Vio Lenci An A Escola No Brasil
Vio Lenci An A Escola No Brasil
Vio Lenci An A Escola No Brasil
Introdução
A violência é um fenômeno intrigante, pois sua origem está ligada à
existência humana, já que toda a conjuntura violenta já foi utilizada como
mecanismos de defesa e sobrevivência. O homem começa sua caminhada rumo à
civilização atento ao mais mínimo ruído vindo da floresta; o menor som poderia
significar um perigo de morte ou apenas o almoço que se mexia sorrateiramente
entre os arbustos. Para sobreviver, o homem primitivo aguçou seus sentidos para
vencer os desafios da natureza, e todos os dias lutava para abater sua presa a fim
de que o grupo pudesse se alimentar. A vida era sistematicamente colocada em
jogo, o instante seguinte poderia representar a morte e qualquer atitude demandava
um alto grau de violência. Viver era extremamente perigoso.
Os anos se passaram, e o homem agora já não mais precisa pescar ou
caçar para sobreviver, os supermercados modernos substituiu a selva, tudo sem os
riscos que a selva oferecia. E a violência em si, está postada em nosso meio como
ato extremamente impróprio e punível, entretanto, com uma ênfase
institucionalizada é utilizado como forma de controle social. De modo bastante
generalizado, em “uma sociedade em que prevalece a pobreza de direitos, ela
tende a resolver seus conflitos por meio das violências” (LOPES e MOREIRA, 2005,
p. 85).
Entretanto a agressividade é uma das características naturais do ser
humano. E serve para nos levar e manter na busca por ideais, metas e objetivos,
quando usada adequadamente, é como uma fonte de energia que gera progresso.
Sendo necessária para a sobrevivência e crescimento do homem, é um
componente significante na vida de todo ser humano. E o que diferencia
agressividade de violência é como o sujeito canaliza ou expressa sua hostilidade,
ou seja, se de forma construtiva ou destrutiva.
Quando o sujeito não consegue canalizar a sua agressividade de forma
construtiva, comumente ele pratica violência conta o próximo. Por não encontrar o
próprio caminho, ele se ressente com o outro, como se o outro fosse responsável
pela sua angústia interior. Sua agressividade adoecida lhe faz ver no outro um
obstáculo para sua felicidade, e começa a canalizar para as pessoas ao seu redor
sua agressividade adoecida. No limite, esta agressividade transforma-se em
violência.
Os seres humanos reprimem a violência, e da mesma forma que os
demais animais, pela lei social. A restrição à prática da violência seria o primeiro e
talvez mais severo sacrifício que o homem tem que fazer para viver em
sociedade. O termo anti-social é empregado para se referir a todo comportamento
que infrinja regras sociais ou que seja uma ação contra os outros: como o
comportamento violento, furto, roubo, vandalismo, mentira, ausência escolar, fugas
de casa, entre outros. Segundo o CID10, manual de classificação de doenças, a
personalidade anti-social é um transtorno de personalidade caracterizado por um
desprezo às obrigações sociais e uma falta de empatia para com os outros. Sendo
inclusive esses comportamentos não modificados pelas experiências ou por
punições. Tudo indica que nos casos que hoje assistimos acontecer na nossa
sociedade, esteja havendo uma falha básica da família em seu papel contendedor
dos impulsos violentos. A tendência anti-social, que seria normal até nos bons lares,
está se transformando rapidamente em destrutividade, violência e delinqüência.
E é justamente na escola, um dos primeiros espaços de convivência
supervisionada, que os alunos vêem como um lugar para praticar atos violentos. A
violência escolar é um padrão de conduta que pode ameaçar as relações normais
entre os agressores e as pessoas que a rodeiam, e tendem a piorar no decorrer do
tempo. As crianças e adolescentes com comportamentos violentos representam um
grande desafio para os educadores, para a escola e para a sociedade.
Assim, repetidas vezes este aluno "problema" vai ser posto em pauta até ser
deixado de lado, sendo retirado do espaço físico comum por provocar conflitos e
tumultuar o grupo. De qualquer forma o que se vê é uma tendência a isolá-lo e
"tratá-lo" à parte, o que não resolve o ‘problema’.
