Análise Da Forma Musical
Análise Da Forma Musical
Análise Da Forma Musical
Prefácio3
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MATHES, James. The analysis of Musical Form. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 2007.
Imagem da capa: gravura The Ancient of Days (O ancião dos dias), de William Blake, originalmente publicada como
capa de seu livro Europe a Prophecy (1794). Posteriormente, foi capa do livro God Created the Integers, de Stephen
Hawking (2005).
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Nota da Professora (NP): Solicito que falhas nesta tradução informal inicial sejam informadas à Professora, para que
sejam corrigidas e auxiliem os estudantes com maior propriedade em próximas oportunidades.
Observo que o estudo deste livro deve necessariamente incluir, para cada capítulo: a leitura atenta desta tradução e
a leitura transversal do texto original em inglês, a audição das peças citadas, e a realização dos exercícios.
Futuramente, os estudantes podem estudar os livros sugeridos ao final de cada capítulo, para um aprofundamento dos
conceitos aqui apresentados.
As gravações estão disponíveis na pasta Percepção e análise musical do Google Drive, em plataformas de
compartilhamento de vídeos e em serviços de streaming de música. Quanto às partituras, grande parte das obras
ocidentais de domínio público está disponível no site https://imslp.org/wiki/Main_Page. Ao acessá-lo, preencha a caixa
de pesquisa com o sobrenome do(a) compositor(a) e o título da obra ou peça em inglês. Depois, acesse o link que se
abre. Em seguida, escolha a edição e clique em “partitura completa”. Na sequência, clique sobre a frase “I accept this
disclaimer, continue to download file” e espere até que o contador da frase “Seu download começará em 15
segundos...” atinja zero segundos. Para continuar, clique sobre a nova frase que aparecerá na sua tela: “Clique aqui
para continuar o seu download”. Após a abertura da página com a partitura completa, se você desejar salvá-la como
arquivo PDF, vá até a barra de recursos do seu computador e busque a opção “Exportar como PDF”.
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NP a respeito de traduções de terminologias específicas. Associei os termos projeto e construção a design e structure
para uma remissão mais direta à poiésis musical, ao ato de criar ou fazer musical, e também para contemplar a
vertente harmônica schenkeriana que contrasta forma e estrutura. Costumo traduzir o termo music por música
quando o sentido é mais geral, por obra musical quando o sentido é específico, e por peça musical quando se trata de
uma unidade formativa de uma obra musical. O termo classical music foi traduzido por música erudita no sentido mais
amplo e por música clássica quando se refere ao período específico. Costumo traduzir melody por melodia no sentido
genérico e por linha melódica quando o sentido se refere à sua linearidade. O termo tonalidade transitória refere-se à
key, distinguindo-a de tonality, que diz respeito a tonalidade geral da peça ou obra musical.
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Disciplina: Análise Musical 1 - Profa. Dra. Adriana Lopes Moreira
de forma, estilo e gênero encontrada em alguns estudos, enfatizando, em vez disso, a inter-
relação desses aspectos e sua influência nos designs musicais. O texto não pretende ser uma
pesquisa histórica, nem um exame sistemático ou completo do número substancial de gêneros
e estilos específicos que podem ser encontrados na música ocidental. A ênfase histórica
pretende conduzir a uma consideração de como os compositores se basearam, modificaram ou
desconsideraram as formas da música anterior, influenciadas pela estética predominante ou
pessoal. Da mesma forma, a consideração de alguns gêneros importantes da música ocidental
é incorporada para sugerir algumas maneiras pelas quais a análise da forma pode levar em
conta o gênero de uma composição. Em uma segunda ocorrência, os conceitos de forma como
design e forma como processo, e a distinção entre projeto formal [formal design] e
construção/estrutura formal [formal structure] servem para esclarecer as diversas maneiras
pelas quais os tipos básicos de forma musical podem ser realizados. Essa distinção fornece
uma base para abordar questões importantes para a compreensão de uma peça musical:
apresentada uma ideia ou evento musical, o que acontece a seguir e por quê? Em terceiro
lugar, uma ênfase na experiência auditiva e na escuta contextual é incorporada ao texto, com
exercícios auxiliares para complementar as discussões. Essa ênfase reflete a crença do autor
de que a análise musical deve aumentar as habilidades de escuta e compreensão
auditiva, bem como cultivar o pensamento crítico e interpretativo. Gravações em CD de
exemplos e exercícios selecionados acompanham o texto e são parte integrante dele.
Finalmente, notas analíticas são apresentadas periodicamente para examinar as questões de
critério e interpretação que estão envolvidas na análise musical” (MATHES, 2007, p. xi, grifo
nosso).
“Este texto destina-se a alunos de Graduação em Música que concluíram pelo menos
um, mas de preferência dois anos de estudo de harmonia e condução de voz. É essencialmente
concebido como um texto para aulas sobre forma musical e técnicas analíticas básicas;
também pode servir como leitura suplementar em cursos de história da música ou literatura. O
texto está dividido em duas grandes seções. Na Parte I, após uma discussão introdutória
sobre a natureza da forma musical, são apresentados alguns conceitos e recursos analíticos
básicos que podem ser aplicados a uma ampla gama de estilos e gêneros. Discussões sobre
design tonal, processos temáticos e construção/estrutura de frase, ritmo de frase, funções
formais e textura musical são abordadas em capítulos separados. Elementos básicos e
princípios formais da música barroca, clássica e romântica são discutidos com referência aos
exemplos apresentados em cada capítulo. O texto não faz nenhuma tentativa de se concentrar
em qualquer metodologia analítica especializada. Em vez disso, são enfatizados os recursos
básicos úteis para a análise da forma. O autor acredita que esses recursos podem informar,
bem como ser informadas por metodologias analíticas específicas que um professor deseje
incorporar ao texto” (MATHES, 2007, p. xii, grifo nosso).
“A Parte II examina as formas tradicionais da música ocidental, geralmente
organizadas desde as formas mais compactas, encontradas em uma ampla variedade de
estilos, até as formas mais amplas da música erudita. Formas contrapontísticas e formas
ritornello do período barroco, que tendem a enfatizar a forma como processo e não como
design recorrente, estão incluídas em capítulos separados. A ênfase da Parte II está no design
em grande escala, embora os detalhes da construção/estrutura formal sejam abordados em
obras selecionadas. Incluído nesta seção está um capítulo sobre formas e gêneros vocais. As
formas operísticas e corais são examinadas brevemente, embora, dados os desafios de
analisar a ópera e o escopo do tópico, a discussão seja limitada principalmente às formas
vocais solo. Embora exemplos de formas tradicionais na música do século XX sejam citados ao
longo da Parte II, um capítulo final aborda abordagens que renovaram a forma musical na
música do século XX. Aqui, como nas seções anteriores, uma discussão abrangente sobre
gênero e estilo está além do escopo do texto. Em vez disso, a intenção desta seção é
considerar como mudanças marcantes no estilo musical se relacionam com novas maneiras de
gerar construções formais” (MATHES, 2007, p. xii, grifo nosso).
“Em geral, o texto é organizado a partir de considerações a respeito de níveis mais
compactos de design e construção/estrutura, atingindo posteriormente níveis mais amplos.
Dentro das partes, pretende-se que cada capítulo sucessivo seja construído a partir do capítulo
anterior, embora algumas partes possam ser omitidas ou reordenadas ao longo das aulas. Por
exemplo, o capítulo sobre design tonal tem uma extensa discussão sobre cadências e relações
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tonais, o que pode não ser necessário para alunos mais experientes. Ele pode servir como uma
revisão, mas também reforça a importância da tonalidade para o design formal da música
tonal. Da mesma forma, a discussão um tanto especulativa sobre a forma musical no Capítulo
1 pode ser lida seletivamente. Os capítulos 3 a 5, entretanto, apresentam ideias e conceitos
que são particularmente importantes para a análise do design e da construção/estrutura
formal. Na Parte II, os capítulos sobre a forma binária e a forma sonata podem ser estudados
em sucessão; de maneira semelhante, as formas ternárias e as formas rondó podem ser
acopladas. Os últimos três capítulos podem ser estudados seletivamente, reordenados ou
omitidos para atender às necessidades e interesses de uma classe particular. Ao longo do
texto, as técnicas analíticas da Parte I devem ser aplicadas para reforçar e desenvolver
habilidades analíticas e para examinar com mais detalhes as construções formais de obras
selecionadas, a critério do professor” (MATHES, 2007, p. xii).
“O texto baseia-se em exemplos de repertório musical que são amplamente
reconhecidos ou muito visitados, com ênfase no conjunto de leituras que podem interessar a
todos os alunos. O repertório familiar é usado sempre que possível, visando ajudar os alunos a
aproveitar sua experiência auditiva e suas intuições sobre música. Várias obras são
referenciadas como exemplos ao longo do texto, com o intuito de facilitar a análise de
movimentos ou obras de grande escala e para familiarizar os alunos com obras-primas
canônicas da literatura” (MATHES, 2007, p. xii).
“A compreensão auditiva de elementos da forma musical é enfatizada de duas
maneiras. Primeiramente, o CD que acompanha a publicação auxilia os leitores na realização
de exercícios auditivos e traz exemplos destinados a serem concluídos sem o auxílio de uma
partitura nos Capítulos 1-5. Em segundo lugar, as gravações de exemplos musicais e obras
para exercícios analíticos podem ser acessadas em sites indicados. (Ver as Notas no final deste
Prefácio.) Todos os exercícios visam não apenas reforçar as habilidades analíticas básicas ou
conceitos formais, mas também conduzir o leitor a considerar características únicas e
interessantes da música. Eles também enfatizam a conexão entre o estudo auditivo e visual da
música. É esta ligação e a compreensão da conformação formal e do estilo de uma composição
que, na opinião do autor, deve ser o objetivo primordial de qualquer análise musical”
(MATHES, 2007, p. xii-xiii).
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N.T.: Nessa tradução dispensamos os símbolos * e + que remetem às antologias. Atualmente, grande parte das obras
ocidentais de domínio público estão disponíveis no site https://imslp.org/wiki/Main_Page. Ao acessá-lo, preencha a caixa
de pesquisa com o sobrenome do(a) compositor(a) e o título da obra ou peça em inglês. Depois, acesse o link que se
abre, escolha a edição e clique em “partitura completa”. Em seguida, clique sobre a frase “I accept this disclaimer...” e
espere até que o contador da frase “Seu download começará em 14 segundos...” atinja zero segundos. Na nova tela,
“clique aqui para continuar o seu download”. Após a abertura da página com a partitura completa, se você desejar salvá-
la como arquivo PDF, vá até a barra de recursos do seu computador e busque a opção “Exportar como PDF”.
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Inglês Português
AC Authentic cadence CA Cadência autêntica
PAC Perfect authentic cadence CAP Cadência autêntica perfeita
IAC Imperfect authentic cadence CAI Cadência autêntica imperfeita
DC Deceptive cadence CE Cadência de engano
PC Plagal cadence CP Cadência plagal
EC Evaded cadence CE Cadência evadida
HC Half cadence SC Semicadência
PHC Phrygian half cadence SCF Semicadência frígia
THC Tonicized half cadence SCT Semicadência tonicizada
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Introdução
“O que é forma musical? Como sugerem as citações acima, há diferentes respostas para
essa pergunta, em parte porque a música ocorre de diferentes maneiras. A maioria das
pessoas concordaria que a música é um fenômeno auditivo e temporal: é uma organização
sonora que ocorre no tempo. As apresentações evocativas de Stravinsky e Toch refletem o fato
de que a experiência musical é tanto auditiva quanto física, que é algo que ouvimos e sentimos
enquanto ouvimos ou tocamos música. A música também pode estar vinculada a partituras
anotadas que se pode estudar e aprender a executar. Além disso, a música é algo que
podemos internalizar, ou seja, imaginar em nossa mente” (MATHES, 2007, p. 3).
“Cada uma dessas representações da música nos conduzirá a diferentes perspectivas
sobre a forma musical. As obras musicais compostas segundo as tradições da música erudita e
da música popular ocidental são normalmente anotadas em uma partitura musical. Além de
estabelecer um texto para todos os músicos executarem a obra, uma partitura fornece uma
base para a percepção visual dos designs musicais. Representa a música fora do seu contexto
temporal, o que nos permite estudar o conteúdo de uma composição como se estivesse
congelada no tempo. O uso de uma partitura nos ajuda a entender o design musical e as
técnicas de composição que podem ser evasivas do ponto de vista auditivo. Podemos isolar e
analisar vários aspectos da música, comparar passagens separadas no tempo e contemplar
detalhes, bem como longas passagens” (MATHES, 2007, p. 3).
“Enquanto uma partitura torna possível e encoraja uma visão sinóptica da música, uma
representação puramente auditiva – uma performance – encoraja e até mesmo exige uma
consciência das ideias musicais conforme elas se desenrolam no tempo. Isto é, enquanto
ouvimos e particularmente quando tocamos, experimentamos a música conforme ela ocorre de
momento a momento. Nesse contexto, podemos estar mais atentos aos gestos, formas,
movimentos e qualidades sonoras do que aos aspectos codificados do design formal.
Apresentada auditivamente ou visualmente, nossa percepção da forma musical varia de acordo
com os elementos aos quais estamos atentos, assim como a duração e a complexidade da
música” (MATHES, 2007, p. 3).
“Este capítulo apresenta algumas concepções básicas da forma musical como entendida
na música ocidental, informada pelos vários modos de representação musical brevemente
descritos acima. A base para a classificação tradicional da forma musical é apresentada
primeiro juntamente com alguns princípios que fundamentam essas classificações formais. Os
conceitos de projeto formal [formal design], construção/estrutura formal [formal structure] e
processos formais [formal processes], que são importantes para a análise da forma musical,
são então introduzidos. Uma discussão adicional considerará brevemente a influência do estilo
e do gênero nas formas musicais. Finalmente, a consideração da forma musical como um
modo de percepção aborda como o estudo da forma musical pode aprimorar nossas
habilidades enquanto ouvintes ativos” (MATHES, 2007, p. 4).
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“O design formal seccional pode ser direto, especialmente em obras musicais simples,
como melodias folclóricas. Formas de duas ou três partes podem ser expandidos apresentando
mais elaboração ou desenvolvimento [development] de ideias, ou adicionando seções mais
contrastantes. Em obras musicais mais complexas e longas, a percepção dos trechos pode
variar de acordo com os critérios utilizados e o estilo da obra musical. Em outras obras, como
em prelúdios instrumentais, uma única ideia musical é continuamente elaborada.
Nenhuma seção contrastante é percebida e muitas vezes essas obras podem ser entendidas
como uma forma em uma parte. Ouça o Prelúdio de Chopin em Dó maior, op. 28, n. 1 [faixa 1
do CD, ou performance como a de Maria João Pires, Nelson Freire e Cristian Budu, dentre
outros]. Embora possamos dividir esse curto prelúdio em segmentos menores, os ritmos
contínuos e a brevidade indicam uma única seção para a peça completa. Outros gêneros, como
as fugas, que se originam de texturas contrapontísticas, são frequentemente baseados em
apresentações alternadas e elaborações de temas iniciais, sem estabelecer seções claramente
separadas ou distintamente contrastantes. Essas obras são consideradas formas contínuas
[through-composed] em vez de seccionais” (MATHES, 2007, p. 4, grifos nossos).
“Embora várias composições possam ser identificadas como tendo o mesmo tipo de
forma, cada uma pode ser diferente em relação à maneira segundo a qual o conteúdo de suas
seções é gerado e no que se refere às durações relativas das seções. Além disso, em muitas
composições, a forma ou o design geral é novo e escapa à classificação padrão [nesses casos,
suas partes e seções poderão ser numeradas]. Tais composições ainda terão um design formal
discernível porque a maior parte das obras musicais pode ser dividida em segmentos de
duração variável, que poderão ser agrupados em designs formais discerníveis5. Seja ela única
ou empregando uma categoria padrão de forma musical, qualquer composição terá um design
formal” (MATHES, 2007, p. 4).
“Para reiterar, o design formal em um sentido abrangente leva em consideração não
apenas o projeto em grande escala, mas também a organização específica de uma composição
5
“O termo ‘chunking’ se refere ao processo de agrupar informações formando porções reconhecíveis. Ver Aural Skills
Acquisition de Gary S. Karpinski (Oxford: Oxford University Press, 2000, p. 73 e seguintes)” (MATHES, 2007, p. 4).
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desde seu menor segmento até suas maiores seções. Um aspecto fundamental do design
formal tradicional na música [tonal] é que ele é hierárquico. Nesse contexto, hierárquico
[hierarchic] significa que segmentos menores se agrupam em segmentos cada vez maiores.
Em obras musicais, células de ideias melódicas curtas de 1-2 compassos se agrupam em uma
frase; uma ou mais frases agrupam-se em seções e uma ou mais seções formam uma
composição completa. A dimensão de um determinado segmento definirá os níveis formais em
um design. Quanto mais alto o nível, mais longo é o segmento de música considerado”
(MATHES, 2007, p. 5).
“Segmentos curtos que são combinados para formar segmentos ou grupos maiores
formam uma construção/estrutura por agrupamentos [grouping structure]6: uma
construção/estrutura por agrupamentos revelará como pequenos segmentos se agrupam em
‘segmentos mais longos’. Uma maneira básica de definir um agrupamento na música é pelo
intervalo de tempo que ele ocupa, o que pode ser feito simplesmente contando os compassos”
(MATHES, 2007, p. 5).
“Um exemplo relativamente direto de uma construção/estrutura por agrupamento é
dado no Exemplo 1. Já observamos que a forma desta peça é ABA. Uma consideração mais
aprofundada da ‘construção/estrutura por agrupamento’ revela que esta melodia familiar pode
ser agrupada em segmentos de dois compassos cada. Os segmentos de dois compassos são
articulados ou marcados pelo padrão rítmico repetido, enquanto os padrões melódicos
distinguem os segmentos uns dos outros. Os colchetes no Exemplo 1 indicam o agrupamento
dos segmentos. A designação de conteúdo melódico/motívico por nomes de letras é uma
forma básica de identificar semelhanças ou diferenças entre segmentos. Neste exemplo, o
esquema ab b'b' ab evidencia o padrão melódico ou temático da melodia e o agrupamento de
dois em dois compassos. No próximo nível, agrupamentos com quatro compassos indicam um
design com três partes, ABA. Tais designações dão uma visão básica da disposição e
organização dos conteúdos temáticos” (MATHES, 2007, p. 5).
“Cada um dos segmentos com quatro compassos descritos conclui com uma sensação
relativa de repouso ou fechamento [closure], embora o fechamento da seção intermediária
seja mais fraco do que os outros dois. A progressão e o movimento em direção às pontuações
de fechamento são básicos para a segmentação da música e, portanto, para a articulação da
forma musical. Estabelecer critérios precisos para determinar o fechamento e sua força relativa
pode ser um desafio devido ao número de fatores e julgamentos perceptivos que podem estar
envolvidos. O fechamento pode ser afetado por mudanças na harmonia, no ritmo, no
movimento melódico, no material temático, na textura e no timbre, separadamente e em
inúmeras combinações” (MATHES, 2007, p. 5).
“Embora todos esses elementos possam contribuir para nossa percepção de fechamento
e de limites formais, o design formal é mais prontamente discernível considerando três
elementos: tonalidade, temas e texturas. Todos esses elementos compostos servem para
segmentar a música em frases e seções e, assim, fornecem a base primária para interpretar o
projeto formal de uma peça. Cada um desses aspectos será examinado em detalhes nos
próximos capítulos” (MATHES, 2007, p. 5).
“A construção/estrutura por agrupamento simétrico e direto desta curta melodia, com a
clara coordenação de elementos temáticos e tonais, não é de forma alguma representativa de
todas as obras musicais. Os vários elementos de uma composição individual podem não se
coordenar para revelar uma construção/estrutura por agrupamento única e inequívoca. Os
limites formais geralmente estão sujeitos a interpretações diferentes em obras mais
complexas. Como será discutido, estabelecer critérios consistentes para decidir como
uma peça é segmentada em grupos hierárquicos é tarefa fundamental de qualquer
análise musical formal bem elaborada. Essas interpretações podem ser refletidas não
apenas na análise de um design formal, mas também na performance da música” (MATHES,
2007, p. 5-6, grifo nosso).
“Outro aspecto do design formal é o das durações proporcionais [proportional
durations], que leva em consideração a dimensão das várias frases e seções de uma forma em
6
“A construção/estrutura por agrupamento é definida como ‘uma segmentação hierárquica da composição em
motivos, frases e seções’, em A Generative Theory, de Lerdahl e Jackendoff (1983, p. 8)” (MATHES, 2007, p. 4).
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relação umas às outras. Essas durações podem ser identificadas em termos de números de
compasso em vários níveis do design formal, como no Exemplo 1: a melodia tem doze
compassos de duração e está em três grupos com quatro compassos de 2+2 cada. Eles
também podem ser medidos em termos de tempo real, por exemplo, a primeira seção dura
cinco minutos enquanto a próxima seção dura quarenta e cinco segundos [sic]. Do ponto de
vista do ouvinte, as durações proporcionais podem não ser prontamente aparentes – tendemos
a não contar compassos ou usar um cronômetro quando ouvimos música. Além disso, as
classificações formais de design em grande escala não oferecem nenhuma indicação de
proporções formais: duas composições na mesma forma podem ser muito diferentes em
relação à sua dimensão e proporções formais. No entanto, pode-se argumentar que as
durações dos eventos são uma parte palpável da experiência auditiva. Podemos intuir que uma
passagem ou seção de obras musicais é relativamente curta ou longa, por exemplo, e as
durações das passagens influenciam o efeito expressivo ou a sensação de tensão ou
estabilidade. Para o compositor, uma sensação de duração proporcional, embora muitas vezes
intuitiva, é um elemento crítico da composição, proporcionando uma sensação de equilíbrio e
proporção ao design” (MATHES, 2007, p. 6).
Construção/estrutura formal [formal structure]
“O design formal e a classificação das formas de música em grande escala dizem
respeito ao número e ao agrupamento das ideias musicais e ao arranjo de uma composição em
frases e seções. Essa perspectiva tende a enfatizar uma visão sinóptica ou abrangente da
forma musical, geralmente facilitada pelo uso de uma partitura anotada. Por outro lado, a
perspectiva temporal ou de ‘tempo real’ experimentada na performance ou na audição
concentra nossa atenção no que ouvimos de momento a momento, à medida que a música se
desenvolve ao longo do tempo. A partir dessa perspectiva, a forma preocupa-se com a
maneira segundo a qual as ideias musicais são geradas, desenvolvidas e conectadas, com os
recursos através dos quais os elementos da música – as linhas melódicas, os ritmos e
harmonias, as texturas – moldam essas ideias e revelam várias qualidades de movimento.
Essa visão da forma musical leva à consideração da construção/estrutura formal, dos
processos e funções que moldam o design musical” (MATHES, 2007, p. 6).
“O termo estrutura [structure], quando usado em relação à música, refere-se às
progressões [harmônicas] e padrões subjacentes aos vários elementos que moldam a música.
Assim, pode-se falar de estrutura tonal, estrutura rítmica, estrutura melódica e assim por
diante. Para o propósito deste estudo, o termo construção/estrutura formal [formal
structure] é usado para se referir aos processos formais subjacentes e às relações funcionais
entre os segmentos em vários níveis do design. Dois conceitos são particularmente
importantes na compreensão da construção/estrutura musical em geral. Em primeiro lugar, é
generativo [generative], o que significa que resulta de processos e técnicas de composição
que geram e moldam a música. Em segundo lugar, é hierárquico [hierarchic] na medida em
que distingue alguns elementos e eventos como estruturais e outros como ornamentais,
distinções que podem ser avaliadas em vários níveis ou períodos de tempo. O papel dos vários
elementos musicais na formação da estrutura varia; na música tonal, o termo estrutura é
normalmente entendido como uma referência à estrutura tonal. A estrutura tonal refere-se a
uma hierarquia de movimentos lineares, progressões harmônicas e objetivos cadenciais que
fundamentam o design formal e conectam eventos separados no tempo” (MATHES, 2007, p. 6,
grifos nossos).
Processos formais [formal processes]
“Processos envolvendo tonalidade, temas e texturas também são essenciais para a
construção/estrutura formal. Os processos podem ser brevemente explicados e resumidos da
seguinte forma” (MATHES, 2007, p. 6):
“Os processos formais tonais [tonal processes] incluem progressões harmônicas e
lineares, o processo de modulação e a confirmação de tonalidades por meio de cadências, que
são fundamentais para a articulação e forma da construção/estrutura formal e do design. A
consciência de aspectos relativos a quando e como ocorrem as modulações, ou das flutuações
no ritmo harmônico, torna-nos atentos aos processos que moldam o movimento tonal de uma
composição” (MATHES, 2007, p. 6-7).
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“Observe que a textura aqui é entendida não apenas em termos de categorias gerais, como homofonia ou polifonia,
mas no sentido mais amplo de todos os elementos que afetam sonoramente a obra musical. Esse aspecto será
abordado com mais detalhes no Capítulo 5” (MATHES, 2007, p. 7).
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§ Uma breve ideia se repete e ascende, apenas para retornar para um conciso momento de
repouso.
§ A linha melódica recomeça, ascende um pouco mais, volta brevemente e ascende ainda
mais.
§ A peça musical atinge um clímax, que depois volta a um ponto de repouso, embora a linha
melódica continue.
§ A ideia melódica se resolve e os acordes finais se repetem; o final é confirmado por uma
harmonia tônica suavemente contorcida” (MATHES, 2007, p. 7-8).
“A maneira segundo a qual configuração básica pode ser delineada conforme a Figura
1.1, que mostra o contorno da peça de maneira bem simples. Observamos anteriormente que
o prelúdio como um todo é uma forma contínua de uma parte. Agora observamos segmentos
menores em seu design e descrevemos alguns dos elementos que moldam a
construção/estrutura formal” (MATHES, 2007, p. 8).
“Como esta descrição e diagrama ilustram, a forma musical pode ser compreendida em
termos de movimento dirigido em direção a objetivos e clímax, e em termos de gestos e
formas. É a essa perspectiva intuitiva sobre a forma musical que Stravinsky e Toch se referem,
de maneiras diferentes, nas afirmações citadas no início do capítulo. Tal como acontece com as
proporções formais, esses aspectos da forma são menos tangíveis do que alguns dos
elementos de design e estrutura discutidos anteriormente. No entanto, essas qualidades são
básicas para nossa experiência musical e informam muito do que intuímos sobre o design
musical. Em particular, contrastes entre estabilidade e instabilidade, e entre tensão e sua
resolução, especialmente na música tonal, moldam nossas percepções da forma musical
enquanto ouvimos ou tocamos” (MATHES, 2007, p. 8).
Forma, estilo e gênero
“Os conceitos apresentados até aqui refletem diferentes perspectivas sobre a forma
musical que se aplicam a uma ampla gama de estilos e gêneros musicais. Tal como acontece
com a forma musical, o estilo musical [musical style] pode referir-se a várias coisas
diferentes. Estilo pode referir-se ao vocabulário básico e linguagem da música (tonal vs.
atonal), a um determinado período histórico (barroco vs. clássico), a uma região particular
(italiano vs. francês), ao meio (vocal vs. instrumental), a um compositor específico (Beethoven
vs. Chopin) ou ao gênero (oratório vs. ópera). O estudo do estilo musical, como sugere esta
lista parcial, é um tópico amplo que poderia encher volumes. Para os fins deste texto, vamos
nos concentrar na influência de estilos e gêneros históricos da música ocidental na forma
musical” (MATHES, 2007, p. 8-9, grifo nosso).
“No que diz respeito ao estilo musical histórico [hystorical style], é útil observar
como a estética e o estilo predominantes do período se refletem nos tipos de formas utilizadas
e como elas são estruturadas. Essa perspectiva pode ajudar a explicar as diferenças no uso de
formas semelhantes em estilos diferentes, além de fornecer uma visão dos princípios formais
de diferentes períodos. Além disso, certos gêneros são frequentemente associados a formas
particulares. Por exemplo, espera-se que um movimento de dança, como uma giga ou uma
sarabanda, esteja em algum tipo de forma com duas partes; o design particular e a estrutura
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“[A terminologia] música programática geralmente se refere à música instrumental que se destina a expressar ou
representar ideias não musicais, seja uma história, uma personagem, uma imagem ou uma ideia. As Quatro estações
de Vivaldi, e Romeu e Julieta de Tchaikovsky são exemplos” (MATHES, 2007, p. 9, grifo nosso).
9
“Ver Classic Music, de Ratner (1980, p. 3-28), para uma classificação histórica e uma discussão sobre ‘tópicas’ e
estilos expressivos. A ideia mais problemática da música como retórica é discutida em Wordless Rhetoric, de Bonds
(1991)” (MATHES, 2007, p. 9)
10
“Alan Smith, ‘Feasibility of tracking musical form as a cognitive listening objective’, publicado no Journal of Research
in Music Education, n. 21 (1973, p. 200-213); ver também Musical form, de Cook (1990)” (MATHES, 2007, p. 9
11
“Ver Aural Skills, de Karpinski (2000, p. 68-69)” (MATHES, 2007, p. 10).
12
“The musical experience, de Roger Sessions (1972, p. 23)”.
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13
“A distinção entre design ornamental e construção estrutural é algumas vezes denominada ‘forma externa’ e ‘forma
interna’. Ver Phrase Rhythm, de Rothstein (1989, p. 104). Ver também ‘Schubert's Experiments with Sonata Form’, de
David Beach (1993)” (MATHES, 2007, p. 10).
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Introdução
“No capítulo anterior, os conceitos de design formal e construção/estrutura formal
foram introduzidos para distinguir entre a forma geral de uma composição – sua classificação
formal ou layout em seções – e as funções, processos e proporções formais que moldam o
design. Ambas as perspectivas exigem que ‘dividamos’ ou segmentemos a música em
unidades significativas e as agrupemos de alguma maneira hierárquica, qualquer que seja a
forma” (MATHES, 2007, p. 12).
“Três aspectos básicos da forma musical — tonalidade, temas e texturas — foram
introduzidos. Embora todos esses três aspectos possam funcionar para definir e agrupar
segmentos, a extensão em que eles são coordenados ou trabalham independentemente varia
amplamente. A padronização temática e as mudanças na textura e na densidade rítmicas são
dicas importantes para discernir frases e seções. É o movimento tonal da música, a progressão
da atividade harmônica e linear, no entanto, que é mais importante na articulação da
construção/estrutura formal e do design. Na discussão a seguir, o foco estará no movimento
tonal e no design tonal de obras musicais, com ênfase no papel da tonalidade para a
articulação de frases, e nos conceitos de cadência, modulação e relações tonais. Um
levantamento bastante extenso de cadências é apresentado porque reconhecer harmonias
cadenciais é fundamental para a análise da forma musical. Os processos e funções temáticas e
texturais serão abordados mais adiante nos capítulos subsequentes” (MATHES, 2007, p. 12).
Frase, cadência e tonalidade transitória
“Um aspecto fundamental da forma é a ideia de que obras musicais tonais são
organizadas em frases. Um dos componentes mais básicos da estrutura da frase é a
progressão melódica e harmônica em direção à cadência. As cadências marcam o final das
frases, trazendo uma sensação de conclusão e resolução. Assim, eles são a base primária para
segmentar e agrupar a música tonal em qualquer forma1. Na música tonal, a ordem, o tipo e o
peso relativo ou grau de ênfase das cadências e modulações são importantes determinantes da
forma. Chamaremos esse perfil de design tonal. A análise do design tonal implica identificar o
padrão de cadências e quaisquer modulações que ocorram e avaliar sua hierarquia e peso.
Simplificando, podemos perguntar quais cadências e tons são mais importantes e quais
relações ou padrões são evidentes entre eles. Como a noção de cadência está diretamente
ligada à de frase, a definição de frase musical deve ser considerada e esclarecida antes de uma
discussão mais aprofundada sobre cadências” (MATHES, 2007, p. 12).
“O termo frase [phrase] como se aplica à música tem pelo menos dois significados
diferentes. Os artistas costumam usar o termo como um verbo para se referir à maneira como
moldam ou ‘fraseiam’ a música por meio do controle da dinâmica, articulação, acentuação,
equilíbrio e andamento. A partir desta perspectiva, uma ‘frase’ pode se referir a qualquer
segmento de música que é percebido como uma unidade completa ou independente, e deve
ser projetada como tal em uma performance. Esses segmentos podem ser tão curtos quanto
uma ideia melódica de 2-3 notas, ou tão longos quanto vários compassos de música. Quando
usado com referência à forma musical tonal, o termo frase refere-se a uma passagem
de obras musicais marcada pela conclusão de um movimento dirigido em direção a
uma cadência. A ênfase no movimento direcionado e na chegada cadencial implica que uma
frase tem início, meio e fim distintos” (MATHES, 2007, p. 12-13, grifo nosso).
“Em ambas as interpretações, o que os performers e os ouvintes atentos percebem é o
movimento em direção a vários graus e momentos de fechamento, que podem ser definidos
como resolução ou completude. Uma sensação de fechamento é o que nos leva a perceber
segmentos de música e a agrupá-los como unidades. Como veremos, por ser o fechamento um
conceito relativo, o que constitui uma frase pode estar sujeito a diversas interpretações em
muitos casos. Ao definir formalmente uma frase em termos de movimento direcionado para o
1
“Na música pós-tonal, outros elementos da música, especialmente a textura, o timbre e o ritmo tornam-se
igualmente ou frequentemente mais importantes do que os elementos harmônicos e lineares na articulação da forma
musical. Essa questão será abordada em um capítulo posterior” (MATHES, 2007, p. 12).
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fechamento cadencial, podemos distinguir entre uma frase completa e segmentos no interior
de uma frase. Uma vez que esta distinção depende de uma definição precisa de cadências,
examinaremos os tipos de cadências na música tonal antes de nos voltarmos para os conceitos
de modulação e relações tonais” (MATHES, 2007, p. 13).
Cadências e segmentação
“O termo ‘cadência’, do latim cado que significa ‘cair’, refere-se à conclusão de uma
progressão harmônica e melódica na música tonal, que serve para articular ou marcar o final
de uma frase. A ideia de queda é refletida pela sensação de resolução que se ouve no
movimento cadencial da melodia e da linha do baixo. Do estudo da harmonia e condução de
voz [voice leading], sabemos que progressões harmônicas específicas e movimentos lineares
caracterizam vários tipos de cadências. Cadências autênticas [CA; authentic cadences, AC]
resolvem a partir de um acorde de dominante ou de um acorde de sensível para uma tríade de
tônica na posição fundamental; semicadências [SC; half cadences, HC] resolvem para uma
tríade de dominante em posição fundamental; cadências de engano [CE; deceptive
cadences, DC] empregam uma resolução de V para vi ou para algum acorde diferente da
tônica; as cadências plagais [CP; plagal cadences, PC] empregam uma resolução a partir de
IV (ou de algum outro acorde não dominante) para uma tríade de tônica na posição
fundamental. Um resumo dos padrões comuns de condução de vozes em várias cadências é
apresentado no Exemplo 2.1. Observe que cada uma das fórmulas cadenciais é marcada pela
chegada em uma tríade em posição fundamental, que fornece a estabilidade necessária para
um senso de resolução e fechamento cadencial [cadential closure]. A exceção é o uso de um
acorde I6 que pode ser empregado para evitar ou enfraquecer uma sensação de fechamento
harmônico, criando uma cadência autêntica imperfeita [CAI; imperfect authentic cadences,
IAC, Exemplo 2.1b. No Exemplo 2.1a há a cadência harmônica perfeita, CAP; perfect
authentic cadences, PAC]” (MATHES, 2007, p. 13).
“Uma breve análise das duas primeiras frases do conhecido minueto mostrado no
Exemplo 2.2 servirá como uma introdução à segmentação de frases e esclarecerá a
importância das harmonias cadenciais na articulação de frases. Os primeiros oito compassos
do minueto se dividem em dois segmentos com quatro compassos, o primeiro dos quais pode
ser dividido em segmentos de dois compassos. Os segmentos de dois compassos são
articulados pelas repetições melódicas e pelas mudanças de colcheias para semínimas. Os
compassos 5 a 8 podem ser agrupados em segmentos de dois compassos, embora os ritmos
repetidos baseados na ideia musical introduzida no compasso 1 deem uma sensação de
movimento contínuo até o compasso 8. Assim, os compassos 5 a 8 são melhor interpretados
como uma unidade contínua com quatro compassos. Este agrupamento de [(2+2)+4] é
indicado no exemplo por colchetes enquanto os números indicam o início e o fim das frases. Os
segmentos de dois e quatro compassos nesta frase são facilmente reconhecidos e seriam
projetados em qualquer performance competente. Esses segmentos não são, no entanto,
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frases completas conforme definido acima, uma vez que não há chegada cadencial até o
compasso 8. O termo semifrase [subphrase] refere-se a um curto segmento de música,
geralmente de 2 a 4 compassos de duração, que faz parte de uma frase maior e completa2.
Embora o compasso 4 pareça completar um movimento melódico em direção à cadência, o
movimento harmônico não envolve uma linha de baixo cadencial de acordes na posição
fundamental; tanto o acorde de dominante implícito (comp. 3, tempo 3 [3.3]) quanto a tônica
(comp. 4) estão em inversão. Além disso, o compasso 5 é uma continuação do movimento
melódico dos compassos 1-4. O compasso 8 atinge uma clara semicadência, enfatizada pela
forte colocação métrica e chegada ao acorde de dominante, bem como pela duração
prolongada da melodia. Da mesma forma, os compassos 9-16 compreendem uma única frase,
com uma forte linha de baixo enfatizando uma cadência autêntica perfeita. Embora uma
discussão mais aprofundada sobre a estrutura da frase seja considerada no próximo capítulo, o
foco aqui é a importância das harmonias cadenciais na articulação de frases completas”
(MATHES, 2007, p. 14).
2
“Ver Phrase Rhythm, de Rothstein (1989, p. 30-32) para uma discussão mais aprofundada sobre as características
da semifrase. Outros termos encontrados incluem segmento de frase e membro de frase” (MATHES, 2007, p. 14).
3
“As distinções aqui são extraídas, em parte, da discussão sobre a cadências em Classical Form, de William Caplin
(1998, p. 43-44)” (MATHES, 2007, p. 14).
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também o uso de suspensões por Brahms para atrasar a resolução, que então ocorre em um
tempo metricamente fraco. Essas técnicas atenuam o grau de fechamento, enquanto servem
para enfatizar as eventuais resoluções. Ouça os exemplos várias vezes com atenção especial
às vozes externas [também conhecidas por vozes extremas]” (MATHES, 2007, p. 16).
“As progressões cadenciais podem ser reiteradas ou prolongadas para uma sensação de
fechamento mais decisiva. A ênfase na chegada cadencial é uma marca do estilo clássico de
Haydn, Mozart e Beethoven. Uma frase inteira pode consistir em uma progressão cadencial
estendida; tal frase cadencial é frequentemente encontrada no final de uma grande seção de
uma obra ou movimento. O fechamento da primeira seção da Sinfonia n. 41, primeiro
movimento, de Mozart (Exemplo 2.4f) usa uma fórmula cadencial associada aos compositores
de Mannheim do século XVIII” (MATHES, 2007, p. 16).
“A semicadência (SC) [half cadence, HC] faz uso de progressões semelhantes à CAP,
mas com uma chegada marcante ao acorde de dominante que o separa do acorde subsequente
ao qual ela resolve. A SC é claramente menos estável do que uma cadência autêntica, criando
assim uma forte expectativa de continuação. Todas as progressões mostradas no Exemplo
2.4 podem ocorrer como semicadências se a resolução da tônica for interrompida ou atrasada.
Os fatores rítmicos e texturais citados anteriormente contribuem para estabelecer o acorde de
dominante como ponto de cadência. A mudança para uma nota mais longa, o prolongamento
do acorde de dominante cadencial e a repetição do material temático para iniciar a próxima
frase são particularmente eficazes na marcação de semicadências. Essas mudanças causam
uma interrupção no movimento do acorde de dominante, seguida de um recomeço” (MATHES,
2007, p. 16).
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“Alguns tipos de progressões com semicadências encontrados com maior frequência são
ilustrados no Exemplo 2.5. O Exemplo 2.5a ilustra uma abordagem descendente e por graus
para um acorde V usando o movimento 6b-5 no baixo. Essa linha de baixo normalmente é
harmonizada com a progressão iv6-V, embora outras sonoridades predominantes, como iiº43,
ou um acorde de sexta aumentada possam ser usadas. Esta linha de baixo com essa
harmonização específica configuram a chamada semicadência frígia [phrygian half cadence].
Resulta da condução de vozes usada no modo frígio na música pré-tonal e é encontrada com
frequência na música do período barroco. O Exemplo 2.5b mostra como a progressão IV-V64-
3 cria uma semicadência por meio de acentuação métrica e de movimento descendente linear
5
para uma sonoridade 64 que resolve para dominante. A pausa subsequente ajuda a separar
esta resolução para V da próxima frase” (MATHES, 2007, p. 18).
“Semicadências normalmente usam a posição fundamental e a tríade de dominante ao
invés do V7, visando trazer estabilidade ao ponto de cadência. No Exemplo 2.5c, a colocação
do acorde cadencial em um tempo metricamente acentuada (forte) e a ênfase sustentada
emprestam à chegada em um V7 o efeito de semicadência. Frequentemente o acorde de
dominante é precedido por um V/V ou por viiº7/V. Essa progressão normalmente não indica
uma modulação, portanto, é melhor compreendida como uma semicadência tonicizada
(SCT) [tonicized half cadence, THC], embora o grau de ênfase e as reiterações da dominante
secundária possam dar a impressão de uma cadência autêntica na dominante. Como o acorde
de dominante da semicadência geralmente resolve na harmonia tônica ao início da próxima
frase, em alguns casos pode-se perceber a tríade de tônica como o ponto de cadência. A
questão da chegada cadencial ser sentida como uma cadência autêntica ou como semicadência
pode estar sujeita a interpretações e pode ser influenciada pela performance4” (MATHES,
2007, p. 18).
4
“Outro ponto de vista, defendido pela análise schenkeriana, é que a dominante da SC é uma interrupção e não é
resolvida pela tônica subsequente. Em vez disso, a próxima frase ‘começa de novo’ e a dominante da SC atinge sua
resolução na CAP que encerra a frase subsequente. Outros argumentam que a resolução da dominante da SC é
satisfeita de duas maneiras: fracamente quando a próxima frase começa na tônica e mais fortemente quando a
próxima frase termina na tônica (após o retorno da dominante)” (MATHES, 2007, p. 18).
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“Uma cadência de engano (CE) [deceptive cadence, DC] ocorre quando uma
progressão cadencial autêntica resolve o acorde de dominante para um acorde diferente da
tríade tônica esperada. O ouvinte é ‘enganado’ por ter frustrada a expectativa da resolução em
uma tríade tônica. A resolução mais comum da harmonia dominante em uma cadência de
engano é para uma harmonia submediante (vi ou VI) como no Exemplo 2.6a. Essa resolução
de engano é frequentemente seguida por uma continuação da frase, que subsequentemente
atingirá o objetivo da resolução à tônica. Assim, uma cadência de engano pode ser entendida
como um meio para se evitar uma cadência autêntica implicada na progressão e que é
realizada por uma extensão de frase. Tal é o caso do Exemplo 2.6b, onde a progressão V7-vi
ocorre em um ponto esperado de cadência. Embora uma progressão V-vi seja típica de
cadências de engano, outras resoluções de engano não são incomuns. Em alguns casos, a
resolução de engano pode se dirigir a um acorde de tônica que é alterado para se tornar um
V7/IV, como no Exemplo 2.6c. Nesse caso, a tônica alterada serve como um ponto de
cadência que inicia a próxima frase, mas seu movimento de linha de baixo é de engano e
instável. Uma cadência de engano também pode resolver para um acorde vi ou VIb, que é
então assumido como uma nova tônica. Essa técnica serve para iniciar uma nova frase com
uma mudança direta de tonalidade transitória [key], como ocorre no Exemplo 2.6d.”
(MATHES, 2007, p. 19).
“Uma cadência semelhante à cadência de engano é a cadência evadida [evaded
cadence], associada particularmente ao período clássico. Uma cadência evadida ocorre quando
uma progressão cadencial autêntica é interrompida [cf. Exemplo 3.15b]. Cadências evadidas
e de engano têm consequências importantes para a compreensão da estrutura da frase, que
será discutida em um capítulo posterior” (MATHES, 2007, p. 19).
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“A cadência plagal (CP) [plagal cadence, PC] é usada com menos frequência do que as
cadências acima mencionadas, e na maioria das vezes serve como uma extensão depois que
uma cadência autêntica foi alcançada. Frequentemente, ela marca o fim de uma seção ou
movimento e tradicionalmente tem sido associado à música sacra na forma da chamada
‘cadência do Amém’, uma progressão IV-I. Talvez o exemplo mais famoso da cadência plagal
seja o final do coro ‘Aleluia’ de Messiah, de Haendel (Exemplo 2.7a). Usadas com frequência
na música barroca, as cadências plagais estão visivelmente ausentes do estilo clássico; e
voltaram a ser usadas no século XIX. O Exemplo 2.7b mostra uma cadência plagal que
conclui um movimento de uma sonata para clarinete de Brahms. Observe o uso do 7b que
flexiona a tríade tônica como uma dominante secundária de IV, e a nota Sol adicionada que
colore a harmonia de subdominante, bem como a nota pedal de tônica subjacente à cadência.
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“Algumas cadências são incomuns porque desafiam a simples classificação. Uma dessas
cadências é a resolução de um viiº43 (uma tétrade diminuta) para uma tríade de tônica em
posição fundamental tríade, mas com um movimento de grau escalar 4-1 no baixo. Os
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compassos finais do Exemplo 2.6a ilustram essa cadência, que combina uma harmonia de
sensívelcom um movimento de linha de baixo plagal. Exemplos podem ser encontrados em
obras musicais de Bach, bem como de compositores posteriores, do século XIX. Muitas obras
do século XIX fazem uso de cadências únicas, como a impressionante conclusão da Sonata
para piano em Si menor de Liszt, na qual um acorde de Fá maior resolve em uma tríade da
tônica Si maior” (MATHES, 2007, p. 22).
“A discussão anterior enfatiza a importância das progressões cadenciais — melódica,
harmônica e rítmica — para a articulação da estrutura frasal. Na medida em que um sentido de
fechamento e conclusão de uma ideia musical pode ser marcado por uma ampla gama de
técnicas, a distinção entre semifrases e frases está sujeita à interpretação. A abertura do
Quarteto de cordas op. 59, II, de Beethoven (Exemplo 2.8) traz uma sensação de início-
continuação-encerramento que sugere uma frase completa, mesmo na ausência de qualquer
progressão melódica e harmônica. Da mesma forma, alguns movimentos melódicos
geralmente dão uma forte sensação de encerramento e conclusão, enquanto o movimento
harmônico evita o fechamento cadencial. Esses aspectos enfatizam a necessidade de se
manter uma abordagem flexível para a análise da estrutura da frase enquanto se estuda as
maneiras aparentemente infinitas e únicas pelas quais os compositores podem moldar suas
obras musicais” (MATHES, 2007, p. 22).
Design tonal e relações entre tonalidades transitórias [Tonal design and key
relations]
“Em toda a música tonal, o padrão e o grau de ênfase dados às várias tonalidades e
harmonias de uma composição é um elemento vital de seu design tonal. O arranjo e a
hierarquia das cadências, definidos pelo movimento de afastamento e retorno à tônica ou
tonalidade inicial, são básicos para a forma única de uma peça musical individual. Isso é
particularmente importante para a compreensão de composições extensas ou complexas nas
quais podem ser encontradas modulações de e para várias tonalidades transitórias, bem como
uma variedade diversificada de pontuações de fechamento cadencial. Embora o conceito de
relações entre tonalidades transitórias tenha sido explicado de várias maneiras e debatido por
vários teóricos, o que se segue são algumas formas comumente aceitas de classificar as
relações entre tonalidades transitórias” (MATHES, 2007, p. 22).
“As relações entre as tonalidades transitórias de um movimento podem ser determinadas
levando-se em consideração do ciclo de quintas (ver Figura 2.1) e a escala sobre a qual a
tônica é construída. Considere a tônica de uma determinada tonalidade no ciclo de quintas: a
relativa maior ou menor e as tonalidades adjacentes estão intimamente relacionadas a ela.
Assim, se a tônica for Dó maior, as tonalidades de Lá menor, Sol maior, Mi menor, Fá maior e
Ré menor estarão intimamente relacionadas. Se a tônica for Dó menor, então as tonalidades
de Mib maior, Sol menor, Sib maior, Fá menor e Láb maior são tonalidades intimamente
relacionadas. Em uma determinada tonalidade, então, as tríades maiores ou menores
formadas nos vários graus da escala diatônica podem ter a função de uma tríade de tônica. No
modo menor, as relações tonais são consideradas em relação à escala menor natural.
Simplificando: a tônica, a dominante, a subdominante e suas tonalidades relativas estão todas
intimamente relacionadas” (MATHES, 2007, p. 23, grifo do autor). [Observem que o ciclo
abaixo pode se referir a relações entre tríades e a relações entre tonalidades; nesta seção, o
autor se refere a relações entre tonalidades, e não a relações entre tríades.]
“Quanto mais nos afastamos da tônica em qualquer direção do ciclo, mais distantes são
as relações entre tonalidades transitórias. Assim, a tonalidade que dista em um trítono da
tônica original (por exemplo, de Dó a Fá# maior) é a tonalidade mais distante. As tonalidades
que se movem no sentido horário no ciclo às vezes são caracterizadas como tonalidades
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5
“Para discussões sobre relações entre tonalidades transitórias, ver Structural Functions of Harmony, edição revisada,
de Arnold Schoenberg (1954, capítulos 3 e 4); The Forms of Music, de Donald Tovey (1956, p. 57-66); e The Classical
Style, de Charles Rosen (1972, p. 23-29)” (MATHES, 2007, p. 23).
6
“A terminologia da mistura é extraída, em parte, de Harmony and Voice Leading, 3d ed., de Aldwell e Schacter
(1994, p. 390-403, 561 et seq.)” (MATHES, 2007, p. 24).
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em obras como a Fantasia em Fá menor de Chopin, que começa em Fá menor apenas para
terminar em Fá maior. De um modo geral, o século XIX explorou progressivamente relações
tonais transitórias mais remotas e complexas até que a ideia de uma tonalidade clara e
inequívoca foi ameaçada. Na música programática, principalmente na canção erudita e na
ópera, as relações entre tonalidades transitórias podem ser baseadas em caracterizações ou
convenções específicas, bem como em um plano tonal que empresta coerência a uma obra”
(MATHES, 2007, p. 25).
Tipos de modulações
“As relações entre as tonalidades podem ser um fator relevante aos tipos de modulações
que ocorrem. A modulação para tonalidades intimamente relacionadas é mais facilmente
efetuada pela modulação por acorde comum [common chord modulation, ou modulação
por acorde pivô, pivot chord modulation]; tonalidades mais distantes podem exigir acordes
pivot cromáticos ou enarmônicos [modulação cromática, chromatic modulation; modulação
enarmônica, enarmonic modulation], ou o uso de mistura modal [mistura modal primária,
secundária ou dupla; primary, secondary or double modal mixture]. Às vezes, modulações
diretas [direct modulations] são usadas, nas quais uma frase ou seção simplesmente começa
em uma nova tonalidade. A sequência [modulação sequencial, sequential modulation] é outra
maneira comum de efetuar a modulação em uma ampla variedade de estilos. [Há ainda a
modulação por terças, ou por mediantes cromáticas, chromatic mediants modulation, dentre
outras possibilidades]” (MATHES, 2007, p. 25, grifo nosso).
“De igual, se não maior, importância para o movimento tonal é o peso variado e a
ênfase dada às modulações no interior de uma composição. Algumas modulações são
meramente uma passagem de uma tonalidade para outra, enquanto outras são marcadas por
cadências enfáticas seguidas de exposição de material temático. Em outras palavras, pode-se
distinguir entre modulações estruturalmente significativas e modulações passageiras que
fazem parte de uma progressão maior. [Em obras tonais,] o termo tonicização é usado para
descrever modulações passageiras nas quais há um acorde ou uma progressão secundária
reiterada que sugere uma nova tonalidade, mas ocorre uma cadência fraca ou nenhuma
cadência [Em obras pós-tonais, o termo tonicização é empregado para se referir a breves
momentos em que há progressos harmônicas tonais no contexto não tonal]. Geralmente, as
tonalidades transitórias estruturais dentro de um design tonal são definidas por um
fechamento cadencial marcante. As principais mudanças na tonalidade transitória podem ser
confirmadas pela introdução ou recapitulação de material temático após uma cadência”
(MATHES, 2007, p. 25).
