Chico Xavier Inédito: Psicografias Ainda Não Publicadas Eduardo Carvalho Monteiro Editora Madras
Chico Xavier Inédito: Psicografias Ainda Não Publicadas Eduardo Carvalho Monteiro Editora Madras
Chico Xavier Inédito: Psicografias Ainda Não Publicadas Eduardo Carvalho Monteiro Editora Madras
EDITORA MADRAS
Chico Xavier inédito: Psicografias ainda não publicadas
Índice
Este título define exatamente o conteúdo deste livro de Chico Xavier. Fomos remexer no
pó de vários arquivos para localizar mensagens psicografadas por ele e que jaziam
quase sepultas em jornais e revistas das décadas de 1930 a 1950; em opúsculos
vetustos, muito utilizados no passado para divulgação doutrinária; e em comunicações
particulares ou dirigidas especificamente a trabalhadores de Casas Espíritas, já antigas
nas décadas citadas.
Trata-se de um trabalho de garimpagem permanente que vimos realizando, em que
utilizamos muito o acervo que reunimos ao longo dos anos, por isso não deve ser
considerado um simples trabalho de compilação de mensagens, mas uma pesquisa
que foi sendo realizada persistentemente, durante muito tempo, recolhendo nas
gavetas de despejo de Centros Espíritas cinquentenários, ou até centenários, papéis,
documentos, opúsculos “inservíveis” para as novas gerações, despreocupadas com a
memória do Espiritismo.
Também serviu como fonte de pesquisa a Hemeroteca espírita, que vimos formando
durante a tarefa que realizamos para a preservação de uma história do Espiritismo e
que inclui preciosidades como a coleção quase completa da Revista Reformador e
cerca de 60% dos jornais espíritas que circularam no século XIX, entre outras
publicações.
Sendo assíduos frequentadores da casa e dos Centros em que trabalhou Chico Xavier,
em Uberaba, desde a década de 1970, quando ainda prestava atendimento na
Comunhão Espírita Cristã, é natural que, além da amizade formada com o médium
mineiro, afeiçoássemo-nos à sua obra e, com o espírito de pesquisadores nos correndo
pelas veias, tornássemo-nos estudiosos e pesquisadores dessa obra. Isso nos levou a
ir colecionando ao longo dos anos centenas de reportagens, de escritos, de opúsculos,
de fotografias, etc., sobre nosso ícone do Espiritismo mundial, que agora estamos
trazendo à divulgação em livros da série “Chico Xavier”.
Especificamente neste Chico Xavier Inédito, estamos publicando em livro inúmeras
mensagens que nunca constaram da obra bibliográfica de Chico e que foram
psicografadas entre 1933 e 1954. Longe de estarem desatualizadas, elas são
atemporais, porque os ensinamentos trazidos pelos Espíritos mentores são perenes e
alguns portam conceitos de rara beleza e sabedoria e que não poderiam permanecer
desconhecidos das gerações atuais e futuras e, como já nos referimos, sepultos no pó
dos arquivos.
À excepcional obra bibliográfica de Chico Xavier, formada por quase 500 livros
psicografados, cerca de trinta milhões de exemplares vendidos em vários idiomas, mais
de uma centena de obras biográficas de vários autores falando de sua vida missionária
e milhares de páginas escritas sobre si na imprensa, estamos acrescentando mais este
volume, sem qualquer tipo de pretensão senão o de contribuir para que um pouquinho
mais do rastro de Luz que ele deixou com sua passagem pela Terra também possa ser
colocada acima do alqueire.
Por ser um trabalho de resgate de antigas comunicações psicográficas inéditas de
Francisco Cândido Xavier, é natural que cada uma delas tenha sua história, refira-se a
um determinado episódio, viagem do Chico ou acontecimento espírita de alguma
importância, por isso acrescentamos comentários e desenvolvemos o assunto de
muitas delas, tendo a preocupação de ilustrar os capítulos também com fotos antigas
do movimento espírita, igualmente históricas e a maioria nunca publicadas e, portanto,
desconhecidas da geração atual.
Por fim, gostaríamos de chamar a atenção dos pesquisadores para que atentassem aos
grandes tesouros que permanecem escondidos nas páginas do Reformador, de A
Centelha e outros órgãos da imprensa espírita, mas que pedem aos mais pacientes
que os descubram. Tome-se, por exemplo, o capítulo “Romaria das Graças”, que
descreve a primeira viagem de Chico para o Rio de Janeiro/RJ. Apesar da linguagem
castiça de seu autor (não citado), imprópria para o jornalismo atual e, cremos, da época
também, é de um valor histórico incalculável e nunca citado nas biografias do médium
que já tivemos contato. É o caso das comunicações inéditas de Eurípedes Barsanulfo,
de Bezerra de Menezes, e de outros Espíritos luminares que precisavam ser
imortalizadas por meio do livro, enriquecendo a bibliografia mediúnica de Chico Xavier.
“(…)
O Sr. Ruy Barbosa — O nobre deputado é que prega a indiferença da religião.
O Sr. Bezerra de Menezes — Protesto, eu estou falando acidentalmente da influência da
religião sobre a constituição e sobre a marcha das sociedades, e não estou discutindo
religião.
Não quero pregar o indiferentismo quando o combato francamente e quando tenho a
coragem de declarar que sou católico apostólico romano.
O Sr. Monte — É preciso mesmo ter coragem para fazer esta declaração.
O Sr. Bezerra de Menezes — Eu a tenho.
O Sr. Ruy Barbosa — Mas não há perseguição contra a Igreja Católica.
O Sr. Bezerra de Menezes — Vimos ainda há pouco o modo como a Câmara riu à custa
de um deputado por ter falado em religião; e o nobre deputado sabe que a perseguição
pelo ridículo é a que mais se teme.
Se, antes da cruz, Sr. Presidente, nos tempos mesmo pré-históricos, já se tinha
estabelecido, era opinião dos sábios que sem religião não é possível sociedade, depois
da cruz, nenhum espírito cultivado pensará diversamente.
O Sr. Ruy Barbosa — Muitos pensam de modo contrário e são espíritos cultivados.
O Sr. Bezerra de Menezes – Da filosofia cristã é que nasceu a civilização do século que
se preza em ser denominado século das luzes; e esse fato é quanto basta para
confirmar a minha asserção impugnada pelo nobre deputado e para informar a opinião
que incompatibiliza a liberdade com a religião.
(…).”
Se a Abolição da Escravatura foi uma das primeiras causas a mobilizar o grande jurista e
estadista brasileiro, acabou também se tomando uma das mais polêmicas de sua
biografia.
Ruy foi acusado de mandar destruir os documentos então existentes sobre a escravidão,
logo após a Proclamação da República, em 1889, quando foi nomeado Vice-chefe do
Governo Provisório e Ministro da Fazenda, tendo por motivação impedir processos de
indenização dos ex-senhores de escravos.
Anos antes, em 1882, Ruy Barbosa havia sido o autor do Projeto de Lei sobre a
emancipação progressiva dos escravos, conhecido como “Projeto Dantas”, tendo sido
rejeitado por conceder liberdade aos sexagenários sem indenizar os senhores de
escravos, um procedimento que talvez explique sua atitude posterior.
Sua primeira ação efetiva em prol do ensino deu-se em 1882 com o parecer e projeto de
reforma do ensino secundário e do superior e, ainda nesse ano, do ensino primário,
revelando-se precursor da obrigatoriedade da educação física e musical, assim como
do ensino do desenho e trabalhos manuais. Foram palavras de seu discurso: A nosso
ver, a chave misteriosa das desgraças que nos afligem é esta e só esta: a ignorância
popular, mãe da servilidade e da miséria.
Em 1884, recebe de D. Pedro II o título de Conselheiro; em 1890, redige o texto definitivo
da Constituição Republicana e, no ano seguinte, do Governo Provisório. Sua oposição
ao presidente Floriano Peixoto leva-o ao exílio na Inglaterra, em 1893, e, na Europa, é
o pioneiro na defesa do capitão Dreyfus, vítima de erro judiciário.
Dois anos depois volta ao Brasil, sem nunca ter abandonado suas colaborações na
imprensa, sua principal trincheira nas lutas que travava em prol de um Brasil melhor.
Atento às questões de seu tempo, Ruy Barbosa empenhou-se sempre em ampliar a
visão que o Brasil tinha de si mesmo, razão maior de suas lutas.
Durante a Conferência de Haia. Ruy Barbosa conheceu o emérito jornalista inglês William
Stead (1849-1912), falecido no naufrágio do Titanic, quando cobria jornalisticamente
sua viagem inaugural.
Stead, considerado “O Rei dos Jornalistas”, era médium e deixou um livro psicografado:
“Cartas de Júlia”.
Em 1895, respondendo ao jornal Morning Adversitiser; de Nova York, declarou: Só o
eterno pode afirmar ou negar a imortalidade. Se vos compreendo bem, não se trata
aqui da imortalidade da alma, mas sim da persistência da entidade que se manifestava
durante a sua vida terrena. Ai está uma questão muito mais simples, a que posso
responder sem hesitar e sem receio.
Eu não seria verdadeiro, se dissesse que creio na persistência do individuo, após a morte,
por ter observado fenômenos espíritas; muito tempo antes eu aceitava esse fato.
Submeti, depois, a minha crença à prova de uma demonstração experimental. E se
outrora dizia: “Eu creio”, hoje digo, “Eu sei”. Não há grande diferença?
***
Provando que a morte não separa aqueles que têm laços afetivos, William Stead
manifesta-se, em sessão mediúnica, dirigindo-se a Ruy Barbosa.
Do Professor Ataliba Nogueira, na brilhante conferência intitulada “Ruy Barbosa em
Campinas” publicada no Jornal do Commercio, de 8 de novembro de 1949, extraímos o
fato:
Ainda na aprazível estância hidromineral, ocorreu fato curioso recordado pelos íntimos
com acento de graça. Estava em voga, àquele tempo, uma espécie de distração, à
noite, de modo algum consoante com as leis religiosas, porém que as Senhoras
praticavam como se fosse inocente jogo de damas.
Consistia em colocar uma mesinha de três pés num grande círculo de papelão com as
letras do alfabeto escritas uma a uma em recorte dentado.
Lalá, Úrsula, Carlota, Baby, Ruy Barbosa e a filha de um redator do Jornal do Comércio
do Rio sentaram-se em redor da mesa e colocaram a ponta dos dedos sobre um cálice
que, por ação misteriosa-segundo diziam-passava ante esta e aquela letra. Alguém ia
anotando as letras em um papel. Formavam-se, assim, palavras e frases, avidamente
lidas pelos circunstantes.
Resta lembrar que tudo corresponde às perguntas formuladas por alguma das moças
presentes, quase todas versando sobre qual delas se casaria primeiro, as iniciais do
noivo, seus traços fisionômicos, se era louro ou moreno, se era solteiro ou viúvo,
fazendeiro ou não. No geral, as respostas provocavam mais risos, gargalhadas e
comentários alegres.
Certa noite, porém, Batista Pereira, que assistia a “sessão” de pé, disse que o cálice
estava denotando alguma inquietação, manifestando com isto ter de revelar algum
segredo. Sentou-se à mesa e também colocou a ponta do dedo sobre o cálice de
cristal, o qual, de maneira rápida, começou a percorrer o alfabeto com algo de
nervosismo por parte das moças e senhoras que participaram da operação. Ao lado,
outra moça apontava letra por letra, dizendo nada entender, porém, várias vezes havia
o nome de Ruy no apanhado gráfico.
O Conselheiro já se havia recolhido muito cedo, feito a leitura dos jornais de São Paulo,
que chegavam após o jantar.
Terminado o escrito, verificou-se que era uma mensagem em inglês, dirigida por algum
“espírito” ao ilustre hóspede. Ficaram todos estarrecidos e, diante da indecisão geral,
Batista Pereira opinou que deveriam levá-la incontinenti a Ruy.
Batem à porta, o Conselheiro de pijama recebe o papel e fica emocionado: É o estilo dele,
o estilo perfeito! E o assunto. O mesmo que conversamos em nossa despedida em
Haia. Mas, é possível… Trata-se de William Stead — explica Ruy — o meu amigo e
grande jornalista inglês, cuja morte os periódicos noticiam, hoje, no afundamento do
navio Titanic. E ele acreditava nestas histórias de Espiritismo!
William Stead perdeu seu corpo no naufrágio, mas no seu Espírito não deixou o cacoete
de repórter. Ele volta do Além através do conduto abençoado da mediunidade para
descrever os últimos momentos vividos dentro do Titanic:
“O navio, cujo tombadilho estava adernando como o telhado duma casa, submergia. Um
só lamento escapava-se de mil bocas, quando a água nos tragou. Enorme era a massa
de homens, mulheres e crianças que se debatia nas águas geladas. Subitamente o
rosto de uma criança passou a pequena distância de mim. Tentei agarrá-la, porém, em
vão, e mesmo se eu conseguisse segurá-la, a salvação seria impossível. Ouvimos
desesperadamente gritos de socorro, orações e gemidos dolorosos. Senti frio e meus
pés estavam entorpecidos. A água salgada entrava-me pelos olhos, ouvidos e
garganta. Houve então uma desagradável sensação de asfixia e afundei… Toda a
história de minha vida atravessou minha mente em figuras vívidas. Porém, de novo
surgi livre, com enorme sensação de paz e bem-estar. Doces acordes musicais
soavam nos meus ouvidos e eu vislumbrava cenários encantadores. Parecia-me
repousar em um leito verde e macio, entre rosas e lírios. Desejei dormir. Fechei os
olhos e caí em doce esquecimento.
“Despertei como se saísse de um sono com forças renovadas. Junto a mim vi um rosto
afetuoso e reconheci minha amiga espiritual, Julia Ames, com quem eu estivera em
longas comunicações mediúnicas, quando eu estava sobre a Terra, e com ela estava
meu filho mais velho, cuja morte, para mim, fora um golpe tão rude.
“Graças a meus longos estudos de fenomenologia espírita, eu estava em melhor situação
do que a maioria dos náufragos que morreram ignorando, pois, sem demora, inteirei-
me da mudança. Eu estava bem preparado para a nova vida, pois nela eu ingressava
com conhecimentos valiosos. Não posso transmitir aos amigos uma descrição exata do
meu estado de recém-nascido.
“Supondo que estais continuando a existir nesse Universo, dotados de sentidos capazes
de perceber o pano de existência mais rarefeito e invisível; o plano de quarta dimensão
em que podemos ver através dos sólidos, lobrigar as auras que circundam homens e
flores; um mundo em que podemos ouvir sons além dos limites de ouvidos humanos,
como os murmúrios musicais das gramíneas, onde percebemos as cores infra e supra
do espectro. Imaginai isto e tereis uma pálida noção do meu estado quando despertei
do sono transformador, a que os homens costumam denominar morte.” (médium não
citado)
Assim foi a passagem de W. T. Stead, cuja morte o mundo lamentou como uma perda
irreparável. Alguns anos depois irrompeu a Grande Guerra e foi seu Espírito que
organizou o formidável grupo de homens e mulheres que, pairando sobre os campos
de batalha, iam encontrar os que morriam nos horrores da guerra.
Francisco Cândido Xavier, cujo mandato mediúnico de 75 anos, sem nenhuma mancha
sequer, produziu quase 500 obras de valor cultural e espiritual incalculável, além de
sua liderança ter inspirado centenas de obras assistenciais espalhadas pelo Brasil, teve
sua mediunidade marcada por fases, segundo nossa avaliação.
Assim, vemos que nos primeiros anos de sua carreira mediúnica, os Espíritos aceitavam
responder quase todo tipo de pergunta através do médium, inclusive sobre a situação
política do país. Caracterizando bem essa fase, temos o livro “Palavras do Infinito”, o
terceiro de Chico e que enfoca assuntos políticos, sociais e econômicos, e a série de
reportagens publicadas pelo Jornal “O GLOBO” do Rio de Janeiro, que enviou o
repórter Clementino de Alencar para passar um mês com o médium em sua cidade
natal, Pedro Leopoldo. Além dessas duas publicações marcantes, Chico respondia a
perguntas esparsas em entrevistas ou dava à publicidade algumas mensagens
transmitidas pelos espíritos atentos à política nacional.
Não demorou muito, contudo, essa fase de Chico Xavier. Orientado por seus mentores
espirituais, Chico passou a evitar essas abordagens para não prejudicar a essência de
sua tarefa, que era a de trazer a lume obras complementares à Codificação
Kardequiana.
