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AGROINDUSTRIAIS
WORKING CAPITAL AND PERFORMANCE OF AGROINDUSTRY COMPANIES
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
ABSTRACT
This study aimed to analyze the influence of working capital management on the
economic and financial performance of Brazilian agribusiness companies based
on the variables of Fleuriet Model and profitability indicators. It is a descriptive
study concerning agribusiness companies listed in São Paulo Stock Exchange [B3]
between 2011 and 2017. With regards to Fleuriet Model, the main findings show
that the need for working capital by more than 92% of companies was positive;
most Brazilian companies presented this same behavior, with 55% of them showing
inadequate working capital financing structure. Besides, only 33% of the companies
presented positive liquidity and profitability, which reinforces the importance of
working capital financing strategy appropriate to the characteristics of the business
concerning the extension of its financial cycle.
KEYWORDS
R. Adm. FACES Journal Belo Horizonte v. 18 n. 3 p. 88-102 jul./set. 2019. ISSN 1984-6975 (online). 89
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CAPITAL DE GIRO E DESEMPENHO DE EMPRESAS AGROINDUSTRIAIS
-KANE; BRÖRING, 2011; GILL et al., 2018). é uma área de menor dimensão teórica
Os processos que compõem a produção nas finanças corporativas, ainda que sua má
estão suscetíveis a pragas e doenças, além gestão seja a principal causa para a morta-
de variações climáticas, pluviométricas e de lidade de empresas (REIS; SANTOS, 2017).
temperatura, todas essas variáveis podem Nesta corrente, há um debate teórico en-
refletir na eficiência da produção, com re- tre os modelos de gestão de capital de giro
flexos na oferta de produtos e, com efeito, baseado nos indicadores estáticos de liqui-
na flutuação dos preços que impactam di- dez e os indicadores dinâmicos extraídos
retamente no fluxo de caixa dos agentes do Modelo Fleuriet para a gestão do capital
envolvidos (BOEHLJE; ROUCAN-KANE; de giro (MARQUES; BRAGA, 1995; MEDEI-
BRÖRING, 2011; LAKNER; BAKER, 2014). ROS; RODRIGUES, 2004; SILVA et al., 2012;
Concorre à volatilidade das atividades CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014).
agropecuárias, as dinâmicas de mercado Apesar de alguns estudos empíricos va-
que perpassam por diferenças de regula- lidarem a abordagem do Modelo Fleuriet
mentação e políticas públicas de subsídios para a gestão do capital de giro, o uso de in-
entre países, mudança no perfil do consu- dicadores desta abordagem dinâmica para
mo de alimentos, bebidas e demais produ- a gestão do capital de giro ainda é pouco
tos agropecuários, taxa de câmbio, disponi- explorada na literatura de finanças, bem
bilidade de crédito, legislação ambiental e como, no meio empresarial, em que os in-
trabalhista, inovações tecnológicas, o nível dicadores de liquidez (imediata, corrente,
de renda da população e a própria com- seca e geral) são proeminentes. Não obs-
petitividade entre empresas e produtores tante, Medeiros e Rodrigues (2004) ques-
(SCHOUCHANA; SILVA FILHO, 2009). tionam a eficácia do Modelo Fleuriet frente
Em se tratando da administração do aos indicadores tradicionais de liquidez.
capital de giro, o desafio para os gestores Portanto, este estudo se posiciona em
é maior nas empresas associadas ao agro- um gap teórico e prático não totalmente
negócio, pois além das incertezas produti- desenvolvido na área de finanças corpo-
vas e de mercado (AMBROZINI; MATIAS; rativas quanto a importância da gestão do
PIMENTA JÚNIOR, 2014); adiciona-se ca- capital de giro no desempenho econômi-
racterísticas específicas do setor como a co e financeiro das empresas. De maneira
perecibilidade dos produtos, a sazonalida- formal, define-se o objetivo deste estudo
de e a dependência logística para equilibrar como: Analisar a influência da gestão do capi-
volumes de produção concentrados com tal de giro no desempenho econômico e finan-
consumo pulverizado (MOORI; CALDEI- ceiro das empresas do agronegócio no Brasil.
