Gestão Ambiental
Gestão Ambiental
Gestão Ambiental
Apresentação
A evolução natural das condições ambientais por um período de bilhões de anos
permitiu o surgimento da humanidade. Porém, nesse mesmo período, houve um
grande número de espécies extintas pelo fato do ambiente ter-se modificado para
condições adversas a tais espécies. Então, intuitivamente, ao recriarmos um novo
ambiente, paralelamente pode ser gerada uma série de efeitos colaterais –
externalidades, que poderão facilitar, dificultar ou mesmo impedir o desenvolvimento
e a qualidade de vida dos seres humanos, à medida que alteram os ecossistemas.
Por esse motivo, a partir da década de 1960, emerge a idéia da necessidade de uma
nova postura relacionada aos procedimentos e usos dos recursos naturais. Já na
década de 1980 surge o conceito de “desenvolvimento sustentável”, que revela,
inicialmente, a crescente insatisfação com a situação criada e imposta pelo modelo de
produção capitalista. Resulta de emergentes pressões sociais pelo estabelecimento de
uma melhor distribuição de renda que permitisse maior eqüidade. Indica o desejo
social de sistemas produtivos que, simultaneamente, conservem os recursos naturais e
forneçam produtos mais saudáveis, sem comprometer os níveis tecnológicos já
alcançados de segurança alimentar. Dessa forma, a proposta de implantação desse
novo modelo deverá ser bem mais complexa do ponto de vista metodológico,
demandando disponibilidade, aptidão e cooperação dos ensinamentos específicos,
assumindo perspectivas interdisciplinares. Esse tipo de conhecimento depende, em
grande parte, da adoção de políticas públicas que promovam avanços nessa direção,
atentando para o fato de que tão importante quanto gerar novos conhecimentos e
tecnologias apropriadas, é fazê-los chegar ao seu destino. Na transição a um padrão
sustentável, os gargalos estão mais no âmbito do desempenho institucional.
Ultimamente, organismos internacionais, como o BIRD e o BID, têm advertido que
ações de desenvolvimento que utilizam métodos participativos têm resultados
superiores às que se baseiam em estruturas hierárquicas. Nessas circunstâncias, o
Estado deve ser o coordenador da formação de uma abordagem sistêmica que integre
organismos públicos envolvidos nesses sistemas produtivos, de ensino e de pesquisa,
ONGs, empresas privadas e sociedade civil organizadas, por meio da formação de uma
visão compartilhada, detectando e preparando lideranças, da qual resulte seu pacto de
desenvolvimento sustentável. Percebe-se que as propriedades rurais e as diversas
comunidades não estão aproveitando efetivamente os seus recursos, bem como o seu
potencial de transformação dos produtos agropecuários, da matéria-prima florestal e
agroflorestal, e da administração de seus resíduos gerados durante os processos
produtivos, urbanos e rurais, em produtos de maior valor agregado: faz-se necessárias
mudanças destes modelos de produção, sendo necessário: a) inicialmente, a
recuperação ambiental fundamentada na ética e dentro dos princípios do
desenvolvimento sustentável; b) a elaboração de tecnologias apropriadas que poupem
e conservem os recursos naturais; c) maior rigor na concessão do licenciamento
ambiental, condicionando-o à adoção de sistemas de gestão ambiental (SGA); e d)
efetividade no monitoramento e na fiscalização pelos órgãos responsáveis, com a
participação de toda a sociedade, já politizada e ambientalmente educada.
Introdução
Em 1992, durante as reuniões preparatórias para a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), a ECO 92, realizada no Rio de
Janeiro, ocorreram intensas discussões sobre as atividades e mecanismos econômicos
especialmente impactantes para o meio ambiente e capazes de depauperar os
recursos naturais. O documento denominado Agenda 21 é resultante dessas
discussões, contendo inúmeras recomendações, inclusive aquelas que enfatizam a
importância dos governos e organismos financeiros internacionais priorizarem políticas
econômicas para estimular a sustentabilidade por meio da taxação do uso
indiscriminado dos recursos naturais, da poluição e despejo de resíduos, da eliminação
de subsídios que favoreçam a degradação ambiental e da contabilização de custos
ambientais e de saúde (ELDREDGE, 1999; PULITANO, 2003).
Em 1990, havia 3,960 bilhões de hectares (ha) de florestas nas diversas regiões
do planeta; em 2000, a área de florestas havia caído para 3,866 bilhões. Estima-
se, de acordo com o RELATÓRIO...(1991), que a cada ano são perdidos 20
milhões de ha de florestas e 25 bilhões de toneladas de húmus por efeito da
erosão, desertificação, salinização e outros processos de degradação do solo;
Em 1992, estimava-se que cerca de 180 espécies de animais haviam sido
extintas e outras mil estavam ameaçadas de extinção; desde 1992, 24 espécies
(considerando apenas os vertebrados) foram extintas e 1.780 espécies de
animais e 2.297 de plantas estão ameaçadas;
Em 1990, a população do planeta usava cerca de 3.500 km 3 de água doce por
ano; em 2000 o consumo total anual chegou a 4.000 km 3 (crescimento de
12,5%). Esse problema torna-se mais preocupante em face da redução do
suprimento global de água com o aumento da população e dos usos múltiplos e
com a perda dos mecanismos de retenção de água (remoção de áreas alagadas
e das matas de galeria, desmatamento, perda de volume por sedimentação de
lagos e represas);
Em 1990, a humanidade lançava 5,827 bilhões de toneladas de CO 2 na
atmosfera, acentuando o aquecimento global; em 1999 as emissões tinham
subido para 6,097 bilhões de toneladas (nos países ricos, de acordo com o
PNUD (2003), as emissões de dióxido de carbono per capita são de 12,4
toneladas (t) - enquanto nos países de rendimento médio são de 3,2 t e nos
países de rendimento baixo, de 1,0 t);
Em 1992, o consumo de energia no planeta era equivalente a 8,171 trilhões de
toneladas de petróleo por ano; em 2000 o consumo subiu para o
correspondente a 9,124 trilhões de toneladas de petróleo por ano;
Em 1987, a área da Terra usada para a agricultura era de 14,9 milhões de
km2 (297 ha/1.000 pessoas); em 1997, o número subiu para 15,1 milhões de
km2 (ou seja, cada grupo de mil pessoas passou a contar com apenas 259 ha).
De acordo com o RELATÓRIO...(1991), apenas por conta da salinização, uma
quarta parte da superfície irrigada do mundo está comprometida, aumentando
os problemas relacionados à fome;
Em 1992, o planeta tinha 5,44 bilhões de habitantes; em 2000 a estimativa é de
6,24 bilhões (um crescimento de 13% sobre 1992); e
De acordo com o PNUD (2003), dos 67 países considerados com baixo índice de
desenvolvimento humano (IDH), aumentaram as taxas de pobreza em 37, de
fome em 21 e a mortalidade infantil em 14. Também, dos 125 países em
desenvolvimento, em 54 o rendimento per capita diminuiu.
Objetivos específicos
Agrupar informações sobre degradação e recuperação ambiental;
Disponibilizar material didático em recuperação e gestão ambiental, auxiliando
na formação ético-moral com a introdução de estudos temáticos e os seus
fundamentos básicos;
Servir de orientação no estudo, na divulgação e na investigação dessa ciência,
de uma maneira didática e científica;
Identificar as inter-relações existentes entre degradação, recuperação
ambiental e desenvolvimento sustentável; e
Propor modelos de desenvolvimento capazes de não causarem degradação e
auxiliarem nos procedimentos de recuperação ambiental de maneira sustentável,
gerando emprego e renda com equidade social, conservando os recursos naturais e a
capacidade de regeneração dos ecossistemas, ou seja, promover o desenvolvimento
sustentável com o auxílio das ferramentas sugeridas pelos sistemas de gestão
ambiental.
A Degradação Ambiental pelo Fator Antrópico
Objetivo
Descrever a evolução da degradação ambiental promovida pelas atividades antrópicas
ao longo da História. Objetiva também:
Introdução
A perturbação e a degradação do solo, resultantes das atividades antrópicas, ocorre
desde tempos remotos, sendo que as causas que produziram tais distúrbios foram as
mais variadas. A demanda cada vez mais acentuada por terras férteis, planas e
agricultáveis, tem reduzido de forma acentuada as formações vegetais, pressionando
drasticamente os recursos naturais. A expansão demográfica atingiu grandes
proporções nestas últimas décadas, como pode ser observado no Quadro 1,
preocupando em termos de produção de alimentos que garantam a segurança
alimentar.
Ano PopulaçãoTaxa de
(milhões crescimento
de hab.) anual (%)
165 500 Não
0 disponível
180 900 0,16
0
Terceiro 30 1960
Quarto 15 1975
Quinto 11 1986
Sexto 9 1995
QUADRO 3 - Drenagem pluvial anual per capita de 10 países em 1983, com projeções
para 2000
Estima-se, atualmente, que 120 mil Km 3 de água doce com potencial de utilização pelo
homem, encontram-se contaminados; para 2050, espera-se uma contaminação de 180
mil Km3, caso persista a poluição. O problema se agrava quando ocorre contaminação
das águas subterrâneas, composta por várias substâncias ou elementos, dificultando
seriamente a sua recuperação. Mais de 1 bilhão de pessoas têm problemas de acesso à
água potável e 2,4 bilhões não têm acesso ao saneamento básico, aumentando os
riscos de contaminação, tanto das águas de superfície, como das subterrâneas. Em
função dessa realidade, a diversidade global dos ecossistemas aquáticos vem sendo
significativamente reduzida. Mais de 20% de todas as espécies de água doce estão
ameaçadas ou em perigo, devido, principalmente, ao desmatamento, com vistas à
abertura de novas fronteiras agropecuárias, construção de barragens e urbanização,
causando diminuição do volume de água e danos por poluição e contaminação
(UNESCO, 2003).
O capital natural
Os recursos naturais, de acordo com BELLIA (1996), são...”os elementos naturais
bióticos e abióticos de que dispõe o homem para satisfazer suas necessidades
econômicas, sociais e culturais”.
Então, o capital natural compreende todos estes recursos usados pela humanidade,
tais como o solo, a água, a flora, a fauna, os minérios e o ar. Abrange também, os
ecossistemas, tais como as pastagens, as savanas, os mangues, os estuários, os
oceanos, os recifes de coral, as áreas ribeirinhas, as tundras e as florestas tropicais.
Estes, em todo o mundo e num ritmo sem precedentes, estão se deteriorando e tendo
a sua biodiversidade reduzida, consequência da poluição ambiental gerada pelo atual
modelo de produção e desenvolvimento agropecuário, florestal e industrial (HAWKEN
et al., 1999).
Em todo sistema produtivo, para a manutenção dos sistemas vitais, ocorre o aumento
da produção de energia. Caso o sistema torne-se deturpado ou desordenado como
resultado de um estresse, natural ou antrópico, aumenta a entropia do sistema, ou
seja, passa a existir uma maior “desordem” (DIAS, 2003a). Dessa forma, cria-se um
obstáculo físico ou uma limitação para um sistema fechado e sustentável. O meio
ambiente tem a capacidade de converter os resíduos novamente em produtos não
prejudiciais ou ecologicamente úteis. Esta é a segunda função do meio ambiente:
assimilador de resíduos. Parte destes resíduos pode ser reciclado e convertido em
recurso. A partir dessa realidade, surge a terceira função do meio ambiente, como
fluxo de consumo (bens e serviços): fornecer utilidade diretamente na forma de prazer
estético e conforto espiritual - seja o prazer de uma visão agradável, o patrimônio
cultural, a ausência de ruídos ou os sentimentos proporcionados pelo contato com a
natureza (JACOVINE, 2002).
O fluxo circular é chamado também de modelo de equilíbrio dos materiais. A descarga
de resíduo em excesso, com relação à capacidade de assimilação dos ecossistemas,
causa danos à terceira função do ambiente, por exemplo, rios e ar poluídos. Dessa
forma, ficam identificadas as três funções econômicas do meio ambiente: fornecedor
de recursos, assimilador de resíduo e como fonte direta de utilidade (BELLIA, 1996;
JACOVINE, 2002).
Quando se visualiza essas questões sob a ótica econômica, a sustentabilidade para o
caso de recursos naturais renováveis, requer que a sua taxa de uso não exceda sua
taxa de regeneração e, também, a disposição de resíduos em determinado
compartimento ambiental não deve ultrapassar sua capacidade assimiladora.
Considerando os recursos não-renováveis, é preciso determinar sua taxa ótima de
utilização e buscar medidas alternativas ou compensatórias à redução de seu estoque,
como a substituição pelos recursos renováveis (PEARCE e TURNER, 1989). É preciso
que sejam adotados e conhecidos estes princípios, ainda na fase de planejamento das
diversas atividades produtivas, realizando, concomitantemente, projetos que
contemplem as questões ambientais.
De acordo com Godard (1990), apud VIEIRA e WEBER (1997), as práticas
sistemicamente orientadas de gestão deveriam em princípio garantir: a) por um lado,
sua boa integração ao processo de desenvolvimento econômico; e b) por outro,
assumir as interações entre recursos e condições de reprodução do meio ambiente,
organizando uma articulação satisfatória com a gestão do espaço e com aquela relativa
aos meios naturais. No caso específico da gestão de recursos naturais renováveis, este
princípio fundamental tem sido enriquecido pelos debates recentes envolvendo as
noções de viabilidade e de patrimonialidade.
Entretanto, tem-se observado, que o mau tratamento dos recursos naturais surge
porque não são conhecidos, em termos de preços, os valores para estas funções. São
funções econômicas porque todas têm valor econômico positivo, caso fossem
compradas ou vendidas no mercado. A inabilidade de valorar objetivamente os bens e
serviços ambientais é uma das causas do descaso gerencial (JACOVINE, 2002;
GRIFFITH, 2003). Deve-se, então, considerar os efeitos dos custos das externalidades
negativas.