Em 1932, o Brasil espantou-se quando aquele jovem caixeiro semianalfabeto,
devidamente avalizado pela Federação Espírita Brasileira, publicou a obra “Parnaso
d’Além-Túmulo”, com poesias psicografadas por consagrados poetas desencarnados
nos seus mais puros e distintos estilos.
Em 1933, Fred Figner, dedicado colaborador da FEB, pediu a Chico que tentasse evocar
o Espírito de Ruy Barbosa para que se manifestasse sobre a situação política do Brasil
pois, certamente, patriota que era, deveria estar atento, do Plano Espiritual, aos
acontecimentos nacionais.
No fim de 1929, o assassínio de um deputado da maioria por outro da minoria, no próprio
recinto da Assembleia, dava início a uma série de violências que geraram outras em
quase todo o país. Em outubro de 1930, estala a Revolução que vai ocasionar a
tomada do poder por Getúlio Vargas e é dissolvido o Congresso. No começo, tudo era
entusiasmo, e o povo apoiava o novo governo, mas logo irrompem novas insurreições,
notadamente em São Paulo.
Em 15 de novembro de 1933, reuniram-se 250 deputados eleitos pelo povo e 50 pelas
representações de classe, os quais deram início à elaboração de uma nova
Constituição Republicana que seria promulgada em 16 de julho de 1934.
Antecedendo a esse período é que ocorre a manifestação de Ruy Barbosa pela
mediunidade abençoada de Chico Xavier, ele que houvera redigido a anterior, em
1891, e revelou-se preocupado que não se perdessem as conquistas de liberdade, de
cidadania e de justiça da anterior.
A mensagem do Espírito de Ruy Barbosa, conquanto histórica e importante, só havia sido
publicada anteriormente na forma de um opúsculo pela FEB sem qualquer outra
informação sobre o momento vivido pela nação, Ruy Barbosa ou Chico Xavier, que o
fazemos aqui por acreditarmos ainda válido o conteúdo e o registro histórico. Pode-se
dizer que o opúsculo “Ruy e a Nova Constituição” circulou entre pequeno público e
somente nos anos de sua distribuição (1933 e 1934).
1
Não fosse solicitado a falar sobre a situação política do Brasil, eu me consideraria
infenso a quaisquer opiniões de ordem pessoal sobre a atualidade brasileira, não só
reconhecendo os imprescritíveis direitos do arbítrio individual e coletivo como pela
transcendência das circunstâncias em que o meu pensamento seria conhecido.
2
A morte, dilatando o prisma da nossa visão, traz-nos um certo desinteresse pela Plano
terreno, fragmentário, minúsculo, em confronto com a universalidade de todas as
coisas, homogênea em si, causa mater de toda a vida, fonte original de tudo que,
manifestando-se através da maleabilidade da matéria e guardando, embora, a luz
ignota das origens, apresenta o caráter de uma heterogeneidade fictícia e perfunctária.
3
A grandiosidade inconcebível das parcelas do Todo e, como as partes são regidas
pelas mesmas leis imutáveis que presidem ao conjunto, somos levados a uma relativa
despersonalização, em beneficio da inevitável concepção universalista, que subsistem
em nossa individualidade as ideias de egotismo prejudicial que não se justifica.
4
É inegável que o Brasil atravessa um dos períodos mais críticos da sua vida como
nacionalidade. País novo, não se achava indene de contagiar-se do sopro das reformas
em seus paroxismos, que agita as coletividades do velho Mundo, assoberbadas pelas
dificuldades intestinas que lhes têm dizimado as energias revigoradoras. 5 O erro da
política brasileira, porém, está em não reconhecer a profunda diversidade dos métodos
psicológicos a serem aplicados ao nosso povo e aos do mundo europeu. Ali a crise
destruidora deve seus efeitos a causas múltiplas e indeclináveis; o estado
semianárquico da vida do Brasil é oriundo da escassez de valores morais.
6
É inútil hodiernamente qualquer mudança nos processos governamentais e, em
vésperas da nova Constituinte, torna-se oportuno recordar aos que se propõem
outorgar outra Carta à Nação que, o menor atentado às liberdades públicas,
sancionadas dentro das normas do mais estrito direito na Constituição de 1891, seria
um erro perpetrado na mais irrefragável ilegalidade, perante as correntes evolucionistas
mantenedoras da ordem e do progresso. 7 Excetuando-se algumas inovações de
caráter subsecivo, toda supressão das conquistas jurídicas, efetuadas no mais sadio
dos liberalismos como expressão singular de civismo, estabelecendo as diretrizes
superiores da nacionalidade, implica um retrocesso injustificável.
8
A adaptação, aqui, dos processos políticos praticados largamente na Europa moderna
seriam de eficácia irrisória.
No Brasil, os problemas são outros.
9
Embora prematuro todo julgamento que se faz das últimas sublevações brasileiras,
podem descobrir os seus fatores primaciais na política compreensiva, despótica e
subornadora posta em prática nestes últimos anos; foram uma consequência lógica dos
abusos da máquina eleitoral, a constituírem os maiores escândalos da República,
vexatórios às suas doutrinas de liberdade e igualdade.
10
Quando me refiro à liberdade, é obvio que subordino à lei soberana da relatividade:
todavia, a visão retrospectiva dos acontecimentos nos demonstrou que, se o ideal
republicano de 1889, que inflamava a alma brasileira depois da vitoriosa campanha
abolicionista, compelia o povo à justa compreensão dos seus direitos e deveres
eliminando os preconceitos factícios da autocracia abominável do regime monárquico,
os continuadores das ideias libertárias e progressivas não se mantiveram no nível dos
seus compromissos e responsabilidades. 11 Refratários à corrente purificadora dos
pensamentos republicanos, criaram o falso conceito de facção política e, com um
partidarismo, ominoso, fomentaram a oligarquia devastadora.
12
A Constituição de 1891 não falhou no Brasil; está de pé, como síntese admirável das
vibrações do entusiasmo de um povo pelo direito incorrupto, imprescritível. 13 Os seus
homens públicos é que faltaram lamentavelmente aos seus magnos deveres de
condutores, sobrepondo aos altos interesses do povo, o egoísmo da personalidade,
incentivando abusos, criando ódios partidários, olvidando a justiça, coadjuvados por
uma imprensa quase sempre mercenária, oportunista, levando o país ao caminho da
franca falência moral, sem que se justifiquem tamanhos descalabros. 14 Enquanto a
política pessoal tem em medrar no Brasil a oligarquia, alguns Estados hão disputado
egoisticamente a hegemonia da nacionalidade, a par de outros submersos na miséria e
no analfabetismo; entretanto, os brasileiros não desconhecem seus deveres de coesão
em torno da unificação nacional.
15
A bancarrota dos indivíduos teria de conduzir fatalmente a nação aos últimos
acontecimentos. A fase atual é de transição e reclama insistentemente o valor
intrínseco de cada um. O momento não é de parenética nociva, de verbosidade estéril,
mas de atos concludentes sinceros.
16
Cogita-se de movimentos visceralmente renovadores. É necessário, contudo, uma
profunda acuidade analítica na concepção dessas reformas que se fazem precisas, a
fim de que não redundem em fórmulas desastrosas. Medidas têm sido tomadas e
elaboradas que requerem indispensáveis restrições na sua aplicação, refreando-lhes a
expansão abusiva e claudicante.
17
Nesse ambiente, porém, atordoador, caótico, o perigo iminente é a intromissão da
corrente clerical na política situacionista tentando lesar o patrimônio da pátria no que
ela tem de mais respeitável, a liberdade das consciências, lidima aquisição do direito
inviolável.
18
A Igreja livre dentro do Estado livre, fórmula outorgada ao país pelos republicanos de
1891, conciliadora, compatível com a evolução da mentalidade moderna, não pode ser
desrespeitada sem graves resultados para a vida coletiva do núcleo brasileiro.
19
Depois de verificada a eliminação do jugo papista, como necessidade internacional,
cessadas as lutas fratricidas, filhas do fanatismo, cujo sangue ainda está quente na
história dos países que oficializaram a religião, cerrar os olhos à sede megalomaníaca
da pretensa infalibilidade romanista é ação criminosa, condenável.
20
Infelizmente, houve no Brasil incompreensão dos seus orientadores de 1889; não é
licito, entretanto, que se lhes torça o pensamento superior sem reações perturbadoras
e deploráveis.
21
Destruir a laicidade do Estado nos mínimos departamentos que lhe são afetos é uma
deliberação atentatória de todas as conquistas liberais do povo brasileiro, que comina a
revolta como efeito natural e incoercível. 22 A submissão à máquina política de Roma,
cujas manobras se revestem da mais refinada hipocrisia, é um escândalo inqualificável,
indicador do retrocesso de toda uma nacionalidade, a buscar o passado obscuro, para
colocá-lo no porvir, que pertence ao progresso por uma questão racional de justiça.
23
Que Deus inspire aos novos constituintes as noções de seus austeros deveres, a fim de
que não sufoquem arbitrariamente as prerrogativas naturais do Direito, que jamais se
posterga impunemente, outorgando à pátria um código perfeito, de acordo com as
necessidades internas e com as exigências da civilização em seu justo sentido.
24
Calando-me aqui, por falta de imanência comprobatória das minhas palavras, desejo ao
Brasil um período próspero de tranquilidade, anelando a paz coletiva para todos os
seus filhos.
.Ruy
Romaria da graça
A Revista Reformador, em seus cento e vinte anos de existência completados esse ano
(2003), guarda tesouros incalculáveis, hibernando até que um pesquisador indiscreto
os traga novamente à luz do dia para serem admirados e reverenciados por outras
gerações.
É o caso desta primeira viagem realizada por Chico Xavier ao Rio de Janeiro, relatada por
Manoel Quintão na sua coluna “Casos e Coisas”, de 1° de julho de 1936, subtítulo
“Francisco Xavier no Rio”, e que reproduzimos aqui em parte. Ao final, o artigo traz
duas poesias e uma comunicação em prosa psicografadas por Chico, nunca publicadas
em livro, mas que merecem ser conhecidas pela geração atual.
Primeiro contato
A visita
Desde que foi a Pedro Leopoldo, o nosso companheiro obteve de Xavier a promessa de
retribuição da sua visita, retribuição também solicitada em nome dos seus
companheiros da Federação. Era uma questão de oportunidades apenas, mas havia
também um escolho a vencer.
É que Francisco Xavier, espírita por excelência, tem pavor ao elogio e ao
sensacionalismo. Mais ainda, sabe que tem de resguardar suas faculdades e poupar as
energias físicas para não as malbaratar em tumultos e atropelos espetaculares, tanto
quanto em consultas e perquirições, por certo explicáveis por humaníssimas, mas, por
isso mesmo, desponderadas e inúteis, as mais das vezes.
O escolho só foi remontado com a garantia de uma relativa discrição, que o resguardasse
da curiosidade pública, sem, contudo privá-lo de conhecer uma boa parte, ao menos,
da confraria carioca.
Enfim, no sábado, 6 de junho, à tarde, recebia Quintão um lacônico telegrama avisando-o
da chegada do médium pelo noturno de domingo. Não havia tempo nem conveniência
de prevenir os próprios companheiros, todos da Diretoria da Federação, ainda porque,
em carta antecedente ao telegrama, o médium comunicava que vinha a serviço da
Repartição em que mourejava e não podia perder tempo, dispondo apenas de três dias
nesta capital.
Só aqui dilatou o prazo para seis dias. Logo após o almoço, dirigindo-se à Agência
Telegráfica no Meyer, ele mesmo se descuidou e o funcionário, ao confrontar os nomes
do destinatário e signatário, bem como a estação do destino, disse: Oh! Eu o conheço
muito de nome e de… retrato.
O Chico alarmou-se…
Meu Deus! Como vai ser agora?
Tranquilizado, tivemos então a dita de o acompanhar na satisfação de um velho sonho,
que o atraía ao Rio de Janeiro — ver o mar. Levamo-lo simplesmente a Niterói, para
namorar as areias do Icaraí e as águas plácidas do “Saco de São Francisco”. Um
entardecer da Guanabara!
De regresso, uma vista d’olhos à feérica Cinelândia e casa, porque o hóspede viera de
noturno, sem leito, e estava positivamente tresnoitado.
Na segunda-feira, fomo-nos ao desempenho do encargo.
Em uma das repartições a que houve de comparecer, encontrou um engenheiro, seu
conhecido lá de Pedro Leopoldo. Haveria de visitá-lo, depois, bem como a outras
pessoas, previamente designadas. E o tempo? Houve de organizar-se um programa de
emergência, mesmo porque também cumpria mostrar-lhe algo da “cidade maravilhosa”
como ele dizia. E o incógnito?
Não havia tempo a perder: na terça-feira, fomos ao Pão de Açúcar. Cismativo, por vezes
melancólico, ora espalhando o aveludado olhar pela massa azul do oceano largo, ora
passeando-o pelo recorte das montanhas, explode a pergunta:
E o “Dedo de Deus? Onde está?”
Para nós, na consciência, para os outros, acolá…
Descemos. Ainda nessa noite, haveria de voltar a Niterói. Visita obrigatória, quase
protocolar.
Na quarta-feira, visita a pessoa de suas relações. Indeclinável, também. Esse era o dia
destinado à sua apresentação ao Grupo “Ismael”. Foi quando, sem o sabermos, em
casa do hospedeiro discreto, lá nos subúrbios, estourou a bomba.
O repórter do Diário da Noite penetrava-lhe a casa com ares de Badoglio em Adis Abeba,
e Chico Xavier, colhido de surpresa, fugiu espavorido. Parlamentaram, sitiada a praça;
não se renderiam sem impor condições. As condições eram: noticiar a partida do
prisioneiro no dia imediato, não divulgar onde permanecia e quem o hospedava. Rapaz
inteligente, cavalheiro, o simpático jornalista profano cumpriu a palavra empenhada, fez
boa reportagem para o seu jornal, em que pesem omissões e cincas, como a de haver
o médium declarado que Humberto de Campos lhe aparecera pela primeira vez,
quando ele, médium, contava apenas sete anos de idade! Mas, que importa? O
principal era o furo e o furo estava dado.
À noite, no Grupo Ismael, estudando com os seus componentes, perfeitamente
identificado com os métodos, que são os de seu grupo familiar. de Pedro Leopoldo,
obteve sucessivamente três belos sonetos de Cruz e Souza, Auta de Souza e Hermes
Fontes, bem como excelente página de prosa doutrinária, firmada por uma das
entidades mais familiares desta Instituição, lídimo servo de Jesus, que se chamou
Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, o mimoso poeta de Flores Silvestres e Divina
Epopeia. Essa produção damo-la em seguida a estas linhas.
Na quinta-feira, em casa do nosso companheiro, onde já havia recebido
espontaneamente, em duas frações e com o intervalo de uma noite, a mensagem
intitulada “Casa de Ismael“, que o Diário e a Pátria transcreveram, fez ainda uma
reunião íntima, na qual se identificou longa, minuciosa, veracíssima e,
consoladoramente, uma filha do mesmo companheiro nosso. Essa comunicação,
identificando por detalhes tão íntimos e tão peculiares a cada um dos membros da
família, que o médium nem alguém pudera jamais conhecê-los, por aclará-los e
justificá-los. Em tendo o ditado da saudosa comunicante, era como se ela ali estivesse,
na sua linguagem viva, e todos choravam, inclusive o médium!
Em despedidas
Na Federação
No dia imediato, na gare Pedro II, recebeu o querido servo de Jesus, em nome da
Federação e da família espírita carioca, abraços fraternos e votos de feliz regresso ao
modesto quão invejável Templo-lar, também cadinho de virtudes.
Completando esta resenha de uma visita que foi bem um amplo e reconfortante
entrelaçamento de almas do outro e deste Plano e, mais, por lhe dar fecho que
corresponde em realidade ao significado profundo que teve o evento noticiado, inserimos
aqui, a seguir, a comunicação que acima fizemos referência e que ainda não foi
divulgada, a qual Xavier recebeu de Bittencourt Sampaio no Grupo Ismael, bem como os
três sonetos na mesma ocasião recebidos.
