Questões de Literatura - Grande Revisão - Prof. Jéssica Mineiro

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 21

Questões de literatura – Grande revisão 2022

Prof. Jéssica Mineiro

01 - (ENEM/2009)

Pobre Isaura! Sempre e em toda parte esta contínua importunação de senhores e de escravos, que
não a deixam sossegar um só momento! Como não devia viver aflito e atribulado aquele coração!
Dentro de casa contava ela quatro inimigos, cada qual mais porfiado em roubar-lhe a paz da alma, e
torturar-lhe o coração: três amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma êmula terrível e desapiedada,
Rosa. Fácil lhe fora repelir as importunações e insolências dos escravos e criados; mas que seria
dela, quando viesse o senhor?!...

GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1995 (adaptado).

A personagem Isaura, como afirma o título do romance, era uma escrava. No trecho apresentado, os
sofrimentos por que passa a protagonista

a) assemelham-se aos das demais escravas do país, o que indica o estilo realista da abordagem do
tema da escravidão pelo autor do romance.

b) demonstram que, historicamente, os problemas vividos pelas escravas brasileiras, como Isaura,
eram mais de ordem sentimental do que física.

c) diferem dos que atormentavam as demais escravas do Brasil do século XIX, o que revela o caráter
idealista da abordagem do tema pelo autor do romance.

d) indicam que, quando o assunto era o amor, as escravas brasileiras, de acordo com a abordagem
lírica do tema pelo autor, eram tratadas como as demais mulheres da sociedade.

e) revelam a condição degradante das mulheres escravas no Brasil, que, como Isaura, de acordo com
a denúncia feita pelo autor, eram importunadas e torturadas fisicamente pelos seus senhores.

02 - (ENEM/2009)

Isto

Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.


Tudo o que sonho ou passo

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

PESSOA, F. Poemas escolhidos. São Paulo: Globo, 1997.

Fernando Pessoa é um dos poetas mais extraordinários do século XX. Sua obsessão pelo fazer
poético não encontrou limites. Pessoa viveu mais no plano criativo do que no plano concreto, e criar
foi a grande finalidade de sua vida. Poeta da “Geração Orfeu”, assumiu uma atitude irreverente.

Com base no texto e na temática do poema Isto, conclui-se que o autor

a) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do texto.

b) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais.

c) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do poeta.

d) apresenta a concepção do Romantismo quanto à expressão da voz do poeta.

e) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do eu lírico.

03 - (ENEM/2009)

Ó meio-dia confuso,

ó vinte-e-um de abril sinistro,

que intrigas de ouro e de sonho

houve em tua formação?


Quem ordena, julga e pune?

Quem é culpado e inocente?

Na mesma cova do tempo cai o castigo e o perdão.

Morre a tinta das sentenças

e o sangue dos enforcados...

— liras, espadas e cruzes

pura cinza agora são.

Na mesma cova, as palavras,

o secreto pensamento,

as coroas e os machados,

mentira e verdade estão.

[...]

MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfi dência.

Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. (fragmento)

O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história nacional, a Inconfidência
Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário e contexto histórico indica que a produção
literária é sempre uma recriação da realidade, mesmo quando faz referência a um fato histórico
determinado. No poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por meio

a) do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir como forma poética
desassociada da história nacional.

b) da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em batalha épica que exalta a
força dos ideais dos Inconfidentes.

c) da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do movimento da Inconfidência: a


derrota, a prisão e a morte dos Inconfidentes.

d) do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que, questionada poeticamente,


alcança sua dimensão histórica mais profunda.

e) do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi atribuído ao fato histórico pela
autora, a fim de exaltar o heroísmo dos Inconfidentes.
04 - (ENEM/2010)

Negrinha

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e
olhos assustados.

Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da
cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de
crianças.

Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na
igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balança
na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo.
Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da
moral”, dizia o reverendo.

Ótima, a dona Inácia.

Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.

[...]

A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora
de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se
afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual.

LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).

A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição inferese,


no contexto, pela

a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas.

b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas.

c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.

d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto.

e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos.

05 - (ENEM/2010)

Capítulo III
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este
par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher,
escolheria a bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e
sério. Era espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais
que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas
estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados
brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da
província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros
serviços.

ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 1993 (fragmento).

Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No fragmento


apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside

a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência sobre a
essência.

b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela dos
imigrantes.

c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Rubião.

d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a durabilidade
dos bens produzidos pelo trabalho.

e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de xenofobia.

