ANAIS - II Semana de História
ANAIS - II Semana de História
ANAIS - II Semana de História
ANAIS
26 a 28 de abril de 2016
Teixeira de Freitas Ba
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
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REITORIA
JOS BITES DE CARVALHO
VICE-REITORIA
CARLA LIANE NASCIMENTO DOS SANTOS
COORDENAO DO NUPEX
ELZICLEIA TAVARES DOS SANTOS
COMISSO ORGNIZADORA
DOCENTES
TCNICO ADMINISTRATIVO
Frederico Loyola Viana
DISCENTES
Fabola Gang
Helena Aparecida de Sousa Vieira
Jasmim Lima dos Santos
Sarah Quimba Pinheiro
Jamile Stephane dos Santos Souza
Jaqueline Nunes
Jssica Silva
Kevelin Souza Santos
Mirla Kleille Oliveira Correia
4
COMISSO CIENTFICA
Ariosvaldo Alves Aomes
Benedito Souza Santos
Ediane Lopes de Santana
Fernando Csar Coelho da Costa
Guilhermina Elisa Bessa da Costa
Halysson Gomes da Fonseca
Joelson Pereira de Sousa
Jonathan de Oliveira Molar
Liana Gonalves Pontes Sodr
Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes
Mrcio Soares Santos
Maria Heovanda Batista
Priscila Santos da Glria
Uerisleda Alencar Moreira
Yolanda Aparecida Castro
Cristiane Gomes
Cristhiane Ferreguett
Organizao
Uerisleda Alencar Moreira
Frederico Loyola Viana
Marcio Soares Santos
Diagramao
Jasmim Lima dos Santos
Marca do Evento
II SEMANA DE HISTRIA
SUMRIO
RESUMOS
ARTIGOS
JANEIRO (1900-1930)
Patrcia Alves Silva
OS REGISTROS ECLESIAIS PARA O ESTUDO DO BATISMO DE
CRIANAS INDGENAS EM PORTO SEGURO (1837-1845)
Uerisleda Alencar Moreira
RESUMOS
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SIMPSIO TEMTICO 01
HISTRIA DA BAHIA COLONIAL: ECONOMIA, POLTICA E SOCIEDADE
Proponente: Poliana Cordeiro de Farias (IFBaiano)
Coordenao: Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes
As Vilas do litoral Sul foram durante muito tempo alijadas da historiografia baiana, para estas
restaram o estigma do atraso, da decadncia econmica, do pouco povoamento e da
desordem, assim como, da incivilidade dos seus povos gentios, tais afirmativas so
evidenciadas por Stuart Schwartz (1985), Ktia Mattoso (1992) e Bert Barickman (2003) que
de maneira rasa cita as Comarcas do Sul em seus trabalhos, que so referncia do estudo da
Bahia de modo geral e da regio aqui enfocada de modo particular. No entanto uma onda de
novos trabalhos que buscam discutir a hinterlndia das atuais regies Sul e Extremo Sul da
Bahia tem se proliferado no meio historiogrfico, sobretudo para romper com esse estigma,
que exclua a regio do contexto nacional e provincial do final do sculo XVII at finais do
sculo XIX, David Barbuda Ferreira (2011) e Francisco Cancela (2012) so expoentes nesse
novo estudo, que passa a caracterizar a regio como uma zona tampo entre a Provncia de
Minas e da Bahia. Somando-se a tais pesquisas, esta comunicao objetiva destacar o grande
interesse demonstrado pela presidncia da Provncia em estabelecer uma comunicao
eficiente entre as Comarcas do Sul e a capital da Provncia mas, sobretudo com a Provncia
vizinha de Minas Gerais. O projeto visava fazer dos rios Jequitinhonha e Pardo rotas fluviais
possveis e que inserisse de alguma forma as supraditas Vilas nas rotas comerciais. Tais rotas
buscavam escoar a produo das Vilas, e demonstra uma atividade das destas vilas. Desse
modo, fazendo uso dos relatrios da presidncia da Provncia da Bahia da primeira metade do
sculo XIX, tentaremos traar as estratgias utilizadas pelos Presidentes da Provncia para
evidenciar a grande importncia de firmar ncleos de povoamento e atrelado a isso uma rede
comercial que pudesse inserir a regio no contexto econmico e habitacional da Provncia.
Palavras-chave: Comarcas do Sul, Comercio, Provncia da Bahia.
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Esta comunicao discorrer sobre uma etapa das expedies que percorreram a Capitania dos
Ilhus durante a primeira metade do sculo XVIII. Formada por inmeros agentes coloniais,
estas jornadas devassaram o interior dessa regio em busca de ndios para serem escravizados,
metais preciosos e quilombos para serem destrudos. Alm desses objetivos, as entradas
tinham como principal responsabilidade fazer com que os contra-ataques indgenas no
desviassem a sobredita donataria do seu objetivo principal, a produo de viveres para
Salvador. Diante dessa situao, a Coroa vai investir de poder as autoridades locais,
premiando com cargos e mercs aqueles que realizassem a maior quantidade de conquista,
seja territorial ou de mo de obra. Um das autoridades responsvel pela expanso da fronteira
da supracitada capitania foi o Capito-mor Antnio Veloso da Silva, o qual alm de possuir o
ttulo nobilirquico de capito conseguiu uma lgua de terra demarcada e ribeiros aurferos
para explorar no rio de Contas. Imersos nesse contexto estavam os indgenas, os quais no s
foram vtimas pacificas da explorao portuguesa, mas souberam incorporar os cdigos de
funcionamento do sistema colonial, agindo, quando tinham espao, em funo dos seus
interesses, ora combatendo grupos inimigos ora denunciando a sua localizao. Para dar
suporte a essa pesquisa foram consultadas fontes do fundo Avulsos da Bahia da Coleo
Resgate do Arquivo Histrico Ultramarino, os quais detm boa parte da documentao que
tramitava pelo Conselho Ultramarino, incluindo processos, representaes, pareceres e outros
documentos de cunho jurdico. Nesses fundos se buscou todo documento que diz respeito as
expedies sertanistas que percorreram as terras do Camamu, a busca nos CDs dos
documentos avulsos se orientou pelos catlogos publicados nos Anais da Biblioteca Nacional
(vols. 32, 36 e 37).
SIMPSIO TEMTICO 02
Esse artigo tem como objetivo demostrar o descaso sistemtico das autoridades em relao ao
cumprimento das leis antiescravistas antes da abolio em 1888 e como foram fundamentais nesse
processo. Este artigo resultado de uma produo realizada no curso de Licenciatura em Histria na
UNEB (Universidade do Estado da Bahia) - Campus XIV. um produto final da disciplina Brasil
Imprio que foi ministrada pela Professora/Doutora Iris Verena Santos de Oliveira. Abordaremos as
trajetrias das leis abolicionistas: de 07 de novembro de 1831 Proibio de trfico de escravos
(Todos os escravos, que entrarem no territrio ou portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres); 04 de
setembro de 1850 Eusbio de Queiroz (Lei de extino do trfico negreiro no Brasil); 28 de
setembro de 1871 Lei do ventre livre (Declara de condio livre os filhos de mulher escrava que
nascerem desde a data desta lei), dando nfase conivncia do Estado com o contrabando de milhares
de africanos diante das leis. No decorrer desse artigo vamos enfatizar como foi precria a experincia
da liberdade para os negros no Brasil oitocentista. Tambm apontaremos as instabilidades polticas,
jurdicas e sociais em que os negros viviam e contra a qual lutavam, buscando entender como se
arquitetou a emaranhada engenharia institucional para silenciar o contrabando ilegal de africanos no
Brasil Imprio. Outro aspecto relevante que iremos discutir so as relaes entre escravos e senhores,
escravos e libertos, escravos e escravos e como essas relaes scias so retratadas nos contos de
Machado de Assis. Para produo do mesmo dialogamos com os autores/pesquisadores do tema:
Sidney Chalhoub, Jos Murilo de Carvalho e Jaime Rodrigues, onde os mesmos em suas obras sobre
escravido deixam transparecer que a abolio da escravatura no Brasil foi um movimento complexo e
de muitas incertezas. Reconhecendo a precria experincia da liberdade dos negros no sculo XIX,
enfatizando que essa estava a merc de uma srie de interesses da elite brasileira.
Palavras- chave: Leis antiescravistas, Abolio, Conivncia do Estado, Relaes de poder, Liberdade.
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Esta comunicao busca apresentar elementos que objetiva discutir como se efetivou a
participao popular no processo de emancipao politica do Brasil na ento regio Norte
(Maranho, Pernambuco e Bahia). Compreender a independncia do Brasil tambm analisar
todo um conjunto de acontecimentos que cercava o imprio brasileiro (ou o fim dele) a partir
de meados do sculo XVIII, pelos quais podemos destacar sendo provenientes de duas ordens,
fatores externos como: Revoluo Francesa, os ideais iluministas e o liberalismo poltico e
econmico j difuso em quase toda a Europa, alm dos de carter interno como a
inconfidncia mineira e a conjurao baiana, embora uma e outra representassem interesses
mais locais podem ser compreendidas como os fatores iniciais aos movimentos revoltosos de
com feies separatista que buscava o fim da relao mantida entre Portugal e Brasil,
destacando a Participao do partido Negro na independncia que ocorreu no 02 de Julho
de 1823 na Bahia. Destacando ainda acontecimentos que favoreceram a intensificao de
movimentos insurrecionais e de carter separatistas e a possvel abertura poltica as camadas
mais populares da sociedade (pretos, pardos, livres ou escravos) vislumbrada por estes. Este
Estudo de grande relevncia para a comunidade acadmica em geral e para todos os
cidados que constituem a dimenso pblica da vida, na medida em que possibilita entender
de que forma as camadas populares participaram efetivamente no processo de emancipao
poltica do Brasil. A pesquisa resultado de uma reviso bibliogrfica que se pautou, entre
outros estudiosos com, Joo Jos Reis (1989); Luiz Geraldo Santos da Silva (2006); Matthias
Rohrig Assuno (2005); Hendrik Kraay (2006) que apontam como essa participao se
desenvolveu nestas regies, possibilitando a compreenso das diferentes intenes que
permeavam o imaginrio destes grupos envolvidos, uma vez que eles compunham um grupo
heterogneo, na dcada de 1820.
Palavras-chave: Participao Popular, independncia, Brasil, sc. XIX.
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RESUMO: Considerando que durante muito tempo a histria do Brasil foi contada sobre a
tica das elites excluindo os demais sujeitos e somente a partir do sculo XX, com novas
correntes histricas, como a Histria Nova, surge outro olhar, outras possibilidades de estudo,
dando nfase a sujeitos como os negros, as mulheres e os povos indgenas, estes ltimos
apresentados na histria contada pelas elites, como sendo preguiosos, submissos, que foram
praticamente extintos. Esse outro olhar consente tambm o estudo regional, permitindo o
estudo do que est prximo, e no somente dos grandes centros. Desta forma este artigo tem
como objetivo apresentar as polticas indigenistas do sculo XIX, relatando como os ndios do
sul da Bahia mais especificamente os da Comarca de Caravelas resistiam elas. A
metodologia usada para o desenvolvimento deste artigo foi reviso bibliogrfica das obras de
MOISS (1992), CUNHA (1992), ALMEIDA (2010), FERREIRA (2011) e CANCELA
(2012), que exibem quais foram as polticas voltadas para a questo indgena nesse perodo e
apresentam os ndios enquanto sujeitos histricos, que encontraram diferentes formas de
sobreviver socialmente e culturalmente, pois as polticas do sculo XIX tinham como objetivo
a assimilao dos povos indgenas, extinguindo a certo modo suas comunidades e suas
culturas, em nome do desenvolvimento e progresso da nao, pois os povos indgenas neste
sculo estavam sendo considerados o empecilho, os selvagens, os no trabalhadores, e donos
de terras, terras que os colonos queria provar serem devolutas. Dentre as polticas estavam o
Regulamento das Misses - Decreto n 426 de 24 de Julho 1845 e a Lei n 601 de 18 de
Setembro de 1850, conhecida com a Lei de Terras.
Palavras-chave: Polticas indigenistas, Sul da Bahia, Resistncia.
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SIMPSIO TEMTICO 03
Este trabalho tem por objetivo compreender o conflito cultural, principalmente no que tange questo
da bebida alcolica, entre o povo indgena semi-nmade Maxakali do Vale do Mucuri, do estado de
Minas Gerais e a cultura do homem no-indgena. O problema de pesquisa centra-se no
questionamento sobre os modos de enfrentamento e resistncia desse povo, que foi e continua sendo
silenciado pelos erros de anlise historiogrficas. O objeto de pesquisa consiste na anlise dos dados
apurados por Rachel de Las Casas na tese Sade Maxakali, recursos de cura e gnero: anlise de uma
situao social, defendida no Programa de Ps-Graduao da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro em 2007. Para tanto, utilizamos como fontes tericas o trabalho de anlise social desse grupo
produzido por Rachel de Las Casas e as reflexes sobre povos primitivos de Pierre Clastres. Como
operadores de anlise, utilizamos os conceitos de rizoma, Estado e mquina de guerra, de Gilles
Deleuze, e as proposies de Michel de Certeau sobre as lgicas dos fazeres cotidianos. Adotamos
como indcios para a pesquisa, na etapa exploratria, material jornalstico publicado por sites
noticiosos regionais sobre conflitos entre o povo Maxacali e outros grupos moradores dos municpios
do extremo sul baiano em espao urbano e dados sobre a coletividade Maxakali e a situao social de
Rachel de Las Casas. Esse corpus terico tem como princpio recusar o papel de vtimas sociais que o
uso de bebidas alcolicas normalmente registra e impe a esse grupo: O conceito de mquina de
guerra primitiva admite reconhecer estratgias e tticas camufladas por impreciso do preconceito que
os no indgenas carregam e que pretendemos subverter, aceitando que esse grupo atua como sujeitos
de sentidos, munidos de recursos para confrontar as crescentes limitaes territoriais de seu
nomadismo.
O objetivo do texto apresentar como o deputado federal - entre o perodo de 1986 e 2002 e
o senador entre os anos de 2002 e 2006 Paulo Paim construiu uma carreira poltica tendo
como um dos focos o salrio mnimo, considerado digno e necessrio para o trabalhador. Para
isso, a fonte principal so os discursos disponibilizados nos sites da Cmara dos Deputados e
do Senado Federal. As principais referncias tericas que possibilitaram o pensar
historiogrfico da situao do parlamentar foram os trabalhos de Ana Lcia Aguiar Melo
(1998), Paulo Roberto Figueira Leal (2005), e Snia Ranincheski, Nathlia Cordeiro (2008)
que tm como foco os deputados federais. Existe uma realidade em que poucos estudiosos se
dispuseram a examinar o partido sob a tica dos seus parlamentares, havendo lacunas sobre a
atuao congressual e a relao entre a estrutura partidria e o mandato parlamentar. Na
perspectiva metodolgica, o uso da anlise de discurso feito baseado em Pocock (2003).
Para o autor, importante partir da variedade das linguagens polticas, dos atores e dos
contextos histricos, lingsticos e polticos, em que se percebem construes e valores
sociais reconhecidos na performance discursiva. Por isso, o discurso poltico prtico e pode
causar abalos, constituindo-se num instante privilegiado para a ao poltica, em meio aos
fatos e aos acontecimentos, e certamente devemos estudar as transformaes no discurso na
medida em que elas geram transformaes na prtica, mas h sempre um intervalo no tempo,
suficiente para gerar heterogeneidade no efeito (POCOCK, 2003, p. 82). Ainda como
contribuio metodologia, Albuquerque Jnior (2009) afirma que a utilizao dos discursos
como objeto de pesquisa requer a necessidade de serem mapeados em regularidades, em
sries, em saberes, em temas e em conceitos, para localizar a construo de imagens de si e
dos outros, lutas polticas e batalhas discursivas. Os discursos so considerados como
elementos identitrios, que proferidos na atividade partidria, se consolidam como fonte de
inspirao, paixo e conscincia para a consolidao de uma carreira e de uma identidade
poltica. Os discursos do parlamentar Paulo Paim elucidam que: enquanto deputado federal
(1986-2002) e senador (2002-2006) o petista consolidou sua carreira poltica por meio da
bandeira do salrio mnimo: propondo projetos de lei, criticando as propostas dos governos
federais para protelar e minimizar a importncia do tema, participando de comisses de
estudos e definindo critrios polticos para a consolidao do tema do salrio mnimo como
sua especificidade e sua singularidade como ator poltico do PT e como questo fundamental
para os trabalhadores e a sociedade brasileira.
Palavras-chave: carreira poltica, discurso, Partido dos Trabalhadores, Paulo Paim e salrio
mnimo.
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Este estudo tem como objetivo analisar em que medida o desenvolvimento da regio do
Extremo Sul da Bahia, e da cidade de Teixeira de Freitas em especial, contribuiu para o
enfraquecimento de foras e prticas polticas tradicionais. O recorte temporal que embasa
este trabalho vai do ano em que ocorreu a primeira eleio na cidade de Teixeira de Freitas,
1985, ao ano em que houve a ltima eleio municipal, 2012. Para alcanar o objetivo
exposto realizou-se uma reviso bibliogrfica de como parte da historiografia existente analisa
o fenmeno do coronelismo, em autores como Vitor Nunes Leal (2012), Eul Soo Pang (1979)
e Jos Murilo de Carvalho (1997, 2001), discutindo conceitos como coronelismo,
mandonismo, filhotismo e clientelismo. So destacados aspectos da organizao
poltica e administrativa na histria brasileira que contribuem para compreenso da origem e
evoluo do fenmeno. Discute-se como a imagem do Nordeste est associada ao
coronelismo, e na histria de Teixeira de Freitas considera elementos que nos possibilitam
perceber a permanncia de traos do coronelismo em tempos recentes, atravs de um estudo
que teve por base a anlise de documentos oficiais, o uso de fonte jornalstica e entrevistas
orais. Um olhar sobre o desenvolvimento desta regio indica uma mudana na forma de ver a
poltica, e, paradoxalmente, a existncia de prticas tradicionais no compatveis com a
dinmica de uma sociedade democrtica. Conforme a acelerao no ritmo do
desenvolvimento regional comeou a se processar, a pesquisa aponta que h indicativos de
mudanas sobre a permissividade das pessoas em relao a estas prticas, no mais vistas
como adequadas sociedade atual.
A aposentadoria foi uma das grandes conquistas dos trabalhadores. Porm, este benefcio foi
alcanado em momentos diferentes no Brasil, a partir de 1923, para algumas categorias de
trabalhadores urbanos e, apenas em 1971, para os trabalhadores rurais. O objetivo principal
deste trabalho analisar os impactos trazidos pelas obtenes de direitos previdencirios e
assistenciais para os idosos da zona rural do municpio de Itaberaba, Bahia, bem como as
estratgias desenvolvidas por estes trabalhadores no intuito de conquistar estes benefcios, no
perodo de 1971 a 1988. Por meio da anlise de um dos peridicos locais, O Paraguau, foi
possvel notar que aps a criao do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Itaberaba,
em 1975, atenuou-se os conflitos entre os patres e empregados, principalmente, no que
concerne a aposentadoria e ao atendimento mdico. Antes desta data ambas as classes eram
representadas pelo Sindicato Rural de Itaberaba, tambm chamado de Sindicato Patronal.
Atravs de algumas entrevistas, foi possvel notar, tambm, que existia, no mbito local, uma
significativa concepo de direito sobre aqueles benefcios, mesmo entre os trabalhadores que
no tiveram contato direto e frequente com o STR e, foi atravs da posse deste conhecimento
que eles, utilizaram de vrios meios para alcan-los. Nota-se nisso, um significativo grau de
conscincia de classe. A luz das concepes de classe de E. P. Thompson, mostrarei que os
trabalhadores rurais se solidarizavam uns com os outros e percebiam, que esta solidariedade
era necessria para a resistncia e luta contra os fazendeiros da regio. Este ato era, tambm,
uma questo de sobrevivncia. O processo de aposentao era marcado por meios, muitas
vezes, diversos do caminho normal atravs da comprovao de idade e do exerccio de
atividade rural. Apontarei, indcios que nem todos seguiram este percurso. Alguns se
aproximaram dos grandes proprietrios de terra, polticos e at mesmo os pequenos
proprietrios de terra para conquistar os benefcios previdencirios e assistenciais.
Palavras-chave: Aposentadoria rural, Sindicalismo, Classe social.
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O artigo tem como objetivo identificar espaos noturnos de sociabilidade na cidade do Rio de
Janeiro (1900-1930), percebendo como o surgimento destes locais tambm est relacionado
ao processo de modernizao do espao citadino, e as condies sociais da populao carioca.
Esses meios de entretenimento vo surgindo, alguns desaparecendo e outros se desenvolvendo
at alcanar o auge e promover novas funes onde os desocupados comeam a atuar.
Juntamente com esses lugares a msica e seus diversos estilos vai dando cores e
performances, contribuindo para essas mudanas. Os espaos noturnos de sociabilidade da
cidade do Rio de Janeiro se constituram reflexos da situao vigente do perodo de transio
do sculo XIX para o XX, em que as inspiraes europeias adentravam no Brasil gerando
aes como o processo de modernizao da cidade, mudanas nas estruturas fsicas, mas
tambm nas relaes dos indivduos, essas ocorreram, inclusive, nos ambientes construdos
pelos negros aos cuidados das tias e os cabars. A cidade do Rio de Janeiro no perodo de
1900-1930 vai se mostrando um lugar heterogneo e de complexa habitao, pois ao depender
da sua condio social as pessoas eram simplesmente despejadas de suas casas e obrigadas a
procurar outro lugar, o que no era diferente no que se diz respeito s condies de trabalho,
em que por vezes eram sujeitados a situaes precrias, pouco ganhavam, mal conseguiam
sustento. Uma vez identificado estes espaos o artigo procurou analisar a relao de pessoas
que ali viviam, atravs das leituras realizadas a partir de autores como Sidney Chalhoub em
seu livro Trabalho, Lar e Botequim que vem mostrando minuciosamente a relao do
botequim com os trabalhadores que ali frequentavam e como, tanto o ambiente, quanto o
sujeito era visto pelas pessoas de alta renda. O autor Luiz Noronha em Malandros: Noticias de
um submundo distante, trs detalhadamente os inmeros ambientes de socializao. O mtodo
utilizado foi, portanto, a pesquisa bibliogrfica. O despertar para a pesquisa neste tema
perpassa pela compreenso de quanto, estes ambientes so ricos em detalhes para a
compreenso tanto das aes, como das condies de vida dos sujeitos histricos.
SIMPOSIO 4
ENSINO DE HISTRIA E EDUCAO
Proponente: Jonathan Molar e Mrcio Soares (UNEB)
Ementa: O presente simpsio visa discutir e inscrever trabalhos que estejam relacionados ao
Ensino de Histria em seus aspectos metodolgicos, didticos, curriculares, atuao em
espaos formais ou no, abordagens tericas e relatos de experincia. Alm disso, abarca
tambm interlocues com a Educao de modo geral, abrigando produes de outras
Licenciaturas e demais reas do conhecimento histrico e historiogrfico.
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O repertrio musical sertanejo pouco usual nos livros didticos, raramente citado como
fonte histrica ou como crnica do cotidiano. Geralmente, os materiais de apoio didtico
exploram canes que abordam dois grandes perodos da Histria do Brasil: a Era Vargas e a
Ditadura Militar no Brasil. Mesmo em outras situaes em que as canes no exploram tais
momentos histricos, pouco se percebe a cano sertaneja, tambm denominada caipira
como possibilidade de problematizao no ensino de Histria. Contrapondo a esta tendncia,
realizei um estudo sobre o ensino da Histria do Brasil, refletindo a cano sertaneja ou de
raiz, como instrumento de possibilidades didticas. Pretendi demonstrar que o trabalho com
fontes contribui para a efetivao de uma conscincia histrica, visto que so instrumentos de
comunicao de ideias que facilitam a sistematizao dos contedos curriculares da
disciplina. A proposta trouxe como referncia emprica, canes sertanejas do denominado
Rei do Baio, Luiz Gonzaga, cantor relevante no Brasil, especialmente no nordeste e de
influencia na MPB. O trabalho tratou de temas histricos, especialmente os que refletem a
profundidade das permanncias ainda existentes, acerca do passado do homem do campo, e de
que forma a cano sertaneja aliada ao fazer docente, pode nortear o trabalho do professor
enquanto recurso didtico no ensino da Histria do Brasil. Esta investigao foi embasada em
minha prpria prtica no ensino de histria do 9 ano do Ensino Fundamental, na aplicao da
cano sertaneja como documento histrico e recurso didtico-pedaggico, com objetivo de
contribuir para o aprimoramento de um processo ensino-aprendizagem significativo, dinmico
e agradvel nas aulas de Histria do Brasil. Como referencial terico, revisitei Burke (1997) e
(2005), Brasil (2002) e (2006), Cndido (1990), Chaves (2014) Fernandes (2015), Morila
(2012), Pinsky org. (2009), Schmidt e Cainelli (2009), Snyders (1995) Sobanski (2009) entre
outros. Neste sentido, para alcanar os objetivos, alm do aprofundamento na literatura
acadmica, foram utilizados abordagem qualitativa e estudo de caso. Todo procedimento
emprico foi realizado no Colgio Estadual Incio Tosta Filho, Itamaraju, Bahia.