Externalidades
Para CONTADOR (1981) externalidades são efeitos, favoráveis (desejáveis) ou
desfavoráveis (indesejáveis), no bem-estar de outras pessoas e empresas. Tais efeitos
são positivos, quando o comportamento de um indivíduo ou empresa beneficia
involuntariamente os outros, caso contrário, as externalidades são negativas. Segundo
esse mesmo autor, uma externalidade existe quando as relações de produção ou
utilidade de uma empresa (ou indivíduo) incluem algumas variáveis cujos valores são
escolhidos por outros, sem levar em conta o bem-estar do afetado, e além disto, os
causadores dos efeitos não pagam nem recebem nada pela sua atividade. Assim, de
acordo com REZENDE (s.d.), a provisão de bens e serviços para um grupo torna
possível a outro grupo receber algum benefício sem pagar por ele, ou incorrer em
prejuízos sem a devida compensação. Isso caracteriza os danos causados pelos
problemas advindos da utilização inadequada dos recursos em regime de livre acesso,
ou seja, na ausência de limitação e de controle de acesso, por exemplo, o ar
atmosférico.
Considerações
Como principais conseqüências da Revolução Industrial, destacam-se: a) a alteração
nos padrões de consumo e nos hábitos da população; b) a severa interferência nos
ecossistemas, pelo avanço da agropecuária para suprir a demanda por alimentos, em
face do maior crescimento da população; e c) a visão produtiva que deixou de ser
rural, sendo direcionada para o setor urbano, alterando as relações de trabalho e os
valores culturais. No meio urbano, provocou um inchaço populacional, transformando-
se em fonte de degradação humana e ambiental. Politicamente, provocou profundas
alterações. A política agrícola brasileira é conseqüência desse modelo, conhecido como
“Revolução Verde”, que produziu o êxodo rural e a concentração de terras
(FRIEDMAN, 1962).
As economias nacionais e mundiais, estatais e privadas, podem sobreviver por longos
períodos de tempo, em tais estados de desequilíbrio. Porém, para atingir o
desenvolvimento sustentável, torna-se importante estabelecer algumas condições
para a compatibilidade dessas economias e seu meio ambiente, posto que essas
perdas envolvem custos sociais e não devem ser ignoradas na avaliação de projetos
(JACOVINE, 2002). Isso porque a imprevisibilidade das alterações impostas aos
ecossistemas acima da sua capacidade de suporte, considerando a interdependência
entre economia e meio ambiente, a falta de cuidados na apropriação desses recursos
naturais podem alterar a sua qualidade, gerando impactos negativos e deseconomias.
Deve-se reconhecer o meio ambiente como um insumo escasso, portanto com custo
alternativo que não seja nulo (BELLIA, 1996).
Fatores de desequilíbrio
Para um perfeito equilíbrio no funcionamento de qualquer sistema ou atividade são
exigidas certas condições básicas. Entretanto, cabe considerar, que este equilíbrio é
relativo, posto serem dinâmicos. Assim, interferências externas podem agir
negativamente nos sistemas, alterando-os e promovendo a degradação ambiental e
humana.
O documento informa que a população mundial, que é hoje de 6,4 bilhões de pessoas,
"continua crescendo rapidamente: atualmente, em cerca de 76 milhões de pessoas por
ano". Segundo as projeções das Nações Unidas, até 2050 serão agregadas à população
mundial cerca de 2,5 bilhões de pessoas, quantidades equivalentes ao total da
população mundial em 1950.
"Há mais de 350 milhões de casais que continuam carecendo de acesso a serviços de
planejamento da família. Cerca de 137 milhões de mulheres querem adiar seu próximo
parto, mas não utilizam métodos de planificação da família; outras 64 milhões utilizam
métodos de menor eficácia" (ANSA, 2004).
Fonte: http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=16423
Política Agrícola
Política Agrícola
No Brasil, a Revolução Industrial teve seus reflexos mais drásticos no campo, a partir
da década de 30. Nas décadas de 50 e 60, acentua-se a crise do setor rural,
consequência do processo de industrialização do País, dentro da estratégia de
substituição de importações. O modelo de produção familiar era prejudicado,
principalmente, devido (VEIGA, 1995): a) à falta de subsídio e crédito, contrapondo-se
ao excesso de privilégios para o setor industrial urbano, para o qual os recursos
provenientes da agricultura eram canalizados; b) confisco cambial, câmbio
sobrevalorizado e outros impostos indiretos; e c) à queda dos preços dos produtos
agrícolas, manipulados intencionalmente para controle das taxas de inflação,
refletindo na queda de preços dos produtos da cesta básica; inclusive, perpetuando-se
até aos dias atuais, como pode ser observado na Figura 1.
Por esses motivos, a partir da década de 60, os grandes proprietários de terra,
passaram a investir na indústria, relegando às atividades agrícolas, um papel
secundário. Esse fato pode ser justificado pelo papel imposto ao setor agrícola:
fornecer capital e divisas para a expansão do setor industrial. Ao mesmo tempo, ainda
predominavam na agricultura brasileira, juntamente com os latifúndios improdutivos,
com terras férteis, na mão de um número reduzido de grandes proprietários, as
grandes propriedades agrícolas voltadas para a exportação; entretanto, apresentando
baixo nível de aproveitamento do solo e de produtividade. A política agrícola foi, e
ainda é, direcionada por grupos de interesses, que dominam os processos de
financiamento rural desde a pesquisa à concessão do crédito.
Assim, verifica-se nesse mesmo período, a exigência de excessivas funções e
contribuições pelo Governo, e também pela sociedade, do setor agropecuário
brasileiro, particularmente nas décadas de 60 a 80, tais como: a) aumentar a produção
e a produtividade; b) ofertar alimentos e matérias-primas a preços decrescentes; c)
gerar excedentes para exportação ampliando a disponibilidade de divisas; d) transferir
mão-de-obra para outros setores da economia; e) fornecer recursos para esses
setores; e f) expandir o mercado interno por meio da compra de produtos e bens
industrializados (HOMEM DE MELO, 1985; ALVES e CONTINI, 1987).
Nota-se nessas funções: a) o privilégio destinado ao setor industrial; b) a
despreocupação com a distribuição demográfica brasileira - privilegiando a
metropolização; e c) a ausência de preocupação com as conseqüências ambientais que
acompanhariam tais metas. Resumindo, a meta era o desenvolvimento econômico
baseado no aumento do Produto Interno Bruto (PIB), per capita, como sinônimo de
desenvolvimento econômico, o qual sob esse ponto de vista, raramente contempla a
sustentabilidade (RESENDE et al., 1996).
No final da década de 80 passa a dominar como objetivo maior do modelo de
produção e de desenvolvimento, a maximização econômica, com o aumento da
competitividade por meio da modernização das tecnologias adotadas, entretanto, com
um nítido apoio às grandes agroindústrias e empresas rurais, mantendo-se a estrutura
fundiária extremamente concentrada (GRAZIANO NETO, 1986; ALVES e CONTINI,
1987).
Por esses motivos, o modelo de produção familiar, ficou desamparado. Como último
recurso, a mão-de-obra abandonou o campo buscando emprego nas áreas urbanas. As
conseqüências foram o aumento do êxodo rural e dos preços dos produtos da cesta
básica, sem que tal aumento fosse em benefício do produtor. O direcionamento da
pesquisa pública nesse período, também confirma o privilégio ao modelo convencional
ou agroquímico (VEIGA, 1995; WEID, 1996).
O modelo de pesquisa
A expansão da agricultura no Brasil no período de 1950 a 1980 ocorreu às custas do
avanço contínuo da fronteira agrícola e com a introdução de técnicas de produção
intensivas em capital, propostas pelo pacote tecnológico da Revolução Verde, braço da
Revolução Industrial no campo. Tinha por objetivo a substituição de formas locais e
tradicionais de agricultura, por um modelo dependente de espécies geneticamente
melhoradas e bastante exigentes em agroquímicos, irrigação e mecanização. Esse
processo simplificado de produção e o domínio desse modelo representaram a
imposição de uma cultura sócio-econômica que alterou particularmente as formas de
uso e manejo dos recursos naturais utilizados pelas populações tradicionais do campo
(ALMEIDA et al., 2001; PÁDUA, 2003).
Populaçã Ano
o 1970 1980
1990
Milhões
de
habitantes
(%)
Rural 41,0 (44)
38,6 (32)
37,6 (25)
5% mais 28,334,137,9
ricos
1% mais 11,914,716,9
rico
Fonte: Anuários estatísticos do IBGE, em RESENDE et al., 1996.
O efeito indireto foi o aumento do número de consumidores que não são produtores.
A grande maioria dos migrantes era produtora de alimentos de subsistência, com um
pequeno excedente destinado ao mercado; a agricultura moderna era voltada para a
exportação ou produtos agroindustriais não alimentares, tais como álcool de cana, soja
e milho para ração animal. Como conseqüência, houve uma relativa queda na oferta
de alimentos com efeitos imediatos no custo de vida. Devido às precárias condições da
infra-estrutura básica urbana, proliferaram favelas em beiras de rio, com riscos de
alagamento e, nas encostas, com riscos de desabamento, além das condições
sanitárias e de habitação subumanas. Outra consequência, a exclusão da mão-de-obra,
deixando uma camada de 20 a 30% no desemprego ou subemprego, provocando a
redução no consumo de alimentos e o aumento da subnutrição dessa população
migrante, aumentando significativamente a criminalidade (HOMEM DE MELO, 1985;
GRAZIANO NETO, 1986; WEID, 1996; LACERDA et al., 2003). Outro sério problema
criado por esse modelo foi o processo de minifundização, como pode ser observado no
Quadro 6, que via de regra conduz à pauperização e à degradação, perpetuando-se o
ciclo que acelera o êxodo rural e ampliam-se os problemas urbanos.
Em Minas Gerais, a ACAR foi fundada em 1948 e, como nos Estados Unidos, apostava
na juventude rural para tentar alcançar seus objetivos. Com momentos de
favorecimento, a ACAR foi-se desenvolvendo por todo o Estado e, na década de 70,
por lei estadual, era criada a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER), que englobaria todos os trabalhos da ACAR, acrescentados os serviços de
comercialização e conservação dos recursos naturais, além de serviços sociais
(EMATER, 2003b; MAGALDI, 2003).
Na recente ênfase dada ao papel crescente dos mercados, em detrimento aos serviços
públicos, alguns países tentaram, sem sucesso, colocar a extensão rural numa base de
auto-sustentação. Dados os meios modernos de comunicação, é fácil tornar essas
informações disponíveis para todos que as considerem úteis, posto estas serem
essenciais para o funcionamento eficiente do mercado (OLIVEIRA, 1998; ALVES, 2001).
Atualmente, este tipo de relação está sendo alterado com o processo de implantação
dos programas de qualidade, onde se preconiza uma gestão participativa. Entretanto,
AMOROSO (1994) sugere que a mentalidade burocrática tradicional, prevalecente na
maioria das organizações, pode dificultar o gerenciamento de um processo de aliança
e parceria. Para (CAPORAL, 1991), pode-se entender que se a organização para a qual
o indivíduo trabalha, por algum motivo, dificulta que ele atinja essa meta, ele então
buscará satisfazê-la por meio das relações interpessoais, dentro do ambiente de
trabalho. Associando-se a indivíduos com os mesmos interesses e, ou, necessidades
dentro da sua instituição ou entre instituições afins, pode-se, a partir daí, haver
formação de grupos para viabilizar projetos e, ou, idéias.
Uma das principais limitações desse modelo é a baixa produtividade. Porém, caso
houvessem pesquisas voltadas para o modelo familiar, na mesma proporção
direcionada ao modelo agroquímico, provavelmente soluções já teriam surgido.
Apesar destas limitações, baixa produtividade e propensão à pauperização, o modelo
familiar obedece a um processo que o aproxima da dinâmica do meio ambiente. A
diversificação de culturas promove o aumento da biodiversidade, que é fundamental
para a sustentabilidade dos recursos naturais e do ecossistema como um todo (WEID,
1996; ZAMBERLAM e FRONCHETE, 2001).
De acordo com Alves et al. (2001), apud SANTO (2004), a renda obtida por produtores
deste modelo, tem sido o principal motivo que os obrigam a migrar para os centros
urbanos. Estes autores estudaram a situação dos produtores com menos de 100 ha,
que representam de 86% a 90% do número total de estabelecimentos (possuindo
apenas, aproximadamente, 20% da superfície total declarada), de acordo com os
últimos 7 Censos do IBGE, desde 1950. Considerando o critério de Renda Bruta
Familiar, apenas 36% dos estabelecimentos garantem uma remuneração igual ou
superior a dois salários mínimos. Quando o critério é Renda Líquida Familiar, apenas
16% atendem essa exigência. Nas regiões mais pobres, como nos estados do Nordeste,
este problema se agrava ainda de forma mais intensa.
Mediante a situação atual de degradação ambiental, que esta condição de renda pode
incrementar, um novo modelo precisa ser desenvolvido e implementado. Não só para
garantir a sustentabilidade, mas também para propiciar condições de recuperação de
áreas degradadas, de tal forma a reincorporá-las ao processo produtivo, evitando a
abertura de novas fronteiras de exploração, que inevitavelmente, reduzem e agridem
os recursos naturais.
A estratégia deverá ser sustentada por um tripé (SILVA, 2001; PÁDUA, 2003): a)
geração e difusão de tecnologias apropriadas; b) capacitação de todos os membros das
famílias rurais; e c) organização dos produtores. Uma ação sinérgica desses três
componentes mínimos poderá alterar a situação atual, na direção da sustentabilidade
do modelo familiar. Há que se considerar, também, a necessidade na definição de uma
política agrícola consistente e de longo prazo, tais como a liberação de financiamentos,
seguro, garantia de preço mínimo que cubra o custo de produção e uso de tecnologias.