1
Meus amigos,
Glória a Deus nas Alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade. Meu coração se
afoga subitamente no pranto, lembrando-me de que todos nós poderíamos nos
encontrar no divino banquete. 2 O mundo, porém, atraiu grande parte dos nossos
antigos companheiros com as seduções de seus efêmeros prazeres. Entretanto, os
baluartes do templo de Ismael permanecem inabaláveis, edificados na rocha das
grandes e consoladoras verdades do Evangelho de Jesus.
3
Minha voz, amigos, é hoje mais familiar e mais íntima. Substituindo, no momento, aquele
cuja tarefa vem sendo penosamente cumprida, está o nosso irmão Xavier, para vos
transmitir a minha palavra de companheiro e de amigo. 4 Não me dirijo à Imprensa para
vos falar ao coração, muitas vezes despedaçado, ao longo do caminho pelas perfídias
atrozes de todos aqueles que concentram as suas energias no ataque ao instituto do
Bem, à palavra do Evangelho e ao estatuto da Verdade.
5
Mas, filhos, se o Espaço que vos é vizinho está cheio de organizações poderosas do
mal, objetivando a destruição da nossa obra comum, há uma Esfera divina, de onde
partem os alvitres valiosos, a inspiração providencial, para quantos aqui mourejam com
o propósito de bem servirem à causa da Luz e da Verdade.
6
Não necessito alongar-me em considerações sobre a grande e sublime tarefa do Brasil,
como orientador, no seio dos povos, da revivescência do Cristianismo, restabelecendo-
lhe as verdades fecundas, 7 nem preciso encarecer a magnitude da obra do Evangelho,
problemas esses de elevado interesse espiritual para as vossas coletividades e cuja
solução já procurei indicar, trazendo-vos espontaneamente a minha palavra humilde de
miserável servo de Jesus.
8
Agora, amigos, cabe-me solicitar a vossa atenção para a continuidade do nosso
programa, traçado há mais de cinquenta anos. 9 A Federação não pode prescindir da
célula primordial de seu organismo, representada pelo Santuário de Ismael onde cada
um afina a sua mente para a tarefa do sacrifício e da abnegação em prol da causa da
Verdade, nem pode desviar-se do seu roteiro, delineado dentro do Evangelho, com o
objetivo da formação da mentalidade essencialmente cristã.
10
Todas as questões científicas, no seio da Doutrina, repetimo-lo, têm caráter secundário,
servindo apenas de acessórios na expansão das realidades espiritualistas.
11
Na atualidade, mais do que tudo, necessita-se da formação dos espíritas, da disciplina
cristã, da compreensão dos deveres individuais, ante as excelências da doutrina, a fim
de que se possam atacar os grandes cometimentos.
12
Firmai-vos na orientação que vindes observando, sem embargo das ideologias ocas
que vos espreitam no caminho das experiências penosas. Somente dentro das
características morais e religiosas pode o Espiritismo cooperar na evolução da
Humanidade.
13
As criaturas humanas se envenenaram com o excesso de investigações e de
empreendimentos científicos, para os quais não prepararam seus corações e seus
espíritos. 14 Derivativo lógico dessa ânsia mal dirigida de conhecer a verdade é o
estado atual de confusionismo, em que se debatem todos os setores das atividades
terrenas, no campo social e político. 15 Não que condenemos a curiosidade, porquanto
ela representa os pródromos de todos os conhecimentos; mas é, acima de tudo, que se
faz necessário o método e a legitimidade da compreensão individual e coletiva.
16
Preparai-vos, portanto, preparando simultaneamente os vossos irmãos em humanidade
dentro do ensinamento cristão e, amanhã, compreendereis, se não puderes entender
ainda hoje, a sublimidade da nossa tarefa comum e a grandeza dos seus objetivos.
17
Que Maria derrame sobre os vossos espíritos a sua bênção e que o Divino Mestre
agasalhe sob o manto acolhedor da misericórdia todas as esperanças e anseios dos
vossos corações.
F. L. Bittencourt Sampaio
OS SONETOS
Templo de Ismael
Templo da Paz
Floro Bartolomeu Martins de Araújo Hermes Fontes (1888-1930) foi um gênio precoce e
teve uma vida de muitos sofrimentos e amarguras, terminando por se suicidar.
Advogado, jornalista e poeta, por cinco vezes tentou a Academia Brasileira de Letras
(ABL) sem o conseguir. Traído no casamento, abandonado pelos amigos e sofrendo
grandes derrotas políticas, foi por isso humilhado. Carregando o complexo pela sua
pequena compleição física, seu talento e seus méritos literários são reconhecidos até
hoje. No soneto psicografado por Chico Xavier, em 1936, o autor espiritual demonstra
toda a mágoa que ainda abrasava em seu peito pelo triste destino que enfrentou em
vida.
Em interessantíssima enquete realizada pelo jornal Diário da Noite, do Rio de Janeiro,
vários intelectuais da época deram suas opiniões e responderam questões sobre o
Espiritismo, inclusive Hermes Fontes. Vejamos o que pensava do Espiritismo o autor
em 1923, ano em que Chico Xavier já havia despertado para a mediunidade, mas ainda
não iniciara sua missão na área da psicografia e do mediunato em geral.
I — Que pensa do Espiritismo?
II — Tem o Espiritismo influenciado no meio intelectual brasileiro?
III — Que consequências para a ciência, a arte e a literatura se podem deduzir dessa
influência?
Coisa difícil, dar cada um as dimensões de sua simpatia em questões de fé espírita, para
as quais, em sentido geral, não há indiferença possível.
Porque, tanto quanto há males de que todo sangue herda um pouco, é certo haver em
toda alma um quinhão de possibilidade espírita e esse bem secreto a que tantos
aspiram, preexiste como reserva divina, em quase todos nós.
Eu, por exemplo, em cada período de 24 horas, tenho 12 horas de hesitação e 12 de
crença. E escusado pedir os porquês. Não disponho de elementos (nem de tempo)
para um manifesto, nem de convicções tão maduras que valesse uma profissão de fé.
Faço, de quando em quando, os meus exames de consciência. Leio o que posso e ouço o
que todos ouvem — revelações, coincidências, milagres…
É desnecessário acrescentar que, por mim mesmo, ainda nada vi, ouvi nem senti de
aproveitável. E, não obstante, ando mais perto de crer do que de descrer.
Tenho a impressão de ainda ser analfabeto em certas modalidades prognósticas do
Espiritismo: religião moderna, ciência futura, realidade quase tangível.
Para mim, o Espiritismo deve ser a revelação da alma às almas no que lhes há de
fundamental — a simplicidade —, verdadeiro estado de graças, peculiar aos velhos, às
crianças, aos humildes e aos santos.
Espiritismo complicado, obrigado a experiências químicas e sessões de ótica
transcendente, já não é verdadeiramente Espiritismo.
O que me leva a maior simpatia, quase à convicção, não é a bibliografia, nem a tradição
oral: é a catequese tácita do espírita. Fazer o bem quand même [de qualquer maneira]
e não desesperar de corrigir nossos erros e nossas penas, estabelecendo relações de
justiça entre a vida presente, a anterior e a futura, de cujo aperfeiçoamento crescente
resultará atingir a ética imemorial dos eleitos.
A vida com as suas injustiças, as suas falsas recompensas e os seus castigos,
aparentemente iníquos — aí está o melhor livro da catequese espírita e a melhor
câmara de atuação experimental.
A moral espírita é uma realidade. Não conseguem “desmoralizá-la”, nem mesmo alguns
impostores que fingem praticá-la e discerni-la.
Sob esse elevado aspecto, o Espiritismo começa a influir seriamente em nossa literatura.
Agora, se a nossa literatura tem influído no Espiritismo, não é recíproca necessária. O
Espiritismo precisa mais de bons exemplos do que de boas palavras…
Quando leio certos discursos e exegeses embaladoras, prefiro cair na dúvida, que é
também uma rede, e, às vezes, das mais cômodas.
As inteligências, por mais ativas, têm a sua hora de preguiça. A dúvida é boa para fazer o
espírito espreguiçar-se de certas leituras insinceras. E, assim, como outros diriam: in
dúbio pro reo [na dúvida, a favor do réu], e penso, ao ler certos catequistas: in reo…
pro dúbio… [o réu duvidoso]
Hermes Fontes responde hoje à nossa enquete. Nome conhecidíssimo pelos livros
brilhantes, bastaria ser enunciado, dispensando-se o noticiário que aqui costumamos
fazer. Tendo estreado com “Apoteoses”, que foi um acontecimento literário, tem dado
às Letras várias obras de poesia, cheias de força e pensamento: “Gênese”, “Ciclo de
Perfeição”, “Microcosmo”, “Miragem do Deserto”, “A Lâmpada Pelada” e “Despertar”.
Os espíritas e a política
***
1
Dentro dos quadros do Espiritismo Evangélico no Brasil, algumas coletividades se
levantam, buscando colaborar nos arraiais políticos, objetivando, com os seus nobres
intentos conduzir as claridades do Evangelho às casas legislativas na Nação, a fim de
norteá-las nos caminho reto.
2
Esse propósito dos nossos irmãos espíritas é realizável. Como outros homens possuem
também o direito de admissão a essas atividades, salientando-se que, em razão do seu
esclarecimento espiritual, muito se lhes deverá pedir, em matéria de caridade, no seio
da política administrativa.
3
Todavia, é preciso considerar que, se é lícito aos espíritas içarem bandeiras, em meio
desses campo inimigos de sua sinceridade, da sua ânsia fraterna e da sua boa fé, não
será ocioso chamar-lhes a atenção para os perigos da caminhada em perspectivas, a
fim de afastarem dos desfiladeiros íngremes e escabrosos, onde perderão, fatalmente,
a flâmula sagrada de seu idealismo. 4 Requer-se todo o zelo de suas preferências
pessoais, nos quadros do partidarismo, procurando discernir a situação com clareza
devida, evitando as ilusões perigosas que percorrem todos os departamentos das
atividades do homem moderno.
5
O grande problema, por enquanto, ainda não é o de espalharem nossos irmãos pelos
arraiais políticos desejando transformá-los sem o concurso do tempo, mas resume-se
na questão simples e básica da necessidade de levar, cada um deles, através de
exemplos e ensinos aos nossos semelhantes, os conhecimentos evangélicos para que
os homens transformem a si mesmos para o bem.
6
Essa solução conduzir-nos-á à equação de todos os problemas da felicidade humana,
porque todos os esforços dos pedagogos modernos, para serem construtivos, têm de
ser efetuados no sentido de melhorar o homem. 7 Esclarecido esse, estará a sociedade
reformada, pois bem sabemos que quase todas as tentativas de renovação exterior
redundam sempre em tentativas inúteis, quando não constituem, em si mesmas,
aquele “túmulo caiado”, que não é símbolo morto.
8
Os espíritas podem perfeitamente integrar as fileiras do mundo político, mas que não
desconheçam em todas as circunstâncias a magnitude dos seus deveres, em face
mesmo dos princípios de fraternidade e de amor da doutrina que representam.
9
As místicas nacionalistas têm a sua beleza estrutural, como teorias de igualdade, mas,
ficará no plano mitológico se continuarem desconhecendo os grandes princípios da
solidariedade universal e da fraternidade humana, diante dos quais todos os homens
são filhos de Deus e candidatos às mais elevadas posições na única vida verdadeira,
que é a vida espiritual.
10
Que os nossos irmãos, portanto, consultando a própria consciência, evitem a queda,
sob o chicote de novas ditaduras implacáveis, que constituiriam retrocesso da
mentalidade humana; 11 acima de todas as cogitações, convém que saibam que lhes
compete defender, não as moedas dos bancos, as prerrogativas das classes e as
falsidades de certos princípios sociais, mas a luz do santuário, a claridade divina que
lhes foi confiada, a fim de que o mundo não a perdesse, nestes tempos de desenfreado
utilitarismo.
12
Que os nossos amigos ponderem sobre a necessidade de esclarecimento do homem.
Desse esclarecimento advirá a regeneração compulsória das coletividades, porque
Deus não poderia criar linhas divisoras na Terra, que é patrimônio da humanidade. 13
Franceses e hotentotes são seus filhos bem amados, e o que caracteriza a diversidade
de posições dos homens sobre o mundo é a aplicação da justiça divina que se
processa segundo os méritos de cada qual.
14
Os espíritas, pois, podem colaborar na política, mas entendendo sempre que a sua
missão evangelizadora é muito mais delicada e muito mais nobre. 15 Concentrando
possibilidades nesse labor, que aprendam com os padres católicos, os quais, se hoje
não mais são os apóstolos humildes e desprotegidos do mundo, como viviam outrora e
vivem na atualidade, cheios de poderes temporais e de expressões financeiras, não
podem mais dizer ao paralítico, em nome do Senhor — “levanta-te e anda” — porque,
voluntariamente, desejaram trocar as posições celestes pelas posições terrestres e não
souberam colher na árvore da Vida o fruto maravilhoso do mundo espiritual.
.Emmanuel
Chico Xavier iniciou sua carreira mediúnica para o grande público em 1932 com o
lançamento da obra Parnaso de Além-Túmulo, trazendo a psicografia de grandes poetas
brasileiros e portugueses como Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, João de Deus, Antero
de Quental, Castro Alves, Rodrigues de Abreu e outros. Maria Máximo “explodiu” com
sua mediunidade por volta de 1937. Logo que começou a tomar consciência de sua
missão mediúnica e iniciou suas tarefas espirituais, Maria Máximo começou, no fim da
década de 1930, a cartear com o médium mineiro e logo se formou sólida amizade.
Em setembro de 1940, Maria Máximo fez uma visita a Chico Xavier na cidade de Pedro
Leopoldo (MG), onde o médium residia, para conhecê-lo.
Naquela aprazível cidade, Maria Máximo participou de vários trabalhos no Centro
Espírita Luiz Gonzaga e recebeu inúmeras mensagens dos Espíritos através de Chico.
Conseguimos resgatar algumas, duas delas de Emmanuel, de incentivo aos
trabalhadores do Centro Espírita Ismênia de Jesus, fundado pela médium. Todas são
inéditas em livro e estavam amarelecidas e adormecidas em alguma gaveta da
Instituição. Vale a pena tomarmos contato com as comunicações.
Um estímulo de Emmanuel
1
Meus amigos.
Deus vos conceda sua bênção e sua paz.
2
Vossa união para o bom trabalho com Jesus não se verificou com um acontecimento
eventual. O compromisso do esforço em comum, nas luzes do Evangelho, vem de
muito longe. No pretérito espiritual, onde as almas edificam as bases das mais
elevadas realizações.
3
A vida terrestre passa com o império das más ilusões. A experiência varre os enganos
da juventude, e quando as flores da fé se abrem ao sol das meditações, o Espírito
recorda os seus altos e abençoados deveres.
4
A claridade da crença vos reuniu os corações para a construção ditosa do Reino de
Deus, com os labores de Jesus Cristo.
5
Uni-vos cada vez mais.
6
Protegei, no mundo íntimo, as flores da fraternidade contra o assédio das víboras da
discórdia. O mundo está cheio de ervas daninhas que alimentam a sombra, e só o
clima da humildade evangélica e solidariedade sadia pode oferecer ambiente à obra de
Deus.
7
Enlaçai-vos na mesma vibração de fé e nunca esqueçais a doce recomendação da
tolerância.
8
Ainda e sempre, em toda a comunidade cristã, o maior para Jesus será sempre aquele
coração devotado e sincero que se fizer o menor de todos.
9
Nas hesitações, buscai a força do Evangelho, nas dores, procurai a fraternidade
legítima, no assédio das tentações, perdoai-vos uns aos outros. Não vos faltará o
amparo espiritual dos mais desvelados amigos das Esferas da luz.
10
E, assim, amparando-vos reciprocamente, haveis de atravessar o oceano das provas
executando as sábias determinações do Plano superior a vosso respeito, resgatando o
pretérito obscuro e fundindo todos os sentimentos humanos que vos animam o coração
em sentimentos divinos, os quais são transformados por Deus na auréola da vitória que
fulge na fronte dos escolhidos.
.Emmanuel
1
Neste templo da bondade,
Onde a luz da caridade,
Adoça todo amargor,
Jesus nos estende os braços,
Da terna luz dos espaços
Nas suas bênçãos de amor.
2
Nesta casa da bonança,
Onde palpita a esperança,
Das claridades do Além,
Toda ideia é da verdade
Todo esforço é da humildade,
Toda palavra é do bem.
