12 Tópicos Especiais em Neuropsicopedagogia 1

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TÓPICOS ESPECIAIS EM NEUROPSICOPEDAGOGIA

1
Sumário

NEUROCIÊNCIA COGNITIVA ........................................................................... 3

BASES NEUROLÓGICAS E APRENDIZAGEM ................................................. 6

Dimensão Interna do Desenvolvimento .............................................................. 9


Educação dos Sentidos .................................................................................... 10
O cérebro e o sistema nervoso ........................................................................ 15

O desenvolvimento da mente e do comportamento ......................................... 21


Referências............................................................................................ 26

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NOSSA HISTÓRIA

A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas


de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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NEUROCIÊNCIA COGNITIVA

Caro(a) aluno(a), devido à grande elucidação dos conhecimentos


inerentes ao cérebro e à aprendizagem, podemos iniciar de forma mais
aprofundada o relacionamento desses temas dentro de bases neurológicas e de
aprendizagem. Poderíamos falar um pouco mais sobre aspectos cognitivos ou
da ciência que estuda essa condição, a neurociência. Não que já não tenhamos
mencionado na primeira parte, mas falar de neurociência, como vimos, é falar de
aprendizagem, e quando falamos de aprendizagem automaticamente devemos
colocá-la do ponto de vista cognitivo, relacionando-a com todo o pensamento
humano e memória.

Neurociência cognitiva é o estudo do planejamento, do uso da linguagem


e das diferenças entre memória para eventos específicos e memória para
execução de habilidades motoras. Esses são exemplos da análise do nível
cognitivo. Essa ciência atualmente é um misto de Neurofisiologia, Anatomia,
Biologia Desenvolvimentista, Biologia Molecular e Celular e Psicologia Cognitiva.
Pois bem, você precisa conhecer tudo isso para trabalhar no dia a dia? Evidente
que não, mas relato aqui, apenas, para mostrar tamanho dessa ciência e como
muitas profissões podem inferir no processo de ensino aprendizagem. Ou seja,
ensinar ou aprender tem todo um aspecto de multidisciplinaridade, em que todos
são importantes para o êxito do aprender.

Pois bem, inicialmente posso apontar que o aprendizado é decorrente da


sensação e percepção sensorial que são o ponto de partida para a pesquisa dos
processos mentais. Você pode ter se assustado com esse início, mas aqui não
teremos dificuldades, posso apostar. Quem nunca estudou, seja na infância,
faculdade ou em outros momentos da sua formação, aqueles famosos órgãos
dos sentidos? Isso mesmo, conhecimento é obtido por meio da experiência
sensória, de tudo aquilo que nós vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos,
degustamos (e olha que nem estamos falando de Psicomotricidade), do nosso
nascimento até nossa morte. Daí a concepção de que sempre podemos
aprender desde que nascemos e só paramos quando morremos.

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As experiências pelas quais passamos em nossas vidas são informações
que chegam ao sistema nervoso central na forma de estímulos sensoriais. O
encéfalo processa essas informações procurando compará-las com outras que
foram previamente guardadas, reconhecendo-as ou não. Esse mecanismo não
envolve apenas os aspectos físicos dessa informação (cor, forma, tamanho),
mas também as relacionando com os aspectos diretamente ligados aos
sentimentos e emoções. Após seu processamento, um conjunto de sensações é
memorizado com a informação recebida que pode ser agradável ou não.
Lembra-se da criança e da gaveta de facas exemplificada na unidade inicial
desse material? Se cortarmos a mão na gaveta de facas, aprenderemos o que
ela gera, normalmente dor, ou para que serve aquele objeto.

Permita-me tentar explicar melhor imagine um cipó meio cheio ou meio


vazio.

Certamente obtivemos todos os tipos de resposta, uns disseram que está


vazio, outros, cheio e para outros, ainda está no meio, pois bem, essas respostas
emergiram da sua cabeça por todas as experiências já vividas até aqui, e é
dependente sim do ponto de vista individual. Tem sido dito que a beleza está nos
olhos de quem a vê. Como hipótese, essa ideia indica claramente o problema
central da cognição. O mundo da experiência é produzido pelo homem que a
vivência.

Vamos então supor que a mente pudesse ser, como se diz, um papel em
branco sem quaisquer letras, sem quaisquer ideias. Como então ela poderia ser
mobiliada? De onde vêm todos os materiais da razão e do pensamento? Para
isso, eu respondo em uma palavra: Experiência. Experiência que fundamenta
todo nosso conhecimento e, a partir dela, em última análise, ele se origina.

Pegue um papel em branco, pegue um lápis e faça um risco bem fino e


fraco. Agora ainda com o lápis, faça um traço mais forte. Agora tome uma
borracha e apague esses riscos. Apagou? Analise o papel e veja se ele voltou a
ser o mesmo papel que antes de riscar. Voltou? Analise bem, mesmo sem a
marca de lápis, certamente uma marca ficou na folha em branco, mesmo aquele
risco fraquinho. Quando você passou a borracha, descascou um pouco a folha
e ela nunca mais voltará a ser como antes, correto? Poderia dar outros

4
comandos, risque com uma caneta ou amasse esse papel. Teria como deixá-lo
como antes? Impossível. Pois bem, nosso cérebro, quando nascemos, é uma
folha em branco. Devemos por meio de vários estímulos, marcar de forma
positiva a cabeça desses indivíduos e posso afirmar a todos aqui que sempre
deixamos nossa marca, para alguns, ela é muito forte e, para outros, ela
influencia alguma coisa, mesmo que seja como um risco fininho na cabecinha
desses que estão aprendendo. Se ainda não ficou claro, reflita: se falar um
palavrão. Certamente a criança rapidamente irá gravar, não é? As coisas boas
também podem ser gravadas, é você quem deve ser um dos mediadores disso.

Os órgãos dos sentidos são canais de captação dessas novas


informações, mas eles apresentam algumas limitações, por exemplo, nem todas
as frequências sonoras que chegam ao nosso sistema auditivo são percebidas
pelo nosso cérebro, isto é, nem todos os sons que chegam à região auditiva
serão processados, assim, consequentemente não iremos percebê-los ou
identificá-los de modo consciente.

