Livro Novoa Digital
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António Nóvoa
Com a colaboração de Yara Alvim
Salvador, Bahia
2022
Capa e Projeto Gráfco
Marvin Kennedy
Instituto Anísio Teixeira - IAT
Diagramação
Marvin Kennedy
Instituto Anísio Teixeira - IAT
Impressão
Empresa Gráca do Estado da Bahia - EGBA
Capítulo 1
A Metamorfose da Escola 9
Capítulo 2
Nada é novo, mas tudo mudou:
Pensar a escola futura 23
Capítulo 3
Os professores depois da pandemia 33
Capítulo 4
Os professores e a sua formação num
tempo de metamorfose da escola 55
Capítulo 5
Três teses sobre o terceiro: Para
repensar a formação de professores 75
Capítulo 6
Entre a ormação e a prossão: Ensaio
sobre o modo como nos tornamos
professores 91
Bibliograa 106
Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar
Apresentação
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Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar
Nos tempos dramáticos que estamos a viver, temos todos muitas dúvidas e hesi-
tações. Não sabemos bem o que pensar, nem o que fazer, nem a melhor forma de
agirmos enquanto docentes. Estas dúvidas são legítimas, e até necessárias. Precisa-
mos de conversar sobre elas, com os nossos colegas, e ir encontrando os caminhos que
permitam continuar a nossa acção.
É isso que se procura fazer neste livro. Os dois primeiros capítulos centram-se nas
escolas e na necessidade da sua transormação. O capítulo 3 refecte sobre os pro-
fessores depois da pandemia. Os três últimos capítulos debatem temas relacionados
com a formação de professores.
A conversa entre nós, a partilha das nossas dúvidas, é a melhor forma de irmos
mantendo a liberdade, uma liberdade que pertence a cada um de nós, irredutivel-
mente, mas que ganha um alcance maior no encontro com os outros.
Nunca pensamos sozinhos. Hoje, no meio desta tragédia pandémica, sabemos, me-
lhor do que nunca, que isoladamente pouco ou nada podemos. Só “juntos” podere-
mos denir os caminhos de uturo para a educação.
António Nóvoa
Bahia, 4 de Fevereiro de 2022
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Capítulo 1
A metamorfose da Escola
Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar
Abertura
A história da escola é conhecida. Na longa duração do tempo, sobretudo
a partir do século XVI, foram-se estabelecendo processos e modos de
organização que ganharam orma, denitivamente, na segunda metade
do século XIX. Consagra-se, então, o princípio da escolaridade obriga-
tória (processo que os anglófonos traduzem bem com a expressão mass
schooling) e consolidam-se os grandes sistemas de ensino, em três ciclos
principais: o primário, o secundário e o terciário (superior). Precisamen-
te no mesmo período, consolida-se um modelo escolar que, nos seus
traços fundamentais, chega até aos nossos dias:
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Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar
O futurismo da educação
É impossível enumerar as obras que, nos últimos anos, se têm publicado
sobre o futuro da educação. São milhares de textos, em todas as línguas,
que procuram dar resposta ao sentimento generalizado de que a escola
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Uma das refexões mais importantes prende-se com a relação entre a edu-
cação e o trabalho. Num relatório do Institute for the Future, intitulado
Emerging technologies’ impact on society & work in 2030 (2018), arma-se que
cerca de 85% dos empregos que os nossos alunos terão em 2030 ainda não
foram inventados. A maioria das projecções aponta neste sentido, tendo
sempre como referência a robotização e a automatização do trabalho ou,
como é escrito no relatório, “a formação de uma nova parceria entre os
humanos e as máquinas”. Como é evidente, armações deste tipo põem
seriamente em causa a lógica actual da escola e das aprendizagens.
Os três grupos ou tendências que, de forma mais intensa, têm vindo a in-
terrogar o modelo escolar são os neurocientistas, os especialistas do digital
e os deensores da inteligência articial. Os seus argumentos cruzam-se e
têm muitos pontos em comum, mas, ainda assim, vale a pena ensaiar uma
denição caso a caso.
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Desintegração ou metamorfose?
