O documento discute a importância da avaliação da qualidade nos serviços de saúde, especialmente a acreditação de laboratórios clínicos. A qualidade nos serviços de saúde é essencial devido aos recursos limitados e à necessidade de prevenção de erros, e modelos de avaliação como a acreditação têm sido adotados em diferentes países.
O documento discute a importância da avaliação da qualidade nos serviços de saúde, especialmente a acreditação de laboratórios clínicos. A qualidade nos serviços de saúde é essencial devido aos recursos limitados e à necessidade de prevenção de erros, e modelos de avaliação como a acreditação têm sido adotados em diferentes países.
O documento discute a importância da avaliação da qualidade nos serviços de saúde, especialmente a acreditação de laboratórios clínicos. A qualidade nos serviços de saúde é essencial devido aos recursos limitados e à necessidade de prevenção de erros, e modelos de avaliação como a acreditação têm sido adotados em diferentes países.
O documento discute a importância da avaliação da qualidade nos serviços de saúde, especialmente a acreditação de laboratórios clínicos. A qualidade nos serviços de saúde é essencial devido aos recursos limitados e à necessidade de prevenção de erros, e modelos de avaliação como a acreditação têm sido adotados em diferentes países.
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Acreditao de Laboratrios Clnicos
Dr. Wilson Shcolnik *
Resumo - Com base no atual cenrio de escassos recursos destinados para a rea da sade e, considerando a necessidade de preveno e minimizao da ocorrncia de erros, so apresentados diferentes modelos de avaliao da Qualidade da prestao de servios de sade, especialmente a Acreditao de Laboratrios Clnicos, com experincias de alguns pases e tendncias atuais.
Abstract - The limited resources available in the health care area require efforts to minimize errors, such as quality management programs. Several models of quality evaluation will be presented, particularly clinical laboratory accreditation programs, including the experiences of a few countries and future trends.
INTRODUO
No ambiente atual, apesar de os recursos destinados a servios de sade serem limitados, todos os que recebem ou fornecem estes servios presumem que os mesmos sejam de alta qualidade. Entretanto, para deleite de alguns e consternao de outros, h inmeras citaes divulgadas na mdia que permitem questionar a verdadeira qualidade dos servios de sade hoje oferecidos (6,34).
Os casos relatados em jornais e televises sobre prejuzos catastrficos ocorridos nas mos de mdicos enfocam o problema do erro mdico, mas no oferecem uma boa viso sobre sua natureza ou magnitude. Embora pesquisadores publiquem regularmente estudos sobre erros mdicos, informaes epidemiologicamente adequadas limitam-se a poucas instituies, procedimentos e especialidades. Por estas razes, a prevalncia e a magnitude do erro mdico ainda so desconhecidas. No se conhecem estudos que apontem que a assistncia mdica possa ser fornecida sem erro. No h situao livre de risco e nenhuma especialidade est imune, deixando os pacientes em risco, independente de sua idade, sexo ou condio de sade (48).
Mas, estranhamente, alguns consideram que no h lugar para erros na medicina moderna. Embora sempre seja dito que os mdicos so apenas humanos, as maravilhas tecnolgicas tm realmente criado uma expectativa de perfeio. Mas, no se pode esquecer que, inevitavelmente, introduziro consigo novas formas de erros (28,49).
* Mdico, Patologista Clnico, Presidente da Comisso de Acreditao de Lab. Cln. da Soc. Bras. de Patologia Clnica (S.B.P.C.) e Diretor Mdico do Lab JS, Mdico do Hospital Naval Marclio Dias - palc@sbpc.org.br
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Recentemente, no Brasil, os questionamentos chegaram rea de laboratrios clnicos (24), com conseqncias desastrosas para a imagem e credibilidade do setor, embora os mtodos utilizados para estas avaliaes tenham sido imprprios e questionveis.
O debate sobre erro mdico e a segurana dos pacientes se acendeu em nvel internacional, com a publicao, em 1999, de um relatrio do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Medicina, nos Estados Unidos da Amrica, intitulado To Err is Human (Errar Humano). Ele estima que entre 44.000 e 98.000 mortes por ano nos Estados Unidos da Amrica, sejam conseqncia de erros mdicos. Em conseqncia disso, est sendo enviada ao Congresso Americano proposta presidencial para criao de um Centro para Melhoria da Qualidade e Segurana do Paciente, como parte do Departamento de Sade e j h legislao que obriga a comunicao de erros ou ocorrncia de eventos adversos" (7,11). O relatrio clama por mais tentativas para prevenir danos causados pela assistncia mdica.
Entretanto, as solues como, por exemplo, sistemas de informtica destinados a esta preveno, so caras para se construir e manter, e as seguradoras, assim como outros compradores de servios, no parecem estar dispostos a pagar pela despesa extra, tornando difcil conseguirem-se recursos suficientes para inovaes em segurana, mesmo que uma anlise dos investimentos demonstre que h retorno a longo prazo. Prevenir eventos danosos requer criatividade, comprometimento e recursos financeiros (4).
Considera-se que, atualmente, as lideranas mdicas e as organizaes de assistncia mdica no tm includo entre suas prioridades a reduo dos erros. Mas h urgncia que tais anlises sobre a relao entre os erros e resultados adversos sejam realizadas e utilizadas, de modo a permitir que as estruturas organizacionais sejam redesenhadas, minimizando o impacto do fator humano na assistncia sade. Na verdade, nenhuma indstria de risco adquiriu segurana sem uma presso externa substancial (36,28). Na rea da sade, tradicionalmente, muitos dados so produzidos, mas pouca informao gerada, pois os dados no so analisados nem utilizados para se obter a melhoria dos processos (34).
Observa-se que a comunidade em geral espera que os procedimentos utilizados para cuidar de seus problemas de sade sejam modernos, eficazes e que sejam executados por indivduos qualificados. Assim, o pblico pode receber garantias optando pela utilizao de servios de sade Acreditados ou Certificados. Como as exigncias de consumidores e compradores de servios est aumentando, a demanda por padronizao e comparabilidade entre organizaes e servios oferecidos comunidade est se tornando assunto inadivel, tambm na rea da sade (29,43).
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A prtica da medicina laboratorial (anlises clnicas) deve ser vista neste contexto de mudanas. O gerente de um laboratrio, quer seja um patologista, hematologista, microbiologista, bioqumico etc, necessita adquirir conhecimentos que proporcionem um trabalho de alta qualidade, que maximize a eficincia e eficcia neste mundo de novas demandas (46).
Avaliao da Qualidade em Sade
Sintetizando os conceitos de reconhecidos especialistas, podemos definir os diferentes estgios hierrquicos da Qualidade, a partir do mais elementar ao mais abrangente, como se segue :
Controle da Qualidade (tcnicas operacionais que preenchem os requisitos da Qualidade e a legislao vigente); Garantia da Qualidade (atividades planejadas e sistemticas que fornecem confiana de que uma organizao preenche os requisitos da Qualidade); Sistema da Qualidade (esforos amplos e coordenados para se alcanar os objetivos da Qualidade); Gerenciamento pela Qualidade (inclui os estgios anteriores como tambm os aspectos econmicos); Gerenciamento pela Qualidade Total (filosofia de gerenciamento focada na Qualidade e na obteno do sucesso a longo prazo, baseada na satisfao do cliente).
Na maior parte do mundo os servios de sade operam nos estgios bsicos de Qualidade: o Controle e a Garantia da Qualidade. Porm, j se faz necessria a evoluo de suas atividades no sentido de um sistema integrado, que oferea a oportunidade de prestao de servios consistentes, de alta qualidade e com custos eficazes (33).
Na ltima dcada, o movimento pela Qualidade introduzido nos setores industrial e de servios, expandiu-se para o setor de sade (42). Tradicionalmente, a Qualidade na assistncia mdica tem sido considerada uma responsabilidade exclusiva dos profissionais de sade. Pela primeira vez, no entanto, alguns governos aceitaram que a garantia da Qualidade em sistemas de servios de sade deveria ser tambm sua responsabilidade. Eles imaginam que tenham que atuar, amenizando conflitos entre consumidores, compradores e prestadores de servios. A maioria dos gestores e formuladores de polticas na rea da sade vem agora como imperativa a avaliao e o controle da Qualidade, bem como as atividades de melhoria de desempenho. De qualquer forma, j tempo de o gerenciamento na rea de sade estar ativamente envolvido com a Qualidade, de modo que as organizaes permaneam competitivas e tenham sucesso no futuro (34,42,43,45).
A presso pelo maior envolvimento governamental na qualidade dos servios de sade oferecidos tem sido crescente. Um exemplo disto uma das metas descritas em 1984 por um comit regional da Organizao Mundial da Sade, que previa para 1990 a adoo de
mecanismos efetivos que pudessem assegurar a qualidade dos cuidados oferecidos aos pacientes. Esta meta j recomendava o estabelecimento de mtodos e procedimentos para monitoramento sistemtico da 4
Qualidade dos cuidados aos pacientes, tornando as auditorias e a regulamentao componentes permanentes das atividades dos profissionais da sade, e fornecendo ao pessoal envolvido treinamento em garantia da Qualidade. Vrios pases, entre eles Holanda, Sua, Espanha, Itlia, responderam elaborando uma legislao que traduz esta responsabilidade, exigindo que seja demonstrado que a Qualidade est sendo buscada e, efetivamente conseguida (45). Em diversos locais e, particularmente, onde o managed care j se implantou, h preocupaes com o custo/benefcio dos exames, descentralizao do diagnstico e tratamento, fuses, e gerncia por resultados (46).
