Literatura no Enem Joabedan (2)

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01 - (ENEM/2009)

Pobre Isaura! Sempre e em toda parte esta contínua importunação de


senhores e de escravos, que não a deixam sossegar um só momento! Como
não devia viver aflito e atribulado aquele coração! Dentro de casa contava
ela quatro inimigos, cada qual mais porfiado em roubar-lhe a paz da alma, e
torturar-lhe o coração: três amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma
êmula terrível e desapiedada, Rosa. Fácil lhe fora repelir as importunações
e insolências dos escravos e criados; mas que seria dela, quando viesse o
senhor?!...

GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática,


1995 (adaptado).

A personagem Isaura, como afirma o título do romance, era uma escrava.


No trecho apresentado, os sofrimentos por que passa a protagonista

a) assemelham-se aos das demais escravas do país, o que indica o estilo


realista da abordagem do tema da escravidão pelo autor do romance.

b) demonstram que, historicamente, os problemas vividos pelas escravas


brasileiras, como Isaura, eram mais de ordem sentimental do que física.

c) diferem dos que atormentavam as demais escravas do Brasil do século


XIX, o que revela o caráter idealista da abordagem do tema pelo autor
do romance.

d) indicam que, quando o assunto era o amor, as escravas brasileiras, de


acordo com a abordagem lírica do tema pelo autor, eram tratadas como
as demais mulheres da sociedade.

e) revelam a condição degradante das mulheres escravas no Brasil, que,


como Isaura, de acordo com a denúncia feita pelo autor, eram
importunadas e torturadas fisicamente pelos seus senhores.

02 - (ENEM/2009)
O SERTÃO E O SERTANEJO

Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos pelo matiz
das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do sol transforma-se em
vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por
acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro. Minando à
surda na touceira, queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer
aragem, por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia e trêmula,
como que a contemplar medrosa e vacilante os espaços imensos que se
alongam diante dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com
mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se extinguir de
todo, deixando como sinal da avassaladora passagem o alvacento lençol,
que lhe foi seguindo os velozes passos. Por toda a parte melancolia; de
todos os lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva,
e parece que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios recantos a
traçar às pressas jardins encantados e nunca vistos. Entra tudo num
trabalho íntimo de espantosa atividade. Transborda a vida.

TAUNAY, A. Inocência. São Paulo: Ática,


1993 (adaptado).

O romance romântico teve fundamental importância na formação da ideia


de nação. Considerando o trecho acima, é possível reconhecer que uma das
principais e permanentes contribuições do Romantismo para construção da
identidade da nação é a

a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da natureza


nacional, marcada pelo subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva
de renovação.

b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela classe


dominante local, o que coibiu a exploração desenfreada das riquezas
naturais do país.

c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem fantasia


ou exaltação, de uma imagem da terra que revelou o quanto é grandiosa
a natureza brasileira.

d) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o sentimento


de unidade do território nacional e deu a conhecer os lugares mais
distantes do Brasil aos brasileiros.

e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do interior do


Brasil, formulando um conceito de nação centrado nos modelos da
nascente burguesia brasileira.

03 - (ENEM/2009)
Canção amiga

Eu preparo uma canção,

em que minha mãe se

reconheça todas as mães

se reconheçam

e que fale como

dois olhos. [...]

Aprendi novas palavras

E tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção

que faça acordar os

homens e

adormecer as

crianças.

ANDRADE, C. D. Novos

Poemas. Rio de Janeiro: José

Olympio, 1948. (fragmento)

A linguagem do fragmento acima foi empregada pelo autor com o objetivo


principal de

a) transmitir informações, fazer referência a acontecimentos observados no


mundo exterior.
b) envolver, persuadir o interlocutor, nesse caso, o leitor, em um forte apelo
à sua sensibilidade.

c) realçar os sentimentos do eu lírico, suas sensações, reflexões e opiniões


frente ao mundo real.

d) destacar o processo de construção de seu poema, ao falar sobre o papel


da própria linguagem e do poeta.

e) manter eficiente o contato comunicativo entre o emissor da mensagem,


de um lado, e o receptor, de outro.
04 - (ENEM/2009)

Isto

Dizem que finjo

ou minto Tudo

que escrevo.

Não. Eu

simplesmente

sinto Com a

imaginação.

Não uso o coração.

Tudo o que sonho

ou passo O que

me falha ou finda,

É como que um

terraço Sobre

outra coisa

ainda. Essa

coisa é que é

linda.

Por isso escrevo


em meio Do que

não está ao pé,

Livre do meu

enleio, Sério do

que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

PESSOA, F. Poemas

escolhidos. São

Paulo: Globo,

1997.
Fernando Pessoa é um dos poetas mais extraordinários do século XX. Sua
obsessão pelo fazer poético não encontrou limites. Pessoa viveu mais no
plano criativo do que no plano concreto, e criar foi a grande finalidade de
sua vida. Poeta da “Geração Orfeu”, assumiu uma atitude irreverente.

Com base no texto e na temática do poema Isto, conclui-se que o autor

a) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do texto.

b) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais.

c) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do poeta.

d) apresenta a concepção do Romantismo quanto à expressão da voz do


poeta.

e) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do eu


lírico.

05 - (ENEM/2009)

Ó meio-dia confuso,

ó vinte-e-um de abril

sinistro, que intrigas

de ouro e de sonho

houve em tua

formação?

Quem ordena,

julga e pune?

Quem é culpado e

inocente? Na
mesma cova do

tempo cai o castigo

e o perdão.

Morre a tinta das

sentenças e o

sangue dos

enforcados...

— liras, espadas e

cruzes pura cinza

agora são.

Na mesma cova, as palavras,


o secreto

pensamento, as

coroas e os

machados,

mentira e

verdade estão.

[...]

MEIRELES, C. Romanceiro da

Inconfi dência. Rio de Janeiro:

Aguilar, 1972. (fragmento)

O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história


nacional, a Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto
literário e contexto histórico indica que a produção literária é sempre uma
recriação da realidade, mesmo quando faz referência a um fato histórico
determinado. No poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por
meio

a) do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a


existir como forma poética desassociada da história nacional.

b) da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em


batalha épica que exalta a força dos ideais dos Inconfidentes.

c) da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do


movimento da Inconfidência: a derrota, a prisão e a morte dos
Inconfidentes.

d) do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que,


questionada poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais
profunda.
e) do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi
atribuído ao fato histórico pela autora, a fim de exaltar o heroísmo dos
Inconfidentes.

06 - (ENEM/2009)

Texto 1

O Morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me

recolho. Meu Deus! E este

morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra

parede...” Digo. Ergo-me a

tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um

olho, Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços

faço. Chego A tocá-lo.

Minh’alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite, ele

entra Imperceptivelmente em nosso

quarto!

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro:


Aguilar, 1994.
Texto 2

O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o


gosto do macabro e do horroroso, dificulta que se veja, na obra de Augusto
dos Anjos, o olhar clínico, o comportamento analítico, até mesmo certa
frieza, certa impessoalidade científica.

CUNHA, F. Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro:


Cátedra, 1988 (adaptado).
Em consonância com os comentários do texto 2 acerca da poética de
Augusto dos Anjos, o poema O morcego apresenta-se, enquanto percepção
do mundo, como forma estética capaz de

a) reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na
poesia.

b) expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto


pelo macabro.

c) representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a


reflexões de cunho existencial.

d) abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista


distanciado e analítico acerca do cotidiano.

e) conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de


horror e suspense na estrutura lírica da poesia.