3
Neste sacrário da vida
Toda dor, toda ferida
Encontra consolação!
A força que nos redime
É a do Evangelho sublime.
De verdade e redenção.
4
Nas lutas de cada dia,
Procuramos a alegria
De caminhar para a luz!
Cantemos na paz ditosa
A ventura luminosa
De trabalhar com Jesus.
.João de .Deus
Em 1943, Maria Máximo lança, em edição própria, a obra Pão da Vida com mensagens
pelo Espírito do Dr. Aurélio Augusto de Azevedo (Pai Aurélio) que foi seu pai na presente
encarnação.
O livro, cuja venda reverteu em beneficio da Maternal Ismênia de Jesus, traz
comentários evangélicos e doutrinários espíritas.
Chico Xavier se fez presente no apoio à obra, participando com o Prefácio de Emmanuel
e a poesia Ao leitor, psicografada por Casimiro Cunha, reverenciando Pai Aurélio. Na
sequência, uma bela prece de autoria da própria Maria Máximo, em que faz referência à
sua mediunidade e bendizendo as tarefas para as quais fora convocada.
Prefácio de Emmanuel
1
Minha Irmã,
Que as bênçãos de Jesus te felicitem o coração consagrado à Verdade e ao Bem.
2
Refaze tuas forças, multiplica energias, mantém aceso o fogo sagrado de tua confiança
e continua servindo Àquele Mestre amoroso e sábio que nos dirige os destinos.
3
Não te doa o espinho da incompreensão ou a pedra da malícia no campo imenso da
semeadura evangélica. Não poderíamos só seguir entre flores. Àquele que demandou
a ressurreição, coroado de sofrimentos, nem poderíamos percorrer, por encontrá-Lo,
outra senda que não seja a via-sagrada de supremas renunciações. A cruz do Senhor
Jesus é símbolo morto. O discípulo fiel não se esquivará ao seu peso, porque o
madeiro do testemunho individual é passaporte para a Redenção.
4
Na mediunidade, encontraste a cruz repleta de espinhos e de rosas, de sombras e de
luzes, de alegrias e de padecimentos, que é indispensável não menosprezar. Quantas
vezes há ouvido a observação injusta, a ironia dos que te não podem compreender?
Não importa. Auxilia a todos, entende-lhes as necessidades, espera-os no caminho
com a lâmpada fraternal e, seguindo o Senhor, com a tua cruz, faze com que os
espinhos floresçam, que as sombras se dissipem na claridade divina, que os
sofrimentos se transformem cada dia em hinos de esperança.
5
Acusam em torno de teus passos, caluniam em derredor de ti? Continua a marcha para
frente. Cada homem colherá o que houver plantado, cada trabalhador viverá na
edificação que construir. Quem ajunta sombras conhecerá o nevoeiro, quem carrega
pedras lhe sentirá o peso na estrada, pois, se vivem esquecidos do próprio Pai, se lhe
não entendem a obra divina, que possuirão por nos oferecer senão as sombras que
lhes amortalham o coração? É preciso cuidar do trabalho de Jesus, renovando a nós
mesmos, no vasto programa da redenção espiritual.
6
Não te perturbem os ecos do passado em outras expressões da existência, pois, não
somente tu, minha irmã, e sim todos nós, somos endividados a quem o Senhor
concedeu grande material de misericórdia e possibilidades, a fim de que não faltemos
aos resgates justos. A prova e o trabalho constituem a nossa grande oportunidade. 7
Louva sempre o Divino Amigo, que te conferiu a tarefa da distribuição de seus recursos
amorosos junto aos que têm fome de pão do corpo e sede de Luz espiritual. Prossegue
em teu serviço de irmã dos infortunados. Lembra que os escarnecedores são grandes
desventurados nos caminhos terrestres. Planta as sementes da caridade para colheres
os frutos de iluminação eterna e espalha a Luz de Cristo para que todos aprendam a
semear.
8
Continua, pois, vigilante na fé e devotada ao bem, amando a todos e confiando, acima
de tudo, no Senhor.
.Emmanuel
Nas verdades do Evangelho
1
Nestas páginas, amigo,
Tecidas no afeto irmão,
Há luzes silenciosas
Que falam ao coração.
2
Em todas, ouve-se a voz
Que exorta, consola e atrai,
São cartas do Mensageiro
Que convida ao Nosso Pai.
3
Estás cansado, oprimido,
Ao peso de tua cruz?
Vem buscar a força nova
Que alivia e reconduz.
4
Padeces? Perdeste o rumo
Em campos de sombras e espinho?
Encontrarás claridade
Para as lutas do caminho.
5
Enganaram-te? Medita,
Não olvides a bondade,
Terás, de novo, o roteiro
Dos tesouros da Verdade.
6
A calúnia visitou-te
E choras na incompreensão?
Vem buscar o lenitivo
Em bálsamos de perdão.
7
Suportas perseguições
Do mal criminoso e vário?
Descobrirás a esperança
Que brilhou sobre o Calvário.
8
Tens vivido ao desamparo,
Sem consolo, sem ninguém?
Receberás a harmonia,
A paz, o conforto, o bem.
9
Se o desejo da verdade
É a força que te governa,
Encontrarás nesta fonte
As águas da Vida Eterna.
10
Não mais sandálias de sombra,
Nem roupagens de ilusão,
Caminheiro deste mundo,
Atende ao teu coração.
11
Vem ouvir a voz amiga
Do grande trabalhador,
Que oferece o Pão da Vida
Em nome do Pai de Amor.
12
Na sede de nossas almas
Ouçamos o nobre Aurélio
O nosso irmão missionário
Das verdades do Evangelho.
.Casimiro Cunha
Súplica
Senhor!
Eis-me aos vossos pés. Por vós eu fui criada, meu Pai, simples e ignorante. Deste-me,
Senhor, para meu progresso, a lei do livre-arbítrio, mas, quando cheguei ao grau de
raciocinar, não tive a felicidade de me sentir capaz de me encaminhar como devia e
como me podia tornar feliz!
Quando meu espírito ainda se tornava despido, completamente nu, vesti-lhe as
roupagens da vaidade, da ambição, da maledicência, do egoísmo, da inveja, calcando
com os tacões do orgulho tudo que sob meus pés podia pôr. Cobri-me, Senhor, com a
capa da ignorância e coloquei no peito o emblema do ciúme! Não habitou em mim a
inveja, talvez por não encontrar lugar para alojar-se, e assim vivi anos e anos, até que,
num dia de muito calor e frio ao mesmo tempo, despertei pela alternativa que me
sacudiu, e senti-me agasalhada e refrescada pelo véu que vossa infinita misericórdia
me deixou cair nos ombros, envolvendo-me toda para, por ela, essa capa bendita,
despertar!
Era a mediunidade que me ofertava o vosso grande amor por mim, para que me salvasse
e dela tivesse o proveito que me oferecia, libertando-me dos grilhões que me prendiam
e cobriam ao mesmo tempo!
Despertei, Senhor!
Mas que luta em que tive de lançar-me comigo mesma para poder confeccionar as
roupagens que tinha de substituir, todas as que já estavam podres de tanto serem
usadas e cobrir minha carcaça ambulante e quase errante. Porém, um dia, Senhor, de
olhos fitos em Vós, implorando-Vos a força bastante para arrancar de mim tudo quanto
me dificultava os movimentos e as ações, vi raiar sobre mim o sol de vosso amor que,
pelo calor, fez derreter e cair esses envoltórios nojentos e prejudiciais!
E, ao ver o meu espírito despido, curvei a cabeça, agradecendo-Vos, por me haverdes
mandado que as arrancasse com vontade de me ver liberta; mas, embora o esforço
fosse grande, Senhor, ainda me incomodam os movimentos e dificultam os passos os
fragmentos que se enraizaram primeiro, dando-me a agitação dos que ainda não
compreendem que a natureza não dá saltos! Mas eu Vos suplico, Pai, a força do Vosso
amor, para que me torne calma, refletida, tolerante e humilde! Dai-me, Senhor, a
paciência, a coragem e a resignação, para que não esmoreça, nunca, quando sou
forçada a ver por mim própria, o que aos outros fiz passar. Que o ódio que me votam
seja o meu amor; a ofensa que me dirijam, receba o meu perdão e que eu veja sempre,
em tudo o que me faça sofrer, a Vossa infinita misericórdia, como prova da Vossa
sabedoria infinita na justiça de Vossas sábias e imutáveis Leis tendo como redenção
para os que erram a sublime lei de causa e efeito. Louvado sejais, Senhor, Pai e Juiz
de todos nós, que a todos dais a possibilidade de até Vós podermos ir.
— Vossa filha,
.Maria Máximo
1
Irmãos muito amados:
Que as Bênçãos de Jesus nos felicitem, no trabalho do seu Evangelho de Redenção.
2
Edificado o templo das graças divinas, cumpre-nos distribuir a Divina Luz.
3
Quantos obstáculos vencidos nos caminhos ásperos, quantas nuvens de dor
transformadas em chuvas torrenciais de misericórdia e alegria?
4
Convidou-nos, o Mestre, a exemplificar-lhe as lições sublimes.
5
Entre as pedras ingratas do mundo e, embora os espinhos da ignorância humana, Jesus
ainda vem ao encontro de todos os sofredores e necessitados, iluminando trevas,
consolando amarguras, enxugando lágrimas, vestindo a nudez, espalhando
esperanças e renovando consciências.
6
É o Senhor, meus amigos, quem nos convoca ao serviço de Sua infinita bondade. Suas
mãos generosas auxiliaram-nos na edificação deste novo templo de concórdia e luz
espiritual. Seu braço forte dissipou a incerteza dos primeiros dias, guiou-nos o esforço
sincero, trouxe-nos cooperação e alento, deu-nos segurança de fé e orientou-nos o
ideal. E a sua casa de amor está erguida, com o celeiro farto de bênçãos.
7
Somos seus mordomos e servos, cooperadores e devedores. Que não fazer, portanto,
pelo Amigo Eterno e Fiel?
8
Enquanto na esfera das lutas terrestres sobram discussões e dissensões, levantam-se
as bandeiras do ódio, erguem-se muralhas do sectarismo e desabam tempestades do
desespero, unir-nos-emos na mesma realização sagrada, exemplificando a fraternidade
santa, arvorando o estandarte luminoso de paz, criando o novo entendimento entre os
homens e restaurando as fontes do Infinito. 9 Nosso templo de caridade cristã será a
luz viva para os caminhos da eternidade, consolação aos aflitos, socorro aos
desesperados da sorte, pão dos famintos, água viva aos sedentos da alma, lar dos
órfãos, teto amigo dos enjeitados, asilo dos pobres sem rumo, estrela da esperança
aos que vagueiam na noite da descrença, fortaleza aos fracos, abrigo aos
desamparados, hospital aos doentes, ânimo aos tristes, roteiro aos transviados,
salvação dos náufragos, bálsamo aos infelizes, amparo aos sofredores e oficina ativa
para todos os servidores féis.
10
Grandes são as dádivas recebidas! Muito grandes, porém, são as nossas
responsabilidades perante o Doador Universal. Façamos, pois, meus amigos, o nosso
novo compromisso, diante do Senhor. Aliemo-nos no ministério do amor cristão,
entregando ao Mestre os nossos votos de renúncia, de trabalho e de sacrifício.
11
Em Cristo, a renúncia ilumina, o trabalho redime e o sacrifício eleva.
12
A semeadura generosa permanece em nossas mãos. Plantemos a humildade e o bem,
para que as luzes celestiais resplandeçam na Terra, através das lâmpadas de nossos
corações.
13
Vigiemos contra as vermes da sombra e contra as serpentes da discórdia! Nossas
almas iniciam agora um novo ciclo na suprema edificação para Deus.
14
Amemo-nos, profundamente, distribuindo a felicidade com os nossos semelhantes!
Aprendamos com Jesus, estendendo-lhe as lições divinas no campo da humanidade.
15
Chama-nos o Mestre ao serviço santificante do amor e da iluminação. Bem-
aventurados os corações que souberem responder ao chamamento sublime!
16
Transformemos nossos desejos numa só aspiração, consagremo-nos ao Senhor,
executando-lhe a vontade justa e misericordiosa.
17
Estamos convosco, de alma genuflexa, com as lágrimas de nosso júbilo e
reconhecimento endereçadas ao Pai Supremo.
18
Agradeçamos a Deus, trabalhando e amando, perdoando o mal e estimulando o bem,
servindo a todos e elevando-nos constantemente.
19
Enquanto as nossas portas se abrem ao próximo, cheias de luz cristã, abraçamos
nossos corações para Jesus.
20
Hospedemos o Mestre, dentro de nossas almas, convertamo-nos ao Seu Evangelho de
renovação e, unidos com Ele, sejamos instrumentos fiéis de Sua divina vontade para
sempre.
“A ciência raciona; mas o amor edifica. O cérebro procede à verificação; mas somente o
coração pode e sabe criar.” — Bezerra de Menezes
Juiz de Fora foi uma cidade que Chico Xavier visitou muitas vezes quando jovem. Seu
movimento espírita sempre foi dinâmico e suas Semanas Espíritas muito concorridas. No
ano de 1942, nas noites de 18 a 21 de maio, a Casa de Kardec, situada na Rua do
Sampaio 425, teve o privilégio de recepcionar em sua sede o médium de Pedro Leopoldo
que psicografou instrutivas mensagens dos Benfeitores Espirituais, algumas publicadas
apenas em opúsculo distribuído em edição limitada. Foram os Espíritos comunicantes:
Eugênia Braga, inédito em livro; Belmiro Braga (“Bilhetes”, publicado em edição revista
do “Parnaso d’Além-Túmulo”); João de Deus (“Avante!”, publicado em “Coletânea do
Além”; “Além”, publicado no “Parnaso” e em “Taça de Luz”); Venâncio Café, inédito em
livro; Bezerra de Menezes, psicografado no C. E. “Dias da Cruz”, inédito em livro; e
Pedro de Alcântara (“Brasil do Bem”, publicado no “Parnaso”).
É importante registrar-se aqui algumas palavras sobre Venâncio Café, conhecido como
Padre Café em vida, figura de destaque na história de Juiz de Fora. Café nasceu em
Guanhões/MG, em 1846, e ficou órfão nos primeiros anos de vida. Foi Deputado,
Professor, Jornalista e só se tornou Padre em 1891, aos 45 anos de idade. Desencarnou
jovem, aos 51 anos, mas todos se referem a ele como uma pessoa muito carismática e
bondosa. Os católicos da cidade costumam dizer que seu carisma era tão grande “que
ele até se tornou nome de Centro Espírita na cidade”
Para a mulher
1
Minhas queridas amigas: Deus vos abençoe o esforço fraternal.
Na sagrada comunhão, aqui me encontro convosco nas tarefas diárias dentro dos círculos
do bem.
2
O amor é o edifício que construímos na eternidade; e, através de seus laços divinos,
nossos corações se reúnem mutuamente entrelaçados para a vida imortal.
Nunca poderia esquecer os elos sublimes que enlaçam as almas no trabalho sagrado e
incessante.
3
A Casa Espírita, confiada ao coração da mulher espírita de Juiz de Fora, é a nossa
tenda de realizações. Aqui, minhas irmãs muito amadas, temos o nosso grande lar: O
misericordioso velhinho é o nosso anjo-guardião. E em cada detalhe podemos observar
a atividade inesgotável de nossa colmeia.
4
Não sei como agradecer a Jesus pelas searas de luz e de paz que nos tem concedido,
sob este teto de amor; e é em Seu nome que unimos nossos pensamentos aos vossos
pensamentos na mesma ação de louvor; suplicando à Sua Bondade Infinita que nunca
cesse o curso das bênçãos.
5
Nossa alma está igualmente genuflexa. O trabalhador fiel não olvida o reconhecimento
do Senhor.
6
A vossa luta tem sido, às vezes, difícil e angustiosa. Em muitas ocasiões conhecestes
de perto a incompreensão e a dor, a dificuldade e o sofrimento; porém, minhas amigas,
sempre que nos recordarmos das rosas tomadas pelos espinhos, lembremos, antes,
que os espinhos se conservam coroados de rosas. Se o serviço apresenta pormenores
de execução laboriosa, nunca esqueçamos a grandeza e a ventura da realização
espiritual.