Em dezembro de 1999 a Associao Mundial de Sociedades de Patologia e Medicina Laboratorial (World Association of Societies of Pathology and Laboratory Medicine) e a Federao Internacional de Qumica Clnica (Internacional Federation of Clinical Chemistry) divulgaram documento sobre Princpios da Acreditao para Laboratrios Clnicos, onde consta que do interesse dos pacientes, da Sociedade e do Governo que os laboratrios clnicos operem dentro de altos padres de competncia profissional e tcnica pelas seguintes razes:
- as decises quanto ao diagnstico, prognstico e teraputica so, freqentemente, baseados nos resultados ou na interpretao de exames laboratoriais, e, portanto, danos irreversveis podem ser causados por resultados errneos; - Os usurios de servios de laboratrios, tanto pacientes quanto mdicos, podem no possuir conhecimentos tcnicos suficientes para avaliar se um laboratrio est operando em um nvel satisfatrio de qualidade; - Os pacientes e, em menor grau, os mdicos, podem no ter opo quanto a que laboratrio utilizar; - Os exames de laboratrio podem ser dispendiosos e os pacientes, as seguradoras, ou o governo, que pagam os exames, tm o direito de esperar que o laboratrio fornea informaes vlidas; - do interesse dos laboratrios que sua competncia seja atestada por processo de auditoria, por comparao com padres apropriados e que isto se torne pblico (18).
No Brasil, em Janeiro de 2000, com a aprovao da lei nmero 9.961, foi criada a Agncia Nacional de Sade Suplementar, uma autarquia vinculada ao Ministrio da Sade, com o objetivo Promover a defesa do interesse pblico na assistncia suplementar sade, regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto s suas relaes com prestadores e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das aes de sade no Pas. Segundo o artigo 4 o desta lei, compete A.N.S., entre outras, estabelecer (30):
Parmetros e indicadores da Qualidade e de cobertura em assistncia sade para os servios prprios e de terceiros; estabelecer critrios de aferio e Controle de Qualidade dos servios oferecidos pelas operadoras dos planos de sade, sejam eles prprios, referenciados ou conveniados; exercer o controle e a avaliao dos aspectos concernentes garantia do acesso, manuteno e 5
qualidade dos servios prestados, direta ou indiretamente pelas operadoras; zelar pela qualidade dos servios de assistncia sade no mbito da assistncia sade suplementar.
Alm disso, existe uma expectativa crescente de que a comunidade deva ter acesso a informaes sobre a qualidade dos servios, para ajud-los na escolha de quem ir prestar-lhes atendimento (42). Em alguns pases, h mais de uma dcada, j h publicao de dados sobre performance de hospitais, profissionais de sade e organizaes que prestam servios de assistncia mdica. Nos Estados Unidos da Amrica do Norte e Canad, a legislao obriga a liberdade de informao, o que significa que os dados sobre acreditao devem se tornar pblicos . Esta divulgao deveria servir para promover uma eficiente economia de mercado na rea da sade. Mas, paradoxalmente, recente publicao revela que a utilizao dos dados sobre performance no tem sido freqente no momento da escolha do servio mdico, por serem de difcil compreenso ou por no serem confiveis. Assim, eles tm um impacto limitado, na deciso sobre qual servio usar, e, na prtica, serve para melhoria contnua da Qualidade nas prprias organizaes de sade (45).
Avaliao da Qualidade em Laboratrios Clnicos
J h muitos anos tem-se dado grande nfase Qualidade dos processos dos laboratrios clnicos, sendo comum, na maioria dos laboratrios, a existncia de uma poltica e de procedimentos relacionados ao monitoramento do componente analtico de suas operaes (29). Os laboratrios clnicos confiavam que bastavam o controle interno da qualidade, (onde amostras conhecidas eram analisadas juntamente com amostras desconhecidas de pacientes, e os resultados comparados a valores alvo ou com a distribuio de resultados), e o controle externo da qualidade (tambm conhecido como testes ou ensaios de proficincia, no qual amostras desconhecidas so enviadas ao laboratrio e analisadas da mesma forma que as amostras dos pacientes, e os resultados reportados aos organizadores, que realizam a comparao interlaboratorial), para monitorar e avaliar a sua performance. Mas, gradualmente, tornou-se ntido que os dois controles mencionados no eram suficientes para que se adquirisse, assegurasse e desenvolvesse a qualidade em um laboratrio clnico (25).
Qualidade tem sido definida como conjunto de caractersticas de uma entidade, que se relacionam com sua habilidade em satisfazer necessidades implcitas ou estabelecidas. Embora esta definio atenda a necessidades estabelecidas, ela tambm inclui as necessidades implcitas, que devem ser mais difceis de definir com padres e normas. Outras definies de Qualidade como adequao ao uso, adequao ao propsito, satisfao do cliente ou conformidade com os requisitos, podem descrever melhor o que requerido do laboratrio clnico, do que a definio geral de Qualidade.
No caso dos laboratrios clnicos, a misso fornecer ao cliente informaes clinicamente efetivas de maneira eficaz, sob o ponto de vista custo-benefcio. O 6
propsito destas informaes reduzir a incerteza das decises relacionadas doena (diagnstico, prognstico ou monitoramento) ou sade. Estas informaes geralmente so obtidas atravs de exame de amostras, lquidos ou tecidos biolgicos. O Laboratrio Clnico deve satisfazer, ento, s necessidades e expectativas de 3 partes: seu proprietrio, seus clientes (pacientes, mdicos) e seu pessoal. O proprietrio deve ressaltar o custo-benefcio da utilizao dos recursos e efetiva cooperao com outras partes, como o hospital e os compradores de servios. Outras necessidades podem ser definidas por organizaes profissionais, comunidade, governo, seguradoras, entidades de ensino, pesquisa, etc.
O conceito de Gerenciamento pela Qualidade Total, muito ouvido atualmente, um tanto vago. Geralmente seu objetivo enunciado como Excelncia nos negcios. Quando este termo aplicado a laboratrios clnicos, ele necessita de algumas adaptaes. Assim, um projeto foi iniciado por um grupo ligado Confederao Europia de Medicina Laboratorial (European Confederation of Laboratory Medicine), que desenvolveu um modelo para Gerenciamento da Qualidade Total baseado numa publicao da Fundao Europia para Gerenciamento da Qualidade (European Foundation for Quality Management). Foi proposto que o termo excelncia nos negcios fosse substitudo por Bons Servios para Laboratrios Mdicos (Good Medical Laboratory Services), por se relacionar melhor s exigncias de um laboratrio mdico (12).
O monitoramento da qualidade em laboratrios clnicos difcil de implementar . As opes disponveis so poucas. A escolha freqentemente recai sobre sistemas de acreditao baseados na norma ISO 9000, sistemas de auto- avaliao ou em abordagens baseadas em resultados (29).
Os Programas de Acreditao para Laboratrios Clnicos constituram-se numa resposta a persistentes alegaes e vrias evidncias de ms prticas, inexistncia de padres e fraudes. A avaliao de proficincia foi, durante muito tempo, o nico meio de avaliar a performance, mas atualmente, o conhecimento sobre a organizao e gerncia se tornaram tambm uma exigncia para a boa prtica laboratorial. Outro fator determinante foi a mudana dos tradicionais mtodos empregados em laboratrios, por novos mtodos industriais, que atendem s novas foras do mercado e que esto levando criao de controles por novas legislaes especficas. Isto tornou o laboratrio um grande negcio, que vem atraindo profissionais motivados mais pelo lucro, e no comprometidos com a qualidade do servio a ser prestado. Em tais circunstncias, o controle e a garantia da Qualidade podem ser vistos como um desperdcio desnecessrio, levando a atividade a um limite perigoso. Um nmero crescente de sistemas de sade est exigindo que laboratrios atendam a padres de acreditao e, em vrios pases, atravs de diferentes caminhos, alguns envolvendo a participao de Sociedades profissionais, esto implantando estes Programas, que basicamente consistem em: uma entidade acreditadora, requisitos ou padres a serem atendidos pelos laboratrios, e avaliadores designados pela entidade acreditadora (26). 7
Na Unio Europia atualmente coexistem vrios sistemas de acreditao, baseados em cumprimento de requisitos pr-estabelecidos. H normas de licenciamento, uma forma de reconhecimento legal pela administrao ou autoridade local, que estabelece os requisitos mnimos para o funcionamento de laboratrios, e que devem ser obrigatoriamente cumpridos. Estas normas no so semelhantes s da acreditao, podendo, em alguns casos apenas, incluir elementos prprios de um sistema da Qualidade, tais como elaborao de procedimentos analticos, registros de manuteno, treinamento de recursos humanos. Em outros casos, como na Frana, as normas para licenciamento descritas em 1976 foram sendo ampliadas por sucessivos decretos, de modo a se constiturem em autntico sistema da Qualidade e um guia para acreditao denominado Guide de Bonne Excution des Analyses de Biologie Medicale (G.B.E.A.), o qual incorporou conceitos da ISO 9000 e da EN 45001. A estes casos refere-se como acreditao governamental (37).
Em outros pases funcionam sistemas de acreditao de mbito local, baseados em guias ou recomendaes de Sociedades Cientficas locais, elaboradas com ou sem colaborao das autoridades, que reconhecem legalmente a acreditao conseguida por este sistema. o caso da Holanda, onde a CCKL Comit Coordenador para Promoo do Controle da Qualidade de Inspeo e Ensaio do Setor Sanitrio desenvolveu em 1991 um guia para acreditao, que foi complementado posteriormente com o Manual da Qualidade elaborado pela NVCK Unio Holandesa de Qumica Clnica). Esta acreditao voluntria na Holanda, exceto para laboratrios de instituies hospitalares. No Reino Unido a prtica est to implantada, que no se admitem laboratrios pblicos ou privados sem acreditao, ainda que esta seja, a princpio, um processo voluntrio e que no haja legislao nacional que regulamente os laboratrios clnicos (a acreditao obrigatria para laboratrios que realizam rastreamento de cncer de colo de tero.
Apesar desta aparente disperso, h interesse coletivo de se desenvolver um sistema de acreditao harmonizado entre todos os pases da Unio Europia e associados Associao Europia de Livre Comrcio. Isto permitir a utilizao de uma norma internacionalmente reconhecida. Como todos os sistemas deste tipo, a implantao da acreditao voluntria, tendo carter obrigatrio apenas os requisitos contemplados na legislao local (37).