Nosso cérebro ignora 99% das informações que chegam até ele. Nossas
percepções diferem-se qualitativamente das propriedades físicas dos estímulos,
visto que o sistema nervoso extrai somente determinadas partes da informação
de cada estímulo, enquanto ignora outras, e assim interpreta está informação no
contexto das estruturas encefálicas e das experiências prévias. Dessa forma,
recebemos ondas eletromagnéticas de diferentes frequências, mas as
percebemos como as cores vermelho, azul e verde. Recebemos ondas de
pressão dos objetos vibrando em diferentes frequências, mas ouvimos sons,
palavras e músicas. Cores, sons, sabores e odores são criações mentais
construídas pelo encéfalo a partir da experiência sensória. Elas não existem,
como tal, fora do encéfalo.

Para explicar melhor, nesse momento, ao ler esse material, inúmeros


outros sons estão ao seu entorno, sejam eles, barulho de carro, de portas, do
vento, de passarinhos, da televisão, do rádio, de pessoas conversando.
Simplificando, inúmeros sons estão acontecendo e seu cérebro não os percebes,
uma vez que sua atenção está somente nas palavras escritas nesse documento.
Por exemplo, identifique os sons que estão acontecendo agora ao seu entorno.
Agora os que mais gosto, você percebe a roupa em contato com a sua pele?

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Agora que voltou sua atenção para isso, certamente. Você percebe a pressão
que seu glúteo exerce sobre a cadeira? Agora, certamente, pois voltou sua
atenção para isso. É claro que quando viajamos durante horas na posição
sentada, iremos perceber essa pressão, mas que quero mostrar a você é que
nosso cérebro escolhe e ordena aquilo que é mais importante em dado momento
de nosso cotidiano, assim ele descarta muitos estímulos sensoriais que chegam
a ele, com o intuito de priorizar tudo que julga ser mais importante naquele
momento, agora, por exemplo, a leitura desse texto.

Em outras palavras, tudo que sabemos sobre a realidade é medida não


somente pelos órgãos dos sentidos, mas também por complexos sistemas que
interpretam e reinterpretam as informações sensoriais.

BASES NEUROLÓGICAS E APRENDIZAGEM

O que é aprender? O que é Neurociência? Como ensinar da melhor


maneira que os cérebros possam aprender? Como funciona o cérebro? Quais
suas potencialidades e limitações? Como conhecimento sobre esses assuntos
abordados podem ser aliados do professor?

Quanta pergunta não é mesmo? Tentarei, ao longo dessas páginas,


respondê-las e esclarecer dúvidas inerentes à aprendizagem humana, e a partir
de então, proporcionar um conhecimento mais palpável e interventivo a todos
vocês.

Começamos a responder a primeira pergunta, aprendizagem é um


processo magnífico que ativa e fortalece sinapses, deixando-as cada vez mais
intensas, a cada estímulo novo, a cada repetição de algo que queremos
consolidar, circuitos neurais processam as informações que deverão ser
firmadas e guardadas em nosso cérebro.

O que é Neurociência já foi explicado no item anterior, e chegamos ao


seguinte questionamento: como o cérebro funciona? Bastante complexa essa
questão, levaríamos uns dois anos para compreender e ter uma base de

6
conhecimento ótima sobre o cérebro. Então partiremos de questões gerais que
servirão de base para um aprofundamento maior.

Todos somos únicos, correto? Pelo menos aos olhos de nossos pais
somos perfeitos, brincadeira pessoal. Falamos há pouco que, devido a nossa
experiência de vida, e àquilo que percebemos do meio que nos rodeia, redes
neuronais serão moldadas e firmadas e isso dependerá da história de cada um.
Alguns crescem em metrópoles gigantescas, outros brincaram muito quando
crianças, subindo em árvores, jogando pedras etc., parece pouco, mas
acreditem, nos dias de hoje a falta de segurança e as condições sociais fazem
que a nova geração tenha um repertório motor limitado, o que torna a subir em
árvore ou jogar uma pedra atividades complexas. Pois bem, se nascemos e
crescemos em lugares diferentes, nosso cérebro é moldado de uma forma
diferente. Isso ocorre até mesmo para irmãos gêmeos que foram criados na
mesma casa e educados pelos mesmos pais e professores, eles podem ser
diferentes, pois as motivações e influências ambientais os marcaram
diferentemente, ou seja, o cérebro é sempre igual para meninos e meninas do
ponto de vista de uma estrutura anatômica, físico-química, mas somos
diferentes, pois temos redes neuronais que nos tornam únicos.

Dependendo da área do cérebro, os neurônios processam coisas


específicas, por exemplo, as inteligências múltiplas conforme aponta Gardner
em sua obra em 1983:

1. Inteligências Linguísticas: característica dos poetas, a capacidade


mais completa; Localização no Cérebro: Área de Broca.

2. Inteligências Lógico-Matemática: a Capacidade lógica e


matemática, assim como capacidades científicas; Localização no Cérebro: Área
de Broca.

3. Inteligência Espacial: a capacidade de formar um mundo espacial


e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo (Marinheiros,
Engenheiros, cirurgiões, etc.); Localização: hemisfério direito do cérebro.

4. Inteligência Musical: possuir o dom da música como Mozart;


Localização: hemisfério direito do cérebro.

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5. Inteligência Corporal Cinestésica: capacidade de resolver
problemas ou elaborar produtos utilizando o corpo (Dançarinos, Atletas, artistas,
etc.); Localização: hemisfério esquerdo do cérebro.

6. Inteligência Interpessoal: capacidade de compreender outras


pessoas (Vendedores, Políticos, Professores, etc.); Localização: Lobos Frontais.

7. Inteligência Intrapessoal: capacidade correlativa, voltada para


dentro. Capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de
utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida. Localização: Lobos
Frontais.

O cérebro humano funciona integralmente (desconsiderando patologias


neurológicas), essa história que escutamos há tempos que utilizamos apenas
uma parte do cérebro humano e que, quando formos capazes de controlar 100%
dele, poderemos até nos comunicar por telepatia não é verdade pessoal, nosso
cérebro é sim algo a ser desvendado, mas o usamos integralmente.

O cérebro não só aprende, como também se reorganiza. Imagine uma


pessoa cega e responda a seguinte indagação: ela nasce com uma capacidade
tátil mais aguçada ou desenvolve? Aprimora essa condição pela necessidade?
Isso mesmo pessoal, uma criança que nasce cega, terá de adaptar outro órgão
do sentido para minimizar os prejuízos da aprendizagem e da experiência, assim
são aprimorados outros sentidos, como o tátil e auditivo, por exemplo.