07 - (ENEM/2010)

Negrinha

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha
escura, de cabelos ruços e olhos assustados.

Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos


cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre
escondida, que a patroa não gostava de crianças.

Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos


padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu.
Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balança na sala de jantar), ali
bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o
tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes
apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.

Ótima, a dona Inácia.


Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os

nervos em carne viva. [...]


A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da
escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir
cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – essa
indecência de negro igual.

LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do


século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).

A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios.


Essa contradição infere- se, no contexto, pela

a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as


amigas.

b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para


com as beatas.

c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.

d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no


final do texto.

e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com
castigos.

08 - (ENEM/2010)

Capítulo III

Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava


açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada.
Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de bronze,
mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica
este par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto.
Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, – primor de argentaria,
execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e
não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por
mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e
não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu,
demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com
pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da
província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi
degradado a outros serviços.

ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro:


Nova Aguilar, 1993 (fragmento).
Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura
brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante
a universalização de sua abordagem reside

a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o


triunfo da aparência sobre a essência.

b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de


obra escrava pela dos imigrantes.

c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de


eternização de Rubião.

d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente


representam a durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho.

e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o


sentimento de xenofobia.

09 - (ENEM/2010)

Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra
que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus
mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho
no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a
intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita
Malfatti e outros artistas modernistas

a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias,


valorizando as cores, a originalidade e os temas nacionais.

b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de


forma irrestrita, afetando a criação artística nacional.

c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a


natureza, tendo como finalidade a prática educativa.
d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas,
defendendo uma liberdade artística ligada à tradição acadêmica.

e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites


de temas abordados.
10 - (ENEM/2009)

Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere

anda presa, Soluçando nas

trevas, entre as grades

Do calabouço olhando

imensidades, Mares,

estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual

grandeza Quando a alma entre

grilhões as liberdades Sonha e,

sonhando, as imortalidades

Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e

fechadas Nas prisões

colossais e abandonadas,

Da Dor no calabouço,

atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários,


graves, que chaveiro do

Céu possui as chaves para

abrir-vos as portas do

Mistério?!

CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação


Catarinense de Cultura /

Fundação Banco do Brasil, 1993.

Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do


Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas
filosóficos.

b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática


nacionalista.

c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de


temas universais.

d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em


imagens poéticas inovadoras.

e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica


tradicionais em favor de temas do cotidiano.

11 - (ENEM/2009)

Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária


entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e
quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à
apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O
texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo
teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de
personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2)
pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos,
maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito
e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax
e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de
circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo
tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua
interpretação real por meio da representação.

COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um


espetáculo teatral, conclui-se que

a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de


ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva.

b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo


cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do
trabalho interpretativo dos atores.
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como
contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e
fragmentos textuais, entre outros.

d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral,


visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação
cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.

e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo


de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de
linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.

12 - (ENEM/2009)

A partida
1
Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com
obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com
precaução, 4acendi um fósforo: passava das três. Restava-me, portanto,
menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo
de não passar mais 7nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada,
deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.
10
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os
dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos,
13
sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo.
Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava
acordá-la, 16dizer-lhe adeus?

LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de

Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.

No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua


hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica
claramente expresso no trecho:
a) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente
dormir” (ref. 1).

b) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às


cinco” (ref. 4).

c) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama” (refs. 10-13).

d) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina
e amor” (ref. 7).
e) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...” (ref. 13).

13 - (ENEM/2009)

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em

Itabira. Principalmente

nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso:

de ferro. Noventa por cento de

ferro nas calçadas. Oitenta por

cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e

[comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e

[sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto

me diverte, é doce herança

itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que

ora te ofereço: esta pedra de ferro,


futuro aço do Brasil,

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da

sala de visitas; este orgulho, esta cabeça

baixa...
Tive ouro, tive gado, tive

fazendas. Hoje sou

funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia

na parede. Mas como dói!

ANDRADE, C. D. Poesia

completa. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 2003.

Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento


modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil
e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia
é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se
percebe claramente na construção do poema

Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção


do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o
poema acima

a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e


à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.

b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a


apresentação objetiva de fatos e dados históricos.

c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por


intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o
mundo colaboram para a constituição do indivíduo.

d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do


poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira.

e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade,


da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos
retóricos pomposos.

14 - (ENEM/2010)

Texto I
XLI

Ouvia:

Que não

podia odiar

E nem temer

Porque tu

eras eu.

E como seria

Odiar a mim mesma

E a mim mesma temer.

HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo,


2004 (fragmento).

Texto II

Transforma-se o amador na

cousa amada Transforma-se o

amador na cousa amada, por

virtude do muito imaginar;

não tenho, logo, mais que

desejar, pois em mim

tenho a parte desejada.

Camões. Sonetos.
Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br.
Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).
Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática
comum é

a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio


de uma espécie de fusão de dois seres em um só.

b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a


afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo.
c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando- se, porém, nos
versos de Camões, certa resistência do ser amado.

d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se


produzem no imaginário, sem a realização concreta.

e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II,


respectivamente, o ódio e o amor.

15 - (ENEM/2010)

Texto I

Se eu tenho de morrer na flor

dos anos, Meu Deus! não seja

já;

Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,

Cantar o sabiá!

Meu Deus, eu sinto e bem vês


que eu morro

Respirando esse ar;

Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo

Os gozos do meu lar!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava

Lá na quadra infantil;

Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,

O céu de meu Brasil!

Se eu tenho de morrer na flor


dos anos, Meu Deus! Não seja

já!

Eu quero ouvir cantar na laranjeira, à tarde,


Cantar o sabiá!

ABREU, C. Poetas românticos brasileiros. São


Paulo: Scipione, 1993.

Texto II

A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira


metade do século XIX, introduziu-se em 1836. Durante quatro decênios,
imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o
nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e do jornalismo
(que fazia sua aparição nessa época).

MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo:


Cultrix, 1971 (fragmento).

De acordo com as considerações de Massaud Moisés no Texto II, o Texto I


centra-se

a) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar longe do Brasil é


uma forma de estar bem, já que o país sufoca o eu lírico.

b) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo saudosismo


em relação à paisagem agradável onde o eu lírico vivera a infância.

c) na liberdade formal, que se manifesta na opção por versos sem métrica


rigorosa e temática voltada para o nacionalismo.

d) no fazer anárquico, entendida a poesia como negação do passado e da


vida, seja pelas opções formais, seja pelos temas.

e) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a alegria presente em


oposição à infância, marcada pela tristeza.

16 - (ENEM/2010)
Quincas Borba mal podia encobrir a satisfação do triunfo. Tinha uma asa de
frango no prato, e trincava-a com filosófica serenidade. Eu fiz-lhe ainda
algumas objeções, mas tão frouxas, que ele não gastou muito tempo em
destruí-las.
– Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer
nunca o princípio universal, repartido e resumido em cada homem. Olha: a
guerra, que parece uma calamidade, é uma operação conveniente, como se
disséssemos o estalar dos dedos de Humanitas; a fome (e ele chupava
filosoficamente a asa do frango), a fome é uma prova a que Humanitas
submete a própria víscera. Mas eu não quero outro documento da
sublimidade do meu sistema, senão este mesmo frango. Nutriu-se de
milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado de
Angola. Nasceu esse africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe, um
navio construído de madeira cortada no mato por dez ou doze homens,
levado por velas, que oito ou dez homens teceram, sem contar a cordoalha
e outras partes do aparelho náutico. Assim, este frango, que eu almocei
agora mesmo, é o resultado de uma multidão de esforços e lutas,
executadas com o único fim de dar mate ao meu apetite.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas.


Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1975.

A filosofia de Quincas Borba – a Humanitas – contém princípios que,


conforme a explanação do personagem, consideram a cooperação entre as
pessoas uma forma de

a) lutar pelo bem da coletividade.

b) atender a interesses pessoais.

c) erradicar a desigualdade social.

d) minimizar as diferenças individuais.

e) estabelecer vínculos sociais profundos.

17 - (ENEM/2010)

As doze cores do vermelho


Você volta para casa depois de ter ido jantar com sua amiga dos olhos
verdes. Verdes. Às vezes quando você sai do escritório você quer se distrair
um pouco. Você não suporta mais tem seu trabalho de desenhista. Cópias
plantas réguas milímetros nanquim compasso 360º. de cercado cerco.
Antes de dormir você quer estudar para a prova de história da arte mas sua
menina menor tem febre e chama você. A mão dela na sua mão é um peixe
sem sol em irradiações noturnas. Quentes ondas. Seu marido se aproxima
os pés calçados de meias nos chinelos folgados. Ele olha as
horas nos dois relógios de pulso. Ele acusa você de ter ficado fora de casa o
dia todo até tarde da noite enquanto a menina ardia em febre. Ponto e
ponta. Dor perfume crescente...

CUNHA, H. P. As doze cores do


vermelho. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 2009.

A literatura brasileira contemporânea tem abordado, sob diferentes


perspectivas, questões relacionadas ao universo feminino. No fragmento,
entre os recursos expressivos utilizados na construção da narrativa,
destaca-se a

a) repetição de “você”, que se refere ao interlocutor da personagem.

b) ausência de vírgulas, que marca o discurso irritado da personagem.

c) descrição minuciosa do espaço do trabalho, que se opõe ao da casa.

d) autoironia, que ameniza o sentimento de opressão da personagem.

e) ausência de metáforas, que é responsável pela objetividade do texto.

18 - (ENEM/2010)
O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A
partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte
da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O
mamoeiro, identifica-se que, nas artes plásticas, a

a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas.

b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano.

c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico.

d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada.

e) forma apresenta contornos e detalhes humanos.

19 -
(ENEM/201
0)

Texto I

Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o


trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para o
trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques de
todas as cores e de idades as mais variadas, desde os nove aos dezesseis
anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e
dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando,
indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados
para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que vinham das
embarcações...

AMADO, J. Capitães de Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008


(fragmento).

Texto II
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do mercado de peixe,
ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são felizes. Curitiba os considera
animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e pirão. No trivial
contentavam-se com as sobras do mercado,

TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. Rio de Janeiro: BestBolso,


2009 (fragmento).
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são exemplos de uma
abordagem literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em
ambos os textos,

a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos personagens


marginalizados.

b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em relação aos


personagens.

c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem


social.

d) o espaço onde vivem os personagens é uma das marcas de sua exclusão.

e) a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.

20 - (ENEM/2010)

Soneto

Já da morte o palor me

cobre o rosto, Nos lábios

meus o alento desfalece,

Surda agonia o coração

fenece,

E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio

encosto Tento o sono

reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso

esquece... Eis o estado em que

a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus,

minha saudade, Fazem que

insano do viver me prive

E tenha os olhos meus na escuridade.


Dá-me a esperança com que o

ser mantive! Volve ao amante

os olhos por piedade, Olhos

por quem viveu quem já não

vive!

AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro:


Nova Aguilar, 2000.

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica,


porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento
específico. O fundamento desse lirismo é

a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.

b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.

c) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.

d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.

e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.

21 - (ENEM/2011)

No capricho

O Adãozinho, meu cumpade, enquanto esperava pelo delegado, olhava


para um quadro, a pintura de uma senhora. Ao entrar a autoridade e
percebendo que o cabôco admirava tal figura, perguntou: "Que tal? Gosta
desse quadro?"
E o Adãozinho, com toda a sinceridade que Deus dá ao cabôco da roça:
"Mas pelo amor de Deus, hein, dotô! Que muié feia! Parece fiote de
cruis-credo, parente do deus-me-livre, mais horríver que briga de cego no
escuro.”

Ao que o delegado não teve como deixar de confessar, um pouco


secamente: "É a minha mãe." E o cabôco, em cima da bucha, não perde a
linha: "Mais dotô, inté que é uma feiura caprichada.”

BOLDRIN, R. Almanaque Brasil de


Cultura Popular.
São Paulo: Andreato Comunicação e Cultura, nº 62,
2004 (adaptado).

Por suas características formais, por sua função e uso, o texto pertence ao
gênero

a) anedota, pelo enredo e humor característicos.

b) crônica, pela abordagem literária de fatos do cotidiano.

c) depoimento, pela apresentação de experiências pessoais.

d) relato, pela descrição minuciosa de fatos verídicos.

e) reportagem, pelo registro impessoal de situações reais.

22 -
(ENEM/201
1)

Estrada

Esta estrada onde moro, entre duas

voltas do caminho, Interessa mais que

uma avenida urbana.

Nas cidades todas as pessoas se parecem.

Todo mundo é igual. Todo mundo é

toda a gente. Aqui, não: sente-se bem

que cada um traz a sua alma. Cada

criatura é única.

Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de

negócios: Andam sempre preocupados.

E quanta gente vem e vai!

E tudo tem aquele caráter impressivo

que faz meditar: Enterro a pé ou a

carrocinha de leite puxada por um


bodezinho manhoso.

Nem falta o murmúrio da água, para

sugerir, pela voz dos símbolos,

Que a vida passa! que a

vida passa! E que a

mocidade vai acabar.

BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de


Janeiro: Aguilar, 1967.

A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados


profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo
presente no contraste entre campo e cidade aponta para

a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos,


o que revela sua nostalgia com relação à cidade.

b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilita pela observação da


aparente inércia da vida rural.

c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de


meditação sobre a sua juventude.

d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.

e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.

23 - (ENEM/2011)

Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos,


até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de
repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo,
romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os
primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela
gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas
bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais
delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos
gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como
cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi
de amor: música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia
de doer, fazendo estalar de gozo.
AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).

No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo, as personagens são


observadas como elementos coletivos caracterizados por condicionantes de
origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre
brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois

a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens


portuguesas.

b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português


inexpressivo.

c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado


português.

d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos


portugueses.

e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais.

24 - (ENEM/2010)

Onde ficam os “artistas”? Onde ficam os “artesãos”? Submergidos no


interior da sociedade, sem reconhecimento formal, esses grupos passam a
ser vistos de diferentes perspectivas pelos seus intérpretes, a maioria das
vezes, engajados em discussões que se polarizam entre artesanato, cultura
erudita e cultura popular.

PORTO ALEGRE, M. S. Arte e ofício de artesão. São Paulo, 1985 (adaptado).