“Outro fator a se considerar é o tempo em que a música permanece em uma tonalidade
específica e seu efeito no movimento da peça. Uma tonalidade que não tenha sido confirmada
pelo fechamento cadencial pode ser enfatizada pelo uso prolongado. Por outro lado, as
tonalidades podem soar brevemente como uma tônica temporária marcada por uma cadência,
apenas para virar repentinamente em direção a outra tonalidade, criando uma sensação de
instabilidade e tensão. As modulações ouvidas como modulações reais (estruturais) ou como
tonicizações estão muitas vezes sujeitas a diferentes interpretações. Fazer interpretações com
base na consideração cuidadosa do contexto e no efeito musical é parte da tarefa do analista e
do performer” (MATHES, 2007, p. 25).
Percepção de modulações e relações entre tonalidades transitórias
“Embora a consciência de tonalidades específicas para as quais uma composição modula
possa ser evasiva do ponto de vista perceptivo, a escuta ativa e a prática podem aumentar a
consciência de que uma modulação ocorreu e de qual é o seu tipo. Ouça os trechos listados
nos Exemplos auditivos listados a seguir sem o auxílio de uma partitura. O trecho do Concerto
de Brandemburgo n. 2 de Bach, primeiro movimento, contém uma forte CAP em Lá menor
seguido por uma mudança direta de volta para Fá maior. Aqui o Lá menor pode ser entendido
como um substituto para sua tonalidade relativa, Dó maior, que é a dominante de Fá maior.
Na primeira metade do Minueto da Sinfonia n. 101 de Haydn, a frase repetida após a
semicadência contém uma modulação para a dominante. Essa modulação é enfatizada pela
repetição de padrões melódicos que valorizam a sensívelpara a dominante G#, seguida pela
reiteração de frases cadenciais que são destacadas pela dinâmica e pela sincopa.
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“Embora qualquer interpretação possa ser discutida, a noção de uma SC [semicadência] tonicizada reflete com mais
precisão a brevidade do tempo em Sol maior e o fato de que a música volta para a tônica para iniciar a próxima frase”
(MATHES, 2007, p. 26).
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“Nas formas que utilizam repetições ou barras duplas, o design tonal em grande escala
será delineado pelas cadências e tonalidades nas extremidades das partes ou seções.
Novamente, predominam as modulações para tonalidades dominantes e relativas. Podem ser
identificados dois tipos básicos de design tonal que distinguem designs formais com base na
cadência de fechamento das seções. As formas nas quais a primeira seção começa e termina
na mesma tonalidade em uma CA [cadência autêntica] são denominadas formas tonalmente
fechadas ou formas seccionais; formas nas quais a primeira seção termina em uma
tonalidade diferente da tônica, ou que termina com semicadências, são consideradas formas
tonalmente abertas ou formas contínuas. A primeira metade do Minueto em Sol [do
Caderno para Anna Magdalena Bach], apresentada no Exemplo 2.2, termina com uma CAP na
tonalidade da tônica, sendo, portanto, tonalmente fechada. A segunda metade faz um forte
fechamento à dominante em seus primeiros 8 compassos, sendo seguida por um retorno à
tônica e por uma CAP. O design tonal de todo Minueto é, assim, tonalmente fechado, ou seja,
I-I: ||: I-V-I. Se a primeira metade do Minueto tivesse modulado ou se fosse encerrada por
uma SC à dominante (I-V: ||: V-I), o design tonal seria tonalmente aberto ou contínuo. Essas
duas categorias de movimento tonal são gerais, mas úteis para distinguir formas semelhantes”
(MATHES, 2007, p. 27).
“Em composições com atividades harmônicas e texturas mais diversas, os julgamentos
do peso relativo das cadências e do movimento tonal podem variar. Distinções entre
tonalidades de passagem e estruturais, nesses casos, são às vezes ambíguas, e a identificação
de cadências e tonalidades relevantes pode envolver considerações detalhadas do movimento
tonal. Considere a Invenção a duas vozes em Ré menor de Bach (Exemplo 2.10), um
exemplo relativamente curto, mas representativo. Nesta composição imitativa e contínua,
nenhum sinal de repetição ou quebras óbvias no movimento rítmico esclarecem imediatamente
as cadências. A atenção à atividade sequencial, ao movimento harmônico e à repetição
motívica dá pistas para o design tonal da composição. Estabelecida a abertura em Ré menor,
uma modulação para a tonalidade relativa Fá maior é efetuada por uma sequência e
confirmada por extensões, por uma nota pedal de dominante e por uma CAP nos compassos
17-18. Observe o uso de um salto de oitava, um padrão rítmico pontuado e uma antecipação
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“O design tonal desta invenção pode ser diagramado como mostrado na Figura 2.4. Os
números dos compassos indicam onde as tonalidades transitórias são estabelecidas pela
primeira vez; modulações de passagem ou tonicizações são colocadas entre parênteses. As
breves ênfases em Sol menor nos compassos 23-24 e 38-40 devem ser entendidas como
tonicizações que fazem parte do movimento tonal mais amplo em direção aos objetivos [goals]
cadenciais. Uma análise mais aprofundada dos processos temáticos e texturais, bem como dos
movimentos tonais, seria necessária para iluminar a construção/estrutura formal da
composição. O design tonal esboçado abaixo fornece uma base para isso e resume os
movimentos tonais da composição” (MATHES, 2007, p. 28).
29
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30
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Sugestões de leituras
“Ver Schmalfeldt (1992), Cadential Processes, para uma extensa discussão sobre
cadências com foco em cadências evadidas. Ver Brinkman e Marvin (1998), The Effect of
Modulation para uma discussão interessante de um estudo experimental sobre forma e
fechamento em música tonal” (MATHES, 2007, p. 30).
3. Análise do design tonal, Exercício 1 (faixas 5-6 do CD): Ouça várias vezes as obras
de Bach e Beethoven mostradas nas próximas duas páginas. Em seguida, faça o seguinte para
cada trecho sem usar as gravações:
3.1 Examine as partituras em busca de acidentes, passagens escalares e linhas de baixo
cadenciais. Nas partituras, nos compassos indicados, identifique o tipo de cadência, nomeie a
tonalidade, e forneça um algarismo romano e um baixo cifrado para cada progressão cadencial
[p.ex., Mi maior: V6-I-I64-V].
3.2 Rotule os pontos com nota pedal e considere quais elementos da música marcam as
chegadas cadenciais. Outras tonalidades são tonicizadas ou tratadas como modulações
passageiras? Quais cadências têm o maior peso e por quê?
31
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3.2.2 Beethoven, Sonata para piano, op. 2, n. 2 em Lá maior: III, Scherzo. Identifique
as cadências nos compassos 4, 8, 12 e 19. Onde ocorrem cadências após o compasso 19? O
compasso 30 é um ponto de cadência? Qual tonalidade é mais remota em relação à tônica?
Como esta tonalidade está relacionada às outras tonalidades para as quais a música modula?
Qual modulação recebe mais ênfase no segundo tempo? Por que a cadência final é
metricamente perturbadora e forte?
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4. Guia para a análise do design tonal. As perguntas a seguir servem como um guia
para a análise do design tonal nas obras citadas. As tonalidades devem ser identificadas pelo
nome e pelo modo – por exemplo, Lá menor. Em cada composição, considere as relações das
várias tonalidades com a tônica original e quais tonalidades ou cadências recebem mais peso
ou ênfase. Faça um diagrama mostrando o design tonal de cada composição. [Os estudantes
podem encontrar as partituras no site https://imslp.org/wiki/Main_Page e as gravações em um
buscador.]
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Introdução
“No capítulo anterior, uma definição de frase musical foi introduzida com base na ideia
de movimento direcionado para um fechamento cadencial. Um paradigma de proposição,
continuação e cadência serviu de base para distinguir frases musicais completas de semifrases
(segmentos de frase) que podem estar contidas em uma frase. Neste capítulo, examinaremos
modelos temáticos de estrutura frasal para esclarecer ainda mais a natureza de uma frase
musical. A discussão dará uma visão geral do design temático e do processo como um aspecto
da forma e, em seguida, abordará como os temas são gerados e organizados. Os vários
modelos e processos discutidos também serão considerados à luz de algumas distinções entre
música barroca, clássica e romântica” (MATHES, 2007, p. 36).
Design temático
“Um tema musical geralmente remete às principais linhas melódicas. O conteúdo
temático é uma característica tão saliente da música que muitas teorias da forma,
particularmente as do século XIX, veem a padronização temática como a base primária da
forma musical. A discussão no capítulo anterior reflete a visão de que o design temático é
melhor compreendido à luz do design tonal de uma peça musical. O movimento tonal em
direção às cadências, no entanto, é sustentado pela exposição e conclusão de ideias melódicas.
Assim, a interação de processos temáticos e tonais é um aspecto básico da forma musical.
Embora a manipulação de temas e seus motivos constitutivos possa ser extremamente
elaborada em alguns gêneros e estilos, podem ser identificados processos temáticos básicos
que orientam nossa percepção do design formal. Dada a exposição de uma frase melódica
inicial, as ideias subsequentes podem implicar:
§ uma repetição exata;
§ uma repetição ou elaboração variada;
§ uma ideia contrastante;
§ uma recapitulação de um tema inicial seguindo ideias contrastantes” (MATHES, 2007, p. 36).
“Considere a conhecida melodia do Exemplo 3.1. Ela contém quatro frases distintas
marcadas por começos claros e continuações de cadências. O padrão de exposição, repetição,
exposição de uma ideia contrastante e recapitulação da ideia melódica inicial, ilustrado aqui, é
evidente em um grande número de canções curtas e hinos. Por convenção, as ideias temáticas
são rotuladas com designações alfabéticas; assim, as quatro frases desta canção
compreendem um design temático que seria rotulado como AABA.1 A canção é um exemplo do
princípio formal de exposição/ contraste/ recapitulação. Nesse caso, a(s) exposição(ões)
e a recapitulação de uma frase ou frases iniciais emolduram uma frase intermediária
contrastante. Este princípio formal é básico para obras de muitos estilos e proporções. Observe
a SC no final da frase B e o retorno à harmonia tônica no ponto de recapitulação, ambos
críticos para enfatizar o retorno temático” (MATHES, 2007, p. 36-37).
“Em contraste, no Exemplo 3.2, observamos um padrão de uma exposição com quatro
compassos seguida por uma ideia melódica contrastante com quatro compassos. Tonalmente,
a primeira frase fecha em uma SC à submediante, o que cria uma expectativa de continuação
e retorno à tônica. A CAP à tônica atende a essa expectativa e fecha esse singelo hino. Nesse
caso, a forma pode ser rotulada como AB, pois as duas frases contêm diferentes padrões
melódicos e harmônicos. Este hino ilustra o princípio formal de exposição/ contraste. A
textura e os ritmos consistentes, bem como o movimento tonal contínuo, dão coerência a este
pequeno hino e unem as frases em uma única unidade” (MATHES, 2007, p. 37).
1
“Esse design comum é denominado ‘quadratura’ por conter quatro frases e será discutido mais adiante” (MATHES,
2007, p. 36).
35
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“O hino ‘Pai Eterno’ (ver Exemplo 2.9) ilustra o princípio formal de exposição/
elaboração. Cada uma das frases utiliza ritmos semelhantes e alguns padrões intervalares
recorrentes, de modo que seu design temático pode ser rotulado como A1A2A3. Por outro lado,
os padrões melódicos contrastantes e os movimentos tonais de cada frase sugerem um design
ABC. Nossa percepção e rotulagem de um design formal, portanto, pode variar de acordo com
quais elementos de uma composição consideramos ou privilegiamos em nossa análise”
(MATHES, 2007, p. 37).
“Em comparação com as divisões frasais claras dos exemplos anteriores, a Invenção a
duas vozes em Ré menor de Bach, discutida no Capítulo 2, tem um grande número de
repetições e elaborações dos motivos apresentados nos dois primeiros compassos. Frases
claramente separadas e contrastes temáticos não são evidentes. Este fato reflete uma prática
barroca de compor obras imitativas usando os motivos iniciais ao longo da peça. O design
monotemático e o movimento rítmico contínuo resultam em um exemplo de uma forma
contínua [through-composed]; o processo temático básico é o da elaboração contínua de uma
ideia musical. No entanto, as reapresentações dos dois primeiros compassos em pontos de
cadência são fortes indicadores de articulação de frase e fornecem pistas para determinar o
design formal” (MATHES, 2007, p. 38).
“Em cada um dos exemplos discutidos, o design temático e o design tonal são
coordenados e se complementam na articulação da estrutura da frase. As progressões
harmônicas e as cadências resultam em designs tonais distintos em cada obra. Essas obras
ilustram designs e processos temáticos que podem ser encontrados em composições de
pequenas e grandes proporções, podendo também se aplicar à geração de estruturas frasais
para as quais agora voltamos nossa atenção” (MATHES, 2007, p. 38).
36
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“Após a repetição de toda a melodia nos compassos 14-19, essa ideia de dois
compassos forma uma sequência, uma repetição [ou várias repetições] de um motivo ou
ideia melódica em diferentes níveis de altura. Essa repetição sequencial contém uma inversão
melódica ou inversão em espelho [melodic or mirror inversion], uma reversão no contorno
das duas primeiras alturas do motivo y. Sequência, ornamentação, inversão e fragmentação
são técnicas comuns de variação motívica. A diminuição e a aumentação estrita de um motivo,
em que os valores das notas são uniformemente reduzidos ou expandidos, e retrogradados –
em que os padrões de altura são dados na ordem inversa – também são encontrados. Essas
técnicas serão abordadas nos próximos capítulos” (MATHES, 2007, p. 39).
“Embora muitos temas tenham ideias motívicas únicas e distintas, padrões
convencionais ou figuras como escalas, arpejos e notas repetidas podem ter a função de
motivos. No entanto, o termo figura geralmente é usado para se referir a padrões
convencionais que são repetidos ao longo de uma passagem ou composição, mas não são
considerados motivos. Na maioria das vezes, as figuras são padrões de acompanhamento,
como os encontrados no Exemplo 3.8. Por outro lado, os motivos não são apenas repetidos,
mas também sujeitos a variação ou desenvolvimento conforme descrito acima. Assim, a
repetição e o desenvolvimento são características definidoras de um motivo” (MATHES, 2007,
p. 39).
37
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2
“Conforme observado acima, o termo diminuição também pode se referir à redução uniforme dos valores das notas
para comprimir um motivo de modo que sua dimensão seja encurtada. A alteração oposta, denominada aumentação,
expande a dimensão do motivo. Em nenhum dos casos são adicionadas alturas. Essas técnicas são abordadas mais
adiante nos Capítulos 11 e 12” (MATHES, 2007, p. 39).
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“Nota analítica: Os números colocados dentro dos compassos nestes e nos exemplos
subsequentes são usados para denotar a dimensão das frases; os números dos compassos
reais serão colocados acima da música. Os colchetes mostram o agrupamento dos segmentos
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Sentenças
“Um modelo comum de estrutura frasal é a sentença4. Uma sentença é uma frase
composta por uma exposição, uma repetição e uma continuação que conduz a uma cadência.
As três partes de uma sentença estão normalmente dispostas em proporções de 1:1:2 ou seus
múltiplos. Essas proporções também são uma característica definidora de uma sentença”
(MATHES, 2007, p. 42).
“O Exemplo 3.8 fornece várias frases que ilustram estruturas de sentenças. Embora
com métricas e estilos diferentes, cada um desses temas possui uma estrutura de
agrupamento semelhante baseada nas proporções de 2:2:4. A exposição/repetição
compreende a primeira metade de uma sentença. Ouvimos uma ideia melódica inicial de dois
compassos seguida de uma repetição da ideia. A repetição pode ser: 1) uma repetição exata,
como no excerto de Verdi, ou uma repetição variada como no Beethoven; 2) uma repetição-
resposta, como no trecho de Chopin, em que uma repetição transposta ou repetição variada
da primeira ideia de dois compassos ocorre com uma mudança na harmonia; e 3) uma
repetição sequencial. A estrutura harmônica pode variar na primeira metade de uma
sentença, embora as progressões I/V ou I-V/V-I normalmente moldem o movimento tonal. O
Exemplo 3.8a também ilustra o uso de um complemento melódico, no qual a inversão da
linha melódica varia a repetição — nesse caso, uma repetição variada descendente segue uma
3
“Resumos de diferentes tipos de sequências podem ser encontrados na maioria dos textos de harmonia e
contraponto. Veja, por exemplo, Harmony and Voice Leading, de Aldwell e Schachter (1994), 3a edição” (MATHES,
2007, p. 42).
4
“O compositor Arnold Schoenberg, interessado em como os processos motívicos moldavam temas completos,
desenvolveu o conceito de sentença. Ver Fundamentals of Musical Composition, de Schoenberg (1967, p. 20-63), para
uma discussão sobre a construção/estrutura de sentenças e períodos. Frases e períodos musicais às vezes são
comparados a sentenças na linguagem, um uso mais geral do termo do que o empregado aqui” (MATHES, 2007, p.
42).
40
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instrução ascendente inicial. Contorno e ritmo são as características mais salientes mantidas
em complementos melódicos, que podem ser encontrados em muitos tipos temáticos5.
Observe na Mazurka de Chopin (Exemplo 3.8b) como uma repetição de dois compassos nos
compassos 1-4 é agrupada como uma unidade com quatro compassos pelo movimento
harmônico contínuo sobre a nota pedal de tônica, embora a melodia contenha uma sequência
melódica que delineia segmentos de dois compassos” (MATHES, 2007, p. 42, grifos do autor).
5
“Ver Style and Music, de Meyer (1989), para uma discussão da construção/estrutura melódica complementar”
(MATHES, 2007, p. 42).
41
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42
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“O Exemplo 3.9d mostra outro modelo para uma estrutura frasal periódica, na qual uma
ideia contrastante é dada no compasso 2 e continua no compasso 3, dando a sensação de uma
frase contínua com quatro compassos. Ritmicamente, a frase se divide em 1+2+1, embora a
harmonia tônica prolongada dos três primeiros compassos oculte essa segmentação. Este
exemplo também ilustra uma frase antecedente que termina com um CAI em vez de um SC”
(MATHES, 2007, p. 44).
“Os Exemplos 3.9a-d são períodos paralelos porque a frase consequente inicialmente
soa como uma recapitulação do antecedente. A repetição após a cadência fraca da frase
antecedente tem o efeito de ‘começar de novo’ ou de ‘recomeçar’ após uma interrupção ou
pausa. Quando a frase consequente assume a forma de uma continuação contrastante, em vez
de uma recapitulação, o resultado é um período contrastante. O Exemplo 3.2 acima é um
bom exemplo de um período contrastante com oito compassos. No Exemplo 3.9e, a frase
consequente contém processos associados à continuação: uma ideia melódica contrastante
começa sobre um acorde 42 harmonicamente instável. Nesse período contrastante,
particularmente, o consequente inicialmente fecha com uma CAI, o que permite uma repetição
do consequente para chegar a uma CAP mais conclusiva. O resultado é um período assimétrico
de três frases. Por fim, não são incomuns os períodos modulantes, definidos como aqueles em
que a frase consequente fecha em uma CAP ou SC em uma nova tonalidade. Como mostra o
Exemplo 3.9a, em tonalidades maiores, a modulação geralmente assume a forma de um
movimento para a dominante, e em tonalidades menores pode seguir para a relativa maior6”
(MATHES, 2007, p. 44-45).
“Nota analítica: A simetria, quando usada com referência a frases musicais, é
diferenciada de maneiras distintas. Pode-se aplicar a uma única frase ou a um grupo de frases.
Uma frase pode ser simétrica e suas semifrases (segmentos de frase) forem de dimensão igual
ou múltipla, ou sua dimensão é um número par. Um grupo de frases ou período é simétrico se
contiver um número par de frases de mesma dimensão. Por outro lado, uma frase pode ser
assimétrica se tiver um número ímpar de compassos; um período ou grupo de frases é
assimétrico se tiver um número ímpar de frases ou se as frases tiverem dimensões desiguais.
Outras distinções são possíveis” (MATHES, 2007, p. 45).
6
“Indiscutivelmente, o Exemplo 3.9 termina com uma SCT, embora a forte progressão cadencial dê o efeito de uma
modulação” (MATHES, 2007, p. 45).
43
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“Mais comuns do que os períodos duplos com dezesseis compassos são as combinações
de frases de 16 compassos que compreendem estruturas de sentenças ou períodos, ou uma
combinação de ambos. A estrutura da sentença com oito compassos que abre a Mazurka de
Chopin mostrada no Exemplo 3.8b é seguida por uma recapitulação da frase que conclui com
uma CAP. As duas estruturas de sentença com oito compassos completam um período paralelo
com dezesseis compassos. Da mesma forma, o Exemplo 3.8c é uma sentença com oito
compassos que forma a primeira metade de um período paralelo” (MATHES, 2007, p. 48).
“Em contraste, o Exemplo 3.11 ilustra uma sentença com dezesseis compassos que
modula para a dominante. Aqui, os oito primeiros compassos podem ser entendidos como uma
exposição com quatro compassos e uma repetição de resposta com quatro compassos, e os
oito compassos seguintes como uma continuação, formando uma sentença com dezesseis
compassos com proporções 4:4:8. Usar duas ideias na primeira exposição com quatro
compassos e na resposta subsequente expande a estrutura da sentença. Consequentemente, é
totalmente plausível ouvir os oito primeiros compassos como um período paralelo, com a
repetição de exposição/ resposta formando uma relação antecedente/ consequente. Além
disso, a continuação com oito compassos do Exemplo 3.11 também é uma estrutura de
sentença embutida na sentença maior com dezesseis compassos. Como este exemplo ilustra,
as metades de uma estrutura de sentença podem ter atividade harmônica suficiente para
serem entendidas como frases completas7. Veja também, por exemplo, os compassos 1-4 do
Exemplo 3.8” (MATHES, 2007, p. 48, grifos do autor).
7
“Em Classical Form, Caplin (1998, p. 61) refere-se ao uso de ideias contrastantes de dois compassos na primeira
metade de uma sentença como uma ‘ideia básica composta’. Em sua opinião, ao contrário da interpretação acima,
uma ideia básica composta carece de atividade harmônica suficiente para constituir uma frase antecedente. Para
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“Nota analítica: O exemplo anterior, assim como em outros abaixo citados, levanta-se a
questão do que constitui uma frase e quando a conclusão de uma ideia temática é indicativa
de uma cadência. Uma frase sempre termina com uma cadência? Quanto tempo uma frase
pode durar? Como foi discutido no Capítulo 2, qualquer segmento discreto de música, desde
um motivo até uma grande seção musical, pode ser considerado uma frase no sentido de ter
uma forma distinta e um início e um fim claros. A visão defendida aqui é que, se quisermos
distinguir essas grandes e pequenas classes de eventos musicais, não devemos usar o termo
frase em níveis diferentes. Assim, as distinções entre semifrases e frases foram introduzidas
com base na noção tradicional de chegada cadencial como marca que registra a conclusão da
frase. Como frequentemente se observa, músicas interessantes ou complexas podem conter
ambiguidades que permitem múltiplas interpretações. A ênfase na análise da estrutura das
frases deve estar nos processos, funções e agrupamentos dos segmentos” (MATHES,
2007, p. 49, grifos nossos).
Repetição de frase
“As frases também podem ser agrupadas com base na repetição simples. Os Exemplos
3.12a e 3.12b mostram pares de frases em que a segunda frase é apenas uma repetição da
primeira, com cadências idênticas no final de cada frase. Tais repetições, sejam elas
terminadas em semicadências ou em cadências autênticas, geram uma expectativa de
continuação e/ou contraste. No exemplo com o Concerto de Vivaldi, a extensão irregular das
frases e o ‘efeito de eco’ são típicos de boa parte da música barroca, e as repetições de
motivos diatônicos simples em texturas homofônicas são características italianizadas. No
trecho do Quarteto de cordas de Beethoven, op. 131, a repetição variada do antecedente
(mostrado) e das frases consequentes resulta na expansão de um período com dezesseis
compassos em uma forma de duas partes de trinta e dois compassos. De maneira semelhante,
exemplos semelhantes ao Exemplo 3.11, consulte Mozart, Concerto para piano em Sol maior, K. 453, I, comp. 1-16,
e Beethoven, Concertos para piano n. 1-3, temas de abertura” (MATHES, 2007, p. 48).
8
“Pode-se ouvir os primeiros 8 compassos do Exemplo 3.5 como duas frases, portanto isso pode ser considerado um
período duplo. Entretanto, os primeiros quatro compassos terminam com a progressão IV-I, que pode ser entendida
como um movimento maior para a dominante na semicadência no compasso 8” (MATHES, 2007, p. 48).
46
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um período inteiro pode ser repetido e variado após a repetição. Um período repetido, ou com
frases repetidas em cada metade, não deve ser confundido com o período duplo descrito
acima, no qual o antecedente e o consequente são compostos cada um por duas frases
diferentes” (MATHES, 2007, p. 49).
47
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claramente articuladas. Por outro lado, muita música barroca é caracterizada pelo movimento
rítmico contínuo e pelo uso de padrões motívicos relacionados à geração de linhas melódicas.
Esses aspectos ‘motores rítmicos’ e ‘monotemáticos’ comumente observados no estilo barroco
refletem uma estética na qual a continuidade do movimento e o efeito expressivo são
valorizados ou procurados. Como resultado, as frases barrocas costumam usar um tipo de
tema descrito como fortspinnung9 ou ‘que se mantém em circulação’. Embora esse termo
seja frequentemente associado ao uso de sequências, também implica processos mais gerais
de exposição e repetições variadas de motivos. Nesse tipo de fortspinnung, as frases curtas
muitas vezes ocorrem uma após a outra até que uma cadência decisiva seja alcançada. Um
bom exemplo desse processo é o início da abertura de O Messias de Haendel (Exemplo 3.13)”
(MATHES, 2007, p. 49-51).
“No Exemplo 3.13, o uso continuado do padrão rítmico pontuado, característico da
abertura francesa, dá a impressão de frases curtas sobrepostas ou contínuas que conduzem a
uma cadência decisiva no compasso 12. Dado o ritmo motívico repetitivo, o movimento
harmônico e linear e as mudanças na duração da linha do baixo ou da melodia são muito
importantes para delinear a estrutura da frase. Tríades em posição fundamental, linhas
melódicas com movimentos descendentes, e movimentos de linha de baixo 5-1 nos compassos
4 e 6 dão breves impressões de chegada cadencial, particularmente no compasso 6, onde a
duração da mínima e a linha melódica descendente para Fá# enfatizam uma tonicização em Ré
maior. O movimento rítmico nas vozes internas compensa a mudança para uma mínima na
linha melódica, no compasso 8, que marca uma chegada à dominante. Um forte senso de
impulso para a cadência é flagrante nos compassos 9-10, pela presença do trinado e de
padrões rítmicos em movimento contrário, mas a CAI e a continuação do padrão rítmico
pontuado, como no compasso 8, impulsionam a música para adiante. O sentido mais forte e
claro de chegada cadencial, no entanto, ocorre nos compassos 11-12, marcados por: 1) a
reiterada nota do baixo Dó no compasso 11, que resolve para o dominante; 2) a antecipação
da resolução ao V; e 3) um acorde de dominante sustentado nas vozes superiores, no
compasso 12. Essa semicadência frígia é conectada ao próximo compasso pelo movimento
rítmico após o ponto de cadência” (MATHES, 2007, p. 51).
“A distinção entre frase e semifrase e os limites de agrupamentos do Exemplo 3.13 são
menos óbvios do que em muitos dos exemplos apresentados anteriormente. Cada ponto de
chegada citado pode ser ouvido como uma continuação ou uma sobreposição que se agrupa
com o próximo segmento. Assim, os compassos 1-6 podem ser agrupadas e analisadas como
um agrupamento 3+3 com sobreposição no compasso 4; os compassos 1-10 podem ser
agrupados com base no movimento tonal para longe e de volta à tônica, com os compassos
10-12 servindo como uma extensão. Na performance, tais passagens requerem uma
consideração cuidadosa da dinâmica e do ritmo, que afetam nossa percepção de unidades
pequenas e grandes. Por mais que se agrupe esses segmentos, eles podem ser entendidos
como pequenas frases que se agrupam em uma unidade completa de 12 compassos. Uma
série de frases que se agrupam com base na continuação e/ou conexões motívicas sem as
relações cadenciais de um período [ou sentença] são denominadas grupo de frases. Em um
grupo de frases, conforme ilustrado no Exemplo 3.13, as cadências podem variar quanto à
força e ao peso; uma cadência conclusiva final marca o fim do grupo” (MATHES, 2007, p. 51).
9
“Este termo é atribuído ao musicólogo alemão Wilheim Fischer. Ver Phrase Rhythm, de Rothstein (1989, p. 127)”
(MATHES, 2007, p. 50).
48
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10
“Robert Gauldin (1988, p. 27) refere-se a esses tipos de melodias como ‘autogerativas’, em A Practical Approach to
18th-Century Counterpoint” (MATHES, 2007, p. 52).
11
“Embora o uso de ritornello seja geralmente associado a formas de concerto, historicamente suas origens estão na
música vocal barroca em que um ritornello (termo italiano para ‘refrão’) de música instrumental marcava as seções de
um movimento e as entradas vocais. Exemplos são abordados no Capítulo 13” (MATHES, 2007, p. 52).
49
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“Esse modelo de ritornello descrito acima pode ser entendido como uma estrutura de
sentença. A repetição sequencial de motivos curtos e a sobreposição de semifrases de
dimensões desiguais são características distintivas. Na prática, os processos descritos acima
podem ser combinados, omitidos, expandidos e compactados de maneira flexível. A duração
das apresentações e sequências de abertura irá variar, assim como a colocação das cadências
no interior de um ritornello. Consequentemente, o uso de frases assimétricas se iguala, ou é
mais proeminente, do que o das estruturas frasais de quatro a oito compassos associadas a
sentenças e períodos. Às vezes, um ritornello é baseado meramente em repetições sequenciais
seguidas de cadência como no Exemplo 3.14, enquanto ocasionalmente ritornellos podem
omitir sequências. Normalmente, porém, uma estrutura de frase ritornello em sua forma
completa contém todos os processos descritos abaixo. As formas ritornello serão discutidas
mais adiante, nos Capítulos 9 e 13” (MATHES, 2007, p. 53, grifos do autor).
“O início de ‘For Unto Us a Child is Born’, peça n. 12 de O Messias de Haendel, Exemplo
3.15a [faixa 22 do CD] constitui um exemplo claro de uma estrutura de frase ritornello.
Observe que os compassos 1-2 trazem uma exposição/ imitação em vez de uma exposição /
repetição. A imitação ocorre quando uma repetição acontece em uma voz diferente em uma
tonalidade diferente, um processo comum nas estruturas de frase barrocas. A abertura da
Invenção a duas vozes em Ré menor de Bach oferece outro exemplo de imitação usada como
parte de um ritornello expandido (ver Exercício 2.11, Capítulo 2). Os seis primeiros
compassos fornecem três apresentações do motivo escalar baseadas em um movimento
harmônico V(vii), uma estrutura de frase baseada em uma textura [polifônica] imitativa. Os
próximos oito compassos compreendem duas sequências que efetuam uma modulação na
tonalidade relativa de Fá maior, seguida por uma extensão e progressão cadencial nos
compassos 15-18” (MATHES, 2007, p. 53).
“O ritornello de abertura do Concerto de Brandemburgo n. 5 de Bach mostra uma
disposição mais flexível de sequências e cadências. Após as apresentações iniciais de dois
compassos, uma sequência harmônica descendente nos compassos 3-4 conduz a uma
progressão cadencial no compasso 5. Uma cadência de engano no ponto médio do compasso 5
permite a Bach reiterar a sequência de forma variada e conduzir a uma cadência evadida no
ponto médio do compasso 7. Aqui, uma nova figura conduz à forte progressão cadencial nos
compassos 8-9, enfatizada pelo movimento da linha de baixo da oitava e padrões rítmicos
pontuados. Este exemplo ilustra a flexibilidade do modelo ritornello, particularmente nas mãos
de Bach. Tal flexibilidade é tipicamente explorada em recorrências de ritornellos, nas quais
semifrases podem ser omitidas e apresentadas de forma variada. Os processos e funções dos
modelos ritornello ilustrados nestes exemplos representam princípios formais que são
característicos de muita música barroca” (MATHES, 2007, p. 53).
12
“Fischer rotula esses processos como Vordersatz-Fortspinnung-Epilog. Ver J.S. Bach's Concerto Ritornellos and the
Question of Invention, de Lawrence Dreyfus (1985, p. 327-358)” (MATHES, 2007, p. 52).
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Resumo
“Um tema é uma ideia musical independente da extensão de uma ou mais frases. Os
processos temáticos de exposição/ contraste/ recapitulação e exposição/ elaboração são
princípios básicos do design formal. Por convenção, os temas são rotulados com designações
alfabéticas. Os temas podem ser entendidos em termos de processos que geram frases e
definem funções internas. As frases podem ser iniciadas por 1) exposição/ imitação por
repetição; 2) exposição/ resposta por repetição; 3) exposição/ contraste; ou 4) exposição/
repetição sequencial. As frases são completadas pela continuação em direção à cadência. A
continuação é caracterizada pelo afastamento das harmonias tônicas, um ritmo harmônico
mais rápido, uso de sequência ou fragmentação de ideias anteriores e uma sensação de
movimento em direção à cadência. Várias combinações desses processos caracterizam
modelos frequentemente encontrados de estrutura de frases, incluindo sentenças, períodos e
tipos de fortspinnung [tema que se que se mantém em circulação]” (MATHES, 2007, p. 54).
“Uma estrutura de sentença é composta por três segmentos: exposição/ repetição/
continuação. As sentenças normalmente exibem uma segmentação de 2+2+4 ou proporções
comparáveis em frases menores (1+1+2) ou maiores (4+4+8). A sentença é frequentemente
ouvida como uma única frase, particularmente em pequenas frases de 1+1+2. Em sentenças
com oito compassos e especialmente com dezesseis compassos, cada metade pode ser
entendida como uma frase completa se for ouvida atividade harmônica suficiente. Um período
normalmente é composto por duas frases denominadas frases antecedente e consequente. O
consequente terá uma cadência mais conclusiva do que a frase antecedente e pode conter
ideias temáticas paralelas ou contrastantes em relação ao antecedente. As sentenças
constituem uma forma de construir uma frase e, como tal, podem ser usadas na construção/
estrutura das frases de um período. Períodos e sentenças podem modular e ser repetidos. Os
períodos duplos consistem em duas frases diferentes no antecedente e no consequente. Eles
não são comuns” (MATHES, 2007, p. 54-55).
“Frases repetidas implicam repetição ou repetição variada de uma frase com ambas as
cadências sendo idênticas. Grupos de frases são seções de música nas quais uma série de
frases se agrupa com base no conteúdo motívico ou temático e no movimento tonal. Uma CA
decisiva normalmente marca o fim do grupo. Eles são típicos de muita música barroca baseada
na repetição variada e na elaboração de motivos de abertura. Em relação às distinções entre
os modelos de sentenca, período e ritornello da estrutura da frase, o resumo mostrado na
Figura 3.2 pode ser útil” (MATHES, 2007, p. 55).
51
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Conclusões
“A discussão de processos temáticos e modelos de estrutura frasal apresentada aqui não
é, de forma alguma, exaustiva. Muitos tipos híbridos podem ser encontrados, pois os
compositores são infinitamente criativos ao moldar seu material de novas maneiras, utilizando
os processos e funções em uma variedade de combinações. Os compositores do final do século
XIX e do século XX exploraram novas formas de gerar frases, que serão discutidas em
capítulos posteriores. No entanto, os processos descritos podem ser aplicados a uma ampla
gama de obras musicais e fornecem recursos conceituais para analisar e interpretar a
estrutura da frase. A análise de frases deve se concentrar na maneira como processos
específicos são usados para moldar as ideias musicais e estruturas de frase, em vez de mera
rotulação de funções. A identificação e segmentação de frases muitas vezes está sujeita a
diferentes interpretações, principalmente em obras musicais mais complexas. Em muitos
casos, o que constitui uma frase está sujeito a diversas interpretações, como na sentença com
dezesseis compassos citada no Exemplo 3.11 ou na lenta introdução da Abertura do O
Messias de Haendel. Quando estudamos, executamos e ouvimos música, devemos estar
abertos a ambiguidades e interpretações diversas, buscando consistência em nossa abordagem
de análise. É justamente a possibilidade de múltiplos olhares que enriquece nosso estudo da
música” (MATHES, 2007, p. 55-56).
Sugestões de leituras
“Além dos estudos de Schoenberg, Meyer e Dreyfus citados nas notas de rodapé, as
seguintes leituras são recomendadas: Rudolph Reti (1978), Thematic Process, é um relato bem
conhecido, embora frequentemente criticado, de temas e motivos como elementos de unidade
formal. Para uma discussão mais recente sobre frase e motivo, veja William Rothstein (1989,
p. 16-32), Phrase Rhythm. Charles Rosen (1988, p. 170-201) apresenta uma discussão sobre
os motivos e suas funções nas formas clássicas em Sonata Forms, 2nd. ed. Para uma visão
cuidadosa sobre as limitações da análise motívica, veja Leonard Meyer (1991), ‘A Pride of
Prejudices’. Para uma introdução ao motivo e aos níveis de estrutura, ver John Rothgeb
(1983), ‘Thematic Content, A Schenkerian View’ e Charles Burkhart (1978), ‘Schenker's Motivic
Parallelisms’. Finalmente, Jonathan Dunsby fornece uma visão geral histórica da análise
temática e motívica em Christiansen (2002), The Cambridge History of Music Theory”
(MATHES, 2007, p. 56).
52
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2.1 Swing Low, Sweet Chariot: período paralelo com métrica 4/4, sem modulação.
Antecedente Consequente
2 + 2 (SC) 2 + 2 (CAP)
exposição contraste e repetição resposta
cadência
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4.2 Faça um diagrama da estrutura frasal do trecho a seguir. Seu diagrama deve incluir a
dimensão de segmentos de frase, processos que são evidentes e cadências. Você pode querer
copiar o trecho e apresentar sua análise como anotações na partitura.
Exercise 4.2 Amy Beach, Scottish Legend for piano, comp. 1-8.
Burkhart Anthology
- Bach, Prelúdio em Dó maior
- Haydn, Sinfonia n. 101, III
- Mozart, Concerto para clarinete em Lá maior, K. 622, I, comp. 1-16
- Beethoven, Sonata para piano op. 7, II, comp. 1-8
- Beethoven, Sonata para piano op. 10, n. 1, II, comp. 1-8
- Beethoven, Sonata para piano op. 13, II, comp. 1-8
- Petzold (atribuído), Notenbuch der Anna Magdalena Bach, Marcha e Minueto, seções iniciais.
- Schubert, Improviso em Láb maior, comp. 1-16
- Schubert, Erlkönig, comp. 58-65
- Chopin, Prelúdio em Mi maior, inteiro
- Brahms, Intermezzo em Lá maior, comp. 1-32
Antologia Kostka/Gravbill
- Bach, French Suite n. 5, Gavotte, comp. 1-8, 9-16
- Mozart, Sonata para piano em Lá menor, K. 319, I, comp. 1-8
- Haydn, Sinfonia n. 100, comp. 24-39
- Beethoven, Bagatelle, op. 119, n. 1, comp. 17-24
- Schubert, Auf dem Flusse, comp. 5-12
- Schubert, Moment Musicaux, op. 94, n. 6, comp. 1-16, 78-85
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Introdução
“As discussões sobre frases musicais até agora focaram a segmentação de frases e a
estrutura por agrupamentos, e em alguns modelos básicos de estrutura de frases temáticas.
Neste capítulo, expandimos nossa compreensão das frases musicais considerando o ritmo e a
forma da frase. Este capítulo servirá como uma introdução a alguns conceitos básicos que são
relevantes para a análise da estrutura frasal” (MATHES, 2007, p. 59).
“De um modo geral, o ritmo da frase refere-se à sensação de movimento dentro das
frases e de uma frase para a seguinte. Resulta da dimensão e da estrutura de agrupamento de
uma frase, da função dos vários segmentos de uma frase, e do padrão e posicionamento dos
acentos métricos na frase. Esses elementos geram coletivamente uma hierarquia de
acentuações que é um aspecto fundamental do ritmo da frase. Duração ou dimensão, que é
contada pelo número de compassos, e estrutura de agrupamento foram discutidos com
referência a modelos temáticos de estrutura frasal. Neste capítulo, abordaremos três aspectos
adicionais da estrutura frasal que afetam a estrutura de agrupamento e a acentuação dos
compassos: conexões, expansões e contrações das frases. A discussão desses aspectos
nos levará a considerar a organização das frases em termos de acento e métrica de grande
escala, ou hipermétrica. Uma compreensão do ritmo da frase fornece recursos adicionais para
a análise de estruturas de frase mais complexas e sutis” (MATHES, 2007, p. 59, grifo nosso).
Separação e conexão de frases
“Um aspecto importante da continuidade das frases e da sensação de movimento na
música é como e quando as frases são separadas ou conectadas. As pausas geralmente
separam frases, como na abertura do último movimento da Sinfonia n. 40 de Mozart (Capítulo
3, Exercícios, Faixa 13 do CD). Em outros casos, as frases podem não ser separadas
ritmicamente, mas uma respiração ou separação está implícita. No final da primeira frase da
Mazurka de Chopin, mostrada no Exemplo 4.1, a chegada cadencial no compasso 8 é
marcada por uma apojatura na linha melódica e ornamentos cromáticos (bordaduras) no
acompanhamento. Essas notas não pertencentes aos acordes servem para atrasar a resolução
pela tríade tônica até o terceiro tempo. O tempo 3 tem, portanto, um ataque após o tempo
métrico [afterbeat], em vez de consistir em um movimento de levare [upbeat, pick-up, porção
suspensa do tempo métrico] que conduz para a próxima frase. Há, no entanto, uma quebra ou
respiração implícita entre as duas frases, resultante da chegada da tônica e sua colocação no
final de uma unidade com quatro compassos típica da musica de dança. Essa quebra é
suportada pelas ligaduras, bem como pela resolução descrita. Como este exemplo ilustra, os
ataques após o tempo métrico [pós-tempos, afterbeats] são continuações rítmicas em um
ponto da cadência que elabora e agrupa com a harmonia cadencial” (MATHES, 2007, p. 59).
“Novas frases também podem começar após o ponto de chegada cadencial com um
levare ou anacruse ao primeiro tempo do compasso completo da frase. O termo levare
[upbeat] refere-se a alturas em tempos fracos que se agrupam com um tempo forte
subsequente; um levare que inicia uma nova frase é denominado anacruse1. Após um ponto
de cadência, uma anacruse se agrupará com a próxima frase, conduzindo ao primeiro tempo
forte dessa frase. Essa situação, comum, é ouvida na abertura de As quatro estações de
Vivaldi (Exemplo 3.12a [faixa 11 do CD]). Neste exemplo, a frase começa com um levare,
que estabelece a estrutura de agrupamento indicada. No compasso 3, as colcheias que
delineiam a tríade de dominante nos tempos 3 e 4 são pós-tempos [afterbeats], enquanto a
colcheia final, Mi4, é uma anacruse para o compasso 4. Uma anacruse após uma cadência é
normalmente marcada como tal por uma mudança de harmonia, conforme ilustrado neste
exemplo. A chegada cadencial e a mudança na harmonia implicam uma ligeira pausa ou
respiração antes da anacruse. Em cada um desses exemplos há uma separação entre as
frases” (MATHES, 2007, p. 59-60).
1
“O termo ‘anacruse’ foi originalmente usado para se referir a uma sílaba átona que inicia uma linha de verso”
(MATHES, 2007, p. 59).
55
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“Frequentemente, as frases são conectadas umas às outras para dar uma sensação
mais intensa de continuidade de movimento. A razão e o efeito de tais escolhas irão
naturalmente variar de acordo com o estilo da obra musical e o contexto das frases. As frases
geralmente são conectadas de uma das quatro maneiras básicas: 1) elisão; 2) conectivos
melódicos ou de linha de baixo; 3) continuação do acompanhamento; e 4) sobreposição de
linhas. A elisão ocorre quando o final de uma frase é o início da próxima frase e é uma
maneira forte de afetar a continuidade do movimento, pois uma frase conduz diretamente a
outra. Este tipo de conexão normalmente coincidirá com um tempo forte, geralmente a cabeça
do tempo. A Invenção a duas vozes em Ré menor de Bach traz um exemplo claro disso no
compasso 18 (ver Exemplo 2.10, compassos 17-18). O ponto de cadência em Fá maior
também é o início de uma recapitulação do tema principal ou sujeito, criando uma elisão das
duas frases. Outras ocorrências podem ser observadas no Exemplo 3.15 (‘For Unto Us...’,
Faixa 22 do CD), onde a primeira frase elide com a segunda frase no compasso 7, e no
Exemplo 4.2, no qual duas frases elidem no compasso 9” (MATHES, 2007, p. 60).
“É tentador considerar que duas frases elididas compartilham um compasso em comum.
No entanto, o ponto de cadência no tempo forte é a única parte do compasso elidido que
pertence à primeira frase. Inversamente, todo o compasso elidido é compreendido e sentido
como parte da nova frase. No Exemplo 4.2, então, o compasso 9 é o ponto de elisão, mas a
primeira frase não tem nove compassos; em vez disso, a primeira frase (com oito compassos)
é elidida para o compasso 9. Essa perspectiva fornece uma contagem mais precisa da
dimensão da frase. Em geral, a dimensão da frase deve ser indicada pelo número de
compassos completos” (MATHES, 2007, p. 60).
56
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textura está envolvido. Conectivos melódicos são continuações de uma linha melódica após
um ponto de cadência e ocorrem dentro do compasso cadencial. Eles podem ser entendidos
como tempo prolongado ou tempo posterior, que conectam o final de uma frase com o início
da próxima frase. O conectivo geralmente ocorrerá quando outras vozes forem eliminadas,
como no Exemplo 4.2. As colcheias da mão direita no compasso 16, uma ornamentação da
tríade de tônica cadencial, continuam como um conectivo para a próxima frase enquanto a
parte inferior é interrompida. A frase inicial da abertura Celeste Aida, da ópera Aida de Verdi,
Exemplo 4.11, termina com uma figura descendente e brilhante em Ré-Lá-Ré nas cordas
agudas, que delicadamente conduz de volta à tonalidade de Sib maior para iniciar a próxima
frase. Os conectivos também podem ocorrer na linha do baixo, como [no início da Abertura da
suíte Quebra-nozes] de Tchaikovsky mostrado no Exemplo 3.9b. O ponto de cadência está no
segundo tempo do compasso 8; enquanto a voz superior descansa, a linha do baixo continua
como um conectivo para a repetição do período. Ambos os tipos de elos podem ocorrer
simultaneamente como no compasso 12 (primeira terminação) da Sinfonia de O Messias, [de
Haendel]. (Ver Exemplo 3.13 e Exemplo 3.5, comp. 8.)” (MATHES, 2007, p. 60-61).
“Relacionada aos conectivos da linha de baixo está uma figura de acompanhamento que
continua em duas frases, ligando-as. A frase de abertura do Minueto da Sinfonia n. 41 de
Mozart (ver Exemplo 3.11) é um bom exemplo dessa técnica. Observe como as frases
melódicas com quatro compassos são separadas por pausas, mas são apoiadas por uma figura
de acompanhamento no violino II que soa como colcheias contínuas nas duas frases e na
próxima continuação. Veja também o Exemplo 4.3, no qual o acompanhamento orquestral
continua ao longo das entradas vocais” (MATHES, 2007, p. 61).
57
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imitativas, como mostrado no Exemplo 4.3. Neste famoso refrão do oratório Elias, [de
Mendelssohn,] as várias linhas vocais entram cada uma em momentos diferentes e
subsequentemente cadenciam em pontos diferentes, efetuando uma sobreposição de frases
vocais. Observe novamente como o acompanhamento contínuo conecta ou une as frases
sobrepostas” (MATHES, 2007, p. 61).
Expansões de frase
“A ideia de que as frases podem ser expandidas baseia-se na percepção de que
algumas partes de uma determinada frase são adições a segmentos mais básicos ou essenciais
da frase. Abordamos esse ponto na discussão anterior sobre conexões frasais, que podem ser
entendidas como elaborações no interior de uma frase básica. Uma expansão de frase refere-
se à adição de um ou mais compassos a uma frase básica. As expansões podem ocorrer no
início, no final ou ao longo de uma frase, e são rotuladas como introduções, extensões ou
interpolações, respectivamente. As expansões de frase são entendidas como tal se puderem
ser omitidas da música sem interromper o sentido de uma frase musical completa. Como os
exemplos abaixo abordarão, isso geralmente é uma questão de interpretação” (MATHES, 2007,
p. 62, negritos nossos e itálicos do autor).
“Uma analogia com a linguagem pode ajudar a esclarecer esse aspecto. Considere a
seguinte frase, que contém sujeito, verbo e objeto: ‘eu passeei com meu cachorro’. O
significado básico desta frase pode ser elaborado de várias maneiras, por exemplo: ‘eu passeei
com meu cachorro brincalhão’ ou ‘eu passeei com meu cachorro brincalhão de manhã’ ou ‘eu
passeei com meu cachorro brincalhão de manhã, antes do café’. O significado original da frase
não é alterado por essas adições, que expandem o fato e mudam o fluxo e a dimensão da
frase. As expansões de frases [musicais] também alteram o fluxo e a dimensão de uma frase”
(MATHES, 2007, p. 62).
“As introduções de frase assumem três formas comuns: 1) figuras de
acompanhamento que iniciam uma frase e conduzem à entrada da linha melódica da frase; 2)
antecipações motívicas; e 3) levares alongados [elongated upbeat]. As introduções pelo
acompanhamento [accompaniment lead-ins], que iniciam uma frase antes da entrada da
linha melódica, são frequentemente usadas para iniciar composições ou seções de uma obra.
Sua função é estabelecer a tonalidade e o movimento rítmico da música antes da entrada de
uma linha melódica. Essa função é particularmente importante na música vocal, fornecendo
aos cantores pistas tonais, e é um dispositivo favorecido por compositores do final do século
XVIII e início do século XIX. O Exemplo 4.4 [faixa 24 do CD] fornece três excertos. O
exemplo [com o início da Sinfonia n. 40, I] de Mozart começa com figuras inquietas de
acompanhamento, enquanto os exemplos [com a Sinfonia n. 8] de Schubert e [o Prelúdio de
La Traviata] de Verdi ilustram o uso das figuras junto-após os tempos do compasso
[downbeat-afterbeat], ou ‘oom-pah’, ouvidas em muitas danças do século XIX. Embora os
acompanhamentos soem como tempos fortes iniciais das frases, essas figuras podem ser
omitidas sem afetar a estrutura da frase melódica, que normalmente começará com outra
ênfase de tempo forte. Os números dos compassos entre parênteses nos exemplos refletem
que essas introduções pelo acompanhamento funcionam como acréscimos à frase melódica
básica [faixas 24, 27, 33 do CD]” (MATHES, 2007, p. 62-63).
“Uma introdução pelo acompanhamento pode ser percebida como um conectivo, bem
como parte da nova frase. Uma introdução pelo acompanhamento pode ocorrer em uma elisão
de frases, contudo, diferentemente de um conectivo, ela será percebida como um tempo forte
que inicia e faz parte da nova frase. Os trechos de Schubert e Verdi no Exemplo 4.4 ilustram
esse fenômeno. Em Schubert, o compasso 41 substitui o tempo forte do compasso 42, uma
CAP que inicia a próxima frase com um novo acompanhamento. Em Verdi, a obra musical
atinge uma semicadência, seguida por uma nova figura de acompanhamento no tempo forte
subsequente” (MATHES, 2007, p. 63).
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“Nota analítica: A noção de expansões de frases como adições a uma frase básica
levanta questões interessantes sobre a dimensão e a ênfase da frase. Em ambos os trechos do
Exemplo 4.6, os compassos introdutórios podem ser reduzidos a captadores de uma única
nota e incorporados a uma frase de quatro ou oito compassos. Os quatro primeiros compassos
da Valsa ‘Minuto’ de Chopin podem ser melhor entendidos como uma anacruse expandida para
o primeiro tempo forte da frase no compasso 5. O tema [da Sinfonia n. 101] de Haydn parece
ter cinco compassos, mas é a anacruse estendida (levare alongado) que tem o efeito de
adicionar ou expandir a frase regular com quatro compassos. A percepção disso fica mais clara
quando se rege a frase com cada compasso igual a um tempo de um padrão com quatro
compassos. Ou seja, o primeiro compasso é conduzido como um tempo levare e é sentido
como um compasso ou tempo extra quando ele se repete. É o segundo compasso do tema que
é sentido como o primeiro tempo forte, que fica aparente quando conduzimos o pulso de alto
nível” (MATHES, 2007, p. 65).
“A organização de frases em termos de padrões métricos em larga escala, com o
compasso ou unidades com pulsos maiores, é denominada métrica de alto nível ou
2
“Veja Rothstein (1989, p. 43), para mais exemplos e discussão sobre levares alongados e outras expansões de frase”
(MATHES, 2007, p. 64).
60
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3
“Este termo foi cunhado por Edward Cone (1969) em Musical Form and Musical Performance. Veja também Rothstein
(1989, p. 8-14)” (MATHES, 2007, p. 65).