Num texto notável publicado no jornal francês Le Monde, em 2010,
Edgar Morin refere-se ao sistema Terra em termos que são totalmente
pertinentes para pensar também o sistema Escola:
Esta longa citação era necessária. O que Edgar Morin diz sobre o sis-
tema Terra aplica-se, mutatis mutandis, ao sistema Escola. Também aqui
talvez o mais provável seja a desintegração, na linha do que as tendências
acima descritas têm vindo a advogar, implícita ou explicitamente. Mas
ainda é possível um gesto de sobrevivência, de transformação, de meta-
morfose da escola.
É este gesto que se defende neste texto, por três razões principais:
primeiro, porque as aprendizagens são decisivas, mas a educação não
se reduz apenas às aprendizagens, e não se podem ignorar as dimen-
sões de socialização e de convivialidade; depois, porque as questões
da personalização são de grande importância, e respondem a um
propósito antigo de assegurar a diferenciação pedagógica, mas a es-
cola não se esgota no plano individual e constitui uma instituição
central para a vida social; nalmente, porque a escola não pode ser
vista apenas como um bem privado, arrastando uma lógica consu-
mista, e tem de ser pensada também como um bem público e um
bem comum.
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Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar
A metamorfose da escola
A educação já não cabe no ormato escolar do nal do século XIX. Eu
gosto da escola e da cor das suas paredes. Mas isso não me leva a perpe-
tuar um modelo que não serve para educar as crianças do século XXI. A
escola precisa da coragem da metamorfose, de transformar a sua forma.
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Para concluir
Durante muito tempo a escola foi considerada como um período de pre-
paração para a vida. Depois, nos primórdios do século XX, autores como
John Dewey explicaram que a escola é a própria vida. Hoje, provocatoria-
mente, gostaria de sugerir que a escola tem de ser mais do que a vida, isto
é, mais do que a vida culturalmente limitada de muitas crianças e jovens.
A escola tem de nos pôr em contacto com realidades e culturas que, sem
ela, nos teriam cado inacessíveis. Nesse sentido, não pode limitar-se a re-
produzir a vida, mas tem de aspirar a ser mais do que “esta” vida, abrindo
viagens e oportunidades que, de outro modo, jamais teriam acontecido. A
escola não se pode nunca desviar da sua nalidade primordial: conseguir
que os alunos aprendam a pensar. Para isso, precisa do esforço analítico,
mas também da pulsão criadora, precisa da capacidade de ler, e da von-
tade de escrever.
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Capítulo 2
Nada é novo, mas tudo mudou:
Pensar a escola futura
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E, de repente, a pandemia
No início de 2020, o mundo foi surpreendido pela pandemia da
COVID-19. De repente, o que era tido como impossível, transfor-
mou-se em poucos dias: diferentes espaços de aprendizagem, so-
bretudo em casa; diferentes horários de estudo e de trabalho; dife-
rentes métodos pedagógicos, sobretudo através de ensino remoto;
diferentes procedimentos de avaliação, etc. A necessidade impôs-se
à inércia, ainda que com soluções frágeis e precárias.
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Claro que tudo isto foi possível pela necessidade de preservar a saúde
pública e de responder a uma crise de proporções mundiais. Mas mos-
trou que a mudança é possível. Para muitos, esta mudança é sobretudo
digital ou tecnológica, como se tudo agora passasse a ser feito virtu-
almente e à distância. Essa seria uma mudança altamente indesejável.
Perder-se-ia uma dimensão central da educação, a interacção humana,
a convivialidade, a aprendizagem da vida em comum. Acentuar-se-iam
as tendências consumistas e perder-se-iam as dimensões públicas.
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Capítulo 3
Os professores depois da pandemia
Para Paulo Freire, nascido há cem anos, e que não morre, pelo contrá-
rio, continua.
Abertura
Em 2020 tudo mudou. Com a pandemia terminou o longo século
escolar, iniciado cento e cinquenta anos antes. A escola, tal como a
conhecíamos, acabou. Começa, agora, uma outra escola. A era digital
impôs-se nas nossas vidas, na economia, na cultura e na sociedade, e
também na educação. Nada foi programado. Tudo veio de supetão.
Repentinamente. Brutalmente.
É isso que nos diz Condorcet, nas suas conhecidas Memórias sobre a
instrução pública, a propósito da Revolução Francesa: “De repente, um
acontecimento feliz abriu um caminho imenso para as esperanças do
género humano; um breve instante colocou um século de distância
entre o homem de hoje e o de amanhã” (ver Baczko, 1982, p. 9). É
isso que se passa, hoje, com este acontecimento infeliz, a COVID-19.
