Comunicado 349
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A goiabeira, Psidium guajava, pertence à família das condução e frutificação; ausência de adubação
mirtáceas e tem a América do Sul como centro de específica; ausência de irrigação e, principalmente,
origem da espécie. Seu cultivo é predominante nas sem controle de pragas e doenças, o que acarreta
regiões tropicais e subtropicais. prejuízos à produção e à qualidade dos frutos.
No Estado do Rio Grande do Sul, região de clima Iniciativas a fim de qualificar o processo produtivo
temperado, a maioria dos pomares com cultivo de das goiabeiras na região sul do Rio Grande do Sul
goiabeiras vem sendo implantado por pequenos tiveram início a partir de 2008, com o emprego, na
produtores, em propriedades familiares que buscam, formação dos pomares de goiabeiras, de mudas de
nessa cultura, uma alternativa de cultivo, ampliação qualidade e cultivares como Paluma, Pedro Sato e
de colheita de frutas, diversificação de renda, e Século XXI.
agregação de valor à fruta industrializadas nas mais
diversas formas (suco, doce, geleia, goiabada, etc.). Embora a goiabeira seja considerada uma espécie
Embora o nível tecnológico tenha evoluído nos bastante rústica, alguns problemas fitossanitários
pomares de goiabeira, ainda é possível encontrar vêm sendo detectados com frequência nos pomares
áreas sendo cultivadas com: baixo nível tecnológico, da Zona Sul do Rio Grande do Sul, com destaque
uso de material crioulo; plantas (mudas) oriundas para as doenças que afetam as plantas em nível
de sementes; ausência de práticas de manejo de campo, notoriamente a ferrugem, antracnose,
do solo e da planta, como poda de formação, antracnose maculada e verrugose.
1
Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS.
2
Engenheiro-agrônomo, doutor em Fruticultura, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS.
3
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa ClimaTemperado, Pelotas, RS.
4
Graduada em Gestão Ambiental, mestre em Química, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Química,
Universidade Federal de Pelotas, RS.
2 Medidas Preventivas para Convívio com as Principais Doenças Fúngicas da Goiabeira no Rio Grande do Sul
Para que se possam adotar medidas preventivas anteriormente cobertas pelos esporos amarelados,
e/ou curativas das doenças da goiabeira, deve-se, ocorre a formação de área necrótica seca, com
primeiramente, conhecer os sintomas ocasionados frequente ocorrência de ranhuras (Figura 1B). É
pelos patógenos e as condições predisponentes importante salientar que tais ranhuras possibilitam
para ocorrência das doenças, informações a infecção por patógenos secundários, que
necessárias para se definir as estratégias de contribuem para a deterioração dos frutos. As
monitoramento e adequação de medidas e lesões provocadas nos frutos ficam restritas à
práticas de manejo, visando garantir o convívio e região da casca, não atingindo a polpa. Os frutos
a produtividade da goiabeira na região de clima infectados que permanecem na planta mumificam-
temperado. se (Figura 1C), tornam-se deformados, e constituem
porta de entrada para vários microrganismos
apodrecedores.
Ferrugem-da-goiabeira (Puccinia
Hospedeiros alternativos: o fungo infecta várias
psidii Wint.)
espécies da família Myrtaceae, incluindo o
Sintomas: a ferrugem é uma das principais doenças eucalipto, a jaboticabeira, a pitangueira e o
fúngicas da goiabeira. Pode aparecer tanto em araçazeiro, dentre outras. É importante ressaltar,
plantas jovens, ainda no viveiro, ou em plantas que apesar desta ampla gama de hospedeiros de
adultas. Quando o fungo infecta as plântulas em P. psidii, existem indícios de ocorrência biótipos
viveiro, há a formação de necrose na extremidade do fungo específicos associados aos respectivos
dos caulículos e folhas novas, resultando na perda hospedeiros (GRAÇA et al., 2013).
da muda. Sob condições favoráveis, a doença causa
grande abortamento de folhas, flores e queda de Etiologia: no pomar, o fungo é disseminado por
frutos em desenvolvimento, com reflexos diretos na ventos, ocorrendo vários ciclos da doença no
produtividade. mesmo ano agrícola, acompanhando os surtos
vegetativos e a presença de tecidos jovens.