4
“O termo ‘pulso’ aqui é usado para se referir a qualquer nível de tempo métrico [beat] que pode ser percebido ou
projetado na música. O termo beat normalmente se refere ao nível anotado de pulso, indicado por uma fórmula de
compasso métrica na música tradicional” (MATHES, 2007, p. 65).
5
“Este método de designação é extraído, em parte, de Lerdahl e Jackendoff (1983)” (MATHES, 2007, p. 66).
61
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“Todos os exemplos citados na Figura 4.1 ilustram uma hipermétrica de quatro tempos
ou quádruplo. Este padrão e a hipermétrica dupla talvez sejam os mais comuns, mas a
hipermétrica de três tempos ou triplo é certamente possível. Um exemplo famoso de
hipermétrica tripla é encontrado no Scherzo da Sinfonia n. 9 de Beethoven (Exemplo 4.7).
Beethoven deixa claro essa hipermétrica por sua designação ritme de tre battute (no ritmo de
três compassos) na partitura. (Veja também o Exemplo 3.12.)” (MATHES, 2007, p. 66).
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“Uma cadência evadida é outra técnica usada para expandir uma frase. Esta técnica é
resultante de uma progressão cadencial autêntica que não atinge a posição fundamental, a
harmonia tônica, mas é interrompida pela reiteração das progressões cadenciais e geralmente
de seu conteúdo temático. A repetição e a interrupção da progressão cadencial podem ocorrer
uma ou mais vezes, chegando eventualmente ao ponto de cadência. Muitas vezes isso terá o
efeito de ‘mais uma’ repetição, como no Exemplo 4.8b. Observe como a segunda cadência
evadida conduz a uma expansão de 2 para 4 compassos da progressão cadencial reiterada.
Essa expansão interna enfatiza dramaticamente a resolução final da tônica cadencial6”
(MATHES, 2007, p. 70).
6
“Veja Cadential Processes, de Schmalfeldt (1992), para uma extensa discussão a respeito deste conceito” (MATHES,
2007, p. 70).
64
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“A percepção das expansões pode ser muito sutil e sujeita a diversas interpretações. O
tema [da Sinfonia n. 8] de Dvorák mostrado no Exemplo 4.10a contém uma expansão
interna no compasso 6, que é um alongamento, harmonicamente falando, do compasso 5 da
frase. Se o compasso 6 fosse omitido, ainda assim a frase seria construída logicamente. A
expansão interna necessita de uma extensão para dar à frase uma dimensão simétrica de dez
compassos. O Exemplo 4.10b mostra uma frase de cinco compassos, a abertura do tema das
Variações sobre um tema de Haydn, de Brahms. Pode-se simplesmente considerar esta frase
como tendo cinco compassos com um agrupamento 3+2. O compasso 3 conclui um movimento
melódico descendente 3-2-1 que pode implicar uma cadência autêntica. A harmonia no
compasso 3, entretanto, gera uma necessidade de continuação com seu movimento V-vi que
atenua o fechamento melódico. Além disso, o compasso 3 pode ser omitido, mantendo, nos
compassos 4 e 5, um sentido de continuação lógica dos compassos 1 e 2. Assim, o compasso 3
pode ser entendido como uma expansão interna, o que empresta à frase uma amplitude e
elegância que faltaria à frase com quatro compassos. Embora tais expansões possam ser
encontradas em muitos estilos de música, os compositores do século XIX, que procuravam dar
amplitude e elasticidade às suas melodias, favoreceram especialmente essa técnica7”
(MATHES, 2007, p. 70).
“Como sugere o exemplo [com as Variações sobre um tema de Haydn] de Brahms, nem
todas as frases assimétricas são o resultado de expansões óbvias. Eles podem ser o resultado
de uma forma melódica/ harmônica específica. A possibilidade de a frase ser simplesmente
assimétrica ou conter uma expansão está aberta ao debate. Os exercícios no final do capítulo
convidarão a pensar mais sobre essas interpretações” (MATHES, 2007, p. 71).
Contrações de frases
“As frases podem ser construídas para refletir uma contração de uma frase básica, que,
como a interpolação, normalmente é aparente em relação a uma exposição inicial da frase.
Considere o período paralelo no Exemplo 4.11a, que traz o tema principal da Sinfonia n. 104
7
“Veja Style and Music, de Meyer (1989), para uma discussão sobre ‘alongamento’ melódico” (MATHES, 2007, p. 70).
65
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de Haydn, primeiro movimento. O antecedente [do período] tem oito compassos de duração
com uma pausa antes da frase consequente. O oitavo compasso do consequente (comp. 32) é,
na verdade, o primeiro compasso da frase seguinte: ocorre uma reinterpretação métrica, pois
o esperado oitavo compasso é substituído por um tempo forte hipermétrico na frase seguinte.
Com efeito, o oitavo compasso do consequente, que poderia ter sido um compasso de
harmonia tônica, é omitido. Isso resulta em uma frase consequente de sete compassos que
elide no compasso 32. Para obter um sentido rítmico desse fenômeno, reja a frase em 4/4
onde a semibreve (1 compasso) se iguala a um tempo. Observe como a mudança na dinâmica
e na densidade também marca o tempo forte do compasso 32. Uma sensação diferente de
contração ocorre no período que abre a ária “Celeste Aida”, de Verdi. Revise o antecedente
com oito compassos mostrado no Exemplo 3.8c. O consequente, Exemplo 4.11b, começa
como uma recapitulação paralela, mas após a exposição inicial de dois compassos, segue-se
uma continuação: a repetição de dois compassos ouvida no antecedente foi omitida. O
resultado é uma contração, um fenômeno decorrente não apenas dos compassos omitidos,
mas também do aumento do ritmo harmônico dos acordes paralelos de sétima maior-menor
(comp. 10-11) que acelera o movimento em direção à cadência” (MATHES, 2007, p. 71-72).
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Resumo
“O ritmo frasal é um fenômeno complexo que resulta de vários fatores. A extensão e a
estrutura de agrupamento de uma frase, conexões de frase, expansões e contrações e a
hierarquia de acentos métricos moldam o ritmo de frase musical. Conexões de frase, se
presentes, geralmente assumem a forma de elisões ou conectivos. Uma elisão ocorre quando
um ponto de cadência ocorre em um tempo forte que também inicia a próxima frase. A
continuação de linhas melódicas, linhas de baixo e figuras de acompanhamento contínuo
podem ter a função de conectivos. A sobreposição de frases normalmente ocorre em texturas
contrapontísticas quando diferentes linhas entram e cadenciam em diferentes pontos”
(MATHES, 2007, p. 73).
“A dimensão da frase pode ser variada pela expansão ou contração de uma frase após a
repetição ou em sua exposição inicial. As expansões podem ocorrer internamente ou como
introduções ou extensões. As introduções podem assumir a forma de uma introdução pelo
acompanhamento, uma antecipação motívica ou uma anacruse estendida. Extensões na
maioria das vezes são reiterações da harmonia cadencial ou progressão cadencial, que podem
assumir a forma de um ‘eco’. Cadências de engano frequentemente ocorrem em conjunto com
extensões. As expansões internas são mais aparentes quando uma frase modelo é repetida.
Eles podem assumir a forma de interpolações de novo material, elaborações motívicas,
alongamentos de uma determinada harmonia, cadências evadidas ou simples repetições de
ideias dentro da frase. Muitas frases assimétricas podem ser explicadas pela presença de
expansões” (MATHES, 2007, p. 73).
“Uma sensação de compasso de alto nível ou hipermética está presente em algumas
músicas. Uma interpretação hipermétrica de uma frase distingue alguns compassos como
tempos fortes e outros como tempos fracos, resultando em uma hierarquia de acentos entre
tempos fortes de cada compasso na frase. Assim, uma frase com quatro compassos pode ser
entendida como uma hipermétrica com quatro tempos: níveis mais altos de hipermétrica
podem ser perceptíveis. A hipermétrica é evidente com maior frequência em temas que têm
estrutura de frase simétrica. O início de uma frase geralmente é o tempo hipermétrico forte da
frase, embora as expansões da frase possam alterar essa percepção” (MATHES, 2007, p. 73).
“A análise do ritmo da frase levanta questões analíticas complexas e interessantes que
têm sido amplamente debatidas pelos teóricos. Como observou Robert Morgan, ‘questões de
divisão de frases, acentuação métrica e agrupamento são necessariamente de caráter
subjetivo, pelo menos em um grau significativo. ... Músicas interessantes e complexas sempre
revelam ambiguidades no que diz respeito ao agrupamento e à acentuação métrica’8. Assim, a
análise do ritmo da frase está frequentemente sujeita a mais de uma interpretação razoável.
Os conceitos apresentados acima servem como uma introdução a essa análise e fornecem
alguns recursos básicos para informar as interpretações” (MATHES, 2007, p. 73).
Sugestão de leitura
“Edward Cone (1970), Musical Form and Musical Performance; Carl Schachter (1976),
‘Rhythm and Linear Analysis: A Preliminary Study’ e William Rothstein (1989), Phrase Rhythm
in Tonal Music” (MATHES, 2007, p. 74).
8
“Veja Robert Morgan, ‘Review of Phrase Rhythm in Tonal Music by William Rothstein’, no periódico Nineteenth-
Century Music, volume 16, páginas 78-81, 1991” (MATHES, 2007, p. 73).
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Antologia Kostka/Graybill
- Mozart, Die Zauberflöte, n. 7, comp. 10-16
- Schubert, Missa n. 2, em Sol maior, comp. 16-28
- Mendelssohn, Lieder ohne Worte op. 19, comp. 3-15
- Grieg, An der Wiege op. 68, n. 5, comp. 17-27
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Introdução
“As discussões anteriores sobre frase musical introduziram processos temáticos como
exposição, repetição, resposta, contraste, continuação e fragmentação para ilustrar como as
frases são geradas. O conceito de expansão de frase foi introduzido para esclarecer funções
adicionais de segmentos no interior de uma frase – de introdução, expansão interna e
extensão. As discussões se concentraram nas maneiras segundo as quais essas várias funções
e processos moldaram a estrutura interna das frases e afetaram sua estrutura de
agrupamento. Neste capítulo, expandiremos nossa compreensão das funções formais
examinando como as frases e seções podem ser diferenciadas de acordo com seu papel na
forma. Delineando e expandindo as funções internas de frases identificadas na discussão sobre
expansões de frases, serão apresentados as funções formais básicas e os processos que as
caracterizam” (MATHES, 2007, p. 79).
“Outro fator relacionado à forma musical é a mudança de textura. As discussões sobre
cadências e conexões de frases nos capítulos anteriores e sobre funções formais neste capítulo
referem-se à importância da textura musical para a formação e o delineamento da forma
musical. Uma revisão dos aspectos da textura e uma visão geral dos processos texturais
ampliará esse ponto importante e completará nosso levantamento dos elementos formais”
(MATHES, 2007, p. 79).
1. Funções formais
“Seis funções formais básicas podem ser identificadas, as quais separadamente e em
combinação caracterizam o papel que frases e seções podem desempenhar em uma forma
musical: funções 1) de exposição [expository]; 2) de transição [transitional]; 3) de
desenvolvimento [developmental]; 4) de introdução [introductory]; 5) de fechamento
[closing]; e 6) de parêntese [parenthetical]. Uma função particular pode ser característica de
um segmento de frase, de uma frase completa ou de uma seção inteira. Embora uma frase ou
seção possa ter uma única função prontamente identificada, mais de uma função pode estar
aparente. De fato, um atributo das formas musicais complexas e sutis corresponde à
diversidade de recursos pelos quais as funções formais podem ser combinadas ou
transformadas conforme as ideias musicais são elaboradas ou reafirmadas. A presença ou
ausência de diferentes tipos de funções formais também pode ser uma característica distintiva
de vários estilos e gêneros musicais. Para introduzir e definir essas funções, vamos nos
concentrar nelas individualmente com exemplos que destacam uma em particular. É
importante entender, porém, que uma determinada passagem de uma obra musical pode aqui
projetar mais de uma função. Nos capítulos subsequentes, o delineamento e a interação
dessas funções serão abordados conforme se aplicam a projetos e estruturas formais
específicas” (MATHES, 2007, p. 79).
Frases com função formal de exposição [Expository function]
“A função de uma frase ou seção é influenciada pela maneira como é construída, seu
conteúdo e sua colocação dentro do design formal. Frases expositivas são aquelas em que
materiais temáticos distintos são apresentados ou reafirmados, geralmente como estruturas de
frases completas. Eles são caracterizados pela maioria, se não por todos os seguintes
atributos: (1) a presença de segmentos iniciais, intermediários e finais que projetam uma
unidade completa e independente; (2) estruturas de agrupamento simétrico com ou sem
expansões; (3) um forte senso de estabilidade rítmica e tonal no início ou no final ou em
ambos; e (4) ideias melódicas distintas com um claro senso de fechamento. Essas
características não precisam ocorrer na íntegra, e as frases expositivas podem incorporar
outras funções, particularmente a função de desenvolvimento, quando as frases são
expandidas ou os motivos são elaborados. Os modelos de estrutura de frases temáticas e
combinações de frases apresentados no Capítulo 3, por exemplo, exibem função expositiva,
mas também elaboram ou desenvolvem ideias. Além disso, os temas podem ser apresentados
em qualquer ponto de um movimento; assim, a função expositiva pode ocorrer quando um
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novo tema é apresentado como parte de uma seção de encerramento ou ao longo de uma
seção de desenvolvimento. De qualquer forma, talvez a característica mais distintiva das
frases exclusivamente expositivas seja a presença de ideias temáticas específicas, com forte
fechamento nas terminações das frases” (MATHES, 2007, p. 79-80).
Frases com função formal de transição [Transitional function]
“Em contraste com as frases expositivas, as frases de transição funcionam como
conexões entre apresentações expositivas de material temático ou entre diferentes áreas e
seções tonais. Frases que exibem função transicional são caracterizadas por instabilidade ou
tensão aumentada, gerando uma expectativa de resolução e estabilidade. Essas frases podem
envolver modulações, ritmos harmônicos mais rápidos, sequências, expansões da harmonia
dominante ou texturas rítmicas mais ativas, cada uma das quais pode contribuir para uma
sensação de instabilidade. O Exemplo 5.1a mostra uma frase de transição que conecta o final
de um trio à repetição de um minueto, modulando de Sib maior de volta à tônica Ré maior. As
repetições motívicas, a mudança harmônica pelo acorde de sexta aumentada (compasso 99)
que segue para a SC, a recessão dinâmica e a fermata em seu final contribuem para a
natureza transicional da frase. O uso da nota pedal de dominante ouvida nesta frase, ou de
acordes dominantes prolongados é comum em frases de transição. O aumento da atividade
rítmica e mudanças marcantes na textura – mudanças de registro, mudanças em texturas
completas ou em linhas únicas – também caracterizam muitas transições. No Exemplo 5.1b,
a mudança para um ritmo contínuo de semicolcheias e textura com oitavas no compasso 113,
juntamente com o movimento ascendente sistemático das repetições sequenciais, sinalizam
uma frase de transição que conduz a uma recapitulação do tema de abertura do movimento.
Ao contrário do Exemplo 5.1a de Haydn, essa função de transição resulta de uma expansão
de frase, estendendo a figura interposta pela primeira vez no compasso 111. De maneiras
diferentes, porém, cada um desses exemplos ilustra a tensão e a expectativa de resolução,
característica das transições” (MATHES, 2007, p. 80).
“Frases de transição geralmente trazem uma sensação de incompletude por vários
motivos. Primeiramente, tais frases tendem a terminar em semicadências ou a serem elididas
com a próxima frase. Consequentemente, são ouvidas como frases que requerem resolução
conduzindo a pontos de estabilidade. Em segundo lugar, quando as transições começam com
instabilidade harmônica, principalmente pelo uso de harmonias com função de dominante ou
pré-dominante, elas não trazem um sentido de início estável ouvido em muitas frases
expositivas. Em terceiro lugar, uma transição muitas vezes acarretará fragmentação em vez de
apresentações completas de temas. Finalmente, como as frases de transição ocorrem entre os
pontos de encerramento e iniciação, tendemos a não as agrupar com as frases anteriores ou
subsequentes. Em vez disso, elas representam um elo entre apresentações temáticas. Os
Exemplos 5.1a e 5.1b ilustram esse aspecto. No entanto, a função transicional também pode
ser evidente na instabilidade tonal de períodos modulantes ou grupos de frases que projetam a
função expositiva” (MATHES, 2007, p. 80).
“Os tipos de material temático usado nas transições variam. As transições podem usar
temas ouvidos anteriormente, muitas vezes fragmentados e empregados em novas texturas de
maneira desenvolvimentista. Essa observação exemplifica a relação às vezes estreita entre a
função de desenvolvimento e de transição. Por outro lado, as transições frequentemente
contêm material neutro ou figuração1. Este termo refere-se a figuras como escalas e arpejos
que carecem de uma identidade melódica distinta ou única associada a motivos e temas. Sem
dúvida, a figuração neutra pode ser tratada motivicamente, uma marca registrada de muitas
composições clássicas, mas seu uso em transições ajuda a enfatizar elementos rítmicos e
harmônicos que conduzem a materiais temáticos ou texturas como no Exemplo 5.1b”
(MATHES, 2007, p. 80-81).
1
“O termo ‘material neutro’ é usado por Rothstein (1989, p. 117). Caplin (1998, p. 37) usa os termos ‘característico’ e
‘convencional’ para fazer uma distinção semelhante entre temas distintos e figuras comuns” (MATHES, 2007, p. 80).
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fechamento é abordada mais adiante nas Notas analíticas mais adiante neste capítulo”
(MATHES, 2007, p. 85).
“Embora as progressões cadenciais reiteradas sejam talvez o indicador mais comum da
função de fechamento na música tonal, o contexto de uma frase como a última parte de uma
obra ou movimento geralmente é suficiente para externar uma função de fechamento.
Considere o Exemplo 5.3c, a frase final em ‘Muth’ de Winterreise de Schubert. Essa sentença
curta com quatro compassos é uma frase completa idêntica à frase introdutória de abertura,
também tocada pelo piano. Neste caso, como nos ritornellos barrocos, frases temáticas
completas estão sendo usadas para emoldurar um movimento, funcionando como material
introdutório e final. As funções são ditadas por sua colocação formal na composição” (MATHES,
2007, p. 85, grifo do autor).
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sensação de ser um aparte ou interjeição entre parênteses. Um exemplo pode ser ouvido no
Concerto de Brandemburgo n. 2 de Bach, compassos 71-72 (Exemplo 5.4a). Aqui, uma
mudança repentina na textura e dinâmica, e a introdução de um pedal de dominante
produzem o efeito de uma interjeição ou digressão no interior de uma recapitulação temática
enquanto Bach elabora e varia o ritornello que abre este movimento” (MATHES, 2007, p. 86).
“O excerto da Sinfonia n. 40 de Mozart no Exemplo 5.4b mostra um segmento de frase
que também pode ser entendido como parêntese. Este segmento faz parte da repetição da
frase anterior no movimento, uma frase antecedente. O material nos compassos 56-57 já
havia conduzido a uma progressão cadencial de dois compassos. Em vez disso, o compasso 58
introduz uma surpreendente digressão harmônica em V7/VII, que é repetida mais três vezes
antes da progressão cadencial expandida nos compassos 62-66. Neste caso, a função
parentética do segmento é revelada pela harmonia inesperada e pela repetição insistente dos
motivos introduzidos. A digressão harmônica interrompe momentaneamente a continuidade e
aumenta o sentido dramático do momento, que Mozart convincentemente conduz a uma
cadência. O Exemplo 5.4c mostra uma breve, mas pronunciada, interjeição entre parênteses
em Nuages de Debussy. O material do compasso 98 lembra brevemente uma linha melódica
pentatônica ouvida em uma seção anterior do movimento, que contrasta com os motivos
cromáticos ouvidos nos compassos circundantes. Os contrastes marcantes na orquestração,
registro e textura contribuem para o efeito parentético” (MATHES, 2007, p. 86-87).
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“Cada um dos trechos citados no Exemplo 5.4 difere em seu efeito, e deve-se notar que
tais interpretações funcionais de frases como parênteses são muitas vezes subjetivas e podem
ter efeitos ou significados variados. No exemplo de Bach, a dinâmica dá a impressão de uma
interjeição entre parênteses, embora o material temático não seja novo. No exemplo de
Mozart, a qualidade entre parênteses é tonal e rítmica por natureza e faz parte da expansão de
uma frase repetida. No exemplo de Debussy, o compasso entre parênteses é uma lembrança
fugaz de um tema anterior, resultando em uma justaposição de duas ideias motívicas
diferentes2” (MATHES, 2007, p. 87-88).
“Em todos esses exemplos, as passagens entre parênteses são relativamente breves.
Certamente é possível ter uma frase ou seção inteira funcionando entre parênteses,
particularmente em formas episódicas em que são esperados fortes contrastes no material. O
fato de uma passagem estar entre parênteses não implica que seja de importância formal
secundária. Frequentemente, essas passagens têm conexões importantes com temas
anteriores ou desenvolvimentos posteriores e, invariavelmente, geram efeitos dramáticos e
expressivos marcantes. Finalmente, devemos ter em mente que as frases entre parênteses são
pouco frequentes na maioria das obras musicais. Nem todas as mudanças repentinas geram
uma função entre parênteses; deve haver alguma sensação de que o material musical é
formalmente inesperado, separado do material circundante” (MATHES, 2007, p. 88).
“Nota analítica: As relações entre conexões e expansões de frases e as funções formais
citadas acima merecem consideração. Considere o Exemplo 5.5 do final da primeira seção do
segundo movimento da Sinfonia n. 41 de Mozart. Os compassos 43-44 são um conectivo que
inicialmente retorna à abertura do movimento. Após a repetição dos compassos 1-44, o
conectivo é expandido nos compassos 45-46 (um segundo final após a repetição). Em ambos
os casos, os recursos de conexão têm a função uma transição para uma nova tonalidade: na
primeira vez, o conectivo efetua um retorno à tônica (Fá maior); a segunda, uma modulação
de dominante (Dó maior) para submediante (Ré menor). A segunda ocorrência ocupa quatro
compassos e assume a forma de uma extensão e continuação que se destaca da cadência no
compasso 43 e do início de uma seção de desenvolvimento no compasso 47. Assim, esta
passagem pode ser vista como uma frase de transição separada, embora seja iniciada como
um conectivo de frase” (MATHES, 2007, p. 88).
“Da mesma forma, uma introdução de frase ou uma extensão de frase podem ser
percebidas como frases separadas. Considere os Exemplos 4.5a e 4.5b. Essas passagens
foram citadas como expansões de frases introdutórias que são antecipações motívicas de uma
linha melódica de frase. Alternativamente, cada uma pode ser percebida como tenda dimensão
suficiente e forma melódica/rítmica para serem frases separadas. Observe, no entanto, que
essas frases carecem da chegada cadencial que articula frases completas como as citadas nos
Exemplos 5.2c e 5.3c. Da mesma forma, os últimos quatro compassos do Exemplo 4.7a
contêm repetições cadenciais de uma progressão V-I, mas os variados padrões melódicos e a
mudança de registro final dão à passagem a forma de uma frase separada. Como esses
exemplos sugerem, pode-se identificar frases introdutórias, de transição ou de encerramento,
2
“A recordação de temas de outros movimentos em obras com vários movimentos é um recurso explorado por
compositores do século XIX em particular. Tais formas cíclicas serão discutidas em um capítulo separado. O uso de
frases entre parênteses e justaposições para criar novos designs formais é uma das importantes inovações formais de
Debussy, que será abordada no capítulo final” (MATHES, 2007, p. 88).
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embora as frases possam ser vistas como incompletas ou como parte de uma expansão de
frase” (MATHES, 2007, p. 88).
“A distinção entre expansões de frase e frases separadas com funções formais
relacionadas também é afetada pela proporção relativa e pela forma da passagem em questão.
Como é frequentemente o caso, as interpretações formais podem variar e o contexto deve ser
considerado. A diferença entre uma extensão e uma codetta (uma coda curta), ou entre uma
codetta e uma coda, por exemplo, não é necessariamente rígida e rápida, e deve ser entendida
em termos de extensão relativa e contexto. Por mais rotulada que seja, a função formal deve
ser a de fechar. A Tabela 5.1 apresenta um resumo de algumas correlações possíveis entre as
funções internas da frase e as funções formais discutidas. Essas funções podem ocorrer no
interior de segmentos de frase ou, conforme ilustrado nos exemplos discutidos neste capítulo,
podem ser expandidas para serem frases separadas ou mesmo seções de uma obra” (MATHES,
2007, p. 88-89).
3
“Uma discussão mais aprofundada sobre texturas será encontrada ao longo do texto, principalmente nos capítulos 12
e 14” (MATHES, 2007, p. 89).
81
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da monofonia, existe uma ampla gama de possibilidades dentro das categorias descritas4”
(MATHES, 2007, p. 89).
“Mais especificamente, uma textura musical é definida por: 1) densidade, o número de
linhas ou alturas em uma passagem e seu âmbito e espaçamento; 2) relações rítmicas de
linhas como homorrítmicas (iguais) ou polirrítmicas (contrastantes); e 3) a função das linhas
constituintes, como melodia, acompanhamento, entrada imitativa, contramelodia, cantus
firmus e assim por diante. Intimamente aliado à textura está o elemento timbre, que é
definido pelo nível dinâmico, articulação, extensão, registro e instrumentação. Na medida em
que o timbre afeta a qualidade dos sons, pode ser entendido como um elemento de textura. A
textura, então, é um elemento musical composto, pois envolve vários aspectos diferentes e,
como tal, está sujeita a mudanças de momento a momento” (MATHES, 2007, p. 90, grifos do
autor).
“Embora essas categorias de textura musical sejam amplamente utilizadas, os termos
são um tanto ambíguos e requerem esclarecimentos. Monofonia refere-se a uma única linha,
embora melodias cantadas em oitavas, por exemplo, possam ser consideradas monofônicas,
pois a melodia é simplesmente duplicada. Por outro lado, uma única linha pode ser uma
melodia composta que implica mais de uma linha. Geralmente, uma textura na qual uma única
linha ou uma única melodia é ouvida é monofônica. No contexto de uma obra multivocal, a
mudança para uma única linha é um dos meios mais comuns para sinalizar um delineamento
ou função formal. Em muitos exemplos discutidos na seção I deste capítulo, observamos
mudanças nas texturas para uníssono ou oitava, como no Exemplo 5.1b. Ouça novamente o
Exemplo 2.5a e o Exercício 3.7 e observe a mudança para texturas monofônicas à medida
que as cadências estão próximas. Outras vezes, uma única linha pode ter a função de
introdução, ligação ou transição entre frases, como nos Exemplos 4.4c, 4.6a e 4.6b. Essas
mudanças também geram a antecipação de uma textura mais completa que iniciará a próxima
frase” (MATHES, 2007, p. 90, grifo do autor).
“Polifonia é um termo geral que se refere à obra musical que pode conter texturas
[construídas a partir de técnicas] contrapontísticas e texturas homofônicas. O termo
contrapontístico, que será utilizado aqui, descreve com mais precisão [sic] as texturas nas
quais se ouve a independência rítmica e a igualdade funcional das linhas. A imitação de
material temático em qualquer linha da textura é frequentemente usada para criar texturas [a
partir da técnica] contrapontística. À medida que as linhas são imitadas, elas continuam em
contraponto à linha imitadora; ou seja, a linha inicial continua em ritmos e contornos
contrastantes à medida que é imitada. Texturas [construídas a partir de técnicas]
contrapontísticas não imitativas farão uso de linhas melódicas ritmicamente contrastantes de
igual proeminência e importância. A Invenção a duas vozes em Ré menor de Bach, citada no
Capítulo 2, é um exemplo de composição [construída a partir de técnicas] contrapontísticas
imitativa e não imitativa. Um aspecto importante da textura [construídas a partir de técnicas]
contrapontísticas é que as vozes muitas vezes saem e voltam em momentos diferentes. Essas
mudanças na densidade ajudam a moldar e articular frases. Ouça, por exemplo, uma fuga
como o Exemplo 12.5. À medida que as vozes se imitam, desaparecem e voltam a entrar, as
mudanças de densidade moldam o fluxo contrapontístico das vozes” (MATHES, 2007, p. 90).
[N.P.: A textura polifônica é construída a partir das técnicas composicionais
contrapontísticas imitativa e livre.]
“A homofonia, como notado, refere-se a texturas compostas por uma única melodia
com acompanhamento. O contraste mais importante em relação às texturas contrapontísticas
é que as linhas nas texturas homofônicas não terão igualdade de função ou importância. Uma
voz em uma textura homofônica é geralmente considerada a voz ou linha melódica principal,
enquanto outras vozes são consideradas subordinadas. Conforme observado anteriormente,
tais texturas são frequentemente utilizadas em apresentações expositivas de temas” (MATHES,
2007, p. 90).
4
“A música ocidental tradicional é particularmente associada à polifonia e à homofonia, enquanto a heterofonia é
frequentemente associada à música não ocidental. A monofonia é a textura mais antiga, originalmente associada ao
canto” (MATHES, 2007, p. 89).
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“Em composições como essas, um acompanhamento distinto pode ser mantido ao longo
de uma seção ou mesmo de uma obra completa. Em outras obras, as mudanças de textura e
acompanhamento são bem mais frequentes. Considere as texturas do Scherzo da Sonata para
piano op. 2 n. 2 de Beethoven abordada nos exercícios do Capítulo 2. Neste movimento
ouvimos 1) uma alternância entre uma figura motívica na voz superior e uma resposta acordal
nos compassos 1-2; 2) uma mudança para uma textura acordal homorrítmica nos compassos
3-4; 3) introdução de uma nova textura de melodia e acompanhamento rítmico no compasso
19; 4) outra textura usando acordes sustentados introduzidos no compasso 25; e 4) um
retorno à textura de abertura, posteriormente variada nos compassos de fechamento dos
movimentos. Considere também o Exemplo 3.9b, com a Nutcracker Suite de Tchaikovsky. O
período de abertura é uma melodia com acompanhamento, mas em uma textura
homorrítmica. A repetição do período que começa no compasso 9 introduz movimento rítmico
e linear distinto nas vozes subordinadas, criando uma textura mais contrapontística. Esses dois
exemplos dão uma ideia da ampla gama de texturas específicas dentro da categoria geral de
homofonia. Eles também mostram como mudanças na textura podem distinguir frases e
semifrases” (MATHES, 2007, p. 91-92).
“Além das categorias mencionadas, a densidade e a amplitude de linhas e alturas são
elementos importantes da textura musical e sujeitos a mudanças frequentes. Termos gerais
como espessa, esparsa, aguda ou grave são usados para descrever a densidade. Mais
precisamente, a densidade pode se referir ao número de linhas soando durante um período de
tempo; também pode se referir ao número de sons soando em um determinado ponto no
tempo. Esses aspectos lineares e verticais da densidade textural podem ser idênticos, mas
podem flutuar e muitas vezes são distintos um do outro. Além disso, o espaçamento e o
âmbito das linhas constituintes afetam a densidade vertical. Esse aspecto da textura é
influenciado pelo tipo de música que está sendo composta. A este respeito, uma comparação
de texturas instrumentais e vocais é instrutiva” (MATHES, 2007, p. 92).
Texturas vocais e instrumentais
“Texturas vocais são tradicionalmente categorizadas por densidade linear. Ou seja,
designamos obras corais para uníssono, duas, três, quatro ou mais partes ou vozes. As
designações de âmbito também caracterizam as texturas vocais; assim falamos de texturas a
quatro vozes para soprano, contralto, tenor e baixo (SATB) ou várias combinações como
duetos ou trios. O número de linhas geralmente é bastante claro nas texturas vocais, pois as
limitações da voz tornam as linhas compostas impraticáveis. Por outro lado, o espaçamento
das vozes e seus respectivos âmbitos podem variar muito, alterando a densidade vertical e o
timbre das texturas. Como será discutido no Capítulo 13, as formas vocais são moldadas em
parte pelas mudanças na densidade da textura vocal. Além disso, o acompanhamento de uma
textura vocal acrescenta um elemento adicional que está sujeito a mudanças e variações. Uma
obra vocal pode usar vários tipos de texturas em sucessão, como é ilustrado pelo refrão “The
Lord Gave the Word” de O Messias de Haendel” (MATHES, 2007, p. 92).
“Texturas instrumentais, especialmente conjuntos de câmara, também podem ser
identificadas pelo número de vozes. Trios, quartetos e quintetos de cordas ou sopros, por
exemplo, têm um número específico de vozes. Em contraste com a música vocal, no entanto, a
escrita instrumental pode recorrer às capacidades de vários instrumentos e incorporar saltos
frequentes, arpejos, duplicações extensas, figuras rítmicas ativas ou estendidas e melodias
compostas. Assim, as texturas instrumentais exibem potencialmente um âmbito mais amplo e
uma variação maior na atividade e densidade rítmica, especialmente nos acompanhamentos. O
Scherzo da Sonata para piano de Beethoven, op. 2 n. 2 (ver Capítulo 2) também ilustra este
aspecto. O tema principal é caracterizado por mudanças sistemáticas de registro, um elemento
lúdico explorado na frase final. Observe como a nova melodia em Sol # menor (compassos 19-
25) estreita o âmbito e introduz um acompanhamento rítmico consistente, um contraste com
as mudanças repentinas ouvidas em outras passagens. Obras para conjuntos instrumentais
ampliam as possibilidades texturais, permitindo contrastes na orquestração e delineamentos
com uma gama mais ampla no espaço de alturas. Sendo assim, o importante aqui é a
influência do meio ou gênero nas texturas e sua capacidade de moldar a forma musical”
(MATHES, 2007, p. 92).
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Processos texturais
“As várias mudanças nos tipos de textura discutidas acima também podem ser descritas
em termos de mudanças sistemáticas nos aspectos texturais – processos texturais – que
moldam a forma musical. Os seguintes processos são encontrados em uma ampla variedade
de obras musicais, podendo gerar frases e contribuir para o movimento direcionado rumo ao
fechamento. Mudanças em um ou mais aspectos do ritmo também podem acompanhar esses
processos, incluindo mudanças no ritmo harmônico e técnicas como hemiola, sincopa e ritmos
cruzados [cross rhythms]. Frequentemente, vários processos podem funcionar juntos de
maneira complementar” (MATHES, 2007, p. 92).
“Movimentos lineares sistemáticos ascendentes e descendentes perpassando vários
registros. Ouça os trechos do Concerto duplo para violinos de Bach e do Prelúdio de La
Traviata de Verdi [CD faixas 32 e 33]. Esses trechos oferecem exemplos claros de gestos
ascendentes e descendentes sistemáticos, respectivamente” (MATHES, 2007, p. 93).
“Dissolução ou acúmulo de componentes texturais: a dissolução envolve uma
redução, seja ela repentina ou gradual, no número de componentes. Como observamos, uma
redução a uma única linha não é incomum em frases de transição ou introdutórias. A
acumulação envolve acréscimos graduais ou repentinos à textura para aumentar a densidade
em direção ao clímax. Um trecho da Sinfonia n. 3, I, de Beethoven [CD faixa 38], ilustra esses
dois processos” (MATHES, 2007, p. 93).
“Coalescência: A mudança de uma textura polirrítmica para uma textura homorrítmica
à medida que as linhas se aglutinam ou se juntam, principalmente nos pontos de cadência.
Revise os Exemplos 2.4-2.7” (MATHES, 2007, p. 93).
“Justaposição: Duas ideias ou texturas musicais fortemente contrastantes se alternam.
A sensação de justaposição será percebida pela rapidez da alternância e pela ausência de
transições de uma ideia para outra. Os contrastes timbrísticos, incluindo instrumentação,
dinâmica e articulação, contribuem para a identidade das ideias contrastantes. Os contrastes
entre texturas de solo e tutti encontrados em concertos demonstram essa ideia. Essa técnica
também prevalece em grande parte da música do século XX e é discutida mais adiante no
capítulo final” (MATHES, 2007, p. 93).
“Inversão textural: A repetição de material com uma troca de posição de registro. Essa
técnica resulta quando o contraponto inversível é usado e é uma ocorrência frequente em
gêneros contrapontísticos como fugas. O Exemplo 5.7 ilustra uma troca parcial de material, o
violoncelo pegando a linha do violino no compasso 16 e invertendo-a melodicamente.”
(MATHES, 2007, p. 93).
85
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aumenta nossa capacidade de ouvir processos como partes de um todo musical maior”
(MATHES, 2007, p. 94).
Sugestões de leituras
“Para um relato interessante da influência do conceito de função formal na composição,
veja Douglas Rust (1995), ‘Conversations with Lutoslawkski’, no periódico Musical Quarterly,
volume 79, páginas 207-223. Veja também Wallace Berry (1976), Structural Functions e Janet
Levy (1982), ‘Texture as a Sign’, para discussões sobre textura e função formal” (MATHES,
2007, p. 95).
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Introdução
“Muitos tipos de composições musicais se dividem em um número distinto de seções ou
partes. Às vezes, as formas divididas em seções são denominadas ‘seccionais’ [part forms]
para distingui-las das formas que tendem a ser contínuas [through-composed]. As formas
seccionais mais comuns são aquelas que se dividem em duas ou três seções, e que resultam
em formas binárias e formas ternárias, respectivamente. Além disso, algumas peças são
compostas por uma única seção, portanto, são rotuladas como formas em uma parte.
Outras formas maiores, a serem discutidas em capítulos posteriores, resultam da expansão de
formas binárias e ternárias. Os compositores usam temas, tonalidades ou texturas de várias
maneiras para relacionar ou distinguir as seções dessas formas. Normalmente, as
extremidades das seções são articuladas por um fechamento forte e, muitas vezes, por
quebras rítmicas” (MATHES, 2007, p. 99).
“Neste capítulo, discutiremos as formas em uma parte e as formas binárias.
Examinaremos diferentes maneiras pelas quais as seções de obras musicais podem ser
organizadas em relação a: estrutura da frase, processos formais e funções formais. Como
veremos, os princípios formais relevantes para a maioria das formas seccionais são os
processos de exposição-elaboração ou de exposição-contraste-recapitulação. Também
continuaremos a abordar os pontos levantados na Parte I sobre como obra musical é
segmentada e como as formas musicais são geradas” (MATHES, 2007, p. 99).
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1
“Embora muitos prelúdios e estudos exibam as características descritas, essas peças podem estar em duas ou mais
seções e, portanto, assumir outras formas. Veja, por exemplo, o Prelúdio n. 5, em Ré maior, de Das wohltemperierte
Klavier, livro II, de J. S. Bach” (MATHES, 2007, p. 100).
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2
“Uma excelente análise linear e um texto de discussão sobre esse lied podem ser encontrados em Analysis of Tonal
Music, de Cadwallader e Gagne (1998, p. 208-214). O Capítulo 13 traz o texto do lied acompanhado de uma tradução”
(MATHES, 2007, p. 102).
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Formas binárias
“As formas binárias (com duas partes) ocorrem em vários gêneros musicais, mas são
mais consistentemente encontradas em movimentos de dança, canções simples e movimentos
com tema e variações. Muitas formas binárias são prontamente aparentes pela presença de
sinais de repetição na partitura, indicando que cada uma das seções deve ser tocada duas
vezes. Contudo, em vez de usar sinais de repetição para obter repetições exatas, os
compositores geralmente optam por escrever a seção por uma segunda vez para poder variar
o material” (MATHES, 2007, p. 102).
“Tonalmente falando, as formas binárias podem ser contínuas ou seccionais. A forma
binária contínua [continuous] refere-se a uma forma na qual a primeira seção termina em
uma nova tonalidade. A forma binária seccional [sectional] consiste em uma forma na qual
a primeira seção termina na tonalidade original, geralmente com uma CAP. Essas distinções
podem ter implicações na maneira segundo a qual o material é elaborado ou reprisado na
segunda metade da forma, conforme discutido nos exemplos. Tematicamente, as formas
binárias são classificadas como simples [simple], circulares [rounded] ou equilibradas
[balanced]. Cada um desses tipos se distingue pela ausência ou presença de reformulações
temáticas no material da segunda seção da primeira parte*. As proporções e processos
envolvidos em cada uma dessas formas binárias variam de tal forma que outras distinções
entre pequenas formas binárias e formas binárias expandidas podem ser feitas. Não deveria
ser surpresa que a distinção entre essas várias categorias nem sempre será inequívoca. Como
sempre, a análise da estrutura formal esclarecerá os atributos específicos de uma determinada
peça. Cada uma dessas formas binárias será discutida separadamente para esclarecer os
atributos das várias categorias” (MATHES, 2007, p. 102, grifos do autor).
*
N.P.: Segmentos formam seções, e seções formam partes. Em alguns casos, partes formam movimentos, que por
sua vez formam obras musicais; em outros casos, partes formam peças, que por sua vez formam obras musicais.
91
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3
“As designações de letras tradicionais para formas binárias podem ser um tanto enganosas. O material temático é
muitas vezes o mesmo ou semelhante em ambas as seções de uma forma binária, de modo que a designação A||A’
pareceria mais lógica. A designação convencional da segunda parte como seção B reflete a nova elaboração de
material e os contrastes em tonalidades e no movimento tonal” (MATHES, 2007, p. 102).
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“A maioria das danças barrocas em formas binárias simples contém um grupo de frases
em cada seção. Se a primeira seção traz um período, a segunda seção é invariavelmente uma
elaboração mais extensa dos motivos; consequentemente, o grupo de frases da segunda seção
é consideravelmente mais longo do que a primeira seção5. Em canções ou temas curtos com
forma binária simples, no entanto, as duas seções podem ter a mesma extensão e serem
relativamente curtas. O Exemplo 6.3 mostra um tema que ficou conhecido como base para
um conjunto monumental de variações de Beethoven” (MATHES, 2007, p. 106).
4
“As tonalidades [keys] entre () são modulações passageiras, ou seja, tonicizações” (MATHES, 2007, p. 106).
5
“Veja, por exemplo, as Gavotte I e II da Suíte inglesa n. 3 em sol menor de Bach” (MATHES, 2007, p. 106).
6
“Ver também, de Beethoven, o tema do Quarteto de cordas op. 131, em Dó# menor, IV, comp. 1-32, em que as
repetições são escritas (o Exemplo 3.12b traz os comp. 1-16)” (MATHES, 2007, p. 106).
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Outro tema usado em um conjunto de variações brilhantes de Brahms ilustra esse aspecto.
(Ver Exemplo 6.4)” (MATHES, 2007, p. 106).
“Neste exemplo, cada seção consiste em quatro compassos, que são repetidos. Na
segunda seção, os dois primeiros compassos formam uma continuação baseada nos motivos
anteriores. Os dois compassos finais, embora comecem com uma recapitulação do primeiro
compasso, têm uma função cadencial, completando uma frase com quatro compassos na
segunda seção. Cada seção é composta por uma única frase e o tema é uma pequena forma
binária” (MATHES, 2007, p. 106).
7
“Green observa que uma forma binária equilibrada geralmente é percebida apenas quando uma seção de fechamento
inteira é reapresentada. Ver Green (1979, p. 78-79). Esta afirmação obviamente está sujeita a várias interpretações”
(MATHES, 2007, p. 108).
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“Grandes formas binárias circulares, nas quais uma ou mais seções formais são
expandidas, são particularmente comuns nos minuetos e movimentos scherzo das sinfonias
dos séculos XVIII e XIX. Um breve exame do minueto da Sinfonia n. 41 de Mozart ilustrará
algumas das possibilidades dramáticas da forma nas mãos de um compositor habilidoso.
Lembre-se da estrutura da sentença com dezesseis compassos que abre o minueto (veja o
Exemplo 3.11). A segunda parte do minueto é mostrada no Exemplo 6.7” (MATHES, 2007,
p. 111-112).
8
“Esta melodia é conhecida pela maioria das pessoas como ‘Brilha, brilha, estrelinha” (MATHES, 2007, p. 111).
98
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“A seção B deste minueto começa com uma sequência melódica sobre um pedal de
dominante usando um fragmento motívico do tema principal. A expansão desse fragmento
(compassos 22-24) enfatiza a chegada a uma SC. Essa importante junção formal é destacada
pela figura semelhante a uma fanfarra nos compassos 24-27 e pela orquestração antifonal —
cordas respondidas por sopros e tímpanos. Todos esses elementos servem para salientar o
retorno à frase de abertura na tonalidade da tônica. Em vez de simplesmente reafirmar a frase
de abertura e conduzir a uma CAP para fechar o minueto, Mozart apresenta uma expansão
dramática dos compassos 1-4. Três apresentações elaboram o material (compassos 28-39)
com novos acompanhamentos contrapontísticos que servem como desenvolvimento adicional
de ideias. A progressão cadencial dos compassos 40-43 poderia muito bem ter encerrado o
minueto. Em vez disso, Mozart traz uma passagem silenciosa e contrapontística aos sopros,
que pode ser percebida como uma coda. Em um movimento ainda mais surpreendente, a
orquestra completa retorna com os últimos oito compassos da primeira parte, agora ouvidos
na tonalidade da tônica. A passagem anterior, com sopros, é de desenvolvimento, mas soa
entre parênteses em retrospecto, enquanto os compassos expositivos de fechamento trazem
uma sensação de estabilidade, finalidade e equilíbrio formal a este grande movimento”
(MATHES, 2007, p. 112-113).
“Esse movimento oferece um excelente exemplo de como novas elaborações de ideias
podem moldar a segunda metade de uma forma binária circular. Mozart habilmente mostra
sua criatividade ao misturar funções formais de exposição, desenvolvimento, parênteses e
fechamento de maneiras dramáticas e inesperadas. Como em muitas configurações sinfônicas,
expansões, cadências evadidas e elaborações cadenciais são incorporadas ao ‘arredondamento’
da forma para dramatizar o retorno à tônica e o fechamento do movimento. Uma coda
também é frequentemente adicionada. Como neste exemplo, boa parte das formas binárias
circulares têm um forte senso de continuidade da seção B para a recapitulação variada da
seção A. Essas passagens, consequentemente, são agrupadas como uma única grande seção,
esclarecida pelas repetições. Também deve ser notado que a seção A geralmente contém
expansões de frase e extensões cadenciais para enfatizar a modulação para uma nova
tonalidade. Exemplos adicionais para análise estão incluídos nos exercícios abaixo” (MATHES,
2007, p. 114).
“Nota analítica: Em alguns casos, pode ser tentador analisar a segunda parte de uma
pequena forma binária circular como um período, porque a seção B contém uma única frase
que chega em uma SC. A recapitulação do material A em uma única frase que conclui com
uma CAP pode ser interpretada como a frase consequente de um período contrastante. O tema
da Sonata para piano K. 284, II, de Mozart é um desses casos. No entanto, a função formal da
primeira frase da seção B, como uma frase de transição e continuação, separa-a do material A
que se segue e enfatiza as funções formais da maneira descrita acima” (MATHES, 2007, p.
114).
“Outro gênero, a marcha – popularizada por bandas militares e elemento básico das
bandas de concerto – também faz uso de forma binária expandida. Em uma marcha, existem
duas grandes seções denominadas marcha e trio9. Cada uma dessas seções é baseada em
designs formais binários. Tais formas binárias, nas quais uma ou mais seções são, por sua vez,
formas binárias independentes, são designadas formas compostas10. Cada frase ou seção
repetida dentro de uma marcha e trio é tradicionalmente designada ‘distensão’ [strain].
Normalmente, o trio de uma marcha é repetido após uma passagem de transição. Essa
repetição do trio expande a forma binária” (MATHES, 2007, p. 114).
“A Figura 6.3 mostra um diagrama formal de uma das marchas mais famosas de John
Phillip Sousa, uma forma binária composta usada frequentemente nas marchas
estadunidenses. A primeira parte é uma forma binária simples, com cada seção organizada em
16 compassos, que são repetidos. Como ocorre na maioria das marchas e danças, frases
9
“O termo ‘trio’ é adotado a partir da forma minueto e trio do século XVIII. Em marchas, o trio nem sempre assume
uma textura mais leve que seu antecessor clássico e muitas vezes está escrito em uma nova tonalidade” (MATHES,
2007, p. 114).
10
“O termo ‘formas compósitas’ também é encontrado. Consulte o próximo capítulo, p. 126-143, para uma discussão
sobre formas ternárias compostas” (MATHES, 2007, p. 114).
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Sugestões de leituras
“Uma questão importante refere-se ao performer dever ou não realizar as repetições em
formas binárias. Embora a realização das repetições anotadas pareça ser obrigatória, na
prática, alguns artistas decidem não realizá-las, por vários motivos. Discussões ponderadas
podem ser encontradas nos artigos de Michael Broyles (1980) e David Smyth (1990, 1993)
listados na bibliografia” (MATHES, 2007, p. 115).
11
“Esse design tonal também é encontrado em muitos rags, como exemplificado por Scott Joplin. Veja, por exemplo,
seu Maple Leaf Rag e Weeping Willow, que são formas binárias compostas sem a repetição do trio” (MATHES, 2007, p.
114).
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- Os compassos 25-28 trazem uma frase de transição. Os padrões rítmicos rápidos e a textura
com oitavas geram uma sensação de urgência e maior movimento, e os padrões escalares
introduzem acidentes que trazem de volta a tonalidade original e a dominante.
5. Análise da estrutura das frases com partitura: Para cada peça, conclua uma
análise detalhada da estrutura frasal e das funções formais. Compare o design formal e a
estrutura de cada peça. Observe as semelhanças e diferenças na maneira segunda a qual cada
uma das peças molda a forma básica. Atente-se aos aspectos formais únicos de cada peça.
Comentários adicionais e questionamentos são fornecidos abaixo.
5.1 Haydn, Quarteto de cordas op. 76, n. 3, III Trio. O contraste na extensão de cada
seção deste trio decorre, em parte, de uma surpreendente inserção com função formal de
parêntese na seção B do trio. Para identificar essa inserção, considere qual passagem poderia
ser omitida na segunda parte e, ainda assim, um design formal bem construído seria mantido.
Uma vez identificada, considere por que a passagem pode ser interpretada como parêntese e
por que ela se destaca. Interprete o efeito expressivo da passagem e observe como ela joga
com nossa percepção da forma.
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5.2 Grieg, Holberg Suite, Sarabande. A amplitude lírica desse movimento é enfatizada pela
introdução de novas ideias na seção B. Quantos temas distintos você consegue identificar? Que
aspectos do design tonal e das harmonias desta peça são característicos da música do século
XIX (discutidos no Capítulo 2)? A recapitulação do material de abertura não serve apenas
como uma circularidade da forma, é também um ponto de clímax no movimento. Que
elementos da obra musical contribuem para esse clímax?
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5.3 Brahms, Variações sobre um tema de Haydn, Tema (“St. Anthony Chorale”).
Embora esse tema tenha sido originalmente escrito no século XVIII, as texturas desse
exemplar são características de Brahms. Que tipos de duplicações e espaçamento de vozes
Brahms usa aqui? Qual é a função dos compassos 23-29? Explique.
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Introdução
“O princípio formal de exposição-contraste-recapitulação é mais claramente manifestado
em formas musicais nas quais existem três seções distintas. Esse princípio resulta em uma
forma tripartida ou ternária, na qual uma seção intermediária contrastante é seguida por uma
recapitulação da primeira seção, geralmente completa e frequentemente variada. Um ponto
importante a ser observado é que a primeira e a última seções são idênticas ou bastante
semelhantes em termos de tonalidade e temas. Consequentemente, existem apenas duas
seções contrastantes da obra musical produzindo um design formal denominado ABA [ou
ABA’]. O princípio da forma ternária é baseado na recapitulação da primeira seção após a
segunda seção, ou seção intermediária de contraste. Assim, uma forma com três seções
contrastantes, que podem ser rotuladas por ABC, é considerada forma contínua [through-
composed], e não forma ternária. O princípio de contraste seguido de recapitulação também
foi discutido com referência à forma binária circular. Na verdade, esta forma e certas formas
ternárias simples são, em certo sentido, semelhantes, um ponto a ser discutido mais adiante”
(MATHES, 2007, p. 124).
“Diferentes categorias de forma ternária resultam do design variado das seções dentro
da forma. Como nas formas binárias, as formas ternárias podem ser seccionais ou contínuas,
dependendo do movimento tonal da primeira parte, e podem ser pequenas ou grandes,
dependendo das proporções das seções. A forma ternária simples ocorre quando cada seção
é uma sentença, período, frase repetida ou grupo de frases. A forma ternária composta
resulta de concepções em que uma ou mais dentre as três seções compreendem uma forma
binária ou ternária independente. A discussão a seguir examinará alguns modelos para a
construção de formas ternárias e identificará outros tipos dentro dessas duas grandes
categorias” (MATHES, 2007, p. 124).
1
“Vale ressaltar que muitas canções não estão na forma ternária simples. Além disso, as formas ternárias simples de
‘forma de canção’ são muitas vezes bastante distintas no que diz respeito à estrutura da frase e ao movimento tonal
daquelas encontradas em peças instrumentais curtas do século XIX” (MATHES, 2007, p. 124).
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início da seção B também é marcado por uma mudança para um acompanhamento rítmico
mais denso” (MATHES, 2007, p. 124-125).