O cérebro humano passa por um longo processo de maturação biológica


durante 20 anos, ou seja, até o início da fase adulta nossas estruturas cerebrais
estão sendo amadurecidas, então não caiam no erro de comparar uma criança
com um adulto, pois essa história de adulto em miniatura não é correta.

O desenvolvimento humano é marcado por mudanças físicas no cérebro


e por aquisições biológico-culturais específicas, que são possíveis graças à
configuração físico-química do cérebro naquele determinado momento.

A aprendizagem se efetua pela criação de novas memórias, ampliação e


transformação das redes neuronais que guardam os conteúdos trabalhados
anteriormente. Em síntese, a prática pedagógica que for planejada e executada
sem levar em consideração os processos internos mentais da espécie humana

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terá grande possibilidade de conduzir o aluno a uma situação de não
aprendizagem. Posto isso, os conhecimentos relacionados a esse magnífico
órgão, devem ser esclarecedores para os profissionais que trabalham com a
educação, uma vez que devem ser o alicerce na elaboração de métodos durante
todo processo de ensino-aprendizagem.

Assim, a escola ideal deve estar focada no indivíduo e voltada ao


entendimento e desenvolvimento do perfil cognitivo do aluno, sem esquecer que
todos somos diferentes. Nem todos aprendem da mesma maneira, uma vez que
temos interesses e habilidades diferenciadas, então nos motivamos e mantemos
a nossa atenção de forma distinta um dos outros. É impossível do ponto de vista
humano, aprender tudo o que há para ser aprendido. É verdade que aprendemos
até momento de nossa morte, mas conhecer tudo, é impossível.

Muito se fala em mudança de currículo escolar, contudo não quero aqui


discutir todos esses pontos, assim devemos considerar esse perfil cognitivo
individual, pois não adianta mudar nada sem que se leve em consideração os
objetivos e interesses desses discentes, permitindo, além de vários estilos de
aprendizagem, uma ligação entre escola e comunidade, não apenas para alunos
ditos “normais”, mas também para aqueles com perfis cognitivos incomuns. Esse
papel também é do educador, que deve construir e transformar essas visões em
realidade. Caro(a) aluno(a), nunca se esqueça de que todos têm algum talento,
todos podem brilhar e para isso não há um modelo padrão.

Dimensão Interna do Desenvolvimento


Quando a criança começa a falar, ela realiza uma série de aquisições que
a levaram à fala, e da mesma maneira a levarão a escrever e a ler. O simples
brincar, não vou aqui defender a brincadeira, uma vez que é algo natural inerente
à criança em pleno desenvolvimento, de maneira despreocupada já mobiliza
áreas do cérebro que fazem parte da aquisição de conhecimentos formais.
Quando a criança brinca, redes neuronais são firmadas no córtex motor (área do
cérebro onde boa parte dos movimentos aprendidos ficam guardados). Quando
se repete movimentos várias vezes, se desenvolve a perícia que será utilizada
para o processo da escrita, por exemplo, advinhas, cantigas, podem servir de
elementos que enriquecerão esse processo de escrever, além do poder de

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educar a atenção tão importante no processo de aprendizagem. Outro exemplo
poderia ser o de desenhar, processo que antecede a alfabetização, ou em outras
palavras, já faz parte da alfabetização. Então não precisamos “forçar” a criança,
não há necessidade de saber escrever aos 3 anos, isso acontecerá
naturalmente. Lembre-se que o cérebro tem tempo para amadurecer. Escola boa
não é aquela que alfabetiza mais rápido, mas sim aquela que desenvolve a
criança no tempo correto e leva em consideração as fases de amadurecimento
neural e motor. Quem dera os pais pudessem ler isso, não é?!

Educação dos Sentidos


Falamos há pouco dos órgãos dos sentidos, muito estudados no
componente curricular de Psicomotricidade, mas todo aquele processo de
experiencia é parte de um desenvolvimento perceptivo que é a condição para a
atenção e, consequentemente, formação de memórias. Essa educação dos
sentidos é a base para a aprendizagem humana os quais se combinam,
interagem, efetivando possibilidades de comportamento que são essenciais à
espécie.

Toda a percepção se dá no cérebro, ou seja, quando sofremos por amor,


por exemplo, e aquela dor no peito aflora, na verdade a percepção de dor ocorreu
em nosso cérebro. Permita-me apresentar de outra maneira, imagine que você
está na praia, olha que coisa boa, está tomando sol na areia e acaba dormindo,
certamente o sol começará a queimar sua pele, mas, enquanto você dorme, seu
corpo (receptores) está quase implorando ao seu cérebro (lembre-se ele é o
chefe) para que saia do sol, pois está se queimando, mas dormindo você não
percebe ou não gera uma ação resposta para aquela situação e acaba por
permanecer ali. Quando acorda, seu cérebro decodifica as informações e
percebe a dor, nesse momento, você já está queimado e nada mais poderá ser
feito. Assim, acontece em uma anestesia, se cérebro percebe a informação que
chega a ele pelos órgãos dos sentidos, uma resposta será processada com base
nas informações previamente guardadas em nossa memória. Em suma, depois
que vivenciamos algo que é explorado pelos órgãos dos sentidos, uma
informação fica gravada em nossa memória e sempre que passarmos por algo
similar, nosso cérebro perceberá e informará todas as outras partes corporais
envolvidas ou necessárias naquele momento.

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O professor depende dessa capacidade em promover experiências ou de
formar novas memórias (pelos órgãos dos sentidos) para garantir que o conteúdo
escolhido se efetive em conhecimento.

A Leitura

Como você sabe que cadeira é cadeira, ou mesa é uma mesa? Porque
aprendi. Correto, mas poderia a palavra cadeira ser imaginada como uma mesa
ou um ventilador? Nesse momento, não, pois alguém nos ensinou o significado
de cada um dos objetos. Por exemplo, ao ler a palavra fogueira, uma imagem
relacionada à fogueira apareceu na sua cabeça. Alguém, algum dia, te ensinou
isso. Pois bem. Já perceberam uma criança em processo de aprendizagem por
volta dos 2 anos? Passa na televisão uma imagem de um cavalo e a criança
aprende a chama -ló de “cabalo”, depois passa um cachorro, e a criança o chama
de “cabalo”, depois um gato, o qual é também chamado de “cabalo”, ou seja, ela
associa um animal que fica sob quatro patas a “cabalo”. Lentamente começamos
a intervir e ensinar nome de todos os animais e também lentamente a criança
aprende e assimila essa informação na memória.