Com base nas necessidades e expectativas que recaem sobre o laboratrio clnico, foi descrito pela Confederao Europia de Medicina Laboratorial (European Confederation of Laboratory Medicine - ECLM) um modelo que preenche os conceitos de Gerncia pela Qualidade Total, que o conceito de gerenciamento conhecido mais abrangente e corrente. Este modelo levou em considerao os trs nveis de Qualidade identificados por Donabedian: 1) Qualidade de estrutura disponibilidade e organizao de recursos humanos, fsicos e financeiros necessrios para a prestao do servio (espao, pessoal, 8
equipamento, material de consumo, etc.) ; 2) Qualidade dos processos todas as atividades necessrias prestao dos servios (aspectos pr-analticos, analticos, incluindo avaliao pelos controles interno e externo da qualidade, liberao do laudo, interpretao e consultoria) e 3) Qualidade do resultado que conseqncia ou interferncia o resultado do exame pode ter sobre o status de sade atual ou futuro do paciente. No contexto da performance do laboratrio, estes resultados tambm dependem da escolha dos exames (quantidade ou exames que incluem imagens e testes funcionais), estratgia de monitoramento e diagnstico (sensibilidade e especificidade do diagnstico), oportunidade e clareza do laudo. Estes aspectos tambm se somam e interferem nos resultados, ao lado de diagnstico, tratamento e prognstico. Embora no conceito de Donabedian a Qualidade do gerenciamento possa ser uma parte da Qualidade da estrutura, outras autoridades identificam a Qualidade do gerenciamento como um nvel adicional da Qualidade. As atividades de alto nvel gerencial podem ser agrupadas em 3 categorias que se inter-relacionam e muitas vezes se sobrepem: 1) Atividades Normativas, que definem a viso, misso, estabelecem os objetivos e as polticas que determinam o conceito e a cultura do negcio do laboratrio. 2) Atividades Estratgicas, que se referem Qualidade dos elementos da estrutura, promovendo os objetivos e definindo a organizao formal: - Gerncia de Recursos Humanos (motivao, desenvolvimento / capacitao, estabelecimento de linhas de comunicao, descrio de cargos, definio de responsabilidades) - Sistema de Gerenciamento da Qualidade e estratgias de melhoria contnua: estratgia de preveno de erros, com ciclos de PDCA (de Deming), auditorias internas e externas, benchmarking, relaes pblicas, etc. - Gerenciamento de Recursos: clculo dos custos e faturamento, oramentos e fluxo de caixa, decises sobre investimentos de curto e longo prazo e avaliao das conseqncias da concorrncia e terceirizaes.
3) Atividades Operacionais : - Otimizao de todos os processos - Definio do escopo de exames e estratgias - Consultas a mdicos sobre a utilizao tima do laboratrio, incluindo coleta e transporte de amostras - Descentralizao, realizao de exames beira do leito - Aspectos econmicos, - Aspectos ecolgicos - Controle de Infeco (vigilncia no laboratrio/hospital)
Todos os aspectos mencionados podem ser introduzidos num modelo de Qualidade similar ao publicado pela Fundao Europia para o Gerenciamento da Qualidade (EFQM) que inclui: 1. Os 4 nveis de Qualidade: gerenciamento do laboratrio, estrutura, processos e resultados 2. Os 3 grupos de gerenciamento de atividades: normativo, estratgico e processos operacionais 9
3. As 3 fases tradicionais do laboratrio clnico: pr-analtica, analtica e ps- analtica. 4. Regulamentos e recomendaes da comunidade e do governo, Sociedades Cientficas. A maioria dos padres de gerncia da Qualidade focam primariamente na qualidade dos servios laboratoriais, com restries a respeito dos resultados. A interpretao dos resultados, que em alguns casos pode ser considerada parte essencial do laudo, e a consultoria no so suficientemente abordados nos documentos existentes. Em termos econmicos, a eficcia (relao entre o realmente pretendido e o conseguido) e a eficincia (performance relacionada s despesas) devem ser levados em considerao (12).
J h alguns anos, preocupado com a transformao do cenrio na rea da sade, o NCCLS (National Commitee for Clinical Laboratory Standards) vem editando uma srie de documentos dirigidos a gerentes que desejem alcanar a melhoria de servios atravs de atividades de gerenciamento pela Qualidade.
O NCCLS uma organizao internacional, interdisciplinar, sem fins lucrativos, que visa a contribuir com a comunidade de sade, pela educao e desenvolvimento de padres e diretrizes. Baseia-se no princpio de que o consenso um meio efetivo de se obter a melhoria na Qualidade dos servios oferecidos e, portanto, considera os comentrios dos usurios como essenciais para alcanar este objetivo.
Enquanto trs documentos desta srie se aplicam a laboratrios clnicos com exemplos especficos, dois outros so aplicveis maioria dos servios de sade. O documento GP 26-A A Quality System Model for Health Care (Um modelo de Sistema da Qualidade para Assistncia Sade), proposto em julho de 1998 e aprovado em outubro de 1999, apesar de ter origem na comunidade hemoterpica, auxilia qualquer organizao da rea da sade, descrevendo e analisando o fluxo de trabalho e processos, de acordo com os elementos essenciais de cada etapa. Prope um sistema da Qualidade construdo com base no controle da Qualidade e na garantia da Qualidade, de acordo com os conceitos descritos na srie ISO 9000, porm utilizando-se de terminologia e conceitos familiares rea da sade.
O documento GP 22-A Continuous Quality Improvement: Essencial Management Approaches (Melhoria Contnua da Qualidade: Mtodos Essenciais de Gerenciamento), aprovado em agosto de 1999, descreve o gerenciamento do sistema da Qualidade com base no foco de melhoria contnua e avaliao da satisfao dos clientes. Ressalta a importncia da combinao sinrgica entre a formao de equipe, planejamento estratgico e monitoramento da Qualidade. O laboratrio clnico utilizado como modelo operacional, mas os conceitos so aplicveis a outros servios de sade.
O documento C 24-A2 Statistical Quality Control for Quantitative Measurements (Controle Estatstico da Qualidade) aprovado em fevereiro de 1999, fornece 10
fundamentos bsicos sobre estatstica para o nvel mais bsico do gerenciamento da Qualidade, ou seja, o Controle da Qualidade. H procedimentos relativos variao nos processos de realizao de exames, com foco nos processos que podem ser controlados pelo laboratrio.
Outra ferramenta de fundamental importncia no gerenciamento da Qualidade, o controle externo da Qualidade, abordado no documento GP 27-A Using Proficiency Testing to Improve the Clinical Laboratory (Utilizando os Testes de Proficincia para Melhoria do Laboratrio Clnico), onde se descreve uma metodologia para identificar e corrigir variaes significativas encontradas neste tipo de controle (33).
Nos Estados Unidos da Amrica do Norte, o modelo inicial para avaliao externa da Qualidade foi criado por mdicos, em 1917. O Programa de Padronizao Hospitalar do Colgio Americano de Cirurgies foi o precursor, tanto de Programas de outras instituies, como tambm das legislaes federal e estadual que vigoram para todos os tipos de organizaes prestadoras de servios de sade. Para evitar que modelos paralelos de avaliao se sobreponham, ou sejam potencialmente duplicativos, os rgos reguladores governamentais reconhecem as entidades acreditadoras que adotam os mesmos critrios de performance. O processo de acreditao enunciado em bases de melhoria contnua da Qualidade, significa atividade que visa reduo do risco, pois enfoca importantes funes organizacionais e estimula as organizaes a atenderem a estes padres. O pressuposto que se as organizaes estiverem cumprindo os requisitos, haver menor possibilidade de ocorrncia de erros e de resultados adversos. O aspecto fundamental da acreditao que haja critrios e regras que facilitem aos laboratrios fazerem certo da primeira vez, e que estes critrios cubram o essencial do trabalho de um laboratrio. H dados que revelam que esta tese quase sempre correta (25,36,44,47).
Com o objetivo de assegurar que os processos sejam planejados, implementados e executados de forma consistente, os padres de acreditao tm includo nos ltimos anos tpicos como liderana, planejamento estratgico; gerncia de recursos humanos; informao e anlise; ambiente; foco no paciente, outros clientes e mercado; resultados e melhoria contnua da performance organizacional. Estes tpicos relacionados organizao, visam a enfocar reas de gerenciamento enfatizados por nveis mais avanados de Qualidade, visando obteno da excelncia organizacional (44).
Sabe-se que a melhoria contnua que ocorre na qualidade dos servios ao longo do processo de acreditao, no implica na eliminao total dos erros. Assim, mesmo em pases do 1 o Mundo, como os Estados Unidos da Amrica do Norte, onde existe programa de acreditao para laboratrios desde 1962, e onde geralmente os recursos tcnicos so maiores, ainda se observam algumas deficincias nos laboratrios inspecionados. No perodo de outubro de 1997 a maro de 1998, verificou-se que as deficincias mais freqentes eram a falta de reviso de documentos pelo diretor do laboratrio ou pessoa por ele designada 11
(5,6 %), a falta de evidncias sobre verificao do funcionamento dos instrumentos (5,0 %), a falta de reviso dos registros de temperatura por parte do diretor do laboratrio (4,9 %), a falta de etiquetas ou etiquetas incompletas em reagentes e solues (3,1 %), etc. (15).
medida que o programa de acreditao conduz as suas avaliaes e armazena informaes, surge uma base de dados que pode fornecer indicadores teis para apontar reas nas quais as instituies esto alcanando os padres esperados, bem como reas problemticas ou outras que podem indicar oportunidades de melhorias. Tais informaes podem ser teis tanto para identificar prioridades de recursos, como para necessidades de educao e treinamento ou assessoria tcnica. Alm disto, as instituies tm a oportunidade de comparar seus indicadores de resultados com os de instituies semelhantes, constituindo-se num incentivo melhoria do desempenho (42).
O intervalo de tempo entre as auditorias tambm tem sido matria complicada para os sistemas de acreditao. Intervalos muito longos podem permitir mudana dos padres, e necessrio verificar a adequao por parte da entidade prestadora do servio. Intervalos muito curtos levam entidade prestadora de servio um stress permanente. A dificuldade determinar o tempo adequado, em funo das modificaes e redefinies do que sejam consideradas boas prticas e dos padres da resultantes (45). Em 1973 o perodo de validade da acreditao no Programa do Colgio Americano de Patologistas foi reduzido de 3 para 2 anos, havendo, entretanto, uma auditoria interna no ano intercalado (10,14). Com base em estudos realizados pelo Center of Diseases Control (CDC), em 1981 concluiu-se que no havia diferenas significativas entre a realizao de auditorias anualmente ou bianualmente. Assim, em 1982, tanto o CDC, como o Health Care Financing Administration (HCFA), o rgo governamental que regula as atividades de laboratrios nos Estados Unidos da Amrica do Norte, passaram a aceitar auditorias bianuais (10).