“Muitas vezes, uma mudança no modo, para a tonalidade paralela, marca o início da
seção intermediária contrastante. Em peças em tonalidade menor, uma modulação direta para
a tonalidade maior relativa é outra possibilidade, como no Exemplo 7.2. Observe que as três
seções dessa forma ternária simples são tonalmente fechadas, com cada uma delas
começando e terminando na mesma tonalidade. Esta peça em particular tem uma
recapitulação exata do período inicial com dezesseis compassos nos compassos 41-56, não
incomum em muitas formas ternárias seccionais. A seção intermediária desta peça também
tem 16 compassos, mas com uma estrutura harmônica e uma estrutura frasal incomuns. Esta
seção introduz caracteristicamente uma nova continuação melódica e um movimento
harmônico contrastante. O retorno à seção de abertura é enfatizado pela passagem de
transição nos compassos 33-40. Uma frase de transição, aqui marcada pela redução da
textura, pelas repetições melódicas e pela expansão implícita da dominante original, é
frequentemente usada como uma forma de conectar as seções de uma obra ternária e
compensar a natureza seccional da forma. Todas as seções da forma podem ser vinculadas por
um conectivo ou transição, embora a conexão entre o final de B e a recapitulação de A seja a
mais comum” (MATHES, 2007, p. 125-126).
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2
“Uma peça característica é uma obra lírica curta para piano, destinada a evocar um humor ou personagem particular.
Geralmente, o termo é associado ao período romântico. Os Nocturnes de Chopin e os Intermezzi de Brahms são
exemplos de pecas características” (MATHES, 2007, p. 127).
3
“Esta forma refere-se à parte principal [sic] de uma obra musical, o refrão, que é a melodia que os ouvintes
geralmente reconhecem” (MATHES, 2007, p. 127).
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forma, que emprega frases de quatro ou oito compassos, conforme ilustrado na Figura 7.2”
(MATHES, 2007, p. 127).
4
“A quadratura é ilustrada no Exemplo 3.1, Drink to me Only, uma forma com dezesseis compassos organizados em
frases com quatro compassos. Isso está relacionado à forma canção com 32 compassos e é frequentemente
encontrado em melodias simples e canções folclóricas. Esta forma também pode ser entendida como uma forma
ternária. No entanto, algumas formas canção com 32 compassos são pequenas formas binárias, agrupadas como
16+16 com grandes estruturas de sentenças ou períodos. Veja, por exemplo, “Laura” de David Raskin ou “Make
Believe” de Jerome Kern” (MATHES, 2007, p. 128).
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“Nota analítica: A forma ternária contínua, como se pode observar, não é tão
diferente da forma binária circular contínua discutida no capítulo anterior. Lembre-se de que a
última está bipartida, mas possui três unidades e funções formais distintas: um período ou
sentença modulatório de abertura; uma passagem de transição que retorna à tonalidade da
tônica; e uma recapitulação do período ou sentença de abertura modificado para fechar na
tonalidade da tônica. De fato, alguns analistas preferem pensar na forma binária circular como
uma pequena forma ternária ou como uma forma ternária incipiente5. Embora as distinções
entre essas duas formas sejam, às vezes, evasivas, elas podem ser consideradas em termos
dos dois tipos diferentes de designs, com base nos seguintes critérios:
§ Repetição de BA na forma binária. Este é talvez o fator primordial na distinção das
duas formas. A repetição do segmento BA da forma binária circular agrupa essas duas
unidades formais em uma seção. A forma ternária contínua não tem repetição das
seções intermediária e final, embora às vezes possa haver uma repetição escrita do
período de abertura6.
§ Proporções. Na forma ternária, a quantidade de material A reapresentado na terceira
parte é, geralmente, de dimensão igual ou maior que o material original, em vez de ser
abreviado como ocorre na forma binária circular
§ Função e dimensão da seção intermediária. Na forma binária circular, a seção B
tem claramente a função formal de transição e frequentemente consiste em um simples
alongamento da harmonia dominante em uma única frase. Na forma ternária contínua,
a seção B é quase sempre um grupo de frases modulatórias, podendo ter função formal
de desenvolvimento ou de transição” (MATHES, 2007, p. 130-131).
5
“O primeiro termo é usado por Caplin (1998) em Classical Form, e o último é usado por Berry (1986) em Form in
Music” (MATHES, 2007, p. 130).
6
“Ver, por exemplo, o Intermezzo de Brahms em Dó maior, op. 119, n. 3” (MATHES, 2007, p. 131).
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7
“Style and Music, de Meyer (1989, p. 262 et seq.). Veja também o capítulo 3 de Cone (1970)” (MATHES, 2007, p.
131).
8
“Da capo, um termo italiano que significa literalmente ‘da cabeça’. É traduzido em português como ‘do começo’.
Alguns movimentos de dança são seguidos por repetições da mesma dança com ornamentos. A repetição é
denominada pelo termo francês duplo e não deve ser confundida com a forma da capo de três partes” (MATHES, 2007,
p. 131).
9
“Veja, por exemplo, as suítes barrocas para teclados de Bach e Haendel. Para exemplos orquestrais, veja a Bourrée I
e a Bourreée II da Orchestral Suite n. 1, em Dó maior, de J. S. Bach, ou o Minuet I e o Minuet II da Music for the
Royal Fireworks de Haendel” (MATHES, 2007, p. 132).
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ter um design e proporções mais simples que o minueto. A tonalidade do trio geralmente está
na tonalidade relativa ou paralela à do minueto, portanto, o contraste no modo é alcançado.
Embora geralmente haja intervalos claros entre as seções, alguns trios são finalizados por uma
frase de transição que introduz a recapitulação do minueto. (Ver Haydn, Sinfonia n. 104, III,
compassos 95-104, Exemplo 5.1)” (MATHES, 2007, p. 132).
“Compositores do século XIX, começando por Beethoven, substituíram o minueto pelo
scherzo, mais vivo, e também expandiram a forma. O da capo do scherzo é frequentemente
escrito para permitir ornamentação ou expansões de frases, e transições entre as seções são
usadas10. A forma ternária composta também é usada em peças para piano do século XIX,
incluindo valsas e mazurcas de Chopin, e peças características de Schubert, Schumann,
Brahms e outros. Normalmente, a primeira seção é uma forma binária com repetições ou uma
forma ternária simples. A seção intermediária apresentará um contraste no modo e no caráter
e geralmente é uma pequena forma com repetições; a recapitulação de A pode incorporar
ornamentações. A Figura 7.4 ilustra o design formal de uma valsa de Chopin. A primeira
seção é uma forma binária circular, com as repetições da primeira parte escritas. Essas
repetições são omitidas na recapitulação. Caracteristicamente, a seção intermediária de uma
dança ternária corresponde a um grupo de frases, como neste exemplo, ou a um período
repetido” (MATHES, 2007, p. 132).
Arias da capo
“As árias do período barroco também fazem uso de recapitulação completa da seção de
abertura através da indicação da capo al fine. Às vezes, o da capo é escrito para fornecer
ornamentações, mas sem alterar a estrutura da frase. A aria da capo pode estar na forma
ternária simples ou composta. Quando essas árias estão na forma composta, a primeira seção
é quase sempre uma forma independente, seja ela uma forma ternária simples ou uma forma
binária. A seção intermediária e contrastante corresponde a um grupo de frases modulatórias.
O Exemplo 7.5 mostra uma conhecida ária da ópera Rinaido de Haendel. Os dois versos do
texto são definidos em duas seções diferentes seguidas por um da capo da primeira seção. A
primeira parte é uma forma ternária seccional com claros contrastes entre as tonalidades de
tônica e dominante. A seção B fornece um contraste tonal característico, movendo-se para a
tonalidade relativa menor (Ré menor) e modulando para a sua dominante no modo menor (Lá
maior) ao final. Muitas árias barrocas da capo são extensas e elaboradas, mas cada seção
pode corresponder a um grupo de frases em vez de constituir uma pequena forma completa”
(MATHES, 2007, p. 132-133).
“Elas também incorporam um ritornelli instrumental que emoldura as seções vocais, o
que será discutido mais detalhadamente no Capítulo 13” (MATHES, 2007, p. 133).
10
“Ver, por exemplo, Mendelssohn, Sinfonia n. 4, II; Schumann, Sinfonia n. 4, III; e Brahms, Sinfonia n. 3, III”
(MATHES, 2007, p. 132).
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“A marcha nupcial de Mendelssohn de A Midsummer Night's Dream também incorpora repetições adicionais do trio e
da marcha. Outro exemplo de um movimento composto com dois trios ocorre no Clarinet Quintet K. 581 de Mozart”
(MATHES, 2007, p. 134).
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Resumo
§ “A forma ternária possui três seções, embora a terceira seja uma recapitulação, muitas
vezes variada, da primeira. Assim, a forma é baseada no princípio de exposição-
contraste-recapitulação. É esquematizada como forma ABA. A recapitulação da seção A
pode ser uma repetição variada, mas tende a ser uma recapitulação completa.
§ A forma ternária tende a ser seccional, tendo em vista que as seções A são quase
sempre tonalmente fechadas: elas começam e terminam na tonalidade da tônica; a
seção B pode ser tonalmente fechada ou aberta. Quando a seção A modula e termina
em uma nova tonalidade, a forma ternária é contínua. A recapitulação de A será
variada para fechar à tônica.
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§ Formas ternárias simples são aquelas em que cada seção é um período ou grupo de
frases, mas não uma forma independente. Esta forma é mais comum em canções ou
seções de formas ternárias maiores.
§ Formas ternárias compostas (compósitas) são aquelas em que uma, ou ambas as
seções, é em si uma forma independente. Ternário simples e binário circular podem ser
usados para quaisquer dessas seções independentes. A forma composta tende a
assumir duas roupagens:
(1) Formas da capo, nas quais A e B são ambas tonalmente fechadas, e A é
simplesmente repetida na íntegra, muitas vezes pela designação da capo ao final da
seção B. (Observação: enquanto minuetos e trios são sempre formas compostas, arias
da capo podem ser formas ternárias simples, com cada seção contendo um período,
grupo de frases ou sentença).
(2) Grandes formas ternárias, que são características de movimentos lentos em
sonatas. Aqui, a seção A é frequentemente um ternário simples, e as transições entre
as seções podem dar o efeito de uma forma contínua.
§ Formas ternárias contínuas, como ocorre no Lieder ohne Worte de Mendelssohn, têm os
atributos de um binário circular contínuo. Teóricos e analistas têm visões diferentes das
distinções entre essas duas pequenas formas. Alguns analistas descrevem a forma
binária circular como uma pequena forma ternária. Há argumentos para ambas as
descrições. As distinções entre as duas formas incluem os seguintes fatores:
(1) repetição de BA na forma binária – talvez o fator primordial;
(2) a totalidade do material de A é recobrada na forma ternária – a forma binária
circular tem apenas reformulações parciais da primeira seção;
(3) a estrutura tonal da seção B – na forma binária circular ela é claramente transitória
e frequentemente uma expansão da dominante.
§ A forma musical com 32 compassos consiste em quatro frases com oito compassos
(uma quadratura), mas pode ser entendida como uma forma ternária: aa (principal)-b
(ponte)-a (principal)” (MATHES, 2007, p. 138-139).
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Introdução
“A forma sonata, uma das formas musicais mais interessantes e flexíveis, foi
desenvolvida no período clássico e continuou a florescer nos séculos XIX e XX. As estruturas
formais dos movimentos da forma sonata são tão variadas, e muitas vezes exclusivas de uma
obra específica, que alguns autores e analistas se referem a ela por ‘formas sonata’ ou a
‘princípios de sonata’, em vez de forma sonata1. Outros sinônimos incluem ‘forma do primeiro
movimento’ ou ‘forma sonata allegro’, já que a forma é frequentemente encontrada no
primeiro movimento de obras instrumentais com multimovimentos, como sinfonias, quartetos
de cordas e sonatas. Também é usada em movimentos finais, movimentos lentos e,
ocasionalmente, em movimentos com minueto ou scherzo. Os princípios da forma sonata
foram adaptados a outros gêneros instrumentais, como concertos, aberturas, poemas
sinfônicos e óperas do período clássico” (MATHES, 2007, p. 143).
“Esses vários termos refletem a natureza multifacetada da forma musical e a estreita
relação entre forma e conteúdo discutida no Capítulo 1. Em nenhum lugar essa relação é mais
evidente do que nos movimentos em forma sonata. A distinção entre projeto formal e
estrutura formal permite a distinção entre um projeto comum em grande escala, no qual se
baseia a maioria dos movimentos da forma sonata, e as maneiras aparentemente infinitas
segundo as quais a forma pode ser estruturada. Assim, podemos identificar uma ‘forma
sonata’ básica enquanto reconhecemos os princípios flexíveis da forma sonata que moldam
diferentes movimentos de forma particular” (MATHES, 2007, p. 143).
“No contexto histórico, a forma sonata pode ser entendida, parcialmente, como uma
consequência das mudanças de estilo – do período barroco ao período clássico. Entre essas
mudanças estava um interesse crescente em escrever música instrumental dramática para a
performance em concertos públicos ou recitais privados. De uma perspectiva musical, a forma
é dramática de várias maneiras inter-relacionadas. Primeiramente, a forma sonata
normalmente contém contrastes distintos entre tonalidade, temas, texturas e movimentos
rítmicos. Esses contrastes servem para trazer uma sensação de conflito ou oposição entre
diferentes elementos e seções da forma. O mais importante em relação a esses contrastes é a
incorporação à forma dessa diferenciação de caráter nas diferentes seções – com funções
formais de exposição, desenvolvimento, transição e encerramento. Ademais, tais funções
formais refletem a oposição dramática entre áreas tonais ou tonalidades, reforçada por
elementos temáticos e texturais. Finalmente, esses contrastes nas tonalidades, temas,
texturas e funções geram uma sensação flutuante de estabilidade e instabilidade, ou de tensão
e relaxamento. O resultado é uma forma moldada pela intensificação em larga escala em
direção ao clímax e pela resolução da tensão e do discurso musical. Formas sonata bem
construídas assimilam esses elementos contrastantes e transmitem uma sensação de
coerência e continuidade, ao que o eminente autor inglês Sir Donald Tovey denominou ‘aptidão
dramática’” (MATHES, 2007, p. 143).
“Esses aspectos dramáticos da forma sonata representam alguns dos princípios que
orientam as maneiras específicas pelas quais um compositor moldará as ideias musicais. A
gama estilisticamente diversificada de temas e qualidades expressivas encontradas nas formas
sonatas são indicativas da flexibilidade na composição de uma forma sonata. Com esses
princípios e flexibilidade estilística em mente, podemos identificar um projeto em grande
escala para orientar o estudo da forma única de uma determinada composição ou movimento
na forma sonata. A discussão se concentrará em exemplos do período clássico de Mozart,
Haydn e Beethoven. Exemplos de períodos posteriores serão considerados para dar uma ideia
de como a forma continuou florescendo para refletir diferentes estéticas e estilos” (MATHES,
2007, p. 143-144).
1
“Ver Sonata Forms, de Rosen (1988); The Forms of Music, de Tovey (1956, p. 208-214); e Cadwallader e Gagne
(1998, p. 303). Rosen (1972), à luz de Tovey, também discute o ‘estilo sonata’ em The Classical Style” (MATHES,
2007, p. 143).
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Exposição
“A exposição da forma sonata começa com a exposição de um ou mais temas principais
na tonalidade da tônica. Na maioria dos casos, segue-se uma transição, que modula para uma
nova tonalidade. No período clássico a modulação é, normalmente, para a [tonalidade da]
dominante (V) ou, em tonalidades menores, para a relativa maior (III) ou para a dominante
menor (v). Uma cadência na nova tonalidade, frequentemente uma semicadência, geralmente
marca o fim da transição. A exposição temática do segundo material na nova tonalidade, que
se segue à transição, confirma a modulação e pode apresentar ideias contrastantes. O final da
exposição é marcado por uma forte atividade cadencial, muitas vezes reiterada, na nova
tonalidade. A expansão desta primeira seção da forma de duas partes resulta de segmentos
contrastantes distintos nas tonalidades de abertura e fechamento, ou áreas tonais, com uma
passagem de transição que conduz da primeira área tonal à segunda área tonal. A modulação
para a nova tonalidade e sua confirmação são, assim, enfatizadas de maneira dramática”
(MATHES, 2007, p. 144).
“A ampla sequência de eventos descritos acima é encontrada na maioria das exposições
da forma sonata. O número de temas, e seu caráter e extensão, os processos temáticos e as
estruturas internas das frases, a extensão e as proporções das seções, bem como o grau de
separação ou continuidade dentro e entre as seções são altamente variáveis. Refletem a
habilidade e a imaginação do compositor” (MATHES, 2007, p. 145).
“A interação diversificada de elementos tonais e temáticos encontrados nas formas
sonatas resultou em vários termos diferentes, que são usados para delinear uma exposição da
forma sonata. Termos como primeiro tema [first theme] e segundo tema [second theme]
são frequentemente usados para descrever os temas de cada uma das áreas tonais em uma
exposição. Essa visão temática da forma é problemática, porque mais de um tema pode
ocorrer em qualquer momento de uma exposição, e algumas formas sonatas iniciam a
segunda área tonal com uma recordação do tema de abertura do movimento. Também
encontramos os termos primeiro grupo temático [first group] e segundo grupo temático
[second group]. O primeiro termo geralmente se refere a tudo até a cadência que conclui a
transição; o último termo, a tudo o que se segue. Esses termos indicam uma divisão bipartida
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de uma exposição, que é instrutiva, mas nem sempre é explicitamente claro se eles se referem
a grupos de temas, frases ou áreas tonais2” (MATHES, 2007, p. 145).
“A primazia do design tonal e da estrutura na clarificação das divisões formais sugere o
valor da utilização de termos associados à tonalidade e às correspondentes designações
temáticas. A Figura 8.2 apresenta um esboço de uma exposição da forma sonata com os
termos que serão usados neste texto” (MATHES, 2007, p. 145).
“Os termos área tonal principal (ATP; principal tonal área, PTA) e área tonal
secundária (ATS; secondary tonal área, STA) na Figura 8.2 refletem: (1) a base tonal do
design; (2) que a segunda tonalidade é secundária à tonalidade da tônica original; e (3) que as
tonalidades são estabelecidas em uma área ou segmento distinto da forma3. A oposição entre
tonalidades refletida nesta terminologia será resolvida na recapitulação, quando o material de
tonalidade secundária for ouvido na tônica. O uso dos termos tema principal (TP; principal
theme, PT) e tema secundário (TS; secondary theme, ST) no diagrama enfatiza a associação
de temas específicos com áreas tonais específicas. Qualquer referência a temas também deve
levar em consideração que vários temas podem ocorrer nas diferentes áreas tonais, bem como
na transição (discutida posteriormente). Muitas vezes é necessário referir-se a TP1, TP2 ou TS1,
TS2 e assim por diante, se mais de um tema distinto for ouvido em uma área tonal. Este
aspecto será considerado mais adiante nos exemplos” (MATHES, 2007, p. 145).
“A Figura 8.2 também mostra alguns padrões cadenciais típicos, que articulam limites
formais. Como cada seção pode incluir uma ou mais frases, cadências adicionais podem ser
ouvidas dentro das seções. Embora a posição e a ênfase dada às cadências variem, o
movimento direcionado para cadências marcantes, como ocorre em toda música tonal, é um
aspecto crítico da forma. As divisões funcionais da exposição também estão sujeitas a diversas
subdivisões e agrupamentos. Muitas vezes, a exposição pode ser bipartida, com a conclusão da
parte 1 marcada por semicadência na tonalidade secundária ao final da transição. O TS
geralmente terminará com uma CAP que confirma a nova tonalidade e uma CAP final encerrará
a exposição. Examinaremos três exposições da forma sonata com o intuito de ilustrar algumas
abordagens comuns para apresentar ideias e articular a forma. Você deve ouvir atentamente
cada exemplo duas vezes, com e sem partitura, antes de ler a análise. Cada movimento será
examinado por sua vez, seguido de um resumo dos aspectos principais” (MATHES, 2007, p.
145-146).
“Mozart, Sonata para piano K. 332, em Fá maior, I (Exemplo 8.1). Ao ouvir a
exposição do primeiro movimento desta sonata, observe em particular os seguintes elementos
à medida que a obra musical avança: (1) dois temas principais, cada um fechado por uma CAP
na tônica; (2) uma extensão cadencial no final do segundo tema principal, conduzindo a uma
modulação direta para uma tonalidade menor e uma mudança marcante no caráter [na
transição]; (3) uma SC seguida por uma pausa e um novo tema, secundário, qualificado como
período; (4) dois temas de fechamento, sendo o primeiro sequenciado; e (5) uma frase de
2
“Muitos outros termos semelhantes podem ser encontrados, incluindo primeiro sujeito/ segundo sujeito, ou tema
principal/ tema subordinado [ou tema principal/ tema secundário]. Todos os termos refletem a divisão temática ou
tonal da exposição bipartida” (MATHES, 2007, p. 145).
3
“Os termos ‘região’ e ‘zona’, referindo-se a áreas tonais, também podem ser encontrados em textos sobre a forma
sonata” (MATHES, 2007, p. 145).
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fechamento [codetta bipartida] que contém trinados [encerra a exposição]” (MATHES, 2007, p.
147).
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“Tendo ouvido esse movimento, você deve ter observado a habilidade de Mozart em
introduzir várias ideias musicais contrastantes em uma exposição. Apesar do número de temas
diferentes, a maestria de Mozart na harmonia e na condução das vozes, e seu infalível senso
de movimento rítmico e estrutura de frase, permitem que essas ideias contrastantes fluam
umas para as outras no interior de uma forma claramente concebida” (MATHES, 2007, p. 147).
“A seção de abertura contém dois temas distintos, nos compassos 1-12 e 13-22, cada
um trazendo ideias contrastantes. Esses temas confirmam a tônica inicial de Fá maior e são
articulados por uma clara CAP. Somos levados ao início de uma transição quando as extensões
cadenciais do segundo tema principal conduzem a uma mudança direta para Ré menor, a
tonalidade relativa menor. A mudança na tonalidade também é marcada pela introdução de
um novo material – arpejos, acordes completos e passagens escalares – e uma mudança
abrupta para um caráter ‘sturm und drang’ (tempestade e ímpeto). Essa transição termina
com uma harmonia dominante prolongada (compassos 37-40) que expande a frase final e
enfatiza a cadência no compasso 40. A tensão da transição é aumentada pela modulação para
a dominante menor (dó menor), seguida por uma mudança no modo para a tonalidade
esperada de Dó maior. Note-se também a distinta quebra no movimento rítmico que marca
claramente o fim da transição e o início do tema secundário, uma estratégia característica de
Mozart. Essa quebra divide a exposição em duas grandes seções: a ATP com a transição, e a
ATS, incluindo o TS e o tema de fechamento (TF; closing theme, CT)” (MATHES, 2007, p.
147-148).
“O tema secundário, nos compassos 41-56, é um período duplo paralelo de 16
compassos. Esses temas simétricos geralmente iniciam uma ATS [área tonal secundária], pois
contribuem para uma sensação de estabilidade após a instabilidade e o impulso da transição.
Complementando esta estrutura de frase estável, uma personalidade lírica é frequentemente
associada a um tema secundário, embora tais qualidades não devam ser excessivamente
generalizadas. Quando a ATS começa com um tema independente qualificado como período e
que termina com uma cadência autêntica, as ideias subsequentes são normalmente agrupadas
como uma seção final da exposição” (MATHES, 2007, p. 148).
“Nesta exposição são apresentados dois temas finais distintos, a partir dos compassos
56 e 71, respectivamente. Observe como o TF1 começa com repetições de dois compassos,
que permitem uma mudança para a dominante menor e servem como introdução a uma
sequência. Da mesma forma, os compassos 67-70 estendem a harmonia da dominante com o
movimento contínuo de colcheias que conduz ao TF2. São exatamente esses tipos de
estruturas de frase que revelam o forte senso de movimento rítmico e a continuidade de
Mozart, e que contribuem para uma estrutura formal bem concebida. O TF1 também inclui
extensões usando cadências evadidas para enfatizar a CAP no compasso 86. Os últimos oito
compassos da exposição seguintes são entendidos como codetta, uma passagem curta de 1-4
compassos que prolonga um acorde de tônica ou uma progressão cadencial4. Uma codetta
pode ter um único compasso ou uma frase com quatro compassos. Normalmente, uma codetta
se segue a uma CAP forte, que pode encerrar a exposição, portanto funciona como um recurso
de reforço da cadência. Neste exemplo, a codetta é bipartida” (MATHES, 2007, p. 148).
4
“Caplin (1998, p. 253)” (MATHES, 2007, p. 148).
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“Haydn, Sonata para piano n. 52, em Mib maior (Exemplo 8.2)5. Ouça a exposição
deste movimento e observe que o compasso de abertura, ou uma variação dele, é ouvido
várias vezes na exposição. Observe se a continuação dessa ideia é baseada em um novo
material ou no material do tema de abertura. Por que os últimos cinco compassos da
exposição seriam considerados uma codetta?” (MATHES, 2007, p. 150).
5
“Para uma descrição dos elementos estilísticos desse movimento, ver Classic Music, de Ratner (1980, p. 412-421)”
(MATHES, 2007, p. 150).
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“Os oito primeiros compassos do movimento trazem dois temas distintos, nos
compassos 1-5 e 6-8, respectivamente. Observe como as repetições no compasso 4 expandem
o primeiro tema para cinco compassos e como a harmonia tônica e a cadência são evitadas no
compasso 6. Os compassos iniciais são variados nos compassos 9-10, desta vez em um novo
registro e conduzindo a uma cadência forte. Esse material musical serve, portanto, tanto para
encerrar quanto para iniciar o TP. Esta reinterpretação da função formal de um tema é um tipo
de jogo musical e sagacidade que os compositores clássicos exploraram frequentemente”
(MATHES, 2007, p. 150).
“A transição subsequente começa no compasso 11, com uma recapitulação do TP2.
Observe como a mudança no registro desse tema sinaliza uma continuação potencialmente
diferente. O tema agora é usado em uma sequência descendente que modula para Sib menor
(v). Como no Exemplo 8.1, uma elaboração da dominante (neste caso, uma nota pedal)
conclui a transição e enfatiza fortemente a chegada da ATS no compasso 17” (MATHES, 2007,
p. 150).
“Esta ATS em Sib maior no compasso 17 começa com a ideia motívica do primeiro
compasso do movimento. Os nove compassos depois disso, no entanto, fornecem uma série de
novas elaborações motívicas que conduzem a uma forte CAP no tempo forte do compasso 27.
Os compassos 17-27 são, portanto, designados TS1. A próxima seção, então, traz duas ideias
temáticas diferentes em uma frase de seis compassos, que elidem no compasso 33. Essas
ideias motivicamente relacionadas não contêm características distintas de fechamento e são
melhor compreendidas como TS2. A mudança marcante no registro, dinâmica e caráter dão ao
tema nos compassos 27-29 uma qualidade de tema entre parênteses. O compasso 33 traz
mais uma referência aos motivos de abertura do TP. Esta rememoração variada e nova
continuação conduz à cadência forte e conclusiva no compasso 40. Os compassos 33-40
podem, portanto, ser designados TF, observando-se o uso variado do material do TP. Os
últimos quatro compassos (40-43) funcionam como uma codetta, reforçando o forte
fechamento da CAP ouvida no tempo forte do compasso 40” (MATHES, 2007, p. 151).
“O uso do material temático principal ao longo da exposição, notadamente no início da
ATS, resulta no que é comumente denominado forma sonata monotemática. Essa prática é
mais frequentemente associada a Haydn. O termo não deve ser interpretado literalmente, pois
outros temas são invariavelmente introduzidos nas transições ou nas seções finais. Este
exemplo também ilustra as possibilidades de uma exposição contínua, na qual não se ouve
uma quebra distinta – uma bipartição – entre TP/Trans [transition, Tr] e ATS/TS. Disso resulta
uma certa ambiguidade formal, porque os elementos tonais e temáticos estão fora de fase: a
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“Novamente, vemos que um tema principal pode conter várias ideias. Os primeiros 12
compassos compõem o TP e contêm quatro ideias distintas. [Na transição,] a recapitulação das
ideias iniciais com mudança de registro (compasso 13) inicia uma frase que irá modular para a
dominante da dominante (Fá# maior, dominante de Si maior). Observe como a anacruse no
compasso 22, que inicia a ATS e o TS1, volta-se imediatamente para Si maior” (MATHES,
2007, p. 153).
“A ATS nesta exposição mostra como mais de um tema secundário pode ser
incorporado em uma exposição. As repetições variadas da frase com quatro compassos, nos
compassos 23-26, e as cadências autênticas imperfeitas geram um sentido contínuo, ou
necessidade, de continuação. Um segundo tema secundário (TS2, compassos 39-46)
corresponde a um período com oito compassos, que finalmente conduz a uma CAP elidida e
um TF (compassos 46-56). Novamente, vemos cadências evadidas no tema de fechamento
como forma de enfatizar uma cadência conclusiva (compassos 56-57), que é seguida por uma
breve codetta para concluir a exposição. A codetta usa material do TP, agora invertido, e serve
de transição para a repetição do movimento” (MATHES, 2007, p. 153).
“Cada uma das três exposições descritas varia em sua expressão e em estrutura
formal, como seria de esperar de uma forma tão flexível quanto a forma sonata. No entanto,
todas elas exibem algumas semelhanças gerais na sequência de funções formais e no uso de
certos processos. A discussão a seguir resume os atributos das várias seções das formas
sonatas” (MATHES, 2007, p. 153).
Área tonal principal e temas
“A função da seção inicial de uma forma sonata é introduzir ideias temáticas e
estabelecer a tonalidade da tônica. O tema ou temas principais, que abrem um movimento da
forma sonata, podem ser tão curtos quanto uma única frase ou conter várias frases e temas.
Ideias ou motivos contrastantes são frequentemente encontrados nos temas principais, como
ilustram esses exemplos. Frequentemente, o tema é uma estrutura de sentença ou período,
que, juntamente com as cadências na tonalidade principal, dão uma sensação inicial de
estabilidade. Seja qual for a sua dimensão, o final da área tonal principal é normalmente
marcado por uma cadência, seja uma SC ou CA na tonalidade da tônica. A maneira pela qual
essa cadência pode ser conectada à transição subsequente e a forma da transição podem
muitas vezes obscurecer esse limite formal” (MATHES, 2007, p. 153).
Transição
“Os exemplos anteriores ilustram as seguintes características de transições:
§ Normalmente, as transições atingem uma semicadência que conclui um prolongamento da
harmonia dominante, o que é denominado preparação à dominante. A duração da
preparação à dominante pode variar de alguns compassos a uma longa elaboração de
harmonias cadenciais.
§ A harmonia dominante pode ser elidida em uma CAP no início do tema secundário, embora
muitas vezes seja um ponto marcante de chegada cadencial a uma SC, bipartindo a
exposição.
§ A atividade rítmica acelerada e as mudanças na textura, principalmente os contrastes no
registro e no âmbito, e o aumento nos níveis dinâmicos são características das passagens
de transição. Tais mudanças rítmicas e texturais podem ser repentinas, como na sonata de
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Mozart, ou progressivas. Essas mudanças, assim como a instabilidade tonal criada pelas
modulações e mudanças no ritmo harmônico, geram uma sensação de tensão e
instabilidade característica das transições. Essa tensão cumulativa geralmente é resolvida
ao início da ATS” (MATHES, 2007, p. 153).
“Outras características desses exemplos são indicativas de estratégias composicionais
variadas que podem ser encontradas em transições de forma sonata. As transições de Haydn e
Beethoven começam com uma recapitulação variada dos compassos de abertura do tema
principal. O termo contraexposição (CExp; [counterstatement, CS]) é frequentemente
utilizado para identificar essa técnica, na qual os motivos ou ideias de abertura são
reafirmados e possuem uma continuação que modula. Assim, a contraexposição é diferente ou
‘contraditória’ em relação ao tema original. Uma contraexposição é uma das formas mais
audíveis de reconhecer que uma transição está começando. Em contraste, no exemplo de
Mozart, a mudança na tonalidade e o novo material temático no compasso 23 marcam o início
da transição. Embora contraexposições ou novos materiais sejam usados para iniciar as
transições, o último talvez seja até mais comum6” (MATHES, 2007, p. 153-154).
“Também é importante observar que as transições geralmente começam na tonalidade
da tônica. Embora o ponto de modulação possa ser ouvido ou identificado em um ponto
específico da transição, a transição como uma unidade formal deve ser entendida como uma
frase ou grupo de frases que conduz a uma nova tonalidade. Exatamente onde a modulação é
colocada e como ela é alcançada é uma parte crítica do processo composicional. Muitas
transições são bipartidas: uma primeira parte modula e uma segunda parte usa a preparação à
dominante para conduzir a uma SC. A parte 1 pode fazer um movimento direto e repentino
para a nova tonalidade, ou pode primeiro tonicizar outra tonalidade – mais frequentemente ii
ou vi – antes de modular para V” (MATHES, 2007, p. 154).
Área tonal secundária
“A função da área tonal secundária é introduzir material temático adicional, associado à
nova tonalidade, e encerrar de forma decisiva a exposição na nova tonalidade. A ATS também
pode elaborar e aprofundar os temas ou motivos da ATP. Como na área tonal principal, a
quantidade, extensão e caráter expressivo dos temas e as proporções da ATS são altamente
variáveis. Consequentemente, a divisão da ATS em temas secundários e de encerramento está
sujeita a diferentes interpretações, dependendo da estrutura temática específica de uma
determinada exposição. De modo geral, a seção final e os temas podem ser entendidos como
aqueles que se seguem à primeira CAP na nova tonalidade. Isso normalmente significa que há
um tema secundário seguido por uma série de um ou mais temas finais. Este modelo é mais
claramente o caso quando a ATS começa com um novo tema que é um período ou sentença.
Como fica evidente nos exemplos de Beethoven e Haydn, às vezes as ideias dos temas
principais são usadas nas seções finais. Os temas de fechamento geralmente contêm a maioria
dos seguintes elementos:
§ repetição de frases curtas ou semifrases de 2-4 compassos;
§ elisões de frases e cadências evadidas;
§ movimento rítmico e harmônico acelerado;
§ extensões de frase que enfatizam cadências na nova tonalidade” (MATHES, 2007, p. 154).
“As cadências elididas, as cadências evadidas e as repetições de frases geram uma
sensação contínua de movimento em direção ao fechamento, ao mesmo tempo em que
atrasam a chegada de uma CAP conclusiva na nova tonalidade. A continuidade de movimento
resultante é característica dos temas de fechamento e da ATS em geral” (MATHES, 2007, p.
154).
“Nos movimentos em que várias ideias temáticas ocorrem na ATS sem as
características rítmicas e de frase das seções finais, mais de um TS pode ser identificado.
Outra visão temática da ATS é que ela deve ser entendida como uma série de temas
secundários, com a designação de temas de fechamento reservada para aqueles ouvidos na
codetta de um movimento. Essa visão é razoável quando há vários temas distintos na ATS
antes que o material de fechamento característico apareça em uma codetta ou coda. A
6
“O termo ‘transição dependente’ também é usado para se referir a uma transição que usa material do TP; o termo
‘transição independente’ refere-se à que não o faz” (MATHES, 2007, p. 154).
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segmentação de temas e seções, por mais que sejam interpretados funcionalmente, deve ser
consistente se for dada atenção cuidadosa aos elementos tonais e temáticos. Em outras
palavras, qualquer que seja a interpretação das funções temáticas na exposição mostrada no
Exemplo 8.2, as vinculações formais importantes ocorrem nos compassos 9-10, 17, 27, 33 e
40” (MATHES, 2007, p. 154).
“Nota analítica: Onde quer que alguém interprete o início da seção final de uma
exposição, um aspecto crítico da ATS é uma confirmação da nova tonalidade por uma CAP
forte na nova tonalidade. Essa cadência é denominada fechamento essencial da exposição
(FEE; essential expositional close, EEC]). Normalmente esta é a primeira CAP na nova
tonalidade7” (MATHES, 2007, p. 155).
Limites formais e agrupamento da transição
“Como a transição começa e continua, ela tem um papel distinto na percepção da
grande estrutura agrupada da exposição. Quando uma contraexposição é iniciada na
tonalidade da tônica, principalmente após uma SC, é razoável perceber o início da transição
como uma continuação da ATP, pois o início da transição pode ser ouvido inicialmente como o
consequente de um período maior. Essa percepção apoia o agrupamento da transição com o
tema principal e a área tonal. Quando a transição começa com mudanças marcantes no tema ou
na tonalidade, como no exemplo de Mozart, é mais provável que a transição seja ouvida como
um evento formal separado entre as duas áreas tonais/ temáticas” (MATHES, 2007, p. 155).
“Muitas formas sonata exibem divisões menos claras devido à maneira segundo a qual
os temas principais e a transição estão conectados e em razão de como o movimento tonal
molda a chegada a uma área tonal secundária. Considere o famoso movimento de abertura da
Sinfonia n. 5 de Beethoven (Exemplo 8.4). Após o gesto introdutório dramático, a ATP
começa com uma estrutura de sentença com dezesseis compassos que atinge uma SC e uma
pausa, seguida por uma repetição variada da introdução da frase. A repetição do motivo de
abertura em um gesto descendente é ouvida nos compassos 25-33, que contêm uma
progressão V-i repetida” (MATHES, 2007, p. 155).
“A subsequente fragmentação, aceleração rítmica e ascensão de registro ouvidas nos
compassos 34-44 aumentam o impulso e a tensão da obra musical na forma de uma transição.
No entanto, a continuidade rítmica, as repetições motívicas e a ênfase contínua nas harmonias
de tônica e dominante através do compasso 51 sugerem que esta ainda é uma expansão do
tema principal. É apenas nas repetições motívicas nos compassos 52-56 que uma modulação
repentina é feita perto do final de toda a passagem. Em um gesto notavelmente dramático
(compassos 57-62), Beethoven expande a resolução para a nova tonalidade com pausas,
acrescentando uma denominada trompa ousada para anunciar o início da ATS” (MATHES,
2007, p. 155).
“Aqui, então, as duas funções formais, de tema principal e de transição, são fundidas de
tal forma que não ocorre nenhuma divisão clara. Esse processo de fusão decorre da fusão de
duas funções formais diferentes em uma única unidade, por movimento harmônico e rítmico
contínuo. É uma das formas mais significativas de se obter continuidade de movimento, em
uma forma que é facilmente seccionada por contrastes internos8” (MATHES, 2007, p. 155).
Transição não modulatória
“Há casos em que uma transição não modulará, mas alcançará uma SC forte na
tonalidade da tônica original, seguida por uma mudança direta para a ATS e para um novo
tema. A obra musical ainda exibirá as características de uma passagem de transição –
atividade rítmica acelerada, ritmos harmônicos mais rápidos, expansão de âmbito e uso de
novas ideias – para distinguir sua função do TP. O uso de uma transição não modulatória é
uma estratégia que permite uma recapitulação exata da transição na recapitulação9” (MATHES,
2007, p. 155).
7
“Hepokoski e Darcy (1997)” (MATHES, 2007, p. 155).
8
“Ver Classical Form, de Caplin (1998, p. 165-67 e 209-211), para discussão adicional e exemplos da fusão de
unidades formais em formas sonata” (MATHES, 2007, p. 155).
9
“Um bom exemplo de uma transição não modulante pode ser encontrado na Sonata para piano K. 311, em Lá
menor, I, de Mozart+” (MATHES, 2007, p. 155).
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“Um exemplo final, de Haydn (Exemplo 8.5), ilustra como mudanças drásticas na
textura e na atividade rítmica podem preceder a transição. Lembre-se do gracioso e moderado
tema de abertura da Sinfonia n. 104, I, Allegro, de Haydn (Exemplo 4.10). Este tema
qualificado como período elide em um momento em que está com uma textura que traz
fortissimo tutti e com uma nova ideia temática (TP2). Essas mudanças marcantes podem
sugerir o início de uma transição, mas não o é até 18 compassos depois, no compasso 50,
onde outra nova ideia inicia a frase de transição. A transição (compassos 50-64) continua o
movimento rítmico básico e a textura da passagem anterior. Nesse caso, então, os temas
principais são fortemente contrastantes em textura e movimento rítmico, enquanto a frase de
transição é uma continuação das texturas do segundo tema principal” (MATHES, 2007, p.
157).
“Como esses exemplos ilustram, a extensão e as conexões das frases, o número de
temas e a colocação da modulação na primeira metade de uma exposição são importantes
para a forma e o efeito dramático da forma. São esses elementos da exposição que um
compositor irá reconsiderar ou reinterpretar quando a recapitulação dos temas for
apresentada” (MATHES, 2007, p. 157).
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ATS no compasso 41. O que torna essa divisão ambígua? Como Beethoven consegue a
sensação de que os pontos de chegada imediatamente se tornam pontos de continuação, uma
característica marcante de sua obra musical? Explique por que a divisão da ATS em TS e TF
não é direta” (MATHES, 2007, p. 161).
7. “Beethoven, Sonata para piano op. 53, em Mi maior, I. Esta exposição articula
claramente divisões marcadas por mudanças no movimento rítmico. Como começa a
transição? Qual é a função dos compassos 23-34? Que tipo de estrutura de frase é usada para
o tema secundário? A seção final começa no compasso 50. Como Beethoven fornece
continuidade do tema secundário para esta seção? Quantos temas finais você consegue
identificar? Descreva os processos texturais e rítmicos que ele usa para moldar esta seção
final. Onde está o clímax desta seção? Que outra função a codetta assume?” (MATHES, 2007,
p. 161).
Desenvolvimento
“A forma sonata está essencialmente preocupada com a exposição, a elaboração, o
contraste e o desenvolvimento de ideias. A seção formal denominada desenvolvimento é a
seção central de uma forma sonata, na qual os temas anteriores são ouvidos em novas
texturas e combinações, em novas tonalidades e em estruturas frasais variadas. No entanto, o
material temático pode ser desenvolvido em qualquer seção de uma forma sonata,
principalmente em passagens transicionais e codas. A principal função tonal da seção de
desenvolvimento é retornar à tonalidade da tônica. Isso geralmente é enfatizado pela
preparação à dominante em sua conclusão. O efeito geral é aumentar a tensão e aumentar
a necessidade de resolução de volta à tônica, que ocorre quando a recapitulação começa. O
design temático e tonal dos desenvolvimentos está sujeito a uma gama tão grande de
variações que generalizações sobre seu design são difíceis. A discussão a seguir apresenta
algumas ideias básicas sobre como os desenvolvimentos começam, as técnicas e processos de
composição encontrados nos desenvolvimentos e algumas estratégias para fechar uma seção
de desenvolvimento” (MATHES, 2007, p. 162).
Iniciando o desenvolvimento
“O desenvolvimento pode começar com temas previamente introduzidos ou,
eventualmente, com um novo tema. Uma estratégia comum é começar com o tema principal
na tonalidade secundária e posteriormente modular. O Exemplo 8.6 fornece dois desses
exemplos. No Quarteto de Haydn (Exemplo 8.6a), o desenvolvimento começa com os
motivos do tema principal, mas usa a contraexposição que iniciou a transição. Esta frase
modula rapidamente de Sol maior (V) para Lá menor (vi) e é seguida por uma série de
tonicizações. O desenvolvimento da Sonata para piano de Beethoven op. 2, n. 1 (Exemplo
8.6b) começa com uma retomada do tema principal em Láb maior (III), que é fragmentado e
modula para Sib menor (iv). Em cada um desses exemplos, o tema é variado para modular
através de uma continuação diferente, que altera sua estrutura frasal. Estas alterações criaram
de imediato um sentimento de instabilidade e inquietação característico dos desenvolvimentos.
Ver também a Sonata para piano op. 14, n. 1, de Beethoven, em que a codetta se estende até
a segunda terminação. Beethoven faz um movimento de passagem pela tônica – Mi maior –
mas continua com uma modulação para Lá menor” (MATHES, 2007, p. 162).
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“O desenvolvimento também pode começar com uma frase de transição para modular
da tonalidade secundária para uma nova tonalidade, que iniciará a parte principal do
desenvolvimento. O efeito aqui é de uma passagem que conecta a exposição ao início real do
desenvolvimento10. A Sonata para piano n. 52 de Haydn começa com um fragmento da seção
final (ver Exemplo 8.2, compassos 44-45), que imediatamente efetua uma modulação de Sib
maior (V) para Dó maior (VI). Segue-se uma exposição de um tema secundário nesta nova
tonalidade” (MATHES, 2007, p. 162).
“O início do desenvolvimento na Sinfonia n. 41, I, de Mozart, compassos 121-123, é um
exemplo semelhante (ver Exemplo 8.8). Aqui, Mozart usa um fragmento do TP para modular
de Sol maior (V) para Mib maior (IIIb). Ele, então, retorna a um tema de fechamento da
exposição. Esses exemplos refletem o gosto de Haydn e Mozart por iniciar o desenvolvimento
com um tema ou motivo de encerramento da exposição, proporcionando um senso de
continuidade de uma seção para a outra” (MATHES, 2007, p. 163).
10
“Caplin usa os termos ‘núcleo’ e ‘pré-núcleo’ para distinguir entre a parte principal de um desenvolvimento e as
passagens que o precedem. Veja Caplin (1998, p. 147-57) para uma discussão mais aprofundada das características
de um pré-núcleo” (MATHES, 2007, p. 162).
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“Qualquer tonalidade, por mais próxima ou distante que seja, pode aparecer em uma
seção de desenvolvimento. Em obras do período clássico, a submediante (vi) é uma das
tonalidades mais frequentemente encontradas, assim como uma mudança de modo, de maior
para menor. O desenvolvimento relativamente breve da Sonata para piano K. 332 de Mozart
(Exemplo 8.7) ilustra essas características. O compasso 109 retorna a um tema de
fechamento sequencial da exposição. Uma mudança no modo, de Mi maior para Mi menor
(compasso 111), é seguida pela tonicização de Sol menor (ii) e, então, por uma modulação
para Ré menor (vi). A seção final (compassos 123-133) retorna à tônica, conforme discutido
abaixo” (MATHES, 2007, p. 165).
“Desenvolvimentos mais elaborados podem modular através de várias tonalidades,
muitas vezes atingindo uma tonalidade muito remota antes do retorno à tonalidade principal
do movimento. Leonard Ratner usa o termo ‘ponto mais remoto’11 para se referir à tonalidade
mais distante alcançada em um desenvolvimento, que normalmente conduz à modulação para
a tônica. Um esboço das tonalidades e texturas do desenvolvimento do finale da Sinfonia n. 40
de Mozart é mostrado na Figura 8.3. Esta obra musical agitada e motriz baseia-se
exclusivamente no tema principal do movimento, com uma ampla gama de texturas. Alcança a
tonalidade remota de Dó# menor (iv#) – o ponto ‘mais remoto’ – antes de voltar para a tônica”
(MATHES, 2007, p. 167).
Fragmentação e sequência
“Uma vez que os temas da forma sonata são muitas vezes compostos por semifrases de
dois a quatro compassos de dimensão, eles naturalmente se prestam à fragmentação. Isso,
por sua vez, permite diferentes continuações e variações na estrutura frasal, que são
características dos desenvolvimentos. Cada uma das passagens mostradas no Exemplo 8.6,
por exemplo, usa fragmentos repetidos de temas principais para criar novas continuações que
efetuam modulações. A fragmentação de temas em unidades menores e sua exposição em
repetições sequenciais é uma técnica básica das seções de desenvolvimento. O Exemplo 8.9
mostra uma passagem do desenvolvimento da Sonata para piano op. 53, I, de Beethoven. O
compasso 96 continua com uma exposição compactada dos motivos do TP ouvidos nos
compassos 93-95. Essa ideia que ocupa um compasso é fragmentada novamente no compasso
103, usando repetições do motivo b para acelerar o movimento. O motivo a é então
apresentado em uma sequência em pianissimo, começando no compasso 104, que usa uma
série de harmonias secundárias. Observe como o padrão de dois compassos é comprimido em
um único compasso quando a passagem termina (compasso 109), acelerando o movimento em
direção a uma SC no compasso 112. Essa técnica de compressão, na qual um padrão
sequencial ou melódico é ainda mais fragmentado, empresta à obra musical uma sensação de
urgência e tensão12” (MATHES, 2007, p. 167).
11
“Classical Form, de Ratner (1980, p. 226)” (MATHES, 2007, p. 167).
12
“Outros termos que podem ser encontrados para a compressão de ideias incluem ‘abreviada’ e ‘telescópica’”
(MATHES, 2007, p. 167).
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“Às vezes, novos temas são introduzidos no desenvolvimento, embora essa não seja
uma estratégia encontrada com frequência. Um exemplo famoso ocorre no primeiro
movimento da Sinfonia n. 3 de Beethoven, começando no compasso 284. Esse tranquilo tema
lírico é ouvido pela primeira vez na tonalidade de Mi menor (iib), uma tonalidade muito distante
da tônica de Mib maior que marca o ‘ponto mais remoto’ no desenvolvimento. Vindo após uma
dissonância intempestiva e inflexível na passagem anterior, o efeito desse tema é o de uma
breve e quase misteriosa liberação de tensão. Também inicia os estágios finais do
desenvolvimento massivo desse movimento” (MATHES, 2007, p. 168-170).
Retransição
“A seção final de um desenvolvimento que conduz ao início da recapitulação é
denominada retransição. A característica mais saliente da retransição é uma modulação de
volta à tônica original. As retransições geralmente são marcadas por uma mudança na textura
e na dinâmica, bem como por padrões melódicos repetidos. O Exemplo 8.7, compassos 123-
132, ilustra esses processos. Uma SC em Ré menor (vi) no compasso 123 é seguido por uma
mudança na textura, que inicialmente expande a dominante de Ré menor. O movimento
melódico repetido em terças eventualmente progride para o acorde V7 em Fá maior. Uma
iteração silenciosa dessa harmonia na posição fundamental (compassos 131-32) conduz ao
retorno da ATP e do tema principal. A ênfase na tonalidade da submediante antes ou dentro da
retransição é uma das estratégias favoritas de Mozart” (MATHES, 2007, p. 170).
“O Exemplo 8.11a mostra a segunda parte da retransição da Sinfonia n. 104, I de
Haydn. Essa passagem continua as apresentações motívicas e a ascensão melódica da
passagem anterior, atingindo o clímax no compasso 190. O pedal de dominante persistente,
reiterado nos tímpanos e o baixo em Ré maior, reforça a atmosfera desse momento. Em
seguida, uma pausa dramática introduz a recapitulação no compasso 194. Frequentemente, a
retransição terminará com uma passagem estendida de preparação à dominante, usando uma
nota pedal que começa com uma mudança marcante na textura e no tema, como ocorre no
Exemplo 8.11b. Tal passagem pode ser entendida como a retransição real, embora seja a
passagem anterior a que afeta a modulação de volta à tônica. Com efeito, o resultado é uma
retransição bipartida. Observe o uso da tônica menor (Mi menor) para trazer ênfase
dramática” (MATHES, 2007, p. 171).
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“O Exemplo 8.12 mostra ainda outra estratégia para uma retransição: uma modulação
repentina ou direta para a tonalidade da tônica. Após uma passagem turbulenta e lúdica em Mi
maior (III), Haydn muda de modo para Mi menor e reduz a textura e a dinâmica nos
compassos 75-78. À medida que a dinâmica recua para pianissimo, a textura se afunila e as
repetições melódicas no compasso 78 parecem interromper o movimento rítmico e harmônico
da passagem. Em um golpe espirituoso e rápido, Haydn volta diretamente para Dó maior (I) e
começa a recapitulação com encalço no compasso 79. Esses três exemplos dão uma ideia da
gama de proporções e efeitos expressivos que os compositores podem explorar nessa
importante conjuntura formal13” (MATHES, 2007, p. 172).
13
“Veja Shagmar (1981) para uma discussão sobre a localização das retransições” (MATHES, 2007, p. 172).
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Flutuações de tensão
“O desenvolvimento do material musical por mudanças na tonalidade, textura, ordem
temática e estrutura da frase, e a mudança dramática no caráter expressivo dos temas, tudo
isso contribui para uma sensação de instabilidade e tensão que prevalece no desenvolvimento.
Entretanto, flutuações na tensão são igualmente importantes para a forma de um
desenvolvimento. Passagens com uma breve estase ou repouso podem ser introduzidas com o
intuito de aumentar a tensão e participar de uma renovação no desenvolvimento. Técnicas
expositivas como a introdução de um novo tema, frases qualificadas como períodos, repetições
melódicas ou atividade harmônica estável podem gerar um repouso momentâneo, muitas
vezes complementado por uma recessão dinâmica14. Outra técnica de desenvolvimento
consiste na opção por uma falsa retransição, na qual há uma dominante prolongada na
tonalidade errada – uma tonalidade diferente da tônica – que desvia nossas expectativas de
uma solução futura na tônica original. Uma falsa recapitulação subsequente pode ocorrer, na
qual o tema principal retorna de forma decisiva, mas brevemente, sendo seguido por um
desenvolvimento. Essas passagens dão uma sensação momentânea de estabilidade, a qual é
invariavelmente contrabalançada por um desenvolvimento posterior15” (MATHES, 2007, p.
172-174).