Destacando a temática da violência escolar é notório que não podemos
analisar o fato de forma isolada e sem os contextos sociais que rodam esse
fenômeno. Nesse contexto a mídia se destaca como meio de inter-relação direta
entre a violência escolar e sociedade. A discussão que se realiza entre a questão
da violência e da mídia ainda é pouco debatida, pois muitas vezes o papel da
imprensa parece ser apenas de informar, como se a mesma não tivesse nenhuma
influência ou interesse nessa questão, e na visão de Sodré (2002, p.8) “a parte da
mídia nesse estado de coisas é menos discutida do que deveria”. Kellner destaca
que a mídia tem grande influência na sociedade, pois:
Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e
espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o
tempo de lazer, modelando opiniões políticas e comportamentos
sociais, e fornecendo o material com que as pessoas forjam a sua
identidade. (2001, p.9)
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foi de caráter quantitativo e qualitativo, comparando como os periódicos retratam
esse fenômeno.
Os oito periódicos escolhidos foram: Folha on-line, O Globo on-line, A
Tarde on-line, O Estadão on-line, Jornal do Commércio on-line, Gazeta on-line,
Extra on-line e Folha do Estado - edição digital. Foram utilizadas as seguintes
palavras-chave para efetivar a coleta das noticias: agressão contra aluno, agressão
contra professor, agressão de aluno, agressão de professor, aluno agredido,
professor agredido, aluno agressivo, professor agressivo, crime na escola,
espancamento na escola, morte na escola, pedofilia na escola, seqüestro na escola,
tiro na escola, tiroteio na escola, tortura na escola, vandalismo na escola, violência
na escola, violência escolar, violência na escola, bullying na escola, escola.
A coleta foi divida por semestre, no período de 01 de agosto de 2009 a
31 de janeiro de 2010 foram coletados as noticias publicadas no primeiro semestre
de 2009 e no período de 01 de fevereiro de 2010 à 31de julho de 2010 forma
coletadas as noticias do segundo semestre de 2009.
Neste período também foram realizadas leituras relacionadas com a
temática da pesquisa a fim de fundamentar a analise dos dados coletados. Após a
coleta das noticias elas foram analisadas e tabuladas, utilizando alguns critérios de
triagem pudemos selecionar as informações necessárias, os dados foram
separados em uma tabela para maior eficiência. Esses critérios foram elaborados
para três focos, sendo organizado para cada foco questões:
Matéria (Data, Periódico, Estado, Cidade de ocorrência, Caracterização
da violência, Motivação do conflito, Local da violência, Tipo de instituição e Nome
da escola);
Vítima (Número de vítima, Idade da vítima, Sexo da vítima, Seqüela e
Identificação da Vítima);
Agressor (Número de agressores, Idade do agressor, Sexo do agressor
e Identificação do agressor).
A pesquisa apesar de ser predominantemente quantitativa, não
abandona os aspectos qualitativos, pois foi necessário utilizarmos de tais meios,
para a compreensão dos dados encontrados e como forma de avanço do
conhecimento sobre violência escolar divulgados pela mídia on-line.
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3. Resultados e Discussão
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patológico por estar à cima da media geral, uma alta que ‘desequilibra’ a sociedade.
Intuir que a violência é uma construção social é também perceber que
ela sofre interferência dos estímulos do espaço e do tempo onde estão inseridas.
Camacho (2001) evidencia que as relações sociais estão em constantes
modificações, tendo destaque na sociedade, principalmente, a violência escolar que
vem ganhando novos conceitos no decorre dos tempos e das relações sociais.
Ainda pela posição da autora, esse tipo de violência torna-se muito perigosa,
porque não é vigiada, analisada e nem controlada, não possuindo nem regras, nem
freios. Compreendendo que a falta de limites, a falta de responsabilidade pelos atos
praticados e desconsideração pelo outro, incentivam a prática da violência escolar
usando, principalmente a violência física. Sendo que os ‘agressores’ tende a testar
os limites institucionais, agindo ao extremo, e vêem que suas ações ficam impunes,
observando seus atos violentos como ‘brincadeiras’.