Quando se começa a ler e a escrever, o processo de significação do que


está escrito em um papel é compreendido com base no conhecimento que está
na memória. Um grande erro do passado, foi a escola tentar nos ensinar o verbo
to be sem que conhecêssemos o significado das palavras? Lembrem-se de que
ordem natural é aprender a gerar significado aos sons, depois reproduzi-los (fala)
e só no fim escrever.

A leitura envolve percepção visual, auditiva e a memória, nesses mesmos


componentes. A palavra é sonora, tanto na oralidade quanto no pensamento.
Em outras palavras, parece que tem alguém falando dentro da nossa cabeça.
Preste atenção, ao ler uma frase, parece que tem um homenzinho ou
mulherzinha falando dentro da sua cabeça. Envolvendo também a memória
visual e auditiva. A omissão desses componentes declina em problemas de
leitura.

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Emoção

A emoção tem obviamente um papel fundamental na função adaptativa e


de sobrevivência da espécie, ou ninguém tem medo de alguma coisa? Alguns
chegam a ter síndromes do pânico, por exemplo, talvez você tenha medo de
aranha porque há anos você assistiu àquele filme e desde então pensa que
aranhas irão aparecer de todos os lugares. Esse medo é bom, auxilia na
proteção da espécie.

O sistema límbico, parte do cérebro onde se originam nossas emoções,


participa dos processos de aprendizagem do ser humano, inclusive da
aprendizagem dos conhecimentos escolares.

Nossos processos de memória também são moldados pela emoção,


algumas boas outras nem tanto. Desse modo, toda ação de ensino deve
considerar as emoções.

Mas pergunto a você: será que o currículo escolar está restrito apenas à
escrita, leitura e aritmética? Onde devemos treinar ou ensinar apenas parte do
potencial individual do ponto de vista cerebral? Ou o sistema educacional tem
problemas em formar alguns talentos?

Diante disso, é fundamental educar a emoção, aquela habilidade de


motivar a si mesmo a persistir mediante os acertos e frustrações, controlar
impulsos, centralizar emoções para situações específicas, motivar pessoas e
fazê-las desenvolver seus melhores talentos (RELVAS, 2010). Será então que
nem todos são capazes de aprender? Como já estudamos até o momento, vimos
que isso não é verdade, todos podemos evoluir e alcançar o conhecimento geral.
Para tanto, torna-se fundamental que todo o sistema educacional atenda às
exigências mínimas da atualidade oferecendo um ensino amplo apoiado nas
novas tecnologias e sobretudo compreendendo o mínimo possível do
funcionamento cerebral e suas respostas a diversas situações, sem que
esqueçamos das diferentes emoções que todos podemos sentir dado um
momento específico.

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Como visto anteriormente, nosso cérebro trabalha integralmente, e
poderíamos, quem sabe, trabalhar com a ideia de propor a reprodução de
desenhos partindo de uma cópia em que o desenho base estaria de cabeça para
baixo. Segundo a professora de arte da Califórnia Betty Edwards, citada por
Relvas (2010, p. 114), esse método permitiria uma maior utilização do hemisfério
direito do cérebro, havendo uma participação bem menor do hemisfério
esquerdo, aquele dito que trabalha sempre quando os aspectos cognitivos estão
mais evidentes. O problema é que reproduzir um desenho não deixa de ser um
ato cognitivo, e o lado esquerdo do cérebro, por ser analítico e verbal,
classificaria a figura e a cena antes de iniciar a cópia (detalhamento). A diferença
é que, segundo a Edwards, esse método de virar desenho de ponta cabeça
deixaria a transcrição muito difícil, permitindo assim uma maior atuação do
hemisfério direito, principalmente nas noções de posição, dimensionalidade e
orientação.

Outro ponto que chama muito a atenção é a educação emocional


comparando os diferentes gêneros. Pois bem, são muito evidentes as influências
que recebemos de “casa”. O meio social nos mostra que o homem é mais bruto
e desleixado, já a mulher é mais meiga, dócil e organizada. O interessante é que
isso acaba por se refletir no contexto escolar, criando modelos de desempenho
ou rendimento dentro da sala de aula, e essa realidade vem, cada vez mais,
chamando a atenção de pais e profissionais.

Diante desse contexto, muitos professores criam o seguinte modelo para


bons alunos, o caderno deve ser limpo e caprichado, normalmente coisa de
menina, interpretado muitas vezes como submissão, e aquele material oposto a
isso é coisa de menino, normalmente considerado como desleixo.

Segundo Relvas (2010), as professoras preferem ter, em suas salas de


aula, alunas mais curiosas, que demonstre iniciativa, mas ainda com aquele
velho padrão feminino de ser dóceis, meigas e tranquilas, tendo inúmeros
desenhos coloridos em seu caderno., Por outro lado, as meninas em idade
escolar já não se satisfazem com esse modelo de comportamento feminino, e
apresentam no dia a dia uma condição de independência que pode assustar os
docentes, fazendo com que muitos de nós não nos sentamos preparados para
trabalhar com as atuais tendências da sexualidade, respeitando os diferentes

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ritmos de desenvolvimento na infância e na adolescência. A autora citada no
parágrafo anterior também ressalta que professoras normalmente preferem
alunos indisciplinados, desconsiderando o sexo, e se incomodam mais com
alunos totalmente dependentes. Argumentam que mais vale um indisciplinado
com boas notas e ótimo rendimento em sala, do que um que vai mal nas notas
e com baixo poder de concentração.

Cruzar esses estereótipos sociais no contexto educacional é injusto com


os meninos, uma vez que essa subjetividade entra em cena e acaba por receber
avaliações sempre negativas quando comparados às meninas.

Essa competição entre os gêneros ocorre muito fortemente, no entanto,


meninos normalmente rendem mais que meninas em atividades de exploração,
que requerem iniciativa, seja para manipular experimentos em laboratório,
trabalhar com mapas ou utilizar gráficos e tabelas. Mas se o menino apresenta
um padrão negativo quando comparado às meninas, por que isso acontece?
Lembre-se, todos chegaram à sala de aula com padrões sociais
preestabelecidos, aquela educação trazida de casa, e se não fizermos nada, não
daremos oportunidades para que as habilidades individuais apareçam.