Maurcio Dias
Graduado em Histria pela Universidade do Estado da Bahia UNEB, Campus X.
His_toriaviva@hotmail.com.
RESUMO
Alm da Nova Histria surge tambm a Nova Escola responsvel pela busca por novos
recursos, fontes e linguagens que pudessem dinamizar o processo de ensino e aprendizagem e
que trouxessem novos mecanismos que pudessem auxiliar o professor/pesquisador/intelectual
em sala de aula. Sendo assim, a partir das experincias do projeto PIBID vivenciadas no
Centro Educacional Machado de Assis (CEMAS) em Teixeira de Freitas BA pde-se notar
certas limitaes e fronteiras nas aulas de Histria quanto ao manuseio e explorao
abrangente dos recursos audiovisuais e, mais especificamente, da fonte cinematogrfica no
processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, munido metodologicamente da anlise
qualitativa e quantitativa pretendemos intercruzar os dados obtidos com a pesquisa de campo
e com o grupo focal e as observaes internas sala de aula objetivando problematizar a
linguagem cinematogrfica e audiovisual em interseco com os estudos de (BELLONI,
2005), (BITTENCOURT, 2004), (MCLAREN, 1997), (FREIRE, 1996), (NAPOLITANO,
2006) entre outros, no intudo de refletir sobre as problemticas ainda existentes que orbitam
em torno de sua utilizao. A utilizao das linguagens na instituio pesquisada, ao contrrio
do apropriado, parece estar se resumindo a mera distrao ou a um assistir passivamente,
sendo assim, sem que se ultrapasse est fronteira, nesse formato, o que haver em sala de aula
ser somente transposio de informao e no construo problematizada do conhecimento.
De fato a linguagem flmica e audiovisual tem muito a oferecer, todavia, imprescindvel
uma reflexo sobre a prxis que vem sendo implementada nas aula de Histria da instituio
de ensino CEMAS, de maneira que venha fomentar aes consequentes e duradouras.
RESUMO
A historiografia tradicional foi questionada pela Escola dos Annales, imprimindo novos
olhares para o conhecimento das sociedades. Conforme Burke (2008), a Nova Histria
Cultural foi germinada neste novo olhar, contribuindo no alargamento das fronteiras do
conhecimento histrico. Considerando a importncia dessas novas perspectivas, quais seriam
as ferramentas de trabalho necessrias para ensinar e aprender a pensar historicamente, o
saber-fazer, o saber-fazer-bem? Talvez a reinveno das fontes, como aponta Ailton Morila
(2012), para justificar transformaes necessrias no ensino, demonstrando que possvel
ensinar e estudar histria com instrumentos passveis de leitura diversas, formas e ngulos
particulares. Revisitando os PCNs de Histria, encontramos reflexes que apontam as canes
como fontes no sentido mais amplo, e adotadas como documento pelos historiadores, so
consideradas sinais de realidades histricas, expressando no somente a influncia de fatores
sociais e polticos, mas, sobretudo representando as manifestaes culturais da poca de quem
os produziu. Bahia (2008) diz que a Lei 11.769/08 que torna a msica componente obrigatrio
no currculo da Educao Bsica), estimulou a implementao do Festival Anual da Cano
Estudantil na Bahia, que espera promover o desenvolvimento do ensino da msica nos
contextos escolares da rede estadual da educao da Bahia. A investigao acerca deste tema
compreende importante estudo no campo da cultura escolar e insero da msica no ensino de
histria, e foram tomados como referencial terico os seguintes autores: Burke (1997) e
(2008), de Certeau (2003), Foucault (2005) Nunes (1992) e (1996) Silva (2002), Bahia
(2008), Morila (2006) e (2012), Mattos (2006) Schmidt e Cainelli (2009) Rocha (2009)
Swanwick (2003), entre outros. O objetivo deste trabalho configurou-se em investigar, por
meio de pesquisa bibliogrfica e anlise documental de que forma este movimento cultural,
pode contribuir no espao escolar, para um processo de produo de sentidos sobre o mundo e
a sociedade, considerando os saberes na rea de conhecimento das humanidades.
Interpretaes documentais, organizao e compreenso de atividades realizadas com alunos,
foram realizadas na inteno de compreender suas especificidades e contextualiz-las com a
literatura terica, tomando-as positivamente como referncia emprica na produo do
conhecimento proposto.
RESUMO
Esta atividade foi organizada pelo grupo de bolsistas do PIBID (Programa Institucional de
Bolsas de Iniciao Docncia) da UNEB Campus XIII que atua no Centro Territorial de
Educao Profissional Piemonte do Paraguau I, sob a superviso da professora Gilsiane
Brito Leo de Oliveira. O grupo composto por pibidianos. A oficina foi realizada com os
alunos do 3 Ano de Agricultura. O trabalho teve como objetivos principais, compreender e
resgatar a funo social do gnero cordel, bem como contribuir para a valorizao da
identidade atravs do resgate da histria local, alm de refletir acerca da formao
profissional do professor de Educao do Ensino Mdio e as diversas linguagens da Literatura
de Cordel. Dessa forma, a Literatura de Cordel para a turma do 3 Ano de Agricultura, torna-
se significativa, pois, conhecer a arte de outras culturas fundamental. nesse sentido que
deve haver nas escolas reflexes acerca da Literatura de Cordel e sua importncia como
gnero facilitador de aprendizagens, alm de favorecer uma aproximao do aluno de suas
razes histrico-geogrficas. Nessa perspectiva, a discusso sobre a temtica e sua efetiva
aplicao na sala de aula, auxiliar construo de uma educao que venha a desenvolver no
aluno o gosto pela leitura e a capacidade de escrita atravs da rica cultura popular brasileira. A
literatura de cordel um desses meios, pois possibilita contar de maneira simples histrias de
pessoas e lugares desconhecidos por muitos. A preparao da atividade e sua aplicao foram
catalogadas na compreenso do grupo, pois, entende-se que so significativas as prticas
pedaggicas que contemplem o gnero cordel e venham possibilitar um encontro com a
experincia cultural que emana desta literatura e toda sua riqueza expressiva, j que
oportuniza a articulao de vrias linguagens como verbal oral, verbal escrita, musical atravs
da anlise de xilogravuras, etc. Nesse sentido, a Literatura de Cordel de suma importncia,
pois possibilita a aproximao do aluno com sua realidade histrica, alm de permitir
apreciao e socializao artstico-literria, contribuindo para uma melhor cidadania. O
desenvolvimento da oficina foi somado por momentos de discusso e de atividades prticas e
ldicas que envolveram todos os participantes. A literatura de Cordel oferece aos alunos uma
maneira de pensar o mundo e de afirmar uma identidade, traando caminho de liberdade, e a
escola como agente desse espao potico de luta.
RESUMO
Esse relato de experincia resultado de uma oficina com a temtica Direitos dos Povos:
Cultura indgena no extremo sul baiano, cujo objetivo foi o de compreender o processo de luta
e resistncia dos povos indgenas no Brasil em busca da concretizao dos seus direitos como
cidados brasileiros, alm de terem acesso a uma educao, Sade e Segurana de qualidade,
realizada pelo subprojeto PIBID de Histria, intitulado A Histria e o social: a comunidade e
os espaos da cidade como integrantes do processo de ensino-aprendizagem, do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia (PIBID), do Campus X da Universidade do
Estado da Bahia UNEB, em Teixeira de Freitas BA, no ambiente escolar do Colgio
Estadual Democrtico Ruy Barbosa - CEDERB. Quanto metodologia utilizada no mbito
desse trabalho, consiste na reviso bibliogrfica de textos de autores como: LUCIANO
(2006), SAMPAIO (2000), BATISTA (2004), GERLIC (2007), FREIRE (1996), SCHMIDT;
GARCIA (2005), que oferecem aporte terico e pedaggico para a confeco do projeto e a
aplicao da oficina. A oficina se deu atravs da explanao dos aspectos gerais dos povos
indgenas do extremo sul baiano, seguido de: 1- dinmicas para captar a percepo dos alunos
a cerca da temtica. A partir das falas foi-se tecendo novas informaes. 2 Apresentao do
vdeo As caravelas passam, fazendo a desconstruo da viso criada pelos portugueses, tanto
da aparncia como da passividade do ndio brasileiro, ao longo da histria, 3 Ressaltou-se a
presena do ndio no Extremo Sul baiano, em especfico na cidade baiana de Teixeira de
Freitas, 4 Uso de charges sobre a temtica, 5 - Apresentao uma cartilha sobre o povo
indgena Patax, especificamente do distrito de Cumuruxatiba-Ba. 6 - Produo textual,
baseada em toda a discusso que foi realizada durante a oficina. Todo o processo de
desconstruo dessas ideias foi satisfatrio, utilizando para esse objetivo discusses que no
buscaram impor uma verdade, mas simplesmente apresentar vises histricas diferentes,
dados gerais e depoimentos dos prprios ndios, o que despertou mudana de pensamento, e o
questionamento dos esteretipos existentes.
RESUMO
O presente trabalho relata a experincia do uso das Tecnologias da Informao e
Comunicao TICs com o projeto intitulado Assim sendo declaro vaga a presidncia da
repblica: 50 anos depois, cujo o principal objetivo foi realizao de oficinas com alunos e
professores da rede de ensino pblica do estado da Bahia, na microrregio de Jequi, para fins
de capacitar no resgate da memria no sentido da violao dos direitos humanos durante o
Regime Civil Militar Brasileiro (1964 1985). As oficinas tiveram como instrumentos de
trabalho, filmes, documentrios, udios da poca do regime, assim, possibilitando uma maior
compreenso do perodo trabalhado no projeto. O ensino e a aprendizagem esto cada vez
mais ligados ao processo de comunicao. H uma mutao pedaggica no processo
educacional influenciando profundamente a relao aluno-professor-instituio de ensino. O
que antes era acessrio para o desenvolvimento profissional e educacional, hoje se mostra
como parte essencial da educao. Sandhaltz (2008) afirma que na inter-relao entre
pesquisa, formao de professores e prtica pedaggica com o uso da TIC, a rea de
conhecimento tecnologia em educao se transforma e avana a partir dos resultados das
investigaes e novos conhecimentos produzidos. O projeto foi elaborado para ser executado
em aes divididas em trs etapas distintas. Na primeira etapa trata-se da aquisio dos
materiais que foram utilizados nas oficinas: udios, Documentrios, Vdeos, Jornais e Livros.
Esta etapa ficou de minha responsabilidade na confeco desse acervo digital.
Posteriormente, aps a confeco do acervo, teve inicio a segunda etapa. De maio de 2014 a
dezembro do mesmo ano foram realizadas as oficinas, que sero descritas a partir de agora.
Inicialmente realizado um momento de apresentao da proposta do projeto, com uma
palestra sobre A ditadura Militar e a violao dos direitos humanos durante esse perodo, esse
contato inicial possibilitou envolvimento e compreenso dos professores e alunos acerca da
temtica, assim, facilitando o processo de aplicao da oficina, proporcionando aos mesmos
uma maior abertura/aceitao aos contedos abordados. A realizao desse trabalho permitiu
apontar que boa parte dos participantes, adquiram a compreenso do motivo de ser necessrio
tem uma noo social da histria do seu pas, a exposio dos materiais de multimdia, os
relatos pessoais foram partes bastante relevantes para o trabalho. Foi possvel promover
estudos a cerca dos diversos mtodos de violao dos direitos humanos, durante o regime
militar. A tortura como instrumento repressor, os setores do Estados que se organizavam para
realizao dessas prticas, e as vtimas que at o presente momento se encontram da
situao de desaparecidos.
RESUMO
Nas duas ltimas dcadas muito se escreveu sobre o ensino interdisciplinar, multidisciplinar e
transdisciplinar na Educao Bsica. Esta nova maneira de ensinar j se materializa no
Exame Nacional do Ensino Mdio, ENEM, onde as disciplinas escolares so cobradas dentro
das grandes reas do conhecimento. Porm, o que se percebe uma grande dificuldade em
efetivar nas salas de aula um trabalho onde o entrelaar das disciplinas se concretize. Numa
tentativa de se pensar em um trabalho transdisciplinar constante, este projeto busca mostrar
como as categorias de anlise da Geografia podem e devem ser trabalhadas constantemente
com o ensino da Histria. Justifica-se esta preocupao por se entender no ser possvel uma
compreenso completa do processo histrico sem uma anlise geogrfica. A abordagem
empregada assenta-se no entendimento da perspectiva da percepo geogrfica, onde as
representaes das categorias de anlise que balizam a cincia geogrfica podem melhorar o
ensino da Histria. A metodologia compreende relacionar tempo espao, mostrando como o
uso consciente das categorias de anlise da Geografia possibilita maior compreenso das
narrativas histricas so ensinadas nas aulas da Educao Bsica. Para isto, as categorias
sero explicadas a partir de conceitos e analogias. E em seguida alguns exemplos de
contedos cobrados no ensino da Histria sero explicados a partir das categorias de anlise
da Geografia. Os resultados mostraro ser possvel ao professor de Histria trabalhar as
categorias de anlise da Geografia para uma melhor compreenso dos fatos histricos
ensinados durante o ensino mdio. Para elaborar este artigo, recorreu-se aos seguintes
tericos: Carlos, Claval, Haesbaert, Harvey, Kant, Moraes, Moreira, Santos e Tuan.
RESUMO
Os Jesutas trouxeram para o Brasil, junto com o catolicismo, a educao, marcando o incio
de sua histria na colnia e o suporte ideolgico necessrio estruturao e manuteno da
sociedade exploratria e dos privilgios da classe dominante, os quais no poderiam se
solidificar apenas na fora do aparelho repressor da Coroa. Foi estruturado na colnia um
aparelho ideolgico fundamentado na Igreja Catlica e vinculado diretamente a Coroa. A
pedagogia utilizada pelos jesutas definia-se em transformar ndios em bons cristos, instru-
los nos hbitos de trabalho dos europeus. Os colonizadores tendiam forosamente a
concentrar todo seu pensamento e todos os seus esforos na explorao e defesa das colnias.
Identifica-se que a educao no lhe interessava seno como meio de submisso e de domnio
poltico, que mais facilmente se podiam alcanar pela propagao da f, com a autoridade da
Igreja. A partir dessa breve anlise histrica pretendeu-se discutir a educao como meio de
submisso e domnio poltico, e entender a posio assumida pelos jesutas e pela Igreja.
Discutiu-se ainda a utilizao da educao para impor um poder de dominao que, segundo
Bourdieu (2014) essa dominao se d atravs da ao pedaggica impondo um arbitrrio
cultural no percebido e assim aceito como legtimo. A imposio implica sempre o exerccio
de violncia simblica por parte de uma autoridade pedaggica. Este estudo realizou uma
pesquisa bibliogrfica, recorrendo a procedimentos como leitura e fichamento de algumas
obras que tratam desse assunto. Com base na anlise e interpretao dos dados encontrados
nos textos selecionados, foi desenvolvido o estudo e estruturado o texto que apresentado
aqui. Foi tomada como referencial terico o pensamento de Almeida (2000), Bourdieu (2014),
Cambi (1999), Costa e Lima (2008), Veiga (1992) entre outros, para a investigao, anlise e
interpretao da realidade histrico-educacional da colnia brasileira. Ao longo do estudo,
conclui-se que somos herdeiros de uma histria, cujos alicerces so profundamente de base
autoritria e alheia aos interesses da coletividade. Os interesses religiosos e polticos da
Companhia de Jesus, sem dvida, moveram a ao educativa desses padres, que encontraram
no ensino, um meio eficaz de submisso e domnio. O sentido da educao, portanto, na
dominao fica bastante evidente, referindo-se a um sentido de educao basicamente elitista.
RESUMO
O presente trabalho trata-se de um relatrio de estgio de regncia, realizado para a disciplina
de Estgio Supervisionado III do Curso de Licenciatura em Histria, do Departamento de
Educao Campus X, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Objetivando relatar
elementos que caracterizam as atividades desenvolvidas na Escola Municipal Joo Mendona
junto aos alunos dos 6 e 7 anos, no perodo vespertino, a partir da realizao de uma oficina
de histria que procurava discutir as formas como as comunidades indgenas vm sendo
representadas atravs de imagens e vdeos, buscando possibilitar reflexes junto aos
estudantes de forma a contribuir no processo de desconstruo de alguns esteretipos
referentes a estas comunidades. As aulas da oficina de Histria foram realizadas durante cinco
semanas, cada encontro teve a durao de 5 horas nas quartas-feiras, com exceo de um
encontro extra, realizado em uma quinta-feira. Para realizao deste trabalho utilizou-se como
referencial terico autores(as) como Dayrell (1996), Demo (2001), Luckesi (1996), Pimenta e
Lima (2005/2006), Ribeira (2004) no sentido de colaborar com a discusso terica, no que
tange a aspectos como a importncia do estgio, a avaliao enquanto processo, o espao
escolar e os mltiplos olhares que devemos ter sobre a educao e a cultura. Utilizou-se como
imagens principais a pintura A primeira missa no Brasil, autoria de Victor Meirelles (1861)
e algumas charges de Maurcio de Sousa que fazem uma releitura do quadro de Victor
Meirelles. O desenvolvimento de tais atividades contribuiu de forma significativa para o
crescimento dos estudantes e da estagiria, conforme descries e anlise apresentadas no
relatrio, isso se deu em razo da oficina ter oportunizado que eles e elas na prtica
aprendessem a tecer novos discursos, que confrontaram os relatos eurocntricos de descrio
das comunidades indgenas, alm de permitir uma aproximao com a histria destes,
percebendo algumas de suas contribuies na formao cultural do nosso pas, alm de
compreender como agem e reagem s tentativas de excluso na histria local e nacional; suas
resistncias e avanos, no sentido, por exemplo, de garantirem leis afirmativas como
conquistas de grupos tidos como minorias.
Palavras-chave: estgio de regncia representao dos povos indgenas ensino de
Histria.
44
RESUMO
O presente trabalho discute a importncia da abordagem da cultura local e da memria no
ensino de Histria no ensino fundamental I a partir da anlise de Fichas Pedaggicas,
documento produzido nos planejamentos por docentes e coordenadores pedaggicos.
Analisamos como o ensino de Histria pensado atravs dos planos de aula do ensino
fundamental e apontamos sugestes de como o uso das memrias dos alunos, da comunidade
e das experincias dos docentes e discentes podem ser o ponto de partida para se pensar o
estudante enquanto sujeito ativo na produo do conhecimento, assim como sugere autores da
terceira gerao dos Analles, que para os estudiosos da rea da educao pode ser
denominado de formao cidad, substituindo o acmulo de conhecimentos sistematizados.
importante ressaltar, que a relativizao do conhecimento histrico de modo a buscar prticas
onde os contedos sejam contextualizados com o meio social do individuo no implica,
necessariamente, em uma perda de significados, legitimidade ou referencial. Entendemos
ainda, que a dada importncia e incluso dessa cultura local, necessita de uma conscincia e
de um comprometimento das prticas docentes, para que possam perceber quais so as reais
demandas a serem vivenciadas. No menos importante, a incorporao de diferentes
linguagens usada pelo professor e a ateno que este deve ter aos diferentes nveis de
desenvolvimento do seu alunado. Tomamos como base fundamental para esta discusso,
principalmente, o conceito de cultura segundo Clifford Geertz e para dialogar com este,
utilizamos da rea da educao, Ana Maria Monteiro (formao em Histria e Educao),
entre outros. Nosso principal objetivo reafirmar a importncia de se estimular a produo de
narrativas locais a partir de vivncias selecionadas, a fim de fortalecer a memria e a histria
local.
RESUMO
A insero da temtica indgena no mbito da Educao Bsica embora seja obrigatria desde
2008, enfrenta desafios quanto clareza e a abordagem, em especial, quando considerado os
livros disponibilizados atravs do Programa Nacional do Livro Didtico PNLD. Nesse
sentido, a presente comunicao tem por objetivo expor os avanos e as limitaes das
coletneas resenhadas e disponibilizadas para o Ensino de Histria e de Lngua Portuguesa e
suas respectivas Literaturas, no mbito do Ensino Mdio, no trinio compreendido entre 2015
e 2017, tendo em vista o ensino desta temtica sob a perspectiva intercultural (CANDAU,
2011; WALSH, 2010). Para isso, como procedimento metodolgico procedeu-se a anlise
documental com a explorao das resenhas presentes nos Guias Didticos (BRASIL, 2015b),
do Edital PNLD (BRASIL, 2015a) e de cada um dos volumes das obras analisadas pelo
Ministrio da Educao. Para isso, a anlise tomou como parmetro as compreenses tericas
de BATISTA (2010) e VALENTE (2004) quanto s definies dos critrios para a escolha do
Livro Didtico, as construes conceituais de WALSH (2010), FLEURI (2013), BACKES
(2014) quanto a abordagem intercultural sob perspectiva crtica, a viso de BITTENCOURT
(2004) referente ao Ensino de Histria, assim como as contribuies advindas do Ensino da
Lngua Portuguesa e da Literatura (CEREJA, 2009; ABAURRE, 2014). A anlise contemplou
um total de 29 (vinte e nove) coletneas e aponta que h uma insistncia em prol do
atendimento do mercado editorial a qual cita o indgena, seja sob a condio de personagem
literrio ou de sujeito histrico, como ser deslocado, mtico, litorneo, pitoresco, miscigenado,
uno, tribal, isolado, embora haja iniciativas que caminham em dilogo com a proposta de
reconhecer o indgena como sujeito contextualizado, responsvel pela ressignificao de sua
identidade.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo discutir os principais percalos na formao dos
professores de histria e ao mesmo tempo avaliar a atuao dos docentes iniciantes dentro das
instituies de ensino. Pensar a formao docente no sculo XXI vislumbrar um caminho
com grandes dificuldades e desafios. Pesquisa realizada pela Revista Nova Escola entre os
meses de janeiro e fevereiro de 2010, mostra que apenas 2% dos alunos do ensino mdio
entrevistados, pretendem prestar vestibular para os cursos de licenciaturas e pedagogia, ambos
tm como principal intuito a formao de professores, esses dados constatados pela pesquisa
mostram o desprestigio que a profisso vem sofrendo nos ltimos anos. Busco escrever esse
trabalho motivado pela minha experincia como aluno da graduao do curso de licenciatura
em histria pela UNEB campus IV, atravs de minha convivncia no determinado assunto
que tento perceber os principais desafios e percalos que se encontra na formao docente da
atualidade. Uso como base para as minhas consideraes, textos e discusses trabalhados
pelos meus professores do ensino superior dentro da sala de aula e outros escritos sobre o
tema para ajudar na formao de opinio. Alm da anlise da reportagem Atratividade da
Carreira Docente, da revista Nova Escola 2010. Diversos autores j se mostraram interessados
na tentativa de caracterizar os problemas vivenciados pelos professores. Para Maurice Tardif
(2000), a formao no magistrio se dar em um modelo aplicacionista acarretando assim
uma srie de problemas. A formao do professor e principalmente o de histria tem que ser
feita de uma forma crtica para que ele possa pensar, compreender e perpassar essa mesma
viso para seus futuros alunos, algo a mais que uma simples transmisso do conhecimento,
para MAGALHES (2011), so exigidas novas formas de conhecimentos aos docentes de
histria. So usados como referenciais autores como Pedro Demo De que Escola Estamos
Falando (2002), Antnio J. Severino Preparao tcnica e formao tico-poltica dos
professores (2003), Marcos Silva e Selva Guimares Ensinar Histria no Sculo XXI: Em
busca do tempo entendido (2007), e Rodrigo L. Simes Formao de professores na rea
de histria: Entre prtica e discursos (2012) entre outros. A Revista Nova Escola (2010),
aponta para vrias formas de melhorar a situao dos professores, alm de uma boa reforma
no piso salarial, melhorar tambm a formao inicial e resgatar o valor da profisso na
sociedade entre outros. A tarefa no fcil, mas tenho certeza de que venceremos, no apesar,
mas porque somos professores.
