Crenças de Alunos E Professor Sobre O Uso Da Língua Materna Na Aprendizagem Da Língua Estrangeira
Crenças de Alunos E Professor Sobre O Uso Da Língua Materna Na Aprendizagem Da Língua Estrangeira
Crenças de Alunos E Professor Sobre O Uso Da Língua Materna Na Aprendizagem Da Língua Estrangeira
Abstract: In classroom contexts, language teachers often come across situations in which the
mother tongue is used by their students and themselves, even though they attempt to avoid
those situations to happen. The question of the use of the mother tongue (L1) during a foreign
language (FL) learning is divided into two different positions: those who understand mother
tongue as a barrier for foreign language learning, and those who understand it as a facilitator.
Considering the issues posed here, this qualitative and ethnographic research sought to
investigate the (pre) conceptions of adult learners and a teacher concerning the relation
between mother tongue and foreign language, and how the use of both languages occurs
during a basic level English class at a Language Teaching Center in a public university located in
São Paulo state. The results have shown convergent opinions amo ng students and teacher who
believed the L1 should be used to clarify tasks and vocabulary. However, classroom observation
have shown the use of the L1 is not limited to the conceptions of the participants, having other
important functions.
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Marília da Silva Corrêa LEMOS, CRENÇAS DE ALUNOS E PROFESSOR SOBRE O USO DA LÍNGUA
MATERNA NA APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA. p. 20-41.
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Resumen: En el contexto del aula, los profesores de lengua extranjera (LE) a menudo se
encuentran la Lengua Materna utilizar situaciones (LM) realizados por sus alumnos y por sí
mismos, a pesar del intento de evitar este tipo de situaciones se produzcan. Esta pregunta
sobre el uso de LM para el aprendizaje de una lengua extranjera se divide en dos partes: los
que observan la LM como una limitación del aprendizaje de una lengua extranjera, y los que lo
observan como un facilitador de este aprendizaje. Aprovechando esta pregunta, esta
investigación, cualitativa y etnográfica, investigó los (pre) concepciones de los alumnos adultos
y un profesor de la relación entre la madre y el Lenguaje de habla no inglesa, y cómo fue la
aparición de la utilización de ambos idiomas dentro de un nivel básico de clase de Inglés de
habla de un lenguaje centro de enseñanza en una universidad pública en Sao Paulo. Los
resultados mostraron una convergencia de puntos de vista entre el profesor y los estudiantes,
que creían que el LM se debe utilizar con el fin de aclarar las tareas y vocabulario. Sin embargo,
la observación de la clase mostró que el uso de LM no se limitaba a las opiniones de los
participantes, asumiendo otras funciones importantes.
Palabras clave: la lengua materna; La enseñanza y el aprendizaje; Lengua extranjera.
1. INTRODUÇÃO
A questão sobre o uso da língua materna (doravante LM) como facilitadora para o
aprendizado de uma língua estrangeira (doravante LE) parece ser polêmica no âmbito da
Linguística Aplicada mundial. Estudos na área de EFL (English as a Foreing Language) afirmam
que o aprendizado de uma LE presume a maximização da exposição à língua-alvo, separação
entre língua materna e estrangeira, e uso contínuo da LE na sala de aula (Nazary, 2008).
Entretanto, outros estudos parecem ter encontrado resultados satisfatórios no uso da língua
materna durante o aprendizado da LE.
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estrangeira, numa compreensão mais restrita do ensino comunicativo, ainda presente nas salas
de aulas de línguas.
Não obstante, esse ensino e aprendizagem de uma segunda língua é marcado por
crenças, como nos apresenta Barcelos (2006), quando cita o fato de os alunos acreditarem que
é possível aprender inglês somente em escola de idiomas; ou que os melhores professores de
línguas estrangeiras são os próprios nativos; ou que determinados alunos possuem um
“bloqueio” para aprender uma segunda língua, dentre outras.
2. ABORDAGEM MONOLÍNGUE
1
Curso de língua inglesa de nível básico oferecido pelo Centro de Ensino de Línguas de uma universidade
pública paulista. Ressalta-se que a autorização para a realização da pesquisa foi previamente concedida
pela coordenação geral do Centro e que os participantes do estudo assinaram termos de consentimento
livre e esclarecido antes da coleta de dados ( CAAE: 27319114.6.0000.5400PB).
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décadas de 70 e 80, sugere que apenas a LE deveria ser utilizada e reforçada durante a aula, e o
uso da LM deve ser evitado, se não, proibido (CUMMINS, 1986). De acordo com o autor, as
principais assunções da abordagem monolíngue em teorias de aprendizado de LE podem ser
divididas em três subtópicos:
1) Somente a língua alvo deve ser usada para dar instruções durante a aula
2) Tradução da língua materna para a língua estrangeira não deve ocorrer
durante a aula de LE
3) Nos programas de imersão ou bilinguismo, as duas línguas devem ser
rigidamente separadas
3. ABORDAGEM DA LE E LM
Atrelado a esse fato, outros estudos mostram que a LM pode ajudar o aprendizado de
gramática e vocabulário da LE. Para Ringbom (1992, p.89), “cognatos em um texto na LE
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facilmente ativam a forma similar das palavras na LM, e contribuem para um melhor
entendimento do texto”. Além disso, esse autor percebeu similaridades existentes entre as
línguas por ele estudadas, no que se refere à estrutura gramatical: “a relativa facilidade para
compreender um texto em uma LE depende das estruturas gramaticais serem parecidas em
ambas as línguas”.