Sugiro que tente “inverter papéis”, em que todos os meninos e as meninas


realizam atividades como cozinhar, consertar, jogar bola, organizar caixas de
insetos etc. Proponha aos alunos que realizem tarefas “incomuns” para aquele
tipo de gênero.

Atenção

Para que possamos aprender algo, devemos estar com nossa atenção
voltada para aquele momento, objetivo ou situação. A aprendizagem depende
da intensidade da atenção, sendo assim, é fundamental que esta seja educada.

A formação de memórias de longa duração depende da retomada


sucessiva do conteúdo para que fortaleçam as conexões que garantem a
formação do conceito.

O cérebro humano está sujeito a estímulos externos através dos sentidos,


a estímulos internos advindos do organismo e a estímulos de ordem emocional.
Com a atenção e o poder de concentração, não é diferente. Assim, há fatores

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externos e internos que facilitam ou dificultam a atenção. Cada um aprende de
um jeito, estudamos de maneiras diferentes, correto? Na verdade, temos
capacidades diferentes de manter nosso foco, nossa atenção. Alguns são
facilmente distraídos por sons externos que dificultam a leitura, por exemplo,
outros, ao estudar para uma prova, necessitam de uma televisão ou rádio
ligados. Tudo isso é treinado.

Fonseca (2013) cita um modelo subdividindo o cérebro humano em três


unidades básicas: a primeira é a unidade de alerta e atenção; a segunda de
recepção, integração, codificação e processamento sensorial; e a terceira de
execução motora, planificação e avaliação.

Para o momento, manteremos brevemente nosso foco apenas na primeira


unidade básica de alerta e atenção. Para o autor, elas são interdependentes,
selecionam, filtram, alocam e refinam a integração de estímulos. Sua disfunção
pode gerar hiperatividade, implicando em problemas de processamento
(percepção + memória) e de planificação.

Caro(a) colega, apenas cuide para não rotular um indivíduo que não
segue um padrão aceitável dizendo que aquele aluno tem Síndrome de Déficit
de Atenção, Hiperatividade etc.

A escola do futuro deve atender às diversidades, aos diferentes estilos de


aprendizagem (cada um aprende de um jeito). Esse é o grande desafio do
profissional: conhecer, perceber e identificar como cada aluno aprende para
intervir com eficiência.

O cérebro e o sistema nervoso


Caros(as) colegas, não é querendo criticar, mas já criticando currículo não
só escolar, mas também o universitário, pergunto a vocês, quem aqui já
aprendeu algo sobre o desenvolvimento humano? Desenvolvimento motor?
Aprendizagem humana? Nada? Alguns certamente responderam que já, e aí vai
outra indagação, aprendeu tudo em quanto tempo, um ou dois semestres? Pois
bem, se nos propomos a trabalhar com pessoas, deveríamos conhecer as fases
evolutivas humanas, não apenas em idade infantil, mas também na
adolescência, na fase adulta e também durante o envelhecimento. Caso

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contrário, a probabilidade de nossas intervenções não surtirem efeitos, ou pelo
menos não de forma tão satisfatória, é grande.

Para iniciar, já posso colocar a seguinte informação: quando um bebê


nasce já estão desenvolvidos o mesencéfalo e a medula, que são responsáveis
pela frequência cardíaca (FC), respiração, funções vitais etc., ou alguém aqui já
ensinou um bebê a respirar ou controlar os batimentos cardíacos? O córtex
cerebral ainda é pouco desenvolvido, aquele responsável pela percepção de
movimentos corporais, pensamento e linguagem. Por isso um bebê ao nascer
parece uma “maria-mole”, ainda há de ser desenvolvida muita coisa pelos
próximos meses de vida. E por fim, o córtex pré-frontal, que é a última coisa a
ser desenvolvida, localizada logo atrás da testa, responsável pelo
processamento executivo (BEE, 2011).

Um dos princípios do desenvolvimento neurológico, é que o cérebro


cresce em surtos mais do que de maneira suave. Já perceberam que o bebê de
“maria-mole” logo passa a explorar o ambiente, aí ninguém mais segura essa
criança, não é verdade? Toda fase de desenvolvimento é acompanhada por uma
fase de estabilização, em outras palavras, evolui, aprende algo, firma bem essa
nova fase e somente depois desenvolve outra coisa. Na infância, os intervalos
de crescimento e estabilidade são curtos, daí uma evolução tão rápida.

Até os 5 meses de um bebê, os intervalos de evolução de uma fase para


outra são de 1 mês, de passar a maior parte do tempo dormindo ou chorando,
de acompanhar movimentos com olhos, responder a carinhos com sorrisos e
sons, brincar com os cabelos de quem o segura, reconhecer as mãos e brincar
com elas, sustentar a própria cabeça, pegar e manipular objetos e já reconhecer
visualmente as pessoas que ficam com ele etc. Em pouco tempo, o bebê evolui
consideravelmente em seu desenvolvimento. À medida que o bebê envelhece,
seus períodos de crescimento e estabilização também passam a ser mais
longos, ocorrendo em torno dos 8, 12 e 20 meses, processos de se arrastar,
engatinhar, tentar pegar os objetos, sentir a ausência dos pais, gostar de jogar
coisas no chão para aprender os barulhos que elas farão, gostar de passear,
começar a ficar em pé e aprender a andar, adorar brincar com diversas coisas,
e explorar o ambiente, mesmo que para isso tenha de abrir gavetas e explorá-
las, tudo isso permite o início do processo de aquisição da linguagem, em que

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lentamente a criança irá nomear e apontar os objetos. O período entre os 2 e 4
anos, ocorre muito lentamente, nele se dá o desenvolvimento da fala (muito rica
por sinal), no qual a criança aprende a significação de inúmeros objetos. Após
os 4 anos, há um outro surto importante, como a fluência da linguagem, tanto
para entendimento quanto para a fala.

Todos esses surtos de crescimento citados anteriormente no cérebro


infantil ocorrem de forma restrita para algumas partes específicas, por exemplo,
aos 20 meses, os marcos de desenvolvimento cognitivo, onde a maioria dos
bebês evidenciam o planejamento dirigido ao objetivo em seu comportamento.
Nesse momento, a criança já pode arrastar uma cadeira para ficar alto o
suficiente para alcançar algo proibido que esteja em um local mais alto, ou nunca
ninguém viu uma criança elaborar um plano de ação para chegar à janela
escalando o sofá ou ainda colocar uma cadeira, subir na cadeira, e a partir dela
subir no balcão da cozinha e somente depois alcançar o pote de balas talvez?