RESUMO
A proposta em questo oriunda de reflexes construdas na disciplina Conhecimento e
Interculturalidade no curso de Licenciatura Intercultural Indgena Tupinikim e Guarani da
Universidade Federal do Esprito Santo UFES. Como encerramento da disciplina foi
proposto ao coletivo de estudantes um anlise dos livros didticos recebidos pelas escolas
Tupinikim e Guarani no Programa Nacional do Livro Didtico PNLD, com uso de 2016 a
2018. Durante a anlise dos livros localizamos naqueles destinados ao Ensino Fundamental I,
nos componentes curriculares de Lngua Portuguesa e Histria, a presena de imagens e
informaes dos Povos Indgenas do Xingu, bem como outros da regio Norte e Centro-
Oeste, o que vemos como problemtico, tendo em vista que a representao construda nestes
livros em muito difere do Povo Tupinikim e Guarani que habitam o municpio de Aracruz.
Vale ressaltar que, o Povo Tupinikim e o Povo Guarani j sofreram campanhas difamatrias
acerca de suas identidades tnicas, sendo marginalizados por falsos ndios, o que nos leva a
crer que a no representao destes nos livros didticos s refora esteretipos e preconceitos
regionais sobre os mesmos. A justificativa para tais livros estarem nas escolas indgenas que
estes so destinados Educao do Campo, estando as escolas indgenas mais prximas deste
contexto do que o urbano. A justificativa problemtica, uma vez que a a Educao Escolar
Indgena uma modalidade indenpendente da Educao do Campo, e como tal deve ser
respeitada, tendo livro didtico prprio. Neste sentido, perseguindo uma interculturalidade
crtica decolonial, reiteramos que tais prticas fragilizam e (re)colonizam identidades,
epistemes, localidades, entre outros. Desta forma, cabe registrar a necessidade da produo de
materiais didticos que dialoguem com os contextos e especificidades das comunidades
indgenas.
Palavras-chave: Decolonialidade; Livros Diddicos; Licenciatura Indgena; Tupinikim;
Guarani.
49
SIMPOSIO 05
HISTRIA, RELAES DE GNERO E SEXUALIDADES
Proponente: Ediane Lopes (UNEB)
Ementa: Para compreendermos a histria dos movimentos sociais, temos que levar em
considerao a pluralidade dos mesmos. Os movimentos sociais com seus objetivos e
bandeiras de lutas organizam-se a partir dessa pluralidade. Isso significa que so
movimentos que podem ter horizontes ou objetivos comuns, mas, atuam de maneiras as mais
diversas para concretiz-los. O movimento feminista deita as suas origens nos mais diversos
movimentos de mulheres. Em suas razes encontram-se mulheres ligadas educao, ao
movimento operrio, ao movimento negro, ao movimento LGBT, etc. Pensando esses
movimentos, importante evidenciar as mudanas ocorridas ao longo das dcadas de 1960 e
1970. A virada da dcada de 60 para a dcada de 70 do sculo XX marcada por uma nova
forma de pensar o corpo e a sexualidade. Em 1975, no Brasil, lanado o Movimento pela
libertao Homossexual no Brasil. A questo posta naquele momento era se gays e lsbicas
iriam lutar pela sua integrao ao mundo da forma como se encontrava ou iriam lutar pela
criao de uma comunidade com cultura prpria. Levando em considerao todas essas
histrias e essa diversidade, o Simpsio temtico Histria, gnero e sexualidades objetiva
reunir trabalhos envolvendo as diversas histrias das mulheres, bem como as muitas
discusses acerca das novas sexualidades. Alm disso, histrias envolvendo as mudanas das
sexualidades ao longo das lutas e conquistas dos movimentos de gays e lsbicas. O ST
tambm debater os diversos feminismos e movimentos de mulheres e LGBT's que, ao longo
da histria, embasaram terica e politicamente diversas experincias de resistncia.
50
O Feminismo uma corrente diversificada, e exatamente por esse motivo o ideal referir-se a
ele no plural. sabido que quando se trata de gnero, essa nomenclatura no engloba apenas o
sexo, mas classe, raa/etnia, orientao sexual. Assim, todas essas diferenas precisam ser
percebidas e consideradas dentro dos movimentos feministas. Por mais que o gnero nos una,
a homossexualidade una gays e lsbicas, a gerao una idosas e jovens, a classe e a raa/etnia
nos divide dentro da ordem capitalista. Nosso objetivo apresentar os desafios dos
movimentos feministas brasileiro no combate a opresses, as quais no se do de forma
homognea, como j foi aqui sinalizado, sobretudo, quando se trata de mulheres negras. Ser
negra estar numa situao de vulnerabilidade, se alm de ser mulher e negra, a pessoa for
gorda, lsbica ou bissexual, travesti ou transexual, pobre ou cadeirante esse risco se torna
ainda maior. Tem gente que s de sair na rua j motivo de piada; a "nega" do cabelo duro,
a sapatona, a gorda rolha de poo, o traveco. mais fcil humilhar, enxovalhar quem
minoritorizado e como a empatia moeda escassa, esses subgrupos no encontram um
lenitivo pra sua dor nos movimentos feministas tradicionais. Apesar de ter a conscincia que
as verses de feminismos no do conta das opresses vividas pelas mulheres brasileiras,
tambm reconhecemos que essa discusso s possvel graas a existncia desses
movimentos.
Francisco Cancela
Doutor em Histria Social do Brasil
Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal da Bahia
Professor da Universidade do Estado da Bahia- UNEB
Esta pesquisa, oriunda do Grupo de pesquisa Ecos no Silncio da Histria: participao das
mulheres na organizao do municpio de Teixeira de Freitas, Bahia, UNEB, CAMPUS X,
objetiva entender como as (os) agentes de sade tm desenvolvido seu trabalho na Unidade de
Sade da Famlia do bairro Urbis, em Teixeira de Freitas-Ba, entre 2004 e 2015 a partir da
perspectiva de Gnero inserida na Poltica Nacional de Ateno Integral Sade da Mulher
(PNAISM). Atravs de pesquisa qualitativa sob o vis da Histria Oral, analisamos dados que
sero debatidos qualitativamente junto ao referencial terico. Para tanto, analisaremos
entrevistas realizadas com as (os) agentes de sade da Unidade de Sade da Famlia (USF) da
Urbis buscando compreender a maneira como a perspectiva de Gnero perpassa (ou no) o
trabalho junto comunidade. Compreendendo a necessidade de por em pauta discusses
recentes da historiografia envolvendo conflitos das relaes de gnero, destacamos dentre
estas discusses os estudos a respeito da invisibilidade das mulheres e dos silenciamentos na
Histria, especialmente a partir de PERROT (2007) e SCOTT (2012), alm da noo de
Integralidade exigida pelo Sistema nico de Sade (SUS) alicerada na perspectiva das
relaes de Gnero discutida por REZENDE (2011) entre outros. Espera-se, a partir desta
pesquisa, contribuir para o registro histrico referente ao desenvolvimento do trabalho das
(os) agentes comunitrias (os) de sade do bairro Urbis na cidade de Teixeira de Freitas-Ba,
atravs da anlise do olhar especfico das (os) prprias (os) agentes sobre si e sobre sua
atuao na USF e comunidade. Objetivamos tambm observar alguns caminhos percorridos
para a formao profissional a partir dessa poltica pblica de sade e acumular entrevistas no
intuito de construir um acervo de fontes orais, que devero compor o que chamamos de
Museu da Palavra. Os Museus da Palavra podem ser organizados em blogs ou sites gratuitos,
onde pretendemos disponibilizar, em breve, os udios e as transcries de forma a contribuir
para outros trabalhos acadmicos.
A trajetria das mulheres no Brasil vem desde o perodo colonial, apesar de por muito ter sido
silenciada pela historiografia. No sculo XX a histria das mulheres comea abordar temas
como o matrimnio, maternidade, submisso e todo um processo histrico da sexualidade
feminina em uma sociedade colonial patriarcal. O objetivo deste estudo atravs de uma
anlise flmica da obra Desmundo (2003) narrar caractersticas das condies de vida da
mulher no Brasil colonial e sua posio na sociedade. Na obra temos como personagem
principal a Oribela uma rf portuguesa enviada de Portugal a colnia no perodo do sculo
XVI para se casar e constituir famlia com um colono de posses. No enredo tambm
encontramos outras personagens que denotam os conflitos que as mulheres coloniais
enfrentaram em um ambiente inspito e violento. A partir destas trajetrias femininas
abordadas no filme e as obras de Michele Perrot (2008) e Emanuel Arajo (2007) pretende-se
explorar os diferentes aspectos da viso sobre a mulher no decorrer dos sculos e como se
legitimou toda uma cultura que inferioriza, fragiliza e a subjuga nessa hierarquia dos sexos
como algum que devesse sempre estar no campo da proteo e do recolhimento.
Caractersticas de um processo histrico que sempre buscou intimidar, taxar e julgar a figura
feminina na sociedade. Sondando cenas da obra flmica com o apoio das obras
historiogrficas utilizadas no estudo, constatamos uma forte herana machista em nossa
histria, notamos os papis das mulheres, como eram tratadas nas diferentes idades, de como
eram inibidas na intimidade e na sexualidade, a sua importncia no lar, sua autonomia poltica
e como eram comparadas aos homens em seu nascimento e morte. Com base no estudo
constata-se uma forte herana machista, desigual e homognea na nossa sociedade e formao
colonial, histria essa que nos reflete aos dias de hoje denotando violncia, distino de
trabalhos, abusos, representaes e o simbolismo da mulher.
A presente pesquisa busca entender o processo de insero das mulheres na lavoura do caf e
as relaes de gnero na dinmica do trabalho rural em Itamaraju BA (1975-1995).
Utilizamos fontes documentais, mas as principais fontes so orais, as entrevistas concedidas
pelas trabalhadoras rurais. O percurso terico metodolgico delineia-se principalmente
atravs dos estudos de Thompson (1992), Lozano (2006), Scott (1989), Silva (1981), Silva
(2006), Melo e Novais (1998), Hirata (2002), vila (2002), Costa e Soares (2002). Os
resultados das anlises cruzados ao referencial terico apontam que as trabalhadoras rurais
migraram do campo para a cidade devido ao processo de industrializao do campo,
concentrao fundiria e a reestruturao produtiva, bem como as promessas de modernidade
que a cidade oferecia, como sade, educao e melhores condies de trabalho. Mas,
encontram na cidade baixos ndices de ofertas de empregos para os trabalhadores e as
trabalhadoras que no tinham formao escolar ou profissional, e as poucas vagas ofertadas
pela indstria eram ocupadas por homens. As trabalhadoras rurais acabam por voltar ao
trabalho no campo, mas agora como boias-frias, residindo na cidade e trabalhando no campo.
A trajetria dessas mulheres evidencia a transformao de colonas e pertencentes da
agricultura familiar, para trabalhadoras individualizadas onde o vnculo com a terra
sobreposto aos quantitativos da produo. Enquanto mulheres, eram invisibilizadas pela
figura do homem, seja irmo, pai, marido ou filho, seu trabalho sempre era visto
predominantemente como complementar/auxiliar, como boias-frias, na labuta da lavoura.
As mulheres exercem as mesmas atividades braais e pesadas que os homens, recebem
referente ao que produzem/colhem, esto em situao desigual por serem ou poderem ser
mes, filhas ou esposas, j que, so as principais responsveis pelo trabalho produtivo em
suas famlias. O que para os patres visto com desagrado, porque, so elas que levam os
filhos para o trabalho e atrapalham a produo com o resguardo. Estes elementos mostram a
desigualdade de gnero tanto na agricultura familiar quanto no agronegcio. O patriarcado
est enraizado nas prticas e na subjetividade do dia-a-dia no trabalho e no convvio social-
familiar. Os homens ocupam um lugar de poder, de comando e de chefia que no absoluto
nem homogneo, j que as mulheres exercem vrias formas de resistncia.
Este estudo teve seu incio no Grupo de pesquisa ECOS NO SILNCIO DA HISTRIA:
Participao das mulheres na organizao do municpio de Teixeira de Freitas, Bahia, UNEB,
CAMPUS X, que est sob a coordenao da Prof Ms Ediane Lopes de Santana. Tem como
objetivo analisar a histrias de mulheres em prostituio, considerando como se deu o
processo histrico atravs da categoria das relaes de gnero. Buscamos compreender as
histrias envolvendo as mulheres e os homens que trabalham/trabalharam e/ou
frequentam/frequentaram a Rua Mau na cidade de Teixeira de Freitas-Ba. O processo de
organizao da pesquisa se baseia na busca por documentos que nos ajude a compreender,
atravs da perspectiva histrica, as histrias das mulheres na prostituio e as relaes de
gnero construdas em torno dessa atividade. Entendendo a necessidade de perceber as
mulheres que esto/estiveram na prostituio, de seu papel enquanto sujeitas da histria da
sociedade teixeirense, devemos nos apropriar de entrevistas com as mesmas. Nesse sentido, o
recorte temporal da pesquisa inicia a partir da dcada de 1960, onde j foram apontados em
algumas falas a intensa movimentao e crescimento populacional pela incidncia de
madeireiras interessadas na extrao da madeira da regio, onde a prostituio na Rua Mau
comea a aparecer, atraindo mulheres trabalhadoras da regio e outros estados.
Posteriormente, a construo de estradas, especialmente da BR-101 tambm trouxeram muitas
pessoas. O marco temporal final ainda esta por ser definido, pois a pesquisa est em curso.
Em detrimento da complexidade das questes postas quando discutimos relaes de gnero na
Histria, fica ntido a partir de reflexes como a da prostituio, que imprescindveis o
entendimento de conceitos como de gnero, corpo e sexualidade. Alm disso, significante a
apropriao dos debates acerca da ausncia da mulheres enquanto sujeitas na Histria,
apontadas por autoras como SCOTT (1989), PERROT (2003), DEL PRIORE (2011).
Pretendemos, a partir dessa pesquisa, evidenciar especialmente as perspectivas de mulheres
que tem suas histrias comumente ocultadas, bem como a partir dos olhares das pessoas que
participaram, contriburam e se relacionaram com o cotidiano da Rua Mau.
Este trabalho parte da pesquisa de TCC Tradio Resistente Catlica: Cotidiano e relaes
de gnero na juventude do Apostolado Nossa Senhora do Rosrio de Teixeira de Freitas
(2011-2012). oriundo do grupo de pesquisa ECOS NO SILNCIO DA HISTRIA:
Participao das mulheres na organizao do municpio de Teixeira de Freitas, Bahia, da
UNEB, sob a coordenao da Prof Ms Ediane Lopes de Santana. Tem como objetivo
compreender como a juventude da Tradio Resistente Catlica de Teixeira de Freitas
vivencia as relaes de gnero no seu cotidiano, buscando compreender os fatores que
contriburam para que estes jovens do Apostolado Nossa Senhora do Rosrio opinassem em
prol da formao tradicional, favorecendo a permanncia de tradies milenares Catlicas que
foram reavaliadas no Conclio Ecumnico Vaticano II (CEVII). Compreender tambm em que
processo se deu a criao do grupo Tradicionalista em Teixeira de Freitas, questionando como
no ano de 2011-2012, a cidade se encontrava para suscitar aos jovens desta comunidade
firmar posicionamentos tradicionalistas. A anlise contextual deste trabalho partir da
abertura do CEVII em 1962, na tentativa de compreendermos se essas alteraes na
instituio Catlica influenciaram nos rumos dos grupos tradicionais Catlicos. A partir dessa
anlise, partimos da hiptese que a criao do grupo Tradio Resistente de Teixeira de
Freitas fruto dessas mudanas realizadas no CEVII. Nosso referencial terico : Costa
(2013), que traa uma perspectiva ecumnica do Conclio Vaticano II; Libnio (2005), que
nos possibilitou ter noo da contextualizao sociocultural em que o Conclio Vaticano II foi
desenvolvido; Melo (2013), que possibilitou uma anlise sobre a sistematizao do Conclio,
conceituando-o. Para melhor conhecer Teixeira de Freitas usaremos as monografias de
Fabiano; Silva (2011), Guerra; Silva (2010), Santos; Maia (2010) e Oliveira (2012). Alm de
bibliografia pertinente, faremos uso de documentos diversos e entrevistas.
Em quase uma dcada de pesquisas com povos indgenas brasileiros, em particular, povos
indgenas da regio nordeste, as expresses de gnero e sexualidades tem me feito refletir
acerca de seus lugares e no lugares, bem como suas fronteiras e cruzamentos no que veio
sendo delineado e normalizado como identidade indgena. Neste sentido, apontei, numa
discusso anterior, uma vinculao das prticas de sexualidades no heterossexuais s perdas
culturais e mistura identitria. Nesta perspectiva, negociado um bloco de indianidade
homogneo, numa lgica de adequao em que o Estado brasileiro define o que vem a ser
ndio mais ou menos puro, obedecendo uma regra de inteligibilidade baseada num fetiche
identitrio calcificado, sendo essa definio requisito de acesso s polticas pblicas e
programas indigenistas pelas etnias. Na busca por uma categoria que no fosse colonizadora
das sexualidades indgenas, e entendendo que o termo homossexualidade indgena levaria a
uma concepo binria com a heterossexualidade indgena, optei, dentro de uma
perspectiva derridiana (DERRIDA, 1997, 1994), tratar como rasura a questo, usando o termo
sexualidades indgenas indecidveis, percebendo estas como condies de possibilidades,
lugares do no-conceito. Vale dizer que, muitos so os relatos e as pesquisas que trazem
experincias de sexualidades indgenas indecidveis no Brasil (MOTT, 1998; TORRES,
2011; TREVISAN, 1986; CANCELA, SILVEIRA & MACHADO, 2010; SILVA, 2012). No
entanto, vivncias sexuais indgenas que fogem representao da heterossexualidade so
tratadas como caractersticas de povos com perdas culturais. Neste sentido, ainda h uma
vinculao espectral de perdas culturais em torno das identidades indgenas ao evolucionismo
cultural, o que faz Oliveira (1998) nos convidar a pensar numa etnologia que v alm das
perdas e ausncias culturais: uma etnologia dos ndios misturados. Desta forma, acredita-se
que para se avanar no estudo das sexualidades indgenas indecidveis, o dilogo dever
perpassar as fronteiras e os cruzamentos em que os povos indgenas se encontram e desejam
estar, o que se vincula inteno desta proposta.
SIMPOSIO 06
CAMINHOS PARA A PESQUISA HISTRICA: AS INSTITUIES
ARQUIVSTICAS E AS FONTES DOCUMENTAIS E PATRIMONIAIS
Ementa: O presente simpsio temtico tem por finalidade propiciar um espao para o debate
acerca das fontes documentais e patrimoniais amplamente utilizadas para a pesquisa histrica.
Nesta, sero privilegiados os trabalhos de cunho acadmico que abordem o campo
metodolgico para a construo do conhecimento histrico a partir de documentos e
monumentos. Tambm sero priorizados os relatos de experincia no trato documental, seja
em acervos pblicos e/ou privados. Assim, pretende-se discutir diferentes perspectivas acerca
do uso documental e patrimonial para a produo do conhecimento, seja em relatos de
experincia em estgio ou mesmo o resultado de pesquisa cientfica.
60
O presente trabalho busca abordar a manifestao cultural da festa dos pescadores, nas duas
cidades litorneas, Conceio da Barra- ES e Mucuri-Ba, partindo do ano de 1970 at 2015,
tendo como objetivo mostrar as permanncias e rupturas da festa, fazendo um comparativo
entre as duas regies citadas acima. A festa dos pescadores realizada no dia 29 de junho,
conhecida tambm como a festa de So Pedro, o padroeiro dos pescadores. No perodo do dia
25 at o dia 29 de junho, as Igrejas e as praas so preparadas para a celebrao e o ritual do
Santo Padroeiro dos Pescadores. Durante a realizao, as pessoas se divertem com
brincadeiras e gincanas seguidas de premiao. A tradio Cultural da Festa sofreu
modificaes ao longo do tempo. O passado, a memria e o presente dessa gente deixa vivo
na histria sua tradio carregada de significados. A partir de pesquisa com fontes orais, por
meio de entrevistas, analisou-se as narrativas dos pescadores sobre as suas memrias do
festejo, isso ser possvel atravs da metodologia da histria oral. Tambm sero realizadas
pesquisas escritas com arquivos documentais encontrados nas Colnias de Pescadores e das
prefeituras dos municpios em questo. Como embasamento terico, utilizaremos Geraldo
Silva (2001), Brando (2011), Michael Pollak (1992), Amado (1995) e Portelli (2001; 1997).
Esta proposta de trabalho ainda encontra-se em construo, visto que, faz parte de um projeto
de pesquisa em andamento. A festa representa uma tradio cultural que h muito tempo vem
fazendo parte da vida social, religiosa e econmica dos moradores.
Este trabalho resultado de um projeto de pesquisa que tem como objetivo compreender o
processo de apropriao econmica do festejo do So Joo no interior do extremo sul baiano.
Observar a leitura que o homem contemporneo faz aliado a tericos respeito da temtica
proposta no projeto, tornou-se importante para a compreenso da percepo que se tem do
tema pela prpria comunidade, para tal, utilizou-se um relatrio do Governo do Estado da
Bahia (2013) sobre os aspectos econmicos da festa de So Joo em algumas cidades do
interior baiano e autores como: Peter Berger e Thomas Luckmann (1985); Norberto Luiz
Guarinelo (2001); Cssia Lobo Assis e Cristiane Maria Nepomuceno (2008); Lcia Helena
Vitalli Rangel (2008); Rita Amaral (1998) e Jnio Roque Barros Castro (2009). Os autores
vieram contribuir para a compreenso a partir do entendimento que a vida cotidiana nos
remete a realidade, onde as festas so a reproduo do nosso cotidiano, sendo est um
conjunto de conhecimentos e prticas vivenciadas pelo povo e para o povo, ou seja, cultura
popular. Sendo as festas juninas comemoradas no pas inteiro, em que suas tradies culturais
permanecem, percebe-se as rupturas no sentido de que as pessoas no conhecem a origem do
festejo, assim como o carter religioso e social da festa que se modificaram no decorrer do
tempo. Porm, sabe-se que mesmo com o multiculturalismo e uma apropriao mercantil do
festejo, no impediu que as caractersticas primeiras se perdessem; apenas que se
modificassem. Desse modo, utilizou-se como base metodolgica a reviso bibliogrfica e a
utilizao de pesquisa oral. O comprometimento com as estratgias metodolgicas permitiram
o desenvolvimento reflexivo dos pontos-chave para a compreenso da temtica bem como a
percepo da comunidade sobre a temtica.
SIMPOSIO 07
HISTRIA, FRICA E AFRICANIDADES
Ementa: Este simpsio temtico tem como objetivo fomentar discusses em torno das
resistncias negras no ps travessia atlntica e provocar discusses sobre formao de
quilombos como experincias de resistncias convergentes entre africanos e indgenas no
Brasil. Fomentar pesquisa para compreender influncia da cultura indgena nas comunidades
quilombolas, bem como a influncia da cultura afro-brasileira e africana nas aldeias
indgenas. Apontar possibilidades de pesquisas histricas com abordagem terico-
metodolgica interdisciplinar sobre apropriaes e usos da categoria afroindgena por atores
sociais contemporneos. Discutir as emergncias tnicas a partir da perspectiva dos prprios
atores sociais.
69
Ao se pensar num Brasil com mltiplas faces culturais e tnicas, surge a necessidade de
refletir sobre a identidade do povo brasileiro e dar voz aos personagens da histria brasileira
que construram a nossa brasilidade. Nesse sentido, preciso compreender todo um processo
histrico que se inicia num perodo pr-colonial quando a ilha brasilis assim denominada
pelos europeus era habitada somente pelos povos indgenas e o perodo colonial quando os
portugueses chegam ao Brasil e o momento em que se inicia o trfico negreiro para a colnia.
Desse modo, o projeto busca no somente discutir sobre a formao da identidade, mas
provocar questionamentos no tocante a ideia de identidade nacional, bem como entender o
que instiga um indivduo a se autodeclarar brasileiro, de modo que possa identificar aspectos
culturais oriundos das trs etnias (ndios, portugueses e africanos) que inicialmente compe a
civilizao brasileira e a diversidade cultural. Segundo Milton Moura, o estabelecimento ou a
consolidao de uma identidade um processo complexo. ... numa sociedade colonial, a
identidade no se coloca como problema at o momento em que o poder metropolitano
enfrentado e posto em questo. Nesse sentido o enfrentamento entre colonizador e
colonizado proporciona as novas formulaes de identidade. Portanto, o projeto vem com o
intuito de proporcionar um novo entendimento sobre o que se discute em relao a identidade
nacional, de modo que, instigue os indivduos a questionar sua prpria concepo de
identidade e valorizar cada personagem da histria do pais e as culturas de cada povo que
juntas formam um Brasil mestio e diversificado, reafirmando o que Gilberto Freyre postula
em seu estudo a miscigenao a identidade do pas. A partir do Estagio Supervisionado II
que possibilita-nos a aplicao de minicurso em locais no formais, materializamos este
projeto buscando oportunizar discusses com os participantes, utilizando recursos didticos e
miditicos para um melhor aprimoramento. Este Simpsio contribura e nos possibilitar
agregar novas abordagens para enriquecimento do projeto em questo.