06 - (ENEM/2010)

Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura
nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta
para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a
intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros artistas
modernistas

a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a
originalidade e os temas nacionais.

b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a
criação artística nacional.
c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a
prática educativa.

d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística
ligada à tradição acadêmica.

e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados.

07 - (ENEM/2009)

Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,

Soluçando nas trevas, entre as grades

Do calabouço olhando imensidades,

Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza

Quando a alma entre grilhões as liberdades

Sonha e, sonhando, as imortalidades

Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas

Nas prisões colossais e abandonadas,

Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,

que chaveiro do Céu possui as chaves

para abrir-vos as portas do Mistério?!

CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura /

Fundação Banco do Brasil, 1993.

Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no


poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.

b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.

c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.

d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas


inovadoras.

e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de
temas do cotidiano.

08 - (ENEM/2009)

Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a
representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma
composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre
si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma
estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com
lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos
dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo
uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou
ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4)
pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio
da representação.

COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se


que

a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é
possível sua concepção de forma coletiva.

b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo
autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.

c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas,
romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.

d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais
importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os
dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do
espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à
cena teatral.

09 - (ENEM/2010)

Texto I

XLI

Ouvia:

Que não podia odiar

E nem temer

Porque tu eras eu.

E como seria

Odiar a mim mesma

E a mim mesma temer.

HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).

Texto II

Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,

por virtude do muito imaginar;

não tenho, logo, mais que desejar,

pois em mim tenho a parte desejada.

Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br.

Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).

Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é

a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de
dois seres em um só.
b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de
que odeia a si mesmo.

c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando- se, porém, nos versos de Camões, certa
resistência do ser amado.

d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário,


sem a realização concreta.

e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio e o
amor.

10 - (ENEM/2010)

Quincas Borba mal podia encobrir a satisfação do triunfo. Tinha uma asa de frango no prato, e
trincava-a com filosófica serenidade. Eu fiz-lhe ainda algumas objeções, mas tão frouxas, que ele não
gastou muito tempo em destruí-las.

– Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer nunca o princípio universal,
repartido e resumido em cada homem. Olha: a guerra, que parece uma calamidade, é uma operação
conveniente, como se disséssemos o estalar dos dedos de Humanitas; a fome (e ele chupava
filosoficamente a asa do frango), a fome é uma prova a que Humanitas submete a própria víscera.
Mas eu não quero outro documento da sublimidade do meu sistema, senão este mesmo frango.
Nutriu-se de milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado de Angola. Nasceu
esse africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe, um navio construído de madeira cortada no
mato por dez ou doze homens, levado por velas, que oito ou dez homens teceram, sem contar a
cordoalha e outras partes do aparelho náutico. Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o
resultado de uma multidão de esforços e lutas, executadas com o único fim de dar mate ao meu
apetite.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1975.

A filosofia de Quincas Borba – a Humanitas – contém princípios que, conforme a explanação do


personagem, consideram a cooperação entre as pessoas uma forma de

a) lutar pelo bem da coletividade.

b) atender a interesses pessoais.

c) erradicar a desigualdade social.

d) minimizar as diferenças individuais.

e) estabelecer vínculos sociais profundos.


11 - (ENEM/2010)

Texto I

Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes
proporcionava. Estranhas coisas entraram então para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que
aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades as mais variadas, desde os nove aos
dezesseis anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dormiam,
indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os
lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que
vinham das embarcações...

AMADO, J. Capitães de Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).

Texto II

À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali
os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as suas necessidades de
cachaça e pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do mercado,

TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).

Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são exemplos de uma abordagem literária
recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,

a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos personagens marginalizados.

b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em relação aos personagens.

c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.

d) o espaço onde vivem os personagens é uma das marcas de sua exclusão.

e) a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.

12 - (ENEM/2011)

No capricho

O Adãozinho, meu cumpade, enquanto esperava pelo delegado, olhava para um quadro, a
pintura de uma senhora. Ao entrar a autoridade e percebendo que o cabôco admirava tal figura,
perguntou: "Que tal? Gosta desse quadro?"

E o Adãozinho, com toda a sinceridade que Deus dá ao cabôco da roça: "Mas pelo amor de
Deus, hein, dotô! Que muié feia! Parece fiote de cruis-credo, parente do deus-me-livre, mais horríver
que briga de cego no escuro.”
Ao que o delegado não teve como deixar de confessar, um pouco secamente: "É a minha
mãe." E o cabôco, em cima da bucha, não perde a linha: "Mais dotô, inté que é uma feiura
caprichada.”