Quem deve estabelecer os padres tambm discutvel. Organizaes independentes, geralmente criam seus prprios padres, utilizando-se de diferentes mtodos, chegando a um consenso sobre os mesmos. O Council Canadian, por exemplo, utiliza-se de consultores e oferece s organizaes participantes a oportunidade de comentarem a utilidade e aplicabilidade dos padres propostos. A Joint Comission, nos Estados Unidos da Amrica do Norte, tem comits estruturados e testa seus padres atravs de amostragem, para assegurar sua eficcia. Entretanto, os padres devem refletir o pensamento atual entre os profissionais, e h casos em que isto pode divergir da poltica do governo. O programa do College of American Pathologysts (CAP) freqentemente revisado e modificado, com a finalidade de se manter atualizado com as tecnologias e procedimentos que permitem ao laboratrio levar a cabo sua misso (29, 45).
Temos assistido a modificaes em vrios sistemas de acreditao, que no pretendem ser unicamente verificadores da conformidade com padres. Estas modificaes apontam para abordagens dirigidas Melhoria Contnua da 12
Qualidade. Esta se baseia em modelos industriais que se consolidaram como uma abordagem de gerenciamento global da qualidade, e que envolvem a todos os membros da organizao e se preocupa com todos os processos, estimulando a automotivao e ciclos de melhoria. Atualmente, a equipe do laboratrio se preocupa em assegurar que as informaes geradas no sejam comprometidas por fatores externos, como a coleta da amostra, seu transporte, procedimentos mal executados ou registrados, etc. Dentro do conceito da Melhoria Contnua da Qualidade, est a reviso sistemtica da poltica e dos procedimentos da qualidade, a correo de problemas, na medida em que so detectados, o estudo de medidas preventivas e o desenvolvimento de estudos que comprovem que os resultados dos exames emitidos atendem s necessidades da prtica clnica. A Gerncia pela Qualidade Total envolve todas estas atividades e pode ser demonstrada por poltica, procedimentos e atividades que integram todas as operaes internas e externas do laboratrio, de modo a assegurar a satisfao de clientes e mdicos (3, 29,45).
Em 1990, a American Association of Blood Banking, cujas prticas se assemelham s da Indstria, reconheceu a necessidade de reavaliar seu Programa de Acreditao, acrescentando parmetros do Sistema da Qualidade. Na prtica, as auditorias em laboratrios de pequeno porte, como servios de transfuso, utilizam apenas 1 auditor treinado tanto em Sistemas de Qualidade, como em tcnicas especficas (8).
Quanto aos laboratrios clnicos, em geral sempre se aceitou que este deveria optar por um sistema de acreditao, j que, obviamente, a competncia tcnica importante e deve-se garantir a qualidade analtica. Entretanto, diante da falta de uma norma que seja aceita por todos, at h pouco se aplicaram diferentes critrios em diferentes pases da Europa (37).
Em 1995, durante seu 2 o Simpsio de Acreditao, a Sociedade Internacional para a Garantia da Qualidade ISQuA (Internacional Society for Quality Assurance) reconheceu o perigo potencial da existncia de vrios sistemas de acreditao diferentes, s vezes num mesmo pas. Alertou para a necessidade de uma iniciativa coletiva, no sentido de se obter convergncia internacional das diferentes abordagens, para que fosse possvel estabelecer padres comparveis na rea de sade, embora reconhecesse que padres nacionais especficos sempre so necessrios. As atividades da ISQuA relacionadas acreditao so conhecidas como ALPHA PROGRAM (Agenda for Leadership in Programs for Health Care Accreditation). Com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento de organizaes acreditadoras em diferentes pases, tem sido sugerida a substituio de termos acreditao e certificao por avaliao por pares (43).
Vrios modelos existentes visando excelncia, tm sido considerados como referncia para sistemas de sade em alguns pases da Europa. Na tentativa de combinar certificao, acreditao e auto-avaliao de organizaes de sade, est surgindo um modelo convergente de 2 fases, proposto por diferentes grupos de trabalho na Holanda, Espanha e Reino Unido. Neste, a 1 a fase combina 13
padres de acreditao que contm critrios especficos para a rea da sade, e requisitos da ISO 9002, como um sistema de garantia da Qualidade para a organizao e seus componentes. A 2 a fase requer que a qualidade adquirida pela organizao de sade progrida atravs de melhoria contnua, tornando-se uma organizao que aprende e evolui com suas prprias auto-avaliaes, aliado a um benchmarking nos modelos de excelncia existentes. Esta abordagem poder amenizar os conflitos sobre os diferentes nveis e tipos de requisitos da Qualidade estabelecidos entre associaes profissionais, governo, prestadores de servios e clientes de sistemas de sade (43) .
No Canad e Estados Unidos da Amrica do Norte, onde os sistemas de acreditao se desenvolveram sob a gide de associaes profissionais, os governos aceitaram a existncia deste processo de acreditao, preferindo manter relacionamentos estreitos com as entidades acreditadoras. Entretanto, nos Estados Unidos, o processo de acreditao de servios de sade gerenciados por entidades privadas, aceito diante do cumprimento das exigncias da legislao (45). A regulamentao para laboratrios clnicos foi modificada em 1988, atravs da publicao do documento Clinical Laboratory Improvement Amendments (CLIA -1988) - que considera a complexidade dos exames a serem realizados, sendo que certificados de acreditao emitidos por entidades no governamentais, como o Colgio Americano de Patologistas e a Joint Comission on Accreditation of Health Care Organizations (JCAHO), so reconhecidos por atenderem aos requisitos da CLIA -1988. Considera-se que os laboratrios portadores de selos de acreditao do CAP esto dotados das condies mnimas de funcionamento exigidas e, portanto, isentos de fiscalizaes, exceto em casos de denncias (29).
A experincia do Reino Unido mostra que sistemas de acreditao podem ser de propriedade e operados por Sociedades profissionais, servios de sade ou organismos independentes. J as experincias tailandesa e espanhola demonstram que os governos podem possuir e operar sistemas de acreditao (45).
Escolha do sistema de avaliao da Qualidade - Licenciamento x Acreditao
Uma das primeiras etapas para se estabelecer um sistema de avaliao da Qualidade determinarem-se as necessidades a serem atendidas. Pacientes, agncias reguladoras, profissionais de sade e legisladores podem ter diferentes percepes da Qualidade e diferentes prioridades sobre o que precisa ser melhorado. De modo geral, todos estes grupos reconhecem que o padro de qualidade de hoje talvez no seja aceito no futuro, criando, ento, a necessidade de se estabelecerem processos em busca da melhoria contnua da Qualidade nos servios de sade (42). Entre os objetivos pretendidos e/ou necessidades de escolha da melhor abordagem de avaliao da Qualidade, geralmente encontramos:
- Criao de ambiente para boas prticas; 14
- Manuteno da Qualidade Novos tipos de seguros-sade, iniciativas de reestruturao, privatizao, redistribuio de recursos humanos ou outros, reduo de verbas pblicas, novas tecnologias, reformas em sistemas de sade, podem gerar preocupao quanto qualidade dos servios oferecidos;
- Melhoria da Qualidade Um princpio fundamental de avaliao e gerncia da Qualidade em servios de sade que cada sistema produza informaes que, aps coletadas e analisadas, permitam o seu aperfeioamento. Este processo torna-se um ciclo contnuo de melhoria;
- Educao e consultoria a instituies de sade, sobre estratgias de melhoria da Qualidade e melhores prticas;
- Estmulo e melhoria da integrao e do gerenciamento dos servios de sade;
- Garantia da Segurana da populao e da equipe de sade;
- Fortalecimento da confiana do pblico sobre a qualidade dos servios oferecidos;
- Verificao de elaborao e manuteno de especificaes Os servios de sade devem ser planejados corretamente e os equipamentos utilizados que oferecerem riscos a pacientes ou membros da equipe tcnica, devem ser operados dentro das especificaes do fabricante;
- Documentaes sobre capacitaes especiais da Instituio ou de profissionais da equipe tcnica;
- Gerenciamento do risco vrias atividades podem ser realizadas para identificar, avaliar e reduzir o risco de danos a pacientes, membros da equipe e visitantes, e at risco de perdas para a prpria Instituio;
- Monitoramento do setor privado Em pases que passam por privatizao dos servios de sade existe a necessidade de superviso governamental sobre o setor privado emergente;
- Alocao de recursos limitados O uso eficiente de recursos disponveis para a sade uma preocupao de instituies de sade e autoridades em vrios pases. A alocao ou redirecionamento apropriado de recursos, com base em dados objetivos de Qualidade, aumentaram a sua aceitao, j que, freqentemente, os critrios so baseados em fatores polticos, presso dos profissionais de sade envolvidos ou da populao.
- Reduo de custos - aumentando a eficincia e eficcia dos servios;
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- Estabelecimento de uma base de dados comparativos entre instituies de sade;
- Identificao de centros de excelncia Da mesma forma, resultados excelentes podero atrair mais pacientes para estes servios (42,45).
Existem divergncias quanto ao mtodo de avaliao da Qualidade a ser utilizado, por conta de diferentes interesses envolvidos: os da prpria instituio de sade, os dos rgos reguladores / normalizadores e os dos compradores de servios de sade. fundamental que as limitaes do sistema de avaliao da Qualidade sejam claramente identificadas, assim como suas capacidades de avaliar o desempenho.
O licenciamento, a acreditao e a certificao constituem abordagens de avaliao de servios para atender s necessidades de informao sobre a sua qualidade e desempenho.