7
Na dolorosa situação dos vossos tempos, observamos a mulher de modo geral,
indiferente aos seus grandiosos deveres. As ilusões políticas, a concorrência
profissional, os venenos filosóficos invadiram os lares. São poucas as companheiras
fiéis que se mantêm nos seus postos de serviço, com Jesus, convictas da
transitoriedade das posições mundanas. 8 Quase sempre o que se verifica é
justamente o naufrágio de luminosas esperanças que, a princípio, pareciam
incorruptíveis e poderosas. Semelhantes fracassos são oriundos do esquecimento de
que a nossa linha de frente, na batalha humana, é o lar, com todas as suas obrigações
sacrificiais, compelindo as mães e as esposas, as filhas e as irmãs aos atos supremos
da renunciação. 9 Nosso Mestre é Jesus; nosso trabalho é a edificação para a vida
eterna. É imprescindível não olvidar que os homens obedecerão, em todas as suas
tarefas, ao imperativo do sentimento. Sem esse requisito, são muito raros os que
triunfam. 10 É necessário converter nosso potencial em fonte de auxílio. Nada se
conseguirá no terreno das competições mesquinhas, mas, sim, na esfera da bondade e
da cooperação espiritual. Busquemos na compreensão, cada vez mais, o caráter
transcendente de nossas obrigações. 11 Quando nos referimos ao dever doméstico,
claro está que não aludimos à subserviência ou à escravização. Referimo-nos à
dignidade feminina com o Cristo para que cada irmã se transforme em cooperadora
devotada de nossos irmãos. 12 O mau feminismo é aquele que promete conquistas
mentirosas, perdido em pregações brilhantes, para esbarrar com as realidades
dolorosas; entretanto, o feminismo legítimo, esse que integra a mulher no
conhecimento próprio, é o movimento de Jesus, em favor do lar, para o lar e dentro do
lar. Felizes sois, portanto, pela santidade de vossas obrigações. 13 Unamos as nossas
mãos no trabalho redentor. Nossa Casa é o grande abrigo dos corações onde todos
temos uma tarefa a cumprir. Deus no-la concedeu atendendo às nossas aspirações
mais sagradas e súplicas mais sinceras. 14 Seja cada obstáculo um motivo novo de
vitória; cada dor seja para nós uma joia de escrínio da eternidade. Deixai que a
tormenta do mundo, com as suas velhas incompreensões, seja atenuada pelo poder
divino; não vos magoe os ouvidos o rumor das quedas exteriores. 15 Continuem na
casa do coração, certas de que Jesus estará conosco, sempre que lhe soubermos
preferir a companhia sacrossanta. E, antes de me retirar, transmito-vos os votos de
amor e paz do nosso venerando João de Freitas.
16
Beijando-vos a todas, no beijo afetuoso de agradecimento que deponho no coração de
nossa querida Zuzu, despeço-me, deixando a alma feliz e reconhecida. Vossa irmã,
.Eugênia
1
Meus irmãos, que as bênçãos de Jesus permaneçam convosco e que saibais entesourá-
las no íntimo é o nosso voto sincero sempre.
2
A caravana dos trabalhadores que segue sempre nossas oficinas de serviço cristão,
continuam ativas. E unimos os nossos pensamentos com os vossos para render graças
ao Mestre Amorável. Enquanto o mundo antigo se despedaça nos atritos da ambição,
prosseguimos no propósito santificado de construir. 3 Se conhecemos uma guerra
legítima, essa é aquela que sustentamos em nós mesmos com as velhas imperfeições.
Nossos inimigos não se encontram no plano externo, à moda dos movimentos
estratégicos do mundo. Entrincheirados em nosso próprio íntimo, aí lhes sentimos a
presença, obscurecendo-nos a visão espiritual. 4 É a horda de nossas fraquezas
seculares, de nossos direitos que ameaçam cristalização. Armemo-nos com a fé
perseverante, meus filhos. Empreguemos o alvião da vontade sincera a fim de que
nosso Espírito compreenda o serviço construtivo.
5
Não obstante os nossos títulos de desencarnados, prosseguimos a marcha convosco. A
morte do organismo material constitui, apenas, modificação de Esfera; nunca, porém,
ausência absoluta. 6 Nesta cidade tradicional para nós outros também, em virtude de
representar o teatro bendito de tantas lutas, juntos continuamos no meritório serviço do
bem. Nossas alegrias são as vossas, como nos pertencem igualmente as vossas
lágrimas. 7 Cada parede erguida em memória de Jesus aos seus tutelados, irmãos
nossos, constitui um altar de júbilos infindos aos nossos corações. Cada prece de
vossas reuniões ecoa em nossa alma com a música da fraternidade. 8 Podereis
compreender a grandeza de nossas afinidades sacrossantas. Nossas aspirações são
gêmeas das vossas; e o cuidado de cada um representa o desvelo da comunidade
inteira, que se afina convosco, desde as Esferas mais altas no invisível. 9 De quando a
quando, as sombras ameaçam as nossas tarefas de comunhão incessante. A luta
desenha-se, lançada por elementos sutis da discórdia. Mas o Pai Altíssimo permite que
reforcemos a cada hora os elos de vossa corrente fraternal; e as casas de amor de Juiz
de Fora prosseguem no seu glorioso trabalho de caridade e abnegação evangélica.
10
Sim, meus amigos, muitas vezes haveis de sentir a luta e o sofrimento; nem sempre a
nossa batalha será menos áspera. Entretanto, recordemos que o artista não fere o
mármore por motivos de ódio, mas por razões celestes de amor à obra divina, que lhe
deve nascer das mãos perfeitas. Nosso coração é o mármore nas mãos de Jesus
Cristo. 11 Busquemos interpretar fielmente a grandeza do seu divino ideal de perfeição
e luz. E, sobretudo, não vos torneis em pedra quebradiça. Tende a segurança e a
firmeza da fé, revestida, embora, da maleabilidade necessária. Semelhante atitude não
é paradoxal, nem difícil.
12
Basta que façamos dos desígnios de Senhor nossa própria vontade. Sintamos cada dia
como sagrado período de realizações. Nem sempre recolherá flores; e nem sempre se
verá o firmamento azul. Entretanto, compreendamos a grandeza do trabalho do bem,
qualquer que seja, em suas sublimes características. 13 Poderemos atender a Jesus
em todos os lugares. Não seria possível guardar o tesouro da fé, se apenas o
defendêssemos nos instantes da eucaristia da prece. Não podemos proceder à feição
dos crentes antigos, que talhavam um Jesus para o templo e outro para o mecanismo
das relações comuns. O mundo espera pelos discípulos fiéis. 14 Seria inútil assumirmos
a atitude de quem lhe espera o aplauso inconsciente, quando não ignora que é
justamente a Terra que aguarda a nosso esforço. O homem, de modo geral, sempre
meditou as vantagens, olvidando os tesouros de cooperação. 15 Por toda parte,
respiram os que permanecem insaciáveis na crítica, os que apenas analisam, os que
requerem o concurso da comunidade com fortes exigências. Mas o cristão fiel sabe que
Jesus não aguardou a apologia de seu tempo, que não pediu as palmas da sociedade
humana, nem temeu suas perseguições inerentes.
16
Jesus deu e imolou-se. Sua grandeza sublime é tão resplandecente na luz do Tabor
como nas lágrimas do Calvário. É preciso, meus filhos, que façamos a negação do
capricho pessoal e que lhe sigamos os passos divinos. A lição do Mestre ainda e
sempre é a eterna mensagem para o Espírito humano.
17
Em nossas oficinas de esforço, amemos o mais possível. Que ninguém tenha queixa
quando o Senhor tem sido tão magnânimo. 18 Atravessemos os nossos caminhos com
a luz dos sentimentos fraternos. Quando surgir a nuvem da mágoa, procurai o perdão e
o esquecimento. Para nós, cada luta deve ser um motivo de glorificação espiritual. 19
Dai-vos as mãos uns aos outros e segui. Jesus nos pede tão pouco! Recordemos ao
máximo para que a Sua bondade opere, todos os dias, em nosso favor; e, então,
compreendereis os pequeninos nadas da passagem pela Terra, a fim de considerar tão
somente a vida em seus valores eternos. 20 Em síntese, meus irmãos e meus amigos,
lembremos o antigo programa — União, Humildade e Caridade. Que o Pai Celeste nos
abençoe!
.Venâncio Café
Mensagem de Bezerra de Menezes
Psicografada por Francisco Cândido Xavier, no Centro Espírita. “Dias da Cruz”, na noite
de 19 de maio de 1942.
1
Irmãos muito amados, que a glória das alturas se derrame sobre todos os Homens de
Boa Vontade, onde quer que se encontrem, nas atividades do labor divino. 2 Fala-vos o
amigo de todos os instantes, o apagado servo de nosso Senhor Jesus Cristo, que vem
rejubilar-se convosco pelas alegrias da solidariedade fraternal.
3
Sigamos para frente, apesar das sombras que invadem os caminhos.
4
O Espiritismo é a vigorosa esperança dos tempos novos. Entretanto, não poderá atingir
finalidades gloriosas do seu trabalho sem o esforço dos seus obreiros fiéis.
5
Vejamos, meus amigos, o precioso quadro de realizações desde o Codificador até hoje.
As aspirações da imortalidade, os anseios santos da fé, encontraram na doutrina
consoladora dos Espíritos o seu divino sustentáculo.
6
Enquanto os filósofos negativistas preparavam um século XX cheio de máquinas e de
teorias esterilizadoras, Jesus movimentava os seus operários abnegados e puros para
que as florações sublimes da crença não se perdessem ao longo das teses de
negação. 7 A Doutrina surge como poderoso foco de revelações para a humanidade
moderna. Em toda parte, observavam-se corações em êxtase maravilhados com a
nova luz. As fantasias dogmáticas foram relegadas ao lugar que lhes competia, ao
passo que nova esperança se instalava nos corações. 8 Temos quase um século de
esforço incessante de projetos expressivos de votos renovados. O velho mundo
preferiu a estação do exame meticuloso, rigorista, pautando as suas normas pelo
critério científico, como se a crise do mundo obedecesse a um problema de pesos e
medidas materiais. 9 Numerosas coletividades repousaram nas exigências descabidas
desprezando a fé e o sentimento como postulados desnecessários à irradiação das
verdades novas. 10 Sabeis que a espiritualidade se movimentou célere, trazendo aos
povos da América o sagrado depósito religioso. Entre nós, o Espiritismo, antes de tudo,
representa luz no coração, bússola do sentimento, elevação moral do Homem. 11
Graças à Providência Divina, os nossos núcleos não se resumem a círculos de pura
observação pretensiosa, mas, às casas de Cristo, onde o seu amor deve correr como
água viva. Não podeis, por enquanto, imaginar a grandeza da nossa luta, de nossos
ideais.
12
A Terra tem os seus véus, que obscurecem a visão sagrada do espírito. Entretanto,
apesar de semelhantes condições, permanecei convictos de que a nossa tarefa é a
maior de todas; é o esforço de restaurar o Cristianismo, oferecendo-lhe os nossos
corações. 13 Amigos, é nesse círculo espiritual que as nossas responsabilidades são
profundas. Se não temos disciplinas ferrenhas e dogmáticas, se não possuímos
sacerdócio organizado ao feitio de outras confissões religiosas, temos a identidade da
tarefa, o serviço em comum.
14
Quantas vezes encontramos a afirmativa de que o Espiritismo, pela liberdade conferida
aos seus operários, é um rebanho sem pastor? Diante dessa declaração de irmãos
nossos, é preciso recordar que o nosso pastor é Jesus, que o nosso Mestre é sempre
Ele mesmo. Pela sua condição de intangibilidade para as nossas mãos materiais, não
poderíamos significar sua ausência. Cristo está ao lado de seus discípulos fiéis, onde
quer que permaneçam. 15 Por isso mesmo, ao momento que passa, os irmãos, pela
tarefa, não podem olvidar o dever de solidariedade, trabalho e tolerância, aliás,
anunciado por Allan Kardec, desde os dias primeiros da Codificação. 16 Não
confundamos liberdade com desobediência. A liberdade digna com Deus é aquela que
lhe respeita os desígnios sem esquecer as obrigações de cada dia. Sejamos livres,
sendo, ao mesmo tempo, escravos uns dos outros em Jesus Cristo. 17 Não haverá obra
útil em que faleçam os princípios sagrados da cooperação. É preciso auxiliar a fim de
se colher resultados úteis. Não esqueçamos que nosso coração é como um templo
luminoso em que o Mestre virá ao nosso encontro. 18 De modo geral, temos observado
fenômenos há quase um século; nossas atividades muito hão perdido na esfera das
puras discussões sem finalidades essenciais. Recolhamo-nos, agora, a nós mesmos.
Examinemos as possibilidades infinitas, latentes em nossa organização espiritual.
19
Somos também como a terra; necessitamos de tratamento, de irrigação e de adubo,
antes da semeadura. Cada coração é qual continente ignorado, portador de reservas
de grandeza infinita. 20 Não procedamos como os trabalhadores ociosos, que discutem
ao lado das ferramentas nas oficinas. Movimentemos as mãos na estrutura de nossa
personalidade espiritual. 21 Quando digo “nós”, procedo obedecendo os princípios de
justiça; porque desencarnação não significa redenção. Nosso esforço na Esfera
invisível aos vossos olhos é profundo, de maneira a atingirmos a “nova terra” das luzes
imortais. 22 Unamo-nos, pois, no serviço bendito da iluminação própria. Lembremos que
a luta é o meio, ao passo que a perfeição é o fim. 23 Não temamos as quedas.
Cairemos ainda muitas vezes; entretanto, devemos colocar, acima de tudo, o nosso
propósito decidido de alcançar a dolorosa exemplificação do que ocorre no mundo
europeu. Mais de cinquenta anos de Espiritismo científico não conseguiram dissimular
a crueldade dos preconceitos na coletividade. A destruição, a morte, o arrasamento, a
miséria são hoje dilacerados espinhos na coroa de sofrimentos de um continente
inteiro. 24 Guardemos o Espiritismo-sentimento como tesouro que nos foi confiado pela
Magnanimidade Divina. A ciência raciocina; mas o amor edifica. O cérebro procede à
verificação; mas somente o coração pode e sabe criar.
25
Comprometamo-nos, pois, meus amigos, a retificar a aliança divina da fraternidade em
Jesus. Sejamos irmãos uns dos outros, certos de que já encontramos numerosos
críticos na estrada vasta do mundo.
26
Amemo-nos muito, não só de palavras, mas empenhando o coração inteiro nesse
sublime compromisso. Não vos poderia, a meu ver, trazer outra mensagem.
27
Que Jesus nos auxilie a guardar e a defender as suas verdades santas, dentro da
iluminação de nós mesmos e da iluminação do mundo, são os votos do amigo e irmão
de sempre.
.Bezerra de Menezes
[1] Essa mensagem de Eugênia Braga foi publicada no livro Coletânea do Além, cap. 58.
6
Ao Irmão Vaz
Não basta se tornar espírita atuante para fazer desaparecer os problemas que todos
carregamos, uns mais, outros menos. A militância no movimento, por vezes, aumenta-os
como que a nos submeter a testemunhos que venham colocar à prova nossa fé. O
próprio Cristo não ofereceu nenhuma facilidade ao jovem que pediu a receita para
alcançar o Reino dos Céus: Então vá, largue tudo o que tens, pegue tua cruz e segue-
me! Não esperemos facilidades, portanto, ao assumirmos nossas tarefas doutrinárias,
mas peçamos à Espiritualidade maior força e sabedoria para enfrentar os problemas e
suavidade para resolvê-los.
A presente mensagem de Emmanuel tem caráter particular, mas seus conselhos servem
para todos nós, trabalhadores da seara espírita, e permanecem atuais, apesar da
distância do tempo e de se referir a um episódio específico dos anos de 1940.
Esse episódio, motivo do conteúdo da comunicação, passou-se na União Federativa
Espírita Paulista envolvendo Joaquim Augusto Vaz, Caetano Mero, Américo Luiz
Fernandes e outros dirigentes daquela Instituição, que mantiveram por quase dois anos
no ar a Rádio Piratininga, a primeira emissora genuinamente espírita do Brasil. A Rádio
teve seu prefixo cassado, por influência da Igreja, por Getúlio Vargas e envolveu muitas
demandas judiciais e políticas que hoje fazem parte da história e não nos compete
comentar aqui.