Analisando o desenvolvimento
“A seção de desenvolvimento pode ser a seção mais desafiadora ao se analisar uma
forma sonata, dadas as flutuações na tonalidade, temas e texturas. As mudanças nesses
elementos geralmente estão fora de fase nos desenvolvimentos, evitando-se o fechamento
coordenado até a recapitulação ou mais adiante. Tenha em mente que um desenvolvimento
bem composto é claramente organizado. Embora as mudanças na textura e nos temas
forneçam muitas pistas óbvias para segmentar o desenvolvimento, os movimentos tonais
subjacentes devem orientar as decisões analíticas. Isso pode exigir uma análise harmônica
detalhada de certas passagens para haver um esclarecimento do movimento tonal” (MATHES,
2007, p. 174).
“Alguns procedimentos básicos para a análise de um desenvolvimento incluem o seguinte
(não necessariamente nessa ordem):
14
“Veja, por exemplo, a passagem cantabile pp que começa no compasso 274 da Sinfonia n. 9, I, de Beethoven”
(MATHES, 2007, p. 172).
15
“Alguns analistas definem uma falsa recapitulação como o aparecimento do TP na tonalidade da tônica, mas antes
da recapitulação real. Outros analistas consideram uma aparição marcante em uma tonalidade diferente da tônica
como um tipo de falsa recapitulação. Para um exemplo do primeiro, veja Haydn, Sinfonia n. 55, I, comp. 97; para um
exemplo do último, veja Mozart, Sinfonia n. 41, I, comp. 161. Ver Sonata Forms, de Rosen (1988, p. 264-268) e
Classical Form, de Caplin (1998, p. 159 e 277)” (MATHES, 2007, p. 174).
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Recapitulação
Função
“A terceira seção principal de uma forma sonata, a recapitulação, tem várias funções. A
principal função tonal é retornar à tonalidade da tônica. O aspecto mais importante dessa
função é a recapitulação do material da área tonal secundária da exposição na tonalidade da
tônica. Como Charles Rosen afirma, “o que parece ser a única regra fixa da recapitulação da
sonata [é o seguinte]: o material originalmente exposto à dominante deve ser representado à
tônica em uma configuração bastante completa, mesmo que reescrita e reordenada, e apenas
o material [originalmente exposto] à tônica pode ser omitido”16. A partir dessa perspectiva
tonal, a recapitulação serve então como uma resolução em grande escala da oposição de áreas
tonais da exposição. O início da recapitulação também contribui para uma sensação imediata
de resolução, pois resolve a tensão do desenvolvimento por um retorno à tonalidade da tônica”
(MATHES, 2007, p. 175-176).
Técnicas
“Longe de ser simplesmente uma recapitulação mecânica do material, a recapitulação
permite ao compositor reinterpretar ou explorar novas continuações de temas. Normalmente,
a recapitulação começará com a recapitulação do tema principal. Este tema, ou qualquer
segmento da exposição, pode ser alterado por: (1) contração ou expansão de frase, (2)
mudanças no ritmo, textura e dinâmica, (3) fusão de temas principais e transição, (4) omissão
e reordenação do material temático” (MATHES, 2007, p. 176).
“Compressão temática e expansão. As razões das alterações temáticas são variadas
e passíveis de interpretação a partir de um dado contexto formal e expressivo. O
relativamente longo TP do finale da Sinfonia n. 40 de Mozart, por exemplo, é comprimido de
32 para 16 compassos na recapitulação, sem repetições de frases. Essa compressão parece
adequada no novo contexto: o tema foi utilizado ao longo do desenvolvimento e a versão mais
curta dá impulso à recapitulação. De modo geral, a compressão de um TP ou da transição pode
estar relacionada ao fato de que a tonalidade principal não precisa ser reforçada, como se
ouvirá na recapitulação do TS na recapitulação. Por outro lado, a expansão dos temas
principais pode ter a função de um desenvolvimento adicional do material à medida que o
compositor explora novas possibilidades de continuação. Os temas principais também podem
abranger novas tonicizações ou digressões tonais. A recapitulação do TP da Sonata para piano
op. 53, I, de Beethoven, discutido no Exercício 5, interpola novo material e mudanças
harmônicas inesperadas antes de retornar à tonalidade da tônica para iniciar a transição17.
Essas surpresas formais costumam servir de base para desenvolvimentos posteriores na coda
do movimento” (MATHES, 2007, p. 176).
“Mudanças no ritmo, textura e dinâmica podem ser usadas para alterar as
qualidades expressivas do tema principal. O início do TP da Sonata para piano de Beethoven
mostrado no Exemplo 8.3 tem uma atmosfera lírica, contida. Quando ela se repete para
iniciar a recapitulação (Exemplo 8.11b), as texturas mais espessas, a forte dinâmica e as
passagens escalares mais ativas à esquerda conferem a ela uma atmosfera triunfal e
16
“Classical Style, de Rosen (1972, p. 72). É claro que a ATS da exposição também pode estar na relativa maior em
tonalidades menores ou outras tonalidades. Contudo, este material será reapresentado à tônica na recapitulação”
(MATHES, 2007, p. 176).
17
“Ver também, por exemplo, Beethoven, Sinfonia n. 3, I, comp. 391-424” (MATHES, 2007, p. 176).
150
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exuberante. Essas mudanças muitas vezes servem para dramatizar essa conjuntura crítica na
forma” (MATHES, 2007, p. 176).
“As mudanças mais significativas na estrutura da frase ou no movimento tonal da
recapitulação normalmente ocorrerão na transição, uma vez que é esta seção que retorna à
tônica, em vez de assumir uma função modulante, como aconteceu na exposição. Essa
transição muitas vezes toniciza novas tonalidades ou introduz harmonias cromáticas
secundárias, pois apresenta uma recapitulação variada da transição ouvida na exposição.
Consequentemente, a inquietação tonal que caracteriza a transição é mantida ou intensificada,
embora normalmente se resolva na tonalidade da tônica, em sua conclusão. Tonalmente,
então, esta transição não é necessária, mas dramaticamente, é essencial para articular o
retorno do TS na tonalidade da tônica” (MATHES, 2007, p. 176).
“Um exemplo de transição expandida pode ser visto na recapitulação da Sonata para
piano K. 332, I, de Mozart (Exemplo 8.13). O TP é reapresentado de maneira exata, mas a
transição é expandida por uma exposição adicional com quatro compassos (compassos 163-
166) que se volta brevemente para a tonalidade da subdominante de Sib menor (iv). A
transição, então, continua para um fechamento à tônica menor e uma SC no compasso 176.
Uma modulação para a subdominante na recapitulação é uma estratégia tonal frequente, pois
conduz fortemente de volta à tônica por meio da dominante18. Observe também o uso de
mistura modal neste exemplo” (MATHES, 2007, p. 176).
“A fusão do tema principal e da transição é um meio vital para que se possa alcançar a
continuidade e compensar a estabilidade encontrada no início da recapitulação. Essa técnica
resulta em reinterpretações dramáticas do material que intensificam a recapitulação. A
18
“Essa digressão tonal pode ocorrer em direção a outras tonalidades relacionadas, como IIIb, VIb ou mesmo IIb, bem
como IV. São as chamadas tonalidades do ‘lado bemol’, ou seja, tonalidades que introduzem notas cromáticas que são
graus de escala rebaixados em relação à tônica” (MATHES, 2007, p. 176).
151
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Sinfonia n. 41, IV, de Mozart fornece um exemplo interessante dessa fusão de unidades
formais (ver Exemplo 8.14). A ATP da exposição consiste em um tema periódico (compassos
1-19) seguido por um tema do tipo fanfarra que conduz a uma série de repetições cadenciais,
fechando em uma SC. Segue-se uma elaboração fugaz desses motivos, trazendo uma seção de
transição que começa no compasso 53. A recapitulação se inicia com a esperada frase
antecedente com oito compassos do TP. A frase consequente paralela (compasso 233), no
entanto, introduz uma nova continuação surpreendente, usando a ideia de abertura com
quatro compassos do TP em sequências cromáticas e em stretto. À medida que essa passagem
altamente carregada e agitada se fecha, a obra musical atinge a tonalidade da subdominante e
a seção modulatória da transição aparece repentinamente. Uma grande parte da ATP
(compassos 13-55) é, assim, suplantada por esta nova passagem de desenvolvimento e pela
fusão das duas unidades formais19. A passagem inicial da transição também é eliminada como
parte do processo de fusão. Essa exclusão não é incomum, pois as transições normalmente
começam com ênfase na harmonia da tônica, uma ênfase que não é necessária na
recapitulação” (MATHES, 2007, p. 177-178).
19
“Para um exemplo famoso de reinterpretação expressiva e fusão de TP e transição, veja a Sinfonia n. 9, I, de
Beethoven, comp. 301-339” (MATHES, 2007, p. 178).
152
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“Haydn, mais do que Mozart ou Beethoven, muitas vezes terá mudanças significativas na
recapitulação, incluindo a ATS. No primeiro movimento do Quarteto de cordas op. 76, n. 3, de
Haydn, por exemplo, o final da transição (compassos 10-12) e o início da ATS (compassos 13-
17) são eliminados. A passagem nos compassos 13-17 continha uma exposição dos motivos do
TP na tonalidade da dominante, para marcar o início da ATS. Essa passagem seria tonalmente
redundante na recapitulação, e Haydn habilmente funde a transição e a primeira frase da ATS.
Uma reelaboração significativa dos temas finais também é ouvida na conclusão deste
movimento (ver Exercícios)” (MATHES, 2007, p. 180).
“Omissão e reordenação de material temático. Encontram-se casos em que o tema
principal é omitido no início da recapitulação. É claro que essa não é uma noção arbitrária,
embora as razões, como sempre, devam ser inferidas e interpretadas a partir do contexto. Em
alguns casos, o TS iniciará a recapitulação e o TP será ouvido na seção de encerramento. Essa
reordenação resulta no que, às vezes, é denominado recapitulação reversa. A Sonata para
piano K. 311 de Mozart contém um exemplo desse tipo de recapitulação. No primeiro
movimento, o TP tem o caráter de tema cadencial, de encerramento, função que assume
quando é claramente reapresentado próximo ao final da recapitulação. Em outros movimentos,
o TP pode ter sido elaborado extensivamente no desenvolvimento e sua recorrência é
retardada até uma coda, a qual é anexada à recapitulação. O primeiro movimento da Sonata
para piano n. 2, em Sib menor, de Chopin, é um bom exemplo desse tipo de omissão. O
desenvolvimento foca nos motivos do tema principal, com modulações contínuas e rápidas
através de muitas tonalidades remotas. A entrada do amplo e lírico TS no início da
153
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Coda
“Em uma forma sonata, uma coda é uma seção que se segue ao restabelecimento do
segmento de fechamento da recapitulação. As funções formais de uma coda podem incluir: (1)
um reforço do fechamento por meio de uma série de frases cadenciais que dão um final mais
dramático a um movimento; (2) um desenvolvimento adicional de ideias, particularmente
aquelas que podem ter sido harmonicamente não resolvidas ou que podem ter ficado
incompletas em apresentações anteriores; (3) a reapresentação de temas omitidos na
recapitulação; e (4) uma última vez em que os temas são retomados, agora no contexto de
um fechamento mais marcante. Dessas funções inter-relacionadas, a recordação de passagens
de desenvolvimento e de temas não previamente resolvidos para o fechamento na tonalidade
da tônica prevalecem em codas longas. A Sinfonia n. 3 de Beethoven fornece um exemplo
famoso de uma longa coda, que retorna ao tema principal para posterior desenvolvimento e
resolução final. O tema principal e suas várias apresentações em momentos formais
proeminentes são mostrados no Exemplo 8.16. O tema contém digressão harmônica em
apresentações anteriores, evitando uma forte sensação de fechamento e estabilidade tonal.
Essa estabilidade é reservada para o final da coda, que enfatiza as harmonias de tônica e
20
“Ver também Haydn, Quarteto de cordas op. 50, n. 3, em Mib maior, I; Schubert, Quartetsatz em Dó menor, I;
Mendelssohn, Sinfonia n. 4, IV; e Chopin, Sonata para piano n. 3, em Si menor, I” (MATHES, 2007, p. 180).
154
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21
“Ver Caplin (1998, p. 179)” (MATHES, 2007, p. 182).
155
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22
“Tais relações tonais são algumas vezes denominadas relações axiais, uma vez que a tonalidade da tônica atua
como um eixo, a partir do qual as duas tonalidades secundárias são equidistantes” (MATHES, 2007, p. 183).
23
“Por exemplo, ver, de Beethoven, a Sonata para piano op. 10, n. 3, I, a Sinfonia n. 8, I, e o Concerto para piano n.
5, I” (MATHES, 2007, p. 183).
156
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24
“Classic and Romantic Music, de Blume (1970, p. 142)” (MATHES, 2007, p. 184).
25
“Este tema motto também se repete no último movimento, uma retomada cíclica do tema que será discutido no
próximo capítulo” (MATHES, 2007, p. 184).
26
“Esses contrastes de tempo e caráter são designados na partitura da seguinte forma: Motto Theme, Andante
Sostenuto; Tema principal: Moderato con anima (In movemento di Valse); Tema secundário: Moderato assai, quasi
Andante; Temas de fechamento: Ben sostenuto il tempo precedente ... stringendo ... Moderato con Anima (Tempo del
comincio)” (MATHES, 2007, p. 185).
157
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“Uma tendência contrastante, que pode ser encontrada em algumas formas sonata do
século XIX, é a compressão e sobreposição de unidades formais, produzindo uma sensação
maior de flutuação tonal e instabilidade ao longo de um movimento. O movimento de abertura
da Sonata para violino em Lá maior de Franck oferece uma excelente ilustração dessa
estratégia formal (Exemplo 8.17). Este movimento começa com uma introdução tranquila
usando um acorde V9 prolongado. À medida que o TP avança, ele logo cadencia na tonalidade
principal de Lá maior (compasso 8), sendo seguido por uma continuação que modula
imediatamente para Dó# maior (III#). A continuação do TP funciona, portanto, como parte da
transição. O fechamento da transição (comp. 28-30), que elide com o TS, é uma preparação à
dominante para a tonalidade secundária de Mi maior (V)27. Similarmente, o tema secundário,
que começa em um momento de clímax, é apenas brevemente elaborado antes de conduzir ao
desenvolvimento. Aqui, os limites formais do design são borrados pela ausência de qualquer
estabilidade ou fechamento tonal prolongado. O desdobramento contínuo do tema principal
lírico, por meio de repetições e elaborações motívicas, também empresta uma amplitude
romântica à obra musical” (MATHES, 2007, p. 185).
“Esses exemplos de Tchaikovsky e Franck são indicativos da importância do contraste
para os compositores do século XIX. As observações de Edward Cone sobre essa tendência são
dignas de nota” (MATHES, 2007, p. 185):
27
“Um exemplo anterior dessa estratégia pode ser encontrado na Sonata para piano em Lá maior, op.
101, I, de Beethoven. Como Tovey observa em seu Companion to Beethoven's Pianoforte Sonatas, ‘não
há sentido em discutir onde termina o TP e começa a transição’, já que são claramente reunidos em uma
passagem contínua” (MATHES, 2007, p. 185).
28
“Forma Musical e Performance Musical, de Cone (1970, p. 82)” (MATHES, 2007, p. 186).
158
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159
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“Outro princípio importante da forma no século XIX, observado por Cone, é a relutância
em reafirmar um tema em uma nova tonalidade sem alguma alteração importante na textura,
andamento, ritmo ou progressão harmônica29. Liszt, como Cone ressalta, é talvez o compositor
mais notável a esse respeito. A Sonata para piano em Si menor de Liszt é uma grande obra de
movimento único com seções contrastantes em diferentes andamentos. Ele emprega temas
recorrentes nas grandes seções contrastantes, mas também são transformados por alterações
notáveis. A transformação temática cria um sentido subjacente de unidade temática que
contraria os contrastes marcantes da obra” (MATHES, 2007, p. 187).
29
“Forma Musical e Performance Musical, de Cone (1970, p. 84)” (MATHES, 2007, p. 187).
160
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2. “Barber, Sonata para piano op. 26, I. Diretrizes de estudo. Depois de ouvir atentamente
e com a ajuda de uma partitura, considere como as várias seções são delineadas. Na ausência
de cadências tradicionais, como é criado o fechamento em vários pontos? Como as várias
funções formais são expressas? Como o material da recapitulação é reinterpretado ou variado?
Identifique o início da coda e determine quais processos a moldam. Segue um esboço da
forma”.
Conclusão
“A discussão anterior sobre a forma sonata destina-se a apresentar alguns conceitos
analíticos que podem ser aplicados a qualquer movimento que se queira estudar. A discussão,
embora às vezes detalhada, não pretende ser abrangente. Como observamos, compositores
talentosos criam novas estratégias, expressões e estruturas musicais a cada vez que escrevem
uma composição, e isso nunca é mais verdadeiro do que em uma forma potencialmente tão
rica e complexa quanto a forma sonata” (MATHES, 2007, p. 191).
“Como sugerem os exemplos discutidos aqui, qualquer forma sonata bem concebida
terá qualidades formais e expressivas únicas. Ao analisar uma forma sonata, como em todas
as análises, deve-se preocupar em descobrir esses aspectos únicos da obra, e não apenas
como ela adere a algum projeto convencional. Embora o projeto em grande escala seja
facilmente aparente, o estudo dos detalhes e de suas conexões ou relações com o projeto em
grande escala devem ser cuidadosamente considerados para que se possa encontrar os
aspectos únicos. Além disso, não devemos estar interessados em simplesmente tabular
segmentações e funções formais. Em vez disso, tendo determinado como o movimento é
organizado, devemos nos concentrar em como as escolhas composicionais evidentes em um
determinado ponto refletem uma intenção musical ou expressiva particular. Podemos
perguntar, por exemplo, por que ocorre uma súbita digressão tonal, ou por que um tema é
expandido, abreviado ou omitido, e considerar o efeito expressivo ou a intenção. Embora
reconhecidamente subjetiva, a interpretação cuidadosamente considerada das intenções do
162
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Resumo
“A forma sonata é uma forma dramática e flexível que surgiu no período clássico. Ela é
uma consequência da forma binária circular, na qual uma primeira parte modula para uma
nova tonalidade, sendo seguida por uma segunda parte que modula de volta para a tonalidade
da tônica e, subsequentemente, o material da primeira parte é reapresentado. Na forma
sonata, esta estrutura tonal de duas partes é expandida em três seções distintas: exposição,
desenvolvimento e recapitulação. Na primeira parte, em obras musicais do período
clássico, a exposição, modula para a tonalidade da dominante ou para as relativas maiores [no
caso de a tonalidade inicial ser menor]; modulações para outras tonalidades são encontradas
em formas sonata posteriores. O desenvolvimento elabora o material temático passando por
uma ou mais tonalidades e, eventualmente, modula de volta à tônica. A recapitulação é
marcada pelo retorno à tonalidade da tônica e por reapresentações do material da exposição”
(MATHES, 2007, p. 191).
“A exposição de uma forma sonata é composta por:
§ uma área tonal principal (ATP) que apresenta um ou mais temas principais (TP) na
tonalidade da tônica.
§ uma transição que contém uma modulação para uma nova área tonal, ou que atinge uma
SC na tonalidade principal, seguida por uma modulação direta para uma tonalidade
secundária.
§ uma área tonal secundária (ATS) que apresenta um ou mais temas secundários (TS).
Uma cadência forte e autêntica na nova tonalidade normalmente fechará o TS. Essa
cadência, geralmente o primeira CAP na nova tonalidade, é denominada fechamento
essencial da exposição (FEE).
§ um FEE normalmente marca o início da seção de fechamento. Um ou mais temas de
fechamento (TF) serão apresentados para encerrar a exposição” (MATHES, 2007, p. 191).
“Normalmente, cada uma dessas unidades formais dentro da exposição termina com
uma cadência decisiva, que pode ser separada ou elidida à próxima seção. A área tonal
principal e a transição geralmente são agrupadas com uma SC marcante ao final da transição
que precede a ATS. Essa estratégia cria uma divisão da exposição bipartida. Exposições
contínuas que carecem de um ponto de divisão claro também podem ser encontradas. As
exposições de três tonalidades, nas quais uma terceira área tonal e um novo tema são
apresentados, são frequentemente encontradas nas obras em forma sonata do século XIX,
notadamente de compositores como Schubert, Brahms e Tchaikovsky” (MATHES, 2007, p.
192).
“A quantidade, a extensão e o caráter dos temas principais, transicionais, secundários e
finais na exposição são altamente variáveis. A transição pode introduzir um novo material ou
pode começar com uma contraexposição baseada no tema principal. Normalmente a
transição começa na tônica, embora uma modulação para uma tonalidade intermediária no
início da transição, ou logo após ela, não seja incomum. Materiais neutros como escalas e
arpejos são típicos de muitas transições, enfatizando o movimento harmônico e rítmico da
música em vez de novos elementos temáticos. As transições frequentemente terminam com a
preparação à dominante (uma dominante expandida) para reforçar a modulação” (MATHES,
2007, p. 192).
“A ATS pode ter um ou mais temas secundários e um ou mais temas de fechamdento. A
passagem de modulações para outras tonalidades também pode ser encontrada na ATS antes
do fechamento na tonalidade secundária. O tema secundário que inicia a ATS é normalmente
uma ideia nova e contrastante que, inicialmente, pode ter a função de um ponto de repouso e
estabilidade após a tensão da transição. Períodos simétricos ou estruturas de sentenças podem
reforçar essa estabilidade. Algumas formas sonata fazem uso do tema principal ou de motivos
para o primeiro tema secundário na ATS. Tais formas são denominadas formas
monotemáticas. A primeira cadência autêntica na ATS normalmente marca o início da seção
final. Movimento rítmico acelerado, segmentos curtos de frases repetidas e progressões
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Leituras sugeridas
“Um excelente estudo sobre as origens e a evolução das formas sonatas clássicas é
Sonata Forms, de Charles Rosen (1988). Classical Form, de William Caplin (1988), oferece
uma discussão exaustiva e uma classificação detalhada dos tipos temáticos, funções formais e
estratégias no repertório instrumental clássico de Haydn, Mozart e Beethoven. Haydn and the
Farewell Symphony, de James Webster (1991), oferece uma visão sobre as técnicas de
composição de Haydn e suas abordagens da forma sonata como uma forma composta. Classic
Form and Style, de Leonard Ratner (1980), oferece uma discussão inestimável sobre tópicos
expressivos e ideias na música de estilo clássico. Suas ideias contêm recursos úteis para
identificar o estilo e o conteúdo expressivo das formas sonata. Ver também Robert Hatten
(1994), Musical Meaning in Beethoven, Capítulo III. Para uma reconsideração completa do
princípio da sonata citado acima, veja Hepokoski (2002), Beyond the Sonata Principle, e
Hepokoski e Darcy (2006), Elements of Sonata Theory” (MATHES, 2007, p. 192-193).
“Para uma discussão sobre o tema secundário como inserção entre parênteses, veja G.
Cook Kimbell (1991), The Second Theme in Sonata Form as Insertion. Para um estudo das
fontes da exposição com três tonalidades, consulte Rey M. Longyear e Kate R. Covington
(1998), Sources of the Three-Key Exposition. Para uma discussão mais aprofundada sobre a
recapitulação reversa, consulte Timothy Jackson (1996), The Tragic Reversed Recapitulation in
the German Classical Tradition” (MATHES, 2007, p. 193).
164
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3.5 Qual dispositivo rítmico é usado nos compassos 75-76 e 79-80? (Dica: considere como os
padrões rítmicos/ melódicos se agrupam em termos de número de tempos métricos por
grupo.)
3.6 Que material temático inicia e finaliza a seção de desenvolvimento (compassos 90-135)?
Qual é a função harmônica do acorde no compasso 137? (Dica: como é classificado o intervalo
Réb-Si?) O que há de incomum na resolução desse acorde?
3.7 No momento da recapitulação, que material temático está sendo reapresentado?
Identifique uma maneira pela qual ele é variado em comparação com sua exposição original.
3.8 Brahms gostava de sincopas e acentos deslocados como forma de criar tensão rítmica.
Como essas técnicas se refletem na notação da parte do clarinete nos compassos 147-151?
3.9 Em que compasso começa a seção da área tonal intermediária na recapitulação? Qual é a
tonalidade? Onde a área tonal secundária e o tema secundário começam na recapitulação?
Qual é a tonalidade? (Dica: procure o retorno dos temas e as áreas tonais da exposição
delineada acima.)
3.10 Qual material temático fecha o movimento? O que significa a marcação expressiva sotto
voce nos últimos dez compassos do movimento? Que tipo de cadência fecha o movimento?
3.11 Cadências. Você deve ter notado que as cadências nesta obra às vezes são muito suaves
e soam fracas. Em alguns pontos, Brahms parece realmente abandonar a cadência. Em outras
palavras, o movimento cadencial parece parar antes de atingir seu objetivo e não há senso de
resolução – uma nova seção apenas começa. Você consegue identificar duas dessas cadências
fracas ou abandonadas na exposição desse movimento? Explique resumidamente suas
respostas.
3.12 Identifique e descreva três tópicos expressivos diferentes neste movimento, citando as
passagens pelos números de compasso.
167
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1
“Vale a pena notar que Haydn costumava usar uma introdução lenta, em parte, porque seus temas principais,
embora adequados ao desenvolvimento, não eram particularmente eficazes na abertura de um movimento” (MATHES,
2007, p. 196).
2
“Form in Tonal Music, de Green (1979, p. 221-222). Esses gestos não são exclusivamente introdutórios em função,
mas são comuns na introdução às formas sonatas. Gestos heráldicos, em um contexto musical, indicam que uma obra
está começando através do uso de texturas tutti, dinâmica forte, andamentos lentos e figuras rítmicas sustentadas ou
repetidas” (MATHES, 2007, p. 196).
168
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169
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começa. Outro exemplo interessante, que sobrepõe a introdução lenta com a introdução
subsequente, é a Symphony Fantastigue de Berlioz. A introdução, como toda a obra, é nova e
fascinante. Começa muito silenciosamente, com sopros solo e texturas esparsas (veja o
Exemplo 9.2). A longa introdução progride por muitos momentos climáticos, em várias seções
contrastantes, antes de uma CAP marcar o início do allegro. Esta seção rápida não começa
com o tema principal, mas com acordes martelados que reiteram a progressão cadencial e
servem como uma frase introdutória ao famoso tema principal, a idée fixe da sinfonia3”
(MATHES, 2007, p. 198).
Frases introdutórias
“As introduções lentas são ouvidas como seções separadas que precedem a forma sonata
allegro que se segue. Um tipo diferente de introdução é aquele de um breve gesto heráldico,
antecipação motívica ou tema que abre um movimento de sonata no tempo principal. Esses
tipos de introduções, ao contrário das introduções lentas, muitas vezes introduzem motivos ou
ideias que serão incorporadas ao movimento. A abertura da Sinfonia n. 5 de Beethoven,
mencionada na discussão sobre introduções de frases (Capítulo 4, Exemplo 4.5a), é um
exemplo4. Esse tipo de gesto serve como introdução de frase. Em contraste, a abertura da
Sinfonia n. 8 de Schubert começa com uma frase introdutória completa que apresenta um
tema, que será usado como um dos principais temas do movimento. (Veja a discussão desse
tema no Capítulo 5.) Muitas obras como a de Schubert usam um tema introdutório nas
principais conjunturas formais, incorporando o tema nas várias seções da obra, conforme
poderá ser observado nos exercícios apresentados a seguir” (MATHES, 2007, p. 198-199).
3
“A ideia recorrente ou tema principal é denominado idée fixe (ideia fixa) por Berlioz, que reflete a noção
programática da fixação de um jovem artista em sua amada” (MATHES, 2007, p. 198).
4
“A Sinfonia n. 3 de Beethoven oferece uma breve introdução semelhante: duas tríades de tônica curtas e vigorosas
são ouvidas antes do início do tema principal” (MATHES, 2007, p. 199).
170
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5
“Sonata Forms, de Rosen (1988, p. 120-121)” (MATHES, 2007, p. 200).
6
“Enquanto a forma sonata fornece princípios flexíveis para apresentar temas contrastantes, tonalidades e texturas
apropriadas para uma abertura de ópera, a ausência de um desenvolvimento evita uma forma dramática em grande
escala, o que poderia interferir na ópera vindoura” (MATHES, 2007, p. 200).
7
“Alguns exemplos de recapitulações abreviadas são encontrados em formas sonatas sem desenvolvimento. Veja, por
exemplo, os Quartetos de cordas op. 33, n. 5-6, II, de Haydn, e o Clarinet quintet K. 581, em Lá maior, II, de Mozart”
(MATHES, 2007, p. 200).
8
“A Sinfonia n. 8, II, de Beethoven, é uma forma sonata sem desenvolvimento. Veja também a Sinfonia n. 8, II, de
Schubert. A Sinfonia n. 41, II, de Mozart, é um bom exemplo de uma forma sonata em larga escala em um
171
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Exercícios analíticos
“Ouça e estude o movimento lento da Sonata para piano op. 10, n. 1, de Beethoven.
Onde e como Beethoven retorna à tonalidade da tônica e ao TP após a ATS? Que material é
lembrado na coda? Como ele é reinterpretado? Ver também o Quarteto de cordas op. 76, n. 4,
II, de Haydn, e a Sinfonia n. 39, K. 543, em Mib maior, II, de Mozart” (MATHES, 2007, p.
201).
movimento lento. Para uma lista de movimentos clássicos na forma sonata sem desenvolvimento, veja Caplin (1998,
p. 217)” (MATHES, 2007, p. 200).
9
“Revise o conceito de ritornello no Capítulo 3. Você encontrará diagramas que usam tutti-solo ou ritornello-solo para
delinear formas de concerto. Enquanto tutti é uma designação textural e ritornello uma designação temática, os
termos geralmente se referem às mesmas passagens em uma obra, ou seja, as seções de tutti frequentemente
funcionam como ritornellos” (MATHES, 2007, p. 202).
172
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estreitamente relacionadas (TER; closely related keys, CRK). O ritornello final era
geralmente a recapitulação mais extensa, encerrando o movimento ao reafirmar a tonalidade
da tônica” (MATHES, 2007, p. 202).
“Esta forma é flexível, principalmente no que diz respeito à entrada do material ritornello.
As seções ritornello especificadas na Figura 9.1 referem-se àquelas marcadas por fechamento
cadencial, o qual confirma uma modulação anterior. Nas seções de solo pode haver
interjeições do ritornello em texturas de tutti. Além disso, deve ser entendido que a orquestra
está tocando durante as seções solo. Enquanto a orquestra pode ser relegada a um simples
acompanhamento, ela também pode fornecer contraponto com os solistas. Em concertos solo,
a distinção entre seções solo e ritornello costuma ser bem clara. Nos concerti grossi, a variada
interação entre solista e orquestra era muitas vezes mais elaborada. Isso é particularmente
verdadeiro nos Brandenburg Concertos de Bach, um conjunto de seis concertos grossi, cada
um marcado para um conjunto diferente10. A interação entre solo e orquestra, em diversas
texturas com recursos contrapontísticos, atinge um novo patamar de sofisticação nessas
obras, não por acaso famosas” (MATHES, 2007, p. 202).
Forma sonata do concerto clássico
“O modelo ritornello de alternância também é usado nos concertos do período clássico,
mas elementos da forma sonata são infundidos na forma11. A forma sonata do concerto
clássico resultante não é uma fusão das duas formas; em vez disso, extrai elementos de cada
uma delas para criar uma forma distinta. A forma sonata do concerto clássico incorpora os
contrastes dramáticos e a oposição de tonalidades e temas encontrados nas formas sonata e
os associa ao contraste básico entre solistas e orquestra. É usada nos movimentos de abertura
de concertos e, às vezes, em movimentos lentos. O design formal é melhor entendido como
uma forma sonata com ritornello orquestral, o qual é usado para articular a forma de grande
escala. Um diagrama da forma, totalmente desenvolvida por Mozart em seus concertos para
piano da década de 1780, é apresentado na Figura 9.2. Uma breve descrição de cada seção e
suas funções formais remete à combinação dos elementos das formas sonata e ritornello”
(MATHES, 2007, p. 202-203).
10
“Os números 1, 3 e 6 dos Brandenburg Concertos de Bach são concertos ripieno, nos quais não há solistas
designados, mas são explorados contrastes entre tutti e texturas solo. Os números 4 e 5 dão destaque ao violino solo
e ao cravo solo, respectivamente, combinando características de concerto solo e concerto grosso” (MATHES, 2007, p.
202).
11
“As formas ritornello também foram usadas na aria da capo barroca, discutida no capítulo 13. Como Rosen
observou, a ária também foi uma influência importante no concerto. Ver Sonata Forms, de Rosen (1988, p. 84-85)”
(MATHES, 2007, p. 202).
173
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12
“O termo ritornello, embora originalmente associado à música barroca, é utilizado para designar apresentações tutti
da orquestra em concertos pós-barrocos. As diferenças entre os dois tipos de ritornello são significativas, embora
ambos sirvam para delinear a forma e relembrar o material temático” (MATHES, 2007, p. 203).
13
“Alguns autores minimizam a ideia de duas exposições em um concerto clássico, preferindo chamar a primeira seção
orquestral simplesmente de ritornello ou introdução. Este ponto de vista subestima os contrastes de dimensão entre
uma exposição de concerto e a maioria dos ritornelli barrocos, bem como as importantes diferenças de estilo e design
formal. Nos concertos maduros de Mozart e nos concertos de Beethoven, o material orquestral de abertura é
claramente moldado na forma de uma exposição de sonata. A noção de uma dupla exposição é viável em tais obras,
desde que as diferenças entre as duas exposições sejam reconhecidas. Veja Classical Style, de Rosen (p. 1972, p.
197-98) para a elaboração deste ponto de vista” (MATHES, 2007, p. 203).
14
“No Concerto para piano n. 23, K. 488, em Lá maior, de Mozart, a exposição solo basicamente reafirma os temas da
exposição orquestral, com elaborações, e traz uma necessária modulação, constituindo uma notável exceção”
(MATHES, 2007, p. 203).
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“O Exemplo 9.3 mostra o início da exposição solo, que utiliza o tema principal da
exposição orquestral. Este exemplo mostra dois aspectos importantes de um concerto: (1) as
seções solo não apenas reafirmam os temas com um simples acompanhamento orquestral,
mas podem elaborar e expandir os temas; (2) a orquestra não irá apenas acompanhar, ela irá
interagir de diversas maneiras. Ouça a gravação do Exemplo 9.3. Observe como as entradas
intermitentes da orquestra articulam as primeiras frases do tema principal apresentadas pelo
solista. A orquestra, subsequentemente, inicia o TP2, dobra a linha melódica e a assume assim
que o solista inicia as elaborações no compasso 97. Essas passagens dão uma ideia da
flexibilidade envolvida na relação entre a orquestra e o solista. Elementos formais adicionais de
um concerto exemplificado nesta obra são abordados nos exercícios ao final do capítulo”
(MATHES, 2007, p. 204).
175
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176
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(Figura 9.2) novamente sugerem as duas funções possíveis desse ritornello: ele pode
encerrar o desenvolvimento ou pode iniciar a recapitulação” (MATHES, 2007, p. 204, 207).
15
“Sonata Forms, de Rosen (1988, p. 94). Ele também cita a observação de Tovey, segundo a qual, em Mozart, a
recapitulação de um concerto seria uma fusão entre a exposição orquestral e o solo” (MATHES, 2007, p. 207).
16
“Haydn coloca suas cadências no final da recapitulação. Mozart e Beethoven colocam suas cadências após o R4 ter
começado, assim a cadência é emoldurada por ritornelli” (MATHES, 2007, p. 207).
177
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virtuosística e improvisada de material temático, mas também como uma cadência expansiva
que termina com uma CAP elidida. Nesse ponto, o ritornello retorna” (MATHES, 2007, p. 208).
17
“Veja o Concerto para piano, K. 453, em Sol maior, de Mozart, para um exemplo do primeiro, e os Concertos para
piano n. 4 e 5 de Beethoven para um exemplo do último” (MATHES, 2007, p. 209).
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“O papel do solista como intérprete virtuoso é sintetizado nos concertos para piano de
Chopin e especialmente de Liszt. Os dois concertos de Chopin começaram com ritornellos
orquestrais, mas a orquestra serve principalmente como acompanhamento. Enquanto Chopin
segue majoritariamente a forma sonata de concerto, uma abordagem mais livre é evidente nos
dois concertos de Liszt. Ele conectou os movimentos de seus concertos, um precedente
estabelecido por Mendelssohn no concerto para violino, e usou formas cíclicas (discutidas
abaixo). Seus concertos também exigiam muito do solista. Passagens estendidas semelhantes
a cadências sem orquestra são ouvidas por toda parte e as obras contêm muitas mudanças de
andamento. Consequentemente, a forma é, muitas vezes, influenciada mais pela exibição
virtuosística do que pelo discurso entre o solista e a orquestra” (MATHES, 2007, p. 209).
“No século XX, muitos concertos prestaram continuidade às tradições das formas do
século XIX, com ênfase no papel virtuosístico do solista e nos temas expansivos. Ao mesmo
tempo, um interesse pelos modelos anteriores, os concertos barrocos, é ouvido em obras como
o Concerto para violino de Stravinsky e os dois concerti grossi de Ernest Bloch. Nestas obras,
como em qualquer concerto, a relação entre solista e orquestra é um elemento importante
para a concepção formal da composição” (MATHES, 2007, p. 209).
179
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1.1 “O TP2 pode ser considerado o início da transição. Que elementos da obra musical
aumentam a tensão neste ponto?
1.2 A transição orquestral (Trans1) tem três frases distintas, sendo a primeira iniciada por
semicolcheias contínuas na linha melódica. Que tipo de cadência termina a primeira frase,
elidindo com a frase dois? Que elementos marcam a frase final da transição?
1.3 O TS1 começa com um motivo inquieto de notas repetidas. Conduza o ritmo da frase deste
tema em métrica quaternária, com uma batida por compasso. O que você observa sobre a
conexão das frases conforme o tema se repete?
1.4 A repetição do TS1 termina com uma cadência de engano, que introduz um novo motivo
como parte de uma extensão de frase. Que harmonia específica é usada na CE?
1.5 A seção final tem três temas distintos, incluindo a codetta. Onde uma cadência evadida é
ouvida dentro desta seção?
1.6 As seções solo fazem uso de sequências em vários pontos. Quais funções formais fazem
maior uso da sequência? Você consegue identificar os tipos de sequência [tonal ou real]?
1.7 Observe a cadência que fecha R2. Qual harmonia é usada nesse ponto?
1.8 Tente esboçar a recapitulação de maneira semelhante à Figura 9.3. Em que ordem os
vários temas e seções são reapresentados? Que material omitido na exposição individual
retorna na recapitulação?
1.9 O ritornello final é uma continuação do R4 ou um novo ritornello? Explique sua resposta”.
18
“Citado em Concerto Conversations, de Joseph Kerman (1999, p. 21)” (MATHES, 2007, p. 211).
180
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Sugestões de leituras
“Um resumo conciso da história do concerto pode ser encontrado em The Harvard
Dictionary of Music, 4ª ed., editado por Don Michael Randel (2003). A History of the Concerto,
de John Roeder (1994) oferece uma extensa pesquisa do gênero. Concerto Conversations, de
Joseph Kerman (1999), é um exame cuidadoso e envolvente dos vários papéis e relações entre
solistas e orquestra desde o barroco até os dias atuais. Os Essays in Musical Analysis, de
Tovey (1935-1939), volume III, contém comentários analíticos sobre vários concertos
importantes. Veja também os livros e artigos de Lindeman (1999), Stevens (1992) e Swain
(1988) listados na bibliografia” (MATHES, 2007, p. 212).
Forma cíclica
“Uma obra musical de vários movimentos, que usa o mesmo material temático em mais
de um movimento, é denominada forma cíclica. Observe que o termo não se refere à forma de
um único movimento, mas de toda uma obra, na qual os movimentos estão tematicamente
inter-relacionados. A forma cíclica é frequentemente associada à música instrumental do
século XIX. No entanto, precedentes da recuperação de material em movimentos posteriores
de uma obra são encontrados nas missas cíclicas dos séculos XV e XVI, nas quais o mesmo
cantus firmus é ouvido em cada movimento, ou cada movimento começa com os mesmos
motivos. Essa ideia de recorrência temática no final de uma obra com multimovimentos é
também evidente em certas obras do período barroco, incluindo suítes e obras sacras, como as
cantatas corais. Muitas das cantatas corais de Bach, particularmente aquelas do período de
Leipzig, usam o coral original no início e no final da cantata. Da mesma forma, a configuração
do Magnificat em Ré maior para solistas, coro e orquestra, de J. S. Bach, usa o mesmo
material musical nos movimentos de abertura e encerramento” (MATHES, 2007, p. 212).
“Os compositores clássicos do século XVIII geralmente não empregavam formas
cíclicas; cada movimento de suas obras com multimovimentos é uma forma independente,
sem conexões cíclicas evidentes. Foi no século XIX que os compositores começaram a recorrer
à recordação cíclica de temas em movimentos posteriores de obras instrumentais. Essa
tendência refletia a ênfase romântica na linha melódica e na transformação temática. A
utilização cíclica do material assumiria várias formas e funções diversas em diferentes obras.
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19
“Os ciclos de canções do século XIX exibem uma abordagem diferente da forma cíclica, geralmente contando com
conexões poéticas e um design tonal que percorre todo um ciclo de canções. O ciclismo temático nem sempre é
evidente. As recorrências motívicas podem ser características significativas das óperas, principalmente nas óperas de
Richard Wagner” (MATHES, 2007, p. 212).
20
“O exemplo mais antigo é encontrado na Sinfonia n. 46 de Haydn. Veja também a Sonata para piano op. 101, em Lá
maior, de Beethoven, para a retomada cíclica como citação. Rosen descreve as relações temáticas cíclicas entre
diferentes movimentos como explícitas ou implícitas, definidas como citação temática ou integração temática,
respectivamente. Ver Sonata Forms, de Charles Rosen (1988, p. 320-321)” (MATHES, 2007, p. 213).
21
“A Sinfonia n. 9 de Beethoven foi concluída em 1824; A Symphony Fantastique de Berlioz foi concluída em 1830”
(MATHES, 2007, p. 213)
182
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“A forma arco, uma forma com multimovimentos relacionada à forma cíclica, concerne
a uma obra em que existem relações motívicas e formais entre pares de movimentos
simetricamente correspondentes. Os padrões de movimentos que encontramos geralmente são
ABA ou ABCBA. Essas abordagens da forma com multimovimentos são frequentemente
associadas a certas obras de Bartók. O primeiro padrão tem como exemplos os dois primeiros
concertos para piano de Bartók e, no concerto para violino, o terceiro movimento é uma
recapitulação livremente variada do primeiro movimento. A forma arco com cinco movimentos
é encontrada em seus quartetos de cordas n. 4 e 5. No quarto quarteto, os movimentos
externos rápidos usam um material temático semelhante, o segundo e o quarto movimentos
são scherzos e o movimento central é uma grande forma ternária em andamento lento. Essa
abordagem vai além da recordação cíclica de um único tema, mas está relacionada à forma
cíclica em seu uso do mesmo material temático em mais de um movimento. Bartók e outros
compositores do século XX também usam a forma arco de cinco partes em movimentos únicos.
O primeiro movimento da Music for Strings, Percussion, and Celesta de Bartók, por exemplo, é
um movimento fugal moldado na forma arco” (MATHES, 2007, p. 215).
Sugestões de leituras
“Em The Romantic Generation, Charles Rosen (1995, p. 88-98) fornece uma discussão
profícua sobre os efeitos formais da recordação cíclica de temas. Ver também Nineteenth-
Century Music, de Dahlhaus (1975, p. 274-276)” (MATHES, 2007, p. 215).
184
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Introdução
“O princípio de exposição-contraste-recapitulação, que foi discutido como base para a
forma ternária, é frequentemente expandido para criar formas maiores denominadas formas
rondó. Em uma forma rondó, as seções contrastantes se alternam com as reformulações de
um tema inicial, para criar formas que são mais frequentemente em cinco ou sete seções1.
Diagramas formais de rondós com cinco e sete partes são apresentados na Figura 10.1. Os
esquemas de letras tradicionalmente usados para designar essas formas refletem os
contrastes de tonalidade, modo, material temático ou textura entre as seções. Observe que o
rondó de sete partes expande a forma de cinco partes pela adição de um terceiro episódio.
Rondós de nove ou mais partes às vezes são encontrados, embora sejam excepcionais. Em
todo caso, o rondó sempre fecha com uma exposição do refrão, ou uma coda que faça
referência ao refrão. Frequentemente, o refrão final é fundido com uma coda” (MATHES, 2007,
p. 217).
Esboço da forma rondó
“A primeira seção de um rondó, o tema de abertura, é denominada refrão, porque se
repete várias vezes na forma. Como ilustra a Figura 10.1, o refrão, ou seção A, é
caracterizado pela exposição de seu material temático na tonalidade da tônica2. As seções
contrastantes, que ocorrem entre as apresentações do refrão, são chamadas de dísticos [pares
de versos, couplets] ou episódios. Esses episódios estão em tonalidades contrastantes, na
maioria das vezes em tonalidades estreitamente relacionadas (TER; closely related Keys,
CRK), ou podem estar no modo paralelo menor ou maior em relação à tonalidade da tônica. Os
episódios, que geralmente são expositivos, também podem ser modulatórios e apresentar o
material em mais de uma tonalidade. Na maioria dos rondós com sete partes do período
clássico, o primeiro episódio está na tonalidade da dominante. O segundo episódio pode
apresentar um novo tema ou um desenvolvimento de material temático anterior. O terceiro
episódio é, então, uma recapitulação do primeiro episódio, mas na tonalidade da tônica. O
retorno do material do episódio 1 na tonalidade da tônica, no episódio 3, corresponde à
recapitulação de um TS na forma sonata. Assim, esta forma pode assumir características tanto
de uma forma rondó quanto de uma forma sonata – neste segundo caso, é designada forma
sonata-rondó, discutida mais adiante neste capítulo. O rondó de sete partes, com um terceiro
novo tema no episódio 3 (D), é menos comum. Outras variações que podem ser encontradas
incluem ABAB'A e ABACBA, este último um esquema favorecido por Mozart” (MATHES, 2007,
p. 217).
“A forma rondó é usada em suítes para instrumentos de teclas do período barroco;
também é usada no movimento lento ou final de sonatas, sinfonias, obras musicais de câmara
ou concertos do período clássico. Sonatas-rondós são encontrados quase exclusivamente nos
finais de obras com vários movimentos. Depois de Beethoven, os movimentos sonata-rondó
são encontrados com maior frequência do que as formas rondó, particularmente nos finais dos
concertos. Obras solo designadas rondó também foram compostas, notadamente obras para
piano de Mozart, Beethoven e Mendelssohn3. As formas rondó encontradas na música barroca
têm atributos que as distinguem das formas de rondó que surgiram na música posterior. A
discussão a seguir considerará primeiramente a forma anterior do rondó, usada pelos
compositores barrocos” (MATHES, 2007, p. 217-218).
1
“Alguns textos referem-se à forma ternária seccional como ‘primeira forma rondó’, rondós de cinco partes como
‘segunda forma rondó’ e rondós de sete partes como ‘terceira forma rondó’. Esta terminologia ignora o contraste entre
outras formas ternárias e formas rondó, e não é mais atual” (MATHES, 2007, p. 217).
2
“Como nas seções intermediárias contrastantes das formas ternárias, os termos minore e maggiore às vezes
aparecem na partitura para designar contrastes modais de tonalidade em um episódio” (MATHES, 2007, p. 217).
3
“Veja, por exemplo, de Mozart, o Rondo K. 494, em Mi maior, e o Rondo K. 511, em Lá menor; de Beethoven, Rondo
op. 52, n. 1, e Rondo op. 129; de Mendelssohn, Rondo capriccioso op. 14” (MATHES, 2007, p. 218).
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Rondeau barroco
“O precursor histórico do rondó clássico foi o rondeau francês do período barroco, no qual
um refrão alternava com pares de versos denominados dísticos [couplets]4. Tais formas foram
encontradas com frequência nas suítes para teclas de compositores franceses, incluindo Lully e
Rameau, e principalmente nas suítes ou Ordres de François Couperin. O rondeau também foi
cultivado por compositores de outros países no período barroco. O Exemplo 10.1 mostra um
conhecido rondeau do compositor inglês Henry Purcell. Várias características desta obra são
características da forma barroca do rondeau:
§ O refrão é tonalmente fechado, normalmente terminando com uma CAP à tônica.
§ O refrão é um tema curto e independente, neste caso uma frase do tipo ritornello com oito
compassos. Frases que formam períodos também são comuns em um rondeau.
§ Cada vez que o refrão se repete, ele está na tonalidade da tônica e permanece inalterado.
§ Os dísticos estão em tonalidades contrastantes, mas fazem uso de material temático
semelhante ou relacionado do refrão” (MATHES, 2007, p. 218).
No Exemplo 10.1, o primeiro dístico faz uso dos elementos motívicos do tema, mas ele
agora está na tonalidade de Fá maior (III), contrastante e intimamente relacionada a Ré
menor. Este dístico também é tonalmente fechado e é seguido por uma modulação direta de
volta à tônica para a reaparição do refrão. Observe que o segundo dístico, que começou em Lá
menor (v), termina com uma SC frígia, a qual conduz à exposição final do refrão na tonalidade
da tônica. A modulação denota uma função de transição, que pode ser incorporada ao início e
ao final dos episódios. As cadências decisivas e as pausas entre refrãos e episódios conferem à
forma um caráter decididamente seccional. A brevidade das seções e as tendências
monotemáticas são características dos rondeaux desse período” (MATHES, 2007, p. 219).
4
“Os termos ‘refrão’ e ‘dístico’ são termos literários usados com referência à poesia em que um refrão se alterna com
um par de versos sucessivos denominados couplets. Esta prática foi aplicada à música nos rondeaux dos períodos
medieval e renascentista. A composição de refrãos e versos na música será discutida no Capítulo 13” (MATHES, 2007,
p. 218).
5
“O refrão deste rondeau de Purcell é usado na conhecida obra de Benjamin Britten, Young Person's Guide to the
Orchestra, um conjunto de variações orquestrais sobre o refrão” (MATHES, 2007, p. 219).
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“Um rondeau pode ter três seções – assemelhando-se assim à forma ternária – ou sete
ou mais seções. O mais famoso e monumental rondeau de Couperin, a Passacaille de sua
Ordre VIII, tem oito dísticos alternados com nove refrãos, totalizando dezessete seções. O
início de um rondeau de sete partes de Couperin é mostrado no Exemplo 10.2. Suas
composições para teclado geralmente tinham títulos programáticos; neste caso, acredita-se
que o título La Bandoline se refira a uma mulher da cidade de Bandol” (MATHES, 2007, p.
219).
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“Esta composição usa o sinal dal segno para indicar que o refrão deve ser repetido após
cada dístico, como ocorre em muitos rondeaux. A prática da performance foi fazê-lo sem
repetições no refrão, mas com possíveis ornamentações, principalmente em um rondeau mais
longo. O refrão, como neste exemplo de Purcell, é um tema curto com oito compassos, embora
na forma de um período paralelo. Os dísticos continuam a elaborar os motivos do refrão com
contrastes em progressões harmônicas e tonalidade. Eles também variam em dimensão e
fazem uso de frases sequenciais. Esses elementos variados contrastam com a recorrência
inalterada do refrão simétrico. O resultado desses processos é uma forma claramente
articulada e perceptível, ao mesmo tempo previsível e, às vezes, surpreendente” (MATHES,
2007, p. 221).
6
“Ver, por exemplo, E amor un ladroncello, n. 28, do Ato II de Cosi fan Tutte, de Mozart; e Che farò senza Euridice do
Ato III de Orfeo, de Gluck. A adaptação da forma nessas obras vocais será discutida no Capítulo 13” (MATHES, 2007,
p. 221).
7
“Existem alguns exemplos de formas com nove partes de Mozart, incluindo a Serenata K. 520, em Ré maior
("Haffner"), IV; o Rondó K. 494, em Fá Maior; e a Sonata para piano K. 281, III” (MATHES, 2007, p. 221).
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completar um refrão com dezesseis compassos. Em contraste, o Exemplo 10.3b mostra o uso
de Haydn de uma forma binária circular seccional, com uma extensa preparação à dominante
na seção B e um retorno completo da sentença com oito compassos que abriu o refrão. Ambos
os refrãos são extraídos de formas rondó com cinco partes, embora o uso de um período
repetido, uma sentença ou uma forma binária circular também seja típico da maioria dos
refrãos de rondó de sete partes8. Quando os refrãos ou os episódios são formas
independentes, o resultado é uma forma rondó composta. Repetições de frases ou seções
completas no refrão de abertura, sejam elas escritas (como em Beethoven) ou anotadas, são
características da forma rondó” (MATHES, 2007, p. 221-222).
8
“Para um exemplo de refrão em forma ternária simples, ver a Sonata para piano op. 90, II, de Beethoven” (MATHES,
2007, p. 222).
