cinco
dimensões interligadas: Integração de conteúdo, processo de construção do
conhecimento, pedagogia da equidade, redução do preconceito, uma cultura escolar e
estrutura social que reforcem o empoderamento de diferentes grupos.
Mas o autor lamenta pelo facto de o que devia ser visto como um conceito
complexo, nas escolas é dado uma visão reducionista, ou seja, para as escolas, basta
apenas falar da inclusão de contribuições de diferentes grupos étnicos no currículo, ou a
redução do preconceito ou a celebração de festas relacionadas às diferentes culturas;
esta visão é também do domínio político.
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situação de desconforto e nos livrar dos fardos que carregamos há tanto tempo. Mas,
para que algo novo nos aconteça, é necessário que saibamos acolher o novo, que
tenhamos os sentidos aguçados e que deixemos que o desconhecido nos toque, nos
desafie e nos conduza por novos caminhos. A mudança só ocorre se tivermos um
espírito de aventura, de criação e se nos deixarmos tocar pelos sentimentos e
acontecimentos.
Quanto ao currículo considerado como programação pedagógica, muitas vezes,
nos perguntamos: Será que ele deve ser seguido rigorosamente? Ou podemos adaptá-lo
às necessidades, interesses e realidade dos nossos alunos?
Nesse contexto, surgem muitas outras questões para refletirmos, tais como: Temos
que ensinar todo o conteúdo programado? Será que nossos alunos realmente precisam
saber tudo que está previsto no currículo? Faz sentido ou tem algum significado para
eles aprender operações com radicais ou propriedade das potências, por exemplo? E se
não aprenderem, esse conhecimento vai lhes fazer falta?
Ao refletirmos sobre o quotidiano escolar, não poderíamos deixar de pensar sobre
as questões da aprendizagem. E uma dessas questões seria a seguinte: Por que as
crianças, ao ingressarem na escola, perdem a curiosidade e a vontade de aprender que
tinham até então?
Para este caso, Rancière (2005, p. 22) explica que as palavras que a criança
aprende melhor, aquelas em cujo sentido ela penetra mais facilmente, de que se apropria
melhor para seu próprio uso, são as que aprende sem mestre explicador, antes de
qualquer mestre explicador. No rendimento desigual das diversas aprendizagens
intelectuais, o que todos os filhos dos homens aprendem melhor é o que nenhum mestre
lhes pode explicar – a língua materna. Fala-se a eles, e fala-se em torno deles. Eles
escutam e retêm, imitam e repetem, erram e se corrigem, acertam por acaso e
recomeçam por método, e, em idade muito tenra para que os explicadores possam
realizar sua instrução, são capazes, quase todos – qualquer que seja seu sexo, condição
social e cor de pele – de compreender e de falar a língua de seus pais.
Aqui, Rancière levanta um grande debate sobre a realidade do nosso quotidiano
escolar moçambicano em relação as línguas maternas. Em Moçambique, as línguas
maternas ou nacionais sao tratadas com tabú como sinónimo de ruralidade e
primitivismo. De tal sorte que as crianças sao obrigadas a aprender em Língua
Portuguesa, que é uma segunda língua para a maioria dos moçambicanos. Mesmo a
tentativa do ensino belingue, nota-se quase que fracassada porque os pais nao querem
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que os seus filhos aprendam em linguas nativas. Mas segundo o que Rancière nos
mostra, os filhos dos homens aprendem melhor o que nenhum mestre lhes pode explicar
– a língua materna.
Quando se rompe esta trajectória, segundo (Santos, 2012) ao ingressar na escola, a
criança já não aprende aquilo que lhe interessa ou aquilo que lhe é necessário e, sim, o
que os professores acreditam que deve aprender. A aprendizagem deixa de ser algo
natural, espontâneo, e passa a ser imposto. O desafio da descoberta é substituído pelas
lições prontas, ordenadas e sem espaço para questionamentos, dúvidas e novidades.
Tudo agora está pronto e encerrado no livro didático e no saber do professor. A aventura
de descobrir e de aprender se transformou em um fardo para a criança.
Considera-se que, na escola, os professores ensinam e os alunos aprendem. Mas
será que realmente é possível ensinar algo a alguém? Será que os alunos realmente
aprendem? Todos os anos, ao iniciarem as aulas, quando nós, professores, começamos a
tratar de certos assuntos e retomar conteúdos, teoricamente já trabalhados em aula, os
alunos são unânimes em repetir que não estudaram tal assunto nas séries anteriores.