Em virtude de ser uma temática extremante atual, a violência escolar vem
sendo tratada, por estudiosos, como um problema social que num movimento
recíproco adentra e se expande pelos muros do ambiente escolar. Uma questão
discutida incansavelmente em todos os âmbitos, por teóricos em busca de
respostas e soluções que ajudem a modificar essa realidade.
Perante esse contexto em que a violência escolar se encontra, se faz
necessário um olhar mais atento para esse fenômeno. E a pesquisa intitulada
‘VIOLÊNCIA NA ESCOLA NO BRASIL: um estudo sobre a abordagem do
fenômeno pela mídia on-line’, vem relatar um panorama da violência escolar sob
o enfoque da mídia on-line. Trazendo uma visão atual de como a mídia usa, produz
e publica noticias, dando destaque para como a mesma trata a violência escolar.
Ao apresentar os dados finais da pesquisa podemos fazer uma analise
mais profunda de como a violência escolar é transmitida para a população. Ao total
foram coletados 278 noticias sobre violência escolar no período de janeiro a
dezembro de 2009. Sendo 136 noticias no primeiro semestre e 142 noticias no
segundo semestre. Crescimento surpreendente comparado com dados da pesquisa
‘Projeto Violência na Escola no Brasil: um estudo sobre a abordagem do
fenômeno pela mídia impressa’ que retrata freqüência das publicações sobre
violência escolar nos anos de 2006 a 2008. Como pode ser observado na tabela 1.
Tabela 01
Noticias publicadas por ano nos periódicos pesquisados
2006
2007
2008
2009
34
60
152
278
Fonte: Projeto Violência na Escola na Bahia: um estudo sobre a abordagem do fenômeno pela mídia
impressa-FAPESB
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comercial, trata a noticia como fato a ser explorado, atualmente ela enfatiza a vitima
como personagem principal de um fato chocante, sob o enfoque da transformação
do fato, violência escolar, na quebra da ‘harmonia e perfeição da sociedade’. Com a
intenção primordial de aproximar a vítima do ‘espectador’, o transformando numa
pessoa conhecida, intima, e mostrar o resultado que a violência trouxe para a
sociedade. Daí pode-se encarar a mídia como estruturadora de opiniões ou que se
modifica pra suprir necessidade de um público, a fim de tornar-se agradavelmente
comercial.
De fato a noticia se faz um relato jornalístico de acontecimentos
interessantes do cotidiano, configurando-se como um apoio ou meio do individuo
compreender a realidade. Nas noticias não existem novidades, já que os fatos
apresentados têm a mesma essência, só modificando o tempo e/ou espaço dos
acontecimentos. Ou seja, não são fatos novos, mas sim atuais ou mais recentes.
Sob base da Teoria do Agendamento, em nossa sociedade a informação
é tida pela mídia como uma mercadoria, e para torná-la consumível os fatos são
modificados e transformados em Matéria-produto. Onde á exploração da aparência,
de produção de impacto e de caráter explosivo do fato (MARCONDES FILHO,
1986). Contendo na matéria dois ingredientes principais, a matéria prima e o apelo,
que segundo Marcondes (1986) a noticia tem como matéria-prima a informação, e o
apelo seria a sensação de humanidade que é agregada a noticia. Com esse apelo
ela tenta trazer para perto dos leitores e espectadores as noticias, adentrando suas
casas e evidenciando características comuns das vitimas e suas famílias com os
indivíduos que lêem, ouvem e vêem a noticia. Jorge (2006) enfatiza que “o apelo
atinge o leitor em suas emoções e o faz cativo” (p. 8). Expõem o sofrimento de
estranhos como se fossem amigos ou parte da família, determinando uma posição
de papeis (agressores e vitimas).