Em poucos meses, deram-se transformações que, na normalidade dos
tempos, teriam demorado décadas.
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Segundo, é preciso dizer que as tecnologias, por si só, não educam nin-
guém. É difícil evitar uma das frases mais famosas do século XX – “o
meio é a mensagem”. Na época, a referência dirigia-se aos “meios de
comunicação” e Marshall McLuhan acertava no alvo: “A mensagem de
qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, ritmo ou padrão que
introduz na vida humana” (1969, p. 21). Hoje, a frase ganha uma outra
dimensão, ace às possibilidades innitas do digital. Ninguém, no seu per-
feito juízo, poderá negar a sua importância. Mas as questões tecnológicas
não são apenas tecnológicas, são pedagógicas, e políticas. A nossa pergun-
ta é a mesma de Gert Biesta, ainda antes da pandemia: “chegou a hora de
desistir da escola moderna, e das suas promessas, entregando-a nas mãos
da Pearson, da Google e de outros capitalistas educacionais, ou devemos
tentar uma vez mais e, nesse caso, o que devemos fazer?” (2019, p. 657).
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Chegamos, assim, à nossa primeira tese: para levantar este espaço pú-
blico comum da educação são necessários construtores. Precisamos
de professores que assumam plenamente esta missão. São eles que, em
proximidade com as famílias, os poderes locais, as entidades públicas e
privadas, podem construir as condições para uma capilaridade educa-
tiva baseada no comum e na convivialidade.
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Tudo deve ser feito sem lançar as crianças na agitação dos tempos que
correm. Por isso, quisemos que esta parte do texto fosse lida ao som de
um andante con moto. Movimento, sim, mas ao ritmo humano, porque o
tempo da escola é lento, precisa de um passo seguro, pausado. A escola
só vale a pena se for diferente da sociedade.
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Coda
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Diane Ravitch (2020) é uma das autoras que, de forma mais sistemática,
tem denunciado estas “novas” lógicas educativas, desenvolvidas por “bi-
lionários imprudentes” que têm procurado “reinventar” e “redesenhar”
a educação nos Estados Unidos da América, através da privatização, do
empreendedorismo e do digital. Estão a vender o “sonho” de uma edu-
cação cada vez mais individualizada, com o recurso a sosticadas solu-
ções tecnológicas. As escolas e os professores seriam dispensáveis ou,
pelo menos, teriam um papel secundário na educação do futuro.
O nosso texto é escrito contra esta visão. Nesse sentido, pode ser lido
como um manifesto em defesa da valorização e da transformação da
educação pública e do triplo papel dos professores na construção de
um espaço público comum da educação, na criação de novos ambien-
tes escolares e na composição de uma pedagogia do encontro.
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Sabemos, pelo menos desde John Dewey, que uma democracia é mais
do que uma forma de governo, “é, primacialmente, uma forma de vida
associada, de experiência conjunta e mutuamente comunicada” (1952,
p. 126). A escola deve ser um espaço de liberdade, onde se aprende “a
fabricar o que é comum” (Meirieu, 2020). Nesse sentido, sem cairmos
em ilusões ingénuas, temos de responder “sim”, à pergunta formulada
pelos nossos colegas François Dubet e Marie Duru-Bellat (2020): A
escola pode salvar a democracia?
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Capítulo 4
Os professores e a sua formação
num tempo de metamorfose
da escola
Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar
Abertura
Este texto não pretende analisar este processo, mas apenas anotar as
suas consequências para os professores e para a sua formação. De-
pois desta abertura, o primeiro andamento é dedicado a uma análise
centrada nas políticas educativas e na organização da escola, procu-
rando identicar o processo de metamorose da escola que está a ter
lugar nos dias de hoje. De seguida, depois de uma ponte, o segundo
andamento é dedicado à formação de professores, insistindo-se na
necessidade de uma nova institucionalidade, juntando em triângulo
as universidades, a prossão docente e as escolas da rede. O texto
fecha com um breve epílogo sobre uma iniciativa excecional que está
a ter lugar na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a criação de
um Complexo de Formação de Professores.
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1.º andamento
Políticas educativas e organização da escola
Nada teria sido feito sem os professores. Para cumprir a sua missão,
os Estados constituem um corpo prossional docente que é recru-
tado, formado, remunerado e controlado pelos poderes públicos. A
prossionalização dos proessores é um ator decisivo da produção
do modelo escolar.