RA; PROCÓPIO, 2013). A análise tem como referência as empre-
Pesquisas associadas à gestão do capital sas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo,
de giro para o setor ainda concentram- integrantes do segmento do agronegócio.
se em casos específicos (KATCHOVA; Para alcançar o objetivo desse estudo, o
ENLOW, 2013); de modo que não foram artigo foi estruturado em mais quatro se-
encontrados estudos de larga amplitude ções para além desta introdução. A próxi-
e longitude para o setor do agronegócio. ma seção aborda as bases teóricas que su-
Ressalva-se que a gestão do capital de giro portam as hipóteses do estudo. A terceira
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FABIANA FERREIRA DA SILVA, EDEMAR FERRAREZI JUNIOR, DAVID FERREIRA LOPES SANTOS, SÉRGIO SILVA BRAGA JÚNIOR
seção apresenta as fontes de informações valor em dinheiro que a empresa precisa para
empíricas utilizadas e os procedimentos honrar com seus compromissos dentro dos
adotados para extrair os resultados que prazos estabelecidos (REIS; SANTOS, 2017).
são elencados e discutidos na quarta seção. A ineficaz administração do capital de
As implicações deste estudo, bem como giro tem contribuído para o fechamento de
limitações e sugestões futuras estão nas micro e pequenas empresas brasileiras, por
considerações finais, a quinta seção. A lista- possuírem registros contábeis vulneráveis
gem das referências utilizadas encontra-se e inadequado controle gerencial (CARVA-
na bibliografia que encerra o artigo. LHO; SCHIOZER, 2012), ao contrário, a
gestão adequada do capital de giro, gestão
REVISÃO TEÓRICA do ativo e passivo circulante, influenciam
Esta seção apresenta as teorias que nor- diretamente na liquidez e rentabilidade das
teiam a gestão do capital de giro, o modelo empresas contribuindo para o sucesso da
de Fleuriet e a análise sobre o desempenho organização (BORGES JUNIOR et al., 2017).
econômico e financeiro. Para Masri e Abdulla (2018), o nível de
capital de giro é uma das principais decisões
Gestão do Capital de Giro financeiras que afetam o valor de uma em-
Administrar o capital de giro está intima- presa, a riqueza dos acionistas, a competitivi-
mente relacionado a decisões de compra dade, a liquidez e a lucratividade. Importante
e venda e também às atividades operacio- lembrar que o capital de giro necessita de
nais e financeiras de uma empresa (ASSAF acompanhamento permanente, pois continu-
NETO; LIMA, 2014). É necessário que haja amente sofre impactos das diversas mudan-
adequada gestão dos estoques, compra de ças enfrentadas pela empresa, podendo ser
materiais, produção, venda de produtos e internas ou externas (ZOUAIN, 2011).
prazo de recebimento, para garantir uma Para Herling et al. (2017) o gestor finan-
gestão do capital de giro eficiente (ASSAF ceiro da empresa poderá se deparar com
NETO; LIMA, 2014; HERLING et al., 2013). decisões de investimento, de financiamento
O capital de giro compreende os recursos e de operações; sabendo que o capital pode
aplicados no ativo circulante da empresa, que ser composto de recursos próprios, oriun-
por sua vez são necessários à manutenção de do dos próprios acionistas ou de terceiros,
todo ciclo operacional da organização. Dessa que geralmente são instituições financeiras
maneira, o ativo circulante, faz parte do gru- ou outros fornecedores de capital. Sendo
po de maior liquidez representado no ativo assim, cada fonte de captação terá um custo
da empresa, afetando e sendo afetado, signi- diferenciado, sendo este um grande desafio
ficativamente, pelas atividades operacionais do gestor, pois avaliar quais as fontes de fi-
(ASSAF NETO; LIMA, 2014). nanciamento ideais para empresa é um pon-
Faz-se importante saber que o entendi- to importante para a boa gestão financeira.