Licenciamento um processo pelo qual uma entidade governamental d permisso a um profissional ou instituio de sade para operar ou se dedicar a uma profisso. As normas para licenciamento so estabelecidas de forma a garantir que uma instituio ou indivduo atenda a padres mnimos, a fim de proteger a sade e a segurana da populao. Entre os padres mnimos esto includos aspectos de segurana, qualificao, infra-estrutura, disponibilidade de equipamentos bsicos, etc. As autoridades sanitrias tm a responsabilidade fundamental para garantir que os cidados, ao entrarem numa unidade de sade, no sofram qualquer prejuzo por exposio a perigos, como por exemplo, lixo infectado. O licenciamento normalmente conferido aps inspeo in loco, para se determinar se as exigncias mnimas foram atendidas, sendo, ento, expedido alvar ou licena de funcionamento (26,42,45).
Acreditao um processo pelo qual uma agncia reconhecida (governamental ou no) avalia uma organizao, e determina se esta atende a requisitos predeterminados para exercer suas funes. Os requisitos so estabelecidos como padres, e durante a auditoria verificado se a poltica e os procedimentos executados atendem a estes padres. O limite para se definir se uma instituio deve ou no ser acreditada deve ser baseado em regras predeterminadas e consistentes para que um programa de acreditao mantenha a credibilidade e desfrute da confiana do pblico e dos profissionais de sade. fundamental que se estabeleam mecanismos para proteger uma deciso sobre acreditao de influncias polticas e profissionais (42).
Processos de acreditao geralmente so voluntrios, dos quais as instituies optam por participar, e ocorrem aps uma avaliao peridica, in loco, realizada por pares.
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O objetivo da Acreditao fornecer aos consumidores a confiana na qualidade dos servios oferecidos por uma organizao com reconhecida competncia tcnica (23,29).
Padres de acreditao, via de regra, so elaborados por consenso entre especialistas, publicados e atualizados periodicamente, de modo a estarem de acordo com o estado da arte e com os avanos tecnolgicos, sendo considerados timos e possveis de serem atendidos. Englobam requisitos de alto nvel, encorajando o pessoal e a gerncia a alcanarem, ao longo do tempo, nveis cada vez mais elevados de Qualidade e melhoria contnua. Geralmente, possuem diferentes nveis, permitindo diferentes estgios de acreditao, dependendo do atendimento aos padres propostos (25,37,47).
Alguns criticam a participao de pares em processo de auditoria visando acreditao. Outros entendem que esta seja a marca registrada dos processos de acreditao e que, para uma auditoria ter credibilidade aos olhos do pessoal da organizao a ser auditada, o auditor deve tambm demonstr-la. Isto significa que os auditores devem ter experincia, conhecimento nos assuntos a serem auditados, alm de treinamento em mtodos de auditoria (45).
Um dos pontos mais positivos da acreditao que ela propicia esforos contnuos de melhorias, atravs de educao. Durante a preparao para a acreditao, a instituio auto avalia-se, para determinar a sua conformidade com os padres, bem como identificar oportunidades de melhoria. Esta auto-avaliao pode fornecer informaes importantes para a instituio (42).
A diferena entre os conceitos de acreditao e certificao, (este ltimo, procedimento no qual uma entidade de terceira parte - reconhecida e independente - assegura ou reconhece por escrito que um produto, processo ou servio est em conformidade com uma norma ou requerimento especfico), que a acreditao reconhece a competncia tcnica do laboratrio, resultado do atendimento a uma lista de verificao contendo requisitos mnimos, enquanto a certificao se refere ao reconhecimento de atendimento a normas estabelecidas, muitas vezes genricas, e a existncia de um sistema da Qualidade, onde a qualidade pretendida est descrita nas especificaes do produto ou servio (12, 25,37, 47).
Apesar de haver divergncias de abordagens, possvel identificar em sistemas de avaliao para licenciamento e acreditao elementos comuns (26,42,45).
Segundo Brennan (3), caberia responder as seguintes questes sobre o papel da regulamentao na melhoria da qualidade de servios de sade: h evidncias mensurveis de que a regulamentao estar contribuindo para a melhoria dos servios de sade oferecidos? Os legisladores tm conhecimento dos instrumentos desenvolvidos para avaliao e estaro utilizando-os em seu trabalho? Haver um meio de combinar a melhoria contnua da Qualidade e novos mtodos de avaliao da Qualidade com um novo formato de legislao? 17
H pouca inter-relao entre melhoria da Qualidade, avaliao da Qualidade e legislao ou regulamentao. Infelizmente a regulamentao na rea da sade, freqentemente se ampara apenas na rejeio / interdio do servio. Esta tendncia retarda o desenvolvimento de novas abordagens, pois a rejeio / interdio do servio convertida em policiamento, e a melhoria da Qualidade tratada como correo de defeitos ou erros, ao invs de um processo de melhoria de padres. Vista desta forma, a regulamentao tradicional pode frustrar a melhoria contnua da Qualidade em qualquer rea em que for aplicada. Alguns formatos de regulamentao tm se modificado na rea da sade evidenciando uma preocupao com a tradicional rejeio / interdio do servio. Estes avanos apontam para uma combinao entre melhoria contnua da Qualidade e modernos mtodos de medio. O problema, colocado de forma direta, que a regulamentao freqentemente leva a um confronto entre os legisladores e a atividade regulamentada e, portanto, a uma frustrao no objetivo regulatrio.
As novas abordagens sobre melhoria da Qualidade sugerem que ao invs de usar a auditoria para corrigir erros infreqentes, a nfase seja dada melhoria contnua dos processos. A base terica desta abordagem indica que oferecer servios abaixo dos padres recomendados resultado de processos mal construdos, informaes ou treinamento inadequados, e no de incompetncia individual ou ganncia (45).
Por conta de escassez de recursos ou m superviso, sistemas de licenciamento no so to eficientes quanto deveriam. Os fiscais geralmente se concentram na obedincia s normas mnimas exigidas e, diferentemente dos avaliadores ou auditores, que trabalham em processos de acreditao (e tm experincia sobre o servio que est sendo avaliado), no percebem sua funo como sendo de consulta e educao (26,42).
Os governos que determinam requisitos para acreditao devem se preocupar com o nvel dos mesmos, isto , com o nvel da qualidade a ser alcanada. Padres estabelecidos por governos para propsitos regulatrios so normalmente colocados em nveis mnimos, que traduzem a aptido da organizao para funcionar (45).
Em agosto de 1998, a Secretaria Estadual de Sade do Estado do Rio de Janeiro, atravs da resoluo nmero 1213, regulamentou as atividades de laboratrios clnicos aprovando as Boas Prticas de Laboratrios Clnicos - BPLC (41), com base na necessidade de estabelecer normas da Qualidade para o seu funcionamento. Estas normas, originalmente elaboradas para programas de certificao voluntria, tornaro a prtica desta atividade mais complexa, embora as exigncias possam contribuir para a melhoria dos servios . Normas semelhantes foram publicadas em estados e municpios brasileiros, como So Paulo e Belo Horizonte, porm com nveis diferentes de exigncia (30,38,39, 41). Entretanto, no se pode ainda prever o que ocorrer em termos de adequao por 18
parte dos laboratrios, e da fiscalizao, j que no sabemos se os recursos humanos existentes para exercer esta tarefa so capacitados e suficientes.
Caso os rgos governamentais no tenham possibilidade de rever e atualizar os critrios formatados pelas entidades cientficas, e no disponham de recursos humanos com conhecimentos necessrios para avaliar a implementao em laboratrios, seria desejvel que houvesse o reconhecimento dos Programas de Acreditao independentes, por parte das autoridades governamentais, especificamente pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, a quem cabe, entre outras atribuies, fiscalizar a prtica de laboratrios clnicos. Isto poderia ocorrer, desde que houvesse igualdade de critrios tcnicos, possibilidade de acompanhamento de um nmero pr-determinado de auditorias por representantes da Vigilncia Sanitria, e compromisso de comunicao de fatos graves, a exemplo do que ocorre em outros pases.
O Laboratrio Clnico e a ISO 9000
A ISO - Organizao Internacional para Padronizao (the International Organization for Standardization) - uma federao mundial composta de organismos de padronizao de diferentes naes. O trabalho de preparao de padres internacionais realizado por comits tcnicos. Cada pas membro que tenha interesse em matrias ali discutidas tem o direito de ser representado. Organizaes internacionais, governamentais ou no, tambm participam deste trabalho.
A norma ISO composta por um conjunto de requisitos que configuram um Sistema da Qualidade reconhecido internacionalmente e que vem sendo utilizado por inmeras organizaes desde 1986, tendo sido aplicada tambm em diferentes reas da sade, como laboratrios mdicos, bancos de sangue, consultrios e hospitais (20,21,35).
Sistemas da Qualidade so definidos como estruturas organizacionais, recursos, processos e procedimentos necessrios para a implementao de Gerenciamento pela Qualidade. O Gerenciamento pela Qualidade descreve todas as atividades do gerenciamento global, que determina a poltica da Qualidade, objetivos, responsabilidades e sua implementao atravs do planejamento, Controle, Garantia e Melhoria da Qualidade (40).
A implementao de Sistemas da Qualidade na rea de sade pode trazer muitos benefcios, com impacto direto em custos e manuteno da satisfao de clientes. Estes benefcios podem ser obtidos atravs da reduo de redundncias, agilizao dos processos, reduo de erros e desperdcios, acompanhados de processos contnuos de monitoramento e melhoria . De uma forma genrica, a norma ISO contempla conceitos de gerenciamento pela Qualidade Total com objetivo de se conseguir excelncia e melhoria contnua nos negcios (12). 19
A ISO, em comparao a padres da acreditao, enfoca mais profundamente o controle de documentos e a anlise de contratos. Originalmente desenvolvida para o setor industrial, alguns conceitos e a linguagem so difceis de serem adaptados rea de servios. A reviso ISO/DIS 9001:2000 deve tornar esta linguagem mais clara. Nos Estados Unidos da Amrica do Norte, at hoje, 10 % das certificaes pela norma ISO ocorreram em organizaes que atuam na rea de servios.(035) No Brasil, at dezembro de 1999, foram emitidos 1.573 certificados ISO, sendo 120 deles referentes a atividades de sade e servio social e 50 referentes a laboratrios de anlises clnicas (19).
