Pelo Telefone, Polemicas
Pelo Telefone, Polemicas
Pelo Telefone, Polemicas
GRAVADO
RESUMO
ABSTRACT
In this article we analyze the period of definition of the musical genre samba,
emerged from dance sessions also known as rodas de samba de partido alto,
practiced in the homes of baianas migrated to Rio de Janeiro, characterized by
the improvisation of the participants, alternated with songs refrains, drawn from
hits of the time. At the house of the mãe de santo baiana Hilária Batista de
Almeida, also known as Tia Ciata, was created the music “Pelo telefone", the
first brazilian samba recorded. The most significant composers of brazilian
popular music frequented these dance sessions, including Ernesto dos Santos,
better known by the nickname of Donga. Feeling the market potential of "Pelo
telefone", he held a dissemination strategy, which resulted not only in the most
successful song from the carnival of 1917 but also in the occurrence of various
controversial issues, which are the object of this study.
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Pós-Doutor em Comunicações, Doutor em Artes e Mestre em Artes Cênicas pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Professor no Mestrado Interdisciplinar em Ciências
Humanas, na Graduação em Rádio e Televisão e líder do Grupo de Pesquisa em Comunicação da
Universidade Santo Amaro – UNISA.
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Ernesto Joaquim Maria dos Santos nasceu no Rio de Janeiro no dia 5 de abril de 1891 e faleceu na
mesma cidade em 25 de agosto de 1974. Seu pai era pedreiro e tocava bombardino nas horas vagas. A
mãe, Tia Amélia, cantava modinhas e promovia festas de candomblé e de samba. Era exímio em danças
negras. Começou a tocar cavaquinho de ouvido aos 14 anos de idade, pela admiração pelo instrumentista
Mário Cavaquinho. Dedicou-se depois ao estudo do violão, sendo aluno em 1907 de Quincas Laranjeiras.
Participou do Grupo do Caxangá a partir de 1914, com o codinome Zé Vicente. A partir de 1919 integrou o
Conjunto Oito Batutas, organizado por Pixinguinha para tocar na sala de espera do cine Palais.
Excursionou com esse grupo pela Europa, ganhando diploma do Conservatório de Paris como violonista.
Participou de diversos grupos de música popular. Deixou extensa obra musical. (ENCICLOPÉDIA DA
MÚSICA BRASILEIRA, 1998)
O samba Pelo telefone teria o carisma de ser uma coisa nova, criado
inicialmente numa roda de partideiros sem preocupações autorais, e
depois recriado usando elementos musicais de diversas origens, e
inserido como produto no mercado aberto pela indústria de diversões.
Vinculado a mundos diversos, à casa de Tia Ciata e à Casa Edison,
às rodas de partideiros e ao registro de partituras da Biblioteca
Nacional. Mundos contíguos na mesma cidade, que trabalhavam
suas formas de convívio na nova situação além da simples relação
hierárquica. (MOURA, 1983, p. 80)
A estratégia de Donga
Divulgação da música
“Pelo telefone” não foi o primeiro samba a ser gravado, nem era
propriamente um samba – do ponto de vista rítmico e harmônico,
talvez fosse mais apropriado classificá-lo como um maxixe. Donga,
portanto, não inventou um novo gênero. Inaugurou, sim, o
procedimento e a estratégia de divulgar e fazer circular nos meios
comerciais, de forma metódica e profissional, uma música de
extração popular para ser executada durante o Carnaval. (LIRA
NETO, 2017, p. 90)
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Notícia parecida foi publicada no Jornal do Brasil em 17/01/1917. O mesmo jornal publicou no dia
seguinte: “´Pelo Telefone`, tudo faz crer, será com a letra que o “Peru” para ele escreveu e que dentro de
poucos dias estará à venda, o estribilho festivo dos populares folguedos de Momo no corrente ano.”
Essa letra já havia chegado no Teatro São José e sido inserida dentro
de uma revista teatral. O Correio da Manhã, na sessão “Pingos & Respingos”
de 4 de fevereiro de 1917, citou a inserção da letra original de “Pelo Telefone”
na revista Três Pancadas, escrita por Carlos Bittencourt e Luís Peixoto.