Sabemos que tal conteúdo foi “explicado” pelo professor que nos antecedeu. Por que,
então, os alunos não se lembram de tudo que foi explicado?
Não sabemos se é possível que o professor ensine algo ao seu aluno. Podemos
afirmar, no entanto, que é possível, sim, conduzi-lo ao caminho do aprendizado,
proporcionando-lhe liberdade de pensamento, desafiando-o a 4 questionar e investigar e,
acima de tudo, acreditando na possibilidade de que o outro (aluno) é capaz de aprender
e se tornar autônomo no processo de aprendizagem. Talvez, dessa forma, seja possível
não sufocar a curiosidade própria que a criança apresenta antes do período escolar e
permitir que continue tendo vontade de aprender.
E o que poderíamos dizer sobre os pensamentos, as palavras, as atitudes dos
professores e alunos, que também fazem parte do cotidiano escolar? Através das
palavras e de coisas que parecem sutis, como, por exemplo, um gesto, um olhar,
podemos tocar as pessoas e, de alguma forma, que talvez nem possamos explicar,
podemos ser agentes de alguma transformação, de alguma produção de sentido,
sentimento ou reflexão.
Segundo Larrosa (2001, p. 19-20), “as palavras produzem sentido, criam
realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de subjetivação.” O
comportamento apresentado por inúmeros alunos, com os quais convivemos
diariamente, reflete o quanto a afirmação acima é verdadeira. Muitos deles não
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acreditam que têm capacidade de aprender. Mas o que terá levado esses alunos a
desenvolver essa crença? Teria sido o poder da palavra? As palavras proferidas por pais
e professores a respeito da capacidade que o aluno tem de aprender podem, sim,
influenciá-los no desenvolvimento de seu aprendizado. No entanto, é preciso crer não só
na palavra, mas também nos gestos, olhares, silêncios e atitudes.
Nas práticas educativas Conhecemos hoje muitas teorias do aprendizado, mas
precisamos aprender a desafiar nosso aluno a criar algo novo ou recriar, através de
investigação, um conhecimento já estabelecido, ou a desconfiar do mesmo. Dificilmente
há espaço para o questionamento, para a busca do novo ou para a criação de novas
formas de pensar, aprender ou viver. Por que, na escola, é o professor quem faz as
perguntas? Não deveriam ser os alunos os interessados em perguntar?
O desejo de aprender e ensinar pode nos levar a realizar um trabalho de pesquisa a
partir da nossa prática escolar. A sala de aula é um campo fértil para a investigação,
para a criação e o desenvolvimento de novos saberes, novas formas de conhecimento e
cultura. A prática da pesquisa, no contexto de ensino e aprendizagem, pode transformar
nosso trabalho em algo mais rico e prazeroso.
Para Banks & Banks (1997), a educação multicultural deve ser entendida como um
conceito complexo e multidimensional. Afirmam que se costuma focalizar apenas uma
de suas dimensões, reduzindo-a.
Na escola esta visão reducionista se evidencia pelo entendimento do
multiculturalismo como apenas a inclusão de contribuições de diferentes grupos étnicos
no currículo, ou a redução do preconceito ou a celebração de festas relacionadas às
diferentes culturas. Na visão de educação multicultural proposta por Banks, a ênfase não
é no ou, mas sim no e. Assim, cada atividade que pretenda trabalhar a perspectiva
multicultural é importante na medida em que esteja integrada numa proposta ampla, ou
seja, que não se constitua em uma iniciativa isolada.
definição dada por Émile Durkheim (1952) temos a contribuição do sociólogo George
Simmel (1983), que mostra-se contrário as afirmações do autor quanto a proeminência
do social sobre o individual, segundo ele a sociedade não é composta apenas por
indivíduos, e sim por indivíduos em interação. De acordo com Dayrell (2005),
uma enorme diversidade cultural, múltiplos significados atribuídos pelos alunos para a
instituição escolar, diferentes projetos de vida e, não levando em conta essa gama de
possibilidades não estaremos extraindo do cotidiano escolar sua verdadeira essência.
Conclusão
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Referências Bibliográficas
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