TCC Gestao de Qualiadade e Gestao Do Paciente
TCC Gestao de Qualiadade e Gestao Do Paciente
TCC Gestao de Qualiadade e Gestao Do Paciente
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Resumo
É comum dizer que ocorreu melhora nas práticas assistenciais e de gestão na área
da saúde no Brasil nos últimos anos por dois motivos: promulgação do Código de Defesa do
Consumidor e aumento do acesso às informações, por intermédio da internet. No entanto, até
2016, ainda se verifica que, independente do aprimoramento das tecnologias da assistência, de
informação e da gestão em outras áreas, não é possível afirmar que os resultados assistenciais
no setor saúde sejam melhores do que eram antigamente. Existe grande heterogeneidade entre
os hospitais brasileiros, em função das diferentes regiões em que se localizam, entre outros
fatores. Poucos serviços de saúde acompanham as inovações voltadas à qualidade e segurança
do paciente ou à gestão. A legislação brasileira ainda não permite que o paciente utilize a
e-saúde diretamente, conforme se preconiza em outros países e se comprova ser custo efetiva.
Assim, continuam faltando recursos para a saúde e parte dos que estão disponíveis são mal
utilizados; experiência do paciente não faz parte das preocupações dos dirigentes. Apesar do
que afirma a teoria, o paciente não é considerado como partícipe do seu cuidado. Ainda se
presta mais atenção ao atingimento de metas, em detrimento do paciente e a sustentabilidade
(tanto financeira quanto ambiental) está longe de ser uma prioridade dos gestores.
Palavras-chave: Qualidade na assistência à saúde. Segurança do paciente. Gestão em saúde.
Eficiência organizacional.
Abstract
It is usual to hear that in the last years there has been healthcare practice and
management improvement in Brazil for two reasons: the Code of Consumer´s Defense and
a
Doutora. Professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo-Fundação Getúlio Vargas. São Paulo,
São Paulo, Brasil.
Endereço para correspondência: Avenida 9 de julho, número 2029. São Paulo, São Paulo, Brasil. CEP: 01313-902.
E-mail: ana.malik@fgv.br
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Revista Baiana the increase of access to information, due to the internet. Nevertheless, until 2016 it is still easy
de Saúde Pública
to realize that despite the improvement of technology in healthcare practice, in information
systems and in several other management areas, it is not possible to claim that healthcare
outcomes are better than they were several years ago. Heterogeneity is big among Brazilian
hospitals, especially due to regional differences. Only a few among Brazilian healthcare services
kept up with innovations related to quality and patient safety or to management. Brazilian law
still does not allow the patient to use e-health directly, as it is done in other countries where it
is proven to be cost effective. Thus, there are still scarce resources for health and part of those
available are misused; patient experience is not one of hospital manager’s top concerns. Despite
theoretical evidence, the patient is still not considered as a participant of his care, healthcare
is mainly designed to meet goals as in spite of patients needs and sustainability (financial and
environmental) is not a managerial priority.
Keywords: Quality of health care. Patient safety. Health management. Organizational efficiency.
Resumen
Se suele decir que, en los últimos años, han mejorado las prácticas de asistencia
médica y de gestión en el sector de la salud en Brasil por dos motivos: la promulgación del Código
de Defensa del Consumidor y la facilidad del acceso a la información por medio de Internet. Sin
embargo, hasta 2016 aún se constata que, independientemente del perfeccionamiento de la
tecnología de asistencia, de la información y de la gestión en otros sectores, no se puede afirmar
que los resultados en el sector de la salud sean mejores que antes. Existe grande heterogeneidad
entre los hospitales de Brasil, debido a diferencias regionales. Pocos servicios de salud crecen junto
con las innovaciones en la calidad y en la seguridad del paciente o en la gestión. La legislación
brasileña aún no permite que el paciente utilice e-salud directamente, como se promueve en
otros países y su rentabilidad está comprobada. Así, continúan faltando recursos para la sanidad
y parte de los que están disponibles se utilizan mal. A pesar de lo que apoya la teoría, el paciente
no es considerado como partícipe de su cuidado. la experiencia de los pacientes no está entre las
preocupaciones de los gerentes, los procesos de atención buscan más llegar a los objetivos que a
la satisfacción de los pacientes y la sostenibilidad (financiera y ambiental) no se ve como prioridad.