O texto aponta para uma discussão antiga e recorrente sobre o que é arte.
Artesanato é arte ou não? De acordo com uma tendência inclusiva sobre a
relação entre arte e educação,
a) o artesanato é algo do passado e tem sua sobrevivência fadada à
extinção por se tratar de trabalho estático produzido por poucos.

b) os artistas populares não têm capacidade de pensar e conceber a arte


intelectual, visto que muitos deles sequer dominam a leitura.

c) o artista popular e o artesão, portadores de saber cultural, têm a


capacidade de exprimir, em seus trabalhos, determinada formação
cultural.
d) os artistas populares produzem suas obras pautados em normas
técnicas e educacionais rígidas, aprendidas em escolas preparatórias.

e) o artesanato tem seu sentido limitado à região em que está inserido


como uma produção particular, sem expansão de seu caráter cultural.

25 - (ENEM/2012)

O sedutor médio

Vamos

juntar

Nossas

rendas e

expectativas

de vida

querida,

o que me dizes?

Ter 2, 3 filhos

e ser meio felizes?

VERÍSSIMO, L. F. Poesia numa


hora dessas?!
Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

No poema O sedutor médio, é possível reconhecer a presença de posições


críticas

a) nos três primeiros versos, em que “juntar expectativas de vida” significa


que, juntos, os cônjuges poderiam viver mais, o que faz do casamento
uma convenção benéfica.

b) na mensagem veiculada pelo poema, em que os valores da sociedade


são ironizados, o que é acentuado pelo uso do adjetivo “médio” no
título e do advérbio “meio” no verso final.

c) no verso “e ser meio felizes?”, em que “meio” e sinônimo de metade,


ou seja, no casamento, apenas um dos cônjuges se sentiria realizado.

d) nos dois primeiros versos, em que “juntar rendas” indica que o sujeito
poético passa por dificuldades financeiras e almeja os rendimentos da
mulher.
e) no título, em que o adjetivo “médio” qualifica o sujeito poético como
desinteressante ao sexo oposto e inábil em termos de conquistas
amorosas.

26 - (ENEM/2012)

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência a vossa!

Todo o sentido

da vida principia

a vossa porta:

o mel do amor cristaliza

seu perfume em

vossa rosa; sois o

sonho e sois a

audácia, calúnia,

fúria, derrota...

A liberdade das almas,

ai! com letras se

elabora... E dos

venenos

humanos sois a

mais fina retorta:


frágil, frágil, como o vidro

e mais que o aço

poderosa! Reis,

impérios, povos,

tempos, pelo vosso

impulso rodam...

MEIRELLES, C. Obra poética.

Rio de Janeiro: Nova

Aguilar, 1985

(fragmento).
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de
Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência
Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a
seguinte relação entre o homem e a linguagem:

a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo


poder corrosivo das palavras.

b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio


vinculado ao significado das palavras.

c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a


grandeza da luta do homem pela vida.

d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações


perpetuar seus valores e suas crenças.

e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance


limitado pelas intenções e gestos.

27 - (ENEM/2012)

eu gostava muito de passeá… saí com as minhas colegas… brincá na porta


di casa di vôlei… andá de patins… bicicleta… quando eu levava um tombo
ou outro… eu era a::… a palhaça da turma… ((risos))… eu acho que foi
uma das fases mais… assim… gostosas da minha vida foi… essa fase de
quinze… dos meus treze aos dezessete anos…

A.P.S., sexo feminino, 38 anos, nível de ensino fundamental.


Projeto Fala Goiana, UFG. 2010 (inédito).

Um aspecto da composição estrutural que caracteriza o relato pessoal de


A.P.S. como modalidade falada da língua é

a) predomínio de linguagem informal entrecortada por pausas.


b) vocabulário regional desconhecido em outras variedades do português.

c) realização do plural conforme as regras da tradição gramatical.

d) ausência de elementos promotores de coesão entre os eventos


narrados.
e) presença de frases incompreensíveis a um leitor iniciante.

28 - (ENEM/2014)

Cordel resiste à tecnologia gráfica

O Cariri mantém uma das mais ricas tradições da cultura popular. É a


literatura de cordel, que atravessa os séculos sem ser destruída pela
avalanche de modernidade que invade o sertão lírico e telúrico. Na
contramão do progresso, que informatizou a indústria gráfica, a Lira
Nordestina, de Juazeiro do Norte, e a Academia dos Cordelista do Crato
conservam, em suas oficinas, velhas máquinas para impressão dos seus
cordéis.

A chapa para impressão do cordel é feita à mão, letra por letra, um


trabalho artesanal que dura cerca de uma hora para confecção de uma
página. Em seguida, a chapa é levada para a impressora, também manual,
para imprimir. A manutenção desse sistema antigo de impressão faz parte
da filosofia do trabalho. A outra etapa é a confecção da xilogravura para a
capa do cordel.

As xilogravuras são ilustrações populares obtidas por gravuras talhadas


em madeira. A origem da xilogravura nordestina até hoje é ignorada.
Acredita-se que os missionários portugueses tenham ensinado sua técnica
aos índios, como uma atividade extra-catequese, partindo do princípio
religioso que defende a necessidade de ocupar as mãos para que a mente
não fique livre, sujeita aos maus pensamentos, ao pecado. A xilogravura
antecedeu ao clichê, placa fotomecanicamente gravada em relevo sobre
metal, usualmente zinco, que era utilizada nos jornais impressos em
rotoplanas.

VICELMO, A. Disponível em: www.onordeste.com. Acesso em: 24


fev. 2013 (adaptado).

A estratégia gráfica constituída pela união entre as técnicas da impressão


manual e da confecção da xilogravura na produção de folhetos de cordel
a) realça a importância da xilogravura sobre o clichê.

b) oportuniza a renovação dessa arte na modernidade.

c) demonstra a utilidade desses textos para a catequese.

d) revela a necessidade da busca das origens dessa literatura.


e) auxilia na manutenção da essência identitária dessa tradição popular.

29 - (ENEM/2011)

Morte e vida Severina

Somos muitos

Severinos iguais

em tudo na

vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se

equilibra, no mesmo

ventre crescido sobre

as mesmas pernas

finas,

e iguais também porque

o sangue que usamos

tem pouca tinta.

E se somos

Severinos iguais

em tudo na vida,

morremos de

morte igual,
mesma morte

Severina:

que é a morte de que

se morre de velhice

antes dos trinta

de emboscada antes

dos vinte, de fome um

pouco por dia.

MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar,


1994 (fragmento).

Nesse fragmento, parte de um auto de Natal, o poeta retrata uma situação


marcada pela
a) presença da morte, que universaliza os sofrimentos dos nordestinos.

b) figura do homem agreste, que encara ternamente sua condição de


pobreza.

c) descrição sentimentalista de Severino, que divaga sobre questões


existenciais.

d) miséria, à qual muitos nordestinos estão expostos, simbolizada na figura


de Severino.

e) opressão socioeconômica a que todo ser humano se encontra


submetido.

30 - (ENEM/2009)

Texto 1

José de Anchieta fazia parte da Companhia de Jesus, veio ao Brasil aos 19


anos para catequizar a população das primeiras cidades brasileiras e, como
instrumento de trabalho, escreveu manuais, poemas e peças teatrais.