Segundo Bee (2011), dois surtos do crescimento importantes ocorrem


durante a meninice, onde por volta dos 6-8 anos, tornam-se evidentes melhoras
nas habilidades motoras finas e na coordenação olho-mão, processo inicial
importante para que exista qualidade na escrita, por exemplo. Já aos 10-12 anos
os lobos frontais do cérebro, focos no processamento da memória, lógica e
planejamento.

Ainda em consonância com a autora citada acima, outros dois surtos de


crescimento cerebrais importantes acontecem na adolescência. O primeiro deles
ocorre entre os 13 e 15 anos e o segundo por volta dos 17 anos até a fase adulta.

No primeiro deles, podemos perceber uma melhora significativa da


percepção espacial e das funções motoras, mas alguns leitores certamente
perguntarão: “mas se isso passa a ser bem desenvolvido, por quais razões
adolescentes nessa faixa de idade são tão estabanados ou desastrados?“ A
situação é a seguinte, normalmente no início da adolescência um surto de
crescimento faz com que as estruturas corporais cresçam rápido demais, assim
esses indivíduos acabam por não terem tempo suficiente para o cérebro
perceber e calcular em pouco tempo a posição, a direção, a angulação para que
os movimentos aconteçam. Em outras palavras, o cérebro está acostumado com

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uma mão menor, pé menor, cabeça, tronco de todas as outras estruturas
corporais menores, assim o cérebro ainda imagina um indivíduo, por exemplo,
com 1,50m de altura quando na verdade já se tem 1,62m. Certamente a
percepção ainda defasada e que logo será percebida pelo cérebro acaba
ocasionando quedas constantes, derrubam e quebram copos, pratos etc. Talvez
pela necessidade de o cérebro perceber como está no espaço, esse novo corpo
que cresceu, e aprender sua nova posição, que adolescentes ficam tanto tempo
na frente do espelho. Nesse primeiro momento da adolescência, por volta de 13
e 15 anos, existe uma diferenciação bastante grande em relação àqueles alunos
com idades escolares menores, em que os adolescentes já não aceitam mais
sequer com as “crianças mais novas” uma vez que já são bem “crescidinhas”,
possuem pensamentos abstratos e refletem sobre seus processos cognitivos.
Algumas mudanças profundas no córtex pré-frontal ocorrerão e já terão nessa
idade a capacidade de controlar conscientemente seus pensamentos. Existe
também nessa fase da evolução humana, do ponto de vista cerebral, uma rápida
formação de novas sinapses em outras partes do cérebro, áreas que ainda
necessitam de um melhor amadurecimento, esse excesso de sinapses é similar
àquela que tínhamos no início da vida, em que éramos responsáveis por
fortalecê-las aprimorando o processo de ensino-aprendizagem. Aqui cabe
lembrá-lo(a) da importância de se fortalecer as sinapses da melhor maneira
possível, assim como em um bebê, em que devemos estimular positivamente
com o máximo de intensidade esse cérebro que está se reformulando.

Ainda nessa fase, uma mudança significativa assusta pais e professores,


porque aquele garotinho ou aquela garotinha que adorava a companhia dos pais
deixa de acompanhá-lo? Por que não gosta mais das mesmas coisas e dos
mesmos brinquedos? Na verdade, esses surtos de crescimento que ocorrem no
cérebro são os responsáveis por isso. Não é que eles não “te amam mais”,
apenas querem vivenciar e aprender novas coisas, ainda acima, disse que
cérebro, assim como de um bebê, está cheio de sinapses que devem ser
remoldadas. Desse modo eles querem vivenciar com suas próprias pernas,
pelas suas próprias decisões. Essa mudança é natural, todos nós já passamos
por isso e assim sempre será. O cérebro deles já não gostam mais das mesmas
coisas, pois perderam o interesse. Estão desmotivados com aquelas vivências

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que tinham até esse momento. Ainda é nossa responsabilidade auxiliá-los para
que façam as melhores escolhas, pois estão em um momento que não só
querem, mas, precisam experimentar novas situações e aí que mora o perigo,
sem nossa interferência positiva. Veja bem, não é proibindo e trancando dentro
de casa ou amarrando em uma cadeira, mas sim, dialogando e permitindo que
dúvidas boas fiquem na sua cabeça, que consigam diferenciar o certo do errado,
pois como já não querem mais estar com você 24 horas por dia, virá a
necessidade de se incluir em um grupo social, terão a necessidade de ser
testados e é aí que mora o perigo, o mundo das drogas, da sexualidade, das
vivências perigosas. Por isso, defendo que não é amarrá-los, mas sim dialogar
e fazer com que aprendam a diferenciar o que irá gerar interesses, que mudará
as marcas cerebrais, mas sem riscos à saúde ou à integridade física dos
adolescentes e de todos ao seu entorno. Fiquem tranquilos, eles ainda te amam
e respeitam, apenas precisam de espaço para começar a viver e aprender com
suas próprias pernas, mas como sabemos que eles ainda não estão prontos para
isso (algumas mães e pais jamais estarão) devemos sim interferir da melhor
maneira nessa evolução desses indivíduos.

O segundo surto de crescimento da adolescência acontece em torno dos


17 anos e se estende até a fase adulta. Os lobos frontais do córtex são o foco
do desenvolvimento, controlam a lógica e o planejamento. Já conseguem lidar
melhor com as situações problemas que requerem funções cognitivas (BEE,
2011).

Nessa idade não necessariamente cérebro está completamente maduro.


Lembre-se, essa maturação pode ocorrer até os 20 anos de idade, é comum
encontramos na mídia adolescentes ou quase adultos que se envolvem em
diversos crimes ou acidentes de trânsito, por exemplo. Para muitos, já se
imaginam adultos com total consciência de seus atos, mas na verdade, o cérebro
ainda está finalizando sua maturação e talvez ainda não tenha a noção de
consequência, ou seja, se pegar o carro e estiver dirigindo a 180 km/h, a
adrenalina, a estimulação que o cérebro precisa, estará sem dúvida
acontecendo, no entanto certamente ele não estará prevendo que nessa
velocidade ele pode colidir com outro carro e, além de morrer, levar ao óbito
outras pessoas. Vou além, essa noção de consequência, muitas vezes, passa

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pela condição de conseguir pensar ou se colocar no lugar do próximo e antecipar
o que os demais sentirão em virtude dos seus atos. Voltamos ao carro, dirigiu
em alta velocidade, colidiu com o veículo e matou algumas pessoas. A noção de
consequência não deve ser apenas “nossa que besteira que fiz, matei algumas
pessoas”, mas sim, pensar “matei pessoas inocentes e estou fazendo os
familiares sobreviventes sofrerem muito, que besteira que fiz”, isso leva tempo
para ser alcançado. Isso vem com a maturidade: “se eu tivesse escutado mais
meus pais e professores, certamente teria tido uma vida mais fácil”, não é assim?
Maturidade pessoal, só o tempo traz, mas devemos sim interferir e influenciar
positivamente esses indivíduos.