Em plantas adultas, o início da doença caracteriza-
se pelo surgimento de pequenas pontuações Condições favoráveis: o processo de infecção por
amareladas, pulverulentas (Figura 1A), constituída parte do fungo ocorre, em geral, por meio dos
pelos esporos, que são as estruturas do fungo esporos, que necessitam de condições de baixa
responsáveis pela ocorrência da doença, e que luminosidade, umidade relativa maior ou igual
podem ser perfeitamente observados nos tecidos a 90%, e pelo menos 8 horas de temperaturas
jovens de folhas, ramos, botões florais, gemas, entre 18 °C e 25 °C. Após a infecção, as condições
flores ou frutos. Com o desenvolvimento da de umidade elevada não são mais necessárias
doença, a massa amarela de esporos desaparece, e a temperatura ideal situa-se entre 20 °C e 25
e as lesões evoluem para ocupar grandes porções °C. Nessa fase, a luz também não exerce mais
necróticas do tecido vegetal, resultando em nenhuma influência.
extensas áreas lesionadas, podendo ocorrer o
encarquilhamento de ramos. Período e estádios críticos: esse período tem início
logo após a poda, quando se inicia a brotação
Nas folhas, as lesões são circulares e de coloração e em condições coincidentes com umidade e
marrom e, sob condições favoráveis, ocasionam a temperatura favoráveis ao desenvolvimento
morte do limbo foliar, com consequente queda de do patógeno. O período perdura até os frutos
folhas. apresentarem diâmetro de pelo menos 3 cm na
região equatorial.
Nos botões florais e frutos, nos quais os danos
em geral são mais severos, as lesões mostram-
se necróticas, de coloração negra, podendo
ocasionar a queda de flores e de frutos em
grandes quantidades desde os primeiros estádios
de desenvolvimento. Em frutos, em áreas
Medidas Preventivas para Convívio com as Principais Doenças Fúngicas da Goiabeira no Rio Grande do Sul 3
Figura 1. Sintomas de ferrugem em frutos de goiaba cultivar Paluma. Pequenas pontuações amareladas e pulverulentas
constituídas pelos esporos de Puccinia psidii (uredósporos e teliósporos) (A); presença de fissuras nos pontos anteriormente
cobertos pelos esporos amarelados (B); frutos infectados mumificados e deformados (C).
a ferrugem-da-goiabeira e, por consequência, A casca dos frutos é bastante fina e pode ser
contribuírem para o aumento do inóculo na área de facilmente perfurada ou rasgada, o que facilita
plantio. a entrada de umidade e de fungos pós-colheita.
Assim, os colhedores devem ter o máximo de
Fitoprotetores de origem biológica cuidado com o manuseio das frutas, como unhas
aparadas, uso de sacolas e de caixas adequadas.