Desse modo, os estudos citados demonstram que é possível utilizar ambas as línguas
durante uma aula de LE e otimizar o processo de aprendizagem de vocabulário, melhorar o
desempenho na escrita e esclarecer tarefas, contribuindo positivamente para o processo de
aprendizagem dos alunos. Na seção seguinte, apontaremos alguns estudos acerca das
concepções de alunos e professores sobre o uso de LM na sala de aula de LE.
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5. NATUREZA DA PESQUISA
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particularmente, merece uma atenção especial à metodologia empregada, uma vez que o
pesquisador pode assumir diferentes posturas durante uma aula (NUNAN, 1988).
1) visão do aluno;
2) visão do professor;
3) visão da pesquisadora.
Dessa maneira, para equacionar-se com critérios de confiabilidade e validade, foi feita
a triangulação de informações a partir dos dados provenientes dos questionários, entrevista e
observações de aula. Tendo em mente a primeira pergunta de pesquisa sobre as
(pré)concepções de alunos e do professor acerca do uso de LM na sala de aula de inglês como
LE, tanto os questionários quanto a entrevista foram utilizados como dados primários que
foram triangulados com os dados obtidos nas observações de aula e notas de campo. Já para
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responder à segunda questão deste estudo sobre o uso da língua materna durante a aula de
LE, as observações e notas de campo foram considerados como dados secundários.
Tais instrumentos são aplicáveis neste estudo, uma vez que, por meio deles foi possível
obter informações relevantes para análise da relação entre a LM e a LE no processo de ensino e
aprendizagem de língua inglesa, buscando levantar algumas das (pre)concepções de alunos e
do professor em uma sala de aula de língua inglesa de nível básico.
6. CONTEXTO DE INVESTIGAÇÃO
Foram assistidas aulas de inglês de nível básico com 2 horas de duração cada. A mesma
turma foi acompanhada ao longo de 1 mês.
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Dados retirados da página http://www.fclar.unesp.br/#!/centrodelinguas. Acesso em 18 jun 2015.
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Estudou em escola pública, mas não considerava relevante o que aprendeu de inglês
naquela época; citando a universidade como o local onde adquiriu maior aprendizado e
conhecimento da língua.
7. COLETA DE DADOS
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quais fins a estudam, etc.). Além disso, por meio dos questionários, esperou-se incluir questões
que nos permitiriam identificar as (pré)concepções acerca das relações entre LE e LM. Dando
continuidade, seguiu-se para a próxima etapa que envolveu a observação não -participante de
aulas, registradas por meio de notas de campo, para investigar como se dava a relação entre
LM e LE na sala de aula. Essa etapa foi necessária para coletar dados que possibilitassem a
análise de situações de sala de aula em que os alunos e o professor utilizavam a LM.
Por fim, na terceira etapa, foi realizada uma entrevistacom o professor. Foi feito um
roteiro de entrevista semiestruturado, contendo perguntas reflexivas que possibilitavam ao
professor expressar suas próprias opiniões a respeito do tema.
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os alunos praticavam a versão do Português para o Inglês, mas acreditavam que era um hábito
a ser evitado. As justificativas dos alunos condizem com a afirmação de Murrah (2000 apud
MATTIOLLI, 2004), sobre o uso da tradução como evidência de problemas em comunicação, e
não uma escolha de atividade. A tradução, dessa forma, estaria sendo utilizada devido à pouca
proficiência dos alunos na língua -alvo, e não como um exercício a agregar ao aprendizado da
LE.
a. O Português deve ser utilizado pelo professor para explicar conceitos difí-
ceis, introduzir uma matéria nova e definir vocabulário.
Com referência à pergunta “você gosta quando o professor utiliza o português durante
a aula”, apenas 20% informaram que “gostam muito”, sendo a maior incidência de respostas
(60%) para “gosto algumas vezes”. O momento que julgam mais apropriado para a intervenção
do professor em português é “para explicar conceitos difíceis”. Ao mesmo tempo se igualam as
opções “para introduzir uma matéria nova” e para “definir vocabulário”. É interessante citar
que a opção “para fazer brincadeiras com os alunos”, foi selecionada por apenas 1 aluno,
embora os dados de Ringbom (1992) demonstrem que brincadeiras na LM podem ajudar a
reduzir o filtro afetivo de aprendizes na sala de aula de LE.
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Ainda, verificamos uma discrepância entre esses dados e os dados referentes ao tópico
1 (sobre o uso do português em sala de aula). Enquanto 70% dos alunos afirmavam que o
português deveria ser utilizado durante a aula, apenas 20% dos alunos informaram “gostar
muito” quando o professor fazia uso do português. Entendemos que essa incoerência pode
demonstrar duas hipóteses: os alunos acreditavam que o português deveria ser usado de
forma moderada, ou o professor estava utilizando o português em proporções que não
agradavam a maioria dos alunos.
