Religião Egípcia, Da Autoria de Luís M. de Araújo
Religião Egípcia, Da Autoria de Luís M. de Araújo
Religião Egípcia, Da Autoria de Luís M. de Araújo
Bibliografia específica
Luís Manuel de ARAÚJO, O Egito Faraónico: Uma civilização com três mil anos, Lisboa: Arranha-
céus, 2015.
Jan ASSMANN, Maât. L'Égypte Pharaonique et l'Idée de Justice Sociale, Collège de France, Ed.
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Jean-Pierre CORTEGGIANI, L'Égypte Ancienne et ses Dieux. Dictionnaire illustré, Paris: Librairie
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Françoise DUNAND e Christiane ZIVIE-COCHE, Dieux et Hommes en Égypte, 3000 av. J.-C.-395
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Henri FRANKFORT, Reyes y Dioses. Estudio de la Religión del Oriente Próximo en la Antigüedade
en tanto que integración de la sociedad y la naturaleza, Madrid: Alianza Editorial, 1983.
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Nationale, 1960.
José das Candeias SALES, As Divindades Egípcias: uma chave para a compreensão do Egipto antigo,
Lisboa: Editorial Estampa, 1999.
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
No antigo Egito, com a sua religião politeísta e tolerante, não houve, nem podia haver,
uma única modalidade para a criação do mundo, sendo conhecidas várias, a mais antiga das
quais é a de Heliópolis (Iunu). Aqui, o deus Atum, que se tinha criado a si próprio sobre uma
colina do oceano primordial (o Nun caótico), masturbou-se para gerar o par Chu (o ar seco) e
Tefnut (o ar húmido), vindo depois o resto da Enéade (o grupo de nove deuses de Heliópolis):
Chu e Tefnut geraram Geb (a terra) e Nut (o céu), e destes vieram quatro deuses, Osíris e Ísis,
Set e Néftis. Neste grupo final, bisnetos do grande Atum, avultam Osíris (deus bom, irmão e
esposo de Ísis) e Set (o símbolo da malvadez). Outra variante do mito punha o deus Atum a
escarrar (ichech) para criar Chu, e a cuspir (tefen) para gerar Tefnut.
Venerado também em Heliópolis, o deus solar Ré acabaria por suplantar Atum como
criador da Enéade, tendo das suas lágrimas aparecido os homens, jogando com a prosódia que
fazia Ré chorar (remi), para com as lágrimas (remit) criar a humanidade (remetj). O deus solar
fundiu-se depois com o demiurgo heliopolitano para formar Ré-Atum, existindo ainda outros
sincretismos muito divulgados como Amon-Ré, ou Ré-Horakhti, sendo as suas formas solares
diferenciadas na alvorada (Khepri) e no ocaso (Atum).
Em Mênfis (Mennefer ou Ienebhedj) era venerado o deus Ptah, visto como criador do
cosmos pela força da palavra divina, usando o coração e a língua como eficaz demiurgo, mas
também, segundo outras versões, por ação do seu trabalho de metalúrgico.
Em Elefantina (Abu), capital da 1.ª província do Alto Egito (Assuão), o deus Khnum
tinha criado os seres divinos e humanos a partir do barro da terra, trabalhando no seu torno de
oleiro como exímio ceramista para produzir figuras animadas pelo respetivo ka.
Conhecem-se outros mitos de criação em Tebas-Uaset (Amon) e Amarna-Akhetaton
(Aton), este último a assumir-se como uma criação diária, manifestada na luz e no calor, por
empenhamento pessoal e fundamentalista do controverso rei Akhenaton.
Bibliografia específica
Luís Manuel de ARAÚJO, Erotismo e Sexualidade no Antigo Egito, Lisboa: Edições Colibri, 2012.
Luís Manuel de ARAÚJO, Mitos e Lendas do Antigo Egito, 2.ª edição revista e aumentada, Lisboa:
Escolar Editora, 2017.
José Nunes CARREIRA, Mito, Mundo e Monoteísmo, Mem Martins: Publ. Europa-América, 1994.
François DAUMAS, Les Dieux de l’Égypte, Paris: Presses Universitaires de France, 1982.
José das Candeias SALES, As Divindades Egípcias: uma chave para a compreensão do Egipto antigo,
Lisboa: Editorial Estampa, 1999.
Rogério SOUSA, O Livro das Origens. A Inscrição Teológica da Pedra de Chabaka, Lisboa: Funda-
ção Calouste Gulbenkian, 2012.
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Bibliografia específica
Luís Manuel de ARAÚJO, O Clero do Deus Amon no Antigo Egipto, Lisboa: Edições Cosmos, 1999.
Luís Manuel de ARAÚJO, «Clero» e «Sacerdotes», Dicionário do Antigo Egipto, Lisboa: Editorial
Caminho, 2001, pp. 209-211 e pp. 757-759.
John BAINES e Jaromír MÁLEK, Atlas of Ancient Egypt, Oxford: Phaidon Press, 1981.
Paul BARGUET, Le temple d'Amon-Rê à Karnak. Essai d'exégèse, Cairo, Institut Français d'Archéo-
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André BARUCQ e François DAUMAS, Hymnes et Prières de l'Égypte ancienne, Paris: Les Éditions
du Cerf, 1980.