Texto 2

Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo ano


árvore nem erva seca. Os arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e
grossura e variedade de espécies. Muitos dão bons frutos e o que lhes dá
graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedades
e em seu canto não dão vantagem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos e
canários de Portugal e fazem uma harmonia quando um homem vai por
este caminho, que é para louvar o Senhor, e os bosques são tão frescos que
os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo.

ANCHIETA, José de. Cartas,


informações, fragmentos
históricos e sermões do Padre
Joseph de Anchieta. Rio de Janeiro: S.J., 1933, 430-31 p.

A leitura dos textos revela a preocupação de Anchieta com a exaltação da


religiosidade. No texto 2, o autor exalta, ainda, a beleza natural do Brasil
por meio
a) do emprego de primeira pessoa para narrar a história de pássaros e
bosques brasileiros, comparando-os aos de Portugal.

b) da adoção de procedimentos típicos do discurso argumentativo para


defender a beleza dos pássaros e bosques de Portugal.

c) da descrição de elementos que valorizam o aspecto natural dos


bosques brasileiros, a diversidade e a beleza dos pássaros do Brasil.

d) do uso de indicações cênicas do gênero dramático para colocar em


evidência a frescura dos bosques brasileiros e a beleza dos rouxinóis.

e) do uso tanto de características da narração quanto do discurso


argumentativo para convencer o leitor da superioridade de Portugal em
relação ao Brasil.

31 - (ENEM/2009)

Linhas tortas

Há uma literatura antipática e insincera que só usa expressões corretas, só


se ocupa de coisas agradáveis, não se molha em dias de inverno e por isso
ignora que há pessoas que não podem comprar capas de borracha. Quando
a chuva aparece, essa literatura fica em casa, bem aquecida, com as portas
fechadas. [...] Acha que tudo está direito, que o Brasil é um mundo e que
somos felizes. [...] Ora, não é verdade que tudo vá tão bem [...]. Nos
algodoais e nos canaviais do Nordeste, nas plantações de cacau e de café,
nas cidadezinhas decadentes do interior, nas fábricas, nas casas de
cômodos, nos prostíbulos, há milhões de criaturas que andam aperreadas.

[...]

Os escritores atuais foram estudar o subúrbio, a fábrica, o engenho, a


prisão da roça, o colégio do professor mambembe.

Para isso resignaram-se a abandonar o asfalto e o café, [...] tiveram a


coragem de falar errado como toda gente, sem dicionário, sem gramáticas,
sem manual de retórica. Ouviram gritos, palavrões e meteram tudo nos
livros que escreveram.

RAMOS, Graciliano. Linhas


tortas. 8.ª ed. São
Paulo: Record, 1980, p.
92/3.
O ponto de vista defendido por Graciliano Ramos

a) critica posturas de escritores que usam tudo em seus livros: palavrões,


palavras erradas e gritos.

b) denuncia as mentiras que os escritores atuais construíram ao fazer um


ufanismo vazio das culturas nacionais e estrangeiras.

c) valoriza uma literatura que resgate os aspectos psicológico, simbólico e


imaginário dos personagens nacionais.

d) reconhece o perigo de se construir uma literatura engajada que busque


na realidade social sua inspiração e seu estímulo.

e) reconhece a importância de uma literatura que resgate nossa realidade


social, que reforce a memória e a identidade nacionais.

32 -
(ENEM/200
9)

Os poemas

Os poemas são pássaros

que chegam não se sabe de

onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles

alçam vôo como de um

alçapão.

Eles não têm


pouso nem

porto;

alimentam-se um instante

em cada par de mãos e

partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,


no maravilhado espanto de

saberes que o alimento

deles já estava em ti ...

QUINTANA, Mário.
Antologia Poética. Porto
Alegre: L&PM Pocket, 2001,
p. 104.

O poema sugere que o leitor é parte fundamental no processo de


construção de sentido da poesia.
O verso que melhor expressa essa ideia é

a) “Os poemas são pássaros que chegam”.

b) “Quando fechas o livro, eles alçam vôo”.

c) “Eles não têm pouso”.

d) “E olhas, então, essas tuas mãos vazias,”.

e) “que o alimento deles já estava em ti ...”.

33 - (ENEM/2009)

Terça-feira, 30 de maio de 1893.

Eu gosto muito de todas as festas de Diamantina; mas quando são na igreja


do Rosário, que é quase pegada à chácara de vovó, eu gosto ainda mais. Até
parece que a festa é nossa. E este ano foi mesmo. Foi sorteada para rainha
do Rosário uma ex-escrava de vovó chamada Júlia e para rei um negro
muito entusiasmado que eu não conhecia. Coitada de Júlia! Ela vinha há
muito tempo ajuntando dinheiro para comprar um rancho. Gastou tudo na
festa e ainda ficou devendo. Agora é que eu vi como fica caro para os
pobres dos negros serem reis por um dia. Júlia com o vestido e a coroa já
gastou muito. Além disso, teve de dar um jantar para a corte toda. A rainha
tem uma caudatária que vai atrás segurando na capa que tem uma grande
cauda. Esta também é negra da chácara e ajudou no jantar. Eu acho graça é
no entusiasmo dos pretos neste reinado tão curto. Ninguém rejeita o cargo,
mesmo sabendo a despesa que dá!

MORLEY, Helena. Minha vida


de menina. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998, p.
57.
O trecho acima apresenta marcas textuais que justificam o emprego da
linguagem coloquial. O tom informal do discurso se deve ao fato de que se
trata de

a) uma narrativa regionalista, que procura reproduzir as características


mais típicas da região, como as falas dos personagens e o contexto
social a que pertencem.

b) uma carta pessoal, escrita pela autora e endereçada a um destinatário


específico, com o qual ela tem intimidade suficiente para suprimir as
formalidades da correspondência oficial.

c) um registro no diário da autora, conforme indicam a data, o emprego


da primeira pessoa, a expressão de reflexões pessoais e a ausência de
uma intenção literária explícita na escrita.

d) uma narrativa de memórias, na qual a grande distância temporal entre


o momento da escrita e o fato narrado impõe o tom informal, pois a
autora tem dificuldade de se lembrar com exatidão dos acontecimentos
narrados.

e) uma narrativa oral, em que a autora deve escrever como se estivesse


falando para um interlocutor, isto é, sem se preocupar com a norma
padrão da língua portuguesa e com referências exatas aos
acontecimentos mencionados.

34 - (ENEM/2009)

O falecimento de uma criança é um dia de festa. Ressoam as violas na


cabana dos pobres pais, jubilosos entre as lágrimas; referve o samba
turbulento; vibram nos ares, fortes, as coplas dos desafios, enquanto, a
uma banda, entre duas velas de carnaúba, coroado de flores, o anjinho
exposto espelha, no último sorriso paralisado, a felicidade suprema da volta
para os céus, para a felicidade eterna — que é a preocupação dominadora
daquelas almas ingênuas e primitivas.

CUNHA, Euclides da. Os


sertões: campanha de Canudos.
Edição comemorativa do 90.º
ano do lançamento. Rio de
Janeiro: Ediouro,
1992, p. 78.

Nessa descrição de costume regional, é empregada

a) variante linguística que retrata a fala típica do povo sertanejo.

b) a linguagem científica, por meio da qual o autor denuncia a realidade


brasileira.
c) a modalidade coloquial da linguagem, ressaltando-se expressões que
traduzem o falar de tipos humanos marginalizados.

d) linguagem literária, na modalidade padrão da língua, por meio da qual é


mostrado o Brasil não- oficial dos caboclos e do sertão.

e) variedade linguística típica da fala doméstica, por meio de palavras e


expressões que recriam, com realismo, a atmosfera familiar.