mento sobre capital de giro está relacionado Após a disponibilidade destes recursos,
diretamente à necessidade de dinheiro. Sen- o gestor financeiro encontra mais uma di-
do que essa necessidade indica o montante ficuldade, a necessidade de aplicá-lo. Elen-
de recursos, doravante, que a empresa pre- cando as decisões de investimento, avalian-
cisa para financiar suas operações, ou seja, o do se o emprego dos recursos superará
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seu custo de captação, e se irão gerar o dor francês Michel Fleuriet (MARQUES; BRA-
retorno esperado de acordo com o plane- GA, 1995; MEDEIROS; RODRIGUES, 2004;
jamento (HERLING et al., 2017). CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014).
Contudo, a não utilização de ferramen- O modelo de Fleuriet reclassifica as con-
tas gerenciais resultará em uma má gestão tas do ativo e passivo circulante do balan-
do capital de giro, poderá vir a resultar em ço patrimonial, com base na natureza dos
dificuldades financeiras, gerando fatores itens que o compõem, em operacionais ou
condicionantes à mortalidade da empresa cíclicas, diretamente relacionadas às ativi-
(NEITZKE et al., 2011). dades da empresa e financeiras ou erráti-
Dentro deste contexto, tem-se a contri- cas, não relacionadas ao ciclo operacional
buição do modelo Fleuriet para realização da empresa, com essa definição torna-se
da análise do investimento em capital de possível analisar o equilíbrio financeiro da
giro e sua gestão, gerando resultados que organização (ARAÚJO; COSTA; CAMAR-
permitam inferências na tomada de deci- GOS, 2013; CAMARGOS; CAMARGOS;
sões da organização. Lembrando que a cor- LEÃO, 2014; ZANOLLA; SILVA, 2017).
reta aplicação do modelo Fleuriet permite O Quadro 1 mostra a reclassificação das
identificar a necessidade de investimento contas do ativo e passivo circulantes, con-
no giro dos negócios e o volume necessário forme sugerido pelo modelo dinâmico.
de recursos de longo prazo que financiam o O modelo de Fleuriet possibilita uma
giro (NASCIMENTO et al., 2012). visão sistêmica da organização e econômi-
co-financeira de curto prazo, utilizando-se
Modelo Fleuriet de três variáveis: necessidade de capital de
O modelo de Fleuriet surgiu na década de giro (NCG), capital de giro (CDG) e saldo
1980, também conhecido por Análise Avança- de tesouraria (ST) (MODRO; FAMÁ; PE-
da ou ainda Análise Dinâmica do Capital de TROKAS, 2012; SILVEIRA; ZANOLLA; MA-
Giro, desenvolvido pelo professor e pesquisa- CHADO, 2015; ZANOLLA; SILVA, 2017).
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Necessidade de Capital de Giro (NCG) Ativo Circulante Operacional (ACO) - Passivo Circulante Operacional (PCO)
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raram os custos, podendo o investimento ser que compõem o Euro Stoxx 50 apresentam
considerado lucrativo no período analisado. NCG negativa.
Já a variável de rentabilidade ROE, apre- Utilizando-se dos tipos de perfil finan-
sentou média de -0,04% negativo, ou seja, os ceiro para essa análise, com ST+ e NCG+,
recursos aplicados nas empresas pelos pro- fica evidente que as empresas do agrone-
prietários não estão auferindo lucro, o re- gócio analisadas, apresentam uma situação
sultado médio encontrado não foi bom, pois financeira sólida.