Daí surge o questionamento se a violência nas escolas não seria um
modismo da mídia, que se aproveita das crises sociais para tornar-se mais atraente
e vendável (Debarbieux, 2002). Por conseguinte, foi despertando interesse de
vários setores além da mídia, que vêem a proliferação da violência na escola como
um possível consumidor. À violência escolar impôs a necessidade de reforçar os
meios de prevenção da violência, e como assinalou Devine (2002) “a segurança
escolar transformou-se num importante produto comercial”, tornando-se consumidor
de produtos de segurança. Agindo de forma compulsiva, onde a mídia gera o medo,
as escolas tentam se proteger, e o mercado cria, produz e vende ‘segurança’. A
mídia conduz essas circunstâncias utilizando o poder que detêm de influencia e
manipulação.
Entretanto, há nessa relação mídia e sociedade, uma influência mútua,
onde a mídia cresce seu poder sob as massas, baseado na imposição de certas
temáticas, podendo interferir direta e indiretamente na opinião pública, em assuntos
de contexto social, legitimando certas posições (MARRACH, 1993). Por outro lado,
à sociedade tende a influenciar a escolha dos assuntos e conteúdos a serem
abordados pela mídia, pois o interesse por um ou outro assunto específico torna o
mesmo, uma temática a ser explorada constantemente pelos meios de
comunicação.
Com a aproximação com a mídia, o leitor ganhou o poder de ‘opinar’ nos
conteúdos que entram na pauta, sendo levado me conta a preferência do público. E
o que pode ser ressaltado mais uma vez é que a informação foi transformada em
uma mercadoria, e que deve satisfazer a um público exigente. Dando relevância a
esse aspecto, é preciso levar em conta como os jornalistas lidam com as opiniões e
sugestões de seu público. Como influencia direta podemos citar a escolha de certas
temáticas que interessam mais ao público, como a violência. Ressalvando que o
público também influencia na linguagem dos periódicos, sendo que eles têm que ter
mais clareza e objetividade, para atingir seu público alvo. Então a presença desse
leitor no processo de ‘produção’ da noticia é presente, estabelecendo assim uma
relação de confiança entre o leitor e o jornalista. Constituindo que os jornalistas que
tem o foco regional ou nacional, vêem o leitor de formas diferentes. Tendo o
jornalista, em foco, um leitor pré-definido para sua fala, ou seja, seu público-alvo.
A narrativa midiática para alcançar esse público-alvo tem de relatar
noticias atuais, em tempo real, com linguagem acessível e principalmente, tornar
essa noticia confiável. O jornalista necessita dar credibilidade a suas noticias, e
muitas vezes ele utiliza o posicionamento de fontes idôneas para dar veracidade a
suas informações. Tendo por vezes, excluir os envolvidos no fato violento e se
respaldar com a utilização única e exclusiva de sua fonte, defendendo veemente
essa posição. Fazendo valer essa probabilidade, quando se trata de violência
escolar, foi observada a utilização massiva de posicionamentos de fontes idôneas,
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como Secretaria de Educação, Delegacias, Diretores, Juizados da Infância e
Juventude, dentre outros.
O que também se faz relevante nessa analise é que, em busca de
noticias rápidas a mídia, em alguns momentos, torna-se imprecisa com relação aos
dados das noticias e cria uma plasticidade que muitas vezes não corresponde à
realidade. A maioria dos periódicos não relata alguns dados, que se fazem
importantes na analise da noticia, como por exemplo, se a vitima é aluno ou não da
instituição falta da idade dos agressores, se a escola é pública ou privada, cidade,
bairro e se a vitima é ou não aluno da instituição, o que deixa uma sensação de
vazio e que generaliza a violência para toda região ou cidade.
Machado e Jacks (2001) formulam que a mídia é imperfeita, complexa e
inacabada, composta por indivíduos plenos de idéias e interesses a defender, no
entanto, é preciso nuançar essa dimensão moral, especialmente na relação com as
fontes da informação. A busca pela imposição de uma veracidade de suas noticias,
os periódicos tem que lidar com o parâmetro ‘tempo’. Tendo por base o lema
noticias em tempo real, esse profissional têm que achar ‘respostas’ e
posicionamentos em segundos, não tendo muito tempo de procurar várias fontes e
todos os envolvidos no fato, os levando a sustentar suas posições em fontes que
tenham um renome de confiança.