Válido, mesmo, são os conselhos e o carinho de Emmanuel para com o confrade Vaz,
cujas lições contidas na mensagem convidam-nos à reflexão.
1
Meu caro irmão Vaz:
Deus te abençoe o espírito dedicado e laborioso.
2
É ao teu coração, meu bom amigo, que dirijo as presentes palavras; com que direito?
Poderias perguntar naturalmente. E eu, que aqui me encontro na qualidade de irmão
mais velho, posso dizer que estou usando os direitos do Amor. Falece-me autoridade,
bem o reconheço, mas, o Amor vibra em minh’alma e é por essa mesma razão que te
dirijo este apelo.
3
Ouve, meu amigo! Que companheiro mais devotado para nós outros, poderia existir,
além de Jesus? Ouçamo-lo no divino silêncio de nossa alma consagrada ao seu divino
serviço. E a voz de Jesus tem profunda ressonância em nossas almas. Busquemos
anotar a grandeza espiritual de suas afirmativas que nos induzem ao perdão, ao amor,
à caridade fraternal.
4
Por que manter o círculo de preocupações obscuras em torno de teu coração, sempre
devotado ao trabalho do bem? O homem, meu amigo, por vezes, não observa de
pronto a rede sutil de perseguições que lhe colheu o espírito menos avisado. 5 Teu
maravilhoso jardim, cheio das flores e das bênçãos de Deus, atraiu o pensamento de
malfeitores solertes e ingratos. Não permitas que os resultados divinos dos teus
esforços de discípulo sincero sejam arrebatados. Volta a erguer as muralhas de tua fé;
não abandones a defesa de teu patrimônio espiritual. 6 A luta é grande, o esforço não
se poderá atenuar em nenhuma estação da experiência purificadora e amigos
devotados inclinam-se, da Esfera espiritual, sobre os teus caminhos, de maneira que
se faça mais luz em teu espírito bondoso. 7 Não te entregues, meu amigo, às
cogitações dispersivas, conduzindo-te pelo espírito de discórdia que avassala os
caminhos de numerosos irmãos. Conhecemos o quilate de teus esforços para não
obedecer aos alvitres sutis, tantas vezes lançados sobre a esfera de teus
pensamentos, pelas Esferas da sombra.
8
Lutaste, trabalhaste, em vão tens ponderado laboriosamente. Entretanto, pedimos-te, de
coração, mais um esforço.
9
Não desfaças a oportunidade de reunir novamente o teu trabalho ao de teus amigos.
Não te sintas ofendido por ninguém. Volta, meu filho, ao cultivo do jardim de tua fé. Se
tens mágoas, esquece e renova os teus serviços com Amor. 10 As árvores podadas
assemelham-se às almas em experiências dolorosas. Deixa que os ramos novos
cresçam de novo em torno de seus caminhos. Acaso terias esquecido que nos
devemos amar reciprocamente como irmãos?
11
Quem te fala é teu amigo nas lutas milenares. Jesus não permitiria minha voz ao teu
lado, nestas palavras, se não tivéssemos um laço mútuo, no caminho obscuro do
passado espiritual. Muitas vezes, meu caro Vaz, também eu levei muito longe a minha
severidade no julgar, quase sempre me perdi pelo personalismo extravagante, inutilizei
sagrados ensejos de aprender, pelo meu excessivo egoísmo, na esfera individual.
Raramente aceitava a colaboração de meus amigos, quando destoasse de meus
princípios pessoais, e não poucas vezes movimentei as forças do escândalo para
assentar-me tranquilamente nas posições do aplauso público.
12
Mas, ai de mim, meu amigo! Minha severidade era inútil, meu personalismo um veneno
cruel que não atacava senão a mim próprio.
13
Vês, portanto, que te fala um irmão mais velho que se honra em te escrever como um
pai. Fui sempre mau e egoísta em passados de sombra e, por isso, aqui estou para te
dizer: Meu filho, volta à harmonia com os teus irmãos.
14
Quanto te dispuseres a esse ato de amor haverás de ver que o sol de Jesus é bastante
para quebrar toda a atmosfera psíquica que te rodeia, desde algum tempo. Estaremos
contigo para o bom trabalho; entretanto, é indispensável que estejas também conosco.
15
Não te percas em perspectivas de processos do mundo. Esquece a ilusão de que os
tribunais convencionalistas podem estabelecer a concórdia nos corações. Aliás, meu
amigo, semelhante movimentação judicial, no quadro de lutas da Terra, nada mais
operaria que um sério agravante em tuas responsabilidades espirituais.
16
Esquece a fantasia venenosa daqueles que ainda não despertaram a consciência para
a luz do Evangelho. Ainda que todos te ofendessem, ainda que todos te insultassem,
aproximar-me-ia de teu coração e repetiria: Perdoa, meu filho.
17
Além do mais, todos te amam; os companheiros sentem a falta de tua cooperação.
Porque tamanha tormenta por um simples mal-entendido que poderia solucionar-se por
um carinhoso aperto de mãos?
18
Volta, meu caro Vaz, a ti mesmo e examina, em minha companhia espiritual, o
problema da fraternidade necessária. O que te posso afirmar é que cada irmão espera
por ti, com transportes de júbilo no espírito confiante.
19
Lembra, meu filho, que a realização radiofônica dos trabalhadores paulistas é um
patrimônio que pertence a nós todos, encarnados e desencarnados. Trata-se de uma
obra com o Cristo e para o Cristo. O dinheiro, as expressões materiais, as lutas
humanas e os atritos comuns aí deveriam funcionar como simples instrumentos
transitórios necessários à consecução do fruto divino. 20 O que interessa é esse fruto,
meu filho! — Por que deturpá-lo com as nossas franquezas quando o Senhor no-lo
oferece substancioso e puro? Somos o tronco, repleto de sujidades pelo nosso pretérito
delituoso, mas Jesus fará frutificar os nossos esforços, desde que não lhe perturbemos
o ato de dar.
21
O Mestre quer ofertar; será possível que não saibamos nem mesmo receber em nosso
próprio proveito? Considera comigo, no silêncio do coração, semelhantes questões e
volta aos teus amigos do dia de ontem.
22
Todos te aguardam, com anseios fraternais. Cesse a tempestade para que os serviços
se harmonizem. Recordemos que a semeadura e a messe pertencem ao Senhor.
Somos simples arados em Suas mãos divinas e essa circunstância, a nós outros, deve
constituir um motivo de júbilo santo.
23
Sinto que teu coração redarguirá que talvez não tenhamos aprendido a extensão de
tuas contrariedades e o volume de teus sofrimentos, mas somos dos primeiros a
reconhecer que, ainda mesmo que houvesse semelhantes razões a serem
consideradas o problema seria de somenos importância.
24
Porque nos impressionarmos com a luta experimentada no mínimo que nos foi confiada
na Terra, quando Jesus faz sempre o máximo serviço, em silêncio sagrado, afastando-
se do nosso olhar agradecido.
25
Não, meu amigo; vejamos o caminho radioso que nos aguarda. Esquece os espinhos e
as pedras, para pensar tão somente nos terrenos fecundos que esperam por tuas
mãos.
26
Vem, de novo, ao esforço da cooperação desinteressada e sincera. És a chave de uma
grande porta para a harmonização de companheiros valorosos e abnegados. Permita
que Jesus te utilize, meu filho. Vai a cada um daqueles que se tornarem solidários na
discórdia para que a união os encontre, novamente, no caminho de Jesus. É tão difícil
subir a montanha, entretanto, não temas os cansaços da ascensão. Serei teu cajado de
arrimo para que a harmonia felicite o ambiente geral.
27
Que a PIRATININGA seja, de novo, a casa da alegria e da boa luz para todos. Vai sorrir
e vai chorar ao lado de teus amigos. Esquece o dia de ontem, para meditar tão só a
profunda misericórdia da Providência Divina. Lembra que o Senhor, cada dia, nos abre
um livro de crédito na vida universal. Sua bondade está sempre interessada em olvidar
nossos débitos.
28
Volta a ti mesmo, meu filho, e quando houveres feito isso, com sinceridade, sentirás, de
perto, minha palavra fraterna em teu coração. Tenho procurado auxiliar-te, buscando
reerguer tuas forças e o estado de nossa irmã Genuína, tua generosa companheira de
lutas e alegrias na Terra. 29 Se puderes, meu amigo, não desprezes meu apelo
amoroso. Não te peço por mim, mas e sim por Cristo. E, quando abraçares aos teus
irmãos, quando a harmonia se fizer novamente em teus caminhos, hás de sentir, nesse
instante, o calor de uns lábios velhos nas tuas mãos.
30
Serei eu que te levarei o ósculo da paz, certo de que, acima de tudo, colocaste os
interesses de Jesus Cristo.
Teu irmão e servo humilde.
.Emmanuel
Nota: O original desta mensagem, psicografada por Chico Xavier, contém 16 folhas,
devidamente numeradas pelo próprio médium.
Mensagens de Além-túmulo
Sob o título acima, o opúsculo publicado pelo Centro Espírita Uberabense divulgou as
comunicações recebidas por Chico Xavier na reunião pública de que participou naquela
Entidade em 4 de maio de 1945. A poesia “Brasil, Pátria do Evangelho” foi publicada no
livro “Relicário de Luz”, editado em 1962 pelo Grupo Espírita Fabiano, do Rio de Janeiro,
e a mensagem de Eurípedes ficou inédita em livro.
1
Meus amigos, que a paz do Senhor nos fortaleça o coração na grande jornada.
2
O Espiritismo Cristão é a porta de luz que se abre à Humanidade. Amigos, nunca nos
cansaremos de vos conclamar ao serviço da verdade e do bem. Falando-vos,
guardamos a impressão de endereçar a palavra às fileiras da frente, àquelas que
sustentam as lutas mais ásperas, que sofrem o mais perigoso assédio das forças das
trevas. 3 Conhecemos a dificuldade, a dor, o fel que vos amarga o coração ante os
ataques da sombra; entretanto, meus irmãos, somos os felizes depositários da fé viva,
lutadores que se rejubilam com as chagas e encontram benditas claridades nas lutas
de cada dia, porquanto nos encontramos a serviço d’Aquele que é a Luz dos séculos
terrestres. 4 Inúmeras escolas religiosas foram chamadas a servi-Lo; no entanto,
esquecem-se os seus expositores do trabalho universal da paz e do amor com o Cristo,
perdendo-se nos terríveis desfiladeiros do sectarismo destruidor.
5
Procuraram Jesus, através das dissensões e da separatividade, como se não
bastassem quase dois mil anos de ódio sanguinolento e separação entre as criaturas
de Deus. Nossa tarefa é mais alta. Propomo-nos a atender ao chamado do Mestre
através de nossa própria renovação, buscamo-lo acendendo a nossa luz interior, para
que a nossa existência se constitua em pregação viva do Evangelho da Redenção.
6
Não alimenteis qualquer dúvida. O triunfo integral ainda permanece à distância. Até lá, é
preciso subir o Calvário, negando a nós mesmos e suportando a gloriosa cruz.
Pedradas da ignorância, açoites de ingratidão, surpresas dolorosas dos caminhos
escuros vos surpreenderão na marcha para o Alto comando; contudo, mantende a
vossa fé, porque Jesus, o Mestre Divino, socorrerá o discípulo fiel, onde quer que se
encontre, estendendo-lhe a mão amiga, poderosa e fiel. 7 Os generais da Terra traçam
mapas com o sangue fraterno, enquanto os estadistas costumam desenhá-los com a
tinta do ódio e das vinganças, mas Jesus estabelecerá, entre os homens, o Seu
reinado Sublime de Amor. Lembrai-vos dos companheiros dos tempos apostólicos.
Eles não morreram. Ressurgem das catacumbas distantes para falar-vos da
necessidade de servir até o fim.
8
Vigorosas energias fluem para vós outros de Mais Alto! É preciso não desanimar. O
futuro pede o nosso esforço supremo.
Confiai, trabalhai sempre e esperai na Paz de Jesus.
Que Ele vos fortaleça e revigore o ânimo e conceda-vos a armadura interior da confiança
e da alegria, são os votos do vosso amigo de sempre,
.Eurípedes
1
Esta é a Pátria da Eterna Primavera,
Áureo torrão da América, celeiro
De abastança sublime ao mundo inteiro,
Nação, de que as nações vivem à espera.
2
Enquanto o antigo monstro dilacera
O Velho Mundo em nosso cativeiro
Brilha o pátio celeste do Cruzeiro,
Na vanguarda de luz da Nova Era!
3
Brasileiros, vivemos a aliança
Do trabalho, do bem e da esperança,
No País da Bondade, almo e fecundo!…
4
Exultai! Que o Brasil, desde o passado,
É a Pátria do Evangelho Restaurado
E o Coração da Paz do Novo Mundo.
.Pedro d’Alcântara
[1] Essa mensagem de Eurípedes Barsanulfo foi também publicada no livro Doutrina e
Vida.
8
1
Sob as colunas deste santo abrigo,
Há multiplicação de pães do amor,
Pela misericórdia do Senhor,
O Amado Mestre e nosso Eterno Amigo.
2
Ante as sombras do mundo tentador,
Eis o refúgio isento de perigo,
Na sementeira do Divino Trigo
Das alegrias do Consolador.
3
Na vibração de paz que nos enlaça
Entoemos o cântico de graça
Pelas sublimes dádivas da Luz!
4
E que entre vós, amigos, sempre
Esteja a acolhedora e sacrossanta
Igreja do Divino Evangelho de Jesus.
.João de .Deus
A seguir, Chico psicografa o soneto “Nova Luz”, de Anthero de Quental, que pode ser
encontrado na obra “Através do Tempo”, publicada pela Lake, em 1972:
Nova luz
1
Desfez-se a sombra do mistério errante…
E as vozes da Mansão Desconhecida,
Trazem à morte estranha e indefinida
A mensagem da vida triunfante!
2
É a compassiva luz de Outro Levante
Revelando a beleza de Outra Vida,
Sol para a Terra escura e irredimida,
Fé para a humanidade vacilante…
3
Há claridade sobre a noite imensa…
Cai a negra muralha da descrença
Aos lampejos celestes da verdade.
4
É a nova luz divina que se eleva
Nos turbilhões de lágrimas e treva
Trocando as sendas para a Eternidade.
.Anthero de Quental
.Anísio
Lâmpada acesa
1
Irmão Flores,
Deus o abençoe pelo serviço aos hansenianos. 2 Eu também peregrinei nos vales das
sombras, de corpo chagado e oprimido, afim de curar as úlceras da alma endividada e
endurecida… 3 Sim, meu amigo, o cântico da gratidão é mais harmonioso nas vozes
que muitas vezes se consumiram, no desespero e na angústia, como a flor é mais bela
e milagrosa na haste castigada de espinhos. 4 Sou daqueles leprosos do Evangelho
que não voltaram ao Divino Médico para agradecer, mas que, em seguida a dolorosas
jornadas nas trevas, regressa aos discípulos d’Ele, renovado e humilde por beijar-lhes
as mãos. 5 Temos grande serviço a fazer, em favor do ressurgimento da esperança na
alma daqueles que se refugiaram na solidão. Consciências em luta acerba sob golpes
do escopo do sofrimento, as nuvens da aflição no pensamento atormentado
transformam-se em portadoras da tempestade de lágrimas asfixiantes. 6 Seja o
Espiritismo Cristão uma lâmpada acesa dentro da imensa noite. Não basta o pão que
mitigue a fome ou o bálsamo que nos suavize as feridas no corpo da Tona. Temos
necessidade de carinho, de fraternidade, de compreensão. É nessa base de
entendimento evangélico que conseguiremos mais eficiente equação ao problema de
conforto aos hansenianas, nossos irmãos. 7 Por que não sorrir ao semelhante que a
provação redentora pune e aprimora? Por que retirar o gesto amigo ao companheiro
relegado quase sempre ao infortúnio e à desesperação? Doutrina consoladora e
sublime, o Espiritismo vem abrir-nos horizontes novos.
8
O hanseniano não é um revoltado congênito nem um celerado que as leis sociais
possam condenar ao supremo abandono. Haja mais amor e a sementeira da fé viva
florescerá para os que receberam com a enfermidade terrível o banimento do lar e a
deserção, muitas vezes dos corações mais queridos. 9 Estamos a postos e rogamos
geral auxílio. Não esmolamos dinheiro para os corações infortunados que a dor situou
em resvaladouros de infinita amargura. Pedimos fraternidade, compreensão,
esperanças e luz. Unamo-nos, amigos, no serviço de proteção espiritual que aclare a
senda dos companheiros que descreram da piedade humana! Afeiçoemo-nos ao
Evangelho que nos recomenda o amor sublime uns aos outros.