esse índice quanto maior melhor, a capaci- A Figura 1 representa a situação finan-
dade da gestão das empresas de obter lucro ceira das empresas do agronegócio, com
para cada unidade de capital é negativa, ou base nos perfis de análise do modelo de
seja, em média as empresas do agronegócio Fleuriet conforme Quadro 3. Estão ran-
não geraram retorno para os investidores. queadas nos quadrantes pelos tipos de
A variável ROE apresentou desvio-pa- perfis financeiros, e elencadas da mais ren-
drão muito próximo de zero, os dados das tável para a menos rentável considerando
empresas analisadas encontram-se todos a variável ROI.
muito próximos da média, resultando em Considerando as 27 empresas analisadas,
pouca dispersão, o que confirma um resul- 37,04% estão no Tipo II, classificado como
tado desfavorável para os investidores. sólido, CDG+, NCG+ e ST+, 40,74,% encon-
O ST apresentou média positiva, as em- tram-se no Tipo III, insatisfatório, CDG+,
presas do agronegócio objeto desse estu- NCG+ e ST-, 3,7% encontram-se no perfil
do, possuem recursos suficientes para lidar financeiro Tipo IV, classificado como alto ris-
com as obrigações financeiras, possuem va- co, CDG-, NCG- e ST+, 3,7% no Tipo V, muito
lores em caixa e aplicações financeiras su- ruim, com CDG-, NCG- e ST- e 14,81% no
periores aos empréstimos e financiamen- Tipo VI, péssimo, CDG-, NCG+ e ST-.
tos de curto prazo. O ST positivo mostra O modelo de Fleuriet não considera a
que existem fundos de curto prazo que variável rentabilidade em suas análises, a
poderão ser aplicados em títulos de liqui- rentabilidade das empresas do agronegócio
dez imediata, mesmo o comportamento analisadas nesse estudo, demonstram que a
mediano sendo negativo. empresa pode ter sido considerada de alto
Apenas um terço das maiores empresas risco para o modelo de Fleuriet, e apresentar
brasileiras, apresentam NCG negativa, re- uma alta rentabilidade, ser lucrativa no perío-
cebem antes de desembolsarem, já na Eu- do analisado e gerar retorno significativo para
ropa, 50% dos maiores grupos industriais os investidores, como é o caso da Ambev.
TABELA 1 – Resultados estatísticas descritivas
Variável Média Mediana Desv. Padrão C.V.
ROI 6,09% 4,75% 8,69% 142,88%
ROE -0,04% 0,00% 0,86% 2242,30%
ST R$ 475.250,00 -R$ 12.935,00 R$ 1.828.700,00 R$ 3,85
NCG R$ 709.890,00 R$ 163.130,00 R$ 2.695.400,00 R$ 3,80
EF 24,11% 28,09% 337,82% 1401,30%
CET -21,25% -5,40% 274,97% 1294,10%
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)
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FABIANA FERREIRA DA SILVA, EDEMAR FERRAREZI JUNIOR, DAVID FERREIRA LOPES SANTOS, SÉRGIO SILVA BRAGA JÚNIOR
ST
Excelsior
Minerva
M Dias Branco
ALTO RISCO
Klabin
SÓLIDO
BRF
Ambev Marfrig
São Martinho
Fibria
Suzano Papel
Brasilagro
NCG
Pettenati
Santanense
Celul Irani
SLC Agrícola
Melhor
Biosev (CDG-)
Ind Cataguas
Cedro
Bardella
Nutriplan (CDG-)
FIGURA 1 – Plano cartesiano perfis financeiros empresas do agronegócio analisadas
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)
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FABIANA FERREIRA DA SILVA, EDEMAR FERRAREZI JUNIOR, DAVID FERREIRA LOPES SANTOS, SÉRGIO SILVA BRAGA JÚNIOR
pesas fixas e variáveis resultantes das suas lo de Fleuriet foram de que a maioria das
atividades, e em alguns casos ainda gerando empresas analisadas necessita de capital
receitas excedentes. de giro, 92,59%, mesmo comportamento
As principais constatações do mode- apresentado pela maioria das empresas
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