Entretanto, a noticia tem que ser publicada de acordo com a ocorrência
dos fatos, pois tem por finalidade relatar os fatos ocorridos na sociedade de forma
fidedigna, entretanto, a pauta seleciona os fatos que serão abordados nas matérias
jornalísticas, o que dificulta uma analise mais densa e trazer uma visão mais
concreta da realidade.
Alguns autores têm por opinião que enquanto não é exposta a noticia não
existe, todavia, o fato é real e existe mesmo não publicado. Tendo essa percepção
podemos notar que enquanto a violência escolar não era publicada ela era tida
como inexistente pela mídia e pela sociedade, constitui-se assim o posicionamento
de aumento da violência escolar, já que o crescente aumento do interesse da mídia
por esse fenômeno gerou uma maciça divulgação de noticias com essa temática. E
Jorge (2006) fala que o fator de interesse é relevante já que, “a realidade é mutante.
O que é interessante para o público hoje pode não sê-lo amanhã e vice-versa” (p.
11). Sendo que a violência, independente do local, é um fenômeno que ‘fascina’ o
ser humano, e todas as suas manifestações são acompanhadas até o ápice,
contudo, os fatos em pouco tempo são saturados e trocados por outro caso mais
recente.
Falando agora da violência escolar em si, pode-se intuir que atualmente
existem vários posicionamentos sobre essa temática, que se destacam como
grupos com opiniões unificadas, ou seja, há grupos que se posicionam escolhendo
algumas características específicas da violência escolar, suas causam,
conseqüências e influências. Dividem-se, para mostrar o mesmo fato por vários
ângulos e pontos de vista, procurando desvendar os elementos que originam a
violência escolar. Nesse contexto há a necessidade de analisar questionamentos
específicos da violência escolar atual, como a influencia do tráfico e uso de drogas,
a falta ou perda da disciplina ou respeito dos sujeitos envolvidos, a hipótese de que
a violência urbana influência diretamente na propagação da violência escolar, além
da suposição de que existe a influência da mídia no crescimento desse fenômeno.
A primeira pré-posição destaca teóricos que defendem a influência direta
do uso e tráfico de drogas na violência escolar. Segundo Abramovay (2002), os
índices de violência escolar tiveram grande aumento, e o principal fator responsável
foi à ação do tráfico nesse ambiente, sendo que é um tipo de violência que vem da
rua e ultrapassa os muros da escola. A autora ainda afirma que conflitos entre
traficantes podem atingir a escola, destacando a ação desses traficantes dentro,
fora e nas proximidades da escola, suscitando o medo sempre presente nesses
ambientes inóspitos. Enfatizando que o uso e tráfico de drogas nos arredores da
escola trazem os ‘usuários’ de drogas para as proximidades a escola, gerando uma
violência paralela que incide diretamente na escola, além da ação de gangue,
tiroteios, roubos e acesso a armas. Sentindo esse medo progressivamente
crescente a escola trata de se fechar, construir muros cada vez mais altos e rodear-
se de guardas e porteiros para se proteger da ação do uso e tráfico de drogas,
entretanto, todo esse aparato não impede que a droga adentre o ambiente escolar
ou que o resultado de suas ações atinja os sujeitos desse meio, e é notório que
essas ações não estão conseguindo impedir essa ‘invasão’.