10
E agradecendo-lhe, meu amigo, pela tarefa iniciada, em beneficio da renovação interior
dos filhos da lepra redentora, sob a claridade do Espiritismo cristão, deixamos a todos
os cooperadores do bem o apelo a favor dos que choram na sombra, em nome
d’Aquele Divino Amigo que se imolou, por nós, nas chagas da cruz.
.Jésus Gonçalves
Em nome do Evangelho
Em nome do Evangelho
.Emmanuel
1
Meus amigos, muita paz.
2
A obra do livro e do jornal, no campo do Espiritismo Evangélico, é tão vital para o
progresso do mundo quanto a sementeira de trigo ou a canalização de fontes
renovadoras e puras, destinadas a sustentar a segurança, o bem-estar e a saúde da
coletividade.
3
O mundo espiritual na Terra de agora é um conjunto de complexidades crescente,
reclamando o devotamento de todos os cooperadores do bem, mormente no setor
iluminativo da inteligência, uma vez que, se apenas a matéria orgânica transformada é
adubo valioso do solo, convocado à produção econômica, somente a ideia evoluída e
santificada conseguirá fertilizar os continentes da alma humana, necessitada de luz.
4
Não precisamos repetir que a máquina, aperfeiçoando o esforço da civilização, trouxe
problemas de equação difícil para a vida mental em todos os círculos da redenção
planetária. Em toda parte, sentimos o imperativo do esclarecimento e da educação;
entretanto, sabemos, hoje, que os antigos processos acadêmicos, se habilitam o
cérebro para os primores da técnica profissional, de modo algum respondem aos
anseios de ascensão do Espírito eterno que, em todas as latitudes do Universo, pede
paz e aprimoramento para ser feliz. 5 Os velhos templos de pedra não guardam mais o
calor necessário à lavoura da fé e, enquanto a filosofia mergulha em abismos teóricos,
a ciência confia-se ao cativeiro da política de hegemonia, para a qual sempre se
inclinam as nações poderosas do mundo, sequiosas de dominação.
6
O tempo, contudo, não cessa de verter sobre a humanidade os recursos incessantes de
elevação e aperfeiçoamento sobre a utilização dos quais cada um de nós é interpelado,
a seu tempo, perante as forças equilibrantes que integram o tribunal da Justiça Divina.
7
Reconhecemo-nos, pois, à frente de obstáculos escuros e inquietantes em todos os
trilhos do pensamento, e não encontramos, sinceramente, outra solução que não seja a
de converter a imprensa espiritista cristã em claridade ascendente, cujas irradiações
alcancem os mais recônditos setores da atividade comum.
8
O livro é, no fundo, o material vivo de construção do eterno domicílio da alma imortal,
que se vai engrandecendo e iluminando, à medida que se sublima o usufruto de suas
vantagens salvadoras, que é o próprio homem, ao passo que o jornal é, a nosso ver, a
mesa permanente de pão emocional e idealístico, para a criatura que já abandonou as
bases da vida primitivista, em voo para a glória da virtude e do conhecimento.
9
Assim, pois, meus amigos, saciemos a fome do corpo, e atendamos ao nosso irmão
menos afortunado da senda terrestre, oferecendo-lhe agasalho e conforto, mas não
nos esqueçamos de fazer mais luz para o raciocínio e para o sentimento, incentivando
a escola e a imprensa, em cujo sistema de socorro espiritual aprendemos a ouvir os
orientadores do passado, a receber o influxo das almas redimidas e abnegadas, que
nos amparam no presente, e a sentir as sugestões e estímulos do futuro, para a
exaltação do Evangelho, que é o livro divino, a cuja claridade imortal preparamo-nos,
pelo estudo e pelo trabalho, pelo amor e pela dor, para encontrar a alegria divina de
servir vitoriosamente, em perfeita sintonia com Jesus, Nosso Mestre e Senhor.
.Emmanuel
Visita a Muriaé
Eis uma belíssima mensagem digna de figurar em qualquer dos livros psicografados pelo
Chico e que fomos garimpar escondida no Reformador de junho de 1950, recebida por
Francisco Cândido Xavier em Muriaé.
Santuário doméstico
1
Meus amigos, o Senhor nos ilumine e fortaleça.
2
O Espiritismo é a grande luz que se derrama em catadupas de bênçãos sobre a
humanidade sofredora e atormentada, e cada santuário doméstico que lhe entroniza
a claridade no altar mais íntimo, é abençoado núcleo distribuidor dos celestes dons que
fluem, incessantemente, do Alto. Temos aqui, portanto, a revelação do porvir terrestre.
3
A verdade libertada dos templos de pedra que a algemam a férreos princípios
convencionais, atravessando o lar, à maneira de corrente cristalina, aliviando corações
dilacerados, sarando velhas úlceras e preparando almas para a Vida Eterna.
4
Prescindimos aqui do sacerdócio organizado porque individualmente cada companheiro
oficia ao Supremo Senhor, no santuário de si mesmo; 5 dispensamos o fausto do culto
externo, porquanto, a veste do crente é a sua própria indumentária viva de sentimento
edificante; 6 não necessitamos de códigos preestabelecidos a legislarem sobre a nossa
fé, porque a convicção de imortalidade nasce pura e sublime no livro de cada um de
nós, expresso no coração com que amamos e vibramos dentro da vida.
7
Maior revelação não encontraremos por agora, além dessa bendita oportunidade de
serviço com Jesus, em sagrado conjunto de forças a se desdobrarem, uníssonas, à
procura da concretização da caridade e da harmonia na Terra.
8
Um lar sintonizado com o Cristo é uma orquestra divina. Contemplam-se os
instrumentos do bem, aí dentro, espontaneamente, compondo a música do Amor em
derredor de todos os peregrinos que marcham nos círculos de luta redentora em busca
da Espiritualidade Superior.
9
Não temos, desse modo, mensagem mais expressiva a recordar-vos senão a da
oportunidade santificante que repousa em vossas mãos.
10
Cada servidor é chamado à tarefa que lhe é própria. Cada trabalhador tem serviço
especializado na obra do mundo, qual ocorre à semente que se reveste de utilidade
diferente nas leiras da vida.
11
Cada missionário permanece no ministério de que é detentor.
12
Cada conjunto de servidores, trabalhadores e missionários guardam responsabilidades
diversas em nossos círculos.
13
Assim, saudamos, não só a fé renovadora que vos possui, mas também a diligência
que vos assinala os passos no desempenho das obrigações que vos cumprem
executar.
14
Crede que a riqueza do lar convertido em manancial do Evangelho é tesouro cobiçado
por milhões de operários que perderam o dia ou que esfacelaram as ferramentas que a
Bondade Divina lhes confiou.
15
Grande é, por isto, a vossa fortuna, à frente do erário eterno e maior será o vosso
galardão se souberdes marchar unidos, ao encontro dos objetivos que nos entrelaçam
os propósitos.
16
E essa jornada, meus amigos, no fundo, é constituída por serviço constante no bem.
Cada ângulo de dor do caminho, cada irmão desesperado, cada companheiro
ignorante e desiludido representam ocasiões luminosas de ação com o Senhor.
17
O discípulo distraído costuma perder-se em variadas e inúteis indagações com respeito
às provas, olvidando que as provas mais elevadas da Terra não são aquelas que a dor
traz habitualmente consigo, arrasando muitas vezes os corações desprevenidos e
invigilantes.
18
Cada momento de socorro aos semelhantes, no capítulo da bondade e da tolerância, é
realmente jubiloso minuto de prova benemérita, no qual poderemos desenvolver nossa
capacidade máxima de assimilação do Evangelho Salvador.
19
Em vista dessa verdade, este é o nosso roteiro com o Cristo — atividade com Jesus,
nos setores do esforço diário, a fim de que não precisemos escrever Espiritismo para
os outros, mas que o Espiritismo escreva em nós as suas lições imperecíveis de
iluminação, santificação e vitória.
20
Que o Divino Mestre nos abençoe a sublime aspiração de executar-lhe os desígnios
soberanos e misericordiosos, onde estivermos, são os votos do irmão e servo
reconhecido,
.Aires de Oliveira
Caravana da Fraternidade
Após o advento do Pacto Áureo em 1949, o idealista confrade Leopoldo Machado liderou
a chamada Caravana da Fraternidade, que tinha o objetivo de aproximar espíritas e
confraternizar sociedades espíritas no norte e nordeste do país. Os caravaneiros foram:
Leopoldo, Lins de Vasconcelos, Carlos Jordão da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio
e, posteriormente, Luiz Burgos Filho.
Toda a viagem, que durou cerca de 45 dias, entre novembro e dezembro de 1950, foi
descrita por Leopoldo no livro “A Caravana da Fraternidade”. O grupo dissolveu-se em
13 de dezembro de 1950, em Belo Horizonte, após ter sido recebido no dia anterior por
Chico Xavier em Pedro Leopoldo. Nesse encontro com Chico, duas mensagens
transmitidas pelos Benfeitores Espirituais falam do júbilo e do sucesso da missão
empreendida pelos dedicados confrades. A primeira foi psicografada por Emmanuel em
11 de dezembro de 1950.
Unificação
1
Meus amigos, muita paz.
2
Jesus é o centro divino da verdade e do amor, em torno do qual gravitamos e
progredimos.
3
Por se guardarem leais em torno d’Ele, unidos não só nas plataformas verbalísticas,
mas também na fraternidade real e no espírito de sacrifício, os cristãos da epopeia
evangélica inicial sofreram, lutaram e amaram, durante trezentos anos, esperando a
renovação do mundo.
4
Hoje, o espetáculo é diferente. Não mais tronos de tirania na governança dos povos, e
não mais os circos de lama e sangue, exigindo a renúncia extrema nas angústias da
sombra e da morte, mas prevalecem dentro de nós as forças escuras da perturbação e
da desordem, reclamando o exercício de toda a nossa capacidade de trabalho
restaurador do mundo de nós mesmos.
5
Há uma Terra diferente, aguardando-nos os corações e as mãos na restauração da
Vida. E o Espiritismo Cristão, pelos espiritistas, é a luz que deve resplandecer para os
tempos novos.
6
Daí, o imperativo de nossa unificação nos alicerces do serviço. Claro que a sintonia
absoluta de todas as interpretações doutrinárias, num foco único de visão e realização,
é impraticável e, por agora, impossível.
7
Cada criatura contempla a natureza e o horizonte do ângulo em que se coloca. O
semeador do vale não verá o mesmo jogo de luz no céu, suscetível de ser identificado
pelo observador do firmamento situado no monte.
8
Que os trabalhadores do Bem sejam honrados na posição digna em que se colocam. O
jovem é irmão do mais velho e aquele que ampara o alienado é companheiro do
missionário que escreve um texto consolador. 9 A Doutrina Redentora dos Espíritos é
um edifício divino na Terra, e o servidor que traça paisagem simbólica e sublime no
altar mais íntimo desse domicílio sagrado de fé não pode ironizar o cooperador que
empunha a picareta, nas bases da casa para sustentar-lhe a higiene, a segurança e a
beleza, muitas vezes com suor e lágrimas.
10
Cultuemos, acima de tudo, a solidariedade legítima. Nossa união, portanto, há de
começar na luz da boa vontade. Guardemos boa vontade uns para com os outros,
aprendendo e servindo com o Senhor, e felicitando aos companheiros que se
confiaram à tarefa sublime da confraternização, usando o próprio esforço.
11
Rogo ao Divino Mestre que nos fortaleça e ajude a todos nós.
.Emmanuel
Nessa mesma noite, Amaral Ornelas brindou os caravaneiros com este belo soneto. Na
introdução, palavras carinhosas: Aos queridos irmãos Leopoldo Machado, Francisco
Spinelli e Carlos Jordão, no quadragésima dia de nossa tarefa de unificação.
União
1
Unamo-nos, irmãos, enquanto fulge o dia,
Guiando o arado à frente em plena primavera,
Pela fraternidade, a fé nobre e sincera,
Edifica, entre nós, o Reino da Harmonia.
2
O Espiritismo é a luz que se eleva e anuncia
A Nova Humanidade ao sol da Nova Era,
No Evangelho do Amor, que salva e regenera,
Para a renovação da perpétua alegria.
3
De mãos dadas a Cristo, unidos venceremos,
Na excelsa direção dos Páramos Supremos,
Onde a Vida Imortal é fúlgido destino.
4
O Céu espera em nós, para a glória do mundo,
Um rebanho somente em trabalho fecundo,
Uma fé soberana e um só Pastor Divino.
.Amaral Ornelas
[1]Essa mensagem foi publicada originalmente em 21/02/1987 pela editora CEU e é a 17ª
lição do livro “Temas da Vida”
Tarefa de unificação
Esta mensagem foi recebida em 20/02/1951 pelo médium Francisco Cândido Xavier em
Pedro Leopoldo, na presença do Dr. Arthur de Vasconcelos Lopes.
Assinou-a o espírito José Lopes Netto que, quando encarnado, foi também médium
clarividente, sonambúlico, psicógrafo, curador e clariaudiente. Orador inspirado e
vibrante, já aos 19 anos de idade era chamado a presidir a Federação Espírita do
Paraná.
A comunicação transcrita de “O Mundo Espírita” de 17/03/1951 recebeu de Lins
Vasconcellos o seguinte comentário: “Peço especial atenção de todos os confrades,
suplico mesmo essa atenção, tanto dos que são pela Unificação quanto dos que a
combatem ou dela discordam para os termos dessa comunicação imparcialíssima.
“Subscrevo por isso, os seus termos, mesmo porque reconheço, e sempre reconheci a
necessidade da colaboração de quantos se interessam pela Unificação dos Espíritas do
Brasil e de suas Instituições para apressar o advento da fase em que vão atuar os
Grandes Obreiros diante dos quais não sou sequer digno de varrer o caminho.
“Aí fica o meu apelo, sem exclusão de quem quer que seja, para nos irmanarmos todos
na Obra do Bem, cancelando queixas e azedumes, para nos lembrarmos, todos, apenas
dos deveres espirituais decorrentes da nossa missão na Terra.”
Tarefa de Unificação
1
Meu amigo, paz e luz.
2
Continuemos na tarefa da unificação, embora os percalços com que somos defrontados.
3
Quem se propõe à realização de serviço desta natureza, naturalmente não pode invocar
a compreensão imediata. Antes de tudo, é indispensável harmonizar, no entendimento
da fraternidade legítima.
4
Vivificar é equilibrar.
5
Entretanto, ninguém ajusta e reajusta, adotando a reprovação sistemática por diretriz de
cada dia. O golpe, a censura, a escaramuça, a fermentação palavrosa não auxiliam na
obra que pretendemos fazer. 6 A nossa atividade, será, sobretudo, apostólica nos
fundamentos, de modo a atingirmos os centros mentais, o cerne das questões ou a
profundeza dos acontecimentos, único processo de renovação substancial
aconselhável no ministério a que consagramos presentemente a nossa atenção.
7
Não nos achamos à frente de uma edificação mecânica e, sim, de uma sementeira
reclamando paciência, dedicação e tempo. Sem que nos apercebamos da grandeza
espiritual do assunto, emprestando-lhe as nossas melhores energias, debalde
alinharemos observações e críticas que, no fundo, não passarão de vinagres e fel
sobre feridas que exigem amparo e bálsamo.
8
Avancemos, despertando os companheiros de ânimo firme e de bondade resoluta, que
saibam alçar os padrões evangélicos, acima dos caprichos individuais, em afirmações
vivas e seguras de boa vontade. Se o Cristo espera por nós, há milênios, por que
violentarmos o próximo, esperando de outros as demonstrações que de nós mesmos,
em muitas ocasiões, ainda não podemos dar?
9
Compreendamos, acima de tudo, e os enigmas serão solucionados favoravelmente.
Convençamo-nos de que somos os servidores e, conferindo a Jesus o título de
Supremo Orientador, aceitemos, para os nossos destinos, os propósitos e desígnios
d’Ele em qualquer circunstância, para que sejamos peças afinadas e seguras na
máquina da evolução. De outra forma, o nosso ideal pereceria no berço por ausência
de instrumentalidade nos grandes momentos da execução. 10 Espiritismo é a nossa
oportunidade de vida sob a direção do Mestre e Senhor. Façamos da Bendita Doutrina
o campo da nossa prática de fraternidade, serviço, sublimação, entendimento e,
inquestionavelmente, estaremos trilhando o caminho da própria Redenção.
