1 PB
1 PB
1 PB
RESUMO
A forma como os povos indígenas se comunica com a sociedade nacional ganha uma
nova força – a escrita. No decorrer do tempo os povos indígenas utilizavam apenas a
oralidade para transmitir suas culturas de geração em geração. A Literatura Indígena
contribui para a autoafirmação das tradições e da cultura indígena, autoafirmação étnica
de denúncia de diversos tipos de espoliações e de registro da cultura das mais diversas
etnias. Nesse sentido, o foco que se apresenta nessa pesquisa é investigar as narrativas
dos escritores (as) indígenas, sobretudo as obras de Eliane Potiguara e Julie Dorrico,
mulheres de escrita potente e que representam a força da palavra escrita por mulheres
indígenas, mulheres que são apagadas, exploradas e violentadas no contexto em que
estão inseridas. Procura-se compreender como e se a atuação, por meio da produção
literária, tem reverberado em conquistas políticas para a luta dos povos indígenas do
Brasil. Esta pesquisa qualitativa foi desenvolvida com base na literatura revista acerca
dos temas anunciados, leitura de obras de autores (as) mencionados (as), visita a sites,
blogs e páginas que apresentam informações e dados sobre a temática. Além de
participação em seminários, lives e leitura de entrevistas com os expoentes da Literatura
indígena contemporânea.
ABSTRACT
The way indigenous peoples communicate with national society gains new strength –
writing. Over time, indigenous peoples used only orality to transmit their cultures from
generation to generation. Indigenous Literature contributes to the self-assertion of
indigenous traditions and culture, ethnic self-assertion of denouncing different types of
dispossession and recording the culture of the most diverse ethnic groups. In this sense,
the focus of this research is to investigate the narratives of indigenous writers, especially
the works of Eliane Potiguara and Julie Dorrico, women with powerful writing and who
represent the strength of the written word by indigenous women, women who are
erased, exploited and violated in the context in which they are inserted. It seeks to
understand how and if the performance, through literary production, has reverberated in
political achievements for the struggle of indigenous peoples in Brazil. This qualitative
research was developed based on the revised literature about the announced themes,
reading works by mentioned authors, visiting websites, blogs and pages that present
information and data on the subject. In addition to participating in seminars, lives and
reading interviews with exponents of contemporary indigenous literature.
RESUMEN
La forma en que los pueblos indígenas se comunican con la sociedad nacional adquiere
una nueva fuerza: la escritura. Con el tiempo, los pueblos indígenas utilizaron solo la
oralidad para transmitir sus culturas de generación en generación. La literatura indígena
contribuye a la autoafirmación de las tradiciones y culturas indígenas, la autoafirmación
étnica al denunciar diferentes tipos de despojo y registrar la cultura de los más diversos
grupos étnicos. En este sentido, el foco de esta investigación es indagar en las narrativas
de escritores indígenas, especialmente las obras de Eliane Potiguara y Julie Dorrico,
mujeres con escritura poderosa y que representan la fuerza de la palabra escrita por
mujeres indígenas, mujeres que son borradas, explotadas y violadas en el contexto en el
que se insertan. Busca comprender cómo y si la actuación, a través de la producción
literaria, ha repercutido en logros políticos para la lucha de los pueblos indígenas en
Brasil. Esta investigación cualitativa se desarrolló a partir de la literatura revisada sobre
los temas anunciados, lectura de trabajos de los autores mencionados, visitas a sitios
web, blogs y páginas que presentan información y datos sobre el tema. Además de
participar en seminarios, entrevistas en vivo y de lectura con exponentes de la literatura
indígena contemporánea.
INTRODUÇÃO
Com base em estudos realizados por intelectuais, tais como Chaveiro (2015), Lima
(2016), Graúna (2003), entre outros, constata-se a relevância de pesquisas geográficas sob a
mediação ativa da Literatura. Observou-se também que compõem essa vertente, trabalhos com
as populações indígenas. Assim, a temática do presente estudo envolve tais povos e suas causas,
tratando especificamente da Literatura realizada por indígenas. Desse modo, pode-se constatar
que há estudos recentes que visam mostrar as possibilidades de aproximação entre Geografia e
Literatura. Sendo assim, tais estudos apontam que essa aproximação ocorre justamente no
quesito da densa relação entre vida e espaço. Através do diálogo podem promover um
aprofundamento das interpretações sobre a realidade.