No presente artigo pretende-se discutir o conceito de raa nas suas mltiplas reprodues
histrica a partir de reviso de literatura, buscando apresentar o contexto geral a partir do
ltimo quartel. Estes estudos tm a pretenso de compor o primeiro captulo do trabalho de
concluso de curso, que visa desconstruir o entendimento do lugar social do negro pardo,
moreno, mulato, etc. enquanto representao de no-sujeito da populao negra antes,
durante e no ps-abolio. Contribui, portanto, para o constante refazer da Histria do Negro
no Brasil, pois a cada dia torna evidente o quanto o racismo no cotidiano brasileiro, pautado
numa construo histrica das relaes raciais que agrega novas estratgias, perpetua na
sociedade em questo. Camuflada na ideia de democracia racial, acaba colocando as
margens discusses que precisam fazer parte dos espaos educacionais e polticos. As
manutenes de tais perspectivas reafirmam a lgica histrica de reificar a representao do
negro na sociedade brasileira. Nesta direo este trabalho procura apresentar o contexto social
que, de maneira coercitiva, leva parte significativa da populao negra se reconhecer como
pardos. A principal hiptese desta proposta que tal contexto multirracial brasileiro
influencia o processo de invisibilidade e manuteno da reificao do ser negro, atravessada
pela ideologia racista de branqueamento que foi disseminada no Brasil onde o mestio por
hora teria a sua mobilidade social e em tempo possibilitaria a superao da degenerao e do
atraso do pas. Para delinear o objeto de pesquisa foi utilizado como metodologia, reviso
bibliogrfica, tendo como base estudos empreendidos por Appiah (1997), Guimares (1999),
Santos (2002), Skidmore (1976), dentre outros estudos que so de reconhecida importncia
para temtica. Dessa forma, busca-se propor a reflexo sobre o lugar imposto populao
negra por aqueles que historicamente ocuparam espao de privilgio, bem como discutir os
mecanismos e estratgias de resistncia da populao negra enquanto atores sociais que se
inquietaram e se inquietam com o lugar lhes reservados nas relaes sociais/raciais da
sociedade brasileira. Ter essa contextualizao geral representao local no Extremo Sul da
Bahia? possvel, a princpio, que mesmo diante de um grande nmero de pessoas negras
esse territrio de identidade promova a invisibilidade do ser negro enquanto representao
tnica-racial.
Este artigo busca apresentar elementos que integram o primeiro capitulo do Trabalho de
Concluso de Curso que esta sendo produzido, e busca discutir questes referentes
escravido, tomando as dimenses que permeiam o incio desta prtica ainda em frica, para
percebermos quais elementos provocaram as transformaes das dimenses escravistas em
algumas regies do continente, a partir da entrada de agentes externos que foram
responsveis pelo trfico transaariano e transatlntico de cativos para diversas regies do
mundo, inclusive para o Brasil. No sculo XV, quando se iniciou o processo de escravizao
realizado pelos europeus no continente africano, essa prtica no se caracterizou como um
fato novo, levando em considerao que a escravido estava longe de ser um fenmeno da
idade moderna, segundo estudos de Lovejoy (2002). A partir destas concepes, discutiremos
as aes de africanos e seus descendentes para resistirem escravido a qual eram
submetidos, das muitas formas de resistncia utilizadas por eles, discutiremos sobre a fuga e
formao de quilombos, entendendo que, onde houve o uso do trabalho escravo, ocorreram
diversas formas de resistncia. A pesquisa resultado de uma reviso bibliogrfica que se
pautou, entre outros estudiosos, em Lovejoy (2002) que discorre acerca das transformaes da
escravido interna africana a partir das invases dos agentes externos (rabes e europeus);
Albuquerque e Fraga Filho (2010) contribuem com a histria do negro no Brasil, discutindo
as muitas formas encontradas por africanos e seus descendentes contra o sistema escravocrata;
Moura (1987) contribui ao sinalizar que a formao de grupos de escravos, em locais
recanteados na floresta dentro, ia alm da inteno de se livrarem dos trabalhos forados,
nas fazendas de caf e de algodo, no plantio da cana de acar, ou nos engenhos e moinhos,
tambm sendo possvel afirmar que ali havia o desejo de preservar a cultura, crenas,
expresses religiosas e mticas trazidas do continente africano para c e que a dispora via
Atlntico no foi capaz de faz-los esquecer. A analise das leituras feitas fortalece a ideia dos
quilombos como a reproduo de uma nova frica, onde os fugidos reproduziriam antigos
costumes e formas de sobrevivncia ao tempo em que faziam ajustes relacionados ao seu
tempo presente, integrando-se no local em que se vivia no Brasil.
Palavras Chaves: Escravido, resistncia, quilombos.
72
Neste artigo apresento o Movimento Cultural Arte Manha em Caravelas como mediador de
aes representadas por diferentes atores de diferentes compreenses de pertena tnica, que
se movimentam em busca do fortalecimento de suas identidades. Destacamos a mediao
como estratgia de empoderamento do Arte Manha nas relaes com grupos de
representaes tnicas variadas, usando como pano de fundo suas mltiplas audefinies
como meio de insero e dilogo. O uso do relato e da histria de vida no formato de
gravao foi possvel atravs da produo de um documentrio realizado pelo Arte Manha na
Aldeia Renascer no dia 08/09/2013 que teve como um dos objetivos a denncia das condies
a que os indgenas daquela aldeia so submetidos. A gravao foi realizada com a
participao marcante do Cacique Bawai que relatou parte de sua trajetria e suas
perspectivas em relao ao futuro da aldeia. A partir da histria de vida de um indivduo,
nesta experincia em particular, foi possvel retratar parte da experincia da comunidade. Para
dialogar com a pesquisa utilizamos Agier (2001), Arruti (1997), Bartolom (2006) e Hall
(2000) que nos permite discutir identidade cultural, emergncia tnica e etnognese enquanto
categorias polticas aplicadas a uma experincia nativa. Assim, a pesquisa oferece dados para
reflexo como o quanto os participantes do Movimento Cultural Arte Manha, na ao de
mediar os interesses dos grupos tnicos com outros atores sociais, acabam por se inserir em
uma zona de empoderamento no seu sentido amplo.
O presente trabalho situa-se no contexto dos estudos em Histria e Cultura Afro-brasileira, tendo
como objetivo central discorrer acerca das representaes da figura do preto-velho, para constituio
de um panorama de um dos cones relativos s manifestaes histricas, culturais e religiosas da
matriz africana no Brasil. Nesse sentido, abre-se uma discusso entre questes de identidade e
memria centradas na linguagem. Este trabalho ancora-se nos estudos culturais e questes identitrias
em Hall (2013) como contextualizao ampla. Igualmente, so revisitados estudos acerca dos
elementos religiosos e histricos que envolvem a representatividade e simbolismo dos pretos-velhos,
nos termos de Santos (1999) e sobre conceitos fundamentais de memria e identidade (SOUZA, 2007;
ANDR, 2008; ALKIMIM; LOPEZ, 2009) Nesse quadro, o conceito de cultura adotado segue em
consonncia com Arantes (1990), Laraia (2014) e Chartier (1995), conceito esse que envolve
mltiplos aspectos e polifonia de vozes. A metodologia utilizada qualitativa de cunho bibliogrfico,
na confluncia interdisciplinar entre estudos histricos, da linguagem e culturais. Como resultado de
nossa revisitao terica e anlise das representaes constitudas, destacamos a construo mtico-
religiosa dessas figuras de escravos e/ou entidades espirituais como uma representao especfica de
nossa religiosidade, bem como tendo a linguagem como elemento de coeso identitria, memria,
espao das ressignificaes e de luta cultural. Nessa perspectiva, o panorama aqui constitudo pode
servir de base para estudos diversos e aprofundamentos relativos aos aspectos da diversidade e da
memria de elementos da cultura afro-brasileira centrados nas peculiaridades dessa figura nomeada de
preto-velho, em destaque ao papel da linguagem para sua concepo semitica e religiosa. Alm disso,
constatou-se que tal linguagem tem suas razes em um lento processo de contato lingustico,
endoculturao, acomodao e dominao colonial. Os traos lingusticos e o comportamento peculiar
do escravo permaneceram como uma unidade de identizao do preto-velho que so assumidas como
espritos desencarnados, de luz, mentores e/ou guias espirituais numa gama de representaes mtico-
religiosas.
O projeto tem como objetivo analisar as experincias culturais e sociais, averiguar a memria,
a ancestralidade e as tradies orais como estratgias no processo de construo da identidade
a partir da experincia da comunidade Boitaraca localizada no municpio de Nilo Peanha
baixo sul da Bahia. As formas de pesquisa estabelecida para atender os objetivos do trabalho
em questo, foram baseadas na anlise das formas simblicas de aes sociais e culturais, e
embasadas ns tericos como Tomaz Tadeu, Muniz Sodr, Alfredo Wagner, Stuart Hall,
salientando que o trabalho busca trazer reflexes a cerca da dinmica scio territorial do
Quilombo do Boitaraca, categoria de anlise que traz a tona, questes que emanam de
aspectos simblicos como, por exemplo, a cultura de um grupo social. Contudo, cabe aqui
mencionar que o estgio preliminar de uma pesquisa com culturas a etnografia, atravs de
entrevistas e outros tipos de coletas de dados com o objetivo de reconstruir as maneiras como
as formas simblicas so interpretadas e compreendidas nos vrios contextos da vida social.
As comunidades quilombolas negras no Brasil enfrentam diversos obstculos na garantia de
direitos aos seus territrios ancestrais e neste contexto de lutas identidades poltico/culturais
so criadas, recriadas ou inventadas. A escolha comunidade quilombola Boitaraca como
objeto de estudo, vem da necessidade de compreender de que forma os remanescentes
quilombolas se apropriam de sua identidade, como forma de resistncia, presentes na
formao das comunidades. Outro fato de fundamental importncia est relacionado ao grau
de parentesco com os moradores dessa comunidade.
Este trabalho parte das atividades propostas da disciplina de Histria do Brasil (Sculo XIX)
tendo como objetivo investigar o processo de apropriao dos cortios, analisando a sua
utilizao como ferramenta de contra sujeio. Partindo desta indagao inicial que fomentou
a compreenso acerca do processo abolicionista no Brasil, identificando os fatores que
levaram gradativamente os negros a conquistarem sua liberdade, no deixando de analisar as
medidas tomadas contra este novo estado social em que o negro est a se afirmar enquanto
pessoa livre. Destarte, este referente trabalho sendo uma reviso bibliogrfica necessita-se
tericos que alm de ajudar na compreenso acerca do tema provocou enxergar este perodo
histrico em outra vertente, vertente esta que proporcionou perceber maiores resistncias,
apropriaes de espaos como afirmao de liberdade que por muito foi negligenciada, sendo
assim, para uma maior contextualizao utilizou-se de Walter Fraga Filho (2006);
Albuquerque (2006) que retrata o Brasil no perodo abolicionista onde o insere numa
contextualizao deste processo, igualmente utiliza-se de Chalhoub (1990) que atravs dos
relatos pde evidenciar como esta apropriao de determinados espaos foi crucial para que
estes negros se firmassem enquanto libertos; novamente fazendo uso de Chalhoub (1996) que
analisa os cortios enquanto espao epidmico e como foi manuseados segundo os
respectivos interesses envolvidos. Utilizou-se de Schwarcz (1993) que nos apresenta como a
medicina foi utilizada para uma concepo social e estrutural na perspectiva hegemnica de
higienizao, numa forma de sanar.
SIMPOSIO 08
Aluzio Mendes
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
Aluno/Bacharelado Interdisciplinar Cincias Humanas
E-mail: aluiziooms@hotmail.com
Considerando a recente indicao da artista Arissana Patax para o prmio PIPA 2016, uma
das chancelas mais relevantes no sistema da arte contempornea brasileira, este trabalho tem
como objetivo debater as relaes entre arte indgena e arte contempornea, suas interfaces e
dissonncias tericas, e paralelismos histricos. A metodologia partiu do planejamento e dos
desdobramentos do Componente Curricular intitulado Movimentos artsticos e lingusticos
dos povos pr-colombianos e diaspricos nas Amricas, oferecido no primeiro quadrimestre
de 2016 na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Segundo a ementa da disciplina,
procurou-se abordar sistemas de pensamento, culturas, artes e lnguas que sustentam
expresses artsticas dos povos originrios das Amricas, analisados a partir de referencial
terico transdisciplinar. A partir desta proposta inicial, este trabalho alcanou como resultado
o entendimento da produo artstica indgena latino-americana nas seguintes abordagens: a)
Compreenso do momento em que se torna possvel a conjugao da esttica e da etnografia
na Histria da Arte em suas relaes com os povos originrios; b) Inter-relaes entre a
produo histrica e atual destes povos; c) Entendimento da atual situao da arte dos povos
originrios nas Amricas e sua insero nos meios de produo e circulao da arte
contempornea; d) Reconhecimento da arte dos povos originrios das Amricas enquanto
produo esttica legtima, marcada por suas especificidades autorais e regionais; e)
Apreenso de seus processos de criao enquanto heranas identitrias, passveis de serem
utilizadas em dilogo com seus prprios sistemas poticos e subjetividades.
Ra Souza Costa
Universidade do Estado da Bahia DEDC - Campus X
Bolsista do Programa de Iniciao Cientfica da FAPESB
Discente do curso de Licenciatura em Histria
E-mail: raicosta_rsc@hotmail.com
O presente trabalho fruto de pesquisa de Iniciao Cientfica e visa apresentar o modo como
Hannah Arendt aborda as experincias totalitrias ocorridas no sculo XX, destacando, sob
uma perspectiva histrica, sua tese de fim da tradio. Com essa finalidade, propomos o
seguinte percurso: 1) crtica arendtiana da historiografia positivista em relao s fontes de
pesquisa sobre os regimes nazista e stalinista; 2) as experincias totalitrias como
acontecimento central na ruptura histrica entre passado e futuro e 3) a compreenso da tese
arendtiana de fim da tradio. Isso porque, segundo Hannah Arendt, os fenmenos polticos,
sociais, militares e econmicos oriundos deste perodo, trouxeram cena histrica fatos
radicalmente novos e sem precedentes no mundo ocidental. Neste sentido, a pesquisa consiste
na reviso bibliogrfica acerca da concepo de teoria da histria possibilitando um espao de
dilogo para novas conspeces acerca da temtica. A pesquisa consiste em reviso
bibliogrfica das seguintes obras: Origens do totalitarismo (1951) e Entre o passado e o
futuro (1954) de Hannah Arendt, avanando para textos secundrios como: A Alemanha de
Hitler: origens, interpretaes, legados (2002) de Roderick Stackelberg Hannah Arendt
histria e liberdade (2012) de Snia Maria Schio e por fim, a dissertao de Mestrado
Hannah Arendt: entre a poltica e a histria (2009) de Mrcia Raquel Branco. Diante desse
percurso espera-se avanar no campo da reflexo sobre a teoria da histria colaborando para o
desenvolvimento de novas abordagens sobre as temticas em destaque no contexto desta
pesquisa a fim de abrir caminho para novas discusses acerca deste campo da histria e os
meandros pelos quais passam o seu entendimento.
Este trabalho resultado de pesquisa realizada no mbito da iniciao cientfica e tem como
objetivo apresentar o modo como Hannah Arendt aborda a crise da modernidade. Uma crise
to profunda que, segundo Arendt, resulta na decadncia das formas de pensamento que
serviram de fundamento e de referncia para o desenvolvimento da prpria cultura ocidental.
Neste sentido, propomos o seguinte percurso histrico: 1) a crise da religio, latente j nos
sculos XVII e XVIII com o avano da dvida metodolgica do campo da cincia e da
filosofia em direo ao questionamento dos dogmas e das verdades religiosas; 2) a crise da
tradio como perda do fio condutor que guiou a humanidade com segurana atravs de todo
seu passado, de modo que sem uma tradio firmemente ancorada, toda a dimenso do
passado colocada em perigo; e por fim, 3) a crise da autoridade que, segundo Hannah
Arendt, a consequncia final das crises da religio e da tradio e, por isso, consolida-se
como a crise mais emblemtica e decisiva quanto decadncia da autoridade do passado.
Com isso, Arendt traz uma importante reflexo que nos permite problematizar o centro da
crise que se abateu sobre a modernidade, a saber, o desaparecimento da autoridade no mundo
moderno. Quanto metodologia utilizada no mbito desse trabalho, consiste na reviso
bibliogrfica de textos como: Entre o passado e o futuro (1961) de Hannah Arendt,
especialmente os ensaios O que autoridade? e O que liberdade e A crise na cultura
sua importncia social e poltica; bem como de comentadores: PETRY (2012), OLIVEIRA
(2006) e ALMEIDA (2012) que abordam a origem da noo de autoridade e sua decadncia
na sociedade moderna. Tal comprometimento com as estratgias metodolgicas permitiram o
desenvolvimento reflexivo de pontos-chave para a compreenso da temtica da autoridade em
Arendt: a crise na religio, a crise na tradio e por fim a crise da prpria autoridade.
SIMPOSIO 09
Maurcio Dias
Universidade do Estado da Bahia - DEDC Campus X
Graduado em Licenciatura em Histria
E-mail: His_toriaviva@hotmail.com.
O ensino de histria tem sido foco de reflexo quanto a necessidade de romper com uma
metodologia que impe atitude passiva ao aluno, impedindo-o de atuar como sujeito do
processo de sua aprendizagem. Os PCNs (1998) trazem o ensino de Histria como um
oportunizador de realizao de cidados, estes tomando gosto pelo conhecimento, aprendendo
a aprender. Auxiliando esse pressuposto, as fontes histricas ganharam destaque, aponta
Ailton Morila (2012), e diz que a imagem e a fotografia vm recebendo ateno desde a
abertura proposta pelos Annales. Pinckler (2010) coloca que os avanos tecnolgicos digitais
prosseguiram a grande velocidade e atualmente h utilizao massiva dessas novas tcnicas e
h de se considerar a fotografia recurso visual, iconogrfico miditico. Para Pinheiro e Soares
(2011), a fotografia desde o seu surgimento esteve a servio da memria e da histria, e em
um fazer histrico baseado no cotidiano, o uso dessa ferramenta possibilita o regaste e a
preservao da memria. Chau (2011) afirma que a memria a evocao do passado e
vivemos num tempo em que a palavra de ordem mudana, a constncia perdeu espao para
o novo e o agora, imediatismo, portanto falar de memria tambm falar de permanncias e
mudanas, alm do impacto da sociedade em constante transformao. Boris Kossoy (1999)
diz que os homens colecionam pedaos do passado em forma de imagens, tendo sempre na
imagem o start da lembrana, da recordao. O estudo desse tema traz importante
contribuio quanto incluso das ferramentas miditicas, principalmente as iconogrficas e
em particular a fotografia nas aulas de Histria, e apresenta como referencial terico Le Goff
(1924), Morila (2012), Pinckler (2010), Pinheiro e Soares (2011), Chau (2011), Schmidt e
Cainelli (2009), Boris Kossoy (1999) Freud (1901), entre outros. Esse Trabalho objetiva
identificar, atravs de pesquisa bibliogrfica, entrevista semi-estruturada e pesquisa analisada
atravs de mtodos quantitativos e qualitativos, como a imagem iconogrfica, especialmente a
fotografia, possibilita a construo de memrias, discutindo o uso destas na impresso dos
sentidos e desejos de eternizar o passado. Investigando o seu uso como fonte histrica para
resgate de memrias e reconstruo do passado atravs de imagens, aperfeioa o olhar e agua
a imaginao reveladora da realidade contribuindo para uma interpretao que desperte e a
imaginao e a motivao dos alunos nas aulas de Histria.
ARTIGOS
89
INTRODUO
1
Graduado em Licenciatura em Histria pela Universidade do Estado da Bahia UNEB, Departamento de
Educao DEDC, Campus X.
2
A emancipao de Teixeira de Freitas dos municpios de Alcobaa e Caravelas se deu em 9 de Maio de 1985,
sob a lei 4452 (GUERRA & SILVA, 2010).
90
O Brasil dos anos 1950/60 passava por uma retomada do processo de industrializao,
em curso desde o perodo Vargas (1930-45), acompanhando o forte crescimento econmico
do ps Segunda Guerra Mundial (HOBSBAWM, 1995). Nesse contexto, vrios centros
urbanos se desenvolvem, no intuito de atender as demandas da industrializao. Destaca-se
nesse processo o estado de So Paulo, a partir de onde se consolidou posies regionais
diferenciadas, em que cada centro urbano buscou encontrar sua posio dentro da
diviso territorial do trabalho, conceito utilizado por Maria Sposito em seu livro
Capitalismo e Urbanizao (2012). Nesse sentido:
3
O conceito de capitalismo tardio esclarecido pelo economista brasileiro Paul Singer na apresentao que
faz da obra mxima de Ernest Mandel, O Capitalismo Tardio (1982). De acordo com Singer, Mandel atribui ao
capitalismo contemporneo a condio de [...] subfase da poca imperialista. A periodizao adotada distingue
uma fase do capitalismo concorrencial (dividida em duas subfases) e uma fase de capitalismo monopolista ou
imperialismo, dividida na subfase clssica e na subfase atual do capitalismo tardio (p. X). A subfase do
capitalismo tardio inicia-se a partir da Terceira Revoluo Tecnolgica entre 1940/45, nos EUA e nas potncias
capitalistas. Essa terceira fase da revoluo industrial ou tecnolgica distinguida pela automao eletrnica, ou
91
seja, a regulagem de mquinas por aparelhos eletrnicos (MANDEL, E. O Capitalismo Tardio. So Paulo:
Abril Cultural. 1982. p. X).
92
Com o incio da atividade de extrao da madeireira, logo se fez necessrio abrir vias
para o escoamento da mercadoria. Para Teixeira de Freitas essas estradas foram abertas
inicialmente por Eleosippo Cunha, j na dcada de 1950.
A primeira estrada aberta, que ainda permanece com o mesmo traado inicial,
compreende um trecho da Avenida Getlio Vargas (BA-290), entrando na Rua Mau,
passando pela Praa dos Lees, seguindo pela Rua Princesa Isabel, Rua Lomanto Jnior,
Avenida So Paulo at o seu final, onde a estrada se encerra encontrando com a BR-5, atual
BR-101 (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).
Aps a abertura da primeira estrada cortando o povoado, via de transporte de
mercadoria de Barcelona para o porto de Santa Luzia, em Nova Viosa, a empresa de
Eleosippo Cunha abriu uma segunda estrada, desta vez ligando a primeira estrada Fazenda
Cascata, de onde j existia uma estrada ligando a propriedade cidade de Caravelas trata-se
da atual BA-696 (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).
FIGURA 2: Mapa atual do municpio de Teixeira de Freitas, com o traado da primeira e da segunda
estrada aberta por Eleosippo Cunha (destacada em vermelho e preto, respectivamente, no mapa)
Fonte: OLIVEIRA JUNIOR, A. Ocupao e desenvolvimento do espao urbano teixeirense (1950 1970).
Teixeira de Freitas, 2015. Monografia apresentada ao Colegiado de Histria do DEDC/Campus X da UNEB.
O mapa acima destaca as duas estradas abertas pela madeireira de Eleosippo Cunha. A
primeira, destacada em vermelho, e a segunda, destacada em preto. possvel visualizar o
ponto de encontro das duas estradas, regio onde se fixaram os primeiros moradores. A
estradas posteriormente passam a delimitar os limites entre os territrios pertencentes aos
municpios de Alcobaa e Caravelas (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).
A empresa de Eleosippo Cunha foi a primeira a explorar o territrio, mas sua atividade
somente se iniciou aps a abertura das grandes estradas locais, a BA-2 e posteriormente a BR-
95
CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve sculo XX: 1914-1991. 2.ed. So Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
INTRODUO
4
Mestre em Letras Profletras / UESC. Membro do Grupo de Pesquisa Ensino de Lngua Materna e Estrangeira
UESC. Projeto financiado pela CAPES. Esse trabalho uma reconstituio do trabalho de concluso de curso
da especializao em Histria e Cultura Afro-Brasileira pela Faculdade Vale do Cricar. E-mail:
bug7raio@gmail.com
97
1 ACULTURAO E SUBJETIVIDADE
5
RAMOS, Arthur. O Folclore Negro do Brasil. Rio de Janeiro: Ed Carioca, 1954.