BOLDRIN, R. Almanaque Brasil de Cultura Popular.

São Paulo: Andreato Comunicação e Cultura, nº 62, 2004 (adaptado).

Por suas características formais, por sua função e uso, o texto pertence ao gênero

a) anedota, pelo enredo e humor característicos.

b) crônica, pela abordagem literária de fatos do cotidiano.

c) depoimento, pela apresentação de experiências pessoais.

d) relato, pela descrição minuciosa de fatos verídicos.

e) reportagem, pelo registro impessoal de situações reais.

13 - (ENEM/2011)

Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros,
se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo
violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros
acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se
alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez
mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos
e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram
ais convulsos, chorados em frenesi de amor: música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de
fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.

AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).

No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo, as personagens são observadas como elementos
coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o
confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois

a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas.

b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo.

c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português.

d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses.

e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais.


14 - (ENEM/2010)

Onde ficam os “artistas”? Onde ficam os “artesãos”? Submergidos no interior da sociedade, sem
reconhecimento formal, esses grupos passam a ser vistos de diferentes perspectivas pelos seus
intérpretes, a maioria das vezes, engajados em discussões que se polarizam entre artesanato, cultura
erudita e cultura popular.

PORTO ALEGRE, M. S. Arte e ofício de artesão. São Paulo, 1985 (adaptado).

O texto aponta para uma discussão antiga e recorrente sobre o que é arte. Artesanato é arte ou não?
De acordo com uma tendência inclusiva sobre a relação entre arte e educação,

a) o artesanato é algo do passado e tem sua sobrevivência fadada à extinção por se tratar de trabalho
estático produzido por poucos.

b) os artistas populares não têm capacidade de pensar e conceber a arte intelectual, visto que muitos
deles sequer dominam a leitura.

c) o artista popular e o artesão, portadores de saber cultural, têm a capacidade de exprimir, em seus
trabalhos, determinada formação cultural.

d) os artistas populares produzem suas obras pautados em normas técnicas e educacionais rígidas,
aprendidas em escolas preparatórias.

e) o artesanato tem seu sentido limitado à região em que está inserido como uma produção particular,
sem expansão de seu caráter cultural.

15 - (ENEM/2012)

O sedutor médio

Vamos juntar

Nossas rendas e

expectativas de vida

querida,

o que me dizes?

Ter 2, 3 filhos

e ser meio felizes?

VERÍSSIMO, L. F. Poesia numa hora dessas?!

Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.


No poema O sedutor médio, é possível reconhecer a presença de posições críticas

a) nos três primeiros versos, em que “juntar expectativas de vida” significa que, juntos, os cônjuges
poderiam viver mais, o que faz do casamento uma convenção benéfica.

b) na mensagem veiculada pelo poema, em que os valores da sociedade são ironizados, o que é
acentuado pelo uso do adjetivo “médio” no título e do advérbio “meio” no verso final.

c) no verso “e ser meio felizes?”, em que “meio” e sinônimo de metade, ou seja, no casamento,
apenas um dos cônjuges se sentiria realizado.

d) nos dois primeiros versos, em que “juntar rendas” indica que o sujeito poético passa por
dificuldades financeiras e almeja os rendimentos da mulher.

e) no título, em que o adjetivo “médio” qualifica o sujeito poético como desinteressante ao sexo
oposto e inábil em termos de conquistas amorosas.

16 - (ENEM/2012)

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência a vossa!

Todo o sentido da vida

principia a vossa porta:

o mel do amor cristaliza

seu perfume em vossa rosa;

sois o sonho e sois a audácia,

calúnia, fúria, derrota...

A liberdade das almas,

ai! com letras se elabora...

E dos venenos humanos

sois a mais fina retorta:

frágil, frágil, como o vidro

e mais que o aço poderosa!


Reis, impérios, povos, tempos,

pelo vosso impulso rodam...

MEIRELLES, C. Obra poética.

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).

O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles.


Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão
mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:

a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras.

b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das
palavras.

c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem
pela vida.

d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas
crenças.

e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e
gestos.

17 - (ENEM/2009)

Texto 1

José de Anchieta fazia parte da Companhia de Jesus, veio ao Brasil aos 19 anos para catequizar a
população das primeiras cidades brasileiras e, como instrumento de trabalho, escreveu manuais,
poemas e peças teatrais.