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9
“Veja Piano trio n. 15, em Sol maior, II, de Haydn; e Sinfonia n. 9, II, de Beethoven” (MATHES, 2007, p. 224).
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“Refrão final e coda. Embora o refrão final possa ser apresentado em sua totalidade
para concluir a forma, duas outras possibilidades são comuns: (1) uma codetta ou coda pode
se seguir ao refrão completo, ou (2) o refrão pode ser abreviado e conduzir diretamente a uma
codetta ou coda. No primeiro caso, a coda é percebida como uma seção distinta que segue o
refrão. No segundo caso, a primeira ou as duas primeiras frases do refrão são ouvidas para
confirmar sua função como retorno final do tema, mas são fundidas com uma coda
subsequente. Em ambos os casos, uma coda pode apresentar um desenvolvimento adicional
de qualquer um dos temas anteriores ou pode simplesmente elaborar o encerramento
cadencial final da forma. Exemplos dessas possibilidades são explorados nos exercícios”
(MATHES, 2007, p. 226).
“Os rondós do período romântico, como a forma sonata, costumam ser expansivos ou
comprimidos com contrastes abruptos e flutuação tonal. Um rondó em miniatura de cinco
partes de Schumann ilustra algumas dessas características (ver Exemplo 10.7). O refrão é
uma frase breve de seis compassos que inicialmente modula. Observe como o refrão começa
em uma harmonia dissonante, prolongando o acorde de dominante. Suas recorrências
subsequentes são variadas na estrutura da frase, cada vez fechando na tonalidade da tônica
de Ré menor. O movimento direto de Fá maior para Lá maior (V), em vez do esperado Lá
menor (v) para o primeiro episódio, produz uma mudança ousada na tonalidade, uma terceira
relação cromática usando mistura modal. A brevidade de cada seção dá ao movimento uma
qualidade inquieta, típica de muitas peças características breves do século XIX” (MATHES,
2007, p. 226).
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3. “Mozart, Sonata para piano K. 310, em Lá menor, III. Neste rondo finale,
Mozart elimina o retorno do refrão final, criando uma forma ABACAB. Os episódios são
incomuns porque todos são modulatórios. Onde ocorrem as transições e retransições no
primeiro episódio (B)? Como Mozart delineia claramente o segundo episódio (C)? Como o
terceiro episódio (B) é alterado quando ocorre novamente? Depois de estudar a forma
cuidadosamente, especule por que Mozart pode ter feito a alteração. Considere também como
Mozart usa os vários registros do piano para moldar a obra musical”.
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Forma sonata-rondó
“Embora possam ser encontrados rondós de sete partes com três episódios
contrastantes, a maioria dos rondós de sete partes do período clássico e posteriores está na
forma sonata-rondó, esquematizada na Figura 10.2. As características distintivas de uma
sonata-rondó são as seguintes:
§ O uso de transições e retransições, muitas vezes bastante elaboradas e com material
temático distinto.
§ Um segundo episódio que modula e é desenvolvimentista.
§ Um retorno do primeiro episódio na tonalidade da tônica, na forma de uma recapitulação do
TS” (MATHES, 2007, p. 231).
“Com poucas exceções, a forma sonata-rondó é encontrada nos finales de obras com
vários movimentos10. O refrão não é diferente de um rondó regular, com períodos simétricos
ou formas binárias circulares sendo mais comuns. Quando todas as características citadas
acima são incorporadas, a sonata-rondó surge como uma das formas musicais mais intrigantes
10
“Veja, de Beethoven, a Sinfonia n. 4, op. 60, II, e o Quarteto de cordas op. 18, n. 3, II, para exemplos de formas
sonata-rondó em movimentos lentos” (MATHES, 2007, p. 232).
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e elaboradas. A maioria dos teóricos afirma que uma verdadeira forma sonata-rondó deve ter
todas essas características, em particular um desenvolvimento central ou episódio
modulatório. A função de desenvolvimento deste episódio é muito importante para distinguir
uma sonata-rondó de um rondó de sete partes. Quando um rondó de sete partes tem um tema
fechado em pequena forma para seu episódio central (C), como na Sonata para piano K. 310,
em Lá menor, III, de Mozart, e no Quarteto de cordas op. 18, n. 4, IV, de Beethoven, a forma
é melhor compreendida como uma forma rondó de sete partes, mesmo havendo o retorno do
material B na tônica. Cada uma das características da forma sonata-rondó será discutida com
exemplos para ilustrar algumas estratégias formais comuns” (MATHES, 2007, p. 232).
Primeiro episódio: transições e retransições
“Após uma CAP para fechar o refrão, uma sonata rondó continuará com uma passagem
de transição que modulará para a dominante e conduzirá ao tema principal no primeiro
episódio (B). O tema principal do episódio geralmente será um período. A transição pode ser
ouvida como uma passagem separada entre o refrão e o episódio, ou pode ser ligada e
considerada parte do episódio. Um tema de fechamento distinto pode seguir o tema principal
do episódio, seguido por uma retransição para encerrar o episódio. Tanto a transição quanto a
retransição podem usar figuração neutra, mas é igualmente provável que apresentem seus
próprios temas. O Exemplo 10.8 mostra como Mozart incorpora todos esses elementos
formais no episódio 1 (B) de um movimento na forma sonata-rondó. Observe como Mozart
molda todo esse episódio à maneira da ATS de uma exposição em forma sonata:
§ Após um período com oito compassos ser repetido para concluir o refrão, uma transição
apresenta um novo tema distinto (compassos 16-39) cuja frase subsequente modula para a
dominante.
§ Uma chegada decisiva em V/V é prolongada (compassos 32-39) para confirmar a nova
tonalidade de Sib maior (V) e conduzir a um novo tema periódico no episódio (compassos
40-51).
§ Um tema final distinto é apresentado (compassos 51-63) seguido de uma retransição
(compassos 63-70) e um retorno ao refrão” (MATHES, 2007, p. 232).
“Com temas distintos marcando cada função, o uso de um tema secundário periódico
em V e uma seção final com uma cadência expandida, um ouvinte pode perceber corretamente
o movimento como uma forma sonata até este ponto. É somente com o retorno do refrão com
dezesseis compassos, seguido de um novo episódio, que os aspectos de rondó do movimento
se tornam evidentes” (MATHES, 2007, p. 232).
”Como a transição inicial e a retransição geralmente apresentam novos temas distintos,
o material será usado nos episódios subsequentes. Como resultado, essas passagens podem
compreender uma proporção relativamente grande de um movimento na forma sonata-rondó.
Eles também conterão contraste rítmico e harmonias cadenciais expandidas que infundem
tensão na obra musical, tornando a forma mais contínua e dramática” (MATHES, 2007, p. 232-
233).
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Episódio central
“O segundo episódio (C) de uma sonata-rondó será modulatório. Pode assumir o caráter
de um desenvolvimento da forma sonata, elaborando os temas e motivos anteriores do
movimento, apresentando novos temas em tonalidades diferentes, ou combinando essas duas
abordagens. De particular interesse é a maneira como esse episódio começa. Pode, como
mencionado anteriormente, começar com material de transição que modula para uma nova
tonalidade e tema. (Veja a Sonata para piano K. 333, em Sib maior, III, de Mozart, Exercício
6, a seguir.) Outra técnica consiste em começar o episódio com uma mudança sem preparação
para a tônica menor ou para uma nova tonalidade. (Ver Exemplo 10.9a e Exemplo 10.4). O
segundo refrão também pode ser abreviado e fundido com o início do segundo episódio. O
finale da Sinfonia n. 35 de Mozart, ‘Haffner’, usa exatamente essa técnica. O refrão original é
um período assimétrico e contrastante: há uma frase antecedente com oito compassos apenas
para cordas, seguida por uma frase consequente de dez compassos para orquestra completa.
Quando o refrão retorna pela segunda vez (Exemplo 10.9b), a frase consequente é alterada
após o quarto compasso para iniciar o episódio de desenvolvimento” (MATHES, 2007, p. 238).
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“Ver, por exemplo, a Sonata para piano de Beethoven op. 28 em Ré maior, III, comp. 160-192” (MATHES, 2007, p.
240).
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Conclusão
“Superficialmente, uma forma rondó é um design bastante direto. Aparentemente
simples, melodiosa e facilmente percebida, é uma forma seccional que pode facilmente carecer
de complexidade ou interesse formal. Mas nas mãos de compositores habilidosos, um rondó
apresentará temas sedutores, conexões habilidosas entre seções e reviravoltas surpreendentes
que podem gerar uma obra de grande interesse. Frequentemente caracterizado como uma
forma viva e alegre em suas expressões, um rondó pode exibir pathos e drama, bem como
charme, sagacidade e exuberância” (MATHES, 2007, p. 242).
Sugestões de leituras
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6.3 Diagrama formal: Mozart, Sonata para piano K. 333, III. Complete o diagrama
abaixo:
Seção Compassos Tonalidades Comentários
A (Refrão) 1-16 Bb (I) Período paralelo de 8 compassos,
repetição variada
Transição
B (Episódio 1)
Retransição
A
Transição
C
Retransição
A
Transição
B
Retransição
Cadência
A – Coda
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Introdução
“O termo ‘variação’ na música pode se referir a uma técnica composicional fundamental
ou a um gênero formal. A técnica de variação é um processo formal básico pelo qual as ideias
musicais são ornamentadas ou elaboradas. As técnicas de variação são amplas e podem incluir
ornamentação ou elaboração rítmica de ideias melódicas, manipulações motívicas,
rearmonização, mudanças na estrutura da frase, e mudanças na textura e no timbre. Os
capítulos anteriores abordaram as técnicas de variação em muitos contextos e níveis formais
diferentes. Observamos como a variação motívica, usando técnicas como sequência,
ornamentação e fragmentação, é usada para desenvolver ou estender ideias. Os processos
variados de repetição, resposta, continuação e expansão ilustram como a variação de ideias é
importante para moldar as estruturas frasais. A variação de ideias musicais também é
essencial para expressar funções de desenvolvimento. Na discussão sobre as formas binárias e
os ternários circulares, observamos como as reformulações de frases ou seções completas
muitas vezes acarretavam variações do material anterior. Da mesma forma, observamos na
forma sonata que uma recapitulação pode ser entendida como uma recapitulação variada da
exposição. O conceito de variação também é essencial para a forma cíclica, a forma de arco e
a modificação de outras formas, como na variação do rondó. Em suma, o conceito de variação
é básico para a forma musical e aplicável a uma ampla gama de obras musicais” (MATHES,
2007, p. 246).
“Embora abordemos certas técnicas de variações, esta discussão se concentrará nas
variações como categoria formal e gênero. A forma tema e variações refere-se a uma obra
ou movimento em que um tema independente, ou ideia musical, é apresentado e repetido
várias vezes de forma variada. O design formal das variações tende a ser aditivo, na medida
em que a forma resulta de uma sucessão de variações, uma após a outra. O tema e cada
variação compreendem uma seção da forma, que pode ser designada por A1A2A3 e assim por
diante. O número de variações não é definido; um compositor pode escrever quantas variações
quiser. Consequentemente, não há hierarquia formal prescrita ou contraste na função formal
entre as seções. Existem, no entanto, maneiras de moldar as variações para que sejam criados
designs seccionais maiores, um ponto a ser discutido mais adiante” (MATHES, 2007, p. 246).
“Dois tipos gerais de formas de variação são comumente usados em música: as
variações ostinato e o tema e variações. O termo ostinato – termo italiano para obstinado –
refere-se a qualquer figura ou ideia musical que é continuamente repetida em uma frase,
seção ou composição inteira. As variações ostinato são compostas sobre uma linha de baixo
ou progressão harmônica que é repetida continuamente ao longo de uma composição. Ideias e
texturas musicais variadas são apresentadas a cada repetição. O ostinato geralmente tem de 4
a 8 compassos, na forma de uma única frase ou período. As variações ostinato são contínuas,
no sentido de que as frases tendem a elidir umas nas outras. Por outro lado, o tema e
variações tende a ser seccional, porque o tema é normalmente uma pequena forma binária
ou ternária de 2 a 4 frases. Como o tema é uma forma fechada e independente, há pequenas
rupturas ou pausas após cada variação. A base de um tema e variações é a melodia original do
tema e sua estrutura harmônica e formal” (MATHES, 2007, p. 246).
“Ambos os tipos de variações são frequentemente escritos para instrumentos solo, em
particular teclado solo. Os ostinati também foram usados em obras vocais da era barroca, bem
como em movimentos de suítes. Eles servem como técnica composicional básica em muitos
tipos de música também nos séculos XIX e XX. Sonatas com vários movimentos, música de
câmara e obras sinfônicas frequentemente incorporam temas e variações. Como as variações
ostinato são baseadas em temas mais curtos, elas geralmente contêm um grande número de
variações. Por exemplo, a monumental Chacona para violino desacompanhado, em Ré menor,
de Bach contém trinta e duas apresentações do ostinato com oito compassos. As composições
de tema e variações tendem a ter de quatro a dez variações, embora algumas variações
monumentais, como as Goldberg-Variationen de Bach ou as Diabelli Variations de Beethoven,
tenham mais de trinta variações” (MATHES, 2007, p. 246-247).
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“A forma variações ostinato se desenvolveu e floresceu dos séculos XVI a XVIII; a forma
tema e variações foi desenvolvida no século XVIII. Várias misturas desses tipos podem ser
encontradas em períodos posteriores. Dentro dessas duas categorias, tipos de variações
podem ser identificados, dependendo da natureza do tema, do gênero em que é utilizado e da
maneira como os elementos do tema são mantidos ou variados. A discussão a seguir discutirá
abordagens para compor variações em diferentes estilos e gêneros. Ela também irá se referir
ao uso geral de um ostinato como um dispositivo construtivo” (MATHES, 2007, p. 247).
Variações ostinato
Ground bass
“As variações ostinato, muitas vezes identificadas como variações contínuas, são
construídas sobre uma linha de baixo repetitiva, denominada ground bass ou basso
ostinato (termos italianos). O ostinato pode incorporar um padrão harmônico recorrente.
Tanto a linha do baixo quanto a progressão harmônica podem sofrer variações. Sobre a linha
de baixo ‘obstinada’ um compositor escreve uma sucessão de texturas e melodias variadas. A
forma em grande escala geralmente é alcançada por aumentos graduais no movimento rítmico
e por mudanças na densidade, na dinâmica e no âmbito. As variações ostinato barrocas
normalmente permanecem em uma única tonalidade, embora uma mudança no modo possa
fornecer contrastes entre grupos de variações” (MATHES, 2007, p. 247).
“O precedente para o basso ostinato reside nas danças renascentistas baseadas em
progressões harmônicas repetidas, usando tríades na posição fundamental. As linhas de baixo
foram caracterizadas por um ritmo consistente e um padrão diatônico simples. Um exemplo
desse tipo de basso ostinato é ouvido no conhecido Canon para três violinos e baixo, em Ré
maior, de Johann Pachelbel, escrito no final do século XVII (Exemplo 11.1a). O ground bass
consiste em uma sequência de terças descendentes terminando no acorde de dominante, e
uma linha de baixo caracteristicamente simples, mas forte. O cânone ocorre nos três violinos
que continuam ao longo da composição em imitação estrita sobre a linha do baixo repetitiva.
Embora tenha sido denominada cânone, a obra é, na verdade, uma variação ostinato. À
medida que o cânone progride, o movimento rítmico e o âmbito aumentam gradualmente,
dando forma a todo o movimento. As mudanças contrariam o uso consistente da harmonia
diatônica e de uma única tonalidade” (MATHES, 2007, p. 247).
208
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“Embora vários padrões diferentes de linha de baixo possam ser encontrados no basso
ostinato barroco, os tetracordes ascendentes ou descendentes são frequentemente usados.
Esses tetracordes podem ser menores ou maiores, conforme ilustrado nos Exemplos 11.1b e
11.2a. O movimento gradual desses padrões conduz ao quinto grau da escala e pode atingir
uma SC ou ser estendido para fechar em uma CAP. O Exemplo 11.1b mostra um tetracorde
de escala menor descendente com uma leve ornamentação nos compassos 2-3. Em algumas
variações ostinato, a linha do baixo permanecerá inalterada, enquanto em outras, estará
sujeita a elaborações variadas. O Exemplo 11.1c mostra um basso ostinato exposto no início
de uma Ciaccona de Pachelbel e uma elaboração do ostinato usado em uma das variações. Em
muitas obras que utilizam baixos solos, a linha do baixo permanece inalterada, embora
possam ocorrer alterações em harmonias específicas” (MATHES, 2007, p. 248).
“Compositores de obras vocais usaram linhas de baixo ostinato para fornecer uma base
harmônica, permitindo que as partes vocais desenvolvessem ideias livremente, em resposta ao
texto. Por exemplo, um simples tetracorde descendente serve como um ostinato ao longo da
primeira seção do dueto final da ópera de Monteverdi, L'Incoronazione di Poppea (Exemplo
11.2a). O conhecido lamento da ópera Dido and Aeneas de Purcell é baseado em um
tetracorde descendente elaborado com notas de passagem cromáticas (Exemplo 11.2b). Este
ground bass cromático foi associado a uma expressão de pesar. Dido's Lament é um exemplo
de obra vocal que repete ao longo do ground bass, mas pode ser visto em termos de um
design formal maior quando as partes vocais são consideradas. A análise das frases textuais,
repetições e contrastes temáticos, e cadências revela uma bipartição de toda a ária. Isso é
abordado nos exercícios a seguir” (MATHES, 2007, p. 248).
Passacaglia e chaconne
“Dois gêneros intimamente relacionados da era barroca são particularmente associados
às variações ostinato, a saber, a passacaglia e a chaconne1. Esses gêneros instrumentais são
semelhantes porque: (1) fazem uso de linhas de baixo ou de harmonias em ostinato; (2) estão
tipicamente em andamentos lentos ou moderados e métrica ternária; e (3) originalmente eram
tipos de dança. Conjuntos de variações dessas danças foram compostos e publicados para
instrumentos solo de cordas e de teclas no início do século XVII2. A chaconne tendia a estar
em tonalidade maior e a apresentar uma progressão harmônica completa no início. As
passacaglias estavam em tonalidade menor e usavam um basso ostinato inicialmente
apresentado desacompanhado. Na prática, o uso dos termos era muitas vezes indiscriminado.
Muitas chaconnes foram compostas sobre um ground bass contínuo. Por outro lado, as obras
intituladas passacaglia às vezes começam com uma textura com harmônica completa, que
pode variar no decorrer do movimento. Com o tempo, as distinções entre os dois tipos
tornaram-se indistintas” (MATHES, 2007, p. 249).
1
“Os termos ciaconna (espanhol) e passacaille (francês) também são encontrados” (MATHES, 2007, p. 249).
2
“A chaconne e a passacaglia foram a base das variações tocadas pelos violonistas espanhóis no início do século XVII.
A chaconne era originalmente uma dança latino-americana; a passacaglia era uma dança ambulante que precedia ou
seguia canções e outras danças” (MATHES, 2007, p. 249).
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“Os exemplos mais famosos de cada um desses gêneros são duas obras expansivas de
Bach: a Passacaglia em Dó menor para órgão e a Chaconne em Ré menor para violino. As
distinções destacadas entre uma chaconne e uma passacaglia são provavelmente baseadas
nesses exemplos bem conhecidos. O basso ostinato em uma passacaglia pode assumir a forma
de uma linha de baixo original, como aquela que inicia a passacaglia de Bach para órgão.
Como os baixos básicos que encontramos, este basso ostinato é um padrão diatônico que
estabelece claramente a tonalidade. No decorrer das variações, Bach coloca essa linha de
baixo melódica em uma voz superior, introduzindo, assim, variações na própria linha de baixo”
(MATHES, 2007, p. 249).
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rítmico e no âmbito. Após essas 20 apresentações, a primeira parte do tema do baixo é usada
como tema para uma fuga dupla, que conduz a uma apresentação final do tema do baixo na
voz superior e uma coda, que contém as texturas rítmicas mais elaboradas do movimento”
(MATHES, 2007, p. 250).
“Na Chaconne em Ré menor, de Bach, há 32 apresentações do tema com oito
compassos, o que resulta em 64 apresentações da progressão harmônica inicial com quatro
compassos. O movimento claramente se divide em três partes, com base em uma mudança de
modo para Ré maior no compasso 133, retornando para Ré menor no compasso 209. No
decorrer do movimento, Bach explora a ampla gama de técnicas disponíveis para um violinista
virtuoso, incluindo passagens brilhantes, melodias polifônicas, cordas duplas e texturas
formadas por blocos de acordes, arpejos rápidos e amplos, e notas repetidas usando
bariolage3. Essas várias técnicas instrumentais fornecem uma maneira de considerar o
agrupamento de variações. Contrastes de ritmo, textura e progressões harmônicas também
moldam a sucessão de variações. A forma e as subdivisões das três grandes seções são
abordadas nos exercícios a seguir” (MATHES, 2007, p. 250).
Ostinato como um dispositivo construtivo
“As variações ostinato predominantes na música barroca cederam espaço para o tema e
variações no final do século XVIII, embora alguns exemplos notáveis sejam encontrados nos
séculos XIX e XX4. O uso de um ostinato como um dispositivo construtivo em seções de uma
obra permaneceu como uma técnica de composição viável. Vários exemplos de ostinati usados
em obras dos séculos XIX e XX são mostrados nos Exemplos 11.5a-d” (MATHES, 2007, p.
250).
“Alguns compositores do século XIX costumavam usar figuras de ostinato por seu efeito
expressivo ou como um recurso composicional. Na Sinfonia n. 9 de Beethoven, o súbito
aparecimento de um ostinato cromático no baixo empresta uma atmosfera trágica ao final do
primeiro movimento (Exemplo 11.5a). A Berceuse para piano de Chopin é inteiramente
baseada em um ostinato harmônico de um único compasso, usando apenas harmonias de
tônica e dominante. O movimento ondulatório dessa figura faz parte do efeito calmante da
canção de ninar (Exemplo 11.5b). Sobre este ostinato, Chopin elabora uma variedade de
figuras melódicas pianísticas. Em obras vocais, como o lied Gretchen am Spinnrade de
Schubert, um ostinato rítmico persistente é usado no acompanhamento, para expressar um
elemento do texto. Embora ocorram mudanças harmônicas e pequenas variações no contorno
melódico, o ritmo persistente e o âmbito estreito da figura refletem a monotonia da roda
giratória e a desesperança do cantor apaixonado (Exemplo 11.5c)” (MATHES, 2007, p. 251).
“As figuras em ostinato também podem assumir a forma de uma linha melódica repetida
ou de uma figura rítmica persistente. O Carillon de L'Arlésienne Suite n. 1, de Bizet, está em
uma forma ternária cuja primeira seção usa o ostinato simples de três notas mostrado no
Exemplo 11.5d. Esta figura é delegada às trompas e imita o repicar dos sinos de um
carrilhão, ao fundo da linha melódica principal” (MATHES, 2007, p. 251).
3
“O termo bariolage refere-se à rápida alternância entre cordas soltas e presas, geralmente na mesma tonalidade,
produzindo um contraste na qualidade sonora” (MATHES, 2007, p. 250).
4
“Por exemplo, veja as 32 Variações para piano solo, WoO 80, em Dó menor, de Beethoven, e a Sinfonia n. 4, IV, de
Brahms; são chaconnes baseadas em uma progressão harmônica com oito compassos. Veja também as passacaglias
no Fourth Sea Interlude da ópera Peter Grimes, op. 33b, de Britten, a ópera Wozzeck, ato IV, cena 2, de Berg, e o
Prelúdio n. 12, dos 24 Prelúdios e fugas, op. 87, de Shostakovitch” (MATHES, 2007, p. 250).
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“Essas texturas complexas e polirrítmicas, que usam vários ostinati rítmicos diferentes
também são encontradas em obras musicais africanas para percussão, as quais influenciaram
muitos compositores contemporâneos, principalmente os da música minimalista5.
Compositores tão diversos quanto Ligeti e Reich usaram ostinati de uma nova maneira
construtiva, baseada em transformações e ciclos métricos, o que será abordado em um
capítulo posterior. Finalmente, a proeminência dos ostinati pode ser observada no jazz e no
rock, onde abundam improvisações e repetições sobre as progressões harmônicas repetitivas”
(MATHES, 2007, p. 253).
Análise auditiva (MATHES, 2007, p. 254)
“Ouça os exemplos musicais antes de estudar a partitura. Observe os seguintes
aspectos enquanto ouve:
1. O ostinato é um ground bass ou uma ideia harmônica/melódica? Se for um ground bass, é
apresentado sozinho no início?
2. O ostinato chega a uma SC ou é elidido a uma CAP?
3. O ostinato da linha de baixo é consistente ou variado? Essas mudanças introduzem
variações na progressão harmônica?
4. Se a composição for uma obra vocal, ouça novamente com foco na(s) linha(s) vocal(ais). As
cadências da linha vocal coincidem com as do ostinato? Identifique repetições, reformulações e
contrastes na linha vocal.
5. Se a obra for de variações instrumentais de ostinato, há grandes seções evidentes? As
variações são agrupadas com base em aumentos sistemáticos em movimentos rítmicos ou em
mudanças na textura e na dinâmica?”
5
“O termo música minimalista refere-se a composições baseadas em repetição persistente e mudanças muito
graduais, muitas vezes usando ostinati diatônicos simples. O uso de ostinati em obras musicais do século XX em geral
reflete um interesse crescente em músicas e culturas não ocidentais” (MATHES, 2007, p. 253).
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2.3 “Nesta obra, Bach explora as capacidades técnicas do violino. Identifique várias técnicas ou
texturas relacionadas ao instrumento, ou seja, contrastes em registro e extensão, linhas
compostas, cordas duplas, texturas com figurações de acordes arpejados e bariolage. Algumas
variações se agrupam com base nessas técnicas?”
2.4 “Quais variações possuem texturas mais complexas e harmonizações elaboradas? Existem
clímax em grandes seções? Se sim, como são enfatizados? Onde estão os momentos mais
enfáticos? O que as terminações das três grandes seções da composição têm em comum?
Quais aspectos fazem com que cada uma delas seja única?”
2.5 “Finalmente, considere como esses vários fatores podem influenciar o uso da dinâmica e
do ritmo em uma performance. Ouça 2 a 3 performances diferentes da obra, observando
semelhanças e diferenças nas decisões interpretativas. Com base em suas descobertas
analíticas, discuta os aspectos que podem ter influenciado a interpretação”.
3. Holst, Chaconne da First Suite for Military Band, op. 18, n. 1, em Mib maior.
“Uma redução para piano desta composição é reproduzida aqui. Neste elemento básico
da literatura de sopro do século XX, Holst baseia-se nas técnicas de variação barroca do
ground bass. Que título alternativo, e talvez mais preciso, poderia ter sido usado para esse
movimento? Até que ponto o tema do baixo é alterado no decorrer do movimento? O
movimento e o tema estão em Mib maior. Onde essa tonalidade é confirmada por forte
atividade cadencial? Qual tonalidade é tonicizada nas variações 2-3 (compassos 17-32)?
Compare cuidadosamente a apresentação da variação 9 (compassos 73-80) com o tema
original. Que técnica Holst usa para variar o tema e como isso afeta a tonalidade nesses
compassos?”
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Tema e variações
Introdução
“O tema de uma composição na forma de tema e variações é geralmente uma pequena
forma binária ou ternária, e normalmente há pausas ou pequenas quebras entre as variações.
Consequentemente, o termo variação seccional é usado para descrever esse tipo de forma
de variação. Esta forma foi particularmente prevalente na música dos períodos clássico e
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romântico. A fonte do tema foi uma influência importante na abordagem geral das variações.
Variações sobre uma melodia preexistente geralmente se baseavam em melodias bem
conhecidas de um público-alvo e provavelmente eram uma peça solo separada. Os títulos
geralmente indicavam a fonte da melodia do tema, como em Sieben Variationen über
das Volkslied ‘God Save the King’, de Beethoven. Mais importante, as variações sobre melodias
populares tendiam a ser de estilo improvisatório, com ênfase em variações de melodias
familiares. Os resultados geralmente eram leves em caráter e expressão, e prontamente
acessíveis aos ouvintes. Por outro lado, os movimentos com variação em obras com
multimovimentos, como sonatas ou sinfonias, eram normalmente baseados em temas
originais, e eram mais propensos a apresentar variações complexas e uma ampla gama de
efeitos expressivos, muitas vezes sérios, dramáticos ou reflexivos” (MATHES, 2007, p. 258).
“Exceções são encontradas a essas distinções, principalmente em três obras-primas do
gênero para instrumentos de teclas solo: as Goldberg-Variationen de Bach, as Diabelli
Variations de Beethoven e as Variations and Fugue on a Theme by Handel, de Brahms. Cada
uma dessas obras para instrumentos de teclas solo é um conjunto estendido de variações
técnica e interpretativamente exigentes, contendo uma ampla gama de tipos de variação6.
Exemplos notáveis no repertório de música de câmara são duas obras de Schubert: o Quinteto
com piano op. 114, D. 667, em Lá maior (conhecido por ‘A Truta’), e o Quarteto de cordas em
Ré menor (conhecido por ‘A morte e a Donzela’). Essas obras baseiam-se em lieder do próprio
Schubert para a composição do tema e das variações do movimento” (MATHES, 2007, p. 259).
“Um aspecto básico para a análise de um tema e variações é reconhecer os elementos
fixos e variáveis de um tema; isto é, quais características do tema são mantidas e quais são
variadas, substituídas ou eliminadas. De um modo geral, no tema e nas variações ao longo dos
séculos XVIII e XIX, o design formal, a estrutura da frase e a estrutura harmônica eram os
elementos mais importantes do tema a serem mantidos. A melodia do tema é frequentemente
a característica mais saliente de um conjunto de variações, embora às vezes possa ser omitida
enquanto outros elementos são mantidos e variados. A discussão a seguir aborda tipos gerais
de variações e técnicas básicas. Os vários tipos não são necessariamente exclusivos e uma
variação específica pode empregar duas ou mais abordagens diferentes” (MATHES, 2007, p.
259).
1. Variações melódicas [melodic variations]
“Variações melódicas são aquelas em que a melodia é mantida em sua forma original
ou variada. Muitas variações do final do século XVIII e início do século XIX dependiam muito
dessa abordagem. Se uma melodia é variada, a extensão em que ela é reconhecível irá, é
claro, variar. Embora a estrutura formal e o design tonal do tema também sejam mantidos, as
variações melódicas geralmente incorporam ornamentações ou variações nas progressões
harmônicas específicas, bem como novos acompanhamentos. Podem ser identificados vários
tipos de variações, que podem ser entendidas como variações melódicas” (MATHES, 2007, p.
259).
“Variação cantus firmus [cantus firmus variation]. Nesse tipo de variação, a melodia
permanece inalterada ou de forma ligeiramente simplificada ao longo de uma variação. Essa
abordagem pode ser entendida como um tipo de variação contrapontística, pois a ênfase está
na criação de contramelodias ou de novos tipos de acompanhamento em torno do tema fixo. O
tema pode ser colocado em um registro ou instrumento diferente, mas é claramente
reconhecível. Os primeiros exemplos dessa técnica de variação são encontrados em variações
corais, prelúdios corais e movimentos de cantata coral do período barroco7. Um conhecido
movimento de variação de Haydn, seu Quarteto de cordas op. 76, n. 3, II, utiliza esta técnica
para cada uma das variações. Schubert também favoreceu o uso de uma melodia fixa em suas
variações, embora não exclusivamente” (MATHES, 2007, p. 259).
6
“Ver também Variations on a Theme of Haydn, de Brahms, e Enigma Variations, de Elgar, ambos conjuntos de
variações para orquestra em larga escala” (MATHES, 2007, p. 259).
7
“As técnicas de cantus firmus originaram-se em missas e motetos renascentistas, nos quais os compositores
costumavam destacar uma melodia de hino bem conhecida das demais vozes usando notas com durações mais longas.
Eles poderiam, então, compor um novo contraponto ou um contraponto baseado nos motivos do cantus firmus contra
o cantus” (MATHES, 2007, p. 259).
218
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“Variação por figuração [figural variation]. Uma variação por figuração que apresenta
a melodia com diminuições (elaborações melódicas/rítmicas), as quais fazem uso de um
padrão consistente, rítmico e/ou de altura – as ‘figuras’ – por exemplo, padrões rítmicos
pontuados, padrões escalares, tercinas ou semicolcheias, e assim por diante. O conjunto
Variations on ‘Ah, vous, dirai-je, Maman’, de Mozart, sobre uma melodia agora conhecida
como ‘Twinkle Twinkle Little Star’ ilustra esse tipo de variação. O Exemplo 11.8 mostra a
primeira seção curta do tema e duas das variações subsequentes” (MATHES, 2007, p. 259).
219
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220
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8
“Essa técnica geralmente é aparente pela ausência de sinais de repetição anotados, originalmente vistos no tema.
Nesse caso, Beethoven também escreveu repetições no tema binário original” (MATHES, 2007, p. 262).
221
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9
“Citado por Elaine Sisman em Variations, no The New Grove Dictionary of Music and Musicians, segunda edição,
volume 26, editado por Stanley Sadie e John Tyrell em 2001” (MATHES, 2007, p. 263).
10
“Esse título da obra de Elgar se refere: (1) ao quebra-cabeça da personalidade caracterizada em cada um dos vários
movimentos – os nomes das pessoas são indicados apenas por iniciais na partitura; e (2) aos comentários enigmáticos
do compositor, de que o tema é, na verdade, uma contramelodia para um tema popular existente. O primeiro desses
enigmas foi resolvido; o segundo continua sendo uma fonte de especulação” (MATHES, 2007, p. 264).
222
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nova figura. O que se segue é uma rápida justaposição das duas ideias principais do tema,
com o tema A comprimido em dois compassos. A alternância das duas ideias e a combinação
delas com as novas figuras produz uma estrutura formal inteiramente nova, de 41 compassos
de dimensão” (MATHES, 2007, p. 264).
“No decorrer das variações, Elgar incorpora contrastes entre tonalidades, andamentos e
modos [maior/menor], com variações em Dó maior, Dó menor e Mib maior. Duas das variações
trazem títulos complementares – a Variação X é um Intermezzo, e a Variação XIII, uma
Romanza – e fornecem apenas uma referência fugaz ao tema, enquanto outras mantêm o
esboço formal básico do tema. Como muitas variações livres para orquestra, contrastes
marcantes na orquestração, articulação e dinâmica contribuem para o caráter das variações
individuais. A mistura de inspiração programática e invenção musical a torna esta uma das
obras mais perenes do gênero” (MATHES, 2007, p. 264).
223
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11
“Consulte o Capítulo 10, Exemplo 10.1” (MATHES, 2007, p. 265).
12
“Em Classical Music, Ratner (1980, p. 256) refere-se a esta técnica pelo termo ‘variação de divisão’ [division
variation]” (MATHES, 2007, p. 266).
13
“Exemplos incluem as Variations on a Theme by Handel, de Brahms, e o guia Young Persons to the Orchestra, de
Britten” (MATHES, 2007, p. 266).
14
“Veja, por exemplo, o movimento lento da Sinfonia n. 103 de Haydn, conhecida por ‘Sinfonia dos tambores’”
(MATHES, 2007, p. 266).
224
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não a melodia. As trinta variações são organizadas em grupos de três: no primeiro, há uma
variação em um estilo particular (invenção, giga, abertura francesa, e assim por diante); no
segundo, há uma variação virtuosística explorando os dois manuais de teclado e o cruzamento
de mãos; no terceiro, há uma variação canônica variação na qual cada um dos cânones
aumenta o intervalo de imitação do uníssono até uma nona. As trinta variações terminam com
uma simples recapitulação do tema original” (MATHES, 2007, p. 266).
“Os movimentos com tema e variações nas sinfonias e quartetos de cordas de Beethoven
abordam, de forma criativa, o desafio de criar uma forma dramática em larga escala e uma
continuidade em uma forma que é seccional e aditiva por natureza. O Quarteto de cordas op.
131 de Beethoven usa conexões rítmicas ou sobreposição de frase entre quase todas as
variações. Esta técnica dá uma aparência de continuidade em meio aos contrastes dramáticos
entre as variações. Ela também requer uma consideração cuidadosa por parte dos performers
junto às conexões de frases e mudanças no andamento. A coda de fantasia [fantasy-like coda]
desse movimento apresenta reformulações fragmentárias das ideias melódicas do tema, ao
mesmo tempo em que incorpora mudanças na tonalidade e no andamento, bem como traz
passagens semelhantes à cadência para cada um dos músicos. As variações são encontradas
nos finales de duas das mais famosas sinfonias de Beethoven, de n. 3 e 9. O finale da Sinfonia
n. 3, que será abordado nos exercícios, apresenta dois temas diferentes, mas intimamente
relacionados, incorpora transições, expansões formais, contrastes de tempo, uma introdução e
uma coda, tudo organizado para trazer uma progressiva atmosfera dramática, apropriada a
um movimento sinfônico. O final de sua Sinfonia n. 9, uma mistura mais complexa de
princípios e estilos formais, incorpora variações do conhecido tema Ode à alegria em todo o
movimento” (MATHES, 2007, p. 266-267).
“A forma fixa e as variações livres que predominaram desde Beethoven mostram uma
ampla mistura de abordagens para conjuntos individuais de variações. Stravinsky, que fez uso
de movimentos de variação em sete obras diferentes, incluindo as Variações para orquestra
(Aldous Huxley in Memorium), abordou cada conjunto de variações de maneira única. Seu
Octet for Winds inclui um conjunto de variações alternadas, esquematizadas na Figura 11.2”
(MATHES, 2007, p. 267).
15
“As quatro notas desse padrão fazem parte de uma escala octatônica, preferida por Stravinsky em muitas obras.
Observe que as quatro notas, ou tetracorde, quando colocadas em ordem normal (escalar), são construídas
alternando-se semitons e tons inteiros, o que está relacionado à escala octatônica. Stravinsky descreve esse padrão
como duas terças menores, separadas por uma terça maior, ou seja, Lá-Dó/Sib-Réb (C#). Veja o Capítulo 14 para uma
discussão sobre a escala octatônica” (MATHES, 2007, p. 267).
225
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226
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227
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3. “Haydn, Sinfonia n. 104, II.16 Este movimento lento é uma grande forma ternária.
Como em muitas de suas obras, Haydn incorpora técnicas de variação na recapitulação da
seção de abertura, após a seção central contrastante. Procure comparar a primeira e a terceira
seções da obra e distinguir os elementos fixos e variáveis na recapitulação variada”.
4. “Beethoven, Sinfonia n. 3, IV. O final desta sinfonia é um conjunto de variações
construídas sobre os seguintes temas: (a) um tema de linha de baixo introduzido nos
compassos 12-43 e (b) um tema melódico, para o qual o primeiro tema é a linha de baixo. A
primeira frase de cada um dos temas é mostrada aqui”.
16
“Este exercício pressupõe que o professor e os alunos tenham acesso à partitura completa [através do site IMSLP,
que atualmente disponibiliza gratuitamente obras de domínio público]” (MATHES, 2007, p. 270).
228
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4.3. “Descrições (em ordem aleatória). Combine as descrições a seguir com as variações e
divisões que estão no interior da coda descrita na Figura 11.3.
229
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1. Pela primeira vez o tema aparece com notas sustentadas através do contraponto.
2. Floreios brilhantes em fragmentos motívicos, repetições enfáticas, articulações dinâmicas sf.
3. Solo de oboé sincopado na segunda metade da variação do tema melódico.
4. Tema do baixo invertido com um novo contraponto em Mib maior.
5. Pedal de dominante longo, mas ornamentado em textura cheia e partes de cordas amplas.
6. SC dramática em Mib maior, seguida por uma configuração de tema melódico semelhante a
uma ária.
7. Tema melódico, agora com o baixo em em Mib maior, à maneira coral e semelhante a uma
marcha, majestoso.
8. Marcha turca sobre o tema do baixo.
9. Tema melódico, trazendo apenas o antecedente, em Dó menor.
10. Fugato no tema baixo, relacionado à primeira variação em Dó menor.
11. Mudança abrupta para Si menor e depois para Ré maior; tema melódico.
12. Transição de Mib maior para uma SC em Dó menor.
13. Os trompetes tocam o tema do baixo, os contrabaixos e violoncelos estão em estilo
brilhante, o violino está na melodia.
14. O tema de baixo agora está na melodia, com um contraponto rápido.
15. Mudança para Láb maior após a coda ter iniciado, nos primeiros violinos, a execução
melódica de um antecedente disfarçado.
16. A fanfarra introdutória faz um retorno dramático”.
“Obras adicionais para análise. Todas as obras listadas nos exercícios ou ao longo
deste capítulo oferecem excelentes exemplos da ampla gama de técnicas de variação
específicas empregadas pelos compositores. Conjuntos de melodias familiares são bons
exemplos para as primeiras análises de variações”.
230
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Introdução
“Uma categoria geral ou tipo de forma musical é reconhecida como tal porque é
encontrada em muitas obras. Embora obras diferentes tenham estruturas formais únicas, elas
podem exibir designs formais semelhantes ou idênticos em grande escala, representando uma
categoria de forma musical. Por outro lado, alguns tipos de obras musicais são categorizados
com base nas técnicas composicionais e nos processos formais usados, em vez de o serem por
contarem com designs formais recorrentes. As obras baseadas em um ostinato, discutidas no
Capítulo 11, são uma dessas categorias. Outra categoria inclui obras baseadas em técnicas e
texturas contrapontísticas, que tendem a ser contínuas e compostas, e nas quais os designs
formais variam amplamente. Os gêneros contrapontísticos mais comuns e que serão discutidos
aqui incluem cânone, invenção, fuga e prelúdio coral. Eles são caracterizados por texturas
contrapontísticas resultantes da combinação de linhas independentes e igualmente
importantes. As técnicas mais prevalentes de tais gêneros são a imitação de uma ideia
temática em diferentes vozes, ou a combinação e desenvolvimento de temas contrastantes. A
discussão sobre esses gêneros esclarecerá algumas das técnicas composicionais empregadas
na escrita contrapontística e também os processos formais específicos associados a elas”
(MATHES, 2007, p. 274).
Imitação
“A imitação é uma das técnicas mais características dos gêneros contrapontísticos. Na
música, a imitação refere-se à repetição do material em uma voz ou parte1 diferente, em
momentos distintos. É uma técnica amplamente utilizada para a elaboração de ideias musicais,
sendo encontrada em diversos estilos e gêneros; no entanto, está especialmente associada a
gêneros e texturas contrapontísticas. Uma voz apresenta um tema, após o qual uma voz
diferente repete o mesmo material em pontos variados do continuum temporal. Como a
segunda voz imita a primeira, a primeira voz continua com um material diferente, gerando um
contraponto com a segunda voz. A entrada de uma voz imitativa é denominada ponto de
imitação [point of imitation]. A imitação pode envolver duas ou mais vozes, pode ter a
duração de apenas alguns tempos do compasso, ou pode continuar extensivamente” (MATHES,
2007, p. 274).
“A imitação pode ser caracterizada de diferentes maneiras. As duas caracterizações
básicas da imitação são o intervalo de alturas e o intervalo de tempo. O intervalo de alturas
refere-se à distância intervalar entre as vozes. Na imitação ao uníssono, a voz imitadora
repete o material a partir da mesma altura; na imitação à quinta justa, a segunda voz repete o
material uma quinta justa acima ou abaixo em relação à primeira voz, e assim por diante. O
intervalo de tempo refere-se à duração ou distância entre as entradas de vozes no continuum
temporal. A imitação à distância temporal de um tempo métrico, meio compasso, um
compasso ou a intervalos de tempo mais longos descreve a duração métrica antes da
ocorrência de um ponto de imitação. Outras técnicas de imitação envolvem variações na forma
da linha imitativa, conforme descrito no parágrafo seguinte. A imitação estrita refere-se à
retenção da quantidade e do ritmo do intervalo, enquanto a imitação livre ou modificada
mostrará alguma variação na sucessão, ritmo ou contorno intervalar” (MATHES, 2007, p. 274-
275).
Cânone
“Um dos mais antigos gêneros e técnicas imitativas é o cânone (termo grego para
‘regra’ ou ‘lei’), uma composição ou passagem na qual é usada a imitação estrita de uma
melodia. Cânones compostos como obras separadas são gerados inteiramente por meio de
imitação estrita. A regra de um cânone refere-se à tonalidade e ao intervalo de tempo em que
uma melodia está sujeita à imitação canônica. Um cânone também pode incorporar alterações
1
“Os termos ‘voz’ e ‘parte’ são usados para se referir aos versos de uma obra musical. Embora normalmente ‘voz’ seja
usada em referência à música vocal e ‘parte’ aluda à música instrumental, na prática, os termos são intercambiáveis.
O termo neutro ‘linha’ também é usado neste texto” (MATHES, 2007, p. 274).
231
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da melodia quando ela é imitada (ela pode ser invertida, retrógrada, mais lenta ou mais
rápida). O uso da mesma melodia em todas as vozes garante unidade e igualdade, enquanto
movimentos rítmicos contrastantes ou diferentes contornos que ocorrem simultaneamente
garantem a independência das linhas” (MATHES, 2007, p. 275).
Voz condutora e voz sectária [leader and follower]
“Tradicionalmente, a voz principal em um cânone, a parte que apresenta a melodia
primeiro, é denominada dux; a voz que a segue é denominada comes. Os termos condutora
e sectária [‘seguidora’] serão usados aqui. Os cânones podem ter duas vozes – uma
condutora e uma sectária – mas cânones a três ou quatro vozes, com 2-3 sectárias, não são
incomuns. Alguns cânones terão duas ou três vozes condutoras e vozes sectárias, e são
denominados cânones duplos ou triplos. Os cânones também podem ser acompanhados por
uma voz separada, que serve de contraponto à imitação canônica, às vezes denominada
cânone acompanhado ou cânone misto. Os cânones encontrados nas Goldberg-Variationen
de Bach são todos desse tipo” (MATHES, 2007, p. 275).
Round
“O tipo mais simples de cânone, o round, consiste em uma melodia que é cantada por
diferentes vozes que iniciam em diferentes momentos, com o número de repetições e vozes
deixados a critério dos intérpretes. Um round, consequentemente, implica imitação canônica
ao uníssono2. A peça ‘Row, Row, Row, Your Boat’ é um exemplo familiar de uma melodia que é
tratada como um round. Outros rounds bem conhecidos incluem hinos, como o ilustrado no
Exemplo 12.1. O cânone pode ser anotado como uma única linha melódica, como neste
exemplo. Os números mostrados acima de vários pontos da melodia indicam quando cada voz
sucessiva começa a cantar a melodia. Neste exemplo, os números indicam que a melodia pode
ser executada como um cânone a duas, três ou quatro vozes, em intervalos temporais de
quatro tempos. Em um round, como em todos os cânones, as diferentes partes da melodia
devem se alinhar para produzir progressões harmônicas e conduções de vozes corretas”
(MATHES, 2007, p. 275-276).
Bach e antecessores
“O cânone mais antigo conhecido foi escrito para quatro vozes é uma famosa
composição do século XIII intitulada Sumer is icumen in. Os cânones foram usados em vários
gêneros no século XIV, mas foi no período renascentista que a escrita canônica começou a
florescer, notadamente em obras sacras. Nos séculos XV e XVI, os compositores de missas e
motetos frequentemente incluíam seções ou movimentos em imitação canônica. No século
XVIII foi Bach, como era de se esperar, quem compôs alguns dos maiores cânones enquanto
explorava continuamente a arte do contraponto. Entre suas muitas composições que
incorporam cânones estão as variações canônicas natalinas Vom Himmel hoch, da komm ich
her, BWV 7694, a série de cânones nas Goldberg-Variationen BWV 988, a Musikalisches
Opfer BWV 1079 e Die Kunst der Fuge, BWV 1080. Cânones dessas obras são mostrados no
Exemplo 12.2 para ilustrar várias categorias de imitação canônica” (MATHES, 2007, p. 276).
2
“Os autores ingleses dos séculos dezesseis e dezessete se referiam a um round como ‘catch’. O round é também
denominado cânone circular” (MATHES, 2007, p. 275).
3
“Esta melodia é usada para o hino, All Praise to Thee” (MATHES, 2007, p. 275).
4
“Einige canonische Veränderungen über das Weihnachtslied, Vom Himmel hoch da komm ich her, BWV 769, de Bach”
(MATHES, 2007, p. 276).
232
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“Um cânone em espelho [mirror canon] no qual a voz sectária é uma inversão
melódica da condutora é mostrado no Exemplo 12.2a. A inversão melódica ocorre quando
uma melodia é reapresentada com o contorno invertido, ou seja, como um espelho do
contorno original. Este exemplo também ilustra um cânone com acompanhamento – neste
caso, uma linha de baixo que é usada nas variações5” (MATHES, 2007, p. 277).
“Um cânone retrógrado [retrograde canon] constitui-se em uma linha melódica
executada para frente e para trás simultaneamente. Consequentemente, não há voz condutora
ou sectária. Esses cânones são ocasionalmente chamados de ‘cânones caranguejo’ (‘canon
cancrizans’) porque uma parte se move para trás, como um caranguejo. O cânone retrógrado
no Exemplo 12.2b é anotado como um cânone enigmático [riddle canon], que fornece
dicas sobre como o cânone deve ser executado (a clave de cabeça para baixo no final), mas
sem nenhuma instrução explícita” (MATHES, 2007, p. 277).
“Os cânones enigmáticos aparecem em obras musicais desde o século XIV e refletem o
interesse dos compositores por técnicas enigmáticas e ocultas, e mostram sua habilidade e
sagacidade. Neste exemplo, deve-se notar a clave retrógrada que Bach colocou no final da
melodia canônica anotada. Isso indica que um dos performers deve tocar a melodia naquela
clave, mas ler a notação do fim ao começo. Cada artista poderia, então, inverter sua parte. Às
vezes, uma clave de cabeça para baixo ocorria no início, indicando um cânone invertido.
Outros enigmas podem estar na forma de pistas verbais” (MATHES, 2007, p. 277).
“Um cânone de mensuramento equivalente (ou proporcional) [mensuration (or
proportional) canon] é aquele em que as vozes seguintes executam a melodia do cânone em
aumentação ou em diminuição, conforme mostrado no Exemplo 12.2c. Neste caso, a voz
seguinte afirma o sujeito em movimento contrário e em aumentação, combinando duas
técnicas contrapontísticas diferentes. Em alguns cânones de mensuramento equivalente, as
vozes começam ao mesmo tempo, apresentando a mesma melodia em diferentes velocidades.
Compositores renascentistas produziram alguns exemplos notáveis de cânones de
mensuramento equivalente. A mais famosa delas é a Missa prolationum de Ockegham, na qual
cada um dos movimentos é um cânone duplo de mensuramento equivalente” (MATHES, 2007,
p. 277).
5
“Bach usou essa linha de baixo em outra obra canônica estendida, Fourteen Canons on the Goldberg Ground, BWV
1087” (MATHES, 2007, p. 277).
233
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Após Bach
“Os compositores depois de Bach continuaram a escrever cânones, muitas vezes como
obras vocais separadas. (Veja os exercícios a seguir.) Eles também usariam cânones em
movimentos instrumentais, principalmente em movimentos de minueto e em variações. Um
exemplo bem conhecido é o minueto do Quarteto de cordas op. 76, n. 2, em Ré menor, de
Haydn (Exemplo 12.3). Todo o minueto é escrito como um cânone estrito a duas vozes, que
adere à forma binária esperada de um minueto. O modo menor e a natureza inesperada e
inquieta do cânone levaram-no ao apelido de ‘Minueto das bruxas’” (MATHES, 2007, p. 277-
278).
234
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composta como uma única linha ou deve ser composta em fragmentos? Se sim, como isso
seria feito? Escrever o cânone em formato de partitura ajudará a explicar esse processo”.
Invenções [inventions]
“Um gênero exclusivo da obra de Bach é a Invenção para teclado. O conjunto de
‘Inventiones’ a duas vozes de Bach e de ‘Sinfoniae’ a três vozes são agora comumente
denominados ‘Invenções a duas e três vozes’. Essas coletâneas são, com efeito, manuais
pedagógicos em que diferentes tipos de temas são ‘inventados’ e elaborados através de
diversas técnicas contrapontísticas. As invenções servem, assim, como modelos de várias
técnicas composicionais e de performance para instrumentos de teclas. A discussão a seguir
abordará brevemente as invenções a duas vozes, com foco em algumas abordagens
composicionais básicas encontradas em muitas dessas obras” (MATHES, 2007, p. 279).
“Muitas das invenções a duas vozes são peças imitativas que soam semelhantes a uma
fuga (discutida posteriormente). Assim como ocorre com as fugas, as invenções se baseiam na
elaboração contrapontística de temas por meio da imitação. O tema principal de uma fuga ou
invenção é denominado sujeito; um tema recorrente usado como contraponto ao sujeito é
denominado contrasujeito6. As invenções a duas vozes diferem da escrita fugal nos seguintes
aspectos: (1) elas geralmente começam com ambas as vozes em vez de contar com uma única
voz; (2) tendem a ser mais curtas e menos elaboradas do que muitas fugas, com menor
número de temas, modulações e vozes; e (3) o sujeito de uma invenção tende a ser mais
conciso e muitas vezes é imitado à oitava. As invenções destinam-se a ilustrar o uso de vários
tipos de figuras – escalas, arpejos, figuras com saltos intervalares e assim por diante. Os
6
“Os termos ‘motivo’ e ‘contramotivo’ também são encontrados em escritos sobre as invenções, em referência a
sujeitos e contrasujeitos. Esses termos também refletem as diferenças citadas entre fugas e invenções” (MATHES,
2007, p. 279).