100
6
Essa descrio baseia-se nas informaes contidas no stio do Terreiro Pai Maneco. Disponvel em:
<http://www.paimaneco.org.br/entidades/espiritos>. Acesso em: 20 jul. 2015.
102
7
Disponvel em: <https://www.youtube.com/watch?v=jiSlMMCtSlE>. Acesso em: 20 jul. 2015.
8
Entrevista disponvel em: <https://www.youtube.com/watch?v=BRCiUyxNOOs>. Acesso em: 20 jul. 2015.
103
CONSIDERAES FINAIS
104
REFERNCIAS
MANIACKY, Jacky. O estudo das lngua africanas: por que to importante no Brasil como
na frica? In: In: COSTA, Edil Silva; LOPES, Norma da Silva; CASTRO, Yeda Pessoa de.
(orgs.). Acolhendo as lnguas africanas: segundo momento. Salvador: EDUNEB, 2010.
MINGAS, Amlia Arlete. A lngua como fator de identidade e de identizao. In: COSTA,
Edil Silva; LOPES, Norma da Silva; CASTRO, Yeda Pessoa de. (orgs.). Acolhendo as
lnguas africanas: segundo momento. Salvador: EDUNEB, 2010.
NUNES, Jorge Cesar Pereira. O pai da umbanda: Rejeitado no kardecismo, Zlio criou sua
religio. 2008. Disponvel em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/o-pai-da-
umbanda>. Acesso em: 20 jul. 2015.
______. As religies negras do Brasil: para uma sociologia dos cultos afro-brasileiros. 1996.
http://www.usp.br/revistausp/28/05-prandi.pdf 24 jun. 2015.
ROHDE, Bruno Faria. Umbanda, uma Religio que no Nasceu: Breves Consideraes
sobre uma Tendncia Dominante na Interpretao do Universo Umbandista. 2009. Disponvel
em:
<http://www.pucsp.br/rever/rv1_2009/t_rohde.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2015.
1. INTRODUO
Assim cabe ao educador perceber e reconhecer a autonomia dos seus alunos bem
como tentar lanar mo de mtodos para se alcanar uma relao entre o contedo
e a vida cotidiana desses alunos de modo que o ensino/aprendizagem possa ser
atingido e assim por meio de novos questionamentos, mudar a sua realidade.
Foi e ento que, a partir de uma preocupao local com a realidade da formao
tnica regional, com forte presena de comunidades indgenas e seus
descendentes, surgiu a ideia de realizar uma oficinasobre o assunto, cuja temtica
seria assim intitulada: Direitos dos Povos: Cultura Indgena no Extremo Sul Baiano.
A proposta dessa oficina discutir o Direito dos povos indgenas no mundo
globalizado, em especial as etnias que compem o extremo sul da Bahia,
desconstruindo tambm a ideia romantizada do ser ndio que tanto estereotipada
pela literatura brasileira e que em pleno sculo XXI ainda se reproduz tais equvocos
sobre esses povos. Observamos no Brasil o fenmeno da etnognese, o despertar
da conscincia tnica e o processo de reivindicao de direitos que so verdicos e
que lhes so garantidos na constituio. errneo dizer que o indgena invade
terras, os mesmos reocupam suas terras tradicionais, a Constituio Federal
reconhece o direito originrio dessas populaes, porm faltam outros direitos a
serem reconhecidos, como acesso a sade e educao de qualidade, segurana e
tantos outros. Mas sabemos que essas lutas no so isoladas, e sim demanda que a
maioria da sociedade brasileira tambm busca. Dessa forma h uma tentativa
deaproxim-los das comunidades indgenas da regio, em especfico os Patax,
instalados em Cumuruxatiba-Ba, distrito que pertence ao Prado-BA e est a 111 Km
de distncia da cidade em que o publico alvo vive, alm da existncia do Parque
Nacional do descobrimento bem prximo a reserva indgena.
2. DELIMITAO DO TEMA
10
Ttulo: As Caravelas Passam... Direo: Ivo Souza Realizao: Instituto Nosso Cho/CE 2000, 23
Sinopse: Atravs dos depoimentos de importantes lideranas indgenas do Nordeste e do Antroplogo Jos
Augusto Laranjeiras Sampaio, o vdeo procura desfazer preconceitos a respeito da realidade indgena do
Nordeste, mostrando a verdadeira realidade desses povos. Suas dinmicas culturais, as relaes com a
sociedade no indgena ao longo de 500 anos de contato e suas principais reivindicaes.
111
pela cabea deles, realmente provou que a oficina teve resultados melhores do que
esperamos.
Apresentou-se tambm a questo do auto reconhecimento indgena. Foram
realizadas uma srie de depoimentos por parte dos alunos e dos apresentadores da
oficina, buscando conhecer se os presentes tinham alguma relao de descendncia
com os povos indgenas. Foi descoberto inclusive que havia alguns participantes
que tinham relao hereditria com os povos indgenas, o que auxiliou no aumento
do interesse pela questo por parte dos ouvintes. Houve um momento de lanche e
descontrao e logo aps um descanso. Aps, foi retomada a discusso.
Foi apresentada uma cartilha sobre o povo indgena Patax, especificamente
do distrito de Cumuruxatiba-Ba. Foi entregue aos estudantes da oficina alguns
depoimentos dos prprios indgenas pataxs, o que foi realmente bom, pois fez com
que eles entendessem como pensam esses povos. Fez com que eles vissem algo
que no partia de uma viso exterior. Puderam perceber todo o sofrimento e o
preconceito pelos quais eles passaram; uma viso interior, de quem lutou e ainda
luta pra manter a sua cultura e resistindo a todas as dificuldades.
Realizou-se tambm, ao final das discusses, uma atividade para os alunos
presentes. Foi solicitada uma produo textual, baseada em toda a discusso que
foi realizada durante a oficina, nos vdeos que foram apresentados e discutidos, nas
charges que geraram a reflexo crtica e na cartilha indgena. Praticamente todos
levaram essa atividade realmente a srio, como se esperava. Produziram textos que
mostraram a mudana que a discusso realizara durante a oficina. Durante a
socializao dos textos produzidos, pde-se perceber que o objetivo da oficina foi
alcanado, pois os pensamentos iniciais agora estavam modificados, sobretudo a
maneira de abordar e falar acerca do tema. As palavras dos alunos demonstraram
um pensamento crtico e reflexivo, que com certeza ser passado para outras
pessoas prximas.
11Bom essa oficina teve um papel fundamental para forar o que eu pensava
a respeito dos indgenas, ela contribuiu tambm trazendo conhecimentos
fantsticos sobre esse povo no qual tenho orgulho de chamar de meu povo,
pois tenho convico de que sangue indgena correndo em minhas veias. O
triste saber que os indgenas sofrem com a represso de auto Clero,
preciso formar uma sociedade mais justa e que valorize mais a cultura
indgena. preciso que os Brasileiros e Brasileiras reconheam que os ndios
so os patriarcas da nossa cultura e merecem o nosso respeito. preciso
tambm que ns Brasileiros e Brasileiras carreguemos esta causa indgena
cobrando do congresso e do senado federal leis que beneficiam esses
povos.
11
Joo Felipe Alves Malaquias, estudante do 1 ano do ensino mdio do Colgio Estadual
Democrtico Ruy Barbosa.
113
12Eu particularmente tinha uma viso geral muito pobre sobre esses
povos to ricos em cultural e sabedoria. [...] triste saber que,
fazemos parte de uma sociedade que tem a capacidade de ser to
petulantes a ponto de se apropriar de algo que no seu, e ainda
querer ter a razo. [...]Alm de ter a terra, temos uma capacidade de
se esquecer que ndios gente, tem sentimentos, sofre, que amam o
que fazem, e quem so. Espero um dia ver meus filhos nascerem em
uma sociedade menos capitalista, mais humana e que tenham a
noo que: no tem como conquistar o que j foi conquistado.
4. CONSIDERAES FINAIS
12
Lorrane Cardoso de Almeida, estudante do 2 ano do ensino mdio do Colgio Estadual
Democrtico Ruy Barbosa.
114
5. REFERNCIAS
LUCIANO, Gersem dos Santos. O ndio Brasileiro: o que voc precisa saber sobre
os povos indgenas no Brasil de hoje. Ministrio da Educao. Coleo Educao
Para Todos. Braslia, 2006;
SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira Dos Santos e GARCIA, Tnia Maria F. Braga.
A FORMAO DA CONSCINCIA HISTRICA DE ALUNOS E PROFESSORES E
O COTIDIANO E AULAS DE HISTRIA. Cad. Cedes, Campinas, Vol, n. 67, p. 297-
115
308, set/dez. 2005 297. Acesso em: 20 de Outubro de 2015. Disponvel em:
www.cedes.unicamp.br
Introduo
Esse tema tem como importncia o resgate da memria e do passado repletos de significaes
e traz como contribuio o reconhecimento da histria local, ontem e hoje e anlise das
13
Aluna especial de Mestrado em Ensino na Educao Bsica na Universidade Federal do Esprito Santo
CEUNES/UFES - Orientador: Doutor Ailton Pereira Morila
116
[...] fornecendo condies efetivas para que os possa deparar-se com problemas,
compreend-los e enfrent-los, participar de um convvio social que lhes d
oportunidade de se realizarem como cidados, fazerem escolhas e proposies,
tomarem gosto pelo conhecimento, aprenderem a aprender ( p. 136).
Por tal pressuposto, busca-se um trabalho no ensino de Histria, atravs de uma aprendizagem
mais significativa, o qual incentiva a capacidade de pensamentos, buscando explicaes no
s no fato histrico, mas nas diferentes situaes vivenciadas num mesmo tempo histrico,
construir a noo de tempo, quando se estabelece relaes entre acontecimentos e suas
continuidades e rupturas, mediante as aes dos sujeitos de uma mesma poca ou de pocas
diferentes. Destarte, o ensino de Histria necessita de um dilogo constante e permanente
com os diversos campos do saber, elaborados em diferentes espaos, que so os saberes da
experincia, da academia, da vivncia dos alunos, da mdia, os quais se tornaro os saberes
escolares, mediados pela ao de professores e alunos. Se o objetivo da Histria a
explicao do real, do acontecido, para ajudar-nos a conhecer nosso papel como cidados h a
necessidade de inovao pedaggica para a superao das estruturas presentes no sistema
educacional brasileiro.
117
Tecendo sobre os diversos e possveis conceitos de histria, nos deparamos com Walter
Benjamim (1940), que contribui afirmando que ao narrar a histria, no deve haver distino
entre os grandes e os pequenos e que somente uma humanidade redimida poder apropriar-se
totalmente do seu passado. Vivemos em um tempo em que a palavra de ordem mudana.
As aes e atuaes do homem no mundo atual incorrem de forma descartvel, pois o que
era j no mais; a constncia perdeu espao para o novo e o agora, o imediatismo. Com o
advento da escrita, no cabia mais memria humana ser sozinha a responsvel em registrar
os fatos, reter e preservar informaes. Segundo Pickler (2010, p. 05), com o advento da
escrita, o saber torna-se disponvel, estocado, consultvel, comparvel, deixado de ser apenas
aquilo que til no dia-a-dia para ser um objeto suscetvel de anlise e exame. No
queremos dizer com isso, que a memria escrita aniquila a memria oral no auxlio da
memria biolgica. Segundo Le Goof (2003), a escrita externaliza a capacidade de
memorizao do crebro humano; assim, aparentemente, tudo possvel de ser lembrado,
uma vez que seja registrado e preservado.
Percebe-se, ento, que o esquecimento deve ser tratado de forma relevante, pois este pode ser
usado como instrumento ideolgico. Morila nos chama a ateno para a questo da
necessidade de um trabalho analtico e contextual com as imagens escolhidas ou coletadas
para uso como ferramenta ou fonte histrica no ensino de Histria.
mais evidente em um ou outro tipo de extenso da memria biolgica. De acordo com Pickler
(2010), a oral preserva o que interessa, na escrita, o que julgado convenientemente
registrado e guardado em suporte e no meio digital, no ciberespao a retirada de documentos
da rede implica em esquecimento (p. 4). Refletir sobre esquecimento fundamental para a
discusso que propomos, lembrando que a memria possui outras categorias apoiadas
atualmente na sua relao com as tecnologias da informao.
O uso o recurso miditico iconogrfico como fonte histrica, pode contribuir para que os
alunos nas aulas de Histria desenvolvam, a partir das ideias que j tem, a compreenso de
conceitos historicamente construdos pelas sociedades humanas, no nosso caso, as percepes
dos eventos de um espao, o ITF, e produzir a partir da, novos conceitos, novas
representaes, ampliando o significado e a percepo da realidade para poder transform-la.
3. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada numa abordagem qualitativa e quantitativa com objetivo de
realizar um estudo de caso no ITF, partindo de uma coleta de dados, atravs dos instrumentos
de entrevista semiestruturada e questionrio. Foi definida como populao, 40 (quarenta)
alunos do turno matutino ente 13 e 17 anos, sendo que 10 alunos da 8 srie do ensino
fundamental, turma A, 10 alunos do 1 ano do ensino mdio, turma A, 10 alunos do 2 ano do
ensino mdio, turma A, 10 alunos do 3 ano do ensino mdio, turma A, pois as turmas dessa
119
4. RESULTADOS E ANLISE
Para atingir o objetivo proposto nesse trabalho, os instrumentos utilizados para a coleta de
dados foram diversificados, sendo um deles, um questionrio aplicado aos alunos, cujo foco
estava no fotogrfico do indivduo, das formas e meios de adquirir este recurso iconogrfico e
seu uso como resgate da memria. Foram utilizados 12 perguntas fechadas e 1 aberta. Para as
questes abertas obteve-se dos 40 alunos o seguinte resultado diante das questes:
O que so memrias para voc?
a) Coisas boas ou ruins que guardamos na nossa mente.
8
6
4
2
0
8A 1A 2A 3A
Percebe-se, ento, que os alunos, em sua grande maioria, responderam que memria est
mais relacionada palavra como guardar e lembranas.
Voc possui registro de memria do Incio Tosta Filho?
120
15
10
Sim
5
No
0
8A 1A 2A 3A
Isso mostra que os alunos amadurecem e mudam de modalidade de ensino, e at mesmo quando tem
um convvio maior com a instituio se envolvem mais com os registros.
Compartilha essas memrias/lembranas do passado?
20
10 Sim
0 No
8A 1A 2A 3A
Vemos que as fotografias no s fazem parte do cotidiano e universo dos alunos, mas
tambm, ao serem guardadas, adquirem valor de vestgio histrico, tornando-se fonte
riqussima de estudo e pesquisa.
Nas questes fechadas foram obtidos os seguintes resultados:
10
Sim
5
No
0
8A 1A 2A 3A
Comprovando as reflexes do nosso estudo, essas respostas nos afirmam que as fotografias
so usadas em longa escala como recurso para resgatar lembranas.
121
Percebe-se assim, que o aparelho celular alm dele mesmo se popularizar, quase
universalizando o seu uso, tambm representa uma excelente ferramenta de armazenamento
da imagem fotogrfica.
Diante das respostas, constatamos que os alunos fazem uso da ao de fotografar, buscando
perpetuar um tempo e um espao que no futuro possam ser recapturados.
10 Cartas
5 Bibels
Fotografias
0
8A 1A 2A 3A Dirios
Podemos observar, nessas duas ltimas questes, que efetivamente a maioria dos alunos
utiliza-se de fotografias para guardar suas memrias, apropriando-se desta forma de registrar
momentos da vida para posterior recordao e que os meios empregados so diversos para o
resgate dessa memria, mas evidente a superioridade do uso da fotografia para esse fim.
Sobre isso, Carvalho (2009, p. 08), afirma que: Apesar de aparentemente mudas, as
fotografias comunicam, expressam e significam.
Nas questes fechadas, cinco professores responderam que costumam guardar suas memrias,
trs responderam que s s vezes e um raramente. Responderam ainda, que os meios que
utilizam, cumulando opes, so: nove professores armazenam fotografias em pendrive ou
carto de memria, oito responderam fotografias impressas, um em vdeos VHS, dois em
vdeos no celular e quatro no Facebook.
Na pergunta seguinte Voc possui registros de memrias do ITF?, Oito responderam sim e
dois no. Em Compartilha com algum essas memrias?, sete responderam sim e trs no.
E na pergunta Costuma guardar suas fotografias?, sete responderam sim e trs no. Na
ltima pergunta, J utilizou algumas dessas fotografias do ITF para algum trabalho escolar
que envolvesse resgate da memria do Colgio?, trs professores responderam sim e trs
no.
123
Diante das respostas dos professores, observamos uma similaridade s respostas dos alunos,
nos provando que a fotografia fonte histrica rica, simples, de uso social, individual e
coletivo, porm constatamos que muito pouco aproveitada como recurso pedaggico, quando
poderia fazer parte do cotidiano escolar na busca e estmulo a um pensamento reflexivo.
A pesquisa realizada junto aos funcionrios e equipe gestora do ITF teve como instrumento
para coleta de dados uma entrevista semiestruturada.
5. CONSIDERAES
Ao compararmos os resultados dos dados obtidos na pesquisa, tanto nos questionrios quanto
nas entrevistas, com as ideias dos tericos analisados na pesquisa bibliogrfica, constatamos
que apesar da fotografia ser um recurso miditico de fcil acesso, principalmente pelas
camadas populares, aja vista que esta foi, com o passar dos anos, sendo incorporada ao mundo
tecnolgico digital, especialmente no celular e nas redes sociais de comunicao e
informao, principalmente o Facebook, tem sido pouco utilizada pela escola como fonte de
124
pesquisa e vestgio histrico como tambm pouco manuseada como ferramenta nas prticas
pedaggicas cotidianas por parte dos professores, inclusive os da disciplina de Histria.
Percebemos, ainda, que a prpria entidade escolar no contempla este recurso miditico
iconogrfico como acervo histrico, no tratando de forma adequada para preservao o seu
material fotogrfico, inclusive, no foi possvel a mim, como professora de Histria da
unidade de ensino pesquisada, realizar paralelamente as atividades, a de pesquisar e a de
inovar pedagogicamente, pelo menos no que concerne ao resgate histrico do ITF pelas
fotografias, em virtude da escassez desse acervo.
REFERNCIAS
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e tcnica, arte e poltica. Ensaios
sobre literatura e histria da cultura. Traduo: Srgio Paulo Rouanet. So Paulo:
Brasiliense, 1987, p. 222- 232.
LE GOFF, Jacques, 1924 Histria e memria / Jacques Le Goff; traduo Bernardo Leito.
[et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. (Coleo Repertrios)
MORILA, Ailton P. Dilogos sobre o ensino de Histria. So Mateus/ES: Ed. Do Autor, 2012.
INTRODUO
14
Graduando em Histria pela UNEB, Campus X. E-mail: diogenessantana.ds94@gmail.com
15
Graduanda em Histria pela UNEB, Campus X. E-mail: jasminlimas.jl@gmail.com
16
Professor da UNEB, Campus X. Orientador. E-mail: tyry@tdf.com.br
17
Professora da UNEB, Campus X. orientadora. E-mail: gislainercs@gmail.com
127
alunos como meros observadores da histria e no seres crticos e participantes dela. Hoje, na
educao do ensino de Histria o professor educador tem como papel fundamental transmitir
a disciplina de forma em que o aluno possa se ver como agente participante da historia, tendo
o dever de situar o aluno no mundo tornando-o um ser crtico, poltico e social.
Mediante a esses questes preciso identificar quais as falhas que o ensino de histria
em sala de aula ainda comete e como isso pode prejudica a formao dos alunos, a fim de ter
uma melhor compreenso de como aplicar a matria de histria, levando sempre em conta a
viso do aluno em relao disciplina, o vendo no como um ser disposto apenas para
aprend-la, mas sim como sujeito de interao com a disciplina, pois ele tambm um sujeito
histrico. Diante dessa percepo, ser debatida sobre o ensino de histria, sua aplicabilidade,
o papel do professor, metodologias e didticas e como a forma de se aplicar e ver o ensino de
historia pode influenciar no desenvolvimento do aluno. Para tanto, ser feita a anlise entre os
fundamentos terico-metodolgicos da Histria e o processo de ensino/aprendizagem de
Histria, a fim de reforar nossa linha de pesquisa e fortalecer que a educao o fator
primordial na formao do indivduo na sociedade, mas que, muitas das vezes, no atende as
necessidades de todos os indivduos. Para enfatizar essas questes, de acordo com Leandro
Karnal (2004, p. 10) comum ver professores frustrados porque no conseguiram dar toda
a matria ao longo do ano letivo. Ensinar histria sempre se constitui num desafio para os
professores, considerando sua abrangncia, complexidade e as no poucas dificuldades dos
alunos para com o estabelecimento de relaes com tempos e pocas histricas. Circe
Bittencourt entende que; Um primeiro desafio para quem ensina Histria parece ser a
explicao da razo de ser da disciplina [...] (2009, p. 11). Percebe-se ai que a educao
128
Outro ponto a se observar tambm como vem sendo manejado o livro didtico pelos
professores que se utiliza desse recurso como nica ferramenta de ensino. De acordo com
Freitas, ainda hoje os segmentos de anlise se intitulam: o professor e os livros didticos, que
j no novidade t-los como protagonistas em discusses dessa alada. Ou seja, em grande
parte das vezes, a escolha do livro didtico constitui-se no principal meio de trabalho dos
educadores e servindo de base de conhecimento para os alunos, que cada vez mais se valem
desse objeto como se os mesmo carregassem em si a verdade absoluta das coisas, porque os
professores ficam presos aos contedos dos livros, deixando de lado o conhecimento de
mundo do aluno ao invs de trabalhar assuntos que envolvam sua realidade, relacionando-a
com contextos passados. Assim fica notrio que a realidade do ensino de histria valoriza
muitas questes passadas como nicos e verdadeiros acontecimentos histricos, deixando
muitas vezes de construir o conhecimento concreto a partir do que j existe sem desvalorizar
as informaes historicamente construdas. Contudo cabe tambm afirmar que alguns
professores acabam no utilizando desse conhecimento de forma adequada, isto , no
possibilitam ao aluno uma viso de mundo do seu contexto.
Cabrini (2000) ainda ressalta que ensinar histria a partir da ntida diviso entre o
saber e o no saber configura-se como um produto acabado e pronto como se fosse uma
verdade absoluta transmitida pelo professor e at mesmo pelos livros didticos e faz com que
o aluno no se preocupe com as condies deste produto acabado, ficando dessa forma
prisioneiro a uma concepo teolgica do conhecimento do passado, ou seja, o que passado
aos alunos so contedos geralmente j cristalizados no ensino da histria que por muitas
das vezes, fogem da realidade histrica e da realidade imediata por eles vividas
impossibilitando-o ao indagamento sobre a sua prpria realidade individual, da sua famlia,
da sua classe e principalmente da historicidade. Segundo o autor, muitos dos problemas
emergidos na educao afetam direta e indiretamente a forma como repassado os contedos
129
das disciplinas em sala de aula. Nesse sentido, muitos dos problemas mesmo que externos
escola refletem no dia-a-dia da sala de aula. Entretanto, Cabrini destaca que como seres
humanos estamos em construo, e por conta disso no podemos deixar de perceber que a
nossa sociedade est passando por mudanas, e essas mudanas esto chegando s escolas
numa poca de quebra de paradigmas, onde os alunos esto chegando s escolas com
conceitos e valores diferentes daqueles que os professores foram educados, causando de certa
forma um descompasso entre a realidade em que o professor foi educado e a realidade em que
os alunos vivem hoje.
Mediante a essa percepo, de acordo com Ernesta Zamboni citada pela autora,
importante que o professor saiba problematizar o contedo realidade cotidiana para que
possa criar condies para que o aluno pense sobre ele, argumente e fundamente suas
opinies. Essa questo de problematizar o contedo exige que o aluno pesquise, levante
hipteses, classifique-as e passe a um processo de comprovao ou rejeio com argumentos
da hiptese escolhida, pois a problematizao vai ampliar possibilidades de reflexo fazendo
com que o aluno fuja da tradicional memorizao ou decoreba dos fatos e acontecimentos.