Texto 2

Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo ano árvore nem erva seca. Os
arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e grossura e variedade de espécies. Muitos dão bons
frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedades e
em seu canto não dão vantagem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos e canários de Portugal e fazem
uma harmonia quando um homem vai por este caminho, que é para louvar o Senhor, e os bosques
são tão frescos que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo.

ANCHIETA, José de. Cartas, informações,

fragmentos históricos e sermões do Padre Joseph de Anchieta.

Rio de Janeiro: S.J., 1933, 430-31 p.


A leitura dos textos revela a preocupação de Anchieta com a exaltação da religiosidade. No texto 2, o
autor exalta, ainda, a beleza natural do Brasil por meio

a) do emprego de primeira pessoa para narrar a história de pássaros e bosques brasileiros,


comparando-os aos de Portugal.

b) da adoção de procedimentos típicos do discurso argumentativo para defender a beleza dos


pássaros e bosques de Portugal.

c) da descrição de elementos que valorizam o aspecto natural dos bosques brasileiros, a diversidade
e a beleza dos pássaros do Brasil.

d) do uso de indicações cênicas do gênero dramático para colocar em evidência a frescura dos
bosques brasileiros e a beleza dos rouxinóis.

e) do uso tanto de características da narração quanto do discurso argumentativo para convencer o


leitor da superioridade de Portugal em relação ao Brasil.

18 - (ENEM/2009)

Linhas tortas

Há uma literatura antipática e insincera que só usa expressões corretas, só se ocupa de coisas
agradáveis, não se molha em dias de inverno e por isso ignora que há pessoas que não podem
comprar capas de borracha. Quando a chuva aparece, essa literatura fica em casa, bem aquecida,
com as portas fechadas. [...] Acha que tudo está direito, que o Brasil é um mundo e que somos
felizes. [...] Ora, não é verdade que tudo vá tão bem [...]. Nos algodoais e nos canaviais do Nordeste,
nas plantações de cacau e de café, nas cidadezinhas decadentes do interior, nas fábricas, nas casas
de cômodos, nos prostíbulos, há milhões de criaturas que andam aperreadas.

[...]

Os escritores atuais foram estudar o subúrbio, a fábrica, o engenho, a prisão da roça, o colégio do
professor mambembe.

Para isso resignaram-se a abandonar o asfalto e o café, [...] tiveram a coragem de falar errado como
toda gente, sem dicionário, sem gramáticas, sem manual de retórica. Ouviram gritos, palavrões e
meteram tudo nos livros que escreveram.

RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. 8.ª ed.

São Paulo: Record, 1980, p. 92/3.

O ponto de vista defendido por Graciliano Ramos


a) critica posturas de escritores que usam tudo em seus livros: palavrões, palavras erradas e gritos.

b) denuncia as mentiras que os escritores atuais construíram ao fazer um ufanismo vazio das culturas
nacionais e estrangeiras.

c) valoriza uma literatura que resgate os aspectos psicológico, simbólico e imaginário dos
personagens nacionais.

d) reconhece o perigo de se construir uma literatura engajada que busque na realidade social sua
inspiração e seu estímulo.

e) reconhece a importância de uma literatura que resgate nossa realidade social, que reforce a
memória e a identidade nacionais.

19 - (ENEM/2009)

Terça-feira, 30 de maio de 1893.

Eu gosto muito de todas as festas de Diamantina; mas quando são na igreja do Rosário, que é quase
pegada à chácara de vovó, eu gosto ainda mais. Até parece que a festa é nossa. E este ano foi
mesmo. Foi sorteada para rainha do Rosário uma ex-escrava de vovó chamada Júlia e para rei um
negro muito entusiasmado que eu não conhecia. Coitada de Júlia! Ela vinha há muito tempo
ajuntando dinheiro para comprar um rancho. Gastou tudo na festa e ainda ficou devendo. Agora é que
eu vi como fica caro para os pobres dos negros serem reis por um dia. Júlia com o vestido e a coroa
já gastou muito. Além disso, teve de dar um jantar para a corte toda. A rainha tem uma caudatária
que vai atrás segurando na capa que tem uma grande cauda. Esta também é negra da chácara e
ajudou no jantar. Eu acho graça é no entusiasmo dos pretos neste reinado tão curto. Ninguém rejeita
o cargo, mesmo sabendo a despesa que dá!