Em termos de padres ISO, a srie ISO 9000 leva certificao, enquanto a ISO GUIA 25, utilizada na Europa e aceita pelo Comit Europeu de Normalizao (CEN), como EN 45001 (Critrios Gerais para Operao de laboratrios de ensaios), e recentemente substituda pela ISO/IEC 17025 (Requerimentos gerais para competncia em laboratrios de calibrao e ensaios), oferece acreditao. A ISO GUIA 25 e a EN 45001 so essencialmente as mesmas e so usadas para acreditao de laboratrios em vrias reas, como alimentos, gua e ao. Isto levou o Comit Europeu de Normalizao (CEN) a assinar em 1992, um acordo de reconhecimento mtuo com a ISO, conhecido como Acordo de Viena, com o objetivo de reduzir ou eliminar a duplicao de trabalho (25,47).
A Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OECD) publicou em 1981 os denominados Princpios para Boas Prticas em Laboratrios (Principles of Good Laboratory Practices - GLP), os quais foram bem aceitos pelo setor de laboratrios (12). Estes princpios se destinavam a estudos especficos de algumas substncias, com o objetivo de se obterem dados sobre suas propriedades, e segurana com respeito sade humana ou ao ambiente. Os estudos poderiam incluir anlises qumicas, de toxicidade, mutagenicidade, microbiolgica, fsica, de testes de patologia vegetal ou animal, e se aplicavam, por exemplo, a substncias qumicas de uso industrial, compostos farmacuticos, drogas de uso veterinrio, pesticidas, aditivos alimentares ou cosmticos (27). Dez anos depois, foi feita pelo Comit Europeu para Padronizao de Laboratrios Clnicos (European Commitee for Clinical Laboratory Standards WHO - EURO/ECCLS) uma tentativa de se adaptar estes princpios para utilizao em laboratrios clnicos (12).
Um laboratrio clnico funciona, em parte, como um laboratrio qumico ou industrial, especialmente na fase analtica. Mas se comporta tambm como uma empresa de prestao de servios, especialmente na rea de atendimento. Assim, no importa somente se um resultado de exame confivel ou no, mas tambm o tempo necessrio para liber-lo, o tempo de demora para o atendimento dos pacientes, alm de outros aspectos extra-analticos, relacionados s fases pr e ps-analticas, o que justifica que o gerenciamento destas fases contemple aspectos includos em normas do tipo ISO 9002 (37).
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A necessidade de dispor de uma norma que contemplasse ao mesmo tempo os requisitos relativos garantia da Qualidade (includas as normas destinadas certificao do sistema da Qualidade) e os relativos competncia tcnica (includas as normas ou requisitos de acreditao), tambm havia sido estabelecida para laboratrios de inspeo e ensaio, ainda que por razes distintas. Esta necessidade levou reviso da ISO GUIA 25, cujo trabalho resultou na publicao da ISO/DIS 17025 em agosto de 1998, ainda como norma experimental, que foi aprovada para utilizao em dezembro de 1999 (37, 47).
Apesar de a EN 45001 ter sido aplicada com sucesso em laboratrios de qumica clnica e outros da rea da sade que no lidam primariamente com medies (laboratrios de fisiologia, microbiologia e bancos de sangue), profissionais de laboratrios clnicos nunca se mostraram completamente satisfeitos com sua aplicao, por no serem contemplados aspectos especficos de grande importncia para laboratrios integrantes de um sistema de sade. Os tpicos mais criticados eram relacionados a: a) aspectos pr-analticos referentes preparao do paciente e tratamento das amostras; b) o laboratrio deveria estar apto a assumir a responsabilidade da escolha do exame (utilidade clnica) e a utilizar ou interpretar o resultado obtido (competncia mdica), alm de demostrar sua capacidade tcnica; e c) os aspectos gerais de segurana deveriam ser complementados com outros, relacionados segurana do paciente e do pessoal do laboratrio (manuseio de amostras potencialmente txicas ou contaminantes). Estas questes levaram a entidade norte-americana de padronizao (ANSI) a propor ISO a criao de um Comit Tcnico (TC-212) com trs grupos de trabalho, cujo objetivo era criar uma norma denominada Padres Internacionais para Laboratrios Clnicos e Sistemas de Diagnstico in vitro. Este Comit trabalha em sintonia com outro Comit Europeu, Comit Tcnico 140 Projeto para Diagnsticos Mdicos in vitro (In vitro Diagnostic Medical Devices), criado no mbito do CEN. A meta da ISO criar um documento que priorize tanto o sistema da Qualidade, com conceitos da Qualidade total, como a competncia dos laboratrios clnicos, baseados na ISO/IEC 17025 - que por sua vez, baseou-se na ISO GUIA 25 e na EN 45001. (025,037) O documento produzido pelo grupo de trabalho 1 (WG1) deste comit tcnico foi denominado Padro Internacional ISO 15189 - Gerenciamento da Qualidade em Laboratrios Mdicos (Quality Management in the Medical Laboratory). Aps discusses ocorridas em Londres, em novembro de 1999, a ltima verso deste documento foi submetida ao ISO/TC176 - Gerenciamento da Qualidade e Garantia da Qualidade - e ao ISO/CASCO - Comit de Verificao de Conformidade, para anlise de sua correspondncia com a ISO 9001:2000 e o ISO/IEC 17025, respectivamente, j que durante o perodo da elaborao do padro internacional 15189, os referidos documentos estavam sendo revisados. Recentemente, em junho de 2000, aps reunio ocorrida na Filadlfia, este documento foi publicado como ISO/FDIS 15189 - Final Draft International Standard (Minuta Final de Padro Internacional). Neste momento se iniciou o perodo formal de votao e comentrios. Para ser aprovado, o documento deve contar com a aprovao de, no mnimo, setenta e cinco por cento das entidades com direito a voto (22). 21
Com o trmino dos trabalhos deste Comit Tcnico, temos constatado o incio de comparaes sobre o que seria melhor para assegurar a qualidade dos servios de laboratrios, j que existe uma potencial ameaa de concorrncia dos dois sistemas para certificao da qualidade dos servios na rea de laboratrios. Estes dois sistemas tm sido cada vez mais integrados ao conceito de melhoria contnua da Qualidade. Infelizmente, por algumas diferenas de abordagem e algumas vezes por conta de interesses paroquiais e comerciais, a discusso se torna polarizada (35,43).
Uma das propostas apontadas manter o controle dos processos e uma base para melhoria contnua, mesclando os dois sistemas. Neste sentido, os dois processos coexistiro (35).
Entretanto, em pases que j contam com a cultura da acreditao sedimentada, como nos Estados Unidos da Amrica do Norte, h quem critique a utilidade da norma ISO 9000 para laboratrios clnicos, pela sua abordagem ampla, mas inespecfica, alm da sua terminologia de difcil compreenso (5).
A Acreditao de Laboratrios no Reino Unido
Em 1988 foi criado pelo The Royal College of Pathologists, no Reino Unido, um comite ad hoc, com o objetivo de verificar a exeqibilidade e a convenincia de se criar um programa de acreditao. (09) Trs anos depois, foi criado o Programa de Acreditao estabelecido pela Clinical Pathology Accreditations (UK) Lt, (CPA) empresa sem fins lucrativos, da qual o Royal College of Pathologists co-proprietrio, juntamente com o Institute of Health Services Management, o Independent Health-care Association, o Institute of Biomedical Science, a Association of Clinical Pathologists e a Association of Clinical Biochemists, tendo iniciado suas operaes em janeiro de 1992. O lanamento deste Programa foi precedido de cuidadosos estudos baseados nos Programas Norte-Americano e Australiano de Acreditao.
Quarenta e quatro padres foram adotados. Eles foram divididos em seis grupos que abrangiam organizao e administrao, direo e recursos humanos, equipamentos e instalaes, poltica e procedimentos, treinamento ou educao, reciclagem e avaliao. Os requisitos adotados foram bem prximos dos norte- americanos, mas, ao contrrio destes, as especialidades existentes no laboratrio foram mantidas em separado.
Aps a visita de inspeo, geralmente completada em um dia, pode haver recomendao para Acreditao completa ou Acreditao condicional. Nesta ltima fornecida uma lista de itens a serem corrigidos dentro de um prazo pr- estabelecido. A nfase da inspeo no apenas nos aspectos tcnicos, mas tambm na qualificao do pessoal, nos cuidados pr e ps-analticos, como interpretao de resultados e resultados em Programas de Controle Externo da Qualidade. Segundo o CPA, a maior responsabilidade de seus auditores inclua a avaliao e a educao.
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O processo de acreditao iniciou-se como voluntrio. Em 1995, o governo, atravs da Strategic Review of Pathology Services, recomendava especificamente, que os compradores de servios e fornecedores incorporassem a exigncia da acreditao ou o compromisso de obt-la, como condio em qualquer contrato envolvendo patologistas. Recentemente, o governo tornou obrigatria a acreditao de laboratrios que trabalham com rastreamento de cncer de colo de tero atravs de exames citolgicos, e os benefcios desta obrigatoriedade esto em discusso.
Posteriormente, vrios departamentos de patologia adotaram o conceito da acreditao com relativo entusiasmo, apesar dos custos envolvidos. Reconheceu- se que o processo de avaliao da conformidade com padres poderia levar crtica interna, reviso da organizao e dos mtodos, resultando em mudanas benficas. A introduo da acreditao no foi estimulada apenas por Sociedades Profissionais e envolvidas, mas tambm por gerentes de servios de sade, pelo setor privado e governamental (13,26).
Em 1997, o nmero de padres foi ampliado para sessenta e dois. At maro de 1998, ou seja, 6 anos aps seu incio, dois teros dos laboratrios do Reino Unido haviam sido inspecionados. Destes, 73% estavam acreditados, 24% com pendncias a serem corrigidas e 3% foram rejeitados.
Em maio de 2000 , de um total de 1709 laboratrios, 71 % estavam acreditados e 5 % foram rejeitados. O nmero de laboratrios com pendncias a serem resolvidas manteve-se em 24 %.