Hermann KEES, Ancient Egypt. A Cultural Topography, Chicago, Londres: University of Chicago
Press, 1977.
Jean-Marie KRUCHTEN, Les Annales des Prêtres de Karnak (XXI-XXIIemes dynasties), et autres textes
contemporains relatifs à l’initiation des prêtres d’Amon, Lovaina: Orientalia Lovaniensia Analecta,
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Saphinaz-Amal NAGUIB, Le Clergé Féminin d’Amon Thébain à la 21e dynastie, Lovaina: Peeters,
1990.
José das Candeias SALES, «Culto», Dicionário do Antigo Egipto, Lisboa: Editorial Caminho, 2001,
pp. 257-260.
Serge SAUNERON, Les Prêtres de l’Ancienne Égypte, edição revista e completada por Jean-Pierre
Corteggiani, Paris: Éditions Persea, 1988.
Serge SAUNERON, «Temple divin», em Georges Posener (dir.), Dictionnaire de la Civilisation
Égyptienne, Paris: Fernand Hazan, 1970, pp. 281-282.
Ian SHAW e Paul NICHOLSON, «Temple», em The British Museum Dictionary of Ancient Egypt,
Londres: The British Museum Press, 2008, pp. 323-324.
Steven SNAPE, Egyptian Temples, Princes Risborough: Shire Publications, 1996.
Rogério SOUSA, Iniciação e Mistério no Antigo Egipto, Lisboa: Edições Ésquilo, 2009.
Richard WILKINSON, The Complete Temples of Ancient Egypt, Cairo: The American University in
Cairo Press, 2005.
A HIERARQUIA SACERDOTAL AMONIANA
Alto clero
Os hemu-netjer (servidores do deus):
— Sumo sacerdote de Amon (hem-netjer tepi en Amon)
— Segundo sacerdote de Amon (hem-netjer 2-nu en Amon)
— Terceiro sacerdote de Amon (hem-netjer 3-nu en Amon)
— Quarto sacerdote de Amon (hem-netjer 4-nu en Amon)
— Pai-divino de Amon (it-netjer en Amon)
Baixo clero
— Sacerdote puro (ueb) ou de «mãos puras» (ueb aui)
— Sacerdote leitor (kheri-hebet)
— Sacerdote imi-seté
— Sacerdote horólogo (uenet)
— Sacerdote funerário (sem ou setem)
Era o sumo sacerdote que assegurava a celebração do culto em nome do faraó e que
superintendia na administração dos bens do templo, transferindo essas funções para o segundo
sacerdote quando estava ausente. Por sua vez era assessorado pelo terceiro sacerdote e quarto
sacerdote, e por outros membros do clero, nomeadamente os pais-divinos. Este título aparece
também como it-netjer meri-netjer, ou seja, «sacerdote pai-divino, amado do deus».
No baixo clero integravam-se os sacerdotes «puros» ou uebu (plural de ueb), os quais
estavam incumbidos de cuidar dos instrumentos do culto e dos objetos sagrados, mantendo os
templos limpos, cuidando da estátua do deus (lavando-a, alimentando-a, incensando-a e ves-
tindo-a), ou da barca sagrada processional. Os sacerdotes leitores (kheriu-hebet) tinham por
função ordenar as cerimónias segundo o ritual e recitar em voz alta os hinos sagrados durante
o culto, lendo textos, como o seu título indica; era a eles que se atribuíam poderes mágicos
pelo conhecimento das fórmulas contidas nos rituais. Dirigia-os um chefe, o heri-tep. Quanto
ao cargo de imi-seté, julga-se que era desempenhado por pessoas a quem competia o trans-
porte de objetos dentro do templo. Os sacerdotes horólogos calculavam as horas destinadas a
cada cerimónia pela observação do curso diurno do Sol e da marcha noturna das estrelas.
Os membros do baixo clero estavam divididos em quatro grupos, sendo cada grupo
designado em egípcio por sá (correspondentes às filés do período ptolemaico), que assumiam
alternadamente durante um mês por estação do ano os seus encargos religiosos, após o que
regressavam às suas funções habituais do dia-a-dia, não se distinguindo em nada dos «laicos»
porque na verdade não havia uma classe profissional, todos eles eram, em suma, funcionários.
Assinale-se ainda a existência dos sacerdotes funerários que se dedicavam à importante tarefa
de providenciar o culto aos mortos, sem o qual a vida no Além não se concretizaria. Inclui-se
neste grupo o sacerdote sem ou setem (aparecendo por vezes ao lado dele o sacerdote leitor
para que fossem lidas passagens do ritual) e o sacerdote ut ligado às tarefas de mumificação e
embalsamamento, atividades de suma importância ritual que eram, em geral, realizadas em
espaços anexos aos templos.
ICONOGRAFIA DAS DIVINDADES EGÍPCIAS
Identificação das imagens divinas, com tradução dos textos hieroglíficos que estão à frente de
cada figura, as quais se reconhecem pela simbologia que exibem na cabeça ou nas mãos.