Assisti a um vídeo interessantíssimo na internet que exemplificava isso de


forma magnífica. Dizia basicamente o seguinte: se um filho com 18 anos pedir o
carro para ir a uma festa e você autorizar, mas mandá-lo passar em um posto e
abastecer o veículo, certamente ele não passará e ficará parado sem
combustível. Lembra que disse a pouco que devemos influenciar, mas eles
devem decidir por conta própria (aspectos cerebrais). Pois bem, adolescente é
medroso, mesmo acreditando que é machão, se ficar de madrugada em uma rua
escura ele morrerá de medo, não é verdade? Então plante a dúvida na cabeça
dele, coloque talvez dessa forma “você já pensou que quando voltar da festa
pode não ter mais nenhum posto de combustível aberto e pode ficar sem
gasolina de madrugada? Não é melhor verificar e se necessário passar no posto
antes de ir?”, semeou a dúvida, aí para seu filho o resultado provavelmente será
o seguinte “eu decidi passar no posto e abastecer o carro”. Não é difícil, é apenas
compreender a importância das fases de desenvolvimento cerebral e criar
métodos diferenciados.

Como disse o ex-jogador de futebol Ronaldo “fenômeno” em comentário


para a rede Globo de televisão durante o jogo do Brasil x Camarões, realizado
no dia 23/06/2014 pela Copa do Mundo de Futebol da FIFA (Federação
Internacional de Futebol), o jogador Neymar, com o gesto de cumprimentar todos
os demais atletas da seleção brasileira antes da partida, chamando a
responsabilidade para si, mesmo tendo somente 22 anos de idade, sendo mais
novo que muitos outros jogadores, talvez ainda não tenha noção do quão
grandioso é esse gesto, do quão importante está sendo para aquele grupo de

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jogadores, “Neymar ainda não tem noção do quanto representa para esse grupo.
Isso só a idade fará perceber”, em outras palavras, logo o cérebro, com o passar
da idade, perceberá o tamanho da pressão e responsabilidade que esse
momento gerou para esses jogadores, principalmente para um dos líderes da
seleção brasileira de futebol.

O desenvolvimento da mente e do comportamento


O desenvolvimento da mente, na verdade, é resultado da maturação do
Sistema Nervoso, em outras palavras, é a possibilidade de realizar atos motores
e cognitivos à medida que a área que controla sua respectiva função, localizada
no Sistema Nervoso, se desenvolve.

A complexidade de nosso comportamento inicia por volta dos 2 meses de


vida. Ainda no período gestacional, algumas células já podem disparar potências
de ação que irão ativar outras células nervosas e musculares. O feto já é capaz
de realizar movimentos como: piscar os olhos, abrir e fechar a boca, deglutir ou
alguém aí já ensinou um bebê a movimentar os olhos ou as mãos?

Claro que não, ele já nasce com os músculos responsáveis pelo


movimento dos olhos maduros. O bebê acompanha diversos movimentos ao seu
redor sem a intenção sensorial. Ele apenas está conhecendo o ambiente que o
cerca, certamente busca olhar para outras pessoas que se movimentam, gosta
de visualizar cores vivas ou qualquer outra coisa que se movimente ainda mais
se mexer e emitir sons, um animal por exemplo. Posteriormente, além de
acompanhar com os olhos, irá segurar e manipular objetos.

Tudo isso está relacionado com modificações biológicas que ocorrem de


maneira intrínseca e que modificam o funcionamento do Sistema Nervoso. As
progressões dessas mudanças vêm de dentro do próprio organismo e são
moduladas pelo ambiente. Não quero aqui abordar teorias Piagetianas ou
Vigotskianas, apenas representar que nossas funções cerebrais são modificadas
conforme o meio em que vivemos. Nosso cérebro se adapta, em outras palavras,
os neurônios realizaram sinapses diferenciadas de acordo com a necessidade
ou estimulação ambiental.

A criança é como uma planta, ela revela-se por si só, mas os fatores
ambientais podem modificar sua progressão do desenvolvimento. A existência

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de estímulos como de adultos, brinquedos, luz etc. faz com que tudo seja mais
intenso. Para trabalhar com criança devemos saber que as conexões existem,
mas elas precisam ser estabilizadas e as sinapses reforçadas para um
desenvolvimento pleno de todas as funções.

Bee (2011) aponta que os sistemas visual e auditivo de um bebê são


imaturos ao nascimento, onde tudo é um misto desfocado, com sons ouvidos em
um silêncio neutro, sem nenhum significado, apenas barulho. Com a progressão
no desenvolvimento, com manuseio de objetos serão adquiridas informações
sobre formas e lugares. O mais importante é que a criança aprende pouco a
pouco, no sentido de espaço e tempo, cada uma no seu ritmo.