Estas questões são preocupantes, posto que, de acordo com BORLAUG (2004), 85% do
crescimento futuro da produção terão de vir de terras já em produção. O potencial de
terras disponíveis é limitado. Deve-se, portanto, investir maciçamente em pesquisas,
visando o aumento de produtividade, com sustentabilidade.
As questões relativas a qual modelo adotar são bastante polêmicas, por interesses
diversos. Porém, nos países desenvolvidos, o combate à degradação do meio ambiente
vem sendo praticado há algum tempo. No Brasil, recentemente, a idéia
conservacionista tem crescido significativamente, amparada nas Constituições Federal
e Estaduais, no Código Florestal Brasileiro e nas Leis Estaduais. Tais medidas,
respaldadas na justiça, mostram a preocupação legislativa e popular em disciplinar o
uso dos recursos naturais, visando assegurar a conservação da qualidade do meio
ambiente, para todos os modelos de produção.
Impactos Ambientais
A perpetuação dos casos de degradação persiste, principalmente, em face da
priorização que o homem destina aos benefícios imediatos de suas ações, privilegiando
os lucros e o crescimento econômico a custos elevados e relegando, como fosse uma
questão secundária, a capacidade de recuperação dos ecossistemas (Godoi Filho,
1992 apud SILVA, 1998).
Assim, para COELHO (2001), os impactos ambientais são temporais e espaciais,
incidindo de forma diferenciada em cada ecossistema, alterando as estruturas das
classes sociais e reestruturando o espaço. Para a melhor compreensão de impactos
ambientais como processo, é necessário que seja compreendida a história sistêmica de
sua produção, o modelo de desenvolvimento adotado e os padrões internos de
diferenciação social.
Ao que tudo indica, existe uma correlação negativa entre a taxa de crescimento de
uma população humana e a sua qualidade de vida. Dessa forma, as questões
macroeconômicas de distribuição de riqueza, recursos e tecnologia, devem caminhar
como prioridade no plano das preocupações mundiais. Cabe considerar, entretanto,
que as questões religiosas e éticas, bem como as disputas territoriais, devem ser
valorizadas. Dessa forma, a relação ser humano-meio ambiente, deve ser considerada
uma questão preocupante e central (LIMA-E-SILVA et al., 1999; PNUD, 2003).
Decorre do mesmo texto que o estudo de impacto ambiental será obrigatório para as
obras ou atividades potencialmente causadoras de significativo impacto ambiental. O
estudo de impacto ambiental deve ser prévio. As exceções são aquelas atividades
iniciadas anteriormente à Resolução CONAMA 01/86, que dependem do licenciamento
corretivo.
Sistema AMBITEC
Sistema de Avaliação de Impactos Ambientais de Inovações Tecnológicas nos
Segmentos Agropecuários, Produção Animal e Agroindústria (Sistema AMBITEC)
Trata-se da apresentação do Sistema de Avaliação de Impacto Ambiental de Inovações
Tecnológicas (Sistema Ambitec) para os segmentos: agropecuário (Ambitec-Agro),
produção animal (Ambitec-Produção Animal) e agroindústria (Ambitec-Agroindústria).
Metodologia de avaliação de impactos ambientais, anteriormente direcionada
somente ao segmento agropecuário (lavouras, reflorestamentos e pastagens) é
complementada por módulos aplicáveis aos segmentos do agronegócio relativos a
produção animal e agroindústrias. O Sistema Ambitec compõe-se de planilhas de
aplicação simples e de baixo custo, utilizando indicadores de impacto da inovação
tecnológica ponderados segundo a escala de ocorrência e a importância. Os impactos
são mensurados para cada componente da estrutura por coeficientes de alteração que
variam entre –3 e +3 dependendo da intensidade da alteração.
Todas as informações são obtidas (entrevista/vistoria) junto aos produtores
/responsáveis pela atividade à qual se aplica a inovação tecnológica em avaliação.
Considerações
Todos os procedimentos envolvidos na AIA constituem um importante componente
das decisões referentes aos programas dos mais diversos setores que envolvem as
atividades potencialmente capazes de provocar impactos ambientais. Considerando a
urgência de controlar os processos já instalados de degradação e, principalmente,
prevenir novos riscos de depauperamento de todos os compartimentos e
componentes envolvidos, a AIA constitui uma importante ferramenta.
Assim, problemas que surgiriam ao longo do processo produtivo podem ser evitados
ou mitigados. Entretanto, para que os resultados sejam efetivos, as análises de
impactos ambientais não devem se restringir apenas à listagem dos problemas
ambientais devendo avaliar profundamente as transformações espaciais, sociais,
política e cultural, dada a sua importância nas alterações físicas, biológicas e químicas
do ambiente. Uma das opções é a utilização do método comparativo, utilizando-se de
mapas e relatórios de diferentes épocas, possibilitando identificar a evolução, a
distribuição e a interpretação dos processos ambientais.
A ordenação do território por meio de estratégias como o ZEE e o ZGUA podem ser um
forte aliado. Realizada dessa forma, mais investigadora, a AIA pode ser considerada um
importante instrumento de execução da política e de gestão ambiental, portanto, de
recuperação ambiental. Para isso, entretanto, deverá ser procedida com o adequado
licenciamento ambiental.
Atividades 123456
Problema comum XXXXXX
XXXXXX
Grandes áreas
de cultivo XXXX
Uso X
indiscriminado
de
medicamentos
e, ou,
agroquímicos
Implantação
de grandes
maciços
florestais
Sistemas
exploratórios
concentrados
e, ou
intensivos
Característica XXXXXX
XXXXXX
Uso intensivo
de XXXX
agroquímicos XX
e, ou, insumos
florestais
Uso intensivo
de
medicamentos
e, ou, insumos
Grande
produção de
dejetos e, ou,
resíduos
agroindustriai
s
Demanda por
água de
irrigação
Principais Impactos XXXXXX
XXXXXX
Contaminação
ambiental da XXX XX
água e do solo XXX XX
Contaminação XX
de alimentos XX
Fator de risco
à saúde
animal e
humana
Aumento do
consumo de
água,
causando
conflitos com
usos
antrópicos e
com o
ambiente
Carreamento
sazonal de
agrotóxicos,
contaminando
o solo, água e
lençol
Rebaixamento
do nível do
lençol
freático, dos
rios e dos
reservatórios
Medidas Mitigadoras XXXXXX
e, ou, recuperadoras XXXXXX
XXXXXX
Tratar dos
resíduos por XXXXXX
meio de XXXXXX
tanques de XXXXXX
decantação XXXXXX
Racionalizar o XXXX
uso de XXXX
medicamentos
XX X
e, ou, insumos
Racionalizar o
XX
consumo de
água, visando
diminuir a
produção de
volume de
resíduos e, ou,
dejetos
Associar o uso
de dejetos à
palhadas de
culturas para a
produção de
composto
orgânico.
Usar dejetos
associados ou
não a
palhadas em
substituição a
fertilizantes
minerais
Usar técnicas
de manejo
integrado de
pragas e
doenças
Dar destino
adequado aos
resíduos
agroindustriai
s
Manter a
vegetação
nativa nas
áreas de
recarga dos
lençóis e
respeitar as
matas ciliares.
Adotar
tecnologias de
baixo
consumo de
água
Usar técnicas
de
conservação
de água e solo
Racionalizar o
uso de
agrotóxicos
por meio de
receituário
agronômico
Fonte: compilados de SCHAEFER et al., 2000.
Recuperação Ambiental
Objetivo
O objetivo desse capítulo é analisar o início dos procedimentos de recuperação
ambiental no Brasil e a sua evolução até aos dias atuais. Dessa forma, pretende-se
justificar a sua necessidade e os principais passos que deverão ser observados para o
seu sucesso. Objetiva também:
Conhecer metodologias para a identificação dos estádios de degradação e
ferramentas para o seu diagnóstico e monitoramento;
Verificar a interligação e a interdependência entre os recursos naturais e os
aspectos sócio-econômicos nos procedimentos de recuperação;
Visualizar a importância da interdisciplinaridade nas pesquisas relacionadas à
recuperação ambiental; e
Prever e antecipar a elaboração da implantação de sistemas de gestão
ambiental que permitam a sua efetividade e durabilidade ao longo do tempo.
Introdução
Os conhecimentos atuais ainda são tênues em relação à necessidade de se
desenvolver uma nova ordem, para sobreviver e prosperar no século XXI. As notícias
ruins são que os problemas com os ecossistemas da Terra, tanto hoje como no futuro,
são enormes. O espírito empreendedor humano realmente desenvolveu um risco
considerável para o planeta. As boas notícias são que as oportunidades atuais são
imensamente maiores. Para desenvolvê-las e colhê-las, precisa-se propor mudanças
importantes nos modelos de educação, de produção e de gestão.
Para BERNARDES e FERREIRA (2003), vale ressaltar alguns eventos internacionais que
envolvem a política ambiental e a tomada de consciência sobre a importância deste
assunto em nível global. O desastre ocorrido na Baía de Minamata, no Japão, detonou
a solicitação sueca para uma reunião mundial com vistas ao modelo de
desenvolvimento e às questões ambientais. Foi realizada em Estocolmo, em 1972, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, que teve como ponto
marcante a contestação às propostas do Clube de Roma sobre o crescimento zero para
os países em desenvolvimento. Porém, ficou reconhecido por toda a comunidade
internacional, em função de comprovações científicas, a vinculação entre
desenvolvimento e meio ambiente, sendo aceita a consideração que é
responsabilidade majoritária dos países desenvolvidos a contaminação do planeta.
Foram criados programas e comissões importantes tais como o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente
e o Desenvolvimento (CMMAD), estabelecendo o assunto definitivamente na agenda e
nas discussões da ONU. A mais importante reunião, depois de Estocolmo, foi a
Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92), que promoveu
definitivamente a internacionalização da proteção ambiental e das questões ligadas ao
desenvolvimento, como também a necessidade de recuperação de áreas degradadas.
Dessa forma, em vista de novos níveis de prosperidade - que podem ser sustentados
econômica, ecológica e socialmente - conquista-se crescentemente maior número de
pessoas em seu serviço. Entretanto, para atingir tais objetivos, faz-se necessário a)
assumir novas estratégias; b) estabelecer compromissos mais fortes; e c) investir em
trabalhos que evidentemente são difíceis, como intensificar as pesquisas para
aprender mais sobre recuperação e gestão ambiental.
Percebe-se, ao longo dos últimos 30 anos, nos países desenvolvidos e no Brasil, que a
qualidade e quantidade de áreas degradadas recuperadas têm sido significativamente
aperfeiçoadas. A sociedade expressa sua determinação exigindo e fiscalizando o fim de
práticas industriais e de uso do solo e da água que causem degradação ambiental em
longo prazo, por meio de numerosos regulamentos federais, estaduais e locais. A
indústria, aos poucos, vem aceitando a responsabilidade para a mitigação dos
impactos negativos e a recuperar danos causados aos sistemas ambientais. Resultados
bem sucedidos de recuperação estão sendo divulgados mensalmente em jornais,
revistas, TV e pela “internet”. Infelizmente, algumas concepções erradas ainda
persistem, relativas a abusos ambientais praticados por alguns setores das atividades
produtivas, baseadas em hábitos do passado (TOY e DANIELS, 1998; TOY et al., 2002;
GRIFFITH, 2002).
Contudo, observa-se, e há que se considerar, que leis podem ser inócuas caso não seja
trabalhada a educação ambiental nas comunidades com respeito às suas diversidades
culturais; além da efetiva conscientização dos dirigentes, na tomada de decisão para
novas políticas públicas, que devem exigir, entre outros: a) o licenciamento ambiental
para a implantação de qualquer atividade passível de produzir poluição/degradação; b)
maior rigor na fiscalização; c) ampliação no monitoramento das atividades produtivas;
d) a educação ambiental; e e) a implantação de sistemas de gestão ambiental
integrada com a comunidade.
Assim, serão demonstrados por meio de um Estudo de Caso, os passos que deverão
ser observados para a recuperação de uma área degradada pela mineração
Art. 2° - Para efeito deste Decreto são considerados como degradação processos
resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem
algumas de suas propriedades, tais como a qualidade ou capacidade produtiva dos
recursos ambientais.
Art. 3°. - A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma
forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo,
visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente”.
Existem várias críticas com relação à legislação. Uma delas, é aquela de que deveria ser
introduzida no formato da apresentação do PRAD - Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas, a exigência dos aspectos sócio-econômicos para o “fechamento da mina”
e a demonstração dos recursos com que a reabilitação será realizada (MEYER e
RENARD, 1991). Para DIAS (2003b), o PRAD ou Plano de Fechamento deveriam
funcionar como documentos norteadores, com a exigência pelos órgãos fiscalizadores
de sua atualização periódica, posto a velocidade do desenvolvimento de novas
metodologias e, também, visando atender os recentes apelos sociais.
Embora a maior parte das pesquisas e resultados seja baseada em experiências com
solos de mineração de superfície, os princípios são aplicados para outros tipos de
perturbações de solos, tais como pedreiras, lavra de rochas ornamentais, mineração
de metal, estrada, industrial e construção urbana/residencial. Áreas agropecuárias e
florestais degradadas pelo uso intensivo de agroquímicos, também podem adotar
procedimentos semelhantes.