Paiva (2007) enfatiza que o envolvimento dos alunos com o tráfico de
drogas que está atuando dentro da escola, onde esse sujeito ganha ‘identidade’ e
‘status’ e se estabelece como individuo na sociedade. Sento-Sé (2007), ainda trata
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do uso e tráfico de drogas como relevante aumento de agressões cometidas na
escola, sendo um fator de destaque na produção e proliferação da violência escolar,
já que o tráfico se apresenta como um grande fator de vulnerabilidade há esses
jovens. Eles defendem que uma ampla ação da atuação do tráfico e a violência
deferida pela mesma se encontram em varias escalas de atuação, sendo direta e
indiretamente. O envolvimento com gangues, homicídios, agressão física,
perseguição, ameaça, são algumas das conseqüências diretas do tráfico e uso de
drogas no ambiente escolar, gerando de forma direta e indireta medo e
insegurança. Candau (1999), afirma que as ‘gangues e galeras’ envolvidas com o
tráfico adentram a escola e praticam ameaças a professores, alunos e funcionários
da escola, sendo que alguns também são alunos, e por isso tem acesso livre à
escola.
Entretanto, pode-se ressaltar que os resultados encontrados nós mostram
que a relação de influência do uso e tráfico de drogas como gerador do aumento da
violência escolar é real, já que teve um percentual significante de violência escolar
ligadas a uso e tráfico de drogas. Essa contradição abre a necessidade de uma
analise mais profunda sobre esse fator gerador da violência escolar.
Já a violência escolar, sobre a proposição de Dubet e Martucelli (1995)
apud Cortez e Souza (2008), é uma reflexão da perda da disciplina do aluno ou
perda do poder do professor, ou ainda ir além dessa perspectiva como a falta de
socialização, onde o educando não é socializado a exercer a função de aluno. Com
a democratização do ensino o poder absoluto do professor foi reduzido, assim os
valores, posições e revoltas dos alunos afrontam a integração da escola,
disseminando hostilidades e promovendo a violência. No decorrer dos tempos a
família vem se afastando da escola, e por conseqüência transferindo sua
responsabilidade de ’educar’ para a escola, e como a escola não da conta dessa
atribuição os alunos estão cada vez mais ‘indisciplinados’ e sem limites, praticando
atos violentos no ambiente escolar. A crise da estrutura familiar também é um fator
elucidado como desencadeador da falta de disciplina e, por conseguinte, a violência
escolar, sempre fazendo uma relação entre familiar e autoridade. Posição que
Savater (2001) retrata, como um desalinho estrutural da família, onde a família
deixou de ser um núcleo amplo, e que, de a responsabilidade de educar da família,
foi transferida quase que exclusivamente para o professor.
Contudo Colombiêr, Mangel, Perdriault (1989), expõe que a violência
urbana é o principal agente motivador da violência escolar, pois “A violência que as
crianças e os adolescentes exercem é antes de tudo, a que seu meio exerce sobre
eles” (p.17). Farrington (2002) concorda com a posição, destacando que a influência
da violência que cerca esse sujeito se apresenta como modificadora de
comportamento. Assim o sujeito que está à mercê desse fenômeno tende a
reproduzir esse comportamento arbitrário, em todos os ambientes que freqüenta,
inclusive, a escola.
Ainda há os que crêem que a mídia, principalmente, televisão, gera ou
potencializa comportamento agressivo e contribui para o incremento da violência na
escola. Tendo um posicionamento no avanço tecnológico e na modernidade Adorno
(2002) responsabiliza a mídia como tendo grande responsabilidade no crescimento
da violência escolar. Disseminando pelos seus meios atrativos como filmes,
desenhos, videogames, jornais todo tipo de conteúdo violento que se pode
imaginar. Essa relação gera um comportamento violento que é exposto no ambiente
escolar. Augras (1974) dentro dessa perspectiva relata que a violência sempre teve
seu lugar de destaque na mídia em geral, sendo que a sua divulgação sempre foi
vista como entretenimento. A mídia atualmente alcançou um patamar relevante na
vida dos sujeitos da sociedade moderna tornando-se, quase que, parte do sujeito e
por isso sujeitando-se a olhares mais atentos a suas influencias no processo de
desenvolvimento dos sujeitos. Um dos autores que se debruçam na questão é
Christakis (2004) que em seus estudos liga a influencia da TV ao desenvolvimento
da agressividade nas crianças, trazendo questionamentos importantes sobre os
comportamentos agressivos da criança, que por sinal, se efetiva com mais
relevância no ambiente escolar, que é onde passa a maior parte do dia e se
socializa de forma mais intensiva. Lasswell (1975) basicamente conclui que a mídia
afeta o público com os conteúdos que dissemina e produz efeitos que equivalem às
reações manifestadas pelo público. Os discursos são construídos e as verdades
podem ou não ser ratificadas. A mídia ajuda não só a ratificar alguns discursos,
como também a criá-los e também os faz circular, viabilizando alguns estereótipos,
como é o caso dos grupos perigosos, onde:
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atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e que estas
relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer em
funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação e
um funcionamento do discurso.” (Foucault, 2005b, p.179)
4. Conclusões
Esse estudo evidencia o relevante crescimento do interesse da mídia
pela temática violência escolar, deixando claro que é uma temática rentável já que o
interesse do público e proporcional às publicações. Diante da velocidade dos
acontecimentos os jornais se vêm numa cruzada pela arbitraria reelaboração da
verdade e de valores, onde para sua ‘elaboração’ se questionam quais
acontecimentos são mais interessantes e relevantes para se tornarem noticia.