235
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sujeitos normalmente começam no grau 1 da escala ou, invenções a três vozes, no grau 5 da
escala” (MATHES, 2007, p. 279).
“Duas abordagens básicas para iniciar uma invenção podem ser identificadas. Oito das
quinze invenções a duas vozes começam com pontos de imitação que são seguidos e
alternados com episódios. O Exemplo 2.11 (Capítulo 2) ilustra uma invenção que começa
com três apresentações do sujeito, usando harmonias de tônica e dominante. Cada ponto de
imitação está à oitava, uma característica das invenções. Observe como a terceira
apresentação inverte a textura das apresentações anteriores. Na Invenção em Mi menor de
Bach (Capítulo 2, Exercícios), o sujeito é apresentado com um breve acompanhamento no
início. A brevidade do sujeito resulta em quatro apresentações do sujeito, duas na tônica e
duas na dominante” (MATHES, 2007, p. 279-280).
“A outra abordagem nas invenções a duas vozes é o uso de um sujeito e um
contrasujeito no início, que são repetidos com uma inversão da textura (Exemplo 12.4). Tal
uso de contraponto inversível é uma característica dessas invenções. Observe que o sujeito é
uma frase completa, em vez de uma ideia motívica curta, como encontrada nas invenções
mais imitativas. Dentre as sete invenções que começam dessa maneira, cinco apresentam
temas com quatro compassos, enquanto duas apresentam temas com dois compassos. A
inversão textural, conforme observado no Exemplo 12.4, ocorre com a repetição imediata dos
temas de abertura” (MATHES, 2007, p. 280).
236
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“A Invenção em Fá maior de Bach é uma das duas invenções que usam imitação
estendida em seu início, na forma de um cânone. Um ponto adicional de imitação começa em
Dó maior (V) no compasso 12, onde Bach troca a posição de registro das vozes sectária e
condutora. O design tonal desta invenção, em contraste com a Invenção em Mi menor, contém
apenas duas cadências fortes e várias tonicizações no interior de seu único episódio
(compassos 15-25). A seção canônica de abertura dos compassos 4-12 retorna para iniciar o
fechamento da invenção no compasso 26, agora começando na tonalidade de Sib maior (IV).
Este movimento para subdominante permite uma modulação à quinta justa ascendente em
relação à tônica, a qual é paralela ao movimento tonal da passagem canônica de abertura.
Observe como Bach tece habilmente essas reformulações parciais em uma frase de
237
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Fuga
“O gênero contrapontístico mais amplamente encontrado na música tonal é a fuga.
Originalmente, o termo fuga (que em latim significa voo) foi usado no século XIII para se
referir a uma peça em que duas vozes eram cantadas em imitação canônica, acompanhadas
por uma terceira voz. O título reflete a sensação de uma parte ‘voando’ ou perseguindo outra
em imitação. Durante o Renascimento, as obras sacras foram identificadas como fugais se
usassem imitação estrita (canônica) na exposição inicial de uma melodia. No período barroco e
posteriormente, o termo fuga refere-se a peças que empregam imitação sistemática e
elaboração contrapontística de temas, que podem ser desenvolvidos de várias maneiras.
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Tratadistas do século XVIII descreveram as fugas como uma conversa, uma discussão ou um
debate entre vozes. Obras intituladas ‘fuga’ são, principalmente, obras instrumentais, embora
muitas obras vocais sejam fugais, mesmo que elas não sejam intituladas como tal7. As fugas
instrumentais normalmente são precedidas por um prelúdio escrito na mesma tonalidade da
fuga” (MATHES, 2007, p. 283-284).
“Como gênero contrapontístico, a fuga não é uma forma, pois o design formal varia
muito. De fato, alguns estudiosos consideram a fuga apenas como uma descrição de uma
técnica composicional, já que o estilo fugal é encontrado em um grande número de gêneros.
Embora este ponto seja válido até certo ponto, as obras intituladas ‘fuga’ conterão
semelhanças básicas suficientes quanto às técnicas e processos contrapontísticos em suas
estruturas formais para constituir um gênero ou um tipo de composição. Normalmente, uma
fuga, como uma invenção, alternará passagens expositivas que apresentam o sujeito da fuga e
os episódios de desenvolvimento. A dimensão e o número dessas seções variam muito”
(MATHES, 2007, p. 284).
“No período barroco, a composição de fugas atingiu seu ápice nas obras de J. S. Bach. Os
detalhes dos processos fugais serão examinados com referência a exemplos dos dois volumes
de Das wohltemperierte Klavier de Bach, doravante denominado CBT I ou CBT II [O cravo bem
temperado, CBT I e CBT II; The Well-Tempered Clavier, WTC I e WTC II]. Cada volume desta
renomada obra para teclado contém vinte e quatro prelúdios e fugas, um em cada tonalidade
maior e menor8. O fato de Bach ter composto dois volumes de prelúdios e fugas é mais uma
indicação de seu interesse incessante em explorar o ofício da composição musical. A discussão
a seguir se concentrará na fuga instrumental como um gênero com uma discussão
subsequente de outros usos de técnicas fugais” (MATHES, 2007, p. 284).
Sujeitos e respostas
“Uma fuga normalmente começa com uma exposição desacompanhada do sujeito ou
tema principal da obra. Os temas da fuga variam amplamente quanto à dimensão, estrutura
da frase e estilo. A distância entre a entrada da primeira voz (o sujeito) e a segunda entrada
(a resposta) normalmente define a extensão do sujeito da fuga. No Exemplo 12.6, os sujeitos
da fuga são entendidos como um compasso, dois compassos, um compasso e meio e quatro
compassos, respectivamente. A colocação métrica das entradas fugais é consistente nessas
afirmações iniciais. Observe, no entanto, que o sujeito da fuga pode continuar até um ponto
mais estável, enquanto a segunda entrada é ouvida. Por exemplo, o sujeito no Exemplo
12.6a continua até a semínima Ré mais estável, que soa como uma pontuação de fechamento
mais forte. Essa sobreposição dá continuidade à textura rítmica e é típica do movimento
contínuo dos gêneros contrapontísticos. No entanto, é a distância real entre o sujeito e a
resposta que é a base para a extensão do sujeito e do contrassujeito. Essa distância é usada
para determinar uma técnica chamada stretto (termo italiano para perto), na qual as entradas
imitativas se sobrepõem em intervalos de tempo mais próximos” (MATHES, 2007, p. 284).
“Por uma outra perspectiva, os temas da fuga podem ser distintos como sendo de estilo
vocal ou instrumental. Essas categorias básicas são um reflexo das origens da fuga no século
XVI - o ricercare imitativo, derivado do moteto vocal e da canzona instrumental. Como Bach
demonstra continuamente, os temas da fuga podem assumir uma variedade de formas, estilos
e expressões idiomáticas. O Exemplo 12.6 mostra quatro sujeitos diferentes do CBT de Bach.
O sujeito da Fuga em Ré maior (Exemplo 12.6a) exibe dois motivos distintos que
demonstram a fragmentação como um meio de desenvolvimento episódico — os dois motivos
podem ser usados separadamente ou em contraponto um ao outro. Este tema também usa o
padrão rítmico pontuado persistente, que é característico do estilo da abertura francesa. O
Exemplo 12.6b ilustra uma fuga do tipo toccata, que emprega um movimento rítmico
contínuo enquanto incorpora três motivos diferentes. Em contraste, o Exemplo 12.6c mostra
um sujeito de fuga com valores de notas sustentadas, que o relacionam claramente com o
estilo vocal de um ricercare. O sujeito mostrado no Exemplo 12.6d é um sujeito tripartido
usando um padrão de exposição-variação e repetição-continuação. É também no estilo de uma
7
“Uma exceção notável é a Geographical fugue (1930), um movimento da Spoken Music de Ernst Toch” (MATHES,
2007, p. 284).
8
“O primeiro volume do CBT foi concluído em 1722; o segundo volume foi concluído em 1742” (MATHES, 2007, p.
284).
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giga animada com sua dupla característica, métrica composta e figuras (escalares) rápidas. O
Exemplo 12.6e é um exemplo de um sujeito bipartido, no qual são apresentadas duas ideias
diferentes separadas por pausas. As duas metades, neste tipo de sujeito de fuga, são às vezes
descritas como ‘cabeça e cauda’. Esses exemplos não são, de forma alguma, exaustivos, mas
fornecem alguns tipos característicos de sujeitos de fuga. Sujeitos adicionais, discutidos
abaixo, demonstrarão outras possibilidades” (MATHES, 2007, p. 284-285).
9
“Ver, por exemplo, a Fuga em Sol# menor, do CBT I, de Bach, e o Quarteto de cordas op. 131, I, de Beethoven”
(MATHES, 2007, p. 286).
10
“Veja a Fuga em Mib maior, do CBT I, de Bach, para uma resposta que tenha ajustes tonais no início e no final do
sujeito. Uma discussão detalhada sobre respostas tonais, incluindo sujeitos modulantes, está além do escopo da
presente explanação” (MATHES, 2007, p. 286).
240
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Exposição
“O início de uma fuga, no qual as vozes entram uma a uma com uma exposição do
sujeito ou a resposta, é denominado exposição. As texturas contrapontísticas de uma fuga
promovem um movimento contínuo, de tal forma que o final da exposição e o início da seção
intermediária podem ter um limite formal ambíguo. Uma cadência clara pode marcar a
conclusão da exposição, mas o final pode ser ofuscado pela sobreposição de frases. Em
qualquer caso, a exposição da fuga é concluída quando todas as vozes tiverem apresentado
todo o sujeito ou resposta” (MATHES, 2007, p. 286).
“Seja instrumental ou vocal, as partes de uma fuga são normalmente identificadas por
extensões vocais. Uma fuga a quatro vozes, por exemplo, conterá quatro vozes ou partes
designadas S-A-T-B [soprano, contralto/alto, tenor e baixo]. As fugas a três vozes
normalmente contêm partes S-A-B. No CBT, fugas a três e a quatro vozes são a norma,
embora uma fuga a duas vozes e duas fugas a cinco vozes sejam encontradas. A Figura 12.2
apresenta um diagrama com um modelo genérico de exposição de uma fuga a quatro vozes.
Uma fuga a três vozes simplesmente eliminaria a quarta entrada mostrada” (MATHES, 2007,
p. 286).
11
“Das vinte e seis fugas a três vozes no CBT [que, ao todo, contém 48 fugas], a ordem S-A-B é encontrada 12 vezes,
A-S-B 10 vezes, B-A-S e B-S-A duas vezes cada” (MATHES, 2007, p. 286).
12
“Alguns autores referem-se a esta passagem como uma codetta, uma vez que é adicionada à resposta, ou como
Episódio I, por conter características de escrita episódica. O termo ‘extensão’ é usado aqui para refletir a função da
passagem” (MATHES, 2007, p. 286).
13
“Veja, por exemplo, os últimos movimentos dos Brandenburg Concertos n. 2, 4 e 5 de Bach. Uma fuga dupla, em
que o segundo sujeito entra um pouco depois do primeiro sujeito, é encontrada no Kyrie do Requiem de Mozart”
(MATHES, 2007, p. 287).
241
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14
“Os termos ‘exposição subordinada’ e ‘reexposição’ são eventualmente usados para se referir à apresentação do
sujeito em tonalidades diferentes da tonalidade da tônica” (MATHES, 2007, p. 287).
242
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15
“Veja também a Fuga em Fá maior, do CBT I de Bach. Alguns autores usam o termo ‘dupla exposição’ para se referir
a uma série de entradas redundantes, embora o termo geralmente se refira a uma exposição de um segundo sujeito
após um ou mais episódios” (MATHES, 2007, p. 288).
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“Uma compreensão completa de uma fuga implicará o exame de cada linha em relação
à sua forma linear e pontuações de fechamento, ou cadências, bem como suas relações
texturais e motívicas com outras linhas. A esse respeito, várias observações podem ser feitas
sobre a Fuga em Mi maior do CBT I de Bach, Exemplo 12.7, que são instrutivas para a
análise de fugas em geral” (MATHES, 2007, p. 288).
§ “Frases sobrepostas. Em fugas e texturas contrapontísticas em geral, as cadências são
muitas vezes obscurecidas por frases sobrepostas, uma técnica importante que contribui
para a natureza contínua [through-composed] das fugas. Por exemplo, no compasso 5,
tempos 1-3, as vozes superiores estabelecem uma clara cadência autêntica na tonalidade
da dominante. Ao mesmo tempo, a voz do baixo continua com o CS” (MATHES, 2007, p.
288).
§ “Expansão e fragmentação do sujeito e do contrasujeito. A entrada da resposta no
compasso 10 não só elimina o esperado A# como também expande o sujeito ao repetir o
segundo motivo no compasso 11. Isso efetua uma modulação para Dó# menor (vi),
confirmada nos próximos dois compassos. No compasso 20, a voz superior simula entradas
do sujeito da fuga usando apenas sua segunda metade. Uma comparação de várias
apresentações do contrasujeito mostra usos semelhantes de repetições ou fragmentações
de motivos (compare os compassos 3-4, 11-12, 18-19). A fragmentação é característica de
episódios, particularmente de passagens sequenciais” (MATHES, 2007, p. 288).
§ “Rearmonização do sujeito da fuga. Outra forma de elaborar o sujeito da fuga é através
da rearmonização. Embora não sejam amplamente usados nesta fuga, os compassos 10-11,
como observado, oferecem um bom exemplo dessa técnica” (MATHES, 2007, p. 290).
§ “Colocação de frase variada e posição métrica do sujeito. A terceira entrada do
sujeito nos compassos 3-4, embora esteja em uma posição métrica fraca/forte esperada, é
atrasada em dois tempos para permitir uma modulação de volta à tônica. A entrada no
compasso 16 é parcialmente ofuscada pela ausência da pausa de colcheia inicial. Mais
importante ainda, o sujeito continua através da cadência no tempo forte do compasso 17. O
sujeito é, portanto, usado no final de uma frase, e não no início, sobrepondo efetivamente
as frases. A última referência parcial ao sujeito da fuga, no compasso 28, muda o
posicionamento métrico para permitir um forte ponto de cadência no tempo forte do último
compasso” (MATHES, 2007, p. 290).
§ “Inversão textural. Geralmente, as fugas são baseadas nas ideias motívicas do sujeito e
do contrasujeito. Um recurso recorrente de variação do material consiste em reafirmar
passagens com temas reatribuídos a diferentes vozes. Por exemplo, o S/CS nos compassos
7-8 inverte a posição do registro de duas vozes ouvidas nos compassos 2-3; o contrasujeito
está agora acima da resposta. Essa inversão textural [textural inversion] resulta da
escrita em contraponto inversível [invertible counterpoint], na qual as linhas são escritas
de forma que a inversão de sua posição na textura ainda produza uma progressão
harmonicamente sonora. O contraponto inversível é uma característica comum da escrita
fugal. Compare as vozes superiores nos compassos 13-16 e 22-25 para outro exemplo de
inversão textural” (MATHES, 2007, p. 290).
§ “Flutuações na densidade. Uma técnica básica da escrita fugal é variar o número de
vozes que soam em um determinado momento. Uma das razões pelas quais uma voz
descansa periodicamente é permitir uma recapitulação do sujeito da fuga ou a reinserção de
vozes a serem enfatizadas. Por exemplo, observe a linha do baixo no compasso 9. A
variação no número de vozes também reflete o interesse em explorar diferentes texturas.
Por exemplo, a textura de duas vozes nos compassos 20-21 apresenta uma nova textura na
qual as vozes estão em diálogo – a voz superior imita ou responde à voz inferior16. A
ausência da terceira voz ajuda a enfatizar a relação das duas vozes presentes. As cadências
finais podem adicionar vozes adicionais, como na Fuga Dó menor do CBT I de Bach, para
enfatizar o encerramento” (MATHES, 2007, p. 290).
16
“O termo ‘diálogo’ é usado aqui para se referir ao uso de imitação próxima e repetida entre duas vozes. O termo é
usado para se referir a uma conexão entre duas linhas, análoga ao que ocorre em uma conversa entre duas pessoas”
(MATHES, 2007, p. 290).
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“Algumas fugas como esta exploram o stretto por toda parte, enquanto outras não
fazem uso da técnica. O stretto, assim como a diminuição, pode gerar uma sensação de
movimento acelerado; portanto, é frequentemente encontrado nos estágios finais de uma fuga
como uma forma de construção em direção ao final da fuga” (MATHES, 2007, p. 293).
“A diminuição de um sujeito de fuga implica uma redução uniforme nas durações das
notas17; a aumentação de um sujeito de uma fuga acarreta um aumento uniforme nas
durações das notas. O Exemplo 12.10a mostra a abertura da fuga do primeiro movimento do
Quarteto de cordas em Dó# menor, op. 131, de Beethoven. A resposta é inusitada, por estar
na subdominante, relação tonal explorada ao longo do quarteto. Uma passagem intensamente
expressiva, começando no compasso 99, apresenta: (1) o sujeito original da fuga no primeiro
violino; (2) uma exposição completa do sujeito da fuga em aumentação no violoncelo, que
começa em stretto com o primeiro violino e (3) diminuição de fragmentos do sujeito original,
com as semínimas agora diminuídas para colcheias. O início desta passagem é mostrado no
Exemplo 12.10b. A combinação dessas técnicas cria uma construção implacável, mas lenta,
para um clímax no compasso 113 desta fuga” (MATHES, 2007, p. 293).
“Como demonstra o Exemplo 12.10, as fugas às vezes são incorporadas a obras com
vários movimentos. Embora a fuga pareça ter atingido seu ápice na produção verdadeiramente
notável de Bach, ela permaneceu uma técnica para a qual os compositores foram atraídos
como uma forma de desenvolver ideias e exibir sua habilidade técnica. Beethoven foi
particularmente atraído pela escrita fugal em suas últimas obras. Suas Sonatas para piano op.
101, 106 e 110, por exemplo, fazem uso de movimentos fugais de larga escala, assim como
seus últimos Quartetos de cordas, como op. 131. Depois de Beethoven, fugas individuais ou
movimentos fugais não prevaleceram no século XIX, embora muitos compositores alemães
tenham se baseado no gênero. Brahms, por exemplo, conclui suas Variations and Fugue on
a Theme by Handel, Op. 24, com uma fuga sobre o tema original” (MATHES, 2007, p. 294).
“Outros gêneros também incorporaram o estilo fugal no contexto de obras maiores.
Dois exemplos notáveis são as aberturas barrocas, introduções orquestrais para óperas ou
oratórios, e obras corais sacras. Um tipo de abertura padrão no período barroco, a chamada
‘abertura francesa’, foi introduzida por Lully. Esse tipo de abertura começa com uma seção
17
“A diminuição é usada aqui no sentido específico descrito, e não no sentido geral de elaborações rítmicas de ideias
mais simples” (MATHES, 2007, p. 293).
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introdutória lenta em padrões rítmicos pontuados, sendo seguida por uma seção fugal rápida.
Um exemplo famoso é a Abertura de Messiah de Haendel. A introdução, discutida no Capítulo
3, termina em uma SC frígia. O alegro, então, começa com um tema do tipo canzona, que é
tratado em imitação fugal (Exemplo 12.11). O restante da abertura apresenta apenas duas
entradas intermediárias separadas e uma exposição final próxima ao final, contando mais com
o desenvolvimento episódico de motivos em seus 85 compassos” (MATHES, 2007, p. 294).
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Prelúdios corais
“Os corais, que são hinos protestantes alemães, surgiram durante o final do
Renascimento e o período barroco como uma parte vital dos serviços da igreja protestante.
São peças curtas, com texturas homofônicas, que foram compostas para serem cantadas pela
congregação. À medida que a prática do canto congregacional de corais surgiu nos cultos
protestantes, os organistas desenvolveram várias formas de apresentar o coral de antemão,
como um prelúdio para o canto do hino. Essas peças para órgão, que apresentam uma melodia
coral em formas simples, ou são elaboradas com texturas contrapontísticas, são denominadas
prelúdios corais. Uma variedade de técnicas para definir melodias corais levou a várias
categorias de prelúdios corais, incluindo os seguintes tipos:
§ Coral melódico. A melodia é apresentada continuamente na parte do soprano, de forma
simples ou levemente elaborada com acompanhamento contrapontístico. Frequentemente,
as partes adicionais eram baseadas em figurações repetitivas.
§ Coral ornamental. Semelhante a uma melodia coral, mas ornamentações elaboradas ou
diminuições da melodia coral são apresentadas.
§ Coral cantus firmus. A linha melódica do cantus firmus é usada em longas durações
(muitas vezes no baixo) ou de forma simples e sem ornamentos. Cada frase da linha
melódica é introduzida e separada por material figurativo, às vezes tratado como um
ritornello.
§ Coral canônico. O cânone entre duas ou mais vozes acompanha a melodia coral. Este tipo
de coral pode incorporar técnicas de cantus firmus ou usar a melodia coral no cânone”
(MATHES, 2007, p. 297).
“O prelúdio coral é um tipo predominante de coral para órgão18,19. Na medida em que
as obras designadas prelúdio coral usam técnicas extraídas de uma variedade de tipos, o
18
[A nota de rodapé n. 18 está ausente no livro original.]
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prelúdio coral é eventualmente usado como um termo geral para obras contrapontísticas que
usam melodias corais. Como em muitos gêneros barrocos, os melhores e mais celebrados
exemplos são os de J. S. Bach. Um exame de exemplos selecionados esclarecerá algumas das
técnicas mencionadas e as formas que os prelúdios de coral podem assumir” (MATHES, 2007,
p. 297).
“A coleção de prelúdios de coral de Bach, no Orgelbüchlein, BWV 599-644 (Pequeno
livro de órgão) ilustra vários tipos. Os tipos mais frequentemente encontrados na coleção são o
coral melódico e o coral ornamental. O Exemplo 12.13a mostra uma melodia de coral bem
conhecida e o Exemplo 12.13b mostra a composição de Bach. Este coral melódico ilustra
uma das duas formas básicas que um coral teria: uma peça curta, contínuas [through-
composed], com segmentos de várias dimensões, geralmente com 8 a 16 compassos20. As
cadências das frases curtas eram, por convenção, marcadas na obra musical por fermatas. O
prelúdio deste coral apresenta a melodia do coro no soprano em movimento contínuo, com
pelo menos duas mudanças significativas: (1) algumas das alturas da melodia do coral são
alongadas, através do aumento dos valores das notas, e realocadas metricamente; (2)
algumas alturas da linha melódica são elaboradas ritmicamente (diminuição). Como resultado
dessas mudanças na melodia, a estrutura da frase é expandida de oito para dez compassos”
(MATHES, 2007, p. 297-298).
Exemplo 12.13 Bach, Orgelbüchlein BWV 769a, Vom Himmel Hoch, e Prelúdio coral.
19
“Tipos adicionais de corais de órgão incluem: (1) moteto coral, no qual cada frase melódica do coral é usada como
um ponto de imitação e depois elaborada na forma de um moteto vocal, (2) fuga coral, na qual a primeira melodia é
usado como base para uma fuga, (3) fantasia coral, que é uma elaboração livre e estendida da melodia coral, e (4)
variações corais, uma série de variações separadas na melodia coral, com uma variedade de configurações
contrapontísticas” (MATHES, 2007, p. 297).
20
“Alguns corais têm de 25 a 30 compassos. Veja 371 Harmonized Chorales e 69 Chorale Melodies with figured bass,
editado por Albert Riemenschneider (Nova York: G. Schirmer, Inc., 1941)” (MATHES, 2007, p. 298).
251
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“O outro design formal encontrado com maior frequência em corais consiste em uma
primeira seção repetida, que pode fechar com uma CAP na tônica ou em uma nova tonalidade,
seguida por uma segunda seção mais longa. Embora relativamente curto e geralmente
composto, a dimensão de cada seção varia. Esta forma é diagramada como AAB e é
denominado uma forma com repetição [bar form]. Um coral bem conhecido nesta forma é
Wachet auf (‘Acordado’), mostrado no Exemplo 12.15. A forma com repetição, que se
originou na poesia alemã medieval, consiste em duas partes: (1) um Stollen, que são as duas
primeiras estrofes cantadas para a parte A, que é repetida, e (2) um Abgesang, que é a
terceira estrofe, ouvida na seção B da forma. Neste exemplo, as frases em cada seção são
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designadas A1, A2, A3 e assim por diante, enquanto o padrão de conteúdo temático é
designado por letras minúsculas. Observe que a última frase de cada seção é idêntica, criando
um esquema de rima encontrado em algumas formas com repetição. O uso que Bach faz dessa
melodia coral é abordado nos exercícios a seguir” (MATHES, 2007, p. 300).
Exemplo 12.15 Melodia coral da Cantata BWV 140, n. 1, Wachet auf, ruft uns die Stimme, de Bach.
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Introdução
“Muitas das formas usadas na música vocal foram discutidas em capítulos anteriores,
incluindo formas em uma parte, binárias, ternárias, rondó e ostinato. No entanto, a maneira
como essas várias formas são usadas merece uma discussão mais aprofundada, tendo em
vista que as formas são frequentemente adaptadas de maneiras específicas na música vocal.
Talvez a razão primordial para essas adaptações seja o fato óbvio de que a música vocal é
cantada e, portanto, incorpora um texto. As formas de música vocal foram influenciadas por
tradições e considerações que concernem ao texto e à performance. Este capítulo abordará
algumas das maneiras específicas pelas quais as formas na música vocal são moldadas e,
particularmente no caso de canções artísticas, como a interpretação do texto pelo compositor
influencia a estrutura formal da canção. Serão pesquisados hinos, canções populares, canções
artísticas, árias e obras corais” (MATHES, 2007, p. 303).
Hinos e canções tradicionais
“As formas vocais mais simples são encontradas em hinos, canções tradicionais e
melodias folclóricas. Conforme observado no Capítulo 3, essas peças vocais simples
geralmente têm de oito a dezesseis compassos e são compostas por frases com quatro
compassos1. Um dos designs mais comuns é a quadra com dezesseis compassos, que contém
quatro frases com quatro compassos. Dois exemplos de quadras são dados nos Exemplos
13.1a e 13.1b. A Figura 13.1 ilustra o projeto formal dessas quadras. Esses exemplos
mostram características de muitas quadras:
1. Elas começam com uma frase repetida (Exemplo 13.1a) ou um período paralelo
(Exemplos 13.1b), seguida por uma frase contrastante e uma recapitulação (variada) da
primeira frase, para fechar.
2. As frases fazem uso de afirmação/continuação.
3. A frase B termina com uma semicadência.
4. Elas permanecem na tonalidade da tônica, embora às vezes ocorram tonicizações de
dominante nas cadências” (MATHES, 2007, p. 303).
“Também podemos observar algumas variáveis comuns nesses exemplos. Primeiro, se
um período paralelo inicia a quadra, é a segunda frase (A) que é reapresentada no final, pois a
obra musical deve fechar na tônica. Em segundo lugar, a frase B pode usar repetição variada
ou novas ideias, embora as melodias da frase sejam frequentemente relacionadas
ritmicamente. A frase B contrasta tonalmente com a frase A e o movimento harmônico varia”
(MATHES, 2007, p. 303).
1
“Ver Capítulo 3, Exemplos 3.1 e 3.2” (MATHES, 2007, p. 303).
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“A forma da maioria das quadras musicais pode ser interpretada de duas maneiras.
Muitos autores os consideram forma ternária, pois não há repetições que dividem a forma em
duas metades e porque a frase B funciona como uma seção intermediária contrastante. Por
outro lado, elas poderiam estar na forma binária circular se as duas primeiras frases fossem
emparelhadas como uma unidade maior, que divide a forma em duas, e se a seção B fosse
considerada uma transição que se agrupasse com a recapitulação parcial de A2. Essa
classificação pode depender de percepção, mas a ausência de repetições em cada unidade com
oito compassos sugere um argumento mais forte para a pequena forma ternária3. Algumas
quadras estão na forma binária simples (AB), com cada metade composta por duas frases
contrastantes com quatro compassos. Além disso, existem quadras que são expandidas por
repetições de seções, conforme observado nos exemplos abaixo, tornando-as mais parecidas
com binárias” (MATHES, 2007, p. 304).
“Outra forma encontrada nas canções é a pequena forma binária, com cada metade
contendo uma única frase. Essa forma foi vista no Exemplo 3.2, um hino curto formado por
duas frases com quatro compassos, uma forma comum em muitos hinos curtos. Outras
pequenas canções binárias são compostas por duas estruturas de sentenças com oito
compassos, conforme ilustrado no Exemplo 13.2. Em alguns casos, as canções contêm duas
frases com oito compassos que compreendem um período contrastante. Se o movimento
harmônico for contínuo, em qualquer um desses casos, a forma a uma parte pode ser
considerada4” (MATHES, 2007, p. 304-305).
“Outro fator que influencia o design musical é o arranjo textual. Nos exemplos citados
até agora, dois ou mais versos de texto são definidos pela repetição de toda a música ou hino,
com um texto diferente a cada vez. O termo forma estrófica [strophic form] refere-se a esse
tratamento do texto em um contexto musical. Deve-se entender que a forma real do hino não
2
“Veja o Capítulo 7 para uma revisão das distinções e sobreposições entre essas duas formas” (MATHES, 2007, p.
304).
3
“Ver Caplin (1998, p. 71-73) para uma discussão mais aprofundada sobre esta questão” (MATHES, 2007, p. 304)
4
“Veja o Exemplo 3.2 e a nota analítica no Capítulo 6 sobre pequena forma binária e forma a uma parte” (MATHES,
2007, p. 305).
256
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muda e que a forma estrófica se refere apenas à repetição da música completa com texto
diferente” (MATHES, 2007, p. 305).
“Muitas canções incorporam uma configuração estrófica de versos com um refrão, este
último referindo-se a uma frase ou seção musical que se repete sempre com o mesmo texto. A
colocação do refrão irá variar. Conforme esboçado na Figura 13.2, a canção familiar Old Folks
at Home, de Stephen Foster, é uma quadra, que repete o período inicial com oito compassos.
O período repetido é definido para versos diferentes, enquanto o B e a recapitulação de A
atuam como um refrão com o mesmo texto a cada vez. A obra musical inteira é repetida mais
duas vezes, portanto, seis versos de texto (dois de cada vez com a repetição) são ouvidos no
verso. A canção, com a distinção entre verso e refrão, e a repetição da seção do verso,
assume características de binário circular” (MATHES, 2007, p. 305).
257
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uma partitura para determinar as configurações de texto. Faça um diagrama formal de cada
peça musical, semelhante ao apresentado nas Figuras 13.2 e 13.3, para mostrar os detalhes
da estrutura da frase”.
1. Twinkle, Twinkle Little Star a. quadra, pequena forma ternária
2. The First Nowell b. uma parte, período paralelo
3. Auld Lange Syne c. quadra, forma binária simples
4. Eternal Father (Hino da Marinha) d. quadra, forma binária simples, verso/refrão
5. America the Beautiful e. forma com repetição [bar form], verso/refrão
6. On Top of Old Smoky f. forma contínua [through-composed]
2. “Análise com partitura: Melodia hebraica, Leoni. Analise a estrutura frasal da
melodia de hino apresentada abaixo. Use designações de letras minúsculas para componentes
de frase e rotule todas as cadências implícitas. Que tipo de pequena forma esse hino exibe? É
possível haver mais de uma interpretação razoável acerca de sua forma?”
258
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“Uma variável importante na forma musical com 32 compassos é o design tonal. Espera-
se que a seção B, ou ponte, tenha digressão harmônica, que varia a cada peça musical.
Normalmente esta seção termina com uma semicadência, embora ocorram exceções.
Frequentemente, como ocorre nas canções supracitadas, as frases na cadência da seção A
estão na tonalidade da tônica. O verso e o refrão, no entanto, podem se desviar da tonalidade
da tônica. O Exemplo 13.3 ilustra um exemplo notável de tais digressões. All the Things You
Are, uma das canções mais amadas e admiradas de Jerome Kern, contém um rico design
tonal. A introdução e o verso estão na tonalidade de Sol maior, mas o final do verso faz uma
surpreendente mudança para Fá menor no início do refrão. Esse afastamento da tônica acaba
sendo uma abertura que conduz a primeira frase do refrão através de Láb maior, para fechar
em Dó maior. A repetição desta frase começa em Dó menor, passa por Mib maior e termina em
Sol maior, uma versão transposta da primeira frase. A cabeça da melodia, portanto, usa
sequências e progressões de quinta descendente para fornecer movimentos tonais incomuns a
essa marcante melodia6. A ponte continua em Sol maior, mas depois modula para Mi maior. A
recapitulação da cabeça (e de Lá maior) gera um clímax, melodicamente e harmonicamente
falando, para finalmente fechar na tônica de Láb maior, que enfatiza o texto de maneira
eloquente. Observe como a expansão da frase final apoia esse fechamento dramático. Apesar
da quadratura da estrutura de frase, em boa parte dessa obra musical as sutis qualidades
harmônicas e melódicas, e o tratamento do texto, aproximam-se da sofisticação das obras
vocais de tradição europeia erudita” (MATHES, 2007, p. 308).
5
“Na verdade, os versos de melodias populares muitas vezes não são familiares ou tão memoráveis quanto os refrãos,
criando um jogo interessante de ‘diga o nome dessa melodia’, com base em um determinado verso” (MATHES, 2007,
p. 308).
6
“Esta melodia oferece excelente oportunidade para rearmonização, usando trítonos substitutos, e é uma das favoritas
dos músicos de jazz” (MATHES, 2007, p. 308).
259
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“As canções com 32 compassos são geralmente escritas em pequena forma ternária.
Algumas canções com 32 compassos, no entanto, estão claramente na forma binária simples,
sendo baseadas em duas seções com 16 compassos, em designs formais AB/AB ou AB/AC. O
refrão da peça musical Laura, de David Raksin, é um exemplo da forma AB/AB, que se baseia
em duas grandes estruturas de sentenças, cada uma com 4+4+8 compassos. O Exemplo
13.4 mostra os oito primeiros compassos do refrão. Não muito diferente do exemplo de Kern,
esse refrão contém progressões harmônicas sequenciais e modulatórias. Também começa com
uma progressão não tônica em torno de Sol maior, V da tonalidade principal de Dó maior. As
progressões são descritas na Figura 13.5. Além disso, como na canção Kem, as modulações
dos primeiros 16 compassos são resolvidas na recapitulação variada de Lá maior, que se
transforma em tônica na última semifrase e adiciona uma extensão de frase para enfatizar o
fechamento” (MATHES, 2007, p. 310).
260
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“Uma outra forma bem estabelecida é a forma blues com 12 compassos. Essa forma
pode ser rastreada até a poesia afro-americana dos séculos XIX e XX, que era frequentemente
cantada. Embora o blues tenha se originado como uma forma vocal, ele foi amplamente
difundido nos estilos instrumental e vocal. Estes estilos incluem o boogie-woogie, o jazz, o
rhythm and blues, o soul, o rock e o country. O design mais comum da forma é dado na
Figura 13.6. As três frases refletem um padrão AAB ou forma com repetição [bar form], que
é evidente no texto. As harmonias mostradas são as progressões padronizadas do blues, as
quais são modificadas em diferentes estilos. A inflexão melódica usando 3b, 5b e 7b, as
chamadas ‘notas azuis’ [blue notes], também é uma característica definidora. Os músicos de
jazz geralmente executam blues com progressões secundárias, acordes estendidos e
harmonias substitutas, para elaborar essa estrutura harmônica. Progressões de blues com oito
e dezesseis compassos também são encontradas, mas o blues com doze compassos é a forma
original. As formas vocais de blues também empregarão versos e refrãos para expandir as
formas de doze compassos. Exemplos são listados nos exercícios a seguir” (MATHES, 2007, p.
310-311).
261
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7
“O termo alemão ‘lied’ significa canção de qualquer tipo, embora tenha passado a se referir especificamente a
canções artísticas. Da mesma forma, o francês ‘mélodie’ (melodia) refere-se a canções artísticas francesas” (MATHES,
2007, p. 311).
262
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“A análise de canções artísticas deve incluir considerações a respeito do texto, para que
atenda completamente à estrutura formal. O texto deste lied é apresentado na Figura 13.7,
com a tradução” (MATHES, 2007, p. 313).
“Uma preocupação central, tanto do compositor quanto do cantor, é o significado e a
intenção expressiva do texto. Uma maneira de interagir com essa preocupação é decidir ‘quem
está falando’, o que em música é denominado persona vocal [vocal persona]. Geralmente,
uma obra musical pode ser (1) uma narrativa, na qual uma história está sendo contada, (2)
um diálogo entre personagens, (3) reflexiva, quando o cantor é um único personagem falando
para si mesmo (ou para um personagem invisível), ou (4) uma combinação desses tipos (por
exemplo, um poema pode incluir um diálogo e um narrador). Outra preocupação é o humor ou
estado psicológico da persona vocal. Neste poema, a persona é um arquétipo expressivo do
romantismo: o andarilho solitário, que é atraído pela natureza e sua beleza solitária, e anseia
por uma morte pacífica8. Em suma, é um poema de imagens expressivas e mistério. Essa
perspectiva pode explicar o andamento (Lento), a textura com distribuição semelhante a um
coral, os ritmos às vezes inquietos (sincopas) e a dinâmica contida” (MATHES, 2007, p. 313).
8
“Os símbolos do andarilho, do evocativo e misterioso mundo da natureza, da floresta solitária e do anseio por uma
morte pacífica são comumente citados nas descrições do romantismo alemão” (MATHES, 2007, p. 313).
9
“Uma discussão sobre a prosódia – a ênfase, o som e a dimensão das sílabas – está além do escopo desta discussão.
Ver Stein e Spillman (1996, p. 45-51), para uma discussão sobre a prosódia em Wanderers Nachtlied de Schubert”
(MATHES, 2007, p. 313).
263
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10
“Um ciclo de canções é um grupo de canções compostas e destinadas a serem executadas como um conjunto na
ordem especificada. Os elementos unificadores podem incluir texto (um grupo cíclico de poemas sobre um tema
geral), tonalidades (uma sequência ordenada de tonalidades) e motivos musicais recorrentes” (MATHES, 2007, p.
314).
264
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11
“A alteração de Schumann na colocação do texto enfatiza claramente o que ele deve ter
considerado o principal objetivo do poema: a persona vocal está com o coração partido, mas
‘não guardará rancor’. A maneira como Schumann interpreta o estado de espírito da persona
vocal é um ponto ao qual voltaremos” (MATHES, 2007, p. 314).
“As três partes da obra musical são relativamente claras: os compassos 1-10 (A)
completam a primeira estrofe e fecham com uma CAP na tônica de Dó maior; os compassos
13-18 (B) começam em Lá menor e, através de uma sequência ascendente, voltam para Dó
maior; o material musical de abertura retorna no compasso 19 (A). Nesse ponto da
recapitulação musical, Schumann traz de volta o mesmo texto dessa música, o verso inicial.
Para fazer isso, ele usa a primeira linha da segunda estrofe para fechar a seção intermediária.
O princípio musical de recapitulação com o texto associado pode estar associado a essa
escolha de Schumann, mas também enfatiza o texto repetido, ‘Ich grolle nicht’” (MATHES,
2007, p. 314).
“A recapitulação de A, como costuma acontecer nas formas ternárias do século XIX, varia
de maneira significativa. O texto é diferente, começando no compasso 20, exigindo mudanças
no ritmo. Esta frase, corresponde à frase que começou no compasso 5, é apresentada no
Exemplo 13.6a. Essa recapitulação é alterada e expandida, não apenas por causa do texto
diferente, mas para criar um clímax musical nos compassos 27-29, que integra o Exemplo
13.6b. Aqui, o cantor interpreta dramaticamente a passagem sobre o ‘coração devorado’ e a
miséria de seu amor perdido, tornando-se ainda mais contundente quando as notas opcionais
são entoadas. O objetivo da expansão da frase, ao que parece, é enfatizar a dor da persona
vocal e seu amor perdido. Esse sentimento é reforçado através da expansão da frase final pelo
vocalista e através do poslúdio dinâmico. A textura rítmica densa e contínua do
acompanhamento dá peso adicional à paixão nesta peça musical. Tais alterações não são
incomuns recapitulações musicais de canções artísticas e, invariavelmente, servem à
interpretação do texto pelo compositor” (MATHES, 2007, p. 314-315).
“Uma questão final pode ser colocada aqui: a persona vocal está expressando
resignação, pena – por si mesma e por seu amante – ou mesmo raiva? A resposta será
deixada para a ponderação do leitor, mas as alterações poéticas e o contexto musical de
Schumann sugerem que pode haver mais de uma interpretação viável da intenção expressiva
neste conhecido lied” (MATHES, 2007, p. 315).
11
“Schumann também mudou "Traum" e "Raum" para "Traume" e "Raume" por causa do esquema de rima e ritmo”
(MATHES, 2007, p. 315).
265
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266
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“Ao ouvir essa obra musical, ficamos impressionados com as mudanças repentinas na
dinâmica e na expressão, com as modulações repentinas para harmonias modais ou com as
relações cromáticas por terças e o ritmo dançante que sugere um bolero. Os muitos acordes
rolados e as texturas homorítmicas do acompanhamento sugerem o som de um violão que,
comado aos padrões rítmicos, trazem um sabor espanhol à ambientação. A Figura 13.10
fornece um diagrama da forma e descreve vários elementos que moldam o projeto formal.
Alguns pontos de explicação podem esclarecer seus detalhes:
§ Ocorrem elisões onde os compassos são repetidos (compassos 12, 34, 55).
§ As caracterizações expressivas são uma interpretação do conflito básico vivenciado pela
persona vocal.
§ Os pontos onde ocorrem modulações diretas são indicados com ||; o compasso 16 pode ser
entendido como parte de uma sequência maior.
§ O Fá7/Ré começando no compasso 34 indica as justaposições das duas harmonias.
§ A modulação para Fá maior, com intuito de concluir a seção C pode ser entendida como
uma enarmonia VIb, mas também como III# em relação ao Ré maior, semelhante ao
movimento Sib-Ré das outras seções.
§ A modulação no compasso 20 dirige-se a para Sol menor, embora sua dominante, Ré maior,
prevaleça como tônica” (MATHES, 2007, p. 317-318).
267
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“A forma dessa obra musical pode ser vista de várias maneiras, dependendo de qual
aspecto da obra musical está sendo considerado – texto, tonalidade, acompanhamento ou
linha vocal. As divisões mostradas na Figura 13.9 enfatizam os movimentos tonais com
atenção particular ao retorno à tônica. A linha vocal dá alguma indicação de ter sido composta,
embora a configuração do texto ‘Weck ich ihn nun auf? Ach nein!’ sirva como uma espécie de
refrão e sempre retorne à tonalidade da tônica. À primeira vista, as designações seccionais
podem sugerir uma forma rondó. A linha vocal e o movimento harmônico da seção de abertura
nunca retornam exatamente; entretanto, Wolf reinterpreta as divisões textuais para propósitos
musicais e expressivos. Esses fatores podem refletir as emoções conflitantes da persona vocal.
Os dois episódios (B e C, no diagrama) têm texto e linhas vocais diferentes, mas em termos de
qualidade expressiva, uso de dinâmicas e motivos rítmicos, são semelhantes. Observe como o
episódio B agrupa com compassos 12-15 sequencialmente. Uma grande forma ternária, A (1-
26) B (27-42) A (42-58), pode ser uma interpretação razoável, já que o compasso 42 é um
retorno variado da seção de abertura. Alguns autores a descreveram como uma forma musical
em cinco partes. Em todo caso, as ambiguidades formais e os contrastes marcantes na
expressão e nas áreas tonais parecem externar os sentimentos ambíguos da persona vocal”
(MATHES, 2007, p. 318).
“As três obras aqui discutidas ilustram a importância de se considerar diversos
elementos na interpretação de uma canção artística, principalmente o texto. As análises
apresentadas também apontam – em graus variados – para a importância da parte do piano,
que muitas vezes tem uma personalidade própria. Das formas empregadas nas canções, a
forma ternária é a mais comum. A forma ternária com uma repetição do primeiro A – AABA –
também é encontrada nas canções artísticas; uma seção B expandida é outra modificação
comum. Algumas formas ternárias também incorporam um refrão, como ilustrado acima.
Finalmente, formas binárias simples e circulares, e formas rondó podem ser encontradas, com
estas últimas também incorporando refrãos. Essas formas são abordadas nos exercícios a
seguir” (MATHES, 2007, p. 318-319).
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“Os temas do ritornello podem apresentar vários motivos, terminando com uma
passagem cadencial que tipicamente se repete em todos os ritornellos12. As relações temáticas
e texturais entre o ritornello e o solo são variáveis, assim como as proporções relativas das
seções. A parte vocal geralmente elabora os motivos dos ritornellos, mas também pode
introduzir novas ideias. O final de cada estrofe, particularmente a segunda, tende a ser
ornamentado e pode incorporar uma passagem semelhante a uma cadência. A seção B da
forma é geralmente mais curta e não contém ritornello. O texto é uma única estrofe,
geralmente com repetições. Esta seção pode estar em qualquer tonalidade que seja
intimamente relacionada à tonalidade da tônica e normalmente modula através de uma ou
mais tonalidades. A conhecida ária de Haendel, Let the Bright Seraphim, de seu oratório
Samson (1741), dá uma ideia da flexibilidade dentro do projeto formal descrito acima. O texto,
em duas estrofes de duas linhas cada, é o seguinte” (MATHES, 2007, p. 321):
Let the bright Seraphim in burning row
Their loud, uplifted angel trumpets blow
Let the Cherubic host in tuneful choirs,
Touch their immortal harps with golden wires
“O ritornello de abertura é dado no Exemplo 13.7. Cada um dos motivos do ritornello,
rotulados de Ra a Rd, é usado nas seções solo em reformulações e elaborações. De particular
interesse é o uso de um trompete solo por Haendel, refletindo não apenas o texto, mas
fornecendo possibilidades interessantes para texturas variadas. Ao ouvir isso, você ouvirá
texturas antifonais como o trompete e a voz cantando ornamentos alternadamente, durante as
quais o trompete fica em silêncio, e texturas imitativas. Os ritornellos são, como esperado,
texturas de tutti usando o acompanhamento completo. Ouça os dois ritornellos formais após a
abertura, que são abreviados. Que parte do ritornello é usada de cada vez? A seção B começa
em Si menor e modula através de Mi menor, Ré maior, Si menor, Lá maior e termina em Fá#
menor. Considere as diferenças na orquestração, na configuração textual e na textura entre as
seções A e B. Existem conexões motívicas entre essas duas seções principais?” (MATHES,
2007, p. 321).
“A ária da capo pode ser expandida se (1) as seções solo na parte A forem repetidas, ou
(2) quando a seção B incorporar apresentações de ritornello. Um excelente exemplo de uma
12
“Revisar a passagem sobre a estrutura dos temas ritornello no Capítulo 3” (MATHES, 2007, p. 321).
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“Um diagrama da forma desta ária é mostrado na Figura 13.12. Os ritornellos internos
que articulam a forma são, como seria de esperar, reapresentações parciais. O quarto
ritornello usa o motivo de abertura como uma introdução ao da capo escrito, conectando,
assim, as duas seções. A recapitulação de A começa em Fá menor, antes de modular
rapidamente para a tônica de Dó menor. Toda a peça tem um movimento tonal contínuo, que
contraria a natureza seccional da forma. Além disso, o retorno da seção A incorpora uma
exposição completa do ritornello, indicada como Rit. abcd no diagrama, nos compassos 69-76.
Este ritornello é um contraponto às frases vocais de A’, as quais são expandidas, agora em Dó
menor em vez de Sol menor. A parte vocal conclui sua participação com uma extensão seguida
por uma cadência de engano (compasso 76) e o violino fecha a peça com um ritornello
13
“O violino piccolo é afinado uma quarta acima do violino normal, o que lhe empresta maior brilho sonoro e permite
uma execução mais fácil em certas tonalidades. O contínuo especificado é formado por fagotto (fagote) e órgão”
(MATHES, 2007, p. 322).
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Rondò operístico
“Uma forma diferente denominada rondò refere-se a uma extensa ária operística
bipartida, com uma seção lenta e uma seção rápida, cada uma expressando uma emoção
diferente. Este rondò operístico surgiu no século XVIII e começou a substituir a grande aria da
capo durante a década de 1770. Sua forma básica é esboçada na Figura 13.13.
Normalmente, um interlúdio orquestral, mesmo que breve, separa as duas seções principais. O
diagrama mostra o esboço mais básico; na prática, a ária era frequentemente expandida. Cada
uma das duas partes pode ser moldada de acordo com uma forma familiar, por exemplo,
binário circular, ternário simples ou rondó. Assim, o rondó operístico é uma grande forma
binária composta. Essas formas internas permitem contraste textual e repetição dentro das
seções. Uma coda pode ser adicionada em um andamento mais rápido, conduzindo a ária a um
final empolgante” (MATHES, 2007, p. 324).
272
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“A ópera Così fan tutte de Mozart fornece um exemplo de rondò operístico em uma de
suas árias mais dramáticas e virtuosas, Per pietà (Figura 13.14). Nesta ária, a personagem
soprano Fiordiligi expressa seu tormento por estar apaixonada por dois homens diferentes. Na
primeira parte, o Adagio, ela expressa remorso por seus pensamentos infiéis e promete ser fiel
ao noivo. Na segunda parte, em ritmo e personagem mais animados, ela se castiga e reafirma
sua fidelidade. A seção intermediária do Allegro moderato traz de volta o texto do Adagio, uma
prática característica do rondò operístico que alude ao refrão textual de um rondó vocal
padrão” (MATHES, 2007, p. 324).
“Ao ouvir a ária, observe que os ritornellos são transições curtas ou conectivos que
conectam seções, em vez de frases completas que separam seções. Esta abordagem dá uma
maior fluidez e continuidade à forma, especialmente nas mãos de um compositor habilidoso
como Mozart. A coda exibe o talento de Mozart para escrever linhas vocais virtuosísticas
brilhantes e criar um encerramento dramático. Observe também o uso de Mozart de cadências
evadidas na coda, e da CE e rallentando nos compassos 104-105 destacando o impulso final
em direção ao fechamento” (MATHES, 2007, p. 324).
Rondó expandido do século XIX
“No século XIX, formas binárias, ternárias, rondó e estróficas ainda eram comuns em
árias operísticas. Os designs formais variavam de canções estróficas simples a árias curtas e
compostas, estendendo-se a formas seccionais longas com andamentos contrastantes14. O
rondò era a norma para grandes árias dramáticas, especialmente na ópera italiana da primeira
metade do século. Essa forma foi expandida, conforme ilustrado na Figura 13.15. No rondò
do início do século XIX, as duas seções eram rotuladas por cantabile (ou cavatina) e
cabaletta15. O cantabile, uma ária de tempo moderado ou lento, é precedido por uma
introdução orquestral e um recitativo do cantor. O recitativo, como de costume, esboça o
conflito dramático ou a situação enfrentada pela personagem. Além disso, um episódio de
transição normalmente ocorre entre as seções lenta e rápida, apropriadamente rotulado como
tempo di mezzo (tempo médio). Nesse episódio, a situação emocional muda; por exemplo, o
personagem pode tomar uma decisão sobre seu dilema, ou um mensageiro pode trazer
notícias importantes. Para moldar o drama, o recitativo e o tempo di mezzo empregam
modulações e mistura modal. As seções principais tonalmente fechadas fornecem estabilidade”
(MATHES, 2007, p. 325).
14
“Vários termos associados a modos de expressão podem ser encontrados, como arietta, romanza e cavatina. Celeste
Aida, da ópera Aida de Verdi, por exemplo, é uma forma ternária simples chamada romanza” (MATHES, 2007, p. 325).
15
“A descrição dessas duas seções como cavatina e cabeletta é comum, mas nem sempre é precisa. O termo cavatina
é apropriado se esta seção for uma ária de entrada. No século XVIII, uma cavatina se referia a uma ária sem da capo,
portanto, é mais simples e mais curta do que uma ária da capo” (MATHES, 2007, p. 325).
273
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“O rondò operístico do século XIX, em sua forma expandida, podia moldar uma cena
inteira. Excelentes exemplos dessa convenção podem ser encontrados na ópera La Traviata
(1853), de Verdi, na qual cada personagem recebe uma cena dessa forma. Talvez a mais
famosa seja a ária de Violetta, Ah fors'e lui (‘Era este o homem’ – cantabile) ... Sempre libera
(‘Sempre liberta’ – cabaletta), que conclui o primeiro ato. Depois de ponderar (no cantabile) a
respeito do amor oferecido por Alfredo (Andantino, Fá maior/menor), ela se repreende por tal
interesse tolo pelo amor, na seção tempo di mezzo. Suas cadências dramáticas antes da
cabaletta destacam sua determinação. Na cabaletta (Allegro brilhante, Láb maior), a voz de
Alfredo intervém com um refrão de um dueto anterior. Violetta rejeita essa voz e Verdi usa o
canto virtuoso na segunda metade da cabaletta e coda para expressar o desejo apaixonado
por liberdade de Violetta” (MATHES, 2007, p. 325).