Face à carência de informações associadas às
medidas curativas de proteção de plantas de Uso de caldas fitoprotetoras
goiabeira e da importância que a cultura representa
para a diversificação de cultivos na Metade Sul do Em pomares onde existem dificuldades em
Rio Grande do Sul, principalmente no âmbito da controlar as doenças com medidas culturais, a
Agricultura Familiar, a Embrapa Clima Temperado aplicação de calda bordalesa (SCHWENGBER et
vem desenvolvendo pesquisas para explorar a al., 2007) pode ser feita preventivamente durante
atividade biológica de extratos e óleos essenciais o período crítico de infecção (Figura 5), a fim de
de plantas, com vistas ao desenvolvimento de se reduzir o potencial de inóculo do patógeno na
produtos naturais para o manejo das doenças área. Vale ressaltar que o tratamento com calda
da goiabeira em condição de campo, tanto pela bordalesa não deve ser continuado após o fruto
ação fungitóxica direta quanto pela indução de ter atingido 3 cm de diâmetro, tendo em vista
resistência das plantas aos patógenos. que o cobre presente na formulação pode ser
fitotóxico e causar manchas a partir dessa fase
Trabalhos de outras instituições demonstram de desenvolvimento do fruto. Tal produto torna-
que Bacillus subtilis e Trichoderma spp. tem se inviável para agricultores que fazem podas
se destacado como agentes de biocontrole de programadas, a fim de escalonar a produção, pois
patógenos de parte aérea e de pós-colheita da em uma mesma planta seria possível, nesse caso,
goiabeira, bem como Pseudomonas fluorescens. encontrar desde botões florais até frutos maduros,
simultaneamente.
Muito embora se enfatize, como medida de
proteção de plantas, o uso de produtos biológicos
e naturais, verifica-se a inexistência de registro Referências
desses produtos junto ao Ministério da Agricultura
e Pecuária, apesar da eficiência comprovada de GRAÇA, R. N.; ROSS-DAVIS, A. L.; KLOPFENSTEIN,
atuação sobre os principais patógenos que infectam N. B.; KIM, M.; PEEVER, T. L.; CANNON, P. G.; AUN,
a goiabeira. C. P.; MIZUBUTI, E. S. G.; ALFENAS, A. C. Rust
disease of eucalyptus, caused by Puccinia psidii, did
Colheitas frequentes not originate via host jump from guava in Brazil.
Molecular Ecology, v. 22, n. 24, p. 6033-6047, 2013.
A colheita é feita manualmente e deve-se
ter muito cuidado com o manuseio para não SCHWENGBER, J. E.; SCHIEDECK, G.; GONÇALVES,
afetar a qualidade da fruta. Deve ser realizada M. de M. Preparo e utilização de caldas nutricionais
preferencialmente pela manhã, sendo necessário e protetoras de plantas. Pelotas: Embrapa Clima
o repasse de duas a três vezes por semana. O Temperado, 2007. Disponível em: <http://www.
estágio de desenvolvimento em que o fruto é infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/745636>.
colhido é o ponto inicial para a manutenção da
qualidade. Fatores que afetam a longevidade das SOUZA FILHO, M. F. de; COSTA, V. A. Manejo
goiabas, tornando-se cruciais no planejamento integrado de pragas na goiabeira. In: NATALE,
da comercialização e do armazenamento, incluem W.; ROZANE, D. E.; SOUZA, H. A. de; AMORIM,
estratégias como: não misturar frutos colhidos D. A. de. (Ed.). Cultura da goiaba: do plantio à
da planta com aqueles do chão, bem como com comercialização. Jaboticabal: UNESP-FCAV, 2009.
aqueles danificados, e utilizar embalagens de v. 2, cap. 15, p. 327 - 348.
colheita (caixas plásticas) limpas, desinfetadas e
transportadas rapidamente para o destino final.
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Comunicado Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Ana Cristina Richter Krolow
Técnico, 349 Embrapa Clima Temperado Publicações Vice-Presidente: Enio Egon Sosinski Junior
Endereço: BR 392, Km 78, Caixa Postal 403 Secretária-Executiva: Bárbara Chevallier Cosenza
Pelotas, RS - CEP 96010-971 Membros: Ana Luiza Barragana Viegas, Fernando
Fone: (53)3275-8100 Jackson, Marilaine Schaun Pelufê, Sonia Desimon
www.embrapa.br/clima-temperado
www.embrapa.br/fale-conosco/sac
Expediente Revisão do texto: Bárbara C. Cosenza
Normalização bibliográfica: Marilaine Schaun Pelufê
1ª edição
Editoração eletrônica: Nathália Coelho (estagiária)
Obra digitalizada (2017)
CGPE 14174