Dessa maneira a escola no tem apenas a funo de preparar os cidados para o mercado
competitivo de trabalho, mas tambm salientar de que escola tem em sua essncia formar
pessoas para a cidadania, ensinando os valores que permeiam na sociedade, sobre tudo
quando se pensa em igualdade e justia social, onde o professor tambm uma importante
figura nesse processo, por isso funciona como um mediado de saberes que precisa ter o
compromisso com sua profisso, trabalhar em conjunto com os demais educadores, para que
concretize de fato uma educao de qualidade, que avalie o aluno como ser pensante, sem
desprezar seus conhecimentos. Schmidt orienta que o professor de Histria trabalhe a partir da
problematizao, superando a passividade, caractersticas do alunado receptivo:
Assumir efetivamente a opo pela transformao exige mais que simples leituras
bibliogrficas orientadoras para tal. Cabe ao professor, em conjunto com seus alunos, o
potencial transformador do ensino de Histria, bem como desenvolver estratgias que
envolvam a ambos. Assim, o professor em sua prtica deve ser alm de professor um
educador. Somente repassar o conhecimento obrigatrio de sua disciplina no atende mais s
necessidades de pessoas que j chegam escola moldadas pelas mudanas sociais,
econmicas, culturais e tecnolgicas de sua vida cotidiana.
Aprovados 18 10 19
Reprovados 14 22 11
132
Pode-se notar a partir dai que a turma no conseguiu evoluir de forma positiva na
disciplina no decorrer do ano, nota-se que a cada unidade o nmero de alunos reprovados na
matria quase a mesma mdia ou superior ao nmero de alunos aprovados, tendo apenas o
terceiro semestre como o melhor rendimento do ano em que se tem um nmero maior de
aprovao, no entanto a mdia da turma foi 6,0 mostrando que embora o nmero de
aprovados possam ser maiores nesta unidade, a nota ainda baixa, sendo que incluindo no
nmero de alunos aprovados encontra-se entre eles uma boa parte que j se encontram
reprovados no ano letivo por no terem a condio de alcanarem a mdia total de 20 pontos
no final do ano, os levando assim diretamente ao conselho de classe. Isso mostra claramente o
rendimento da turma na disciplina de historia durante o ano.
Com base nestas respostas pode-se claramente ver que a viso dos alunos sobre o
ensino de historia tem como finalidade apresentar o passado, sendo assim representada como
uma matria responsvel por contar histrias antigas. Diante disto perguntamos aos alunos
qual era a opinio de cada um sobre o objetivo da disciplina, onde tivemos 8% da turma que
deram como resposta Expor o contedo didtico, 2% responderam Para levar o aluno se
tornar um ser critico sobre o meio em que vive, 20% deram a resposta Debater sobre os
assuntos que ocorre no mundo e 70% dos alunos responderam Contar histrias antigas.
Com isso vemos claramente qual a viso dos alunos a respeito ao ensino de historia,
133
sabendo assim que a turma enxerga a disciplina como uma exposio de historias ou apenas
para debater assuntos atuais, o que fica claro que o ensino de historia no tem alcanado seu
real objetivo.
Com isso, fica claro que a viso do professor em relao a turma de que as
dificuldades notrias e que h sim o reconhecimento de um baixo rendimento na disciplina,
porm no se descarta o todo, pois alguns objetivos esto sendo alcanados com o tempo,
provando assim que a aprendizagem um processo trabalhado ao longo do prazo.
CONSIDERAES FINAIS.
REFERNCIAS:
WINCH, Marta Valquria. O Ensino da Histria: O Olhar do Aluno. Srie: Cincias Socais
e Humanas, Santa Mari, V.2, n.1, p.37-48, 2001.
135
RESUMO
A LEI 11.684/2008 que torna obrigatria a Filosofia enquanto disciplina escolar impulsionou
o debate acerca da Filosofia, dos contedos que so trabalhados e a forma como so
trabalhados. Seu ensino tem sido alvo de investigaes constantes por parte dos educadores,
com o objetivo de desenvolver uma metodologia especfica para seu ensino e prtica. No que
concerne ao currculo de Filosofia havia escolas que priorizavam temas filosficos, como
tica, Lgica, entre outros; em detrimento da Histria da Filosofia. Por outro lado, havia
tambm, escolas que priorizavam a Histria da Filosofia, fazendo desta o prprio contedo da
disciplina. O professor de Filosofia recorre a uma metodologia e didtica para suas aulas que
Rancire (2000) chama de lgica da explicao, que segundo o filosofo francs embrutece e
no d autonomia. O presente estudo se props a investigar o ensino de Filosofia no Ensino
Mdio, no intuito de analisar o seguinte problema: h uma didtica e uma metodologia
especficas para ensinar Filosofia? O que ensinar e como ensinar? Foi tomada como
referencial terico o pensamento de Cerletti (1999), Deleuze (1992), Gallo e Kohan (2000),
Lipiman (1994), Lorieri (2002), Navia (2004), Rancire (2000) entre outros, para a
investigao, anlise e interpretao da realidade acerca do ensino de Filosofia no Brasil. E
justamente a metodologia desenvolvida por Silvio Gallo para o ensino de Filosofia no Ensino
Mdio que destacaremos nesse estudo.
INTRODUO
A obrigatoriedade do ensino de Filosofia pela LEI 11.684/2008 impulsionou o debate
acerca da Filosofia, dos contedos que so trabalhados e a forma como so trabalhados. Seu
ensino tem sido alvo de investigaes constantes por parte dos educadores, com o objetivo de
desenvolver uma metodologia especfica para seu ensino e prtica. No que concerne ao
currculo de Filosofia havia escolas que priorizavam temas filosficos, como tica, Poltica,
Lgica, entre outros; em detrimento da Histria da Filosofia. Pois, tratar filosoficamente
determinados temas, articulando-os com questes filosficas, pode ser muito difcil para um
professor que no tome para si mesmo a Filosofia como um exerccio de reflexo constante.
(TOMAZETTI, 2002, p. 72). Por outro lado, havia tambm, escolas que priorizavam a
Histria da Filosofia, fazendo desta o prprio contedo da disciplina. Sobre esse aspecto
Gallo e Kohan afirmam que no se pensa filosoficamente sem o recurso a uma histria de
mais de dois mil e quinhentos anos (GALLO e KOHAN, 2000, 194). No entanto, eles
advertem que:
A remisso Histria da Filosofia no pode significar um retorno ao mesmo: essa
remisso deve ser essencialmente crtica e criativa [...] retomar um conceito
problematiz-lo, recri-lo, transform-lo de acordo com nossas necessidades, torn-
lo outro (GALLO e KOHAN, 2000, p. 71).
Nem Kant nem Dewey recusavam o trabalho de ensino com os contedos: ambos o
defendiam. Mas no queriam que os alunos simplesmente os repetissem sem t-los
compreendido. Dewey dizia que os contedos devem ser tomados como dados com
os quais o aluno deve "construir" (ou reconstruir) um conhecimento necessrio
situao problema na qual ele se encontre. Da a importncia que dava colocao
adequada de questes problematizadoras, no apenas retoricamente, mas
significativamente colocadas (LORIERI, 2002 p. 4).
Para que se consiga dar conta dessa formao crtica, os contedos de ensino merecem
ateno especial, pois se deve pensar na elaborao de uma programao a partir da qual o
aluno se sinta envolvido com a Filosofia. Esse envolvimento s possvel atravs do
encantamento pelo filosofar que pode lev-lo a problematizar a realidade, proporcionando a
construo de uma forma autnoma de pensar, objetivo principal da Filosofia no Ensino
Mdio. A seleo de contedos , sem dvida, um dos principais desafios, atualmente, quanto
ao ensino de Filosofia no nvel mdio.
A educao atual, com raras excees, no exige que o estudante tome uma posio
crtica diante dos problemas. Nesse contexto pouco propcio ao filosofar, o ensino da
Filosofia muitas vezes se restringe a uma transmisso de contedos cujo objetivo fazer com
que o aluno acumule o mximo de informaes possveis no pouco tempo que lhe
reservado. Sobre isso Nietzsche, na obra Schopenhauer como educador, tece severas crticas
ao sistema educacional da Alemanha do sculo XIX. Afirmava que os alunos decoravam
diversos sistemas filosficos sem que houvesse real aprendizado, eram submetidos a provas e
depois das provas esqueciam tudo aquilo que supostamente aprenderam. Podemos perceber
que esse problema ainda se reflete no ensino atualmente.
[...] princpio de uma regresso ao infinito: a reduplicao das razes no tem jamais
razo de se deter. O que detm a regresso e concede ao sistema seu funcionamento
, apenas o fato, que o explicador seja o nico juiz do ponto em que a explicao
ela mesma explicada. [...] O segredo do mestre saber reconhecer a distncia entre a
matria ensinada e o sujeito a instruir, tambm a distncia, entre aprender e
compreender (RANCIRE, 2002, p. 18).
O professor de Filosofia recorre a uma didtica para suas aulas: a explicao. Essa
postura carrega implcita a crena de que aquele que explica o detentor dos conhecimentos
filosficos necessrios que lhe permitem assumir a responsabilidade de transmitir os
contedos da Filosofia queles que no o possuem.
Assim, o professor teria como funo ser o mediador entre o texto filosfico e o aluno,
com o objetivo de romper a barreira que, supostamente, existe entre aquilo que o aluno leu
nos livros de Filosofia e as falhas na compreenso que ele possa ter tido em sua leitura. E aos
alunos cabe compreender o que os filsofos disseram, compreender a estrutura das grandes
obras filosficas, tendo como base para a compreenso a explicao do professor. Para que
dessa forma eles consigam repeti-las em um exerccio de pretensa erudio.
138
importante que todo jovem, ao ter contato com a filosofia, possa desenvolver
experincias de pensamento, aprendendo a reconhecer e a produzir, em seu nvel,
conceitos, a fazer a experincia da crtica e da radicalidade sobre a sua prpria vida,
a desenvolver uma atitude dialgica frente ao outro e ao mundo e,
fundamentalmente, possa aprender uma atitude interrogativa frente ao mundo e a si
mesmo. Pensamos que uma educao para a autonomia, no sentido da formao de
indivduos que possam escolher por si mesmos em que mundo querem viver, s
pode ser tal se nela tiver lugar a filosofia (GALLO e KOHAN, 2000, p. 195).
os alunos serem tocados, afetados para que eles vivam o problema. Para isso, o professor pode
utilizar de elementos no filosficos, tais como filmes, peas teatrais, msicas, poemas.
A prxima etapa seria a da Problematizao que consiste em tornar os temas em
problemas. Problematizar todos seus aspectos de diferentes perspectivas. Para fazer com que
desperte no aluno o desejo de buscar solues.
Em seguida tem-se a Investigao que consiste em buscar elementos que permitam a
soluo dos problemas. A investigao filosfica consiste em fazer com os alunos busquem
na Histria da Filosofia os conceitos que possam, atravs desses conceitos, pensar o problema
levantado.
E por fim tem-se a Conceituao que consiste em recriar os conceitos encontrados na
etapa da Investigao para que nossos problemas sejam equacionados, ou at mesmo que os
alunos criem novos problemas.
O segundo mtodo o Mtodo Regressivo que parte do conceito para o problema.
Sobre o Mtodo Regressivo Gallo diz que podemos considerar como pistas para um mtodo
regressivo para o ensino de filosofia seria a busca do problema ou do conjunto de problema
que engendrou o conceito de um determinado filsofo (GALLO, 20012, p. 111). Para tal
empreita Gallo prope que o professor quatro procedimentos.
O primeiro consiste em escolher um texto ou uma parte de um texto de um filsofo; o
segundo procedimento ler esse texto com os alunos; depois evidenciar o conceito proposto
pelo filsofo nesse texto; e por fim, investigar o problema ou os problemas que moveram o
filsofo a criar tal conceito.
dessa forma, partindo desses mtodos, que Slvio Gallo tenta romper com o ensino
que se apresenta mais anti-filosfico que filosfico, vislumbrando um ensino de Filosofia que
consiga despertar no aluno o senso filosfico e a experincia do pensamento.
CONSIDERAES FINAIS
Esse estudo nos revelou que o ensino de Filosofia est no centro das preocupaes dos
profissionais da rea. E que os problemas referentes ao seu ensino so muitos e no podem ser
tomados como um problema meramente didtico-pedaggico, mas como um problema
filosfico. Percebemos, tambm, que no existe um currculo, uma didtica e uma
metodologia para seu ensino, mas que existem diversas propostas que se surgem de acordo a
concepo de Filosofia que cada autor tem acerca da Filosofia.
abordados em aula se apresenta insuficiente, muitas vezes, para desenvolver no estudante uma
atitude filosfica. Onde prevalecem os conhecimentos prontos visando uma assimilao
mecnica. No havendo tambm uma didtica nem uma metodologia prpria para o ensino de
Filosofia. Destarte, perceptvel que h possibilidades diversas de se trabalhar a Filosofia em
sala de aula. E vrios autores sugerem, medida de como concebem a Filosofia, uma
metodologia diferente, mas despertadora de experincia filosfica.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
CERLETTI, A.A. O ensino filosfico e a reflexo sobre o presente. In: Kohan, W.O.; Leal,
B. (Org.). Filosofia para Crianas. Petrpolis: Vozes, 1999.
_______. KOHAN, W. O. A Filosofia no Ensino Mdio: caminhos para pensar seu sentido.
Trad. de Norma Guimares Azeredo. Braslia: UNB, 1999.
GALLO, Slvio. CORNELLI, G. DANELON, M. (Orgs). Filosofia do Ensino de Filosofia.
Petrpolis, Vozes, 2003.
RESUMO
Os Jesutas trouxeram para o Brasil, junto com o catolicismo, a educao, marcando o incio
de sua histria na colnia e o suporte ideolgico necessrio estruturao e manuteno da
sociedade exploratria e dos privilgios da classe dominante, os quais no poderiam se
solidificar apenas na fora do aparelho repressor da Coroa. A pedagogia utilizada pelos
jesutas definia-se em transformar ndios em bons cristos, instru-los nos hbitos de trabalho
dos europeus. Os colonizadores tendiam forosamente a concentrar todo seu pensamento e
todos os seus esforos na explorao e defesa das colnias. Identifica-se que a educao no
lhe interessava seno como meio de submisso e de domnio poltico, que mais facilmente se
podiam alcanar pela propagao da f, com a autoridade da Igreja. Foi tomada como
referencial terico o pensamento de Almeida (2000), Azevedo (1971), Bourdieu (2014),
Cambi (1999), Sodr (1994), Stoer (2008), Veiga (1992) entre outros, para a investigao,
anlise e interpretao da realidade histrico-educacional da colnia brasileira. Ao longo do
estudo, conclui-se que somos herdeiros de uma histria, cujos alicerces so profundamente de
base autoritria e alheia aos interesses da coletividade. Os interesses religiosos e polticos da
Companhia de Jesus, sem dvida, moveram a ao educativa desses padres, que encontraram
no ensino, um meio eficaz de submisso e domnio. O sentido da educao, portanto, na
dominao fica bastante evidente, referindo-se a um sentido de educao basicamente elitista.
Palavras-chave: Jesutas. Ensino. Dominao. Educao.
INTRODUO
A Histria da educao no Brasil tem incio com a chegada dos jesutas no final da
primeira metade do sculo XVI. Responsveis pela realizao de obras que deixam
consequncias marcantes para nossa cultura e civilizao. Assim afirma Azevedo:
A ordem jesutica foi fundada por Incio de Loiola, em 1534, aprovada pelo Papa
Paulo III, em 1540, por meio da bula papal Regimini militantis ecclesiae18. A Companhia de
Jesus foi criada no esprito reformador da Igreja Catlica, denunciando, da mesma forma
que outras ordens que a precederam, o estado tido como pouco cristo que as ordens
religiosas tradicionais se encontravam (COSTA, 2004, p. 32).
Essa congregao surgiu em uma poca de lutas religiosas. Essas lutas, que tinham
como armas a f inabalvel, a disposio a todos os sacrifcios e a disciplina exemplar,
tornaram seus missionrios uma fora eficaz contra o protestantismo e implantao do poder
da Igreja entre os povos infiis, colaborando tambm, com a conquista e colonizao das
terras alm mar.
Por 210 anos, de 1549, quando chegaram ao Brasil, at 1759, quando se deu a
expulso dos mesmos pelo Marqus de Pombal, foram praticamente os nicos educadores do
Brasil. De acordo com Romanelli (1997), subordinando-se aos imperativos do meio social, o
sistema educacional dos jesutas, pde permanecer inviolvel, aumentando a cada dia as
fileiras de fiis e servidores. No dizer de Sodr (1994):
O ensino jesutico, por outro lado, conservado margem, sem aprofundar a sua
atividade e sem preocupao outras seno as do recrutamento de fiis ou de
servidores, tornava-se possvel porque no perturbava a estrutura vigente,
subordinava-se aos imperativos do meio social, marchava paralelo a ele. Sua
marginalidade era a essncia de que vivia e se alimentava (SODR, 1994, p. 17).
por isso que Gilberto Freyre, examinando a questo a essa luz, do contato e
choque de duas culturas, e da atitude dos jesutas em face desse conflito, considera o
missionrio como o grande destruidor de culturas no europeias do sculo XVI ao
atual, e a sua ao mais dissolvente que a do leigo. Os jesutas, sob esses aspecto,
foram de fato, puros agentes europeus de desintegrao de valores nativos
(AZEVEDO, 1971, p. 517).
O principal objetivo dos integrantes da Companhia de Jesus pelas colnias das grandes
potncias europeias da poca como, Portugal e Espanha, se constituiu como uma reao ao
crescimento da influncia das ideias luteranas, tendo como objetivo o combate s crticas
reformistas e expanso do protestantismo. Tornando-se, tambm, um elemento crucial na
colonizao brasileira.
Com base slida no reino de Portugal, a Igreja Catlica se interessou em trazer a sua
religio para a nova colnia, visando, principalmente, converter os gentios que existiam, por
meio da fundao de aldeias indgenas destinadas catequese, e oferecer educao aos filhos
dos colonos, com a criao de colgios educacionais e seminrios. Por isso que, segundo
Abreu (1971), em todas as esquadras que partiam de Portugal havia pelo menos um
representante da Igreja Catlica a bordo.
no governo de Tom de Souza que a histria religiosa regular na colnia teve incio,
e com ele chegaram ao Brasil, em 1549, os jesutas, chefiados por Manoel da Nbrega, que
juntamente com Jos de Anchieta, realizaram um trabalho de religioso e de civilizao, j que
consideravam os ndios povos que careciam de civilizao. Iniciaram seus trabalhos
dedicando-se catequese entre os ndios, ensinando-lhes os princpios bsicos da religio
catlica, combatendo o contato deles com os europeus, a poligamia, o antropofagismo.
Dedicaram-se, especialmente, evangelizao dos curumins, alm de ensina-lhes a ler e a
escrever em lngua portuguesa.
O plano jesuta de catequizar e educar foi implementado rapidamente. Onde quer que
abrissem uma igreja, tambm, abriam uma escola. E acontecia to rapidamente que na Bahia,
enquanto se fundava a cidade do Salvador, quinze dias depois de chegarem os jesutas, j
funcionava uma escola de ler e escrever (AZEVEDO, 000, p. 511). E isso foi se expandindo
medida que o domnio territorial do portugus tambm se expandia
Outro jesuta de destaque foi Pe. Anchieta, que por volta de 1555, um ano aps a
fundao do colgio na aldeia de Piratininga, ponto mais avanado na ofensiva da catequese e
da colonizao, orgulhava-se dos jesutas terem ali uma grande escola de meninos ndios bem
instrudos na leitura, escrita e bons costumes. Para esse trabalho, que tinha a participao de
todos, Anchieta compunha canes, escrevia pequenas peas de teatro e organizava
compndios, que copiados e recopiados, se tornaram de uso corrente em quase todos os
colgios.
Jesus no final do sculo XVI tornou mais difcil a troca de informaes bem como a
unificao desejada.
Na primeira verso, no ano de 1586, esse plano foi desenvolvido segundo o currculo
de aulas, tratando-se de um programa de lies e de exerccios graduados que partia do curso
de teologia para chegar na mais simples aula de gramtica. Na segunda e terceira verses,
datada em 1591 e 1599, respectivamente, o plano se desdobrava de acordo com as funes de
cada jesuta.
O padre Jos de Anchieta, por exemplo, contribuiu muito na converso dos gentios,
utilizando como instrumento o teatro, a servio de Deus e o rei portugus, pois a prioridade e
o sentido do seu teatro eram a formao de um ambiente cultural portugus e cristo,
facilitando a converso dos ndios, ou seja, ensinando-os a no comer carne humana, no ter
mais que uma mulher e serem amigos do portugus e muito mais dos padres, que cuidavam
deles. Dessa forma, observa-se que o teatro constituiu um veculo eficaz de aculturao dos
povos nativos. O teatro um recurso para a catequese portanto, para a educao e parte
integrante do projeto colonizador lusitano (FERREIRA JR E BITTAR, 2004, p. 174).
Os jesutas privilegiaram a educao dos curumins (crianas ndias), que tiveram papel
fundamental na propagao da f e ensinamentos da lngua portuguesa. Pois, os curumins
eram instrudos pelos jesutas, e em seguida saiam pelas aldeias a ensinar seus pais em sua
prpria lngua. E para fortalecer a ensino e aprendizado dos curumins, os jesutas solicitaram
ao rei que enviasse para o Brasil alguns rfos do rei, como eram conhecidas as crianas que
ficavam sob os cuidados de instituies caridosas mantidas pela Coroa, para que as crianas
portuguesas interagissem com as crianas ndias, de forma a aprender sua lngua e ensinar-
lhes a lngua do branco.
para a catequese continuada. Em outros termos, o ensino elementar era, para os jesutas,
apenas um instrumento de catequese e a base para a organizao do seu sistema. No havia,
para os ndios, uma formao abrangente. Aprendiam a ler e escrever com o objetivo da
catequizao, enquanto os filhos dos colonos, descendentes de europeus, eram instrudos.
Todo poder de violncia simblica, isto , todo poder que chega a impor
significaes e a imp-las como legtima, dissimulando as relaes de fora que
esto na base de sua fora, acrescenta sua prpria fora, isto , propriamente
simblica, a essa relaes de fora. (BOURDIEU E PASSERON, 2014, p. 25).
Impondo a cultura europeia aos ndios e tambm aos africanos escravizados, os padres
jesutas reproduziam uma prtica pedaggica que pode ser considerada como violncia
simblica. Com a ideia de que os ndios no eram civilizados e que havia a necessidade de
trazer a civilizao para esses povos, os europeus, na figura dos jesutas, impuseram sua
cultura e seu modo de vida, constituindo, desta forma, uma violncia simblica e um arbtrio
cultural.
Neste caso as atividades educativas dos padres jesutas podem ser consideradas as
responsveis pela implementao e consolidao da educao formal na sociedade brasileira
colonial por se tratar de uma definio formal da comunicao. No entanto, mesmo tendo um
carter formal de educao no havia uma ao pedaggica adequada aos nativos, pois a
educao estava vinculada aos interesses objetivos, materiais e simblicos, das classes
dominantes, as que detinham relaes de fora em sua base, ou seja, aos interesses dos
colonizadores. Pois, os ndios eram catequisados e os filhos dos colonos ou descendentes de
europeu eram instrudos.
A fora simblica de uma instncia pedaggica define-se por seu peso na estrutura
das relaes de fora e das relaes simblicas (exprimindo sempre essas relaes
de fora) que se instauram entre as instncias exercendo uma ao de violncia
simblica, estrutura que exprime por sua vez as relaes de fora entre os grupos ou
as classes constitutivas da formao social considerada. pela mediao desse
efeito de dominao da ao pedaggica dominante que as diferentes ao
pedaggica que se exerce nos diferentes grupos ou classes colaboram objetiva ou
indiretamente na dominao das classes dominantes (inculcao pelas ao
pedaggica dominadas de conhecimento ou de maneiras, dos quais a ao
pedaggica dominante define o valor sobre o mercado econmico ou simblico)
(BOURDIEU E PASSERON, 2010).
CONSIDERAES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
A proposta deste trabalho analisar como utilizada a memria e a cultura local nas
aulas de Histria do Ensino Fundamental I da rede municipal de Conceio do Coit. O
municpio est localizado no oeste baiano, na microrregio de Serrinha; tem mais de 60 mil
habitantes e 82 anos de emancipao poltica; na economia se destaca o cultivo e comrcio do
sisal; a religio um ponto em destaque no municpio, que tem como padroeira a Nossa
19
Graduanda em Licenciatura em Histria, Bolsista de Iniciao Cientfica FAPESB
geniclecialima94@gmail.com
20
Graduanda em Licenciatura em Histria, Bolsista de Iniciao Cientfica FAPESB
raylla.roberta@hotmail.com
21
Doutora em Estudos tnicos e Africanos pela UFBA irisveren@gmail.com
151
A fonte que usamos para anlise so as fichas pedaggicas do ano letivo de 2015,
documento produzido nos planejamentos por docentes e coordenadores pedaggicos do
municpio e que nos foi cedido pela Secretaria de Educao Municipal. Buscamos identificar
nessas fichas onde o professor encaixa o uso da memria e da histria local nas aulas de
Histria. Tivemos acessos s todas as fichas do planejamento de todo o ano letivo de 2015 da
rede municipal, para todas as series do ensino Fundamental I, de todas as unidades.