Com a finalizao do padro ISO FDIS 15189, o CPA (UK) Ltd criou um grupo para rever os padres utilizados e combin-los ao referido documento. H expectativa de que a minuta deste trabalho seja publicada em setembro de 2000.
O Reino Unido tem tambm representante no recm formado Sub-Comit Mdico da Cooperao Europia para Acreditao que, entre outros assuntos, trata da harmonizao dos critrios de acreditao para laboratrios mdicos europeus.
A Acreditao de Laboratrios no Canad
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No Canad no h uma instituio nacional de acreditao, sendo cada Provncia regulada por normas prprias independentes. Os padres de Acreditao podem variar em diferentes regies do pas. As entidades acreditadoras so independentes do governo, e a maioria tem ligao com entidades mdicas como o College of Physicians and Surgeons.
H um colegiado denominado Interprovincial Quality Assurance, formado por entidades acreditadoras de vrias Provncias, que se rene anualmente para discutir polticas e procedimentos.
Os grandes laboratrios devem participar de processos de acreditao, de acordo com a Provncia onde esteja localizado. Os laboratrios que funcionam em consultrios mdicos, tambm denominados de categoria I, no so regulados e nem necessitam de acreditao. Podem realizar cerca de 14 exames de baixa complexidade. Caso desejem realizar outros exames, devero se submeter a licenciamento do governo e a processos de acreditao. Como vem ocorrendo em outros pases, h uma expectativa de que a publicao do documento ISO/FDIS 15189, possa incorporar novas exigncias para Acreditao
A Acreditao de Laboratrios na Alemanha
Na Alemanha h obrigao legal em participar de programas de garantia da Qualidade para anlises quantitativas. Estes programas so implementados por autoridades. Na maioria dos outros pases da Europa Ocidental os profissionais ficaram com a responsabilidade de organizar e administrar programas de acreditao e avaliao da Qualidade (26).
A Acreditao de Laboratrios na Austrlia
Na Austrlia, entre o final da dcada de 1960 e incio de 1970, o surgimento do programa de acreditao foi conseqncia de alegaes de falta de padronizao, fraude e estmulo solicitao de servios em laboratrios. O Royal College of Pathologists of Australia (RCPA), o Australian Institute of Medical Laboratory Scientists, alm de outras entidades profissionais, comearam a se preocupar com a ausncia de padres mnimos de performance. Em 1982 o RCPA se aproximou da National Association of Testing Authorities (NATA), com o objetivo de estabelecer um programa nacional voluntrio, que permitisse diferenciar laboratrios que preenchessem os padres de Qualidade estabelecidos. Os critrios adotados foram baseados na ISO GUIA 25 e a ISO 9000. Os profissionais que atuam como auditores, cerca de 1500 patologistas e outros profissionais, no so remunerados pelo trabalho de auditoria, mas so freqentemente chamados para ministrar cursos sobre acreditao e sobre o processo de auditoria. O processo serviu como uma experincia frtil que acabou por transform-lo em processo compulsrio. Os problemas relatados no perodo inicial referiam-se a recursos humanos. Freqentemente, relacionavam-se pouca 24
superviso em nvel gerencial, tcnico, ou em ambos. Havia tambm problemas relacionados qualificao de pessoal e experincia. O treinamento apropriado e a educao continuada eram exceo e no a regra. Havia tambm deficincias nas prticas de controle interno e na participao e utilizao do controle externo da Qualidade, alm de documentao de mtodos e procedimentos. As reas de coleta e recepo de material no eram adequadamente gerenciadas. Mas a avaliao por pares, a opinio, o debate profissional e o desejo de melhorar as prticas permanecem como marca registrada deste programa, apesar do carter compulsrio. Embora alguns requisitos ainda reflitam estes problemas em alguma extenso, atualmente isto se relaciona mais carncia de recursos, do que, propriamente, falta de inteno em atend-los. Problemas que requerem ateno relacionam-se documentao, onde se descrevem mais detalhadamente os processos, e que entendida como a sintonia fina do sistema nos laboratrios. Os processos de controle da Qualidade melhoraram muito, mas h freqentemente problemas com a documentao de medidas corretivas, quando valores fora de faixa so encontrados em ambos os controles de Qualidade. A educao continuada permanece um desafio para alguns laboratrios. H uma atitude mais profissional em relao prtica laboratorial, e isto pode estar relacionado ao fato dos auditores serem pares e freqentemente questionarem as prticas utilizadas em seus prprios laboratrios (17,25,26, 27).
A Acreditao de Laboratrios na Nova Zelndia
O programa de acreditao neozelands teve incio em 1973, e os primeiros laboratrios foram acreditados em 1977. As auditorias so feitas com base na ISO GUIA 25 e, futuramente, atravs do ISO/FDIS 15189.
A Acreditao permaneceu todo este perodo como um processo voluntrio, mas, nos ltimos meses, as autoridades de sade tm insistido para que todos os laboratrios se submetam a processos de acreditao. Como os laboratrios dependem direta ou indiretamente do governo para prestarem servios, espera-se que aumente o interesse nestes processos.
A Acreditao de Laboratrios nos Estados Unidos da Amrica do Norte Programa de Acreditao do Colgio Americano de Patologistas (Laboratory Accreditation Program - LAP)
Na verdade, o primeiro Estatuto do Colgio Norte-Americano de Patologistas, datado de 1946, j mencionava o estabelecimento de padres para adequao de laboratrios hospitalares.
Em 1947, um dos vrios comits do CAP, o de Avaliao de Laboratrios Hospitalares, foi acionado para definir uma variedade de parmetros que seriam essenciais para a prestao de servios laboratoriais, como pessoal, espao fsico e equipamentos. Nesta poca, as discusses sobre a criao destes padres se misturavam com a criao de um programa de testes de proficincia e um 25
programa de acreditao. O principal objetivo era avaliar a eficincia dos laboratrios, isto , sua habilidade para dosar analitos com exatido em amostras desconhecidas (14).
Mas foi s em 1961 que a percepo de patologistas norte-americanos resultou em esforos efetivos no sentido de se obterem padres para a prtica laboratorial. Nesta poca, recomendaram-se estudos que permitissem a criao de um Programa de Acreditao com base em inspees voluntrias, para evitar regulamentos que fatalmente viriam, em virtude da conduta questionvel de muitos laboratrios. Os padres deveriam enfocar a rea fsica, organizao, eficincia, equipamentos, recursos humanos, controle de Qualidade e arquivo de registros. Inicialmente, os laboratrios dos comissrios regionais seriam inspecionados por patologistas de renome, selecionados por um comit Ad Hoc. Uma vez inspecionados, estes poderiam inspecionar outros laboratrios.
Em 1962, havia 10 laboratrios inscritos no "LAP". Em 1963 o nmero de inscritos alcanou 222 laboratrios, sendo 55 j inspecionados. Nestes primeiros anos, mesmo com a oposio de vrias instituies de sade, o CAP organizou e implementou este Programa atravs de iniciativas e recursos prprios.
Um ano depois foi emitido o 1 o certificado de acreditao. Com o passar do tempo, tornou-se evidente a necessidade de formulao de padres mais detalhados. Ainda em 1964 um dos comissrios regionais formulou uma lista de verificao para ser utilizada por auditores, de modo a assegurar uma avaliao mais uniforme da aplicao dos padres. A 1 a edio desta lista foi publicada em 1965 e, a partir de ento, foi continuamente atualizada e reduzida, na medida do possvel.
Em 1966 os padres foram revisados com o objetivo de torn-los mais especficos, e passaram a incluir notas explicativas. A partir da passou-se a dar mais nfase ao Controle Interno da Qualidade e aos Testes de Proficincia (Controle Externo da Qualidade). A legislao federal aprovada em 1967 e implementada em 1969 (CLIA67) teve como base estudos de um comit do Center of Diseases Control integrado por membros do CAP. O LAP foi reconhecido como equivalente ou mais rigoroso que as exigncias federais. S partir de 1969, portanto cinco anos aps o seu lanamento, o LAP cresceu assustadoramente, e vrios treinamentos foram realizados para familiarizar a comunidade laboratorial com os requisitos do LAP. O manual do avaliador (inspetor) foi escrito em 1969.
Em 1972 foi criado um peridico sobre o LAP, para informar sobre os novos padres e as no conformidades mais comuns encontradas nos laboratrios. Foi criado tambm o manual de uso de gua reagente, e iniciada a elaborao do Manual de Manuteno de Equipamentos, que seria finalizado em 1973. As matrias sobre segurana que sempre foram assunto preocupante, levaram em 1979 criao do Comit de Segurana, que elaborou uma lista de verificao voltada para o assunto. Em 1981 o CDC completou um estudo sobre a 26
periodicidade das avaliaes, concluindo que no havia diferenas significativas entre as inspees bianuais e anuais. A partir de 1982, com base nestes estudos, o CDC passou a aceitar um ciclo de acreditao de 2 anos. Em 1983, as auto- avaliaes intercaladas, institudas em 1981, tornaram-se obrigatrias, com a 1 a
revogao de acreditao de um laboratrio. A partir deste ano iniciaram-se os treinamentos de reciclagem de avaliadores.
Em 1989, outro programa foi criado para atender a laboratrios que realizam exames de urina para fins mdico-legais. Na mesma linha foram criados programas para laboratrios que trabalham com reproduo (fertilizao in vitro) e exames antidoping executados em atletas, estes em cooperao com Sociedades especializadas. Em 1990 a Joint Comission on Accreditations of Health Care Organizations, a sucessora da JCAH, solicitou que o acordo verbal entre as duas instituies promulgado desde 1979 fosse formalizado atravs de um contrato, fato que se concretizou em 1993 (14).