MORLEY, Helena. Minha vida de menina.

São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 57.

O trecho acima apresenta marcas textuais que justificam o emprego da linguagem coloquial. O tom
informal do discurso se deve ao fato de que se trata de

a) uma narrativa regionalista, que procura reproduzir as características mais típicas da região, como
as falas dos personagens e o contexto social a que pertencem.

b) uma carta pessoal, escrita pela autora e endereçada a um destinatário específico, com o qual ela
tem intimidade suficiente para suprimir as formalidades da correspondência oficial.

c) um registro no diário da autora, conforme indicam a data, o emprego da primeira pessoa, a


expressão de reflexões pessoais e a ausência de uma intenção literária explícita na escrita.
d) uma narrativa de memórias, na qual a grande distância temporal entre o momento da escrita e o
fato narrado impõe o tom informal, pois a autora tem dificuldade de se lembrar com exatidão dos
acontecimentos narrados.

e) uma narrativa oral, em que a autora deve escrever como se estivesse falando para um interlocutor,
isto é, sem se preocupar com a norma padrão da língua portuguesa e com referências exatas aos
acontecimentos mencionados.

20 - (ENEM/2009)

O falecimento de uma criança é um dia de festa. Ressoam as violas na cabana dos pobres
pais, jubilosos entre as lágrimas; referve o samba turbulento; vibram nos ares, fortes, as coplas dos
desafios, enquanto, a uma banda, entre duas velas de carnaúba, coroado de flores, o anjinho exposto
espelha, no último sorriso paralisado, a felicidade suprema da volta para os céus, para a felicidade
eterna — que é a preocupação dominadora daquelas almas ingênuas e primitivas.

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos.

Edição comemorativa do 90.º ano do lançamento.

Rio de Janeiro: Ediouro, 1992, p. 78.

Nessa descrição de costume regional, é empregada

a) variante linguística que retrata a fala típica do povo sertanejo.

b) a linguagem científica, por meio da qual o autor denuncia a realidade brasileira.

c) a modalidade coloquial da linguagem, ressaltando-se expressões que traduzem o falar de tipos


humanos marginalizados.

d) linguagem literária, na modalidade padrão da língua, por meio da qual é mostrado o Brasil
nãooficial dos caboclos e do sertão.

e) variedade linguística típica da fala doméstica, por meio de palavras e expressões que recriam, com
realismo, a atmosfera familiar.

21 - (ENEM/2009)

Desencaixotando Machado: a crônica está no detalhe, no mínimo, no escondido, naquilo que


aos olhos comuns pode não significar nada, mas, uma palavra daqui, “uma reminiscência clássica”
dali, e coloca-se de pé uma obra delicada de observação absolutamente pessoal. O borogodó está no
que o cronista escolhe como tema. Nada de engomar o verbo. É um rabo de arraia na pompa literária.
Um “falar à fresca”, como o bruxo do Cosme Velho pedia. Muitas vezes uma crônica brilha, gloriosa,
mesmo que o autor esteja declarando, como é comum, a falta de qualquer assunto. Não vale o que
está escrito, mas como está escrito.

SANTOS, Joaquim Ferreira dos (org.). As cem melhores crônicas brasileiras.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2005, p.17.

Em As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, Joaquim Ferreira dos Santos argumenta contra a ideia de
que a crônica é um gênero menor. De acordo com o fragmento apresentado acima, a crônica

a) é um gênero literário importante, mas inferior ao romance e ao drama.

b) apresenta características semelhantes a construções literárias de vanguarda.

c) impõe-se como Literatura, apresentando características estéticas específicas.

d) tem sua organização influenciada pelo tempo e pela sociedade em que está inserida.

e) é o texto preferido pelo homem do povo, que aprecia leituras simples e temas corriqueiros.

22 - (ENEM/2015)

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos
que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se
criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números
racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das
pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira
como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, Í. (Org.).

Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da


humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

a) recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a humanidade.

b) desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o conceito de dever.

c) resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes irracionais.

d) transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida cotidiana.

e) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber científico.