Sendo que os termos usados, a ordem da apresentação, o local onde são
publicados e os temas escolhidos, moldam imagens, inserindo juízo de valor. Sendo
um fenômeno da atualidade a transmissão de noticias pela Internet, tem
características próprias e nos trazem outro olhar sobre os sujeitos da noticia, tanto
de quem faz, de quem se fala, quanto o perfil de quem lê.
Tendo como uma visão geral do fenômeno mídia versus violência
escolar, destacam-se características dos jornais sob essa perspectiva. Enfatizar que
hoje há por parte da mídia uma dramatização na questão violência e das imagens
dos criminosos e da criminalidade, pois seguem criando personagens, afim de que
o público se identifique, evitando analisar e debater as raízes do fenômeno. Além de
terem o poder de criminalizar, sob o domínio das classes dominantes, transmitem
com sua força de opressão ideológica à sociedade. As motivações da mídia em
veicular a violência de determinado ‘ponto de vista’, tem uma visão comercial,
contudo, não se pode esquecer que a imprensa é “uma expressão da opinião
pública”, ou seja, expressão da sociedade.
Em toda sua conjuntura os periódicos não procuram embrenhar-se nos
caminhos da busca da compreensão dos problemas da violência, tratam em si de
noticiar os fatos e indicar culpados. Não há a caracterização social do fato. Os
relatos de violência escolar não têm o intuito de discutir a temática em busca de
suas causas e soluções, visualizando assim a noticia como uma ocorrência
individualizada, excluindo as intervenções sociais que interferem nesse fato. Muito
menos, correlaciona a discussão da violência escolar com a necessidade de
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implementação de políticas públicas nesse ambiente.
Por fim, não parece haver o compromisso com o resultado final, ou
melhor, sem dialogo e discussão da temática não pode ser construído soluções
reais para o problema. E a ausência de informações anula construção de uma visão
global do fenômeno. É necessário não só colocar essa temática nas rodas de
discussões é imprescindível que se trate o assunto como um problema social que
requer soluções. Trazendo à tona toda a questão da violência escolar, com esse
intuito, a mídia se transforma e um agente social em prol do “equilíbrio social”, que
buscará e apresentará resultados reais.
No momento de finalização do trabalho é necessário ressaltar, embora
não sendo encarado como conclusão final e absoluta da discussão, que
conhecimento construído a partir das noticias de periódicas nos da uma visão da
realidade sob o ponto de vista dos meios de comunicação versus o fato social que
realmente acontece, pois temos que ter consciência que cada periódico descreve o
mesmo fato, entretanto, cada um enfatiza a visão e posicionamento do fato que lhe
seja mais é conveniente.
5. Referências
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Vulnerabilidades Sociais e Violências. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 1, n.
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dos filtros ideológicos no dia-a-dia da imprensa. In.: UNIrevista. Rio Grande do Sul:
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Paulo: Moderna, 2004.110 p.
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