Palavras clave: Calidad de la atención de salud. Seguridad del paciente. Gestión en salud.
Eficiencia organizacional.
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Revista Baiana Também se sabe que hospitais de pequeno porte tendem, salvo exceções,
de Saúde Pública
a oferecer serviços com menos qualidade que os maiores. Afinal, já se conhece a relação
expressa na literatura entre volume de procedimentos realizados e resultados obtidos1-2. Estudos
brasileiros também já comprovaram problemas de qualidade, segurança e viabilidade financeira
em hospitais de pequeno porte – HPP3-4. (HPP são hospitais de até 50 leitos, sendo que eles
podem ser divididos em dois grupos, de 0 a 20 e de 21 a 50).
No entanto, dos pouco mais que 6000 hospitais existentes no Brasil em 2013,
cerca de 1800 tinham entre 21 e 50 leitos5. Tendo em vista que abaixo de 150 leitos os hospitais
são considerados, no mínimo, antieconômicos, causa preocupação o fato de que mais de 80%
dos hospitais brasileiros estar abaixo desse número de leitos.
A justificativa para o presente artigo é a necessidade de conhecer dados da
realidade nacional de maneira a perceber quais as possíveis oportunidades de melhoria que
existem nos nossos serviços de saúde, atualmente ainda bastante pouco eficientes e eficazes.
O objetivo do texto é - por meio de dados colhidos em pesquisas nacionais diretamente
voltadas à gestão na área da saúde, algumas delas não publicadas em periódicos, apenas
em sites e apresentadas em Congressos, realizadas após 2005 - evidenciar o que ocorre
em termos de ações voltadas a qualidade, segurança e eficiência, e de seus resultados em
hospitais brasileiros.
METODOLOGIA
Foram levantadas, de forma não sistemática, referências voltadas aos temas
propostos (qualidade, segurança e eficiência), em literatura acadêmica de divulgação recente e
em alguns sites de organizações ligadas à gestão e qualidade em saúde.
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Revista Baiana Quanto à implantação dos núcleos de segurança, pesquisa realizada no estado
de Saúde Pública
de São Paulo em 2014/2015, respondida apenas por 228 dos quase 800 hospitais (públicos e
privados) existentes, mostrou que 140 deles tinham implantado seu núcleo. A justificativa para
concentrar a investigação neste estado partiu da premissa de que aí haveria maior concentração
dessas unidades, frente aos dados de acreditação, que mostram maior adesão dos hospitais
paulistas a este modelo de avaliação externa. Mais preocupante do que não evidenciar
implantação desses núcleos, apenas 225 hospitais dos respondentes tinham comissão de
controle de infecção hospitalar (abaixo de 100%), obrigatória no país desde 1997, em função
da Lei Federal n. 6.431. Outro ponto de alerta é o fato de que a hipótese dos pesquisadores
para a identificação dos pouco mais de 30% dos respondentes é que eles devem estar entre os
que se sentem mais seguros de seu desempenho6.
Mais uma forma pela qual se pode identificar o interesse de gestores hospitalares
em relação aos temas qualidade e segurança é perguntando diretamente a eles7. Pesquisa
desenvolvida junto a CEOs de hospitais privados ligados à ANAHP (Associação Nacional de
Hospitais Privados), realizada no primeito trimestre de 2015 com 27 respondentes dos estados de
Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo mostrou que entre os desafios que
eles consideravam mais importantes estavam o desenvolvimento organizacional, a remuneração
recebida das operadoras de saúde e, em terceiro lugar, qualidade e segurança do paciente. Por
outro lado, com relação ao que de fato estava na sua agenda, os três primeiros passavam a ser a
remuneração, a solidez e os resultados financeiros e expansão e reformas de área física.