Souza. Em 2005 foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo Projeto Mil Mulheres pela
Paz. É formada em Letras e Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro -
UFRJ. É fundadora da Rede de Comunicação Indígena (Grumin). Participou por anos
da elaboração da Declaração Universal dos Direitos Indígenas na Organização das
Nações Unidas - ONU, em Genebra e foi premiada pelo Pen Clube da Inglaterra pelo
seu livro A Terra é a mãe do índio, publicado em 1989.
A autora divulga por meio de sua escrita o movimento peculiar de vários povos
indígenas do Brasil, isto é, o uso da palavra escrita como forma de luta política e de
registro da cosmovisão e memória ancestral dos povos originários que forma o território
brasileiro. Conclui-se, que os livros abrem portas para esses autores (as) falarem de seu
povo e criticar a sociedade dominante.
Esse movimento literário, conforme Dorrico, surge primeiro nas aldeias, com a
autoria coletiva, a partir da educação escolar indígena, direito assegurado na
Constituição Federal, de 1988, graças à luta de lideranças indígenas brasileiras, como
Ailton Krenak. A autoria coletiva é uma produção realizada por alunos e professores
indígenas, visando produzir materiais didáticos voltados para a comunidade indígena. A
autoria individual ganha fôlego com as publicações de Daniel Munduruku Histórias de
Índio (1996), Kaká Werá Todas as vezes que dissemos adeus (1994 1ªed, 2002), ou seja,
Kaká Werá e Daniel Munduruku são os pioneiros, idealizadores desse movimento
literário.
Lima (2013) reitera que em uma narrativa de estrutura simples, quase sempre o
narrador é em terceira pessoa e se constitui no narrador que comanda o enredo, isto é,
naquele que sabe tudo que vai acontecer, mas não se intromete diretamente na narrativa.
Já o narrador protagonista, apresenta-se em primeira pessoa, o que corrobora na
subjetividade do narrador-personagem. É possível, assim, perceber as angústias das
personagens, os medos, a solidão. As obras Metade Cara, Metade Máscara (2004) e a
Cura da Terra (2015) de Eliane Potiguara, evidenciam tais características, pois observa-
se o sofrimento, o medo, o choro e as angústias das mulheres indígenas
desterritorializadas.
Esses tipos e funções das narrativas, segundo Lima (2013), ajudam nas
possíveis análises das obras produzidas pelos autores e autoras indígenas, sobretudo no
que constitui as subjetividades das personagens.
estruturais, isto significa, violência física, violência sobre suas terras e territórios e a
violência simbólica e cultural (epistemicídio), no qual observa-se uma das maiores
atrocidades – o extermínio de suas línguas.
O autor reitera que a resistência indígena pode ser considerada umas das mais
longas e mais sangrentas lutas que já se travou no território brasileiro. Ailton Krenak,
em entrevista para o documentário Guerras do Brasil disponível na plataforma
streaming Netflix confirma esses apontamentos de Ribeiro (1995), pois declara que os
povos indígenas e a sociedade envolvente permanecem em guerra.
evidenciou-se nos apontamentos de Ribeiro (1995). A relação entre esses dois povos a
partir desse ponto é marcada por extrema violência.
negar suas identidades, devido a opressão a que são expostos. Esse movimento
migratório se intensificou na década de 1960 e de forma bem organizada surge às
primeiras tentativas do movimento indígena em busca de segurança física e cultural para
todos os povos indígenas do Brasil.