Com base nas observações de aula e notas de campo, notamos que a LM era bastante
utilizado pelos alunos. Apesar de os aprendizes considerarem a tradução antes de falar, ler e
escrever como um hábito que deveria ser deixado de lado, situações desse tipo aconteciam
com frequência durante a aula.
Situação 1
A1: Prof, você entregou uma apostila para os alunos?
P: yes, last class, you weren’t here.
A1: ah tá, na aula passada, então você me entrega depois?
P: yes, no problem.
(Aula 1 dia 05/05/2014)
Situação 2
P: switch purple for beige in this exercise.
A2: calma prof, fala em português, é pra mudar roxo pra bege?
(Aula 2, dia 07/05/2014
Situação 3
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Situação 5
P: what is a lawyer?
A1: Advogado.
A2: I’m a lawyer!
(Aula 4, dia 14/05/2014)
Quando perguntado sobre qual seria a melhor forma para ensinar uma LE, o professor
entrevistado revelou que acreditava que não havia uma “receita”, defendendo que o caminho
era dinamizar a aula com múltiplas linguagens.
Para ele, a maior dificuldade era auxiliar alunos de nível inicial a reconhecer signos
linguísticos, a associar significante ao significado. Isso reflete no seu ensino de vocabulário:
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Este trecho da entrevista condiz em partes com o que ocorria durante as aulas, porque
o professor não se valia apenas de mímicas ou ilustrações para apresentar um vocabulário
simples. Ocorriam outras situações de tradução de vocabulário simples, como podemos
observar na situação 7, quando o professor utilizava a tradução direta, embora a palavra seja
semelhante com o português.
Situação 7
A5: O que é Occupation?
P: Ocupação. Profissão.
(Aula 1, dia 05/05/2014)
Situação 8
P: am I a magician? A magician is someone who works in a circus, he
has a hat and takes a rabbit from inside the hat… Mágico
(Aula 3, dia 12/05/2014)
O professor acreditava que o uso do português durante a aula de língua estrangeira era
necessário, citando que, no início da sua prática pedagógica, tentou falar apenas em inglês,
mas isso não agradou a turma, como ele revela no trecho a seguir:
“Utilizo a Língua Portuguesa na aula, sim, aliás, nunca dei uma aula toda
em inglês. [...] por mais que num planejamento de curso pareça
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Dessa forma, apesar de a entrevista não transparecer esse múltiplo uso da LM pelo
professor, isso ocorria durante as aulas, indo ao encontro das expectativas dos alunos em
relação à prática pedagógica do professor.
CONSIDERAÇÕES
Com referência à segunda pergunta, sobre como era o uso da língua materna na sala
de aula de LE, podemos afirmar que a LM era tratada de formas que vão além das definições
sugeridas pelos alunos e professor. Durante a aula, a LM era utilizada como forma de mediar a
interação entre professor-aluno, e otimizar a aprendizagem da língua alvo – os alunos a
utilizavam para responder perguntas e tirar dúvidas com o professor, para relacionar vivências
do dia-a-dia com algo aprendido na aula, e para fazer associações entre palavras semelhantes
em ambas as línguas; enquanto o professor utilizava a LM para explicar conceitos gramaticais,
definir vocabulário, fazer associações entre as línguas, e realizar traduções simultâneas.
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O uso da LM, porém, parecia exceder o uso da LE em alguns momentos, o que, ao invés
de otimizar a comunicação entre aluno e professor, acabava tornando -a menos direta e menos
dinâmica. Os momentos de uso excessivo da LM demonstraram, de um lado, o desgaste do
professor ao fazer traduções simultâneas, e do outro uma acomodação dos alunos. Ainda, os
dados referentes aos questionários aplicados aos alunos sugerem que os alunos não eram, em
sua maioria, favoráveis ao uso excessivo do português pelo professor. Enquanto isso, o
professor acreditava que esse uso do Português fosse necessário, já que tivera problemas
quando ministrava aulas somente em inglês no início do curso.
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ANEXOS
QUESTIONÁRIO
Nome: ___________________________________________________ Idade: ____
1. Você já estudou inglês anteriormente? Assinale uma das opções e indique o tempo.
5. Quem deve ser responsável pela aprendizagem? Assinale uma das opções abaixo:
6. Em sua opinião, o que as pessoas devem fazer para aprender uma língua estrangeira de
forma eficiente?
7. Em qual das habilidades abaixo você encontra mais dificuldade ao estudar inglês? Explique.
( )Listening ___________________________________________________
( ) Speaking ___________________________________________________
( ) Reading ___________________________________________________
( ) Writing ___________________________________________________
10. Você acredita que o português deve ser usado durante a aula?
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Não gosto
Gosto um pouco
Não gosto nem desgosto
Gosto algumas vezes
Gosto muito
12. Em quais momentos você acha que é apropriado ao professor usar o português durante a
aula?
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