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Revista Baiana No entanto, pesquisa realizada em hospitais acreditados no estado de São Paulo, em 2013,
de Saúde Pública
mostrou que 18% dos pacientes internados sabiam pouco ou nada sobre o motivo de estarem
internados e 15% deles achava difícil encontrar médico ou enfermeiro a quem fazer perguntas
para sanar suas dúvidas, o que evidencia que se fala pouco com o chamado sujeito do cuidado.
Ressalte-se que quase dos pacientes 67% declararam ter sido mais fácil localizar enfermeiro que
médico, conforme esperado, embora fosse o médico o profissional que mais frequentemente
discutia com eles opções de tratamento. 48% dos pacientes afirmaram sempre controlar os
medicamentos que recebiam para saber se eram os corretos, mas mais de 23% disse nunca ter
verificado a adequação da medicação14. Ou seja, se é importante a participação do paciente15
seria desejável que esta informação fosse partilhada com ele e com a equipe de saúde. Mais
uma vez, fala-se de hospitais acreditados, que autorizaram o contato com pacientes, ou seja,
seria de se esperar que suas práticas estivessem entre as melhores do setor.
Problemas de comunicação são uma realidade organizacional conhecida. No
caso de pacientes, isso se reveste de mais importância. Por exemplo, pesquisa em que foram
estudadas causas de cancelamento de cirurgias em hospital, um problema que constantemente
incomoda quem discute sobre eficiência e que ocorre em qualquer tipo de serviço de saúde,
mostrou achados que para alguns parecem inesperados16. Embora, pelo que se discute
considerando o senso comum, muitos estejam sempre prontos a colocar a culpa deste tipo de
problema em médicos (sejam eles cirurgiões ou anestesistas), 46% das causas de cancelamento
de cirurgias eletivas prendiam-se aos pacientes: ou eles não compareceram ou não tinham
condições cirúrgicas. O não comparecimento dos pacientes (que ocorreu em quase 32% dos
casos) é paradoxal como achado, porque o fato de os pacientes não estarem presentes no
dia do procedimento deve-se alegadamente à busca da eficiência (evitando que leitos sejam
ocupados desnecessariamente, enquanto se aguarda a realização da cirurgia). Às vezes, de
fato, eles esquecem, não têm como chegar, ou até mudam de ideia quanto à realização da
intervenção. Problemas relacionados aos médicos, classificados em gestão de operações entre
as causas relacionadas a recursos humanos, não chegavam a 4%.
Extensa revisão de literatura realizada sobre planejamento e agendamento de
centro cirúrgico17 mostra que o problema é universal. Interessante notar que, em geral, os
instrumentos que os profissionais da área de saúde (mesmo aqueles ligados à gestão) e os da área
de gestão (mesmo trabalhando em serviços de saúde) utilizam são diferentes. Até recentemente
pode-se afirmar que na saúde os instrumentos de gestão de operações e logística, de fato, eram
relativamente pouco usados (embora talvez conhecidos em ambientes específicos)18.
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Revista Baiana saúde fazem parte das ações que necessitam ser iniciadas de maneira a melhorar os resultados
de Saúde Pública
da saúde e da assistência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Independente do que esteja por trás da gestão dos serviços de saúde, faz cada
vez mais parte do vocabulário da área o conceito de valor. Este relaciona-se não apenas com
os processos de assistência, gestão (e consequentemente com qualidade e segurança) e com
os sempre comentados custos crescentes, mas traz consigo a noção de resultados obtidos com
os recursos despendidos. A definição de resultados, no entanto, no século XXI, deixa de ser
simples, linear ou dependente de apenas um avaliador. Não se está mais falando, simplesmente,
em conceitos técnicos ou econômico financeiros. Levar em conta as necessidades, desejos e
preferências dos cidadãos, saudáveis e doentes, pacientes, familiares ou empregadores passa a
ser uma necessidade.
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