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A escola assenta num contrato social e político que lhe atribui a res-
ponsabilidade pela formação integral das crianças e num modelo orga-
nizacional bem estabelecido (Nóvoa, 2006). No início do século XXI
começou a tornar-se claro que este contrato e este modelo precisam de
ser profundamente repensados. Já não se trata de melhorias ou de aper-
feiçoamentos ou mesmo de inovações, mas de uma verdadeira meta-
morose da escola. Fazer esta armação é, também, reconhecer as mu-
danças que, inevitavelmente, atingem os professores e a sua formação.
E agora?
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diferenciar os percursos dos alunos, mas isso não implica que a escola
abdique de ser um lugar de construção “do comum”. Hoje em dia, a
fragmentação a que estamos a assistir no cibermundo, coloca a escola
perante a urgência de valorizar a nossa pertença a uma mesma huma-
nidade e a um mesmo planeta. Este comum não vem de “comunidade
de identidade”, mas sim de “comunidade de trabalho”, isto é, o que
fazemos em comum uns com os outros independentemente das nos-
sas origens, crenças ou ideias.
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2.º andamento
Os professores e a sua formação
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Formação inicial
No decurso da história, as universidades revelaram uma grande indife-
rença em relação à formação de professores. Contrariamente a outras
prossões (teologia, direito, medicina) que estão na origem das uni-
versidades, a formação de professores foi sempre uma preocupação
ausente ou secundária.
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Indução profssional
A relação que se estabelece, na formação inicial, entre os estudan-
tes das licenciaturas e os professores da educação básica é muito
importante para conceber políticas de indução prossional, isto é,
de inserção dos jovens proessores na prossão e nas escolas. A or-
mação nunca está pronta e acabada, é um processo que continua ao
longo da vida.
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Formação continuada
O ciclo do desenvolvimento prossional completa-se com a or-
mação continuada. Face à dimensão dos problemas e aos desaos
atuais da educação precisamos, mais do que nunca, de reforçar as
dimensões coletivas do professorado. A imagem de um professor
de pé junto ao quadro negro, dando a sua aula para uma turma de
alunos sentados, talvez a imagem mais marcante do modelo escolar,
está a ser substituída pela imagem de vários professores trabalhando
em espaços abertos com alunos e grupos de alunos.
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Epílogo
No Brasil, levantam-se as mesmas questões que em muitos outros paí-
ses, mas os problemas são maiores, mais nítidos, sobretudo no que diz
respeito à situação da escola pública e às condições de trabalho e de
carreira dos professores. É preciso encontrar uma saída, urgente, que
passa pelas políticas, mas passa também pela mobilização da sociedade
e de todos aqueles que acreditam na força da escola pública e da sua
importância para a revitalização da democracia.
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Sei bem que, atualmente, houve um grande recuo nesta ação da CA-
PES, mas não quero deixar de assinalar o gesto inicial e o caráter inédi-
to deste programa. Uma das suas qualidades foi ter conseguido ligar o
debate sobre a ormação de proessores com a melhoria da prossão
docente, como se escreve na Carta de Uberaba, aprovada em 2013,
com um título bem revelador: “Em deesa da identidade e prossiona-
lização docente: Por um projeto de Estado, articulado e sistêmico que
pense a formação inicial e continuada, as condições de trabalho, plano
de carreira e salário do professor”.
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Capítulo 5
Três teses sobre o terceiro:
Para repensar a formação
de professores
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Iniciando
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Primeira tese
Repensar a formação de professores: Construir um tercei-
ro lugar institucional
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Segunda tese
Repensar a formação de professores: Valorizar um terceiro
género de conhecimento
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Terceira tese
Repensar a formação de professores: Reforçar uma tercei-
ra presença colectiva
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Concluindo
Estamos a viver um tempo difícil na formação de professores.
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Por isso, quis chamar a atenção, ao longo deste ensaio, para a relação
entre a ormação e a prossão. Para o azer, é imprescindível cons-
truir sínteses e alternativas que nos permitam escapar a dicotomias e
binarismos, promovendo:
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Não tenho certezas, mas tenho muitas dúvidas. Não tenho respostas,
mas tenho muitas perguntas. Deixo-vos com as minhas dúvidas e as
minhas perguntas. É o melhor que vos posso dar.