23 - (ENEM/2012)

Cegueira

Afastou-me da escola, atrasou-me, enquanto os filhos de seu José Galvão se internavam em


grandes volumes coloridos, a doença de olhos que me perseguia na meninice. Torturava-me
semanas e semanas, eu vivia na treva, o rosto oculto num pano escuro, tropeçando nos móveis,
guiando-me às apalpadelas, ao longo das paredes. As pálpebras inflamadas colavam-se. Para
descerrá-las, eu ficava tempo sem fim mergulhando a cara na bacia de água, lavando-me
vagarosamente, pois o contato dos dedos era doloroso em excesso. Finda a operação extensa, o
espelho da sala de visitas mostrava-me dois bugalhos sangrentos, que se molhavam depressa e
queriam esconder-se. Os objetos surgiam empastados e brumosos. Voltava a abrigar-me sob o pano
escuro, mas isto não atenuava o padecimento. Qualquer luz me deslumbrava, feria-me como pontas
de agulha [...].

Sem dúvida o meu espectro era desagradável, inspirava repugnância. E a gente da casa se
impacientava. Minha mãe tinha a franqueza de manifestar-me viva antipatia. Dava-me dois apelidos:
bezerro-encourado e cabra-cega.

RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1984 (fragmento).

O impacto da doença, na infância, revela-se no texto memorialista de Graciliano Ramos através de


uma atitude marcada por

a) uma tentativa de esquecer os efeitos da doença.

b) preservar a sua condição de vítima da negligência materna.

c) apontar a precariedade do tratamento médico no sertão.

d) registrar a falta de solidariedade dos amigos e familiares.

e) recompor, em minúcias e sem autopiedade, a sensação da dor.

24 - (ENEM/2012)

— É o diabo!... praguejava entre dentes o brutalhão, enquanto atravessava o corredor ao lado


do Conselheiro, enfiando às pressas o seu inseparável sobretudo de casimira alvadia. — É o diabo!
Esta menina já devia ter casado!

— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não é porfalta de esforços de minha parte; creia! —
Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico e tão bom para procriar, se sacrifique desse modo!
Enfim — ainda não é tarde; mas, se ela não se casar quanto antes — hum... hum!... Não respondo
pelo resto!
— Então o Doutor acha que...?

Lobão inflamou-se: Oh! o Conselheiro não podia imaginar o que eram aqueles
temperamentozinhos impressionáveis!... eram terríveis, eram violentos, quando alguém tentava
contrariá-los! Não pediam — exigiam — reclamavam!

AZEVEDO, A. O homem. Belo Horizonte: UFMG, 2003 (fragmento).

O romance O homem, de Aluísio Azevedo, insere-se no contexto do Naturalismo, marcado pela visão
do cientificismo. No fragmento, essa concepção aplicada à mulher define-se por uma

a) conivência com relação à rejeição feminina de assumir um casamento arranjado pelo pai.

b) caracterização da personagem feminina como um estereótipo da mulher sensual e misteriosa.

c) convicção de que a mulher é um organismo frágil e condicionado por seu ciclo reprodutivo.

d) submissão da personagem feminina a um processo que a infantiliza e limita intelectualmente.

e) incapacidade de resistir às pressões socialmente impostas, representadas pelo pai e pelo médico.

25 - (ENEM/2012)

Todo bom escritor tem o seu instante de graça, possui a sua obra-prima, aquela que congrega
numa estrutura perfeita os seus dons mais pessoais. Para Dias Gomes essa hora de inspiração
veiolhe no dia que escreveu O pagador de promessas. Em torno de Zé-do-Burro — herói ideal, por
unir o máximo de caráter ao mínimo de inteligência, naquela zona fronteiriça entre o idiota e o santo
— o enredo espalha a malícia e a maldade de uma capital como Salvador, mitificada pela música
popular e pela literatura, na qual o explorador de mulheres se chama inevitavelmente Bonitão, o poeta
popular, Dedé Cospe-Rima, e o mestre de capoeira, Manuelzinho Sua Mãe. O colorido do quadro
contrasta fortemente com a simplicidade da ação, que caminha numa linha reta da chegada de Zé-do-
Burro à sua entrada trágica e triunfal na igreja — não sob a cruz, conforme prometera, mas sobre ela,
carregado pelos capoeiras, “como um crucifixado”.

PRADO, D. A. O teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 2008 (fragmento).

A avaliação crítica de Décio de Almeida Prado destaca as qualidades de O pagador de promessas.


Com base nas ideias defendidas por ele, uma boa obra teatral deve

a) valorizar a cultura local como base da estrutura estética.

b) ressaltar o lugar do oprimido por uma forma religiosa.


c) dialogar a tradição local com elementos universais.

d) romper com a estrutura clássica da encenação.

e) reproduzir abordagens trágicas e pessimistas.

Você também pode gostar