3ª PARTE – Se quem tira amor dos outros / por Deus fosse castigado,
o mundo estava vazio/ e o inferno só habitado.
4ª PARTE – Queres ou não / Sinhô, sinhô / Vir pro cordão / Sinhô, sinhô
E ser folião / Sinhô, sinhô / De coração... / Sinhô, sinhô
Porque este samba, etc. (JORNAL: O PAIZ, 27/01/1917)
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Comentário e texto publicados em 27 de janeiro de 1917. Localizamos a mesma letra em: O Imparcial:
31/1/1917, com um texto introdutório: “Este é o samba carnavalesco da moda. É cutuba de verdade, foi
feito pelo Mauro, “peru dos pés frio” e musicado pelo “Donga”, dois grandes batutas em coisas de Momo.
Por isso, Chantecleer, que o tem cantado onde assenta o voo, restava oferecê-los aos seus amiguinhos,
aqui publicando-o. Canta, minha gente, canta que a coisa é mesmo boa de verdade!”
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Esta sextilha “de disse e não disse” é de autoria do jornalista Francisco Guimarães.
Donga, que não era homem de levar desaforo para casa não respondeu
à insinuação, o que faz supor que houvesse um pouco de verdade na notícia
do Jornal do Brasil.
Mauro de Almeida se defendeu dizendo que apenas arranjou o texto,
colando-o de trechos de composições folclóricas e canções do inconsciente
popular, cantadas nas ruas do Rio de Janeiro. No jornal O Paiz de 15 de
fevereiro de 1917 ele publicou uma carta, confirmando ter juntado trechos de
letras já conhecidas no Rio de Janeiro.
Tudo que fiz foi consciente. Vocês deveriam perguntar aos outros
brasileiros se eles tinham visto um samba gravado. Eu fiz um e fui
feliz. (IBIDEM, p. 82)
1ª e 2ª Partes
Antônio Ribeiro, / Cabra Sapoemba. / É de coração,
Esse cabra matreiro. / Já comeu macuemba, / E com perfeição.
Ai! Ai! Ai! / Ele já foi o batuta do Black,
Ai! Ai! Ai! / Hoje é amigo do Borgeth (o moleque),
O coronel garganta, / É rapaz sem físico; / Extremamente fraco,
Apanhou uma moléstia / Está quase tísico, / Por tirar o casaco!
Ai! Ai! Ai! / Nesta história de mentiras /É uma cobra.
Ai! Ai! Ai! / Ganha muito facilmente do Sogra.
Esta menina / Sinhô! Sinhô / Quer ser tão fina / Sinhô! sinhô
Mas se estrepa / Sinhô! Sinhô / Em mim não trepa / Sinhô! sinhô
Eu quero ver / Sinhô! Sinhô / Quero saber / Sinhô! sinhô
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Almirante questionou durante toda sua vida a autoria de “Pelo Telefone”. O fez em 1917; na série
radiofônica A História do Rio pela Música, no capítulo Carnaval, em 22 de fevereiro de 1943; na série
radiofônica O Pessoal da Velha Guarda, em 24 de dezembro de 1947; na palestra Retrato Musical de
Sinhô, realizada no Golden Room do Copacabana, em 2 de abril de 1957; no livro No Tempo de Noel
Rosa, no capítulo Nasce o Samba Carioca, de 1963.
REFERÊNCIAS
Jornais
A Noite – Rio de Janeiro, 1913. http://bndigital.bn.br/acervo-digital/noite/120588
A Razão – Rio de Janeiro, 1917. http://bndigital.bn.br/acervo-digital/razao/129054
A Rua – Rio de Janeiro, 1916. http://bndigital.bn.br/acervo-digital/rua/236403
Correio da Manhã – Rio de Janeiro, 1917. http://bndigital.bn.br/acervo-digital/correio-
manha/089842
Jornal do Brasil – Rio de Janeiro, 1917; 1962; 1969; 1973.
http://memoria.bn.br/DOCREADER/DOCREADER.ASPX?BIB=030015
O Imparcial – Rio de Janeiro, 1917. http://bndigital.bn.br/acervo-digital/paiz/738921
O Paiz – Rio de Janeiro, 1917. http://bndigital.bn.br/acervo-digital/paiz/738921