Com a maturação do cérebro ocorrendo em seu tempo natural, alguns


aspectos desenvolvimentistas ficam muito evidentes apenas pela observação.
Ao final do 1º mês de vida, a musculatura do bebê já não é tão flácida, e a
inervação motora já é muito mais eficiente (capaz de segurar objetos, mas não
de manipulá-los, aos 10 meses é capaz de sentar e até de ficar em pé muitas
vezes), possui grande habilidade com as mãos. Alguns meses depois é capaz
de ficar em pé sem auxílio nenhum, aí ninguém mais segura esse bebê. Só
permita aqui apontar minha indignação com aqueles andadores, vulgo
“disquinho”, em algumas localidades, se alguém tem isso em casa, quebre. Não
tenho condições aqui de afirmar se ocorrerão prejuízos e em qual magnitude
para essa criança, mas não é a ordem natural do desenvolvimento humano.
Assim, existe a possibilidade do bebê se desenvolver de maneira frágil, uma
queda e já ocorre uma fratura, talvez não aprenda que se cair deve se levantar
sozinho etc., na sequência, pouco a pouco surgem as tentativas de se comunicar
e as primeiras palavras (meninas normalmente andam e falam mais rápido que
os meninos, se passarem dos dois anos e não houver nem a tentativa de se
comunicar procure um especialista). Ainda não consegue se socializar, mas o
convívio social favorece o desenvolvimento das emoções e da organização de
suas ideias. Após os dois anos, então, o que é dele é dele. Dificilmente quer
compartilhar com o próximo, diferentemente dos primeiros meses. Aos 2 anos já
deixa de ser bebê. A compreensão das palavras ainda é restrita e ele precisa
organizar sua experiência mexendo, manuseando e apertando. Em outras
palavras, explorando o ambiente, cuide das gavetas ou se tudo estiver quieto e

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silencioso, corra porque ele está aprontando. De 2 para 3 anos as mudanças são
visíveis com aumento da coordenação motora, e aos 3 anos já corre e pula
demonstrando bastante equilíbrio. Nessa fase, ocorre o amadurecimento das
funções cognitivas e a criança torna-se capaz de prestar atenção e repetir
sequências de números e histórias, tendo ela o hábito de ler e contar histórias,
mesmo que elas já as conheçam. Mude algum personagem ou permita que elas
façam isso, e que acima de tudo, elas percebam as mudanças, você também
pode iniciar a história e para que ela termine, entre outras possibilidades.

As mudanças nesses três primeiros anos de vida, quando abordamos o


desenvolvimento do comportamento, são, sem dúvida, marcantes e sujeitas à
intensa investigação. Já o desenvolvimento do corpo e da mente continua por
muitos anos.

No outro extremo, temos aspectos do desenvolvimento relacionados ao


envelhecimento, que é inevitável, e os mais velhos também devem aprender, e
da mesma forma podemos e devemos intervir, como já foi citado anteriormente,
sobre a estimulação cognitiva de idosos, mas em termos simplistas, assim, como
todos os nossos sistemas orgânicos, o nosso Sistema Nervoso também
envelhece.

Difícil delimitar quando isso se inicia, já que até a terceira década de vida
os processos de mielinização estão acontecendo, mas provavelmente o
envelhecimento começa antes disso. Na verdade, envelhecimento é um
processo extenso do desenvolvimento. Existem programas para conter ou
retardar o envelhecimento, além da estimulação cognitiva, poderia apontar a
reposição hormonal.

Acredita-se que mutações e anomalias cromossômicas se acumulem ao


longo da idade, assim como erros na duplicação do DNA que ocorrem de
maneira aleatória se acumulam ao longo do tempo. Como os erros genéticos
passam a ser grandes, a formação de proteínas aberrantes nos leva à senilidade
(BEE, 2011).

Apesar de muitos idosos terem suas capacidades intelectuais intactas,


outros apresentam perda de memória e de funções cognitivas. O peso, os giros

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do córtex cerebral têm sulcos mais profundos apontando a atrofia do córtex,
associada à perda neuronal (BEE, 2011).

Até em virtude dessa condição de que quando utilizamos nossa memória


ou o cérebro com frequência nos mantemos mais saudáveis do ponto de vista
neurológico, para tanto atualmente está sendo bastante difundido o trabalho de
estimulação cognitiva para idosos, que pode ser entendido como atividades que
buscam estimular as funções cognitivas superiores como memória, velocidade
de processamento, linguagem, função executiva, dentre outras. O objetivo é
amenizar ou mesmo sanar as possíveis dificuldades em uma ou mais dessas
funções.

Idosos que recebem estimulação, demoram mais para começar a sofrer


pré-juízos na memória ou em outras funções cognitivas superiores quando
comparados a idosos que não recebem nenhuma estimulação, além de gerar
inúmeros benefícios para a qualidade de vida na velhice.

Do nascimento até a nossa morte aprendemos coisas novas ou


adaptamos informações antigas. Todo esse conhecimento é obtido por meio da
experiência sensorial de tudo aquilo que nós vemos, ouvimos, sentimos,
degustamos e cheiramos. A partir desse ponto, fica claro para todos nós que
muitas vezes adultos podem atrapalhar o desenvolvimento natural de um
indivíduo saudável em constante evolução, pois “boicotamos” e impossibilitamos
as experiências que consequentemente marcam o cérebro infantil nos
momentos evolutivos adequados.

Foi apresentado que a influência do ambiente é fundamental para moldar


nossas conexões neurais e assim aprendermos. É como a história contada para
uma criança da Educação Infantil, a literatura nesse caso é uma atividade de
exploração do imaginário, onde desenvolverá a percepção visual pelas figuras
do livro, observando personagens e até se tornando o ator principal,
desenvolvendo a atenção, despertando o interesse, trabalhando as emoções,
possibilitando a aplicação de regras e tudo isso já fazendo parte do processo de
aprendizagem sem que necessariamente ela tenha de ler ou escrever.

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Entendemos assim, que o “cantinho do castigo” para crianças de 3 anos
é perda de tempo, uma vez que eles não têm capacidade cognitiva para
compreender as consequências de seus atos e ações, que a criança deve mexer,
manipular, sentir as mais variadas possibilidades para adquirir conhecimentos
diversos. Percebemos nessa discussão que adolescentes devem ser
direcionados por meio de dúvidas plantadas na cabeça deles, já que para essas
pessoas o importante é descobrir pelas próprias pernas. Nosso direcionamento
é fundamental, mas não podemos obrigar o cérebro a ter atenção ou interesse
em aprender tal informação que desejamos passar.

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Referências
BEE, H.; BOYD, D. A Criança em Desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2011. FONSECA, V. Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem:
abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. 6. ed. Editora Vozes Ltda.,
2007.

FOSS, M. L; KETEYIAN, S. J. FOX: Bases Fisiológicas do Exercício e do


Esporte. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: a teoria das múltiplas


inteligências. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. Publicado originalmente em
inglês com o título: The framsof the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em
1983.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2006. LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. MAGILL, Richard. Aprendizagem
Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.

Relvas, M. P. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros


humanos na sala de aula. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010. 160 p.

SCHIMIDT, Richard A.; WRISBERG, Craig A. Aprendizagem e


Performance Motora: Uma abor-dagem da aprendizagem baseada no problema.
2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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