“A segunda metade do século XIX viu grandes mudanças na ópera, lideradas por
Wagner. Ele abandonou os recitativos e árias separados da ópera tradicional em favor de uma
melodia sem fim e um drama contínuo que obscureceu as distinções entre recitativo e ária. O
estilo de Verdi também continuou a evoluir. Ele se afastou da cabaletta e adaptou as
convenções italiana e francesa da ópera de maneiras inovadoras, adequadas aos seus
propósitos dramáticos. Ao mesmo tempo, muitos compositores continuaram a usar convenções
operísticas e escreveram em frases e formas simétricas que dominaram grande parte da
música do século XIX. O século XX continuou a explorar formas vocais e operísticas nas quais
árias distintas desempenharam um papel menos proeminente. As abordagens extremamente
variadas para compor óperas no século XX refletem a diversidade de estilos que influenciaram
o desenvolvimento musical, incluindo serialismo, neoclassicismo e minimalismo” (MATHES,
2007, p. 325).
Obras corais
“Para concluir este levantamento das formas vocais, será feita uma breve discussão
sobre os fatores que influenciam as formas dos movimentos corais. Embora as várias formas
de música vocal discutidas até agora sejam encontradas em obras corais, uma grande
variedade de designs formais é encontrada, muitas vezes exclusivos de uma determinada
16
“Quando esta forma é escrita para um conjunto, a cavatina e a cabaletta são denominadas primo tempo e stretta”
(MATHES, 2007, p. 325).
274
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peça. O texto, é claro, é um fator importante na formação da forma, assim como o número de
vozes usadas e as tradições de certos gêneros. Interessante aqui é a escrita coral que se pode
encontrar em seu gênero mais proeminente, a grande tradição da música sacra” (MATHES,
2007, p. 326).
“Hinos ou corais são as obras mais diretas dentre as escritas em vozes para vários
cantores. As texturas tendem a ser homofônicas e muitas vezes homorrítmicas, a configuração
dos textos é estrófica e as formas são pequenas formas vocais, conforme descrito
anteriormente. Por outro lado, obras de movimento único, como hinos, ou movimentos de
obras maiores, como missas, cantatas ou oratórios, tendem a explorar as possibilidades de
texturas variadas oferecidas pela configuração SATB. Divises de vozes ou partituras para dois
coros aumenta a variedade potencial de texturas vocais” (MATHES, 2007, p. 326).
“Ao contrário dos hinos, as texturas vocais de grandes obras corais variam de acordo
com o número de vozes usadas ao mesmo tempo. O contraste ou consistência no número de
vozes pode moldar uma seção. Por exemplo, frases ou seções podem usar uma única parte
vocal, pares de vozes ou todas as vozes. As interações entre as partes vocais também
moldarão a forma. O uso de texturas imitativas ou fugais é uma tradição de longa data na
música sacra, que remonta ao Renascimento e continua até os dias atuais. Nas texturas
imitativas, o número de vozes varia, e as texturas aumentam gradativamente à medida que
cada voz apresenta a melodia principal com contraponto. Outras possibilidades texturais
incluem:
1. textura homofônica, em que todas as vozes cantam um acompanhamento; a linha
melódica, normalmente no soprano, pode ser variada quanto ao posicionamento da voz;
2. textura [monofônica] em uníssono, com todas as vozes dobrando a linha melódica17;
3. pergunta e resposta, em que uma parte vocal enuncia uma ideia musical à qual as outras
partes vocais respondem;
4. melodia e descanto, em que um descanto ou contramelodia, geralmente apresentado na
voz de soprano, é cantado contra a melodia nas outras vozes;
5. texturas [polifônicas] contrapontísticas, uma categoria ampla, na qual duas ou mais
linhas diferentes são ouvidas em contraponto; a longa tradição da técnica de cantus firmus é
um excelente exemplo; e
6. antifonia, [técnica composicional de] alternância entre dois refrãos” (MATHES, 2007, p.
326-327).
“Estes recursos composicionais representam alguns dos principais tipos de texturas
corais. Qualquer escrita coral imaginativa pode apresentar novas texturas ou novas
combinações, sendo o âmbito e o espaçamento das vozes uma variável igualmente
importante” (MATHES, 2007, p. 327).
“Para ilustrar algumas maneiras pelas quais os movimentos corais podem ser moldados,
examinaremos brevemente algumas obras. Como em qualquer obra, a considerações sobre o
design temático, textural e tonal, bem como sobre o texto, guiarão nossa determinação do
design formal. A primeira obra que consideraremos é o renomado Hallelujah Chorus, do
Messiah de Haendel. Esse movimento exibe contrastes marcantes entre texturas homofônicas
e contrapontísticas ou imitativas, marca registrada do estilo de Haendel. As várias frases e
seções desse movimento, delineadas na Figura 13.16, são articuladas por fortes cadências
em texturas homofônicas e pelas mudanças no texto. Muitas das frases começam no meio do
compasso, as dimensões das frases variam e as frases geralmente se sobrepõem ou são
omitidas. Como em muitos movimentos corais, a forma é seccional e aparentemente
composta, com seis seções mostradas. Contudo, o motivo rítmico em semicolcheias da frase
vocal de abertura no texto ‘Hallelujah’ serve como refrão e a repetição do texto sempre
mantém a mesma melodia” (MATHES, 2007, p. 327).
17
“Por convenção, o termo ‘uníssono’ refere-se à textura e ao estilo do canto, e não ao intervalo real de duplicação.
Em um coro de vozes masculinas e femininas, o canto em uníssono é invariavelmente em oitavas” (MATHES, 2007, p.
326).
275
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Disciplina: Análise Musical 1 - Profa. Dra. Adriana Lopes Moreira
“As várias texturas encontradas nessas obras de Bach e Haendel refletem tradições da
escrita coral que influenciam muitos compositores até os dias atuais, particularmente na
escrita sacra. À medida que se desenvolveram novos estilos, com abordagens únicas e
criativas para a composição coral, sua influência pôde ser percebida. Um exemplo notável pode
ser ouvido no Requiem de Fauré. A peça como um todo pauta-se em melodias expressivas e
líricas, características dos estilos do século XIX, muitas vezes apresentadas como solos
seccionais. As texturas são principalmente melodias com acompanhamentos delicados, embora
a homofonia de voz cheia seja usada para ênfase dramática. O último movimento, In
Paradisium, é um excelente exemplo do estilo lírico contido de Fauré. O movimento é dividido
em duas seções, e cada qual apresenta os sopranos sozinhos em uma linha melódica que se
desenvolve continuamente; as outras vozes são adicionadas no fechamento. As frases
homofônicas de cada seção e dos últimos oito compassos formam uma coda tranquila a esse
movimento intensamente expressivo” (MATHES, 2007, p. 328).
276
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“Desvios mais radicais do estilo tradicional na escrita coral e na escrita para voz solo são
encontrados em muitas obras do século XX, às vezes desafiando as limitações práticas da voz.
Outras obras expandem as tradições da escrita coral, usando novas linguagens ou estilos
musicais. Algumas dessas obras são discutidas no capítulo final. Ao mesmo tempo, a tradição
da música coral para uso nos cultos da igreja continua ainda hoje” (MATHES, 2007, p. 328).
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Disciplina: Análise Musical 1 - Profa. Dra. Adriana Lopes Moreira
Introdução
“O século XX foi uma época de grandes mudanças na música. Os compositores buscaram
novas linguagens musicais, para além do sistema tonal tradicional da música ocidental,
resultando em estilos diversos e muitas vezes radicais de música de concerto. O jazz
estadunidense e a música popular, alavancados por novas tecnologias e mídia de massa,
influenciaram os rumos do desenvolvimento musical. O maior interesse pela música não-
ocidental alimentou ainda mais a diversidade de estilos e gêneros musicais. Uma pesquisa
completa dos muitos novos desenvolvimentos na música dos últimos cem anos ocuparia um
texto inteiro1. Os capítulos anteriores deste texto incluíram obras do século XX que se
basearam em formas tradicionais e clássicas. O objetivo deste capítulo é fornecer uma breve
introdução a algumas inovações nas formas musicais do século XX e apresentar critérios
adicionais para a análise da forma musical” (MATHES, 2007, p. 330).
“Apesar da diversidade de estilos na música do século XX, a maioria dos estilos
compartilha algumas tendências formais básicas. Em primeiro lugar, as formas episódicas —
formas compostas de seções contrastantes — são mais comuns. Essa tendência é, em parte,
resultado do interesse pela música programática, como balé e música para filmes, e por obras
que estabelecem texto. O programa ou texto fornecia uma base para o projeto formal. Obras
como o Pierrot lunaire de Schoenberg, um conjunto de vinte e um poemas expressionistas, ou
balés como Le Sacre du Printemps de Stravinsky ou Daphnis et Chloé de Ravel, por exemplo,
contêm formas episódicas e unificadas, tanto motivicamente como estilisticamente. Ademais,
muitos compositores se interessaram em escrever música com base na variação temática ou
na transformação dos motivos tonais. Em tais obras, a unidade motívica está presente, mas a
repetição literal de ideias é evitada. Essa tendência é particularmente evidente na música
atonal livre e serial, e é propícia a variações e formas de desenvolvimento. Outrossim, à
medida que os compositores após a Segunda Guerra Mundial buscavam abordagens ainda
mais radicais para os sons musicais, surgiram formas baseadas em contrastes de texturas e
timbres musicais. Finalmente, na segunda metade do século, novos conceitos filosóficos sobre
música levaram a novos conceitos de forma, redundando em formas abertas que mudam de
uma exposição para outra, ou em formas baseadas em processos de sucessão lenta. Em meio
a essas inovações, muitas obras valeram-se de formas tradicionais, agora delineadas de
maneiras diferentes por novos recursos e técnicas musicais” (MATHES, 2007, p. 330).
“Quer se baseando em formas e técnicas tradicionais, quer se valendo de concepções
únicas, qualquer estilo de música revela sua forma, na medida em que seus conteúdos podem
ser segmentados e agrupados, e suas relações formais identificadas. Na música tonal,
observamos repetidamente como a progressão em direção a cadências e relações tonais
articulam a forma musical. Em boa parte das obras pós-tonais, os compositores geram
relações de alturas e processos temáticos que articulam a forma de novas maneiras. Embora
não seja um levantamento exaustivo, este capítulo examinará várias obras que ilustram como
novos recursos e técnicas composicionais levaram a novas formas de moldar estruturas frasais
e delinear designs formais” (MATHES, 2007, p. 330).
Novos materiais de alturas, estruturas de frase e texturas
Agrupamentos de alturas
“No final do século XIX e início do século XX, boa parte dos compositores começou a usar
[o que na época conhecia-se por] escalas exóticas, incluindo escalas tonais, pentatônicas e
octatônicas, bem como escalas modais mais antigas e [o que na época conhecia-se por]
escalas artificiais (recém-inventadas). Além disso, muitos compositores, procurando evitar a
tonalidade, valeram-se de [o que na época conhecia-se por] motivos cromáticos. Como
resultado, muita música baseou-se em agrupamentos de alturas organizadas motivicamente,
cujo conteúdo intervalar serviria de base para diversas ideias temáticas. A noção de
agrupamentos de alturas (ou conjuntos) fornece um termo neutro para se referir à ampla
1
“Ver Twentieth-Century Music, de Robert Morgan (1991), Music of the Twentieth Century, de Bryan R. Simms (1996)
e Twentieth-Century Music, de Arnold Whitall (1999)” (MATHES, 2007, p. 330).
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gama de materiais de alturas que se pode encontrar nessas obras musicais. Também evita as
implicações tonais tradicionais do termo escala. Uma coleção de alturas corresponde a um
grupo de notas ordenadas pelo compositor com o intuito de criar padrões intervalares
motívicos. Qualquer coleção de alturas pode ser identificada com base no número de notas e
no conteúdo intervalar. Por exemplo, uma escala de tons inteiros é considerada uma coleção
referencial [cíclica] de seis notas, caracterizada pelos intervalos de uma segunda maior, terça
maior e quarta, que são os únicos intervalos – além de suas inversões – passíveis de serem
formados usando-se a coleção. Muita música não tonal é baseada em conjuntos motívicos de
classes de alturas, que são usados para formar ideias temáticas contrastantes ou para
transformações de ideias temáticas. Grande parte da música pós-tonal usa essa abordagem,
especialmente obras atonais e seriais, as quais são especialmente propícias a formas
contínuas, de desenvolvimento e de variação” (MATHES, 2007, p. 331).
Centricidade
“Outro conceito útil para muita música pós-tonal é a centricidade. Este termo refere-se
à proeminência de uma única altura em uma seção ou movimento completo, de modo que a
coleção de alturas se concentre nessa altura. Esses centros referenciais com uma altura podem
ser estabelecidos por técnicas como movimento linear direcionado, repetição, notas pedal e
proeminência dinâmica ou timbrística, mas não implicarão na hierarquia tonal da tonalidade
tradicional. A centralidade pode ocorrer em uma ampla gama de estilos e linguagens de
alturas. A terminologia tonalidade estendida2 refere-se ao uso de materiais tonais – escalas
e acordes familiares do sistema tonal, mas em progressões não tonais, com harmonias
estendidas e movimentos lineares. Nessa música, evita-se um sentido tradicional de
tonalidade, mesmo que se estabeleçam centros referenciais com uma altura” (MATHES, 2007,
p. 331).
Novos materiais de alturas e forma: Debussy
“Claude Debussy (1862-1918) é considerado um dos fundadores da música moderna.
Para abordar suas inovações na forma musical, devemos também considerar aspectos
importantes de seu estilo. Um aspecto considerado inovador em suas obras musicais foi a sua
proposta harmônica. Debussy usou relações harmônicas por terças, mas evitou cadências e
progressões tonais. Ele também estabeleceu centros tonais [no sentido de cor sonora, e não
no sentido de tonalidade] em obras musicais não tonais e contrastes texturais entre passagens
baseadas em coleções diatônicas e cromáticas, com o intuito de distinguir diferentes seções
formais. Na ausência de progressões harmônicas tonais, a repetição, bem como as notas
pedais, tornam-se uma forma primária de projetar centros tonais. O uso de coleções de alturas
variadas, como modos e escalas tonais, octatônicas, cromáticas e pentatônicas, também foi
significativo na obra de Debussy. Essas várias escalas foram além da ornamentação tonal
tradicionalmente sedimentada, tendo influenciado suas construções melódicas e suas
estruturas frasais. Na ausência de melodias com um direcionamento tonal, Debussy usou
motivos curtos e repetidos para gerar muitas de suas frases melódicas. Ele descreveu suas
melodias como sendo ‘semelhantes a arabescos’, referindo-se aos contornos ondulados e aos
ornamentos livres que preferia. A abertura de Prélude à l’après-midi d’un Faune de Debussy
(‘Prelúdio à tarde de um fauno’, 1894) é um bom exemplo desse tipo de melodia” (MATHES,
2007, p. 331-332).
Variações em desenvolvimento
“A abordagem de Debussy para melodia, harmonia, ritmo e textura resultou em opções
inovadoras para a forma. Embora os princípios de repetição, contraste, variação e
recapitulação tenham permanecido, a ausência da sintaxe tonal tradicional e a exposição de
Debussy de uma série de ideias musicais relacionadas, mas distintas, gerou formas diferentes
de modelos padrão. Várias técnicas podem ser identificadas e serão ilustradas com exemplos
de uma peça do primeiro livro de prelúdios para piano, La Cathédral Engloutie, de Debussy (‘A
2
“Nenhum termo amplamente aceito é usado para música tonal não tradicional, talvez devido à maneira altamente
individualizada que os compositores desenvolveram para variar alturas e linguagens harmônicas. Outros termos que
podem ser encontrados incluem pantonalidade, neotonalidade e, mais recentemente, nova tonalidade. Cada um
desses termos está sujeito a várias interpretações. O termo tonalidade estendida é tido como um conceito genérico
e de concepção panorâmica” (MATHES, 2007, p. 331).
279
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catedral submersa’, 1910). A Figura 14.1 traz um diagrama da forma desse prelúdio. A
segmentação é baseada em semelhanças e contraste nos seguintes parâmetros: (1) textura,
(2) coleções de alturas e centros sonoros, e (3) movimento rítmico e andamentos. Os centros
tonais e as progressões lineares fornecem uma sensação de movimento direcionado sem as
progressões tonais tradicionais e uma base para a segmentação. No entanto, as várias
reformulações de Debussy, a transformação de ideias musicais e os contrastes texturais
podem obscurecer as relações entre as seções. Consequentemente, o tipo de design formal em
sua obra é frequentemente ambíguo, embora suas formas tendam a ser seccionais.
Investigações mais aprofundadas a respeito da maneira segundo a qual a peça é gerada
podem revelar diferentes interpretações da forma” (MATHES, 2007, p. 332).
3
“O uso de movimento paralelo em todas as vozes, em uma sucessão de acordes, é algumas vezes denominado
plano [planing]. Debussy também usaria esse dispositivo com acordes tradicionais, para enfatizar sua cor harmônica
em vez de sua função. Veja os comp. 62-67 do Exemplo 14.2, que contém blocos de acordes M7 e m7” (MATHES,
2007, p. 332).
4
“Esta técnica motívica, também associada a Brahms, embora em um estilo composicional muito diferente, foi uma
importante influência em grande parte da música do século XX” (MATHES, 2007, p. 333).
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5
“O interesse de Bartók em formas arco de múltiplos movimentos foi discutido no Capítulo 9. Ver The Music of Béla
Bartók, de Paul Wilson (1992), para uma discussão mais aprofundada sobre a música de Bartók” (MATHES, 2007, p.
336).
283
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“A identificação dos vários tetracordes nas vozes superior e inferior da peça (Exemplo
14.4) revelará as transposições da escala octatônica inicial. As coleções octatônicas
transpostas diferenciam as frases. A padronização temática e a colocação cuidadosa de pausas
e ligaduras ajudam a articular as frases. Observe que, embora o compasso 5 não seja
cadencial no sentido tonal, o movimento semelhante entre as vozes e a presença de uma
pausa marcam o final da frase. O compasso 6 inicia uma repetição variada da primeira frase.
Tetracordes menores são novamente usados em ambas as mãos com as duas partes
transpostas uma quinta diminuta acima. Comparando essas duas frases, podemos ver que os
padrões de alturas na segunda frase simplesmente trocaram de lugar com os da primeira
frase. Isso ocorre porque, como observamos, a escala octatônica é uma escala simétrica, que
duplica o conteúdo de alturas em certas transposições. O conteúdo total de alturas conecta
essas duas frases” (MATHES, 2007, p. 336-337).
“Considere onde mais esta versão da escala octatônica ocorre. Embora existam variações
motívicas nos compassos 20-25 e de 35 até o final, os tetracordes de abertura e a escala
octatônica original retornam. Assim, um elemento desta peça que se mostra importante para a
sua forma formal é o retorno periódico da coleção de alturas inicial e os motivos. Agora
considere o conteúdo de alturas das frases intermediárias. Nos compassos 12-19, os
tetracordes de uma escala octatônica são mantidos, exceto que falta uma altura em cada voz:
a mão direita omite a altura Fb e a mão esquerda omite a altura Bb, como resultado da opção
por saltos melódicos que tomou lugar da movimentação por graus conjuntos do segmento
anterior. Os compassos 26-34 usam, ainda, outra versão da escala octatônica, variando os
intervalos melódicos: observe aqui a ênfase nas terças menores. A variação motívica do
contorno e dos padrões melódicos distingue essas duas seções curtas, enquanto os recursos
para se manter algumas alturas – agora transpostas – fornecem unidade ao longo da peça”
(MATHES, 2007, p. 337).
“Esta pequena peça demonstra que, embora o padrão motívico seja importante para o
estabelecimento da forma, a segmentação formal de obras musicais pós-tonais normalmente
coincide com a transposição ou com mudanças no conteúdo da tonalidade. Além disso, a
repetição variada e o contraste mantêm sua importância como processos formais. O fato de a
repetição literal ser evitada reflete uma forma baseada no desenvolvimento motívico
contínuo, característico de grande parte da música do século XX. Ao mesmo tempo, as
recorrências alternadas dos agrupamentos de alturas descritas acima sugerem uma forma
seccional tradicional, neste caso um pequeno rondó” (MATHES, 2007, p. 337).
284
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seria uma repetição mais convencional do primeiro acorde de colcheia? Especule sobre a
grafia de Stravinsky.
§ Compasso 9: uma figura diatônica centrada em torno da nota Lá é introduzida no compasso
9. Essa figura se sobrepõe às várias harmonias cromáticas abaixo dela.
§ Compasso 27: uma bordadura repetida e uma figuração descendente por terças. Observe a
ligeira expansão dos intervalos em cada parte, de menor para maior.
§ Compasso 38: figuras de notas repetidas no violino II e em dois estratos de violoncelos, e
ostinato irregular apresentado em pizzicato nos violoncelos restantes. Trace os padrões
intervalares e rítmicos do ostinato. Observe a irregularidade calculada do padrão rítmico
contrastando com o padrão de altura repetido” (MATHES, 2007, p. 338-339).
“Essas várias ideias mostram características das estruturas frasais de Stravinsky.
Primeiro, Stravinsky varia a extensão dos motivos quando os repete para criar frases curtas e
irregulares. Uma ideia pode ser introduzida em fragmentos e então alongada de uma forma
mais completa (compare os compassos 8-9 com os compassos 10-12), ou fragmentada após
repetição (compare compassos 19-21 com 22-23). Algumas frases ou motivos são
simplesmente repetidos (ver compassos 33-34), enquanto em outras vezes, como ocorre no
compasso 26, um padrão é interrompido. A irregularidade das estruturas frasais é evidente
nos deslocamentos métricos necessários para observação dos padrões de mudanças do
ostinato. Em segundo lugar, o contraste entre elementos diatônicos e cromáticos na música
pode ser um argumento para delinear frases, uma característica que observamos na música de
Debussy. Em Stravinsky, no entanto, os dois elementos frequentemente ocorrem ao mesmo
tempo. Isso é mais evidente nos compassos 7-10, onde a melodia de Ré menor é sobreposta
às harmonias cromáticas. Em terceiro lugar, a música é tonalmente muito estática, resultado
da construção do ostinato. Vários padrões harmônicos e melódicos são simplesmente repetidos
sem nenhum sentido de progressão harmônica ou de movimentação tonal. Embora possam
surgir centralidades, mais de um centro pode ser evidente em uma passagem ou eles podem
mudar repentinamente” (MATHES, 2007, p. 339).
Justaposição e sobreposição
“A expansão ou contração irregular de unidades melódicas de Stravinsky e suas
texturas caleidoscópicas representam uma forte ruptura de processos temáticos tonais. Essas
inovações também levaram a novos processos formais, notadamente de justaposição e
sobreposição. Por definição, justaposição é a colocação de dois objetos lado a lado. Por
implicação, os objetos são reconhecidos como separados em vez de conectados e são
contrastantes de alguma forma. Na música, ouvimos esse processo quando ideias
contrastantes se alternam sem conexões aparentes; às vezes uma ideia é interrompida por
outra e deixada incompleta. Existe um precedente para este processo na música tonal, e
certamente frases entre parênteses podem ser ouvidas como uma justaposição. Na música de
Stravinsky, assim como em obras musicais de muitos compositores do século XX, entretanto, a
justaposição tornou-se um processo formal básico, usado para gerar seções” (MATHES, 2007,
p. 339).
“Nesta seção em particular, podemos observar esse processo de justaposição entre R84
e R93 (compassos 24-56)6. Observe como a fermata no compasso 26 interrompe a repetição
do padrão melódico a ser seguido por uma ideia motívica contrastante no compasso 27 (a
figura ondulante a partir da nota vizinha). Essas duas ideias são justapostas nos seis
compassos seguintes. Em R86.2 (compasso 34) ouvimos uma nova ideia em combinação com
a figura ondulante. As ideias compartilham certas alturas, mas são distintamente contrastantes
em conteúdo rítmico e harmônico. Neste caso, o processo é de sobreposição. Este processo
refere-se à simultaneidades de ideias contrastantes em uma textura. A sobreposição cria uma
textura em camadas [layered texture]7, na qual cada componente tem um conteúdo distinto
de alturas, perfil rítmico, registro, timbre e/ou articulação. Embora os elementos cromáticos
prevaleçam na maior parte deste trecho, muitas outras passagens em Le sacre du printemps
6
“A denominação ‘R84’ e designações semelhantes referem-se a números de ensaio [rehearsals] na partitura.
Referências como R86.2 indicam o segundo compasso após R86” (MATHES, 2007, p. 339).
7
“O termo estratificado também é usado para descrever tais texturas. Veja o Harvard Dictionary of Music, 4% ed”
(MATHES, 2007, p. 340).
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8
“Essas texturas esparsas e fragmentadas são conhecidas como texturas pontilhistas, uma técnica do século XX
associada a Webern” (MATHES, 2007, p. 342).
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289
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Disciplina: Análise Musical 1 - Profa. Dra. Adriana Lopes Moreira
9
“Há uma série de estudos publicados sobre esta peça. Ver Introduction to Post Tonal Theory, de Joseph Straus
(terceira edição, Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 2004, p. 101-111), para uma análise adicional e bibliografia de
estudos analíticos sobre essa obra” (MATHES, 2007, p. 344).
10
“Na teoria atonal [ou pós-tonal], um intervalo, sua inversão, formas compostas e variações enarmônicas são
considerados membros da mesma classe intervalar. Portanto, quando se trata de música atonal ou serial, existem seis
classes intervalares [CI; interval classes, ic]: CI1 (2m), CI2 (2M), CI3 (3m), CI4 (3M), CI5 (4J) e CI6 (trítono)”
(MATHES, 2007, p. 345).
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“Três observações básicas podem ser feitas sobre a série intervalar na série das Piano
variations: (1) a série não é simétrica, (2) o trítono (CI6) é usado apenas uma vez e separa as
duas metades da série, sugerindo que a série pode ser segmentada como dois hexacordes
(segmentos com seis notas), e (3) as segundas menores (CI1) e terças maiores (CI4) são
proeminentes. A série tem algumas propriedades adicionais que se relacionam com a estrutura
formal da obra. Em contraste, a série original do Concerto op. 24, embora não seja simétrica,
usa um padrão recorrente de tricordes (segmentos com três notas): cada um dos tricordes usa
uma CI1 e uma CI4; o segundo e o quarto tricordes são retrógrados (são ordenados de trás
para a frente) em relação ao primeiro e ao terceiro. O número limitado de intervalos na série
intervalar e as relações entre os tricordes são propriedades exploradas na composição. Outras
séries são elaboradas a partir de padrões simétricos, enquanto algumas séries usam todos os
intervalos. Em qualquer caso, propriedades salientes da série podem ser exploradas para
articular divisões formais” (MATHES, 2007, p. 345).
“O segundo movimento das Piano variations usa a técnica do cânone como uma variação
da série original, apresentada no primeiro movimento12. Como regra, apresentações completas
de uma forma da série devem ser apresentadas antes que uma nova forma da série comece.
Quatro formas básicas de série são possíveis. A primeira forma da série apresentada na obra é
denominada forma original (O) [prime form, P]. A inversão (I) [inversion] da série mantém
a ordem intervalar da forma original, mas segue na direção oposta [em espelho]. O
retrógrado (R) [retrograde] traz a ordem reversa [de trás para a frente] da forma original; o
11
“Esta discussão pretende ser apenas uma breve introdução à composição serial” (MATHES, 2007, p. 345).
12
“Apenas o terceiro dos três andamentos desta obra traz a forma com variações. A forma do primeiro movimento é
organizada em três seções, sendo a terceira seção uma recapitulação modificada da primeira” (MATHES, 2007, p.
346).
291
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“Nota: A mesma série é usada em todos os três movimentos; as formas de série desse
movimento são identificadas em relação ao O-0 do primeiro movimento” (MATHES, 2007, p.
347).
“Antes de considerar a relação da série com a estrutura formal, consideremos o
movimento como um todo. Conforme observado, parece ser uma forma binária com
repetições. Comece o estudo do movimento ouvindo sem referência à partitura.
Indiscutivelmente, a forma com duas partes não é facilmente perceptível. Dos muitos aspectos
do movimento que podem ser percebidos, as apresentações pontilhistas de alturas, em
articulações variadas, os momentos de acordes pontuados e as rápidas mudanças e contrastes
no registro são, talvez, os mais salientes. Ouça novamente e tente representar livremente a
forma e/ou a textura usando quaisquer símbolos que pareçam apropriados. Você pode querer
se concentrar na dinâmica ou no registro. O que você provavelmente descobrirá é que,
qualquer que seja o aspecto da peça e quaisquer símbolos que você escolha representar
graficamente ou desenhar, eles mudam muito rapidamente. Este exercício pretende
demonstrar como a abordagem de Webern é diferente da escrita convencional, com uma
13
“Há duas maneiras de rotular formas da série. A proposta com Dó móvel, usada aqui, rotula como O-0 a primeira
apresentação da série em uma peça e classifica as demais formas a partir dela; outra proposta, com Dó fixo, associa o
O-0 à forma da série iniciada por Dó. Ver Straus (2004, p. 146-149)” (MATHES, 2007, p. 346).
14
“Um exemplo de cânone em espelho foi apresentado anteriormente, no Exemplo 12.2a” (MATHES, 2007, p. 346).
292
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“Cada altura na série superior é sempre emparelhada com a altura diretamente abaixo
dela na série inferior. O Lá, que está sempre emparelhado consigo mesmo, também está
sempre no mesmo registro. Esse Lá duplo é um dos sons mais salientes desse movimento (nos
compassos 1, 9, 13 e 19), Webern usou sete notas em registros fixos, formando um padrão
intervalar simétrico em torno do Lá, conforme segue: Sol#3–Dó#4–Fá#4–Lá4–Dó5–Fá5–Sib5. Esse
uso de registro fixo ou ‘congelado’ é característico da música de Webern15” (MATHES, 2007, p.
347)
“Além dos elementos fixos de altura e registro, Webern usa três dinâmicas (p, f, ff) e
quatro articulações diferentes (legato, staccato, tenuto e acentos). A sucessão de padrões
rítmicos, dinâmicas e articulações é assimétrica, porém com mudanças rápidas e desconexas
no registro, criando uma textura cambiante, em constante mudança. Por outro lado, as várias
formas da série e as ‘díades invariantes’ articulam as frases e seções da composição. Assim, os
procedimentos seriais, incluindo o uso do cânone, geram uma sensação de desenvolvimento
contínuo que mascara a forma com duas partes” (MATHES, 2007, p. 347).
Serialismo integral
“Os vários elementos fixos das Piano variations de Webern são uma indicação de
planejamento pré-composicional e economia de meios. Webem explorou a ideia de
planejamento pré-composicional de diversos elementos também em outras obras,
notadamente na Sinfonia op. 21 e o Quarteto de cordas op. 28. A estrutura formal dessas
obras é moldada pela serialização de tonalidade, ritmo e timbre, e também pela escrita
canônica. A serialização de mais de um elemento, habitualmente denominada serialismo
integral, inspirou muitos compositores seriais do século XX. O serialismo integral foi visto
como uma forma de criar uma linguagem musical inovadora, que rompesse com a música do
passado em vários aspectos. Dentre os compositores representativos que usaram essa técnica
estão Luigi Nono, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen e Milton Babbitt16” (MATHES, 2007, p.
347).
“Enquanto diferentes sistemas foram concebidos, os críticos ao serialismo integral
sentiram que os resultados musicais tendiam a ser semelhantes em relação ao estilo básico e à
textura, a despeito dos vários métodos de integração. Formalmente, as composições eram
guiadas por princípios vinculados à ausência de repetição, o que que alguns consideravam ser
um aspecto gerador de problemas perceptivos intransponíveis17. Embora essa abordagem
tenha desvanecido no final da década de 1950, ela propôs uma opção inovadora de linguagem,
tendo aberto o caminho para formas de expressão musical e técnicas composicionais
inovadoras” (MATHES, 2007, p. 348).
15
“O compositor estadunidense Elliott Carter também adota essa técnica” (MATHES, 2007, p. 347).
16
“O compositor Olivier Messiaen (1908-1992) foi influente junto ao serialismo como professor de Boulez e
Stockhausen. Seu livro Technique de mon language musical (1944) traz seu tratamento sistemático e inovador como
opção à tonalidade e ao ritmo tradicional” (MATHES, 2007, p. 347).
17
“Ver Music the Arts and Ideas, de Leonard Meyer (Chicago: University of Chicago Press, 1967, p. 236-316) para
uma discussão acerca das críticas ao serialismo integral. Ver também The New Music, de Reginald Smith Brindle
(segunda edição, New York: Oxford University Press, 1987)” (MATHES, 2007, p. 348).
293
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18
“Essa abordagem também é descrita como música aleatória (do latim alea, que significa dados) ou música do
‘acaso’” (MATHES, 2007, p. 349).
294
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“No momento em que este artigo foi escrito, Stockhausen havia composto várias obras
com abordagens variadas da forma momento. O Klavierstücke XI de Stockhausen (1956) foi a
primeira obra europeia a explorar esse conceito. Nesta peça, dezenove ‘grupos’ ou seções de
fragmentos curtos com 15 compassos (amétricos) podem ser tocados em qualquer ordem.
Seis andamentos, dinâmicas e articulações são fornecidos à escolha do performer, a partir do
momento em que ele escolhe uma das seções para iniciar a peça. O performer é instruído a
deixar os olhos ‘vagarem ao acaso pela página’. Usando criteriosamente as indicações de
dinâmica, articulação e andamento especificados ao final da primeira seção, ele escolhe outra
aleatoriamente e segue assim por diante. Nenhum grupo pode ser repetido imediatamente,
mas um grupo pode ser reproduzido novamente. Na segunda vez em que um grupo é
executado, são designadas transposições de oitavas, que naturalmente mudam o timbre. Uma
vez que um grupo é executado pela terceira vez, a peça é considerada encerrada. O estilo
serial consistente desta composição, com sua ampla gama de texturas, desde as mais densas
até as muito esparsas, e o foco em intervalos dissonantes e rítmicas complexas, enfatiza o
contraste de timbre e movimento entre os grupos. Stockhausen também expande seus
recursos sonoros e rítmicos com técnicas como clusters para serem tocadas com o antebraço e
pequenas notas que devem ser tocadas ‘o mais rápido possível’ (Exemplo 14.9)” (MATHES,
2007, p. 351).
19
“Citado em Music of the Twentieth Century, por Simms (1996, p. 356-357)” (MATHES, 2007, p. 351).
296
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uma obra para percussão solo, permite que o intérprete comece com qualquer uma dentre as
dezesseis seções, mas todas devem ser executadas em ordem. A partitura gráfica é anotada
com símbolos para cada instrumento, e grupos ou pontos em retângulos e triângulos são
usados para indicar as escolhas que o intérprete pode fazer para ordenar e interpolar (‘dobrar’)
o material dentro das seções. Esta peça, portanto, tem uma forma fechada que pode começar
em qualquer ponto, e que permite alguma determinação do intérprete dentro das seções”
(MATHES, 2007, p. 351-352).
“Todas as obras citadas aqui mostram uma ruptura fundamental com os conceitos
tradicionais de forma, como as observações de Stockhausen citadas acima descrevem
apropriadamente. Formas abertas, aliadas ao estilo serial, resultaram em obras musicais de
extrema complexidade, desafiadoras para intérpretes e ouvintes. Desenvolvimentos musicais
posteriores foram, em parte, uma resposta a essas complexidades” (MATHES, 2007, p. 352).
Indeterminação notacional
“As notações gráficas desenvolvidas por Cage e Stockhausen, entre outros, refletiam, em
parte, um interesse por novos sons e texturas, bem como novas formas de moldar o tempo e
o movimento musical. Muitos compositores foram atraídos pelo senso rítmico mais elástico e
pelos gestos sonoros livres que decorriam dessa música experimental, e desenvolveram
formas de notação apropriadas20. Dois compositores que criaram obras notáveis empregando
notação indeterminada, enquanto exploravam novas formas de composição, são Luciano Berio
(1925-2003) e Witold Lutoslawski (1913-1994). Uma obra de cada compositor será
brevemente examinada para ilustrar alguns tipos de notações indeterminadas e os conceitos
formais resultantes” (MATHES, 2007, p. 352).
“Berio também foi um compositor serial no início de sua carreira e estudou música
eletrônica. Ele estava particularmente interessado em gestos vocais e físicos, e suas
abordagens de textos de poetas como e.e. cummings e Ezra Pound exploraram o texto como
significado e o texto como sonoridades puramente vocais. Em Circles (1960), para voz, harpa
e percussão, Berio usou diferentes estilos vocais e passagens de textos em uma forma de arco
ABCB’A. Ele também escreveu uma série de composições intituladas Sequenza, cada qual
escrita para um instrumento solo diferente. Essas composições se baseiam em gestos
instrumentais, vocais e, às vezes, visuais, e empregam notação determinada e indeterminada.
Eles se assemelham a ensaios musicais, ao explorar a gama potencial de sons e as
transformações de ideias com referência ao instrumento que está sendo tocado” (MATHES,
2007, p. 352).
“Um dos mais teatrais desses ensaios musicais é a Sequenza V para trombone solo, de
Berio (1966). A peça pretende rememorar um famoso palhaço francês chamado Grock.
Embora as alturas específicas sejam anotadas, na maioria dos casos, não há hastes e a
notação rítmica é um tipo de ‘notação proporcional’ ou temporal. Nesse tipo de notação, a
duração dos eventos é determinada pelo espaço ocupado pela altura na partitura, proporcional
à duração temporal dada em segundos (Exemplo 14.10). A duração das alturas é baseada na
distância entre elas e no formato das cabeças das notas: as cabeças das notas com uma barra
devem ser ‘o mais curtas possível’ enquanto as cabeças das notas simples são ‘mantidas até o
próximo ataque’. As barras de compasso são indicadoras de onde as respirações devem ser
feitas, e a dinâmica é dada pela série de números de 1 a 7. No decorrer da peça, o performer
modifica sua sonoridade de várias maneiras: ele usa um êmbolo de metal para se assemelhar
à fala, produz ruídos percussivos e sons vocais enquanto toca e faz uso livre do slide para
glissandi variados. A certa altura, o performer fala ‘por quê?’ em um estado de confusão e,
então, se senta para continuar tocando” (MATHES, 2007, p. 352).
20
“Ver Music Notation in the Twentieth Century, de Kurt Stone (New York: Norton, 1980, p. 152-157) para discussões
a respeito de novas notações” (MATHES, 2007, p. 352).
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“O efeito da peça é uma exploração teatral e virtuosística do solista como uma persona
instrumental e vocal. A sequência de eventos e sons são anotados com precisão, enquanto a
notação temporal e espacial garante um sentido flexível e elástico ao movimento rítmico. O
que deve ser observado nessas novas notações é que os resultados serão semelhantes,
embora a notação muitas vezes indique um gesto básico, forma ou efeito sonoro em vez de
uma ação precisa. A forma da composição pode ser percebida em graus variados de atividade
e intensidade, com sons surgindo muito lentamente, como na abertura, ou apresentando-se
em explosões frenéticas como no trecho apresentado” (MATHES, 2007, p. 352).
“Lutoslawski, diferentemente de muitos compositores, empregou uma indeterminação
mais controlada em uma série de eventos. Suas primeiras obras eram semelhantes, em estilo,
a Bartók, e suas obras no final dos anos 1950 eram altamente cromáticas e contrapontísticas,
em estilo serial. Uma mudança de estilo, segundo Lutoslawski, ocorreu quando ele ouviu o
Concerto para piano e orquestra de Cage. A obra sugeriu a ele que alguém poderia compor
música ‘começando com o caos e ir criando ordem gradualmente’21. Seu interesse não estava
na performance indeterminada, mas em novas texturas e formas que envolviam camadas
sobrepostas de ideias no que ele denominava ‘contraponto aleatório’. Ele anotava as alturas
com precisão, mas permitia algumas abordagens rítmicas improvisadas e repetições de ideias”
(MATHES, 2007, p. 352-353).
“O Exemplo 14.11 mostra um trecho de uma obra importante de Lutoslawski, seu Livre
pour orchestre (1968). Esta passagem é intitulada 1er Intermede (primeiro intermezzo); nela,
três clarinetistas tocam figuras rápidas e repetidas, começando e parando em momentos
diferentes. O andamento e as pausas são fornecidos com indicações temporais. As partes
variam em duração e devem ser repetidas até atingirem 20 segundos (por determinação do
maestro), seguidos por uma pausa de cinco segundos. O efeito é o de uma massa sonora
rodopiante, com densidade flutuante, que repentinamente surge e para” (MATHES, 2007, p.
353).
21
“Lutoslawski and His Music, de Steven Stuckey (Cambridge: Cambridge University Press, 1981, p. 84)” (MATHES,
2007, p. 353).
298
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22
“Uma partitura espacial usa espaços em branco para indicar pausas e linhas verticais para coordenar entradas”
(MATHES, 2007, p. 354).
299
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“A solução de Ligeti para compor dessa maneira foi escrever alturas específicas em
estruturas polifônicas muito densas, geralmente usando procedimentos canônicos.
Atmosphères de Ligeti é, na verdade, um cânone a 48 vozes26. A textura resultante é a de
clusters – uma massa sonora na qual as alturas e partes individuais não são ouvidas. Clusters
são criados tendo partes próximas, com bandas sonoras baseadas em segundos maiores e
menores. Ligeti também incluiu em suas obras efeitos sonoros especiais, como sons abafados,
harmônicos, sul tasto e manipulação das cordas do piano. Embora um tempo de semínima =
40 seja dado, não há um pulso facilmente discernível, e as durações temporais das seções são
dadas em segundos e minutos” (MATHES, 2007, p. 356).
“Atmosphères foi uma obra extremamente bem-sucedida junto ao público, pois sua
forma básica depende de contrastes de densidade, timbre e qualidades sonoras que eram mais
fáceis de entender do que muita música de vanguarda. Sua forma pode ser percebida em
23
“Estúdios eletrônicos foram desenvolvidos na década de 1950 em Colônia, Milão, Paris e Princeton. Muitos
compositores trabalharam neste meio, mesmo que brevemente, para explorar novas possibilidades sonoras” (MATHES,
2007, p. 354).
24
“Pioneiros em novos recursos musicais e projetos sonoros incluíram Henry Cowell (1897-1965) e Edgard Varèse
1883-1965). Ver The Banshee (1925), para piano preparado, de Cowell, e Ionisation (1931), para conjunto de
percussão, de Varèse” (MATHES, 2007, p. 354).
25
“Do encarte de Edward Downes para a gravação Leonard Bernstein Conducts Music of Our Time, da Columbia
Records, MS 6733” (MATHES, 2007, p. 356).
26
“O termo ‘micropolifonia’ é eventualmente usado para descrever essas texturas polifônicas extremamente densas”
(MATHES, 2007, p. 356).
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termos de um tema e variações, sendo o tema instrumental um ‘ruído branco’ criado por todo
o espectro de cores orquestrais. As pausas e mudanças na densidade e no timbre filtram os
sons, e cada casa de ensaio na partitura (de A a O) marca uma passagem com uma certa
qualidade sonora. Flutuações na densidade, dinâmica, timbre, registro e movimento rítmico
geram transformações variadas dessas massas sonoras. Tais formas e processos texturais
ocuparam Ligeti em outras obras da década de 1960, incluindo o Continuum para cravo
(Exemplo 14.14)” (MATHES, 2007, p. 356).
“As composições texturais de Penderecki, em contraste com as de Ligeti, dependem de
massas sonoras de partes indiferenciadas. Ele consegue isso usando grupos de alturas,
incluindo microtons (inflexões de quartos de tom), notação indeterminada como ‘a nota mais
aguda possível’, escolha indeterminada das alturas de um grupo e efeitos especiais,
principalmente ao escrever para cordas e vozes. Um exemplo notável é a obra inicial,
Threnody for the Victims of Hiroshima de Penderecki (1960) para orquestra de cordas. Além de
microtons e clusters, a partitura inclui um grande número de efeitos especiais, como col legno,
sul ponticello e tocar atrás do cavalete. As texturas variam de clusters a sons pontilhistas; sua
extensa gama de efeitos bombásticos e estridentes ecoa o horror da guerra” (MATHES, 2007,
p. 356).
“Na década de 1960, Penderecki escreveu obras dramáticas para coro, solistas e
orquestra, valendo-se de uma variedade eclética de recursos tradicionais e texturais. Uma de
suas obras de maior sucesso é St. Luke Passion, um compilado de seções da Paixão registrada
na Bíblia por Lucas, combinadas com passagens dos Salmos e das Lamentações de Jeremias.
Seus recursos incluem a salmodia, bandas de agrupamentos dodecafônicos, rítmicas amétricas
e uma passacaglia usando uma série baseada no motivo ‘B-A-C-H’ (Sib-Lá-Dó-Si). O refrão é
usado com grande efeito dramático e é chamado a sussurrar, gritar, cantar, falar em
sprechstimme (voz falada) e cantar clusters. Os contrastes das diferentes técnicas de produção
vocal delineiam as frases. O Exemplo 14.13 mostra um trecho do Stabat Mater, que ele
estabelece na parte II da Paixão. Aqui, o coro (1) canta clusters em configurações antifonais
do texto ‘Christe’, com cada voz cantando uma linha cromática com quatro notas diferente, (2)
recita o texto na forma de uma ladainha e (3) canta padrões cromático, com relações
dissonantes. Penderecki também usa uma configuração espacial para a partitura, uma
convenção comum de muita música nos últimos cinquenta anos” (MATHES, 2007, p. 356).
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“O interesse de Reich pela música de processo foi influenciado por seu estudo da música
de Gana. Ele observou que a percussão ganense era baseada em ‘vários padrões repetitivos,
mais ou menos em subdivisões de doze, mas sobrepostos de forma que os tempos fortes não
ficassem no mesmo lugar’. Esses estudos e sua obra com loops de fita o levaram a se
interessar pela técnica de phasing, que ele descreve da seguinte forma: “O phase realmente
tem a ver com cânone... O que você tem é um cânone em uníssono ou circular, no qual o
27
“Os termos ‘música de sistema’ e ‘música de processo’ também foram usados para descrever esse estilo. A estética
do minimalismo tem precedentes na música de John Cage e também se manifestou nas artes plásticas. O notório 4’33
de Cage, e as pinturas monocromáticas, como a série de pinturas azuis de Yves Klein (1956), exemplificam um
movimento em direção a quantidades mínimas de material” (MATHES, 2007, p. 359).
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Disciplina: Análise Musical 1 - Profa. Dra. Adriana Lopes Moreira
intervalo rítmico entre a primeira e a segunda vozes é variável e muda constantemente”28. Nas
obras que utilizam esta técnica, a forma é ditada pelo processo de início em fase, trabalhando
por uma série de permutações que colocam as vozes fora de fase, e ao eventual retorno à
sincronização das partes, até que estejam novamente em frase” (MATHES, 2007, p. 359-360).
“It’s Gonna Rain (1965) e Come Out (1966), de Reich, usam loops de fita baseados nos
textos dos títulos, e Piano Phase e Violin Phase (1967) são as primeiras obras baseados em
fases. Dois ou mais performers iniciam a execução em uníssono, mas gradualmente um
performer acelera ou muda o padrão, para que seus tempos fortes fiquem fora de fase. (Esse
processo é ilustrado nas obras discutidos nos exercícios.) Em Drumming (1971), uma obra
com uma hora e 30 minutos de duração, para vozes, flautim e percussão, Reich opta pelo
processo de substituição gradual de sons percutidos por pausas ou pausas por sons percutidos.
Ele também emprega mudanças graduais de timbres enquanto as alturas e o ritmo
permanecem constantes” (MATHES, 2007, p. 360).
“Nas décadas de 1970 e 1980, Reich começou a usar conjuntos maiores, texturas mais
contrapontísticas e uma gama mais ampla de movimentos harmônicos, enquanto ainda
empregava estruturas tradicionais de acordes e progressões modais. Desert Music (1982) para
coro e orquestra é uma obra notável deste período. Embora processos muito graduais de
mudança e repetição ainda caracterizem a música, uma gama mais ampla de indicações de
expressão e uma linguagem musical enriquecida são adotadas. Obras posteriores, como New
York Counterpoint (1986), usam padrões mais longos em camadas de duas ou três vozes
canônicas. Padrões de mudanças em grande escala no timbre, densidade, modo ou tonalidade
geram uma aparência da organização em formas seccionais. A pulsação persistente encontrada
na maior parte da música de Reich e o ritmo gradual das transformações, entretanto,
continuam a enfatizar a natureza processiva e repetitiva de suas formas mínimas” (MATHES,
2007, p. 360).
Conclusão
“As novas abordagens à forma, como as discutidas aqui – variações por
desenvolvimento, variação e transformação de motivos de alturas, indeterminação e formas
abertas, composições texturais e formas ‘processuais’ minimalistas – são algumas indicações
da diversidade de estilos que surgiram no século XX. É interessante notar, entretanto, que
muitos estilos experimentais das décadas de 1950 e 1960 foram abandonados pelos
compositores que os iniciaram. Os mais notáveis a esse respeito podem ser Penderecki e
Ligeti, cujas obras desde meados da década de 1970 retornaram à notação mais convencional
e a abordagens composicionais menos experimentais. A notação gráfica não tradicional
continua sendo uma novidade – uma exceção e não a norma. Outros compositores retornaram
a um idioma tonal mais consonante, com forte interesse em cores orquestrais e novas texturas
que moldam designs formais. Geralmente, as abordagens da estrutura formal são baseadas no
desenvolvimento contínuo ou na variação do material, ou em formas episódicas e compostas.
Os princípios formais de repetição, variação e contraste ainda moldam muita música que é
escrita” (MATHES, 2007, p. 360).
“Um recurso experimental da década de 1950 continua a evoluir neste novo milênio – o
da música eletrônica. A música concreta – cujo material sonoro derivado de fita e gravações
de sons do entorno real – introduziu técnicas de manipulação de fita, como delay ou loops de
fita, que ainda são influentes. A evolução dos computadores e da tecnologia digital talvez
tenha sido a mudança mais significativa nas últimas décadas. Os computadores não apenas
podem armazenar, gerar e manipular recursos musicais, mas também facilitar a performance
em tempo real. A música electroacústica em que performers tocam ao vivo instrumentos
‘acústicos’ tradicionais, ao mesmo tempo que interagem com os seus sons manipulados
digitalmente, continua a ser explorada por muitos compositores. As formas complexas, muitas
vezes contínuas [through-composed], de tais obras são mais prontamente estudadas por meio
de apresentações ao vivo do que por uma partitura real (com a última não sendo viável de
reproduzir aqui). A noção de ‘som surround’ e o uso de alto-falantes como fontes para sons
musicais introduziram uma nova dimensão à música, a do espaço físico em que ela ocorre.
28
“Jonathan Cott, Interview with Steve Reich, em Steve Reich: Works 1965-1995 (dez CDs), Nonesuch Records, 1997”
(MATHES, 2007, p. 359).
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3. “George Crumb (n. 1929), Ancient Voices of Children (1970), IV. Each
Afternoon in Granada, a Child Dies each Afternoon. Esta obra colorida com cinco
movimentos é baseada na poesia de Federico Garcia Lorca, publicada em 1955. A partitura é
escrita para soprano, menino soprano, oboé, bandolim, harpa, piano elétrico e percussão. O
estilo eclético de Crumb incorpora vários dos elementos estilísticos discutidos neste capítulo. O
seu interesse por timbres e sonoridades únicas alia-se a texturas fragmentárias e, por vezes, a
um estilo indeterminado. O movimento IV é dado no Exemplo 14.17. Você deve começar o
estudo da partitura observando as várias instruções de execução. Como poderia ser concebido
um diagrama formal desta obra? Como a partitura é representativa das inovações
mencionadas acima? Observe o conteúdo de alturas nas várias partes. Quais partes
compartilham o material de alturas? Que tipos de movimentos harmônicos são usados? Uma
citação de Bach é usada. Essa técnica de citação foi usada por muitos compositores de obras
teatrais ecléticas nas décadas de 1960 e 1970. (Ver, por exemplo, a Sinfonia de Berio (1968)
para oito cantores e orquestra, II.) Qual pode ser a intenção expressiva ou programática da
citação?
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4. “Obras adicionais para estudo. Além das obras destacadas nos exercícios
analíticos, as seguintes obras são recomendadas para estudo. Inicialmente, a escuta deve se
concentrar no contorno geral e na forma dos eventos ouvidos. Escrever descrições verbais,
observar esquemas de casas de ensaio do design formal ou as formas gráficas pode ajudar a
focar sua audição. Considere quais estilos discutidos neste capítulo estão representados aqui.
Algumas das obras contém designs formais tradicionais? Que elementos da obra musical
articulam a forma? A tonalidade ou a centricidade são evidentes em alguma das obras?
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