Observações complementares
As exigências atuais do estudo de impactos ambientais (EIA) e o respectivo relatório de
impacto ambiental (RIMA), bem como o plano de recuperação de áreas degradadas
(PRAD) ou Plano de Controle Ambiental (PCA), necessários para a obtenção da licença
de exploração, não são garantias exclusivas para o sucesso da recuperação, não
significando necessariamente, que todos os problemas ambientais da área estarão
solucionados. Os procedimentos de recuperação, para que sejam efetivos, poderão ser
medidos por concepções e metas de longo prazo, inclusive considerando: a) a
cobertura e diversidade vegetativa (deve-se optar por um grande número de espécies,
evitando um grande número de indivíduos da mesma espécie); b) o tempo de resposta
hidrológica; c) e o retorno do local para uso produtivo. Então, os especialistas em
recuperação, devem ser versáteis e adotar novas e mais efetivas abordagens, para
atingir suas metas de recuperação em longo prazo, como a adoção de sistemas de
gestão ambiental (TOY e DANIELS, 1998; TOY e GRIFFITH, 2003).
Desenvolvimento Sustentável
Objetivos
O objetivo principal deste capítulo é identificar a importância da recuperação e gestão
ambiental no contexto de desenvolvimento sustentável. Para isso, é necessário que
sejam conhecidas as questões ambientais atuais, para que possam ser traçadas as
diretrizes necessárias que possibilitem o fim dos processos que geram degradação,
com vistas à sustentabilidade. Objetiva também:
Conceitos
Ø Visão econômica/antropocêntrica
Define-se o desenvolvimento “como as modificações da biosfera e a aplicação dos
recursos humanos, financeiros, vivos e inanimados, que visam a satisfação das
necessidades humanas e a melhoria da qualidade de vida do homem” (MACEDO et al.,
2000).
Ø Visão ecológica/ecocêntrica
Em 1987, a Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela
ONU em 1983, onze anos depois da Conferência de Estocolmo, publicaram um
relatório intitulado “Nosso Futuro Comum”, sendo iniciado um processo de debate
sobre as questões ambientais e o desenvolvimento, aonde, apesar do homem ser o
centro das preocupações, começou a preocupação com as gerações futuras e da
consciência que a sua qualidade de vida é dependente da qualidade do meio ambiente
(BRUNTLAND, 1987). Esse relatório contém a definição a respeito de desenvolvimento
sustentável mais divulgada e reconhecida mundialmente: “é o conjunto de ações que
geram processos de transformações na exploração dos recursos naturais, na direção
dos investimentos e na orientação do desenvolvimento tecnológico com vistas a
garantir a expectativa e o potencial de vida presente e das gerações futuras”.
Diretrizes necessárias
Na prática, é preciso que ocorra uma mudança em todo o campo organizacional (meio
em que ocorre a evolução das práticas ambientais dentro do contexto social, político e
econômico, tais como ONGs, grupos de base e comunitários com mínima organização
formal) e nas práticas educacionais que visem transformações sólidas e duradouras.
Para isso, entre outros, faz-se necessário: a) uma melhor distribuição de renda,
visando a superação da pobreza e das desigualdades que dela emerge; e b) a
participação e controle social do desenvolvimento, que exige o surgimento de
lideranças locais, nacionais e mundiais, determinadas e confiáveis. Devem ter a
iniciativa de propor posicionamentos mais coerentes com esse apelo por mudanças,
necessitando, portanto, de uma visão estratégica do desenvolvimento em longo prazo,
que implicam no projeto de uma gestão mais integrada dos recursos naturais e do
meio ambiente (GODARD, 1997; HOFFMAN, 1997).
Para BUTTEL (1998), é necessário que haja uma prática sociorregulatória decorrentes
de uma regulação ambiental dentro de uma nova visão de sustentabilidade.
Para CUNHA e COELHO (2003), é difícil visualizar todas as idéias que contribuíram para
moldar a política ambiental brasileira das últimas décadas. A opção foi priorizar alguns
campos de debate: a) considerando a relação com as políticas públicas que serão agora
discutidas; e b) a relevância dessas idéias “na construção de uma percepção crítica da
atuação do Estado na regulação do uso dos recursos naturais no Brasil”. O que pode
ser questionado é o papel do Estado na regulação do comportamento de indivíduos e
grupos sociais com relação ao uso da base de recursos naturais. As divergências entre
essas abordagens, de acordo com essas mesmas autoras, podem ser resumidas em
dois aspectos principais:
CUNHA e COELHO (2003), explicitam que até meados da década de 1980, cabia ao
Estado ditar, de forma centralizada, a política ambiental a ser seguida no Brasil.
Somente a partir dessa época, o processo de formulação e implementação da política
ambiental no país “passou a ser, cada vez mais, produto da interação entre idéias,
valores e estratégias de ação de atores sociais diversos, num campo marcado por
contradições, alianças e conflitos que emergem da multiplicidade de interesses
envolvidos com o problema da proteção do meio ambiente”. Ou seja, está havendo,
nessa fase de transição, transformações das estruturas sociais, de seus símbolos e de
seus paradigmas. Afirmam, entretanto, que “a esfera estatal continua sendo a
instância em que se negociam decisões em que conceitos são instrumentalizados em
políticas públicas para o setor”. Comentam ainda, que apesar dos avanços verificados
“nas decisões e ações ambientais participativas, encabeçadas e patrocinadas pelo
poder público, o Estado continua a formular e implementar políticas antagônicas. Dita
tanto normas e regras de proteção ambiental quanto estabelece leis contraditórias de
incentivos fiscais e creditícios ou de criação de reservas legais no interior das
propriedades (rurais), que acabam por contribuir para acelerar os processos de
exploração florestal e de devastação dos demais recursos naturais”.
Esse fato é evidenciado na prática, posto que as políticas públicas brasileiras voltadas
para a proteção e conservação ambiental, ainda são insuficientes e ineficientes, por
exemplo, com relação à biodiversidade: foi o caso da Mata Atlântica no passado e tem
sido a história atual da Floresta Amazônica. De acordo com DIEGUES (1997), a
ocupação da região amazônica demonstra essa realidade, onde o próprio Estado criou
políticas e mecanismos de incentivos fiscais que acabaram contribuindo para o
agravamento dos processos de degradação ambiental.
Nessa obrigação constitucional está a instituição da política agrícola, a qual deverá ser
planejada e executada na forma da lei, com participação efetiva do setor de produção,
envolvendo trabalhadores rurais, setores de comercialização, armazenamento e de
transportes (artigo 187 da Carta Magna).
A política agrícola foi instituída pela Lei 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que fixou os
seus fundamentos, definiu objetivos e competências institucionais, previu recursos e
estabeleceu suas ações e instrumentos, relativamente às atividades agropecuárias,
agroindustriais e de planejamento das atividades pesqueiras e florestais (artigo 1º). Em
vários de seus dispositivos, encontra-se alusão à proteção do meio ambiente,
começando pelo artigo 2º, o qual dispõe que a política agrícola se fundamenta em
vários pressupostos, entre eles, o da observância da função social da propriedade. Ou
seja, nos termos do artigo 186 da Constituição Federal, esta é cumprida quando a
propriedade rural atende à utilização adequada dos recursos disponíveis e à
conservação do ambiente.
É interessante observar que a citada lei tem um capítulo inteiro dedicado à proteção
do meio ambiente e à conservação dos recursos naturais (Capítulo VI), onde determina
ao Poder Público: "Integrar o governo em todos os seus níveis com as comunidades na
preservação do meio ambiente e conservação dos recursos naturais; realizar os
zoneamentos agroecológicos; recuperar áreas em processo de desertificação;
desenvolver a educação ambiental; fomentar a produção de sementes e mudas de
espécies nativas e conservar as nascentes por meio de programas (artigo 19º)".
Deverá, ainda, o Poder Público proteger as bacias hidrográficas (artigo 20º), bem como
prestar serviços e aplicar recursos em atividades agrícolas por meio de manejo racional
dos recursos naturais (artigo 22º).
De acordo com REIGOTA (1997), o caráter social que representa essa liderança
transparece na função específica que elas desempenham na comunidade, como a de
contribuir para os processos de formação de condutas e de orientação das
comunicações sociais. Dessa forma, as representações sociais equivalem a um
conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes
grupos, que, por meio delas, compreendem e transformam a realidade.
Entretanto, para NARDELLI (2001), a fase atual difere de outras pelo fim do
antagonismo entre desenvolvimento e meio ambiente. O setor empresarial, por
exigências de mercado e por essa emergente consciência ambiental, passou a
considerar a variável ambiental como uma variável de mercado, atuando, então, como
um diferencial que favorecesse o aumento da sua competitividade e, não
simplesmente, como um custo adicional ou uma exigência legal. Para esta mesma
autora, foi essa nova realidade que impulsionou todos os esforços para que
efetivamente ocorresse uma mudança no campo organizacional e, a adesão aos
sistemas voluntários de certificação, que o setor florestal adotou recentemente, como
forma de que funcione como um instrumento para conferir credibilidade e garantia
aos diferentes membros do campo organizacional, é uma dessas confirmações. Porém,
afirma que ainda existem conflitos culturais entre os grupos que representam os
interesses sócio-econômicos e ambientais.
Dessa forma, as organizações preocupadas com o seu sucesso, que dentro dessa nova
visão, depende da avaliação de suas atitudes tanto internas quanto externas, vêm
buscando se adaptarem ao meio na qual estão inseridas, visando moldar os seus
processos produtivos àquela realidade que seja favorável as comunidades e ao meio
ambiente. Provavelmente, tal procedimento garantirá o mercado e a perpetuidade
dessas organizações. Porém, como a transformação ambiental não é exclusivamente
estrutural, envolvendo a necessidade profunda de comportamentos, será então a
cultura organizacional que irá determinar os fundamentos, a profundidade e a
permanência desses novos comportamentos (NARDELLI, 2001).
Para estes mesmos autores, um mapa com detalhamento dos solos da área em que
será implantado um sítio urbano, deve ser considerado um instrumento mínimo para
que sejam evitados futuros impactos ambientais. Também, é ideal que se tenha mapas
da declividade, geomorfológico, geológico, que possibilitarão o cruzamento de
informações por meio de um Sistema de Informações Geográficas (SIG), obtendo-se
uma idéia precisa da susceptibilidade do meio físico à erosão e, ou, movimentos de
massa. Relacionados aos aspectos jurídicos e políticos, em 13 de janeiro de 1988
“tramitou em plenário da Câmara dos Deputados uma emenda que teve por objetivo
introduzir, entre as competências da União, a de elaborar e executar planos de
ordenação do território”, revelando preocupação com a distribuição da população e de
suas atividades, “com a observância de uma criteriosa e racional utilização dos
recursos naturais decorrente de uma política de Estado que objetiva harmonizar o
desenvolvimento econômico com a ocupação do território, abrangendo uma gama de
fatores urbanos, rurais, de localização industrial, reforma agrária, conservação e
proteção do meio ambiente”, entre outros.
Com as políticas públicas voltadas para o meio rural, de acordo com WEID (1997), para
que atendam as reais necessidades requeridas para o desenvolvimento sustentável,
devem ser direcionadas no sentido de promoverem: a) o acesso à terra, com modelos
de associativismo e cooperativismo, incluindo educação ambiental como estratégia de
difusão de tecnologia, visando tirar a reforma agrária da crítica do desastre ambiental;
b) questões no campo técnico e do manejo e conservação dos recursos, visando a
mudança do modelo convencional de agricultura para outro que valorize os
conhecimentos e a cultura local, com baixo uso de insumos energéticos e de alta
diversidade ecológica; c) questões de pesquisa e do conhecimento - exige nova
organização em sua execução, posto não poder ser feita em laboratório e nem
universalizada, tendo como elaboradores os produtores, os pesquisadores e os
técnicos; d) questões econômicas - deve atender os quesitos da sustentabilidade e
possibilitar a ascensão do produtor; e) alterações no plano ideológico - apesar do meio
científico estar culturalmente ligado ao modelo convencional, a agricultura familiar
deve aproveitar o momento de busca pela naturalidade e passar a receber o suporte e
o direcionamento de políticas públicas como o Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (PRONAF); e f) perspectiva político-organizativa - a política
ideológica deve ser no sentido da incorporação de práticas agrícolas alternativas, como
a agroecologia, pelas organizações representativas.
Definição
A ISO (International Organization for Standardization) desenvolveu uma série de
normas para gestão ambiental. Define o SGA como “a parte do sistema de gestão
global, que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento,
responsabilidade, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver,
implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental de uma
organização” (NBR ISO 14001, 1996).
A ISO 14.000 é uma série de normas editadas pela ISO, com a finalidade de padronizar
a implementação voluntária de sistemas de gestão ambiental. “O Sistema de Gestão
Ambiental (SGA), como parte da administração geral, é a estrutura que orienta,
segundo a visão institucional, o empenho ambiental da organização que incentiva
respostas sinérgicas para as oportunidades e os riscos apresentados pela
globalização”. Nesse conceito, o SGA exige que a organização tenha uma visão do
futuro, um desenvolvimento duradouro e sustentável, requerendo uma compreensão
sistêmica dos seus processos. Dessa forma, o respeito às normas contidas na série ISO
14000, “fornecem à administração os instrumentos necessários para o gerenciamento
dos principais impactos ambientais da operação de um empreendimento, no que se
refere às atividades, produtos e serviços” (NARDELLI e GRIFFITH, 2000).
Apenas no ano de 1999, o número de empresas brasileiras com SGA, certificado pela
série ISO 14000, aumentou em 87,5%. A empresa que obtém o certificado ISO 14001,
que é a norma de especificação do modelo SGA, deverá apresentar uma melhoria
contínua de suas metas e objetivos ambientais, condição observada durante as
auditorias realizadas periodicamente (a cada seis meses), para a verificação do seu
cumprimento (GESTÃO e NEGÓCIO, 2003).
Toda empresa que vise a exportação deve possuir esse certificado. Funciona como um
atestado de que o seu sistema de gestão está adequado com as normas e com as
exigências ambientais nacionais e internacionais.