Em 1999, os requisitos exigidos pelo LAP abrangiam grupos de requisitos relacionados a : 1) Diretor do Laboratrio, 2) instalaes e segurana, 3) controle da Qualidade e melhoria da performance, e 4) Participao em auditorias. Os padres so aplicveis a qualquer tipo de laboratrio, inclusive os especializados. Existem 21 listas de verificao, cada uma dirigida a uma rea especfica do laboratrio, com exceo da que aborda o laboratrio de forma geral, que inclui questes sobre responsabilidades do diretor, sistema de informtica, programa geral de melhoria da Qualidade e outros tpicos aplicveis ao laboratrio como um todo. As questes das listas de verificao podem ser classificadas em 0, I ou II. A classificao 0 indica apenas um item informativo; o no atendimento a questo classificada como II, indica uma sria deficincia que pode afetar os cuidados com o paciente e deve ser atendida, sem o que no conferido o certificado de acreditao. J o no atendimento a uma questo classificada como I, menos sria e requer ateno, mas no impede o recebimento do certificado de acreditao (10,15,29). Neste mesmo ano, o Colgio Americano de Patologistas considerava que havia grandes benefcios no processo de avaliao por pares adotado no seu Programa de Acreditao de Laboratrios. Durante a inspeo, os laboratrios inspecionados recebem orientaes de pessoas que trabalham diariamente nas mesmas tarefas, portanto, com conhecimento e familiaridade com os processos laboratoriais, proporcionando a ambas as partes vantagens educacionais e oportunidade de troca de observaes e experincias. A inspeo por pares inclui seleo de avaliadores que trabalhem em laboratrios de tamanho e complexidade similares. Desta forma, o objetivo a ser alcanado, ou seja, a melhoria da Qualidade dos servios, ocorre graas combinao da avaliao por pares, da educao e da conformidade com os padres estabelecidos. A preparao para a auditoria do LAP auxilia o laboratrio a padronizar processos e procedimentos, e isto contribui para que os pacientes recebam resultados confiveis. O programa funciona com aproximadamente 3.500 patologistas que so auditores voluntrios, alm de outros profissionais que compem as equipes de auditoria. O Laboratory Accreditation Program do CAP teve incio em 1962, e conta hoje com cerca de 6.000 laboratrios participantes. 27
Com a criao do Comit Tcnico da ISO, o TC-212, a experincia do LAP foi aproveitada, e h expectativa de que poucas modificaes devam ser feitas para que os laboratrios norte-americanos estejam em conformidade com o primeiro documento publicado por este comit, o ISO/FDIS 15189 (5,10,15,16). O Colgio Americano de Patologistas est cooperando , atualmente, na estruturao de um Programa de Acreditao em Singapura, atravs do Singapore Accreditation Council.
A Acreditao de Laboratrios na ndia
Com a finalidade de impedir a prtica laboratorial por pessoas no qualificadas ou no habilitadas, em 1997 a IAPM criou o Indian Council for Laboratory Medicine. O Colgio Indiano de Patologistas modificou este nome para IAPM-National Board for Laboratoy Medicine e, juntamente com autoridades estaduais e nacionais, tentou resolver esta questo.
Foram programadas tentativas de melhorar os padres atuais de funcionamento dos laboratrios, antes de se iniciarem processos de acreditao, sejam eles voluntrios ou compulsrios.
Inicialmente, houve tentativa fracassada de incluir laboratrios clnicos no mesmo grupo de laboratrios biolgicos para os quais, como em outros laboratrios (qumicos, eltricos, mecnicos, pticos/fotomtricos), havia exigncia de demonstrao de competncia tcnica, alm de documentao e implementao de um Sistema da Qualidade, baseado na ISO/IEC 25, apropriado ao tamanho e operao de cada laboratrio. O National Accreditations Board for Testing and Calibrations Laboratories (NABL) se declarou pronto para iniciar um programa de acreditao para laboratrios neste pas, em 1998, quando lanou um Manual intitulado Critrios Especficos para Acreditao de Laboratrios Clnicos, com a colaborao da Indian Association of Pathologists & Microbiologists (IAPM).
Desde o seu incio, entretanto, alguns problemas foram identificados : o manual que serviria de base para a acreditao revelou vrias imperfeies, necessitando de revises, retificaes e atualizaes. Havia tambm um pequeno nmero de avaliadores, e pouca divulgao dos atuais conceitos de Qualidade entre os laboratrios, os quais deveriam encontrar dificuldades para atendimento dos requisitos. Alm disso, temiam-se conflitos de interesses entre avaliadores de laboratrios privados concorrentes, alm de desestmulo pela falta de remunerao. Apesar dos problemas as autoridades esto empenhadas em ter um processo de acreditao de laboratrios funcional neste pas. (26, 46).
A Acreditao de Laboratrios clnicos no Brasil
Em 1994 foi lanada no Brasil a idia de Acreditao Hospitalar, quando o Dr. Humberto Novaes, mdico brasileiro que j havia trabalhado na Organizao Pan- americana de Sade, pde explicar a inteno da utilizao do termo, na poca 28
um neologismo. Conforme seu depoimento, o termo teria o sentido maior de confiana para referenciar servios mdicos (1).
A mobilizao para a criao de padres tcnico-cientficos aplicveis a laboratrios clnicos teve incio em 1995, com a criao de uma Comisso Tcnica de Laboratrios de Ensaio (CTLE-04), no mbito do INMETRO. O resultado deste trabalho, que contou com a colaborao de representantes de Sociedades Cientificas, Universidades, Laboratrios pblicos e privados, entre outros interessados, foi a edio das intituladas Boas Prticas para Laboratrios Clnicos - B.P.L.C.(2).
Em setembro de 1998, a S.B.P.C., de forma pioneira no Brasil, decidiu criar seu prprio Programa de Acreditao de Laboratrios Clnicos (PALC), independente, a exemplo dos j existentes em outros pases. Como critrios, adotou as B.P.L.C., j amplamente divulgadas desde a sua criao. A filosofia e sistemtica aplicadas pelo PALC foram as mesmas utilizadas pelo College of American Pathologysts (CAP), que possui o mais antigo e respeitado programa de acreditao de laboratrios clnicos no mundo (31).
As dificuldades iniciais encontradas no colocam o PALC da SBPC em situao diferente dos Programas de Acreditao existentes em outros pases, quando em suas fases iniciais (10,14).
At julho de 2000, o Programa contava com 44 laboratrios inscritos para acreditao no nvel I, tendo 14 j sido auditados e 12 certificados. O programa funciona com 12 auditores, que mantm residncia em diferentes locais do pas, de modo a facilitar os deslocamentos para os laboratrios interessados no momento das auditorias, alm de uma gerente tcnica e um gerente administrativo.
A anlise de dados obtidos no PALC da SBPC, caso haja crescente adeso de laboratrios ao Programa, certamente proporcionar orientaes precisas para o desenvolvimento de aes coletivas destinadas comunidade laboratorial brasileira, como por exemplo criao de oportunidades de educao continuada.
Em fevereiro de 1998 a Associao Brasileira de Normas Tcnicas, rgo responsvel pela normalizao no Brasil (ABNT), criou um Comit Tcnico, o ABNT/CB-36 Comit Brasileiro de Anlises Clnicas e Diagnstico in vitro, para a elaborao de norma tcnica aplicvel a laboratrios clnicos brasileiros. Este comit constitudo por representantes de Sociedades Cientficas, Universidades, Indstria de Diagnstico in vitro, alm de profissionais ligados a laboratrios clnicos. O primeiro documento a ser completado, denominado Gerenciamento da Qualidade em Laboratrios Clnicos foi finalizado em junho de 2000 recebendo a denominao de NBR 14500.
Em abril de 2000 foi formado um grupo de trabalho com integrantes das Sociedade Brasileira de Patologia Clnica e Sociedade Brasileira de Anlises 29
Clnicas, com o objetivo de criar um Manual de Acreditao para Laboratrios Clnicos no mbito da Organizao Nacional de Acreditao, que conta com o apoio do Ministrio da Sade. Este Manual de 3 nveis est sendo elaborado com base no documento produzido pelo CB-36 da ABNT, que, por sua vez, baseou-se na minuta final do documento elaborado pelo grupo WG1 do TC-212 da ISO. Assim, garante-se que as normas brasileiras mantenham-se atualizadas com as tendncias mundiais na rea de laboratrios clnicos.
A Organizao Nacional de Acreditao recomenda que as bases de seus requisitos para os 3 nveis de acreditao sejam: 1) estrutura e segurana; 2) sistematizao de processos e 3) melhoria continua da Qualidade. (032) Por outro lado, h quem receie que o estabelecimento da acreditao permanente em 3 nveis possa levar a uma classificao e diferenciao por parte dos compradores de servios mdicos, embora no se possam julgar os servios oferecidos exclusivamente com base neste critrio. Apesar das indefinies, que tendem a desaparecer a curto prazo, certo que, a exemplo do verificado em outros pases e considerando o ambiente competitivo atual, a Acreditao contribuir para a melhoria da Qualidade dos servios oferecidos pelos laboratrios brasileiros.
Concluso
Com a introduo dos Programas de Acreditao na rea da sade, j possvel perceber-se a mudana de cultura no que diz respeito qualidade dos servios prestados em diferentes pases. Com a tendncia atual de introduo de novos conceitos de Gerncia pela Qualidade Total e Melhoria Contnua da Qualidade, deveremos observar, a curto prazo, o aperfeioamento destes Programas, que incentivaro o alcance de estgios mais avanados da Qualidade e a obteno de resultados mais consistentes nas organizaes de sade. No Brasil, onde os Programas de Acreditao esto se iniciando, e ainda podem- se observar freqentes questionamentos quanto qualidade dos servios de sade oferecidos , o desafio para os laboratrios clnicos e demais organizaes prestadoras de servios mdicos ser a adequao aos padres de acreditao propostos, no sentido de elevarem efetivamente a qualidade de seus servios, conseguirem o reconhecimento de entidades acreditadoras e conquistarem a confiana de compradores de servios e do pblico em geral. Por outro lado, espera-se que as entidades acreditadoras possam cumprir adequadamente seu importante papel, dando credibilidade ao sistema de acreditao que ora se inicia em nosso pas.
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Agradeo aos Dr. Adagmar Andriolo - Presidente da SBPC, Dr. Ulysses Moraes de Oliveira - Dir. Cientfico da SBPC e Dra. Debora Shcolnik pelas sugestes e reviso texto.
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O Conceito de Qualidade em Saúde É Próprio Aos Cuidados Sempre Que Existe Um Bom Nível de Prestação de Cuidados de Saúde Que Satisfaz Os Resultados de Saúde Esperados