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Capítulo 6
Entre a ormação e a profssão:
Ensaio sobre o modo como nos
tornamos professores
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Começando
No início dos anos 80, iniciei os meus estudos sobre a prossão
docente, que conduziram à minha primeira tese de doutoramento,
defendida na Universidade de Genebra, em 1986, sobre o processo
de prossionalização dos proessores. Desde esta época, apesar de
todas as voltas na vida, nunca mais deixei este tema. Numa perspe-
tiva histórica ou comparada, política ou pedagógica, o reforço da
prossionalidade docente tem sido a preocupação mais permanente
do meu trabalho.
Por isso, quis organizar este ensaio em torno deste período entre-dois,
Entre a ormação e a prossão, procurando deixar alguns contributos so-
bre o modo como nos tornamos professores.
Escrevo este texto livremente, com essa liberdade que nos deixou
Montaigne nos seus ensaios, compostos não para nos dar respostas,
mas para tentar conhecer-se melhor, para preservar a sua independên-
cia interior. Só as perguntas me interessam, sobretudo as que faço a
mim mesmo.
Sei bem que este estilo não segue as regras de publicação nas revistas
cientícas. Mas é de propósito. O mundo universitário transormou-
-se num mundo sem sentido, vergado às exigências dos rankings, das
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Pouco importa se esta atividade tem algum sentido para os seus au-
tores, e para os leitores (caso existam), pouco importa o trabalho que
realizam na educação dos estudantes, pouco importa o investimento
que fazem no espaço universitário (na gestão, na animação, na rela-
ção com a sociedade), apenas importa a alimentação permanente do
mundo das revistas cientícas. Não nego que haja conhecimento e re-
fexão crítica neste mundo. A negação seria absurda. Mas recuso-me,
isso sim, a aceitar que ele domine a totalidade da vida universitária,
sobretudo nas ciências sociais e humanas.
Nesta fase da minha vida, o melhor que vos posso dar é a minha
liberdade, isto é, a minha recusa de aceitar passivamente este estado
de coisas. O meu interesse é o caminho, a procura, a viagem, nunca
a chegada a um qualquer porto seguro. Escrevo este ensaio, lendo e
relendo Stefan Zweig sobre Montaigne: “Só há um erro e um crime:
querer fechar a diversidade do mundo em doutrinas e sistemas”. Por
isso: “Pensem os vossos próprios pensamentos, e não os meus! Vi-
vam a vossa vida! Não me sigam cegamente, sejam livres!”.
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Para isso, precisamos de superar três silêncios que têm marcado o perí-
odo de indução prossional, isto é, de iniciação e de introdução numa
dada prossão:
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Alguns, deendem que deve ser “ormação prossional”, mas não ne-
cessariamente de “nível universitário”, pois bastaria uma formação
técnica, prática, “vocacional”, preparando os professores para o tra-
balho do dia-a-dia. É por isso que, em muitos países, a formação de
professores está ainda sob a alçada de “escolas normais”, ou similares,
de nível médio e com um cariz aplicado.
Outros, sustentam que deve ser “de nível universitário”, mas não
lhes agrada que seja “ormação prossional”, pois entendem esta
designação como uma diminuição ou desvalorização das dimensões
teóricas. É por isso que, em muitos países, a formação de professores
está no meio de cursos que formam para várias actividades ou pro-
ssões de ensino e educação, diluindo a especicidade da ormação
de professores.
Mas defendo também que a formação deve ser feita no espaço uni-
versitário, pois é este o lugar das prossões do conhecimento (me-
dicina, engenharia, direito, docência, etc.). Porém, é necessário que
a universidade compreenda, de uma vez por todas, a necessidade de
construir parcerias e ligações com as escolas, os professores e os ór-
gãos de gestão pública da educação (secretarias municipais e estaduais
de educação), pois só assim se poderão construir políticas coerentes
de ormação e de desenvolvimento prossional.
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Dois
Estes três momentos são muito distintos, mas devem estar articulados
de forma coerente. Podemos mesmo argumentar que há ainda uma
fase anterior ao primeiro momento, relacionada com as estratégias
para atrair estudantes do ensino médio para as licenciaturas, e uma fase
posterior ao último momento, dirigida a uma saída serena da prossão.
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Três
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Quatro
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Cinco
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Seis
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Concluindo
Estamos a viver um tempo difícil na formação de profes-
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Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar
Versões iniciais dos seis textos incluídos neste volume foram publica-
das nas seguintes revistas:
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