Costa (2020) enfatiza que a palavra poética é arma de luta empunhada pela
guerreira Potiguara para a transformação do mundo, visando eliminar as injustiças e
promover a união e a paz entre todos os povos. Na terceira edição da obra a
apresentação é feita por Ailton Krenak, líder indígena, que descreve Eliane como uma
“guerreira questionadora do entrelugar ocupado pelo indígena errante na sociedade pós-
colonial”. Nessa edição Julie Dorrico, nos outros escritos, destaca que a identidade
literária de Eliane Potiguara denota e conota a ancestralidade e resistência política.
Pode-se observar a força poética de Eliane Potiguara no Poema abaixo, intitulado Brasil.
(POTIGUARA, 2004 p. 32)
Brasil
Costa (2020), ao estudar a obra Metade Cara, Metade Máscara (2004), enfatiza
que Potiguara aborda a questão da diáspora indígena, do ponto de vista coletivo e
individual, a partir da experiência de sua família. A autora ressalta que na respectiva
obra Potiguara traz uma narrativa poética entremeada por relatos, artigos e ensaios a
respeito dos povos indígenas, sua luta pela sobrevivência ao longo da história do Brasil.
A autora reforça que, além da questão estrutural e poética, a obra tem um caráter
pessoal, isto é, a escrita da autora indígena foca na luta das mulheres e dos povos
indígenas, na saga poética do casal Cunhataí e Jurupiranga, no sofrimento e na solidão
das mulheres e na violência praticada contra as comunidades indígenas. A obra,
conforme Costa (2020), revela uma escrita de ruptura, em que o feminino se estabelece
como resistência, tanto na temática quanto na materialização do texto literário.
Outro ponto destacado pela autora é a luta dos povos indígenas contra a figura
histórica de seres do passado, pois, desde o império até a década de 1970, as políticas
indigenistas acreditavam que os sujeitos indígenas eram primitivos e que aos poucos
evoluiriam e seriam integrados à sociedade envolvente e, portanto, seriam considerados
brasileiros. Entretanto, Dorrico (2019) reforça a força da ancestralidade e da identidade
indígena, ou seja, mesmo os povos indígenas compartilhando dos hábitos da sociedade
não indígena, eles não se esquecem de onde vieram, quem são e para onde pretendem ir.
E por fim, Dorrico (2019), aponta que os povos indígenas lutam contra a figura
de povos agrafos, ou seja, povos sem literatura. Porém, ressalta que não há relatos sobre
o fato de os povos indígenas serem tradicionalmente estéticos, pois, segundo a autora,
eles (as) cantam, dançam, pintam, esculpem e contam muitas histórias e assim ironiza:
"O que é a literatura se não uma boa história contada? Desse modo, a autora explica que
a literatura indígena é anterior à escrita alfabética. Mas devido a tantos equívocos
contados e repetidos, os sujeitos indígenas resolveram adotar à escrita alfabética,
publicar seus livros autorais e contar suas vivências a partir de suas próprias
perspectivas.
Considerações finais
Segundo o escritor indígena Olívio Jekupé (2009), o uso da história oral pelos
indígenas sempre foi importante, no entanto, com a escrita eles podem ser mais fortes,
através dela podem registrar histórias, fazendo com que não se percam no tempo,
ficarão registradas para sempre. Além disso, o autor ainda destaca que a figura do
contador de história que é tão importante para a cultura indígena não deixará de existir
com a escrita, apenas ganhará maior destaque, pois será uma fonte direta das narrativas
que alimentarão a Literatura Indígena.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Inês de. Desocidentada: experiência literária em terra indígena. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2009.
DORRICO, Julie. Eu sou macuxi e outras histórias. Belo Horizonte: Caos e Letras,
2019.
JECUPÉ, KakaWerá. Oré Até roiru’ama - todas as vezes que dissemos adeus. São
Paulo: Fundação Phytoervas, 2002.
JEKUPÉ, Olívio. Literatura escrita pelos povos indígenas. São Paulo: Scortecci, 2009.
LIMA, Sélvia Carneiro de. Escritores indígenas e produção literária no Brasil: sujeitos
em movimento. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Geografia,
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, 2016.
POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Global Editora, 2004.
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-7307-5845