Objetivos
Para BELLIA (1996), o objetivo básico da gestão, considerando a consciência de que os
recursos naturais são finitos, é a obtenção dos maiores benefícios por meio da
aplicação dos menores esforços. Dessa forma, o indivíduo, a comunidade e as
empresas, buscam otimizar o uso dos recursos disponíveis, sejam eles de ordem
financeira, material ou humana. Para GODARD (1997), a gestão de um sistema tem por
objetivo assegurar seu bom funcionamento e seu melhor rendimento, mas também
sua perenidade e seu desenvolvimento.
O SGA busca melhorar o desempenho ambiental e a operacionalização de uma
organização, levando a empresa a adotar uma postura preventiva ao invés de
corretiva. Dessa forma, são evitados os desperdícios, por meio da redução no uso de
matéria-prima e da prática de reciclagem dos resíduos. Com essa medida,
economizam-se recursos e a própria produção de resíduos, reduzindo os impactos ao
meio ambiente (GESTÃO e NEGOCIO, 2003).
Existe uma relação direta entre gestão ambiental e desenvolvimento sustentável, para
qualquer atividade. Devem gerar riquezas, contudo, sem se opor à responsabilidade
ambiental e o valor social. Isso significa centrar forças num novo projeto de sociedade,
no qual a proteção e a filantropia deram lugar à participação cidadã das empresas
rumo à transformação social. A ética, a transparência e a responsabilidade social
devem ser a prioridade das organizações mais avançadas: esses conceitos, antes
restritos ao universo do terceiro setor, são hoje, debatidos no mais alto nível das
corporações. As organizações só serão capazes de sobreviver no mundo globalizado,
caso tenham a capacidade de aliar à eficácia técnica e operacional de suas estruturas,
um senso profundo de responsabilidade social. Dessa forma, haverá o processo de
transformação social e de fortalecimento da cidadania, para que as empresas não
sejam rejeitadas pela sociedade – consumidores, clientes, funcionários e opinião
pública. Portanto, a implantação de um SGA deve estar fundamentada e apoiada em
três pilares, que garantirão que esta seja viável em seus aspectos econômicos, sociais
e ambientais:
Aspecto econômico - não existe nenhum tipo de questionamento com a
importância de sua relação, posto ser o princípio básico à sobrevivência de
qualquer atividade do setor produtivo;
Aspecto social - passou a ser incorporado recentemente, já dentro dos
princípios de desenvolvimento sustentável, no sentido de que a sociedade
aceite a forma de trabalho e a sua remuneração, onde haja ética e
transparência. Por exemplo, é inadmissível o trabalho escravo ou infantil; e
Aspecto ambiental - seu mais novo componente, que associado ao grande
déficit social, é fundamental a sua observância para a imagem e a sobrevivência
da empresa, no longo prazo.
Considerando a importância no fortalecimento desses três aspectos, a gestão
ambiental tende a evoluir do controle centralizado e rígido e do planejamento
ineficiente atual, para uma linha de ação que induza a cooperação de um grande
número de atores com um comportamento coerente e participativo, contudo, sem a
necessidade de constituir uma organização formal. Assim, um dos entraves que devem
ser superados para que ocorra a gestão ambiental de uma forma eficiente, deve ser a
descentralização de poder, visto que a maioria da população fica vulnerável aos grupos
de interesses econômicos dominantes, não conseguindo impor suas reais
necessidades. Para MONTGOLFIER e NATALI (1997), a descentralização oferece
importantes espaços de manobra para a implantação de procedimentos de gestão
patrimonial, na mediada em que ela amplia a responsabilidade direta dos agentes do
setor público sobre aquilo que configura a qualidade cotidiana da vida em suas
comunidades, seus estados ou suas regiões.
Por meio deste viés relacionado à qualidade de vida, pode-se esperar que sejam
efetivados procedimentos de gestão próximos dos procedimentos de gestão
patrimonial em regime de propriedade comum, do que os procedimentos clássicos de
gestão em regime de propriedade estatal, colocadas sob a responsabilidade de
administrações centralizadas, e onde cada uma delas acaba atuando como um mono-
ator em seu domínio específico de competência. Para isso, a participação deve ser
pensada em todos os seus níveis: a) nos processos de formulação das políticas e nas
estratégias de gestão ambiental descentralizada das instituições públicas; e b) nas
etapas de implementação dos projetos (CUNHA e COELHO, 2003).
Dessa forma, as empresas, de grande e pequeno porte, devem investir em SGA não só
preocupadas com a relação benefício-custo. Existe, pelo menos, duas questões a
serem consideradas:
A questão legal - desde 1981, fortalecidas com a constituição de 1988, o Brasil
é um dos países do mundo onde as leis ambientais estão entre as mais
completas e exigentes. Por esse motivo, o argumento do não conhecimento
das leis não serve de subsídio a crimes ambientais; e
A questão social - a imagem perante a sociedade, inclusive para a manutenção
do próprio negócio, posto que a sociedade já não aceita compactuar com
empresas constantemente envolvidas em escândalos ambientais. O que tem
sido observado nas empresas que valorizam as questões sociais, é o retorno em
forma de lucro.
A Agenda 21 brasileira incentiva o planejamento e a gestão participativa para o
desenvolvimento local, com a participação de todos os atores sociais, dando
autenticidade e autonomia às comunidades no caminho do desenvolvimento de suas
economias, na geração de renda e emprego, na proteção ambiental e justiça social
(SEABRA, 2003).
Nos últimos dez anos, no Brasil, o modelo de gestão das bacias hidrográficas, adotados
na legislação brasileira com a criação do Sistema Nacional de Gerenciamento dos
Recursos Hídricos, pela Lei 9.433/97 (Lei das Águas) e regulado pelo Decreto 2.612/98,
é baseado nos pressupostos do co-manejo e da descentralização das tomadas de
decisão. A abordagem tradicional sempre foi realizada de forma compartimentada e
não integrada. Com o conceito de bacia hidrográfica como unidade de planejamento e
gerenciamento de recursos hídricos, representou um avanço conceitual importante e
integrado de ação. Nesse sentido, os comitês de bacia e as agências de água
representam (re) arranjos institucionais com o objetivo de conciliar interesse diversos
e muitas vezes antagônicos, assim como controlar conflitos e repartir
responsabilidades (SILVA, 2002; CUNHA e COELHO, 2003; TUNDISI, 2003).
Desta perspectiva, “a promoção de uma gestão integrada de recursos naturais e do
meio ambiente pode nos levar não só ao questionamento de certas modalidades
técnicas de exploração, mas também estimular a busca de transformações das
condições sociais que cercam seu exercício. A simples gestão de recursos naturais
pressupõe certamente que se possa apreender ao mesmo tempo os aspectos técnicos
e sócio-institucionais do processo de desenvolvimento” (GODARD, 1997).
Para isso, NARDELLI (2001) afirma que as empresas não devem ter apenas a
preocupação com o cumprimento dos requisitos legais ou com sua imagem, quando no
fundo o objetivo principal é aferir lucros, provenientes do possível retorno
proporcionado pelo “marketing verde”; portanto, sendo conflitantes com os interesses
de conservação ambiental e da geração de benefícios sociais. Essa mesma autora
comenta, citando Coelho (2000), que para muitas empresas, o meio ambiente é a
principal preocupação e a última prioridade. Ou seja, a inserção do setor empresarial
no ambientalismo não é resultado de sua conscientização ambiental, mas sim de uma
motivação econômica.
A formação, o fortalecimento e o uso de uma imagem ambiental positiva, para que
sejam legítimos, deverão ser sustentados por atitudes e compromissos reais por parte
da organização, tais como: a) a adoção de tecnologias limpas que minimizem os
impactos ambientais negativos; b) a economia de matérias-primas e outros insumos; c)
o aproveitamento de subprodutos; d) a otimização de processos; e e) menores custos
com o tratamento e a disposição de resíduos. Isto exige que a gestão dos sistemas
produtivos permaneça sempre sensível às limitações e oportunidades de cada
ecossistema natural. Portanto, devem ser bem visualizadas pelas organizações, qual a
maneira como planejam e implementam suas estratégias e táticas para percorrer esses
caminhos que irão influenciar o sucesso ou o fracasso de sua gestão ambiental, em vez
de buscar falsas vantagens competitivas mediante a superexploração dos recursos e,
ou, uma política salarial desfavorável à força de trabalho local (Galopin,
1988 apud SACHS, 1997; NARDELLI, 2001).
Observa-se, entretanto, que para atingir esse objetivo, é necessário que as
organizações dediquem os seus esforços administrativos e gerenciais para fora de seu
espaço físico de atuação e do seu quadro de funcionários. Deve trabalhar com a
comunidade local por meio da criação e formação de lideranças conscientes, de tal
forma que possibilite o desenvolvimento de relações físicas, biológicas, políticas, sócio-
econômicas, tecnológicas e culturais inseridas no contexto dessa comunidade, gerando
um maior envolvimento empresa/comunidade, que garantirão a estabilidade
ambiental e social da região abrangente. Dessa forma, haverá o surgimento de uma
noção de gestão de recursos humanos. Essa postura favorecerá a própria
sobrevivência desta organização, posto se tratar de uma estratégia fundamentada em
uma visão sistêmica de todo o processo. Assim, as organizações operando em
permanente mudança, com as pessoas que as compõe gerando novas formas de
organização e alterando o próprio meio institucional no qual estão atuando, faria com
que a empresa passasse a interagir com todo o sistema e não apenas a reagir à
pressões de forma pontual.
Entretanto, para GODARD (1997), “considerando os laços estreitos que unem certos
recursos às diversas funções ecológicas do meio exigem, para os primeiros, um tipo de
gestão permanente, orientada com base na consideração dos ritmos assumidos pelos
processos ecológicos de reconstituição dos meios naturais”. Para este mesmo autor,
poderia ser introduzida nesse caso, a noção de “gestão durável” como perspectiva
organizadora, onde não houvesse a tendência de otimizar a taxa de exploração dos
recursos sem considerar a sua capacidade de reprodução e de regeneração.
Para PORTER e BROWN (1996), caberia ao Estado definir as linhas de atuação dos
atores não-estatais (organizações internacionais, ONGs e grandes corporações),
decidindo sobre linhas de financiamento, legitimando ações e criando condições
favoráveis para a implementação de projetos.
Nesse processo educativo, onde deve ser trabalhadas a empresa e a comunidade para
o desenvolvimento de uma visão compartilhada, deve ser evidenciado como
fundamental a contribuição individual para a integração de todo o processo. Porém,
no Brasil ainda é incipiente a adesão das empresas à implantação do SGA, com exceção
daquelas de maior porte.
Licenciamento ambiental
Atualmente, num contexto mundial, fica evidente a crescente preocupação com as
questões de âmbito ambiental. No setor empresarial essa conscientização se evidencia
essencialmente pela crescente adoção, de caráter voluntário, de sistemas de gestão
que contemplam metodologias cujo enfoque é o desenvolvimento sustentável.
A adoção dos chamados “Sistemas de Gestão Ambiental” pelas empresas, cada vez
mais de caráter efetivo, reflete claramente a mudança da consciência ambiental, onde
já se considera como parte integrante do negócio se preocupar com o meio ambiente
e atingir níveis elevados de sustentabilidade. Essa postura tem um efeito direto e
muito significativo no que diz respeito ao cumprimento dos dispositivos legais que
regem sobre os cuidados devidos ao meio ambiente.
Os benefícios gerados pelo licenciamento são diversos, pelo caráter democrático que
inclui a participação da sociedade em todos os processos de concessão de licença,
podendo ser observados ao nível de governo, consumidores e empreendedor (SANTOS
et al., 2002):
Tal proposta, que pretende ser revista até junho deste ano (2004), quando todo o
sistema estará informatizado (por meio do Sistema Integrado de Informação
Ambiental - SIAM), tem sido conduzida de maneira democrática, com ampla discussão
e participação dos segmentos produtivos, dos ambientalistas e da sociedade civil
organizada, o que implica diretamente no envolvimento e crivo do COPAM, antes de
virar sugestão do CONAMA. Esse trabalho tem sido realizado em parceria com nove
Estados da Federação, tentando fazer as necessárias e indispensáveis alterações na
base de sustentação do sistema. Para CARVALHO (2003), as iniciativas previstas não só
procuram atualizar a política ambiental oficial, como também “incorporar novas
dimensões conceituais que foram surgindo ao longo dos anos, principalmente nessa
última década, e que ainda não fazem parte das políticas públicas de meio ambiente”.
Para esse mesmo autor, o momento eletrônico e político atual favorecem, sendo que o
objetivo maior é desburocratizar e simplificar o sistema de licenciamento ambiental e
o monitoramento vigente em Minas Gerais e no Brasil, onde haverá a incorporação da
nova visão da gestão territorial, na qual o meio ambiente deve ser visto de uma forma
holística e sinergética.
Considerando que todo o sistema esteja informatizado, o cidadão comum terá acesso
ao Sistema Estadual de Meio Ambiente e a todos os seus órgãos vinculados, podendo
receber orientações quanto ao licenciamento e à fiscalização. Dessa forma, pretende-
se simplificar, sensivelmente, o modo como se aceita e acompanha a proposta de
desempenho de toda atividade industrial. A partir do momento que existe uma base
de dados unificada e geo-referenciada, contendo todas as informações necessárias
(rede hidrológica, cobertura vegetal, relevo, etc.), cuja ausência tornavam lento o
procedimento de licenciamento de atividades potencialmente poluidoras, serão
agilizadas as decisões sobre os aspectos locacionais do empreendimento. Isso fará com
que o licenciamento ambiental e o monitoramento se transformem em instrumentos
vinculados à meta de qualidade, tendo como referência espacial a bacia hidrográfica.