Receba um forte abraço do companheiro, irmão e “velho” amigo.
1
Odulfo, meu filho.
Deus te abençoe.
2
Com o auxílio divino alcancei a praia segura da paz depois de minha longa viagem na
Terra.
3
O tempo arrancou do vaso do meu coração todas as raízes de apego às sombras do
mundo e, por isso, não sei como testemunhar meu reconhecimento a Jesus, que me
permitiu a permanência no corpo da carne, por quase um século de trabalhos
incessantes.
4
Nosso lar está se reconstituindo na vida espiritual.
5
Eurípedes, Eulice, Eulógio, Venefreda e seu pai, juntos de mim, em companhia de
outros familiares queridos, regozijam-se pelas bênçãos que temos recebido.
6
Escreve de minha parte, a Sacramento, dizendo a todos do agradecimento e do júbilo da
velha amiga que regressou.
7
A ternura com que me acompanharam no fim da luta, comoveu-me até as lágrimas.
Humilde Serva do Senhor, eu não merecia tantas manifestações de carinho e apreço.
8
Mas peço a Jesus e ao nosso Agostinho que recompense a meus filhos, a meus netos e
a todos os amigos inolvidáveis daquele abençoado recanto de fraternidade pela
dedicação com que me assistiram.
9
Agora, em plena vida espiritual e ainda vacilante, como a ave que se demora por muitos
anos dentro do ninho, rogo a vós que façais do Espiritismo Caridade, a bandeira de luz
para todos os instantes da vida na Terra.
10
Tudo passa, meu filho. O bem, contudo, é eterno e se incorpora à nossa alma para que,
por amor à Verdade, estimaria poder voltar e servir com mais fervor e mais intensidade
a nossa gloriosa doutrina.
11
Dize a todos os nossos que me encontro feliz, porque a minha saudade é esperança e
porque a minha dor, agora, é uma certeza bendita, de que todos nos reuniremos, de
novo, um dia, no Grande Lar, sem separação, sem amarguras e sem morte.
12
Agradeço as preces e os pensamentos de amor com que me amparaste, e abraçando-
te com todo o meu reconhecimento e com todo o meu carinho de mãe, rogo a Deus
que nos proteja e nos abençoe.
.Meca
FONTES: Eurípedes, o Homem e a Missão, Corina Novelino; Grandes Vultos do
Espiritismo, Paulo Alves Godói; Revista A Centelha, maio e junho de 1952; jornal A
Semana, de 1° de maio de 1929.
Resposta de Emmanuel
1
Meus amigos, muita paz.
2
Acreditamos que a nossa função, em nos comunicarmos convosco, será sempre a de
cooperar, num convênio ativo de boa vontade, com os nossos irmãos encarnados, em
favor da vitória do Bem. 3 Nesse sentido, cabe-nos louvar todas as iniciativas que
guardam a felicidade coletiva por meta essencial, uma vez que, colaborando, segundo
cremos, na melhoria da unidade individual, em nossa tarefa de esclarecimento
evangélico, devemos contribuir no engrandecimento do Todo.
4
Assim sendo, embora não seja lícito a nós outros, os Espíritos que vos precederam na
grande viagem da verdade, a interferência indébita em vossas realizações na ordem
política, em razão do organismo público de administração exigir a livre manifestação do
homem de passagem na Crosta da Terra, admitimos que aos espiritistas cristãos cabe
o direito de participação nos serviços direcionais da vida pública, desde que lhes
competem à frente da Doutrina, esclarecendo, pois, que só nos resta exaltar o trabalho
do Bem infinito, nos variados setores em que se manifesta, com os nossos sinceros
votos pelo triunfo vivo dos nossos companheiros que atualmente se consagram à
plantação do Evangelho nos arraiais da política nacional.
5
Atentos aos compromissos de cristianização do homem, a partir de nossa própria
renovação íntima, sob os padrões de Jesus, pedimos a bênção do Altíssimo para que
nós todos, acima de tudo, POSSAMOS BUSCAR O NOSSO DEVER BEM
CUMPRIDO.
.Emmanuel
Mensagem de Emmanuel
1
Minha irmã, muita paz.
2
Trabalhar pela formação evangélica da nova mentalidade na Terra, semeando na mente
infantil os grandes princípios que regerão o futuro, é tarefa das mais dignas e das mais
santificantes.
3
Ser mãe no campo biológico da humanidade é exercer nobre mandato, mas ser mãe de
filhinhos alheios é esposar apostolado sublime.
4
Amparemos a plantação de agora, a fim de que a colheita do Bem e do Amor seja farta
depois.
5
Não lhe faltará, em companhia de nossas irmãs que consigo assumem as
responsabilidades do empreendimento, os suprimentos de energias e recursos da
Providência Divina.
6
Jesus acompanhar-nos-á a edificação do lar em que as crianças sem arrimo
encontrarão conosco o teto, o agasalho, o pão, a educação, a assistência e o carinho.
E que possamos, todos nós, seguir os passos do Mestre, na mesma renunciação em
seu mistério de amor infinito, são os votos do irmão e servo humilde.
.Emmanuel
Relações interplanetárias
1
Meus amigos,
O Espiritismo — renascença do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo — é uma
Doutrina Racional, sem quistos dogmáticos que lhe deformem o corpo de revelações
simples e puras, brilhando por luminoso caminho de aperfeiçoamento das almas e
assimilando, sem resistência, todas as conquistas filosóficas e científicas da
Humanidade.
2
No campo de nossos postulados, reconhecemos a Terra como singelo degrau evolutivo
no Sistema Solar, em que nos integramos, nosso precioso domicílio cósmico que, por
sua vez, empalidece, quase insignificante, quando confrontado com os largos domínios
do Universo, além da Galáxia, em que a Vida Infinita nos situa o aprendizado.
3
Não ignoramos, assim, que outros mundos enxameiam no espaço, revelando a
Sabedoria do Criador, e que outras Humanidades evoluem no rumo da perfeição, qual
acontece conosco, através do trabalho e da experiência.
4
Semelhantes conclusões, a nosso ver, todavia, agravam as nossas responsabilidades
no serviço que devemos ao Mundo, porque qualquer conquista da Terra no campo de
relações interplanetárias não modificaria o quadro inquietante de nossas necessidades
morais, junto ao qual compete o incessante esforço da educação, para que se
intensifiquem e aperfeiçoem as relações espirituais entre a plenitude de Cristo e a
carência dos Homens.
5
Cabe-nos, pois, tão somente, por agora, a vós outros e a nós, trabalhadores encarnados
e desencarnados, o árduo ministério de nossa própria reforma íntima com o bem
infatigável a nossos semelhantes, nos padrões de Jesus, a fim de que o reino do Amor
se estabeleça na Terra, habilitando-nos à comunhão com os Planos Superiores.
6
Desse modo, segundo cremos, qualquer manifestação próxima ou remota dos
habitantes de outros planetas, em nosso Globo, não pode alterar o nosso programa de
trabalho, uma vez que a nossa missão é estritamente espiritual, não obstante abranger,
como é justo, qualquer estudo digno em torno de problemas que nos firam a marcha.
7
Somos operários do espírito, colaborando na edificação do mundo novo, a começar pelo
aprimoramento de nós mesmos, sob a inspiração do Cristo, nosso Divino Mestre. Essa
é a nossa glória maior.
8
Não seria, pois, razoável, desertar do nosso setor de ação edificante para substituir
astrônomos e estadistas na esfera de observação e de luta que se lhes descerra à
inteligência na ordem material.
9
Estejamos firmes na obra silenciosa e redentora que nos cabe realizar sob a égide do
Senhor, porque, de outro modo, estaríamos menosprezando os “talentos da
oportunidade” de nossa cooperação no Evangelho, convertendo o santuário de nossos
princípios em mais de um dos pontos conturbados de conflito humano, dentro dos
quais a indagação muitas vezes desorientada e insensata, reclama a luz da verdade
sem o concurso do tempo através da perturbação e do estardalhaço sem razão de ser.
.Emmanuel
(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier na reunião pública da noite de
26 de novembro de 1954, em Pedro Leopoldo/MG)
Essa mensagem foi publicada originalmente em 1990 pela editora IDEAL e é a 10ª lição
do livro: ”Perante Jesus”.
Convicção do Espírito
Romeu de Campos Vergal (02/5/1903 - 23/7/1980) foi um dos espíritas mais atuantes no
Estado de São Paulo, tendo sido Deputado Estadual (1935-1937) e Federal em várias
Legislaturas, de 1946 a 1970. Político e espírita intimorato, ingressou bastante jovem no
Espiritismo, participando de vários movimentos de propaganda da Doutrina,
principalmente como privilegiado orador.
Em data exata que não conseguimos precisar, provavelmente entre 1950 e 1955,
Campos Vergal, acompanhado de outros confrades, esteve em Pedro Leopoldo visitando
Chico Xavier e recebeu esta mensagem, certamente ligada a seu trabalho de legislador,
no qual deveria estar empenhado em alguma causa favorável à condição das mulheres.
A sabedoria contida nas palavras de Emmanuel convida-nos a meditar o assunto.
1
Meus amigos, muita paz.
2
Espiritismo, em verdade, não é um sistema de promessas para a beatitude celestial. É
realização do Bem, do Céu na Terra, serviço libertador de consciências e corações
para hoje, aqui e agora. 3 Congregados na mesma edificação, sentimo-nos felizes
identificando-lhes o sadio propósito de concretizar os ideais divinos, no círculo das
experiências humanas. 4 Nossa fé, em tempo algum, deve circunscrever-se ao incenso
adorativo, porquanto, em substância, é luta digna por um mundo melhor e por criaturas
mais felizes, estendendo-se de nossas convicções mais íntimas aos nossos atos mais
insignificantes. 5 E por relacionarmos semelhantes imperativos dos princípios
redentores que nos irmanam, cabe-nos o prazer de insistir com o nosso irmão Romeu
Campos Vergal, que partilha conosco esta meta de espiritualidade no sentido de
preservar em sua expressiva tarefa junto da mente feminina, à luz do Espiritismo
santificante.
6
Permanecemos à frente de um mundo necessitado e o campo de serviço requisita
compreensão e atividade sem tréguas em benefício da paz. A política internacional não
modificou seus quadros de luta, e o espírito de hegemonia domina, infelizmente, os que
governam, quase tanto quanto há dois mil anos, em que a sociedade humana se dividia
entre os dominadores possíveis de hoje e as vítimas prováveis de amanhã, nos
incessantes espetáculos de ruína e de sangue.
7
Não obstante os entendimentos diplomáticos e, apesar da mensagem respeitável dos
pensadores dignos, a dolorosa realidade não pode ocultar-se aos mais avisados de
raciocínio. De armas ensarilhadas, tão somente, legiões compactas organizam-se
vagarosamente para novos embates. Como cogitar uma paz duradoura sem as bases
da concórdia espiritual? 8 Em que alicerces pavimentar os programas da ordem se a
revolta domina, se a insegurança prevalece, se a desesperação campeia em todos os
climas? Impossível arregimentar elementos para o edifício da cooperação mundial,
embora nosso dever é de respeito a todas as organizações veneráveis que objetivem a
união da família humana, sem a construção da paz espiritual, fruto espontâneo do
entendimento superior do homem no campo da vida.
9
Defrontados por tremenda crise de caráter em quase todas as regiões do globo, urge
renovarmos o roteiro da fé libertadora e esperança que nos reanime a consciência e
fortaleça o coração para consentimentos indispensáveis. Não julguem que os
desencarnados, de cuja sorte partilhamos, permaneçam a distância dos enigmas que
ensandecem a mentalidade do mundo. A morte não nos exonera da responsabilidade
perante a nossa realização, que é o Orbe Terrestre. 10 Dividimos o serviço restaurador
e velamos como todos, na marcha de reajustamento compartilhando alegria e dores,
expectativas e desenganos. Leis eternas traçam-nos obrigações de reciprocidade nos
círculos evolutivos em que nos movimentamos e, ainda que o poder humano nos
desintegre a morada material que hoje lhes obriga a experiência corpórea, nem por
isso estaríamos libertos do dever que nos irmana uns aos outros, em torno da ordem
divina.
11
Cooperamos, assim, na extensão do Espiritismo salvador, reconstruindo o santuário da
crença que os dogmas destruíram. Combatamos, em nós mesmos, à sombra do
exclusivismo, para que a universalidade nos enriqueça os sentimentos de mais luz para
a vida eterna.
12
E, nesse sentido, meu amigo, socorrer a mulher, conferindo-lhe os poderes dignos de
uma destinação, na qualidade de doadora da vida, é esforço sagrado que as forças
divinas abençoarão em sua estrada de missionário consagrado ao supremo Bem.
13
O pensamento religioso é o curso da introdução à espiritualidade sublime. Em suas
classes numerosas, é possível organizar proveitosas portas reveladoras da vida, a
filosofia coordenar-nos-á os esforços, sincronizando-os quando é necessário, mas a
religião traçar-nos-á os caminhos verticais de acesso aos suprimentos divinos.
Lutemos, sim, contra as genuflexões, trabalho digno pelo planeta redimido, mas
conduzamos o coração feminino aos mananciais dos recursos celestes, para que
nossa compreensão facilite a humanidade.
14
O mundo sempre esteve repleto de guerreiros dominados pela sede de hegemonia e
destruição dos mais fracos; entretanto, semelhantes caracteres, futuros geradores de
violência, não surgiriam sem mães belicosas afastadas provisoriamente do ministério
que lhes assinala os passos na Terra. 15 Os frutos correspondem à natureza das
árvores. As águas trazem resquícios indiscutíveis das fontes em que nasceram.
Esclarecer a alma feminil, erguendo-a ao altar do entendimento superior que lhe
compete, é renovar a seiva da vida humana. Ajudemos, em vista disso, a mulher, para
que a semeadoura de flores do amor não se transforme periodicamente em colheita de
lágrimas. As jardineiras da experiência humana agradecer-lhe-ão o serviço nobre, o
concurso desinteressado e nobilitante.
16
E não suponha que as organizações do Mais Alto permaneçam distraídas de seu
programa bendito de fraternidade e de luz. Unidos ao seu esforço incansável,
abnegados companheiros da Esfera superior lhe acompanham a ação e regozijam-se
com a coragem e com a fé viva impressas em seu mandato espiritual.
17
Prossigamos cooperando na doutrina que console e levante, que conforte e movimente
a vida, que abrace o sofredor e lhe indique serviço a fazer, que aponte o Céu,
mostrando, em seguida, as necessidades da Terra para solucioná-las com amor e
dedicação. 18 Não fomos chamados pelo Supremo Poder para a crença inoperante e
exclusivista. À frente de nossos olhos, todos os quadros humanos, ainda mesmo os
mais deploráveis, constituem apelos ao serviço santificador. Em todos os caminhos há
levitas interessados em convenções e companheiros que choram relegados à
dificuldade ou ao abandono como o desventurado da parábola. (Lc) Os bons
samaritanos, porém, são ainda raros e não haverá trabalho verdadeiramente
salvacionista sem eles.
19
Que a sabedoria divina nos conceda a graça de incorporarmo-nos à fileira reduzida, e
que nossas mãos não descansem no labor sublime do Bem. E que a sua palavra e a
sua ação, o seu ideal e a sua fé permaneçam constantemente, como vem acontecendo
a serviço da Terra melhor, é o desejo do amigo e servo humilde.
.Emmanuel
2
Corações angustiados,
Lembram apelos mudos,
Frementes, esperançados,
Por notícias de outros mundos.
3
Porém, os desencarnados,
Com a palavra que aprimora,
Vêm mostrar aos seus amados
O limiar de uma nova aurora.
4
Saudade sem gotas rolando,
São mananciais de luz
Em esperanças mostrando
Que o caminho é Jesus!
.Maria
Emocionada ao ler com mais atenção, no hotel, o diálogo que se estabelecera entre mãe
e filha nos dois mundos por meio da poesia, Neusa retrucou:
2
Busca a dor em toda a parte,
Acalenta os pequeninos
E da tua mesa reparte
O pão com os peregrinos.
.Maria