Outro fator comum presente nas fichas o uso de diversos recursos para enriquecer as
aulas. Fica claro que tais matrias tornam as aulas mais atrativas e dinmicas para os alunos.
Consequentemente, o trabalho do professor fica mais agradvel. Nas fichas, so mencionados
152
os usos de msicas contextualizando com os contedos das aulas, bem como poemas, cordis,
vdeos, entre outros. Evitando assim, que a aula seja meramente expositiva e desinteressante.
No final das unidades comum a socializao dos trabalhos que foram produzidos com toda a
escola, as famlias e a comunidade, e o debate sobre as informaes que foram encontradas e
sugestes para possveis solues de problemas. Um importante ponto das fichas pedaggicas
o momento da avaliao. Esta mencionada como processual:
construir hipteses de como ser o futuro a partir do que se tem no hoje. Para tal, se indica no
plano de aula a entrevista s famlias e a pessoas mais velhas da comunidade feita pelos
alunos. Para o 4 e 5 ano, se prope estudar as riquezas e exploraes no Brasil, tempos e
histrias diferentes, as conquistas de territrios, estudos sobre o continente africano, grupos
tnicos. Se prope uma reflexo sobre o africano antes e depois de ser escravizado. Nesse
perodo se comemora o aniversrio de emancipao poltica do municpio, ento as escolas
do nfase histria local.
O ensino da cultura, no deve se limitar aos que produzem, pois dessa maneira,
estaramos concordando com a ideia de que uns produzem e outros consomem. Outros
aspectos devem ser levados em conta: a prtica docente e o fazer-se do aluno em sala de aula.
Nesta perspectiva, esse ensino da cultura local seria essa possibilidade de trabalhar a
realidade social cada vez mais prxima e de estabelecer uma relao entre produtores,
educandos e claro, entre os sujeitos que dessa cultura fazem parte. E levando essa cultura nos
moldes de ensino-aprendizagem, uma forma de refletir criticamente e permitir a construo
de identidades dos sujeitos.
Por meio das fichas pedaggicas, perceptvel uma preocupao com essa cultura
local to fundamental na formao dos sujeitos. Assim, nas divises que estabelecem, o
conhecer, no planejamento para 1, 2 e 3 anos apresentado da seguinte maneira: 1.1
Quais as manifestaes culturais existiam e existem em sua comunidade? Quais os elementos
da cultura merecem destaque? (samba, contadores de causos, boi roubado, bata de feijo,
festas religiosas, entre outros). No espao que delimitam como analisar, a disciplina histria
traz as seguintes orientaes: Histria (6 aulas) Brincar com as crianas com a cantiga de
roda Ciranda, cirandinha, ento na roda de conversa explicar para as crianas que a nossa
comunidade possui costumes e tradies que so passados de gerao a gerao. Em seguida,
resgatar na lousa a resposta do 1.1, escolher algumas palavras para trabalhar anlise estrutural
e fonolgica. Aps, solicitar que as crianas representem por meio de desenho as palavras
analisadas. A partir da, trabalhar o bumba meu boi, brinquedos e brincadeiras, trabalhar a
cultura do campo, p. 169-170 2 ano e 167-168, 3 ano. Iniciar a aula lendo o livro
Capoeira de Snia Rosa. Partindo da histria, questionar as crianas quais outros elementos
que se destacam na nossa comunidade. Aps ouvir as respostas, apresentar as crianas um
convidado da comunidade que ir expressar suas experincias quanto cultura j vivenciada
como, por exemplo: boi roubado, bata do feijo e outras. Em seguida, solicitar que escolham
uma das histrias ouvidas e faam reconto atravs da escrita espontnea (do seu jeito) e
ilustrar. Dando prosseguimento, trabalhar o contedo Direito educao escolar 2 ano, p.
182 a 186; 3p. 158. (Ficha III Unidade, 2015, p.08-09)
155
Ao mesmo tempo em que h uma preocupao com essa cultura, ainda existe uma
caracterizao de histria global, o que no deve se deixar de lado, mas que acaba
contribuindo para que assuntos referentes a uma determinada regio, municpio, enfim, sejam
deixados de lado. Afinal, esse ensino no deve ser tratado apenas como um contedo a ser
ensinado, mas que contenha uma metodologia para que esses contedos partam tambm da
realidade local, que esse contedo seja os prprios sujeitos que desse processo fazem parte.
Penna critica tambm o fato de a histria no ser preparada para ser ensinada a todos
os pblicos. Isso um resqucio do positivismo histrico. Podemos ento, avaliar esse
processo de valorizao da cultura, como uma reunio de textos, como nos afirma Clifford
Geertz (ano 2012, p.43) A antropologia interpretativa, ao ver as culturas como conjuntos de
textos, frouxa e, por vezes, contraditoriamente unidos, e ao ressaltar a inventiva potica em
funcionamento em toda representao coletiva (...). Dessa forma, ao invs de demarcar ou
diferenciar alguns temas em sala de aula, preciso que haja uma relao entre todos os
saberes que possam estar envolvidos, e como fomenta muito bem Ana Maria Monteiro (2011,
p.4) A fronteira lugar onde so demarcadas diferenas, mas onde tambm possvel
produzir aproximaes, dilogos, ou distanciamento entre culturas que entram em contato.
CONCLUSO
Esse trabalho aponta algumas analises e ao mesmo tempo, expe algumas possveis
implementaes diante do ensino de Histria e suas metodologias, para que a Histria local
seja vivenciado no cotidiano dos alunos. Os autores aqui citados, nos possibilitaram reforar
156
esse debate to importante para a reconstruo das identidades histricas, sejam elas coletivas
ou individuais.
REFERNCIAS
CERTEAU, Michel de. A Escrita da H22stria. 2 Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria,
2002.
LEE, Peter. Progresso da compreenso dos alunos em Histria. In. BARCA, Isabel. (org).
Perspectivas em Educao Histrica: Actas das primeiras jornadas internacionais de
Educao Histrica. Braga: Centro de Estudos em Educao e Psicologia UMINHO, 2001.
RESUMO: Considerando a importncia das novas perspectivas para o ensino das cincias
humanas, o texto reflete acerca das ferramentas necessrias para ensinar e aprender a pensar
historicamente. Este ensaio parte da inquietao em investigar sobre a capacidade do Festival
Anual da Cano Estudantil da Bahia de contribuir no espao escolar para um processo de
produo de sentidos sobre o mundo e a sociedade, levando em conta os saberes na rea de
humanidades.
Palavras chave: Ensino - Festival- Espao escolar- rea de humanidades
Introduo
De acordo Ilmar Rohloff de Mattos (2006) a partir desta realidade, novos sujeitos e autores
despontaram sustentados pela abertura para a diferena e o contnuo deslocamento para as
margens. Portanto h um afastamento dos grandes modelos explicativos, que apadrinhavam as
determinaes sociais externas, preferindo os sujeitos. O autor diz que essa nova sensibilidade
favorece o construtivismo social e a centralidade da ao.
Para Carla Pinsky (2010) a construo dos currculos escolares tem se preocupado em
acompanhar o desenvolvimento da historiografia, observando a importncia do
desenvolvimento da Histria Social e Cultural. As metodologias e as linguagens usadas na
Sobre essa nova perspectiva, Schmidt e Cainelli (2009, p. 34) escrevem que a ao do
professor tem se afastado da imagem professor enciclopdia, proprietrio do conhecimento,
reelaborando sua atitude e tornando-o mediador, que auxilia a construo do saber de seus
alunos. Assim afirmam:
Pensar este texto fez necessrio abordar acerca das fontes, a msica em especial, como importante
recurso didtico na constituio do saber no ensino de histria. As transformaes ocorridas no
mundo aliadas s frequentes mudanas nas legislaes que orientam e direcionam o fazer
docente, o eficiente controle burocrtico e a resistncia dos alunos em aceitar o universo
escolar como algo interessante e significativo, desperta no professor o entendimento da
importncia de dilogo e mudana.
A discusso acerca dos conceitos de escrita e de texto histrico se relaciona num contexto
evidenciado nas origens de novas sensibilidades, surgidas no perodo da descolonizao e dos
movimentos sociais dos anos de 1960, proporcionando a emergncia de novas identidades
sociais nas esferas polticas e culturais. Essa alterao social pode ser denominada como diz
ROCHA (2009) de virada subjetiva.
discursos orais. Segundo Rocha ao contrrio do texto escrito e dado a ler, possvel
reconhecer que a aula efmera, visto que seu suporte principal o discurso oralizado,
mesmo quando o professor mobiliza mecanismos de outra ordem ao ensinar (textos, imagens,
msica, etc.) e os alunos usem recursos escritos no processo de apropriao ou (re) elaborao
da aula, ao fazer anotaes.
Apesar disso, autora diz que, importante perceber que a efemeridade da aula no se processa
simplesmente de seu trao oral, mas do fato que toda aula gerenciada pelo tempo, que exige
limites ao fazer docente. Assim mesmo, a aula pode ser planejada como um texto, desde que
seja entendido no apenas como algo que incorpora o escrito, mas que mobiliza mecanismos
de diversas estruturas que permita contar uma histria.
E que v alm, um texto que, subordinado ao controle do tempo, use o tempo para
compreender e explicar, ponderando a fronteira da incerteza do conhecimento histrico e a
capacidade deste, para constituir significados e elaborar sentidos.
Para Helenice Rocha24 (2009), a compreenso da aula como texto proporciona a articulao
de duas dimenses que so focalizadas com frequencia como extremamente diferentes e, s
vezes contraditrias: a historiografia e a histria ensinada. Divergncia necessria e evidente,
mas que nutre a aparncia de categoria entre o saber acadmico e o saber escolar, suscitando
um deslocamento que no contribui para o desenvolvimento da reflexo acerca de cada um,
fomentando o afastamento entre a universidade e escola.
Ailton Morila, em Dilogos do Ensino de Histria, 2012, observa que o ensino de histria
vem ressignificando sua prtica, visto que, graas a influencia da historiografia e a pedagogia,
os mais variados documentos podem ser aplicados como possibilidades didticas:
iconogrficos, sonoros, cinematogrficos, literatura, etc.
Por outro lado, segundo o prprio, h uma problemtica a ser pensada: o que deve se ensinar
na aula de histria diante de tantas facetas e pluralidade na to diversa produo
24
Doutora em Educao pela Universidade Federal Fluminense, professora adjunta do Departamento de
Cincias Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Assessora da Coordenao dos Tutores
Distncia da licenciatura em Histria PUC - Rio/UERJ, Modalidade Educao Distncia.
160
Morila (2012) diz que analisar precisamente o passado uma aventura inacessvel, e
possvel apenas perceb-lo atravs da intuio. Algumas ferramentas podem ser teis; os
testemunhos orais ou escritos de quem os vivenciou ou documentos de determinada poca.
Refletir acerca do passado atravs das possibilidades que se apresentam atualmente uma
prtica que muito se ampliou ao logo do tempo.
A reinveno das fontes, expresso usada pelo autor para apontar a transformao desse
recurso como possibilidade de leitura de diversas formas e ngulos, pela Escola dos Annales,
nos chama ateno de como o documento escrito tomou propores que vo alm daqueles
considerados oficiais. Agregam-se a esta categoria, as cartas, livros, jornais, biografias, obras
de arte, pinturas, edificaes, fotos, canes, discursos, e uma infinidade de outros caminhos.
Assim, como ensina o autor, todos esses objetos configuram-se sinais ou vestgios, que
instrumentalizados, auxiliam na construo do conhecimento histrico.
Mais do que isso, ele pode reinventar a produo dos alunos. Apesar da academia
primar pelo texto escrito como forma de conhecimento, esta no e de maneira
alguma a nica forma de conhecimento. Lembrando um conceito de Ferro (1992, p.
19) que nos alerta sobre a leitura cinematogrfica da histria no qual o
historiador pode devolver sociedade uma histria da ]qual a instituio a tinha
despossudo, o professor ao incentivar produes outras que no o texto escrito
pode devolver a sociedade parte de sua memria. (MORILA, 2012, p. 37)
Neste sentido, preciso ampliar a indagao sobre este fazer, e refletir sobre semelhanas e
diferenas entre escrever e ensinar histria. Evidentemente, ensinar requer utilizar maneiras
visveis de construo do conhecimento construdas pelo processo ensino aprendizagem.
Em virtude da efemeridade da aula, espao especial onde essa operao ocorre, tal
visibilidade encontra obstculos. O tempo, questes estruturais do espao escolar, e
especialmente o comportamento dos jovens, diante da cultura de massa e consumo cultural,
como aponta Napolitano (2010, p. 83).
Marcos Napolitano diz que as relaes de poder entre escola, a mdia e indstria cultural so
desiguais, e a escola neste embate vencida. Para o autor, acreditar que a escola pode
contrapor a esta realidade, uma das maiores ingenuidades dos professores. Porm, a cultura
escolar pode gerenciar prticas de dilogos neste tema, propondo atividades que permitam o
pensamento critico acerca das influencias que a mdia e a massificao cultural causam na
161
sociedade. Conforme o autor, ainda que a relao entre a conscincia e o ser social seja
marcada pela presena forte da mdia massificada, outras experincias culturais e
sociabilidades ainda so atuantes. (NAPOLITANO, In PINSKY.org, 2010, p, 83).
Segundo Morila o passado vivido nos deixou a marca de importantes experincias, ou seja, as
fontes, heranas que nos permitem enxergar um feixe de significados. Vivncia que nos
legou imagens, sons, palavras, poemas, tristezas, alegrias, angustias, lutas (MORILA, 2012
p.38).
Fazer histria contar uma histria.25 (Furet apud Mattos, 2006). Pensar a aula como texto,
pode representar uma possibilidade de destacar o conhecimento elaborado na aula de histria.
O conceito de texto permite a certificao de materialidade a um objeto que identificado
como efmero e perceptvel atravs de instrumentos orais.
Quando Rocha prope a aula como texto, remete-me a possibilidade de pensar acerca de
como usar a oralidade apresentada atravs das canes para enriquecimento no ensino de
histria. Dentro da oralidade, a msica representa um papel especial, transmitindo valores,
conselhos, vises de mundo, de gerao a gerao (MORILA, 2012, p. 40).
25
Citao retirada do material da disciplina de Laboratrio de Ensino Aprendizagem de Historia, de autoria da
professora Helenice B Rocha Doutora em Educao pela Universidade Federal Fluminense, professora adjunta
do Departamento de Cincias Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Assessora da Coordenao
dos Tutores Distncia da licenciatura em Histria PUC - Rio/UERJ, Modalidade Educao Distncia.
162
A implementao do Festival Anual da Cano Estudantil na Bahia foi estimulada pela Lei
11.769/08, com intuito de promover o desenvolvimento do ensino da msica nos contextos
escolares da rede estadual da educao da Bahia (Bahia 2008).
Maheirie (2012), diz que na tica scio-histrica de Vygotsky, a arte trata-se de um fenmeno
do homem, resultado da relao humana com sua conjuntura fsica, social, poltica e cultural,
permitindo compreender sua vida em uma infinidade de esferas. Neste olhar, a msica como
manifestao artstica, pode ser concebida como uma operao humana, inserida em
determinado contexto, passvel de se compreender sentimentos, pensares, emoes em uma
infinidade de linguagens.
O que mais prprio das prticas de educao no formal seu carter difuso. Ela feita por
todos os que convivem e interagem e no apenas por professores, e ocorre em todos os
contextos e as situaes sociais e no apenas na sala de aula (COX 2004, p. 138). O dialogo
com muitos docentes da rede estadual de ensino do municpio de Itamaraju e a experincia
prpria, permitem testemunhar que esta experincia cultural passa despercebida no calendrio
letivo para muitos professores e alunos, que s o percebem de fato na fase de sua culminncia.
Nas etapas de apresentao do evento, observam-se quase os mesmos alunos artistas, muito
provavelmente estimulados por sua prpria habilidade artstico-musical. A dinmica do
Festival, como penso que ocorre nas escolas itamarajuenses, apesar de pouca interferncia do
ensino formal, acontece num amplo processo de socializao, permitindo comprovar que os
conhecimentos externos a escola, tambm favorecem a apreenso e a expresso de uma
infinidade de abordagens nas canes apresentadas.
Neste sentido, a reflexo parte das circunstncias elencadas, analisar o Festival, como um
possvel facilitador de aquisio de conhecimentos, troca de experincias e confluncia de
163
saberes. Como alerta Oliveira, da mesma forma com os grupos e a msica, os jovens
socializam trocas, experimentam, se divertem, produzem, sonham, constroem a si mesmos,
suas identidades e, ainda os diferentes modos de ser jovem (OLIVEIRA, 2012, p. 7).
inegvel que este efeito nos hbitos das pessoas seja particular, cada um tem seu estilo
musical, possui a sua trilha sonora. Professor e aluno, ainda que apresentem gostos
musicais particulares, nas interaes do cotidiano escolar, podem construir um saber, formal
ou no formal, repleto de significados. Construda a trilha sonora, a crtica torna-se possvel.
Crtica que se expande a nossa prpria trilha sonora, alcanando os meios de comunicao de
massa e a atualidade (MORILA 2012, p.44).
Consideraes
Arrisco dizer que a msica atemporal, e pode ser considerado um dos mecanismos com
maior capacidade de unir pessoas, tornando-as iguais em inmeras circunstncias. Se por um
lado, percebo que o espetculo precisa acontecer, pois culmina em um evento que evidencia
riqussimas experincias e sociabilidades, por outro, acredito na educao capaz de nos tornar
humanos e sociveis, presente na interao entre os meios formais e no formais. Neste
sentido, que se pese tambm a possibilidade de enriquecimento da aula nas reas das
humanidades, atravs desta experincia. Nos ptios ou na sala de aula, no espao escolar ou
fora dele.
Seguindo essa trilha, qui pensar neste terreno frtil de vivncias que o Festival Anual da
Cano Estudantil da Bahia, como um instrumento capaz de inspirar um ensino com um olhar
mais amplo da realidade e das sensibilidades. Ouvir, sentir, contextualizar e produzir, todas
essas aes possveis por meio do contato com msica, que podem se traduzir em uma
assimilao de novos sentidos e abrir de portas para um processo de ensino-aprendizagem
fascinante e significativo.
BIBLIOGRAFIA
COX Maria Ins P. Pedagogias Da Lngua: Muito Siso E Pouco Riso. Cedes, Campinas, vol.
24, n. 63, p. 135-148, maio/ago. 2004
FREIRE, Paulo. A importncia do ato de ler em trs artigos que se completam. 23 Ed.
So Paulo: Cortez, 1989.
MORILA, A.P. Dilogos sobre o ensino de Histria. So Mateus/ES: Ed. Do Autor, 2012.
MATTOS, Ilmar Rohloff de. mas no somente assim!. Leitores, autores, aulas como texto
e o ensino-aprendizagem de histria. Dossi Ensino de Histria, Rio de Janeiro, Universidade
federal Fluminense- Departamento de Histria, vol. 11, n 21, jul/dez. 2006, p. 05-16.
Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/tem/v11n21/v11n21a02.pdf
PINSKY, Carla B. (Org) Novos temas nas aulas de Histria, NAPOLITANO, Marcos.
Cultura, 1 ed. So Paulo, Contexto, 2010.
Introduo
26
Graduanda na Universidade do Estado da Bahia UNEB Campus X, curso de Histria. Docente orientadora.
Liliane M Fernandes C. Gomes. Prof Assistente do Colegiado de Histria/UNEB - CAMPUS X Mestra em
Histria Regional e Local - UNEB - Campus V.
166
O despertar para a pesquisa neste tema perpassa pela compreenso de quanto estes
ambientes so ricos em detalhes para a compreenso tanto das aes, como das condies de
vida dos sujeitos histricos.
27
Rodrigues Alves foi Governador do Rio de Janeiro entre os anos de 1902 a 1906.
28
O Engenheiro Pereira Passos foi nomeado prefeito da capital do Rio de Janeiro pelo Governador Rodrigues
Alves, entre os anos de 1902 a 1906.
167
trabalhador, porm muitas vezes esse termo malandro era mais uma forma estereotipada da
elite tratar a populao mais humilde, considerados muitas vezes como vadios. Segundo
Chalhoub (2001) os vadios que fossem pegos nos botequins e no provassem sua condio de
trabalhadores eram presos, o governo queria pessoas que muitas vezes se sujeitassem a viver
indignamente29 em uma sociedade que visava o progresso, mas progresso para quem?
Como caractersticas principais deste malandro Noronha aponta que:
Este indivduo se opunha as normas da sociedade moderna ganhou espaos nos jornais
e na literatura, dentre alguns literrios podemos citar Lima Barreto em Clara dos Anjos que
mostra como este sujeito era visto pela elite carioca, criando personagens que traziam
caractersticas de preguiosos, tranbiqueiros e ladres. Mas o malandro desempenha
atividades importantes nos espaos de sociabilidade, pode-se destacar, por exemplo, o fato de
que eles protegiam as prostitutas, livrando-as de clientes agressivos, mas em troca queriam
regalias. Muitos destes ganharam espao no desenvolvimento da indstria do entretenimento
quando atravs das msicas como o samba, se tornaram compositores, cantores, danarinos,
dentre outras funes.
29
As condies de vida dos trabalhadores eram precrias, desde as moradias que muitas vezes se resumiam
em ambientes imprprios a se viver com pouca higiene ou tendo que dividir com vrias outras pessoas, como
as pousadas e cortios, mas eram os nicos lugares que cabiam no bolso. As prprias situaes de trabalho,
ganhavam pouco e eram carentes de direitos. Podemos apontar aqui a situao dos imigrantes que de to
menosprezados muitos fugiam para pases prximos, ou seus pases de origem tinha que intervir e impedir a
chegada de novos imigrantes para o Brasil.
30
Cachaa.
168
O Botequim apesar das crticas que recebia possua privilgios, pois eram maiores e
poderiam vender alm de bebidas e alimentos prontos produtos para alimentao, era uma
espcie de mercadinho. Alm disso, seu dono era um pequeno proprietrio por isso passava
a ser o primeiro a defender a ordem do local, evitando qualquer conflito que prejudicasse seu
ambiente, para isso utilizava muitas vezes das aes dos meganhas (policiais) para controlar
qualquer situao de desentendimento. Chalhoub (2001) mostra com propriedade essa relao
atravs de anlise de processos criminais.
Se em alguns momentos os donos dos botequins vo expulsar seus fregueses para que
continuem seus conflitos na rua mantendo assim a ordem, em outros estes mesmos vo
abrigar sujeitos em ocasio de perigo, principalmente contra os meganhas ou outros
agressores, pois vlido ressaltar que nem sempre para a populao pobre confiava na
polcia, j que esta em diversos momentos forjava situaes para incrimin-los. O botequim
servia tambm como refgio para pessoas que se sentiam em perigo, o autor mostra que
[...] Receoso de ser assaltado, disparou tiros contra o grupo e se refugiou num
botequim das redondezas. E mesmo Maria, perseguida implacavelmente por um ex-
amsio muito ciumento, correu para um botequim e se colocou sob a proteo dos
homens que l estavam (CHALHOUB, 2001, p. 265).
neste cenrio de sociabilidade que se desenrola situaes de protees como as que
j foram citadas, mas tambm de conflitos entre raas e nacionalidade, conflitos com
meganhas como forma de resistncia, pois eram eles que levavam para as cadeias os vadios
desordeiros, em muitos momentos como, um argumento de defesa do sujeito aprisionado
era de que se tratava de um trabalhador. Sobre o meganha Chalhoub explica que para a
populao este [...] meganha, estava nas ruas e nos botequins da cidade para reprimir os
homens pobres, e no para arbitrar seus conflitos (2001, p. 282).
Percebemos ento que a populao humilde de alguma forma militante e no passiva
sobre o lugar e condies que estava sendo colocada nessa metrpole. Frequentavam os
botequins, se divertiam, discutiam, brigavam, muitas vezes mostravam que no confiava na
polcia e que, por isso, muitas vezes a enfrentavam.