Para CARVALHO (2003) e JUNQUEIRA (2003), da Fundação Estadual de Meio Ambiente
(FEAM), esse fato poderá tornar-se realidade, caso sejam adotados para os
empreendimentos classes I e II (empreendimentos de pequeno porte com potencial
poluidor pequeno e médio - classe I; e empreendimentos de médio porte que tenham
potencial poluidor pequeno - classe II), o autolicenciamento perante a legislação
ambiental, sob o nome de responsabilidade civil (já acontece em países como a França
e Espanha).
Uma das vantagens desse novo procedimento, é que evita o aumento do tamanho do
Estado pela contratação de um maior número de pessoal para administrar o setor
ambiental, posto existir atualmente grande ineficiência nessa área. Tal situação, típica
do Brasil, é insustentável, posto que o custo recairá sobre o contribuinte. A expectativa
é que com o autolicenciamento ambiental, sejam desocupados 60% do tempo dos
técnicos, orientando-os para o que é realmente mais importante e fundamental em
termos de fiscalização e aplicação da lei, nas atividades que têm, efetivamente, efeito
poluidor, com alto grau de risco para o meio ambiente e a saúde da população. O
subsídio para essa tomada de decisão vem do recente cadastro de 1.305 indústrias
com potencial poluidor, cujos dados apontam que apenas 35 destas, respondem por
91% do total de resíduos sólidos gerados no meio ambiente (CARVALHO, 2003;
JUNQUEIRA, 2003). De acordo com JUNQUEIRA (2003), no Brasil existem atualmente,
aproximadamente, cinco mil indústrias licenciadas, mas sem nenhuma condição de
acompanhamento.
Objetivos e Finalidades
O objetivo maior da gestão ambiental deve ser a busca permanente de melhoria da
qualidade ambiental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho de qualquer
organização pública ou privada.
A busca permanente da qualidade ambiental é, portanto, um processo de
aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global de acordo com a
política ambiental estabelecida pela organização.
Dificuldade
Gravidade para redução
(importância) ou
do impacto eliminação
dos impactos
Custo para a
Probabilidade redução ou
de ocorrência eliminação
dos impactos
Duração do Efeitos de
impacto uma
alteração
sobre outras
atividades e
processos
Preocupação
Localização
das partes
dos impactos
interessadas
Efeitos na
Momento de
imagem
ocorrência
pública da
dos impactos
organização
Prolongar a Aumentar em
Não fazer
vida útil do 100% a
novos
aterro capacidade de
investimentos.
sanitário. deposição.
Substituir o
Utilizar
uso de Favorecer a
solventes
solventes economia
biodegradáveis
químicos local.
nacionais.
importados.
Estrutura e responsabilidade;
Treinamento, conscientização e competência;
Comunicação;
Documentação do SGA;
Controle de documentos;
Controle operacional; e
Preparação e atendimento a emergências.
No que se refere à estrutura e a responsabilidade para as questões ambientais deve-se
ressaltar que dependerão do tamanho e do ramo de atividades da empresa. Portanto,
a estrutura não necessariamente exige um departamento de meio ambiente se for
uma pequena ou média empresa. Bastará designar uma pessoa ou uma equipe para
tratar do SGA. Em pequenas empresas a responsabilidade maior caberá ao
proprietário, que desempenhará as funções de “alta administração”. Já as empresas de
maior porte vão exigir uma estrutura maior. Cada caso deverá ser analisado e
adaptado individualmente.
Presidente,
Executivo
Desenvolver a
Principal,
política ambiental
Gerente de
Meio Ambiente
Desenvolver
objetivos, metas e Gerentes
programas envolvidos
ambientais
Monitorar
Gerente do
desempenho
meio ambiente
global do SGA
Assegurar o
Gerente
cumprimento dos
Operacional
regulamentos
Assegurar Todos os
melhoria contínua gerentes
Identificar as Pessoal de
expectativas dos Venda e de
clientes Marketing
Identificar as Pessoal de
expectativas dos Compras e de
fornecedores Contratação
Desenvolver e
Gerentes
manter
financeiros e
procedimentos
contábeis
contábeis
Cumprir os
procedimentos Todo o pessoal
definidos
Obter o
cumprimento com
Conscientização a política
sobre as ambiental, seus
Todos os
questões objetivos e metas
empregados
ambientais em e fomentar um
geral senso de
responsabilidade
individual.
Medição e Avaliação
Toda e qualquer atividade empresarial envolve as fases de planejamento, execução,
operação e avaliação dos resultados alcançados. Isso também ocorre com a
implementação do sistema de gestão ambiental, que deve ser verificado e monitorado
com vistas a investigar problemas e corrigi-los.
Medição e monitoramento
Ações corretivas e preventivas
Registros e gestão da informação
Auditorias do sistema de gestão ambiental precisam ser feitas periodicamente para
avaliar a conformidade do SGA que foi realizado e planejado, para verificar se vem
sendo adequadamente implementado e mantido na devida conformidade. Dada a
importância que a auditoria ambiental vem ganhando no contexto geral da gestão
ambiental, optou-se por dedicar o próximo capítulo para tratar especificamente desse
assunto.
Roteiro para um Sistema de Gestão Ambiental
O roteiro apresentado a seguir mostra as principais etapas a serem seguidas na
implantação de um sistema de gestão ambiental. As ações recomendadas podem
sofrer pequenas variações de uma empresa para outra.
·Revisar e
incorporar
procedimentos
(manuais)
isolados
existentes, p. ex.:
saúde e
segurança dos
trabalhadores.
Elaborar um ·Definir o fluxo de
manual de encaminhamento
gestão do Manual.
ambiental ·Testar a
eficiência do
fluxo, inclusive o
acesso.
·Estabelecer
prazos e formas
de revisão.
·Submeter à
aprovação da
comissão
coordenadora.
·Estabelecer
plano
Elaborar emergencial para
instruções áreas de risco.
operativas ·Elaborar
instruções para
processos
operativos.
·Auditoria
Revisão e interna.
análise ·Auditoria
externa.
·Fazer avaliação
de pontos fortes
e fracos.
·Fazer avaliação
ou reavaliação de
Plano de desempenho
ação de ambiental.
melhoria ·Preparar plano
e, ou,
procedimentos
específicos para a
melhoria
contínua.
Norma BS 7750
A Norma BS 7750 foi emitida pelo Instituto Britânico de Normatização - BSI, tendo sua
primeira versão publicada em 1992.
Vale observar que a norma foi formulada com o propósito de que o Sistema de Gestão
Ambiental (SGA) não precise ser implementado de forma independente, mas sim por
meio da adaptação dos componentes do gerenciamento de uma organização.
Considerações
Impõe-se, como questão prioritária a ser resolvida para atingir o desenvolvimento
sustentável, a extinção ou redução da pobreza, para que haja uma maior eqüidade
social, possibilitando a participação da sociedade no controle do desenvolvimento.
Esta deve ser reavaliada: a) entre as nações, podendo ser amenizada em termos de
mudanças nos modelos de produção e desenvolvimento; e b) dentro de cada país, que
pode ser conseguida por meio de uma melhor distribuição de renda e mudanças de
hábitos de consumo; ou seja, exige-se mudanças estruturais na sociedade. Esse
aspecto é fundamental, posto que o indivíduo marginalizado da sociedade, sem
emprego ou acesso à educação e à saúde, seu compromisso maior destina-se à própria
sobrevivência. Dessa forma, considerando a sua condição de degradação humana, não
haverá como exigir deste indivíduo a sua preocupação com a degradação ambiental.
Considerando que as comunidades de todo o mundo têm por objetivo atual, exigir do
sistema produtivo a conservação dos recursos naturais e a manutenção do meio
ambiente saudável, o SGA e o licenciamento ambiental podem funcionar como
importantes ferramentas para este fim. Na verdade, um novo tipo de gestão da
natureza carece da participação de novos tipos de gestores e da criação de novas
maneiras de gestão. Faz-se necessário a alteração dos modelos de produção, com a
educação ambiental das empresas e das próprias comunidades, visando a redução da
poluição, o descarte excessivo de resíduos e a substituição do modelo energético: a
reciclagem é uma alternativa concreta do ponto de vista técnico, econômico e social,
que contribui diretamente nesses três aspectos. Dessa forma, em diferentes graus, os
diversos atores da sociedade deverão se constituir em gestores de qualidade da
natureza, posto que direta ou indiretamente, todos influenciam na sua qualidade.
O Estado deve ser o principal mediador nesse processo de regulação e uso dos
recursos naturais e de proteção ao meio ambiente. Impõe-se construir modelos de
gestão que integre os interesses diversos, solucionando as contradições surgidas no
caminho para o desenvolvimento econômico e a conservação da natureza, mesmo que
seja por meio de política regulatória, como é a política nacional de recursos hídricos.
Para esse fim, devem ser estimulados os conceitos de desenvolvimento sustentável,
manejo de recursos naturais e democratização e descentralização das decisões, como
as políticas ambientais estruturadoras e indutoras sendo estimuladas, de forma a
desonerar o Estado, no seu sentido mais amplo, com a participação dos organismos
internacionais, ONGs e corporações integradas na elaboração e na implementação de
políticas ambientais.
Proposta de Modelo de Produção Sustentável
Ø Objetivos
O objetivo deste capítulo é identificar proposta inovadora de modelo de produção
capaz de gerar emprego e renda com maior eqüidade e justiça social, respeitando os
princípios do desenvolvimento sustentável, a partir de estratégias gerenciais
diferenciadas. Objetiva também:
Sob a sua ótica, o maior desafio atual consiste em criar e manter comunidades
duradouras, ou seja, ambientes sociais, culturais e físicos, nos quais nossas
necessidades e empenhos possam ser satisfeitos sem restringir as oportunidades das
gerações futuras. Uma comunidade duradoura é constituída de tal forma que seu
modo de vida, seus empreendimentos, sua economia, suas técnicas e estruturas físicas
não perturbem o potencial da conservação da vida inerente à natureza. Na tentativa
de organizar e ampliar comunidades duradouras, é necessário que, primeiramente,
entenda-se completamente esse potencial de crescimento com harmonia, priorizando
a conservação da natureza e reativem-se as comunidades como um todo, ou seja, as
comunidades de ensino, as econômicas e as políticas, de tal forma que nelas se
manifestem os princípios fundamentais da ecologia, como princípios de educação,
gerenciamento e política (ibidem).
Ø Pensamento sistêmico
O contexto teórico subseqüente ao da ecologia, é a teoria dos sistemas vivos, que só
atualmente está sendo completamente desenvolvida. No entanto, está arraigada em
vários ramos da ciência, compondo um complexo integrado, cujas características não
podem ser reduzidas à das partes menores. A teoria do sistema apresenta um novo
modo de pensar, o chamado “pensamento de sistema” ou “pensamento sistêmico”,
significando pensamento em termos de relações, união e contexto. O modelo ideal
desses sistemas é encontrado principalmente na natureza, por exemplo, o equilíbrio
em uma floresta natural. Compreendendo-se ecossistemas, compreende-se também
relação, que é o aspecto central do pensamento sistêmico. Conseqüentemente, a
atenção é deslocada de objetos para relações, ou seja, uma comunidade viva tem
consciência das relações estratificadas entre seus integrantes (GUNTER, 1999).
Para CAPRA (1996), quanto mais são pesquisadas as questões ambientais, maior a
consciência que se passa a ter de que elas não podem ser compreendidas
isoladamente, posto serem sistêmicas, interconectadas e interdependentes. De acordo
com SENGE (1990), grande parte dos problemas hoje existentes, está associado ao
descaso e desconhecimento humano de entender e controlar sistemas cada vez mais
complexos.
Quando se observam ecossistemas, constata-se que todos seus organismos têm sua
função. Eles produzem detritos, exatamente como o homem, porém são passados
adiante. O detrito para uma espécie serve de fonte de alimento para uma outra, de
modo que num ecossistema, praticamente todos os detritos são reciclados
continuamente. Baseados nesse modelo pode-se fazer nas organizações humanas, o
espelho de organização da natureza, que não pode ser concebida como uma soma
mecânica de partes. Pode-se remodelar os modelos produtivos, de tal forma que os
detritos de uma indústria, transformem-se em recursos para a próxima (GUNTER,
1999).
Ø Círculo de causalidade
O círculo de causalidade é uma das ferramentas do pensamento sistêmico, por meio
do qual é possível expressar graficamente o comportamento, ao longo do tempo, das
diversas variáveis envolvidas em uma dada questão. É composto por variáveis -
palavras ou frases curtas que resumem os fatos envolvidos no problema estudado -
conectadas por meio de setas que indicam o sentido da alimentação do ciclo ou da
influência das variáveis. Os sinais “+” e “-”, indicam respectivamente se o movimento
de alimentação está no mesmo sentido da influência original ou se está em sentido
oposto. A letra “B” indica se está ocorrendo um processo de balanceamento (ou
contrapeso), a letra “R” indica se está ocorrendo reforço (NARDELLI e GRIFFITH, 2000).
Para ODUM (1988), uma constatação ainda mais fundamental assegura que a
complexidade está governada por mecanismos simples, capazes de esclarecer sua
estrutura e sua variabilidade. Entretanto, para esse mesmo autor, esse fato nos leva a
pelo menos duas reflexões: a) qual será o efeito do crescimento demográfico sobre os
ecossistemas e a sua capacidade de auto-regulação, inclusive sobre a humanidade,
possibilitando, por exemplo, o retorno de grandes endemias; e b) “se admitirmos que
nossas sociedades, em sua forma atual, estão condenadas ao crescimento, este, por
seu turno, arrisca-se a condenar a biosfera”, desde que nada seja feito para alterar
esse direcionamento.