35 - (ENEM/2009)

Oferta

Quem

sabe

Se

algum

dia

Traria

eleva

dor

Até

aqui

O teu amor

ANDRADE, Oswald de.Obras


Completas de Oswald de
Andrade. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira,
1978, p. 33.

O poema Oferta, de Oswald de Andrade, apresenta em sua estrutura e


temática uma relação evidente com um aspecto da modernização da
sociedade brasileira. Trata-se da

a) recusa crítica em inserir no texto poético elementos advindos do


discurso publicitário, avesso à sensibilidade lírica do autor.

b) impossibilidade da poesia de incorporar as novidades do mundo


moderno já inseridas nas novas relações sociais da vida urbana.
c) associação crítica entre as invenções da modernidade e a criação
poética modernista, entre o lirismo amoroso e a automatização das
ações.

d) ausência do lirismo amoroso no poema e impossibilidade de


estabelecer relações amorosas na sociedade regida pelo consumo de
mercadorias.

e) adesão do eu lírico ao mundo mecanizado da modernidade, justificada


pela certeza de que as facilidades tecnológicas favorecem o contato
humano.

36 - (ENEM/2009)

Sorriso interior

O ser que é ser e que

jamais vacila Nas guerras

imortais entra sem susto,

Leva consigo esse brasão

augusto

Do grande amor, da nobre fé tranquila.

Os abismos carnais da triste argila

Ele os vence sem ânsias e

sem custo... Fica sereno,

num sorriso justo, Enquanto

tudo em derredor oscila.


Ondas interiores de grandeza

Dão-lhe essa glória em frente à

Natureza, Esse esplendor, todo

esse largo eflúvio.

O ser que é ser transforma

tudo em flores... E para ironizar

as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!

CRUZ e SOUZA, João da.


Sorriso interior. Últimos sonetos.
Rio de Janeiro: UFSC/Fundação
Casa de Rui Barbosa/FCC, 1984.

O poema representa a estética do Simbolismo, nascido como uma reação


ao Parnasianismo por volta de 1885. O Simbolismo tem como
característica, entre outras, a visão do poeta inspirado e capaz de mostrar à
humanidade, pela poesia, o que esta não percebe.

O trecho do poema de Cruz e Souza que melhor exemplifica o fazer poético,


de acordo com as características dos simbolistas, é:

a) “Leva consigo esse brasão augusto”.

b) “Fica sereno, num sorriso justo/Enquanto tudo em derredor oscila”.

c) “O ser que é ser e que jamais vacila/Nas guerras imortais entra sem
susto”.

d) “Os abismos carnais da triste argila/Ela os vence sem ânsias e sem


custo...”.

e) “O ser que é ser transforma tudo em flores.../E para ironizar as próprias


dores/Canta por entre as águas do Dilúvio!”.

37 - (ENEM/2009)

Desencaixotando Machado: a crônica está no detalhe, no mínimo, no


escondido, naquilo que aos olhos comuns pode não significar nada, mas,
uma palavra daqui, “uma reminiscência clássica” dali, e coloca-se de pé
uma obra delicada de observação absolutamente pessoal. O borogodó está
no que o cronista escolhe como tema. Nada de engomar o verbo. É um
rabo de arraia na pompa literária. Um “falar à fresca”, como o bruxo do
Cosme Velho pedia. Muitas vezes uma crônica brilha, gloriosa, mesmo que
o autor esteja declarando, como é comum, a falta de qualquer assunto. Não
vale o que está escrito, mas como está escrito.

SANTOS, Joaquim Ferreira dos (org.). As


cem melhores crônicas brasileiras. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2005, p.17.
Em As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, Joaquim Ferreira dos Santos
argumenta contra a ideia de que a crônica é um gênero menor. De acordo
com o fragmento apresentado acima, a crônica

a) é um gênero literário importante, mas inferior ao romance e ao drama.

b) apresenta características semelhantes a construções literárias de


vanguarda.

c) impõe-se como Literatura, apresentando características estéticas


específicas.

d) tem sua organização influenciada pelo tempo e pela sociedade em que


está inserida.

e) é o texto preferido pelo homem do povo, que aprecia leituras simples e


temas corriqueiros.

38 - (ENEM/2015)

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então
apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as
especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que
explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os
números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A
fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o
calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como
pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In:


MORICONI, Í. (Org.).
Os cem melhores contos do século. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001.

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel


evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar
contemporâneo manifesta uma percepção que
a) recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a humanidade.

b) desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o conceito de


dever.

c) resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes irracionais.

d) transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida cotidiana.

e) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber científico.


39 - (ENEM/2015)

Cântico VI

Tu tens um

medo de

Acabar.

Não vês que acabas

todo o dia. Que morres

no amor.

Na

triste

za.

Na

dúvid

a. No

desej

o.

Que te renovas

todo dia. No

amor.

Na

triste

za.
Na

dúvid

a. No

desej

o.

Que és sempre

outro. Que és

sempre o

mesmo.

Que morrerás por

idades imensas. Até não

teres medo de morrer.

E então serás eterno.

MEIRELES, C. Antologia
poética. Rio de Janeiro:
Record, 1963 (fragmento).

A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre o homem em seu


aspecto existencial. Em
Cântico VI, o eu lírico exorta seu interlocutor a perceber, como inerente à
condição humana,
a) a sublimação espiritual graças ao poder de se emocionar.

b) o desalento irremediável em face do cotidiano repetitivo.

c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes humanas.

d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado adolescente.

e) um receio ancestral de confrontar a imprevisibilidade das coisas.

40 - (ENEM/2015)

Carta ao Tom 74

Rua Nascimento Silva,

cento e sete Você

ensinando pra Elizete

As canções de canção do

amor demais Lembra que

tempo feliz

Ah, que

saudade,

Ipanema era só

felicidade

Era como se o amor doesse

em paz Nossa famosa

garota nem sabia

A que ponto a cidade

turvaria Esse Rio de


amor que se perdeu

Mesmo a tristeza da gente

era mais bela E além disso se

via da janela

Um cantinho de céu e o Redentor

É, meu amigo, só resta

uma certeza, É preciso

acabar com essa tristeza

É preciso inventar de novo o amor


MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, sua
história, sua gente. São Paulo:
Universal; Philips,1975
(fragmento).

O trecho da canção de Toquinho e Vinícius de Moraes apresenta marcas do


gênero textual carta, possibilitando que o eu poético e o interlocutor

a) compartilhem uma visão realista sobre o amor em sintonia com o meio


urbano.

b) troquem notícias em tom nostálgico sobre as mudanças ocorridas na


cidade.

c) façam confidências, uma vez que não se encontram mais no Rio de


Janeiro.

d) tratem pragmaticamente sobre os destinos do amor e da vida citadina.

e) aceitem as transformações ocorridas em pontos turísticos específicos.

41 - (ENEM/2011)

O nascimento da crônica

Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer:


Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço,
bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca.
Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazemse algumas
conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se
um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.

Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que
apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de
Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No
paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do
contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma
capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia
sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo
ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias
estão nas circunstâncias do primeiro homem.