A reforma do prefeito Pereira Passos trouxe para o Rio de Janeiro a energia eltrica,
esta contribuiu para inmeros elementos, entre eles o aumento das casas noturnas, o lazer
atravs do rdio, consequentemente a difuso musical nesses lugares que acolhiam diversos
169
Estes cafs a partir de 1900 se espalharam tomando conta das ruas da capital. Com o
passar dos anos foram perdendo prestgios e outros lugares de sociabilidades como o cabar
foram adentrando e conquistando o pblico. Os estilos musicais acompanham o
desenvolvimento dos espaos. Um exemplo a ser dado foi a transio da canoneta para a
modinha, isso ocorreu junto com o surgimento das casas de chope, concorrentes dos cafs. As
casas de chope devido aos barulhos que faziam com suas modinhas ficaram taxadas de
chopes-berrantes, era um lugar mais simples e seus frequentadores tambm. J alguns cafs-
concerto criaram um espao mais europeu, trazendo artistas internacionais, mantendo o som
das canonetas e um pblico de renda melhor. Porm, a partir dos anos 20 tanto os cafs,
quanto as casas de chope vo perdendo pblico para os cabars, neste local predominava
pessoas de diversas funes sociais.
Dentre inmeras pessoas que faziam parte desse ambiente efervescente que era o Rio
de Janeiro, Noronha aponta que os negros ali j estavam e outros negros que vieram em busca
de emprego, construam suas localidades de diverso eram as casas das tias com seus quintais
promovendo festas, dentre elas festas ligadas as suas devoes religiosas, acompanhadas e
embaladas por sons como o choro, a polca e o maxixe. Essas casas estavam localizadas na
Cidade Nova, onde se reuniam os malandros, pequenos comerciantes, negros. nesta cidade
que tambm surgiram as gafieiras, chamadas assim pelos ricos, que achavam que naquele
ambiente se cometia aes que no se enquadravam no padro moral e tradicional, elas eram
embaladas pelo maxixe, que incomodava, pois, este carregava quando este carregava um peso
sensual em sua performance, taxado como o autor aponta de dana dos habitantes do
submundo noturno (Noronha, 2003, p. 75).
Na mistura de ritmos nas gafieiras surge o samba amaxixado, neste perodo a indstria
do entretenimento comea a se desenvolver, promovendo assim o auge do samba, em
comunho com o carnaval de rua e o Teatro de Revista31. Ocorre tambm o desenvolvimento
profissional de muitos cantores como Chiquinha Gonzaga, com sua msica abre alas,
dentre outros como Noel Rosa. Os sucessos comeavam nos palcos teatrais e eram
transmitidos atravs das machinhas cantadas nas ruas. A industrializao musical promoveu
mudanas inclusive para os que estavam sobrando no processo de modernizao:
Os negros puderam gravar seus discos, conquistar a carreira musical, a musica popular
alcanava os diversos nveis inclusive a populao de alta renda. O samba que de incio fazia
parte de ambientes considerados sem classe passa a tomar os espaos e ser at os dias atuais
representante da populao no s do Rio de Janeiro, mas de todo Brasil. Quem nunca ouviu
dizer que o Brasil a terra do Samba? Por primeiro foi tocado nos terreiros das tias, para
depois torna-se a caracterstica do carnaval.
O carnaval tambm sofreu o processo de higienizao no perodo de Pereira Passos,
antes conhecido pelo Entrudo, em que seus adeptos tinham o hbito de jogar bolas cheias de
coisas sujas uns nos outros, foi substitudo por confetes e outros elementos, que civilizaria a
festa. O desenvolvimento industrial que levou ao auge diversas canes tem como elemento
importantssimo para essas difuses o rdio, sendo o principal meio de comunicao
principalmente dos anos 20 aos 60, tornando-se na dcada de 30 o veculo mais popular.
Consideraes
31
O Teatro de Revista era uma forma de contar histria com ritmos dentre eles o maxixe, sua forma era
satrica e cmica, baseada em fatos poltica e da cultura. Chiquinha Gonzaga escreveu inmeros maxixes,
dentre eles o os mais famosos foi o Forrobod, O Corta Jaca e Maxixe da Zeferina.
171
desenvolveram o que hoje conhecemos dessa capital. possvel perceber atravs da analise
desses ambientes como as pessoas agiam, de onde elas falavam, seja expondo seus
preconceitos ou se unindo para se defenderem de uma autoridade maior. Seja como for, a
populao humilde tentava sobreviver nesse cidade e as pessoas de alta renda buscavam cada
vez mais ganhar espaos e fazer deles os melhores. De qualquer forma podemos ver os
reflexos dessas aes, s olhar os morros, e o Brasil sendo todo retratado como o pas do
samba, lembrando que este estilo musical na cidade do Rio se desenvolve no no seio elitista,
mas nos quintais das tias, das negras.
Referncias
32
Docente da Universidade do Estado da Bahia, Mestre em Histria Regional e Local pela Universidade do
Estado da Bahia. uerisleda@yahoo.com.br
173
O livro selecionado para a pesquisa pode ser considerado como fonte primria, que, de
acordo com Rodrigues (1982, p. 143), [...] aquela que contm uma informao de
testemunha direta dos fatos. Testemunha esta registrada pelo proco da igreja, sob a
confirmao de no mnimo mais trs sujeitos, um dos pais, um padrinho e o prprio
batizando.
33
Para Bacelar (2005), o documento rendado aquele que est repleto de furos e buracos.
174
pois possibilitam o [...] cruzamento de suas variveis cada vez mais ricas. O uso da
ferramenta tecnolgica possibilita ainda uma melhor visualizao dos dados, tanto os
quantificveis quanto os qualificveis. Desta maneira, pode-se considerar que muitas so as
possibilidades de uso dos programas, que variam de acordo com a necessidade de quem o
manuseia.
O primeiro cruzamento que realizamos dos dados est disposto na Tabela 1. Nela,
procuramos relacionar a distribuio de todas as crianas batizadas por sexo nos diferentes
anos estudados. Verificamos que h uma regularidade na quantidade de meninos e meninas
nos diferentes anos. Em trs anos (1842, 1843 e 1845) os meninos foram mais batizados do
que as meninas e tambm em trs anos (1837, 1839 e 1840) as meninas foram mais batizadas.
Portanto, so dados que mostram uma distribuio equitativa entre os sexos das crianas
batizadas. Apenas em um registro no foi possvel identificar o sexo do batizando por estar
ilegvel.
Tabela 1
Sexo
1837 27 35 1 63
1839 26 40 0 66
1840 27 38 0 65
176
1841 27 27 0 54
1842 40 25 0 65
1843 34 30 0 64
1844 36 39 0 75
1845 15 9 0 24
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do Livro de Assentos de Batismo da Igreja Matriz
Nossa Senhora da Penna de Porto Seguro 1836-1862. Arquivo da Cria da Diocese Teixeira de
Freitas / Caravelas (ACDTxC), Teixeira de Freitas, bahia, Brasil. 1837-1845.
Crianas indgenas batizadas na Igreja Matriz Nossa Senhora da Pena de Porto Seguro
Dos 476 batizandos estudados, destaca-se os 47 (9,8%) cujos pais foram denominados
genericamente como ndios pelos vigrios que fizeram os registros estudados, como a
pequena Anna cujo assento segue
Aos dezoito dias do mez de Novembro deste presente anno de mil oito
centos e trinta e oito nesta Igreja Matriz Nossa Senhora da Penna de
Porto Seguro baptizei solemnemente e puz os santos leos a innocente
Anna, nascida aos sete de Setembro, filha legtima de Joo Loubato e
Joanna Correia, ndios, moradores em Caramimu: foro padrinhos
Joo Joz [...] e sua mulher Locadia Maria desta freguesia. E para
constar fis este assento emq me assignei. O Par Joz Tibrcio de S
Anna.34
34
Arquivo da Cria da Diocese Teixeira de Freitas Caravelas. Livro de Assentos de Batismo da Igreja
Matriz Nossa Senhora da Penna de Porto Seguro 1836-1862. Porto Seguro, 24 de outubro de 1836, p.
22b.
177
tempo determinado, sendo acrescido a cobrana de mais dez tostes caso se passasse mais
oito dias. A regulamentao da aplicao do Sacramento de batismo nas crianas com at oito
dias diz respeito ao papel do prprio sacramento: converso, perdo dos pecados e a garantia
da salvao da alma no ps-morte. Deste modo, as Constituies Primeiras do Arcebispado da
Bahia alertava aos pais ter[em] muito cuidado em no dilatarem o batismo a seus filhos,
porque lhes no suceda sarem desta vida sem ele e perderem para sempre a salvao (VIDE,
2010, p. 139).
Ao ser batizada, Anna recebera as bnos de Deus na pia batismal e passara a ser
considerada crist e catlica, fato que a inseria na sociedade porto segurense oitocentista. No
Brasil dos oitocentos, o Sacramento de batismo possua diferentes valores simblicos e
sociais: para a igreja, convertiam-se os sujeitos e se perdoavam os pecados e para a sociedade
poderia ser considerado um ato de estreitamento de laos de compadrio atravs do
apadrinhamento e a obteno de um documento oficial (registro de batismo) que indicava a
paternidade e maternidade.
TABELA 2
Batizando com os
pais indgenas
Idade Frequncia Percentual
1 a 8 dias 3 6,4
9 a 16 dias 3 6,4
17 a 24 dias 5 10,6
3 a 6 meses 2 4,3
Omisso 26 55,3
Total 47 100,0
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do Livro de Assentos de Batismo da Igreja Matriz
Nossa Senhora da Penna de Porto Seguro 1836-1862. Arquivo da Cria da Diocese Teixeira de
Freitas / Caravelas (ACDTxC), Teixeira de Freitas, bahia, Brasil. 1837-1845.
178
A presena de ambos os pais em sua maioria pode ser um indicador de que as crianas
batizadas e suas famlias j estavam, fixadas na Vila de Porto Seguro ou nos aldeamentos
como a famlia da inocente Anna moradores de Caramimu35. Outro dado que corrobora com
a hiptese de que os indgenas presentes na pia batismal em estudo eram fixos diz respeito ao
percentual de legitimidade do batizando, em que 27 (57,4%) eram filhos legtimo, 2 (4,3%)
eram filhos naturais e 18 (38,3%) tiveram a legitimidade omissa no assento. O filho legtima
era aquele oriundo de uma relao sacramentada pela Igreja, ou seja pais casadas, j o filho
natural era oriundo de relaes consideradas espuriosas, marginalizadas ou quando apenas a
me ou o pai registrava a criana no ato do batismo.36
No presente artigo, foram destacados alguns aspectos, dentre muitos outros que podem
emergir dos registros de batismos, fontes relevantes para o estudo da presena indgena em
Porto Seguro Ba. A presena de crianas indgenas na pia batismal da Igreja Matriz Nossa
35
Segundo Vilhena (1969, p. 524), Caramimu, sendo psto da Cmara de Trancoso para obstar a invaso dos
brbaros, era povoado por algumas famlias de ndios que se ocupavam de pequena lavoura, caa, e pesca.
36
Para maiores informaes sobre os filhos legimos e naturais ver Moreira (2011).
179
Senhora da Penna de Porto Seguro entre os anos de 1837 1845 indicia o uso do rito religioso
e, talvez a sua (re)apropriao, por parte dessa populao.
Referncias
Fontes
Bibliogrficas
BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).
Fontes Histricas. So Paulo: Contexto, 2005. p. 23 a 80.
PARASO, Maria Hilda Baqueiro. Trabalho escravo de crianas indgenas: Uma realidade do
sculo XIX. Anais... II Encontro Estadual de Histria. Historiador a que ser que se
destina?: Dilemas e perspectivas na construo do conhecimento histrico. Feira de
Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2004. Disponvel em:
http://www.uesb.br/anpuhba/default.asp?site=artigos/anpuh_II/anais.html#m Acessado em 18
de abril de 2016.
RODRIGUES, Jos Honrio. A pesquisa histrica no Brasil. 4. ed. So Paulo: Cia. Editora
Nacional, 1982.
SAMARA, Eni Mesquita; TUPY, Ismnia Spnola Silveira Truzzi. Histria & Documento e
metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autntica, 2007.
RESUMO
Fbio Said (2010) aponta que na segunda metade do sculo XVII Antonio Gomes Pereira e
Antonio Mendes, deslocaram-se para a atual localizao de Alcobaa onde s havia a
presena dos povos nativos. A vila de Alcobaa foi fundada em 12 de novembro de 1772 e
um dos fatores para a criao da vila foi a fertilidade das terras s margens do rio Itanhm e a
variedade de madeiras existentes na regio. Para que um povoado se elevasse categoria de
Vila era preciso em seu construto urbano: uma Casa da Cmara e Cadeia, um espao para o
pelourinho e uma igreja com parquia. Com esses requisitos atendidos o arraial de Itanhm
foi elevado vila.
Anno no Nascimeto de Nosso Senhor Jesus Christo de mil sete centos e setenta e
dous aos doze dias do ms de Novembro do dito ano neste Arraial chamado de
Itanhaem nas casas ou para melhor dizer cabana aonde se achava aposentado o
Desembargador Joseph Xavier Machado Monteiro Cavalleiro professo na ordem de
Christo do Desembargo de Sua Magestade seu Desembargador numerrio da Casa
da Suplicao [...]. (SAID, 2010, p.179)
Segundo Said (2010), em 1771 j existia uma igreja na localidade, pois uma igreja e um padre
eram essenciais em todas as povoaes. Antes de fazer a aclamao da vila, no dia 12 de
novembro, foi necessrio escolher o santo para a igreja e que ocasionalmente tambm seria o
padroeiro da vila. O primeiro padre, Pedro Affonso, mesmo antes da oficializao da vila, j
realizava registros do batismo no local.
So Bernardo foi sugerido como orago e protetor da nova freguesia pelo primeiro
padre de Alcobaa, padre Pedro Affonso, e aceito com grande jbilo pela populao.
(SAID, 2010, p. 30)
Em seu trabalho, Said apresenta uma contradio quanto ao mito de origem da adoo de So
Bernardo como padroeiro de Alcobaa. A contradio nas narrativas demonstram uma
complementariedade uma outra sendo a primeira a demonstrao da participao popular na
escolha do padroeiro e a segunda a definio do mesmo pelo primeiro proco da localidade.
Estes so aspectos que podem denunciar o recontar por geraes do mito de origem da adoo
do padroeiro entre a populao alcobacense, uma vez que o autor no cita a fonte da
informao e inferimos que o mesmo tenha feito o uso de suas memrias enquanto cidado
caravelense.
De acordo Hooij (2002 apud SANTOS, 2011, p. 11) a relao entre os primeiros
colonizadores e os povos nativos no era pacfica pois o autor aborda a utilizao de cercos de
pau-a-pique para proteger as cercanias de possveis taques dos nativos.
A tarefa de povoar a vila era difcil como relatada pelo ouvidor de porto Seguro: [...] a
dificuldade estava em como atrair indivduos e convenc-los a se mudar para aquela regio,
onde eles precisariam esperar dois anos at que as terras cultivadas lhes dessem algum fruto
para comer e vender. (MONTEIRO, 1771 apud SAID, 2010, p. 53). Os imigrantes dos
Aores tiveram destaque na povoao da vila, as famlias aorianas tiveram muita influncia
em Alcobaa e formaram uma das famlias consideradas por Said (2010) e Santos (2011)
182
Segundo Faria (1997), a famlia colonial brasileira tinha caractersticas peculiares, que no se
assemelhava ao modelo tradicional europeu, onde a forte presena de mulheres chefes de
famlia, de concubinatos, de bastardia e aponta que o casamento no sculo XIX era mais
acessvel elite e era uma forma dos senhores monitorarem seus cativos. Sena (2014) afirma
que para o escravizado o matrimnio era de difcil acesso pelo alto custo cobrado para as
proclames e/ou dispensas. Porm, apesar das dificuldades apontadas por Sena (2014), por
vezes os matrimnios entre escravizado era recorrente, como demonstra o estudo de Moreira
(2014).
No sculo XIX, a igreja usou de estratgias para afirmar sua superioridade, impondo verdades
e tornando obrigatrio a todos seguirem os seus os princpios religiosos. Ao longo da histria
temos diversos exemplos de prticas adotadas para a imposio dos dogmas catlicos. O
casamento um exemplo dessas prticas, pois s era tido como legtimo se fosse realizado na
igreja catlica, um exemplo das estratgias de divulgao da religio e a converso foram as
misses.
183
As misses foram um meio encontrado pela igreja para reagir Reforma Protestante,
afirmando sua presena junto aos fiis e a ampliao da realizao dos sacramentos. Nestas, a
converso dos nativos e a propagao dos preceitos catlicos entre os escravizados, forros e
demais sujeitos oriundos da base da hierarquia social eram o objetivo principal. Neste sentido,
Santos (2011) verificou a eficcia das misses na vila de Alcobaa no final do sculo XIX, a
partir dos registros de matrimnio da Igreja Matriz So Bernardo de Alcobaa:
O matrimnio era a forma oficial de legitimar uma unio conjugal e os estudos que discutem
as relaes matrimoniais, a partir dos registros de casamento na igreja catlica em diversas
regies do Brasil, devem levar em considerao que outras relaes familiares, mesmo sendo
conjugais no oficias existiam. A partir do matrimnio legitimado na igreja, possvel notar
no s a formao de famlias conjugais, mas tambm possveis relaes de sociabilidade que
se desenvolveram e nos grupos familiares, questo elucidada por Faria.
De acordo com Santos (2011), casamentos entre pessoas da mesma famlia eram comuns,
uma forma de conservar e no dividir os bens entre famlias diferentes ou prestgios da
mesma. Assim como as unies entre pessoas da elite, os casamentos arranjados era uma
representao desse sistema. Os casamentos entre famlias tradicionais um exemplo,
citemos a famlia Muniz em Alcobaa, Bahia.
Os pais dos nubentes faziam acordos entre si com a inteno de perpetuar a influncia e de
favorecer economicamente a famlia. Um caso a destacar, refere-se ao matrimnio entre o
Doutor Jos Candido de Freitas e Albuquerque com Dona Ernestina Elvira da Silva Muniz,
celebrado na Igreja Matriz Santo Antnio da cidade de Caravelas em 07 de fevereiro de 1858.
Esta celebrao apresentada por Moreira (2014) que discute as relaes matrimoniais a
184
Aos sete dias do ms de Fevereiro de mil oito centos cincoenta e oito annos, nesta
Freguesia de Santo Antonio da Cidade de Caravellas, sendo eu chamado por Jos
Muniz Cordeiro Gitahi para casar uma sua filha em sua casa, dali fui levado para
casa do Doutor Jos Candido de Freitas e Albuquerque sendo prezente estava a filha
do dito Jos Muniz, Dona Ernestina Elvira da Silva Muniz, perguntando eu ao dito
Doutor, se cazava por seo gosto, respondeo que o fazia coacto, ento ponderei-lhe,
que nesse caso eu no faria esse casamento, e querendo retirar-me, elle mandou que
me sentasse m pouco e ouvindo a petio que nessa ocasio fizeram os parentes, e
mais visitantes, que prezentes se achavo, deliberou finalmente a casar-se, e ento
chamou-me por tres vezes para o receber em casamento, o que fizero a esse tempo
por livre vontade e sem constrangimento, escolhendo elle por padrinhos a Fortunato
Pereira de Oliveira e ella do Capito Lisinio da Silva Guimares Lessa; e logo lhes
dei as bnos na forma do Ritual Romano; o que para constar, mandei fazer o
prezente assento, e assignei. (Registro do matrimnio de Jos Candido de Freitas e
Albuquerque com Ernestina Elvira da Silva Muniz APUD MOREIRA, 2014. p. 122-
123).
No caso acima citado, possvel entrever que o nubente por um momento ps em dvida o
desejo de contrair o matrimnio com Ernestina Elvira da Silva Muniz, o que fora efetivado
apenas aps a interveno familiar. Este um indcio das relaes de poder e prestgio
sacramentadas nos enlaces matrimoniais. Alm disso, os temos utilizados para referirem-se
aos nubentes como Doutor e Dona so indcios do status quo dos mesmos na sociedade
caravelense. preciso contextualizar que Alcobaa e Caravelas so cidades circunvizinhas e
que no sculo XIX havia um intenso trnsito de gentes e mercadorias entre uma e outra
(MOREIRA, 2014). Assim, talvez Ernestina da Silva Muniz seja membro em algum grau da
famlia Muniz considerada por Santos (2011, p. 26) como uma das famlias mais abastadas
da cidade de Alcobaa no sculo XIX.
O matrimnio, alm de legitimar uma unio conjugal, tem se revelado (FARIA, 1997;
MOREIRA, 2014; SANTOS, 2011) um ato em que as relaes socioculturais e de poder se
fizeram presente. Assim, ao se colocar diante do proco para receber o sacramento do
matrimnio, os nubentes no o fizeram apenas por s, mas aparentemente tambm pelos seus.
Tal aspecto pode ser vislumbrado nos padres de escolhas entre sujeitos de diferentes origens
tnicas (matizes de cor) e/ou condio jurdica (livres e escravizados).
Assim, a partir destes aspectos discutidos pelas autoras, possvel destacar que por vezes, o
casamento poderia ser um meio tambm de resistncia ao cativeiro e s imposies
hegemnicas da cultura, um lugar social em que os escravizados pudessem tambm reforar
laos afetivos e familiares cujas razes poderiam estar enfincadas no alm mar.
afirma que [...] no h razo para pensar que os laos de amizade estveis com compadres ou
outros companheiros da escravido tenham constitudo uma raridade (SLENES, 1999. p.
70). Slenes discute que as famlias de escravizados por vezes possuam os (re)arranjos mais
diversos, levando em considerao as peculiaridades da cultura africana readaptadas s
imposies culturais portuguesa. A famlia, para os cativos, pode ter sido um meio para a
manuteno das heranas culturais africanas, uma das estratgias de se manterem fortes como
grupo e resistir s regras que lhes eram impostas.
Um outro fator que chama a ateno na literatura da famlia brasileira no sculo XIX a partir
dos registros eclesiais so os chamados raptos que, apesar de no serem permitidos, aparecem
na documentao analisada por Santos (2011) a partir da segunda metade do sculo XIX.
Para a compreenso da temtica a ser abordada ser utilizado autoras como Sheila de Castro
Faria para problematizar a histria da famlia; Calos Bacellar (2006) para entender as fontes e
seu uso. E os trabalhos das autoras Amanda Brito Sena (2014) e Rosimila Justiniano dos
Santos (2011) sobre a famlia no sculo XIX um abordando as formas de famlia, outro a
dinmica da sociedade alcobacense.
Para a realizao do estudo, alm do dilogo com a literatura, sero analisadas as relaes
matrimoniais forjadas na Igreja Matriz So Bernardo de Alcobaa em meados do sculo XIX
de modo a privilegiar as relaes conjugais a partir das fontes eclesisticas. As fontes
eclesisticas tero um papel fundamental na pesquisa, estes documentos tem sido
considerados relevantes para a historiografia, principalmente para a construo da histria da
famlia e da demografia histrica.
Os registros eclesiais permitem lanar um olhar sobre prticas e costumes do perodo colonial
e imperial. Sua riqueza de detalhes varia de matriz para matriz pois podem ser observadas
186
Apesar da riqueza das fontes, elas nem sempre se apresentam em bom estado de conservao
o que impossibilita por vezes o desenvolvimento da pesquisa. Alm do estado fsico de
preservao da documentao, podemos citar o acesso s mesmas como um empecilho, pois
por se constiturem em acervo particular, por vezes as fontes ficam obscuras por sculos nas
instituies de guarda, sem o olhar atento do pesquisador sobre as mesmas.
Alm da pgina Family Search, h outros diretrios de pesquisa, como o Arquivo Distrital de
Vila Real, o Arquivo Histrico da Comarca do Rio das Mortes Minas Gerais, o Arquivo
Pblico do Estado de So Paulo, o Cedeplar-FACE-UFMG e a prpria organizao catlica
atravs do Dioceses no Brasil, entre outros, que muito contribuem pra a divulgao da
documentao a ser investigada pela pesquisa histrica.
Referncias Bibliogrfica
BACELLAR, Carlos. O uso e o mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).
Fontes Histricas. 2.ed. So Paulo: Contexto, 2006.
FARIA, Sheila de Castro. Histria da Famlia e Demografia Histrica. In: CARDOSO, Ciro
Flamarion e VAINFAS, Ronaldo. Domnios da Histria. Rio de Janeiro: Editora Campus,
1997.
37
No site https://familysearch.org/ h diretrios de buscas por perodo, regio ou sujeito.
187
HOOIJ, Elias. So Bernardo de Claraval Seu Tempo: e Alcobaa BA seu povo, sua
Histria. Jan.2002.