O destaque dessa definição deve ser dado à expressão “valor agregado”, pois é esse
que move a economia, garantindo um fluxo de recursos sustentáveis. Valor agregado é
uma condição prévia para independência e o crescimento, ou seja, para o crescimento
autocatalítico. Caso a recuperação do subproduto ou matéria residual seja uma mera
eliminação ou reutilização sem se oferecer valor adicional, não é parte da Emissão
Zero. Nesse ponto, surge o conceito de “upsizing”. Muitos produtos são meramente
degradados, incinerados ou deixados como condicionadores de solo. Dessa forma, não
é possível a geração de negócios e postos de trabalho a partir da preservação e
prevenção da poluição sem que ocorra a produção de valor agregado. Atualmente,
afirma-se que cuidar do meio ambiente é sinônimo de bons negócios. Faz-se
necessário, conhecer esses negócios: a) o primeiro, é a redução de custos, que terá
êxito até certo ponto; e b) o segundo, é a geração de receita adicional. Assim, define-
se “upsizing” como sendo (GUNTER, 1999): o conglomerado de atividades industriais
por meio do qual subprodutos sem valor para um negócio são convertidos em insumos
de valor agregado para outro, possibilitando desta forma, o aumento da
produtividade, a transformação global de capital, de mão-de-obra e matérias-primas
em produtos adicionais e na venda de serviço, a preços competitivos, resultando na
geração de postos de trabalho e na redução - e eventual eliminação - de efeitos
adversos às pessoas e ao meio ambiente.
O “upsizing” acontece quando uma determinada atividade opta por buscar a Emissão
Zero, ou seja, a Emissão Zero é o objetivo final, o “Upsizing” é seu resultado direto.
Com o crescimento da economia, a poluição tenderá a zero, uma vez que todos os
resíduos de um processo industrial serão utilizados como insumo para outro processo
industrial (GUNTER, 1999).
O lixo no Brasil
Em diversas cidades, os lixões vêm sendo substituídos por aterros sanitários,
implantados de acordo com técnicas que reduzam seus impactos ambientais. Além dos
aterros, existem outras alternativas para a destinação final dos R.S.U., tais como a
incineração e o reprocessamento (compostagem, seleção e reciclagem). O Quadro 16
mostra a destinação do R.S.U. coletado e tratado no Brasil, na cidade de São Paulo
(SP), nos Estados Unidos (EUA) e no Japão.
Destinação BrasilCidadeEUAJapão
de SP
Aterros 96% 87% 73%16%
sanitários
Incineração 0,5% 1,5% 14%34%
Compostagem3% 11,4% 1% -
Apesar da situação atual ainda não ser a desejável, de acordo com a Pesquisa Nacional
de Saneamento Básico - PNSB 2000, realizada pelo IBGE, revelou uma melhoria na
destinação das 125.281 toneladas de R.S.U., nesse ano: a) 47,1% eram destinados a
aterros sanitários; b) 22,3% a aterros controlados; e c) apenas 30,5% em lixões. Dessa
forma, aproximadamente 69% de todo o R.S.U. coletado no Brasil, estaria recebendo
uma destinação adequada, em aterros sanitários e, ou, controlados. Há que se que
considerar, entretanto, que o mesmo não acontece nos municípios: 63,6% destinavam
os R.S.U. para lixões e apenas 32,2% para aterros adequados (13,8% sanitários e 18,4%
aterros controlados). Considerando que, em 1989, a PNSB apontava um percentual de
apenas 10,7% dos municípios que destinavam seus resíduos de forma adequada,
houve um significativo avanço (IBGE/PNSB, 2003a).
Segundo estimativas da Prefeitura Municipal de Viçosa, o município gera, por dia, uma
média de 32 toneladas de lixo urbano, sendo que 92% dos domicílios da cidade contam
com coleta diária dos R.S.U., que eram encaminhados, até recentemente, para o lixão
da cidade. Com base em um levantamento da composição gravimétrica destes
resíduos, realizada pelo Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental do
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa (LESA/DEC/UFV),
aproximadamente 25% é composto por material seco que poderia ser aproveitado
para reciclagem.
Apesar da situação especial acima descrita - parceria firmada entre UFV, PMV e
ACAMAR - ainda observam-se falhas no sistema de triagem e compostagem dos
resíduos, como o fato do sistema de compostagem ainda não está implementado em
decorrência da ausência de impermeabilização do pátio e falta de tratamento de
líquidos percolados (chorume - resultante da natural degradação anaeróbia da matéria
orgânica, que reúne líquidos altamente poluentes).
Aspectos Econômicos
A reciclagem de material usado é uma atividade econômica em franca expansão em
todo o mundo. No Brasil, contam-se experiências inovadoras, tais como as bolsas de
resíduos em São Paulo (FIESP), Rio de Janeiro (FEEMA), Rio Grande do Sul e Bahia.
Mês QuantidadeValor
(Kg) arrecadado
(R$)
Janeiro/2002 23.427,06 2.057,00
Outubro/200368.345,00 9.988,48
Aspectos Sociais
Com a desativação do antigo lixão, teve origem um grave problema social: o
desemprego dos antigos “catadores”. A solução encontrada foi sua recolocação no
mercado de trabalho, por meio da absorção no quadro de funcionários da Usina de
Reciclagem, que em contrapartida auxiliou a Prefeitura na sua ativação. Estes, não
foram admitidos como funcionários da Prefeitura, mas sim, com o apoio da Secretaria
de Ação Social, formaram a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis
(ACAMAR), e por meio de um convênio, tornaram-se responsáveis pelo processo
produtivo da Usina. Com a conquista do espaço, veio, também, a formação da sua
identidade, favorecida pela realização de cursos permanentes de capacitação e
formação profissional, que desenvolveram nos associados noções básicas de
administração, contabilidade, prestação de contas, meio ambiente, saúde e segurança
no trabalho.
Optando-se pelo fechamento dos aterros comuns, deverão ser definidas as ações
necessárias para o término da operação e a recuperação do local. Torna-se necessário
estabelecer uma lista de prioridades, definindo-se ações eficientes (menores impactos,
custos e prazos; e maiores benefícios), sem, contudo inviabilizar a disposição do lixo no
município, no curto prazo. Dentre as diversas possibilidades, duas prioridades devem
ser consideradas:
Efeito corretivo
O seu efeito corretivo é devido à ação de seus componentes orgânicos, subprodutos e
intermediários da atividade microbiana, que se combinam principalmente com
alumínio, ferro e manganês, impedindo sua ação tóxica sobre as plantas. Como
condicionador do solo, sua ação é devida aos ácidos urônicos e aos polissacarídeos
resultantes da atividade microbiana, que atuam como agentes cimentantes, sendo
responsáveis pela formação de agregados e pela estruturação do solo (KIEHL, 1985).
Para que ocorra a colonização vegetal, sabe-se que é fundamental uma disponibilidade
de nutrientes e umidade no solo, fatores que normalmente se acham em níveis
insuficientes em áreas degradadas. SANTANA FILHO et al. (2000), utilizando composto
de lixo urbano, em diferentes doses num rejeito de mineração de ferro, incorporado e
em superfície, colonizado por Melinis minutiflora e Brachiaria decumbens consorciados
com Calopogonium muconoides, dois meses após a montagem do experimento foram
realizadas análises químicas e físicas de amostras do substrato e determinado o teor
de metais pesados nas plantas dos diferentes tratamentos. Como resultados, a
aplicação de composto orgânico demonstrou-se capaz de melhorar as características
físicas e químicas do substrato. Foi observado que a soma de bases, a CTC efetiva e
total, a porosidade e a densidade do substrato melhoraram significativamente,
permitindo ao rejeito de mineração de ferro, a capacidade de sustentar a vegetação.
Observaram, que com o aumento da adição do composto, houve uma diminuição no
teor de metais pesados nas plantas.
Nesse mesmo contexto, CAVALET et al. (2000) montaram um experimento a campo
para avaliarem o valor fertilizante do composto produzido a partir da usina de
reciclagem da cidade de Marechal Cândido Rondon (PR), em um Latossolo Roxo muito
argiloso e de média a alta fertilidade. Foram incorporadas dosagens de 0, 20, 40, 80 e
160 t/ha do composto e mais um tratamento com NPK + calcário. Após seis meses foi
feita a avaliação, não tendo sido detectado no composto a presença dos elementos
metais pesados mercúrio, cromo, níquel, chumbo, cádmio, zinco e cobre em valores
excessivos, que devido à maior dosagem, pudessem no solo exceder valores
normalmente encontrados na natureza. Concluíram, ter havido uma melhoria da
fertilidade do solo considerando que os teores de potássio e fósforo aumentaram;
entretanto, não foram observadas melhorias na densidade aparente e agregação do
solo por conseqüência da aplicação dos tratamentos, justificada talvez, pelo pouco
tempo da análise após a aplicação.
Considerações
Em face do aumento da produção industrial, dos hábitos de consumo e da geração de
resíduos, afloram importantes questões referentes à sua destinação final. São várias as
respostas e dependem das características de cada situação. Uma das formas de se
tentar reduzir a quantidade de lixo gerada é combatendo o desperdício. Desta forma, a
reutilização de certos produtos após o seu uso original contribuirá para a sua redução.
Neste contexto, as usinas de reciclagem surgem como uma solução para a destinação
dos resíduos sólidos urbanos, gerando não só o bem-estar social, mas também,
empregos, receitas e melhoria da qualidade de vida para toda a comunidade.
Recomendações
Para minimizar eventuais falhas operacionais e gerenciais, pode-se utilizar as normas
da ISO, em especial as da série ISO 14001 voltadas para a gestão ambiental,
incorporando a variável ambiental em seu planejamento estratégico.
Estudo de Caso: Por quê priorizar a gestão e a recuperação dos recursos hídricos?
Os ecossistemas aquáticos e a história da água sobre o planeta Terra são
multifacetados. Estão diretamente relacionados ao crescimento da população humana
e ao grau de urbanização. Em face à complexidade dos usos múltiplos da água pelo
homem, que aumentou e produziu enorme conjunto de degradação, são estes que
mais sofrem com a poluição ambiental. Por essas questões, têm-se verificado a perda
de qualidade e disponibilidade de água, inclusive, inúmeros problemas de escassez em
muitas regiões e países. Dada a sua importância para a manutenção e
desenvolvimento de todas as formas de vida, os recursos hídricos não podem se
desassociar da conservação ambiental, já que na essência, envolve a sustentabilidade
do homem ao meio natural, proporcionando os mais variados serviços, tais como: a)
recreação; b) turismo; c) transporte e navegação; d) reserva de água doce (em bacias
hidrográficas e em geleiras); e) controle de enchentes; f) deposição de nutrientes nas
várzeas; g) purificação natural de detritos; h) habitat para diversidade biológica; i)
moderação e estabilização de microclimas urbanos e rurais; j) moderação do clima; k)
balanço de nutrientes e efeitos tampão em rios; l) saúde mental e estética; m) geração
de energia elétrica; n) irrigação; o) aqüicultura e piscicultura; p) abastecimento
doméstico e industrial (SILVA, 2002; TUNDISI, 2003).
Caso medidas eficientes não sejam tomadas, em 2025, dois terços da população estará
vivendo em regiões com estresse de água e a poluição da água continuará afetando os
recursos hídricos continentais e as águas costeiras, com a degradação mais rápida de
águas superficiais e subterrâneas, afetando as reservas. Como conseqüências 1) os
riscos de epidemias e efeitos crescentes na saúde humana; 2) conflitos locais, regionais
e institucionais sobre os usos múltiplos; e 3) o aumento dos impactos econômicos
resultantes da degradação dos recursos hídricos. Dessa forma, as iniciativas têm de ser
imediatas, no desenvolvimento de tecnologias, políticas públicas e outras medidas
mitigadoras e de impactos no gerenciamento, tais como: 1) gerenciamento integrado,
adaptativo, preditivo e atenção para usos múltiplos; 2) consideração da
qualidade/quantidade de água por meio de monitoramento permanente e em tempo
real; reconhecimento da água como fator econômico; 3) melhoria da capacidade de
gerenciamento, treinando recursos humanos (gerentes ambientais, agentes ou
gerentes de bacias hidrográficas); 4) implementação de coleta seletiva, redução de lixo
e implementação de aterros sanitários nos municípios; 5) tratamento de esgotos dos
municípios; 6) reflorestamento ciliar com espécies nativas às margens das represas e
dos principais tributários; 7) práticas agrícolas que reduzem a erosão: plantio direto e
uso de curvas de nível; 8) controle do uso de agroquímicos; 9) controle dos resíduos
industriais nos municípios; 10) implementação de controle e avaliação dos recursos
pesqueiros; 11) suporte à medidas e tecnologias inovadoras em nível local, nacional e
internacional (TUNDISI, 2003).
Atualmente, os principais problemas resultantes do uso dos recursos hídricos estão
relacionados: a) à eutrofização; b) ao aumento da toxicidade das águas superficiais e
subterrâneas; e c) às alterações no ciclo hidrológico e na disponibilidade de água,
agravando os problemas dos pontos de vista qualitativo e quantitativo (ibidem). Para
BRIGANTE e ESPÍNDOLA (2003a), “a maioria dos sistemas aquáticos do Brasil necessita
de medidas de recuperação e manejo”. Entretanto, para estes mesmos autores,
embora haja atualmente uma maior conscientização com relação à essa necessidade,
os problemas persistem, “decorrentes da urbanização crescente, da falta de recursos
financeiros das administrações públicas locais ou, ainda, pela forma de aplicação dos
recursos”.
Em projetos de manejo e recuperação de ambientes aquáticos, estabilizando o
desenvolvimento de habitats e colonização a uma taxa mais rápida que a dos
processos naturais físicos e biológicos, além de levar em conta a presença e as
características dos contaminantes, deve-se considerar: a) os aspectos hidrológico,
morfológico e ecológico; b) a qualidade da água propriamente dita; c) o sedimento, o
material em suspensão e a comunidade biológica; d) a estética; e e) “além da
necessidade de uma visão integradora do projeto sustentável de recuperação”
(CUNHA, 2003).