ASSIS, M. In: SANTOS, J .F. As cem melhores crônicas brasileiras.


Rio de Janeiro: Objetiva, 2007 (fragmento).
Um dos traços fundamentais da vasta obra literária de Machado de Assis
reside na preocupação com a expressão e com a técnica de composição.
Em O nascimento da crônica, Machado permite ao leitor entrever um
escritor ciente das características da crônica, como

a) texto breve, diálogo com o leitor e registro pessoal de fatos do cotidiano.

b) síntese de um assunto, linguagem denotativa, exposição sucinta.

c) linguagem literária, narrativa curta e conflitos internos.

d) texto ficcional curto, linguagem subjetiva e criação de tensões.

e) priorização da informação, linguagem impessoal e resumo de um fato.

42 - (ENEM/2012)

Cegueira

Afastou-me da escola, atrasou-me, enquanto os filhos de seu José Galvão


se internavam em grandes volumes coloridos, a doença de olhos que me
perseguia na meninice. Torturava-me semanas e semanas, eu vivia na treva,
o rosto oculto num pano escuro, tropeçando nos móveis, guiando-me às
apalpadelas, ao longo das paredes. As pálpebras inflamadas colavam-se.
Para descerrá-las, eu ficava tempo sem fim mergulhando a cara na bacia de
água, lavando-me vagarosamente, pois o contato dos dedos era doloroso
em excesso. Finda a operação extensa, o espelho da sala de visitas
mostrava-me dois bugalhos sangrentos, que se molhavam depressa e
queriam esconder-se. Os objetos surgiam empastados e brumosos. Voltava
a abrigar-me sob o pano escuro, mas isto não atenuava o padecimento.
Qualquer luz me deslumbrava, feria-me como pontas de agulha [...].

Sem dúvida o meu espectro era desagradável, inspirava repugnância. E a


gente da casa se impacientava. Minha mãe tinha a franqueza de
manifestar-me viva antipatia. Dava-me dois apelidos: bezerro-encourado e
cabra-cega.

RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record,


1984 (fragmento).

O impacto da doença, na infância, revela-se no texto memorialista de


Graciliano Ramos através de uma atitude marcada por
a) uma tentativa de esquecer os efeitos da doença.

b) preservar a sua condição de vítima da negligência materna.

c) apontar a precariedade do tratamento médico no sertão.

d) registrar a falta de solidariedade dos amigos e familiares.

e) recompor, em minúcias e sem autopiedade, a sensação da dor.

43 -

(ENEM/2

012)

TEXTO I

A canção do africano

Lá na úmida

senzala, Sentado

na estreita sala,

Junto ao braseiro,

no chão, entoa o

escravo o seu

canto,

E ao cantar correm-lhe

em pranto Saudades do

seu torrão...
De um lado, uma

negra escrava Os

olhos no filho crava,

Que tem no colo a

embalar... E à

meia-voz lá

responde

Ao canto, e o filhinho

esconde, Talvez p’ra

não o escutar! “Minha

terra é lá bem longe,


Das bandas de onde o

sol vem; Esta terra é

mais bonita,

Mas à outra eu quero bem.”

ALVES, C. Poesias
completas. Rio de Janeiro:
Ediouro, 1995 (fragmento).

TEXTO II

No caso da Literatura Brasileira, se é verdade que prevalecem as reformas


radicais, elas têm acontecido mais no âmbito de movimentos literários do
que de gerações literárias. A poesia de Castro Alves em relação à de
Gonçalves Dias não é a de negação radical, mas de superação, dentro do
mesmo espírito romântico.

MELO NETO, J. C. Obra


completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2003 (fragmento).

O fragmento do poema de Castro Alves exemplifica a afirmação de João


Cabral de Melo Neto porque

a) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo ideológico


retórico.

b) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais do liberalismo.

c) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas renova o tema amoroso.

d) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que tematize a injustiça social.

e) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém a visão lírica da


terra pátria.

44 - (ENEM/2012)

Sambinha
Vêm duas costureirinhas pela rua das

Palmeiras. Afobadas braços dados

depressinha

Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros

homens da rua. As costureirinhas vão

explorando perigos...

Vestido é de seda.

Roupa-branca é de morim.

Falando conversas fiadas

As duas costureirinhas passam por mim.

— Você vai?

— Não vou não!

Parece que a rua parou pra

escutá-las. Nem trilhos

sapecas

Jogam mais bondes um

pro outro. E o Sol da

tardinha de abril

Espia entre as pálpebras sapiroquentas de

duas nuvens. As nuvens são vermelhas.

A tardinha cor-de-rosa.

Fiquei querendo bem aquelas duas


costureirinhas... Fizeram-me peito

batendo

Tão bonitas, tão modernas,

tão brasileiras! Isto é...

Uma era

ítalo-brasileira.

Outra era

áfrico-brasileira.
Uma era
branca.

Outra era
preta.

ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.

Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram


incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte de seu projeto de
configuração de uma identidade linguística e nacional.
No poema de Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois

a) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas


costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o andamento dos versos é
truncado, o que faz com que o evento perca a naturalidade.

b) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das


costureirinhas — depressinha — que, em última instância, representam
um Brasil de “todas as cores”.

c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras


gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do
poema.

d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a


sociedade do início do século XX, machismo expresso em “que até dão
vontade pros homens da rua”.

e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão


modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de afirmar as origens
africana e italiana das mesmas.

45 - (ENEM/2012)

A escolha de uma forma teatral implica a escolha de um tipo de


teatralidade, de um estatuto de ficção com relação à realidade. A
teatralidade dispõe de meios específicos para transmitir uma cultura-fonte
a um público-alvo; é sob esta única condição que temos o direito de falar
em interculturalidade teatral.

PAVIS, P. O teatro no cruzamento de culturas. São Paulo: Perspectiva, 2008.

A partir do texto, o meio especificamente cênico utilizado para transmitir


uma cultura estrangeira implica
a) buscar nos gestos, compreender e explicitar conceitos ou
comportamentos.

b) procurar na filosofia a tradução verdadeira daquela cultura.

c) apresentar o videodocumentário sobre a culturafonte durante o


espetáculo.

d) eliminar a distância temporal ou espacial entre o espetáculo e a


cultura-fonte.

e) empregar um elenco constituído de atores provenientes da


cultura-fonte.

46 - (ENEM/2012)

— É o diabo!... praguejava entre dentes o brutalhão, enquanto


atravessava o corredor ao lado do Conselheiro, enfiando às pressas o seu
inseparável sobretudo de casimira alvadia. — É o diabo! Esta menina já
devia ter casado!

— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não é porfalta de esforços de


minha parte; creia! — Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico e tão
bom para procriar, se sacrifique desse modo! Enfim — ainda não é tarde;
mas, se ela não se casar quanto antes — hum... hum!... Não respondo pelo
resto!

— Então o Doutor acha que...?

Lobão inflamou-se: Oh! o Conselheiro não podia imaginar o que eram


aqueles temperamentozinhos impressionáveis!... eram terríveis, eram
violentos, quando alguém tentava contrariá-los! Não pediam — exigiam —
reclamavam!

AZEVEDO, A. O homem. Belo Horizonte: UFMG,


2003 (fragmento).

O romance O homem, de Aluísio Azevedo, insere-se no contexto do


Naturalismo, marcado pela visão do cientificismo. No fragmento, essa
concepção aplicada à mulher define-se por uma
a) conivência com relação à rejeição feminina de assumir um casamento
arranjado pelo pai.

b) caracterização da personagem feminina como um estereótipo da mulher


sensual e misteriosa.

c) convicção de que a mulher é um organismo frágil e condicionado por seu


ciclo reprodutivo.

d) submissão da personagem feminina a um processo que a infantiliza e


limita intelectualmente.
e) incapacidade de resistir às pressões socialmente impostas,
representadas pelo pai e pelo médico.

47 - (ENEM/2012)

Todo bom escritor tem o seu instante de graça, possui a sua obra-prima,
aquela que congrega numa estrutura perfeita os seus dons mais pessoais.
Para Dias Gomes essa hora de inspiração veio- lhe no dia que escreveu O
pagador de promessas. Em torno de Zé-do-Burro — herói ideal, por unir
o máximo de caráter ao mínimo de inteligência, naquela zona fronteiriça
entre o idiota e o santo —
o enredo espalha a malícia e a maldade de uma capital como Salvador,
mitificada pela música popular e pela literatura, na qual o explorador de
mulheres se chama inevitavelmente Bonitão, o poeta popular, Dedé
Cospe-Rima, e o mestre de capoeira, Manuelzinho Sua Mãe. O colorido do
quadro contrasta fortemente com a simplicidade da ação, que caminha
numa linha reta da chegada de Zé-do-Burro à sua entrada trágica e triunfal
na igreja — não sob a cruz, conforme prometera, mas sobre ela, carregado
pelos capoeiras, “como um crucifixado”.

PRADO, D. A. O teatro brasileiro moderno. São Paulo:


Perspectiva, 2008 (fragmento).

A avaliação crítica de Décio de Almeida Prado destaca as qualidades de O


pagador de promessas.
Com base nas ideias defendidas por ele, uma boa obra teatral deve

a) valorizar a cultura local como base da estrutura estética.

b) ressaltar o lugar do oprimido por uma forma religiosa.

c) dialogar a tradição local com elementos universais.

d) romper com a estrutura clássica da encenação.

e) reproduzir abordagens trágicas e pessimistas.


48 - (ENEM/2013)

Meu povo, meu poema

Meu povo e meu poema crescem juntos


Como cresce

no fruto A

árvore nova

No povo meu poema vai

nascendo Como no canavial

Nasce verde o açúcar

No povo meu poema

está maduro Como o sol

Na garganta do futuro

Meu povo em

meu poema Se

reflete

Como espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema

aqui devolvo Menos

como quem canta

Do que planta

FERREIRA GULLAR. Toda poesia. José Olympio: Rio


de Janeiro, 2000.
O texto Meu povo, meu poema, de Ferreira Gullar, foi escrito na década de
1970. Nele, o diálogo com o contexto sociopolítico em que se insere
expressa uma voz poética que

a) precisa do povo para produzir seu texto, mas se esquiva de enfrentar as


desigualdades sociais.

b) dilui a importância das contingências políticas e sociais na construção de


seu universo poético.
c) associa o engajamento político à grandeza do fazer poético, fator de
superação da alienação do povo.

d) afirma que a poesia depende do povo, mas esse nem sempre vê a


importância daquela nas lutas de classe.

e) reconhece, na identidade entre o povo e a poesia, uma etapa de seu


fortalecimento humano e social.

49 - (ENEM/2014)

Soneto

Oh! Páginas da vida que eu amava,

Rompei-vos! nunca mais! tão

desgraçado!... Ardei,

lembranças doces do passado!

Quero rir-me de tudo que eu amava!

E que doido que eu fui! como

eu pensava Em mãe, amor de

irmã! em sossegado

Adormecer na vida acalentado

Pelos lábios que eu tímido beijava!

Embora — é meu destino. Em

treva densa Dentro do peito a

existência finda Pressinto a


morte na fatal doença!

A mim a solidão da noite

infinda! Possa dormir o

trovador sem crença.


Perdoa minha mãe – eu te amo ainda!

AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo:


Martins Fontes, 1996.

A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período


conhecido na literatura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a
força expressiva da exacerbação romântica identifica-se com o(a)

a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu


lírico.

b) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da


irmã.

c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência


melancólica.

d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de


dormir.

e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um


tormento constante.

TEXTO: 1 - Comum à questão: 50

Texto I

[...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo


deste bem comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que
consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo
no que me era vital, já foi o tempo em que reconhecia a existência
escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas
não tive sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o
sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são
outras agora minhas preocupações, é hoje outro o meu universo de
problemas; num mundo estapafúrdio — definitivamente fora de foco —
cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive
paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica uma piada:
impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a casa do capeta;
me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja o amor, a
amizade, a família, a igreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! me
apavora ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi
conscientemente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos
grandes indiferentes [...].
NASSAR, R. Um copo de cólera.
São Paulo:

Companhia das Letras, 1992.

Texto II

Raduan Nassar lançou a novela Um Copo de Cólera em 1978, fervilhante


narrativa de um confronto verbal entre amantes, em que a fúria das
palavras cortantes se estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o
autoritário discurso do poder e da submissão de um Brasil que vivia sob o
jugo da ditadura militar.

COMODO, R. Um silêncio inquietante.

IstoÉ. Disponível em:

http://www.terra.com.br. Acesso

em: 15 jul. 2009.

50 - (ENEM/2009)

Considerando-se os textos apresentados e o contexto político e social no


qual foi produzida a obra Um Copo de Cólera, verifica-se que o narrador, ao
dirigir-se à sua parceira, nessa novela, tece um discurso

a) conformista, que procura defender as instituições nas quais repousava a


autoridade do regime militar no Brasil, a saber: a Igreja, a família e o
Estado.

b) pacifista, que procura defender os ideais libertários representativos da


intelectualidade brasileira opositora à ditadura militar na década de 70
do século passado.

c) desmistificador, escrito em um discurso ágil e contundente, que critica os


grandes princípios humanitários supostamente defendidos por sua
interlocutora.
d) politizado, pois apela para o engajamento nas causas sociais e para a
defesa dos direitos humanos como uma única forma de salvamento para
a humanidade.

e) contraditório, ao acusar a sua interlocutora de compactuar com o regime


repressor da ditadura militar, por meio da defesa de instituições como a
família e a Igreja.
GABARITO:

1) Gab: C 11) Gab: C 21) Gab: A 31) Gab: E 41) Gab: A

2) Gab: D 12) Gab: E 22) Gab: B 32) Gab: E 42) Gab: E

3) Gab: D 13) Gab: C 23) Gab: C 33) Gab: C 43) Gab: E

4) Gab: E 14) Gab: A 24) Gab: C 34) Gab: D 44) Gab: B

5) Gab: D 15) Gab: B 25) Gab: B 35) Gab: C 45) Gab: A

6) Gab: D 16) Gab: B 26) Gab: B 36) Gab: E 46) Gab: C

7) Gab: D 17) Gab: B 27) Gab: A 37) Gab: C 47) Gab: C

8) Gab: A 18) Gab: B 28) Gab: E 38) Gab: D 48) Gab: E

9) Gab: A 19) Gab: D 29) Gab: D 39) Gab: A 49) Gab: E

10) Gab: C 20) Gab: B 30) Gab: C 40) Gab: B 50) Gab: C

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