De acordo com AMARAL SOBRINHO (1996), o rio Paraíba do Sul, o mesmo que
recentemente (2003) foi contaminado pela indústria de papel localizada em
Cataguases, MG, recebe elevada carga poluidora proveniente de indústrias, esgotos
domésticos, fertilizantes, agrotóxicos, mercúrio de garimpos, entre outros. Apresenta,
portanto, alto potencial poluidor do solo quando utilizado para irrigação,
principalmente devido aos sedimentos em suspensão. Um estudo realizado por
Ramalho (1994), apud AMARAL SOBRINHO (1996), foram obtidos os seguintes teores
de alguns metais pesados como resultado de sua pesquisa, podendo ser observado no
Quadro 18.
Uma medida a ser tomada de tal forma a evitar esses problemas e outros pelo uso da
água, seria a utilização de prognósticos ambientais, elaborados de acordo com a
metodologia de avaliação ambiental estabelecida. Algumas delas permitem uma
descrição detalhada dos processos geradores de impacto e de seus cenários. Para isso,
é necessário um conhecimento profundo e detalhado, inclusive com a caracterização
da área. Podem ser usados modelos matemáticos de previsão da qualidade da água,
apesar de sujeitos à inúmeras limitações, para avaliar a qualidade da água de rios,
lagos e reservatórios, enfocando situações específicas, que devem ser escolhidos
anteriormente à fase de implantação do projeto (DE FILIPPO, 2000).
Considerando a agricultura irrigada ser o maior usuário de água doce no Brasil, com
72,5% do volume captado, e que recentemente vem apresentando um crescimento
acelerado, a sua evolução deverá ser acompanhada de um rigoroso monitoramento.
Este pode ser alcançado mediante a implementação de um sistema eficiente de
gerenciamento dos recursos hídricos, evitando novos conflitos de uso da água. Esse
fato é relevante quando se considera o total de solos aptos à irrigação no Brasil,
estimados em aproximadamente 29,6 milhões de ha. Desse total, em 1999, apenas
2,87 milhões estavam sendo explorados, demonstrando o grande potencial para
expansão dessa prática. O manejo racional dessa atividade demanda estudos que
considerem os aspectos sociais, econômicos, técnicos e ecológicos da região. Este
último, a sua total desconsideração ou a supervalorização do impacto ambiental, não
são benéficos ao desenvolvimento sustentado da irrigação. Nesse sentido, deve-se
aglomerar esforços para a obtenção de dados confiáveis que permitam quantificar
com a máxima precisão, a magnitude do impacto ambiental ocasionado pela irrigação,
para considerá-lo na implementação e manejo dos projetos. Com esses
procedimentos, poder-se-ão evitar os principais impactos ambientais advindos dessa
atividade, como está ocorrendo no Norte de Minas, na bacia do rio Verde Grande e
afluentes, tais como: a) modificação do meio ambiente; b) consumo exagerado da
disponibilidade hídrica da região; c) contaminação dos recursos hídricos; d) salinização
do solo nas regiões áridas e semi-áridas; e e) problema de saúde pública (SILVA, 2002).
Para MANTOVANI et al. (2003), apesar da significativa evolução dos equipamentos
modernos, tem havido negligência com o manejo da irrigação. Portanto, para que não
ocorra aplicação em excesso (mais comum) ou em falta, a maior eficiência na
distribuição da água necessita um eficiente programa de manejo. Para estes mesmos
autores, parte da solução deste problema pode ser resolvido com o auxílio de
programas de simulação, como o IRRIGA. Este é um sistema de apoio à decisão na área
da agricultura irrigada, composto de vários “softwares” voltados para o manejo da
água (Simula, Manejo e Decisão), do sistema de irrigação (Avalia), da fertirrigação
(NPK) e da rentabilidade da área irrigada (Lucro), estando estes dois últimos em fase
de elaboração. Foi desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Soluções para Agricultura
Irrigada - GESAI, do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de
Viçosa. O sistema incorpora uma visão técnica sem perder a operacionalidade
necessária ao seu funcionamento. Uma vez implantado, é uma ferramenta de fácil
utilização e controle do momento adequado para irrigar, definir a lâmina e o tempo de
irrigação necessária (Manejo e Decisão) e, também, relacionar a avaliação e definição
das condições de distribuição de água e perdas do sistema de irrigação (Avalia).
Considerações
Os sistemas de produção utilizados atualmente de maneira altamente intensificados,
ao mesmo tempo em que consomem menos recursos naturais em um determinado
local, introduzem no ambiente novos elementos causadores de desequilíbrios, como
os agroquímicos. Quando o objetivo é a maximização de produção, todos os fatores
envolvidos têm de ser considerados. O que tem sido observado, apesar do grande
volume de pesquisas nessa área, com um significativo acúmulo de conhecimentos,
estes não são devidamente adotados pelos produtores rurais, principalmente os
pequenos. Por este motivo, é inevitável o surgimento de impactos ambientais
negativos e a redução de biodiversidade com a conseqüente insustentabilidade dos
sistemas.
Conclusões
A visão aqui proposta é ecologicamente sustentável, economicamente viável,
socialmente justa e culturalmente passível de ser aceita, desde que trabalhada com
responsabilidade e determinação.
Dessa forma, o atual “progresso” tem sido caracterizado por uma crescente
acumulação e concentração de capitais, os quais também têm gerado uma crescente
desigualdade social, no Brasil e em todo o mundo. Assim, esse modelo de
desenvolvimento tem sido produtor de subdesenvolvimento. Vale lembrar que a
miséria é incompatível com o equilíbrio e a sustentabilidade ambiental: não cessando
esse processo, a degradação persistirá e, todos os esforços para a recuperação
ambiental, terão sido em vão. Por esse motivo, é preciso criar uma nova consciência na
sociedade, onde sejam desenvolvidos princípios éticos, para que realmente se
empenhe em superar a crise planetária atual. Tem havido, recentemente, uma reação
da sociedade contra esses excessos e equívocos, evidenciando a possibilidade das
necessárias correções de rumo.
As estratégias que conduzirão ao desenvolvimento sustentável, para que sejam viáveis,
deverão induzir os agentes sociais mais dinâmicos a uma articulação, em âmbito local,
da qual resultem sinergias. Deve-se desenvolver competências e estimular habilidades
visando à transformação do indivíduo para que ocorra uma mudança estrutural da
sociedade, permitindo, dessa forma, que os objetivos, as linhas de ação, as propostas
de política pública e as formas de gestão, tornem-se factíveis. A possibilidade de
acreditar que a superação das dificuldades rumo à sustentabilidade pudesse ser
elaborada em locais externos a uma determinada comunidade, deve ser totalmente
descartada, mesmo considerando satisfatórias as políticas decorrentes das estratégias
propostas pela Agenda 21 Brasileira.
Experiências indicam que tais inovações costumam ter sucesso somente quando
impulsionadas pela elaboração de diagnósticos regionais por organizações de
pesquisa, de extensão e de educação popular, capazes de mobilizar e articular
cooperativas, associações, enfim, os agentes sociais locais mais dinâmicos. É preciso
que haja participação das instituições políticas nesse processo, para que os resultados
econômicos e sociais sejam sustentáveis, com a promoção efetiva do desenvolvimento
humano.
A pesquisa científica deverá ser ampliada para que sejam conhecidos os principais
processos e mecanismos, com a devida fundamentação, necessária para a recuperação
dos ecossistemas e a proteção àqueles ainda não ameaçados pela deterioração de suas
quantidade e qualidade. As questões relacionadas ao desenvolvimento científico e
tecnológico surgidos recentemente evidenciam que se deve evitar a
compartimentação. A interdisciplinaridade dos diferentes enfoques é essencial, pois
permite entender os processos ambientais e conhecer as ferramentas disponíveis para
manejá-los, facilitando o seu monitoramento. Dessa forma, fica facilitado o
desenvolvimento de novos modelos de produção e de consumo que poupem matéria-
prima e gere um menor volume de resíduos, conservando os recursos naturais.
Essa situação, caso estabelecida, permitirá no futuro que haja mudanças nas relações
sociedade/natureza, reduzindo a sua importância econômica. Para isso é necessário
que ocorram transformações entre os homens, de forma consciente, resultante de
uma inteligência crítica que descubra as reais formas de organização política da vida,
formulada em termos de finalidades. Nesse sentido, não podem conter senão opções
éticas. Essa nova sociedade deverá adotar um novo modelo de produção e
desenvolvimento, baseados na eqüidade e justiça social, na organização do trabalho e
na geração de renda, ficando definitivamente estabelecidas as bases de cooperação.
Deve haver, acima de tudo, liberdade de decisões: mas é imprescindível que haja
solidariedade entre todos os seus membros, originando uma realidade de existência,
fundamentando, dessa forma, uma sociedade complexa.
Observações Finais
É necessária a alteração dos modelos de produção e de desenvolvimento atualmente
praticados no Brasil. A escassez dos recursos, associada aos danos causados pela
poluição e a miséria crescente nos meios urbano e rural, evidenciam que esse modelo
gera degradação. Porém, para que sejam alcançadas as transformações necessárias, é
preciso a definição de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável,
exigindo um grande esforço do conjunto de atores sociais, econômicos e políticos. Isso
envolve as esferas governamentais, o setor produtivo, as organizações da sociedade e,
inclusive, cada membro da comunidade: ou seja, são necessárias mudanças
individuais.
Nas regiões de pecuária que utilizam o sistema extensivo de criação, responsável pela
maior quantidade de áreas degradadas no Brasil, deve-se adotar o sistema de
integração agricultura-pecuária para recuperá-las. Tal sistema prioriza a produção de
grãos e carne com qualidade, baseado em princípios de sustentabilidade, aplicação de
recursos naturais e regulação de mecanismos para a substituição de agroquímicos.
Deve-se utilizar instrumentos adequados de monitoramento dos procedimentos de
todo o processo, para que ocorra a viabilidade econômica e conservação ambiental,
com maior eqüidade social. Portanto, é necessário buscar alternativas que visem o
aumento de produtividade, reduzindo a necessidade de expansão da produção por
meio da abertura de novas fronteiras agrícolas.
A política agrícola governamental deverá seguir uma trajetória que corrija distorções
de mercado e do próprio crédito rural, reduzindo o financiamento ao capital de giro
para o plantio e a comercialização. Deverá ser estimulado e ampliado o crédito de
investimento, com prazos de pagamentos dilatados e com juros reduzidos e fixos. Com
essa reorientação, poderá ser alcançado o objetivo de incentivar o aperfeiçoamento e
a modernização do sistema produtivo para ganhar produtividade, de tal forma que a)
possibilite uma maior geração de renda ao produtor rural; b) garanta a
sustentabilidade do negócio; e c) favoreça a fixação do homem ao meio rural,
particularmente aqueles do modelo de produção familiar.
Há necessidade de ressaltar para cada comunidade, por meio das ONGs e dos
movimentos sociais, via treinamento dos professores do ensino fundamental, a
importância histórica e cultural da região, enfatizando as particularidades locais, dando
início à formação de uma visão compartilhada, criando campo para uma gestão
descentralizada dos recursos.
Sugestões
Um dos grandes problemas enfrentados na área rural se refere a baixa disponibilidade
de recursos financeiros para custeio e investimento. Somado à sua pequena área e,
com as limitações técnicas existentes, faz-se necessário buscar alternativas inovadoras
e conjuntas, para que seja evitada a perpetuação dos casos de pauperização que
conduzem à degradação. Para isto, deve-se propiciar às associações, cooperativas e
demais categorias de classe, bem como toda a classe política, estabelecerem e
implementarem uma política agrícola compactuada e definitiva, inclusive preocupados
a) com a comercialização, buscando novos nichos de mercado, como aquele dos
produtos orgânicos; b) com a garantia de preços mínimos justos, inclusive com a
possibilidade de serem subsidiados, cabendo considerar que sejam estipulados de tal
forma que estimulem a competitividade e o aumento de produtividade; e c) a
concessão de crédito associada ao seguro rural, reduzindo riscos de perdas e a futura
inadimplência, para que possam, assim, ser estabelecidas as metas de sustentabilidade
com maior eqüidade social.
O crédito rural se tornará viável com o uso de uma das maiores novidades dos últimos
anos em termos de instrumento da Política Agrícola, que foi a elaboração e a
implantação do zoneamento agrícola do Ministério da Agricultura. Tal zoneamento
permite ao agricultor aumentar a produtividade por meio do uso de tecnologias, com a
chance de reduzir os riscos diante dos fenômenos climáticos previsíveis com certa
margem de probabilidade. Os agentes financeiros e de seguros ficaram estimulados
com esta ferramenta que valoriza as recomendações técnicas, que induz à
racionalização do sistema produtivo e à utilização de tecnologias recomendáveis. A
alternativa deve ser vincular o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária -
PROAGRO, ao zoneamento agrícola, cuja adoção plena é capaz de induzir à redução de
riscos para o produtor e o financiador.
Bibliografia/Links Recomendados
Fonte das lições: Apostila Gestão Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável - Professor MAURÍCIO NOVAES SOUZA.
ACIESP - ACADEMIA DE CIÊNCIAS DO ESTADO DE SÃO
PAULO. Glossário de ecologia. São Paulo:
ACIESP/CNPq/FAPESP/SCT, 1987. 271p. (Publicação ACIESP, 57).
ADEODATO, S. Pequenas e médias empresas ainda subestimam
reciclagem de resíduos. Gazeta Mercantil, São Paulo. 01 de jul. 1992.
Caderno Especial, p.18.
ALMEIDA, F. G.; GUERRA, A. J. T. Erosão dos solos e impactos
ambientais na cidade de Sorriso (Mato Grosso). In: GUERRA, A. J. T.;
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